CAIM MATA ABEL
SOBRE O GÊNESIS
Diz
Jesus:
No
Gênesis se lê: “Então Adão pôs em sua mulher o nome de Eva, por ser ela a mãe
de todos os viventes.”
Oh!
Sim. A mulher era nascida da “Virago”, que Deus havia formado para ser
companheira de Adão, tirando-a da costela do homem. Ela nascera com o seu
destino doloroso, porque tinha querido nascer. Pois tinha querido conhecer o
que Deus lhe havia ocultado, reservando para si a alegria de dar-lhe a alegria
de uma posteridade sem o aviltamento da sensualidade. A companheira de Adão
tinha querido conhecer o bem, no bem aparente. Porque, seduzida como tinha sido
por Lúcifer, tinha o desejo de conhecer coisas que só Deus podia conhecer sem
perigo, e se tinha tornado criadora. Mas, usando indignamente essa força de
bem, a tinha corrompido praticando um ato mau, que foi a desobediência a Deus,
e a malícia e cobiça da carne.
Ela
já era a “mãe”. Havia um pranto sem parar ao redor de sua rainha profanada. E
um pranto desolado da rainha por causa daquela profanação, cuja realidade Ela
compreende e sabe que não pode desfazer-se. Se as trevas e os cataclismos
acompanharam a morte do inocente, também as trevas e a tempestade acompanharam
a morte do inocente e da Graça que havia nos corações dos Progenitores. E assim
tinha nascido a dor sobre a terra. E a Providência de Deus não quis que ela
fosse eterna, dando-vos depois de muitos anos de dor, a alegria de sair da dor
para entrar na alegria, se souberdes viver com reta intenção.
Ai
do homem, se ele tivesse devido, com suas forças humanas, fazer-se o dono da
vida! E ter que viver com a lembrança dos seus delitos e um contínuo aumento
deles, porque viver sem pecar é mais impossível do que viver sem respirar,
sendo vós as criaturas, que havíeis sido criadas para conhecer a Luz, mas que a
Treva por si mesma envenenou, fazendo delas as suas vítimas. A Treva! Ela vos
rodeia continuamente. Ela vos envolve, fazendo renascer tudo o que o Sacramento
desfez, e porque vós contra ela não opondes a vontade de serdes de Deus, chega
a envenenar-vos de novo com seu veneno, que o Batista em vós havia tornado
inócuo.
Deus
Pai afastou o homem, de cuja desobediência eram evidentes os sinais do lugar de
delícias paradisíacas, a fim de que ele não pecasse uma segunda vez, e até mais
ainda, levantando sua mão de ladrão para a árvore a vida. Não podia mais o Pai
confiar em seus filhos, nem sentir-se seguro em seu Paraíso Terrestre. Pois
Satanás havia penetrado nele, para armar ciladas às suas criaturas prediletas.
E tinha podido seduzi-los à culpa, quando eles eram inocentes, com mais
facilidade teria podido fazê-lo agora, quando eles não eram mais inocentes.
O
homem havia desejado possuir tudo, não deixando para Deus o tesouro que era ser
Ele o Criador. Se ele ficasse agora com a riqueza conquistada pela violência, e
a levasse consigo para a terra do exílio, a fim de fazê-lo lembrar-se sempre do
seu pecado, como um rei aviltado e despojado dos seus bens. A criatura
paradisíaca se havia tornado uma criatura terrestre. E deviam passar por
séculos de dor, porque o Único que podia estender a mão para o fruto da Vida,
se aproximasse e colhesse daquele fruto, para toda a Humanidade, e o colhesse
com suas mãos transpassadas, e o desse aos homens, a fim de que eles se
tornassem co-herdeiros do Céu e possuidores da vida que não morre nunca.
Diz
ainda o Gênesis: “ Depois Adão conheceu sua mulher Eva.” Tinham querido
conhecer os segredos do bem e do mal. Justo era que conhecessem agora também a
dor de terem que reproduzir-se a si mesmo na carne, tendo a ajuda direta de
Deus somente para aquilo que o homem não pode criar: o espírito, centelha que
vem de Deus, sopro que por Deus é infundido, selo que põe sobre a carne o sinal
do Criador Eterno. E Eva deu a luz Caim.
Eva
estava com a carga de sua culpa. Chamo aqui a vossa atenção sobre um fato que,
para a maior parte das pessoas, passa despercebido. Eva estava sob o peso de
sua culpa. Nem a dor tinha sido ainda na medida suficiente para diminuir sua
culpa. Como um organismo carregado de toxinas, ela havia transmitido ao filho
tudo o que pululava nela. E Caim, o primeiro filho de Eva, tinha nascido
malvado, invejoso, iracundo, luxurioso e perverso, pouco diferente das feras em
seu instinto, mas superior a elas, quanto ao que é sobrenatural, porque em seu
eu feroz, ele negava o respeito a Deus, para o qual ele olhava como para um
inimigo, achando que era permitido não prestar a Ele um culto sincero. E
Satanás ainda o excitava mais a zombar de Deus. E quem zomba de Deus não tem
mais respeito a ninguém neste mundo. Por isso é que aqueles que estão em
companhia dos que zombam do Eterno, conhecem o que é o amargor do pranto,
porque para eles não há nenhuma esperança de um amor respeitoso em seus filhos,
nenhuma segurança de um amor fiel em seu consorte, nenhuma certeza de uma
amizade honesta em seus amigos.
