TÊM OLHOS E NÃO VÊEM, TÊM OUVIDOS E NÃO OUVEM
Diz
um fariseu a Jesus:
“Queríamos ver as tuas novas conquistas, para nos congratularmos
contigo,” e se ri, com falsidade.
As
minhas conquistas? Ei-las. E Jesus faz um gesto em semi-círculo, mostrando a
multidão, quase toda do além-Jordão, isto é, desta região em que fica Bozra.
Depois, sem dar tempo ao fariseu de replicar, começa a falar.
Procuraram-me
aqueles que antes não me procuravam. E Eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui a uma
nação que não invocava o meu Nome. Glória ao Senhor, que fala a Verdade pela
boca dos profetas! Verdadeiramente, Eu, olhando para esta multidão que me
aperta de todos os lados, alegro-me vivamente no Senhor, porque vejo cumpridas
as promessas que Eu mesmo acendi, fiz brilhar, unido ao Pai e ao Paráclito, no
pensamento, na boca, no coração dos profetas, promessas que Eu conheci, antes
de fazer-me carne. Elas me confortam. Sim. Elas me confortam contra todo o
ódio, rancor, dúvida e mentira. Procuraram-me aqueles que, antes, nem
perguntavam por Mim. E me encontraram aqueles que não me procuravam. Por que
será isso assim, e, ao contrário, aqueles aos quais Eu estendi as mãos,
dizendo: “Eis-me aqui” foram os que me rejeitaram?” E, no entanto, eles é que
me conheciam, enquanto que estes não me conheciam. E então?
Eis
aqui a chave do mistério. Ignorar, ainda não é culpa, mas renegar é culpa. E
muitos daqueles que sabem de Mim, e aos quais Eu estendi as mãos, me renegaram,
como se Eu fosse um bastardo ou um ladrão, um satanás corruptor, porque, em sua
soberba, apagaram a luz da fé e se desviaram para caminhos não bons, tortos,
pecaminosos, abandonando o caminho que a minha voz lhes indica. O pecado está
no coração, nos pratos, nos leitos, nos corações, nas mentes deste povo que me
rejeita e que, vendo por toda parte o reflexo da sua própria imundície, também
em Mim ele a vê, e o seu ódio ainda mais a concentra, para, então, me dizer: “Afasta-te
que és imundo.”
E,
então, que é que dirá Aquele, que vem com as vestes tingidas de vermelho, belo
em sua veste e caminhando na grandeza de sua força? Ele cumprirá o que diz
Isaías, e não se calará, e despejará no meio deles o que eles merecem? Não.
Antes haverá de esmagar em sua prensa, ele sozinho, abandonado por todos, para
fazer o vinho da Redenção. O vinho que inebria os justos, a fim de fazer deles
uns bem aventurados, o vinho que inebria os culpados da grande culpa, para
despedaçar seu sacrílego poder. Sim, o meu vinho, o que está amadurecendo a
cada hora, ao sol do Eterno Amor, será ruína e salvação para muitos, como está
dito um uma profecia que ainda não está escrita, mas depositada na rocha sem
rachadura, da qual brotou a Videira, que dá o vinho da Vida Eterna.
Entendeis
vós? Não, vós não entendeis, ó doutores de Israel. Não importa que vós
compreendais. Está descendo sobre vós a escuridão, da qual fala Isaías:”Têm olhos e não vêem. Têm ouvidos, e não ouvem.” Escarnecerei da Luz, com o
vosso ódio, para que se possa dizer que a Luz foi repetida pelas trevas, e que
o mundo não quis conhecer.
