O MESTRE FALA E CURA.
Depois
das orações preliminares, chega o momento da leitura de uma passagem e a
explicação da mesma. O sinagogo pede a Jesus que as faça, mas Jesus, mostrando
os fariseus, diz: Que o façam eles.
Mas,
como eles não o querem fazer, Ele deve falar.
Jesus
lê a passagem do primeiro livro dos Reis, onde se narra como Davi foi traído
pelos homens de Zif, que disseram a Saul que ele estava em Gabaa. Jesus lhes restituiu
o rolo, e começa a falar.
Violar
o preceito da caridade, da hospitalidade, da honestidade é sempre um mal. Mas o
homem não titubeia em fazê-lo, com a maior indiferença. Aqui temos um duplo
episódio daquela violação, e a conseqüente punição de Deus. A conduta dos
homens de Zif era fraudulenta. Mas a de Saul não era menos. Os primeiros,
porque tinham a intenção vil de cair nas graças do mais forte e tirar vantagens
disso. O segundo, porque tinha a vil intenção de dar cabo do ungido do Senhor.
Era o egoísmo que fazia porem-se de acordo. E, diante da indigna proposta, o
falso e pecador rei de Israel ousou dar uma resposta, na qual ele inclui o nome
do Senhor: “ Sede benditos pelo Senhor.”
Uma
irrisão da justiça de Deus! Uma irrisão habitual! Sobre as maldades do homem,
muitas vezes se invoca como prêmio, ou como uma fiança, o Nome do Senhor e sua
benção. Foi dito: “ Não tomarás o Nome de Deus em vão.” E poderá haver coisa
mais vã, ou pior ainda, mais maldosa do que tomar o nome de Deus para cometer
um delito contra o próximo? No entanto, isso é um pecado mais comum do que
qualquer outro, e praticado com indiferença até por aqueles que são sempre os
primeiros nas assembléias do Senhor, nas cerimônias e nas doutrinações.
Lembrai-vos de que é pecaminoso ficar indagando, ficar observando e preparando
tudo para danificar ao próximo. E também é pecaminoso mandar indagar, mandar
observar e preparar todas as coisas para danificar ao próximo por outros. Isso
é induzir os outros ao pecado, tentando-os com algum prêmio, ou ameaçando-os
com represálias.
Eu
vos advirto que isso é pecado. Eu vos advirto que é egoísmo e ódio uma conduta
dessas. E vós sabeis que o ódio e o egoísmo são os inimigos do amor. Eu vos
advirto disso, porque Eu me preocupo com as vossas almas. Porque Eu vos amo.
Porque Eu não vos quero em pecado. Porque Eu não vos quero ver punidos por
Deus, como aconteceu a Saul que, enquanto perseguia a Davi, para prendê-lo e
matá-lo, viu a cidade ser destruída pelos filisteus. Em verdade, isso
acontecerá sempre a quem danifica o próximo. A vitória dele durará tanto como a
erva do prado. Depressa surgirá, mas depressa secará, será moída pelo pé
indiferente do passante. Enquanto que a boa conduta, a vida honesta, parecem
difíceis de nascer e de se firmarem. Mas, uma vez formado o hábito de vida,
torna-se uma árvore forte e copada, que nem os turbilhões arrancam, nem a
canícula consegue queimar.
Em
verdade, quem é fiel á Lei, mas fiel de verdade, torna-se uma árvore forte, que
não é dobrada pelas paixões, nem queimada pelo fogo de Satanás.
Eu
já falei. Agora, se alguém quer falar mais alguma coisa, que fale.
Nós
te perguntamos se falaste para nós, fariseus?
Por
acaso, a sinagoga estará cheia de fariseus? Vós sois quatro e a multidão é de
centenas de pessoas. A palavra foi para todos.
Mas
a alusão era clara.
Na
verdade, nunca se viu que alguém, ao ser indiciado em alguma comparação, passe
a acusar-se a si mesmo. E vós o estais fazendo. Mas, por que é que vos acusais,
se Eu não vos acuso? Sabeis por acaso que estais agindo como Eu disse? Eu não o
sei. Mas, se é assim, arrependei-vos disso. Porque o homem é fraco, e pode
pecar. Mas Deus o perdoa, se nasce nele arrependimento sincero e o propósito de
não mais pecar. Mas, com toda a certeza, persistir no mal é um duplo pecado, e
sobre esse pecado não desce o perdão.
Esse
pecado, nós não temos.
Nesse
caso, não vos aflijais com minhas palavras.
O
incidente terminou. E a sinagoga se enche de vozes, que estão cantando os
hinos. Depois, parece que a assembléia vai logo dispersar-se sem mais
incidentes.
Mas
o fariseu Joaquim descobre um homem no meio da multidão e, por meio de sinais e
com o olhar, o intima a vir para a primeira fila. É um homem dos seus cinqüenta
anos, e tem um braço atrofiado, paralisado até na mão e muito mais curto do que
o outro, porque a atrofia destruiu os seus músculos.
Jesus
o está vendo. E está vendo também toda a manobra preparada para fazer que Ele
veja. Jesus sente um começo de desgosto e de compaixão, e isto se nota em seu
rosto, um pequeno sinal significativo, mas muito claro. Ele não se desvia do
golpe. Pelo contrário, o enfrenta com firmeza.
Vem
aqui para o meio, diz Ele ao homem.
E,
quando o homem chega á sua frente, Jesus se vira para os fariseus, e diz:
“ Por que me estais tentando? Não acabei de
falar agora mesmo contra as insídias e o ódio? E vós dissestes agora mesmo: “
Nós não temos esse pecado.”? Não me respondeis? Respondei-me pelo menos a esta
pergunta: é lícito fazer o bem ou o mal aos sábados? É licito salvar, ou tirar
a vida? Não respondeis? Eu, então responderei por vós, e o farei na frente de
todo o povo, que julgará melhor do que vós, porque é sempre sem ódio e sem
soberba. Não é lícito fazer nenhum trabalho aos sábados. Mas, assim como é
lícito rezar, assim também é lícito fazer o bem, porque o bem é oração maior do
que os hinos e os salmos que acabamos de cantar, ao passo que, nem no sábado,
nem em nenhum outro dia é lícito fazer o mal. E vós o tendes feito, manobrando
para terdes aqui este homem, que nem de Cafarnaum não é, e que fizestes vir, há
dois dias, sabendo que Eu estava em Betsaida, e concluindo que Eu teria vindo á
minha cidade. E vós assim fizestes para procurar em que é que me poderíeis
acusar. E assim, cometeis também o pecado de matar a vossa alma, em vez de
salvá-la. Mas no que depende de Mim, Eu vos perdôo, e não decepcionarei a fé
deste homem, ao qual vós dissestes que viesse, dizendo-lhe também que Eu o
curaria, enquanto estáveis usando dele para armar-me uma cilada.
Ele não tem culpa, porque até aqui veio sem
outra intenção, senão a de ficar são. E que assim se faça. Homem, estende a tua
mão, e vai em paz.
O
homem obedece, e sua mão fica sã, igual á outra. Ele usa dela imediatamente
para segurar uma dobra da capa de Jesus a fim de beijá-la, dizendo-lhe: “ Tu
bem sabes que eu não sabia da verdadeira intenção deles. Se eu a tivesse
sabido, não teria vindo, preferindo ficar com minha mão seca a ir contra Ti.
Por isso, não me queiras mal.”
Vai
em paz, homem. Eu sei a verdade, e para ti só tenho benevolência.
A
multidão sai comentando e, por último, sai Jesus com os onze apóstolos.
(
O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 4 pgs 246,247,248,249)
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