UM ANJO
CHAMADO JOÃO BATISTA.
Mas
o João também é santo, diz um de Betsaida.
Sim,
mas é muito severo!
Não
é mais severo para com os outros do que para consigo mesmo.
Mas
não faz milagres, e dizem que ele jejua para ficar como um faquir.
Seja
como for, mas é um santo.
E
o bate- boca vai-se espalhando pelo meio da multidão.
Jesus
levanta a mão e estende naquele seu gesto habitual, que Ele faz quando pede
silêncio e atenção, porque deseja falar. E logo todos fazem silêncio.
Diz
Jesus: João é santo, e um grande santo.
Não olheis para o seu modo de agir, nem para o fato de não fazer milagres. Em
verdade, Eu vos digo: Ele é um grande no Reino de Deus. Lá aparecerá em toda a
sua grandeza.
Muitos
se queixam de que ele era e é severo, e até parecer um homem rude. Em verdade,
Eu vos digo que ele tem trabalhado como um gigante para preparar os caminhos do
Senhor. E quem trabalha assim, não tem tempo a perder com molezas. Não dizia
ele, enquanto ia ao longo do Jordão, aquelas palavras de Isaías, com as quais
ele e o Messias foram profetizados: “ Todo vale será aterrado, todo monte será
arrasado, os caminhos tortos serão endireitados e os escabrosos serão
aplanados.” E isso para preparar os caminhos do Senhor e Rei?
Mas
em verdade ele fez mais do que todo Israel para preparar-me o caminho! Ora,
quem precisa arrasar montes, aterrar vales, endireitar caminhos ou suavizar as
subidas muito íngremes, só pode estar fazendo um trabalho rude. Porque ele era
o precursor, e somente o curso de umas poucas luas é que o punha na minha
frente, e tudo havia de ser feito, antes que o sol já estivesse alto, no dia da
Redenção. O tempo é este, o Sol se levanta para brilhar sobre Sião, e de lá
sobre o mundo todo. João preparou o caminho. Como devia.
Que
fostes ver no deserto? Algum caniço agitado pelo vento para todas as direções?
Mas então, que fostes ver? Algum homem vestido com vestes delicadas? Mas os que
assim se vestem moram nas casas dos reis, envoltos em vestes macias e servidos
por mil servos e cortesãos, cortesãos de um pobre homem. Aqui está um deles.
Perguntai-lhe se nele não há um desgosto pela vida da Corte e admiração pelo
penhasco solitário e escabroso, sobre o qual em vão se arremessam os raios e
saraivadas, e os ventos loucos lutam para arrancá-lo, enquanto que ele continua
sólido, projetam de todas as suas partes para o céu, com aquela ponta que
apregoa a alegria do alto, por ser tão vertical, e pontiaguda como uma chama
que sobe. Este é João.
Assim
é que vê Manaém, porque compreendeu a verdade da vida e da morte, e vê grandeza
onde existe, ainda que esteja escondida por baixo de aparências selvagens.
E
vós, que vistes em João, quando fostes a ele? Um profeta?
Eu
vos digo: Ele é mais do que um profeta. Ele é mais do que muitos santos, mais
do que os santos, porque dele está escrito: “ Eis que envio diante de vós o meu anjo para preparar o teu caminho diante de Ti.”
“
Anjo “. Considerai. Vós sabeis que os anjos são espíritos puros criados por
Deus á sua semelhança espiritual, enviados para estabelecer uma união entre o
homem, que é a perfeição da criatura visível e material, e Deus, que é a
Perfeição do Céu e da Terra, Criador do Reino Espiritual e do reino animal. Até
no homem mais santo existe sempre a carne e o sangue para pôr um abismo entre
ele e Deus. E o abismo se torna mais profundo pelo pecado, que torna pesado até
o que há de espiritual no homem. Eis que, então, Deus cria os anjos, criaturas
que atingem o vértice da escada das criaturas, assim como os minerais lhe
formam a base. Os minerais, o pó que compõe a terra, os materiais inorgânicos
em geral. Espelhos tersos do pensamento de Deus, chamas cheias de vontade de
trabalhar por amor, prontas para compreender, solícitas para agir, livres em
suas vontades como nós, mas de uma vontade totalmente santa, que não conhece as
rebeliões nem os estímulos do pecado. Isto os anjos adoradores de Deus, seus
mensageiros junto aos homens, nossos protetores, doadores a nós da Luz que os
reveste e do Fogo, que eles, ao adorarem, concentram em si.
João
é chamado “anjo”, por sua palavra profética. Pois bem. Eu vos digo: “ Entre os nascidos de mulher não apareceu nenhum
maior do que João Batista.” E no entanto, o menor no reino dos Céus é filho
de Deus, e não filho de mulher. Procurai, pois todos vós, tornar-vos cidadãos
do Reino.
Que
estais perguntando uns aos outros?
Nós
estávamos dizendo: “ Mas João estará no Reino? Como ele estará?
Ele,
em sua alma, é já do Reino, e lá ele estará depois da morte, como um dos sóis
mais esplêndidos da eterna Jerusalém. E isso pela graça, que nele é sem
defeito, e por sua própria vontade. Porque ele foi e é violento até consigo
mesmo, por um fim santo. Do Batista para a frente, o Reino dos Céus é daqueles
que sabem conquistá-lo, fazendo força contra o Mal, pois são os violentos que o
conquistam. Porque agora estão sendo conhecidas as coisas que se hão de fazer,
e todos os meios são dados para essa conquista. Já não estamos mais naquele
tempo em que quem falava eram somente a Lei e os Profetas. Esses também falaram
até João. Agora falta a palavra de Deus, e ela não esconde nem um i de tudo o
que é preciso saber-se para essa conquista. Se credes em Mim, deveis ver João
com Elias que há de vir. Quem tem ouvidos para ouvir ouça. Mas, ao que é que Eu
irei comparar esta geração? É semelhante aquela de que falam os meninos que,
sentados na praça, gritam aos seus companheiros: “ Nós tocamos música, e vós
não dançastes, entoamos lamentações, e não chorastes.”
Com
efeito veio João, que não come e não bebe, e esta geração diz: “ Ele pode fazer
assim, porque está com o demônio, que o ajuda.”
Veio
o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: “Aí está um comilão e um beberrão,
amigo dos publicanos e dos pecadores.” Assim é que a Sabedoria se faz justiça
pelos seus filhos! Em verdade, Eu vos digo que só os pequeninos é que sabem
reconhecer a verdade, porque neles não há malícia.
(
O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 4, pgs 276,277,278)
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