Mas
vós, exultai. Vós que estáveis nas trevas e soubestes crer na Luz, que vinha
sendo anunciada, vós que a desejastes, procurastes e encontrastes. Exultai, ó
povo dos fiéis, que pelos montes, rios, vales e lagos, fostes á Salvação, sem
fazer conta do peso de um longo caminho. Assim se faz também para o outro
caminho espiritual, que é aquele que, das trevas da ignorância, te conduzirá, ó
povo de Bozra, á Luz da Sabedoria. Exulta, ó povo da Auranítide! Exulta na
alegria do conhecimento. Verdadeiramente também de ti está dito, e dos povos
teus limítrofes, quando canta o profeta que os vossos camelos e dromedários se
aglomerarão pelos caminhos de Neftali e Zabulon, para irem adorar ao verdadeiro
Deus, e para serem servos seus, na santa e doce lei, que não impõe tais coisas
para garantir a paternidade divina e a felicidade eterna, mas a observância dos
dez mandamentos do Senhor, amar o verdadeiro Deus com todo o vosso ser, amar ao
próximo como a nós mesmos, respeitar os sábados sem profaná-los, honrar os
pais, não matar, não roubar, não cometer adultério, não ser falso nos
testemunhos, não desejar a mulher e as coisas dos outros. Oh! Felizes de vós,
se, vindos de mais longe, superardes os que eram da casa do Senhor e que dela
saíram, estimulados pelos dez mandamentos de Satanás, que ensinam a desamar a
Deus, a amar a si mesmos, a prestar a Deus um culto corrompido, a tratar os
pais com dureza, a ter o desejo de cometer o homicídio, a tentativa de furtar a
santidade dos outros, a fornicação com Satanás, os falsos testemunhos, a inveja
da natureza e da missão do Verbo, e do pecado horrível, que fermenta e
amadurece no fundo dos corações, de muitíssimos corações.
Exultai,
ó vós que estais com sede!
Exultai,
ó vós que estais com fome, éreis vós os proscritos?
Éreis
vós os desprezados?
Éreis
os estrangeiros?
Vinde,
exultai! Agora não é mais assim. Eu vos dou casas, bens, paternidade, pátria. O
Céu, Eu vos dou.
Segui-me,
que Eu sou o Salvador!
Segui-me
que Eu sou o Redentor!
Segui-me,
que Eu sou a Vida.
Segui-me
que Eu sou Aquele ao qual o Pai não nega suas graças!
Exultai
no meu amor!
Exultai!
E,
para que vejais que Eu vos amo, ó vós que me procurastes com as vossas dores, ó
vós que crestes em Mim, antes ainda de Me terdes conhecido, para que este dia
seja de uma verdadeira exultação, Eu rezo assim: “Pai, Pai Santo! Sobre todas
as feridas, doenças, chagas do corpo, angústias, tormentos, remorsos dos
corações, sobre toda a fé que nasce, sobre a que vacila, sobre a que se
robustece, desça, oh! Desça Salvação, graça e paz! Paz em Meu Nome! Salvação
pelo nosso recíproco amor! Abençoa, ó Pai Santíssimo! Recolhe e une em um só
rebanho estes teus e meus filhos dispersos! Faze que, onde eu estiver, estejam
eles uma só coisa contigo, Pai Santo, contigo, comigo e com o Diviníssimo
Espírito!”
Jesus,
de braços abertos, em forma de cruz, com as palmas no alto, viradas para o céu,
o rosto levantado, a voz ressoando como uma trombeta de prata, está arrastando
aos que ouvem suas palavras... E fica assim, em silêncio, por alguns minutos.
Depois, os seus olhos de safira deixam de ficar olhando para o céu, a fim de
olharem para o amplo pátio, cheio de uma multidão, que está suspirando de
comoção, ou fremindo de esperança. Suas mãos se unem, sendo levadas para a
frente, e Ele, com um sorriso que o transfigura, lança o último grito: “
Exultai, ó vós que credes e esperais. Ó povo de sofredores, levanta-te, e ama
ao Senhor teu Deus!
É
simultânea e total a cura de todos os doentes. Um barulho de gritos, um
estrondo de vozes dá hosanas ao Salvador.
(
O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 4, pg. 461 a 464)
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