Lágrimas
e mais lágrimas regaram o rosto de Eva, e regaram também o seu coração, por
causa da dureza de seu filho em rejeitar em seu coração o germe do
arrependimento. As lágrimas e mais lágrimas regaram o rosto de Eva, e regaram
também o seu coração. As lágrimas e mais lágrimas conseguiram para ele uma
diminuição de culpa, porque Deus perdoa, ao ver a dor de quem se arrepende. E o
segundo gerado de Eva teve sua alma lavada no pranto da mãe, e foi agradável e
respeitoso para com os seus genitores, e devotado para com o seu Senhor, cuja
onipotência ele percebia vir raiando dos Céus. E este era a alegria da decaída.
Mas
o caminho doloroso de Eva devia ser longo, proporcionado ao seu caminho naquela
experiência do que é o pecado. Pois neste houve um frêmito dos sentidos, e
naquele um frêmito de espasmos. Neste, beijos. Naquela, sangue. Neste, um
filho. Naquele, a morte de um filho. E, de predileto, por sua bondade, Abel se
tornou um instrumento de purificação para a culpada. Mas, que dolorosa
purificação! Ela encheu com os seus uivos a terra, que ficou horrorizada pelo
fratricídio, e misturou as lágrimas de uma mãe com o sangue de um filho,
enquanto aquele que o havia derramado, por ter ódio contra Deus e contra o
irmão amado por Deus, fugia, perseguido por seu remorso.
Diz
o Senhor a Caim: “Por que estás irritado? Pois, se tu faltas contra Mim, ainda
te irritas, porque Eu não olho para ti benignamente?”
Quantos
Cains há sobre a terra? Eles me prestam um culto cheio de derrisão e
hipocrisia, ou não mo prestam absolutamente, e ainda querem que Eu olhe para
eles com amor e os encha de felicidade.
Deus
é vosso Rei. Não é o vosso servo. Deus é vosso Pai. Mas um pai, nunca é servo,
se julgarmos conforme a Justiça. Deus é justo. E vós não o sois. Mas Ele o é. E
Ele não pode não castigar-vos, visto que ele vos cumula de benefícios sem
medida, contanto que o ameis um pouco, e deixa de dar-vos seus castigos, mesmo
quando vê que zombais Dele. Mas a justiça não conhece dois caminhos. Seu
caminho é um só. Fazei o bem. Fazei o mal, e tereis o mal. E, poseis crer, é
sempre muito mais o bem que recebeis, em comparação com o mal que deveríeis receber,
pela vossa maneira de viver, em rebelião contra a Lei Divina.
Foi
dito por Deus: “Não é verdade que, se fizerdes o bem, terás o bem, e que, se
fizerdes o mal, o pecado estará imediatamente à tua porta?” De fato, o bem
produz em nós uma constante elevação espiritual e nos vai tornando sempre mais
capazes de fazer um bem sempre maior, até chegarmos a atingir a perfeição, e
nos tornarmos santos, ao passo que, basta ceder ao mal, e nos afastarmos da
perfeição, do conhecimento de quanto nos domina o pecado, que entra no coração
e o faz ir descendo gradualmente a culpabilidades cada vez maiores.
Mas,
diz ainda Deus: “Mas abaixo de ti estará o desejo disso, e tu o deves dominar.”
Também aos primeiros homens atingidos pelo rigor de Deus, Ele deu inteligência
e força moral. Agora, pois, desde quando o Redentor consumou para vós o
Sacrifício, vós tendes para ajudar vossa inteligência e vossa força os rios da
Graça, e podeis e deveis dominar os desejos do mal. E, com a vossa vontade
fortificada pela graça o deveis fazer. Eis aí porque foi que os anjos, em meu Nascimento,
cantaram para a terra:”Paz aos homens de boa vontade.” Eu tinha vindo para
trazer-vos a graça e, mediante a união dela com a vossa boa vontade, teria
vindo aos homens a paz. A paz, que é a glória do Céu de Deus.
E
Caim disse a seu irmão: “Vamos lá fora!” Era uma mentira dele, e ele escondia
com um sorriso a traição que mata. A delinqüência é sempre mentirosa para com
as vítimas e para com o mundo, que ela procura enganar. Ela quereria enganar
até a Deus. Mas Deus lê nos corações. “Vamos lá para fora.”
Muitos
séculos depois alguém disse: “Salve, Mestre”, e o beijou. Os dois Cains
esconderam o delito sob uma aparência inócua, e desafogaram sua inveja, sua
ira, sua prepotência e todos os seus maus instintos sobre a vítima, porque se
tinham dominado a si mesmos, mas haviam feito do seu espírito o seu próprio eu
corrompido. Eva sobe, pela expiação que faz, enquanto Caim desce para o
Inferno. O desespero se apoderou dele, e lá o precipita. E, depois do
desespero, que é o último golpe mortal dado ao espírito já enfraquecido por seu
delito, vem o medo físico, vil, da punição humana. Não pode lembrar-se do Céu o
homem que está com sua alma morta. Ele é um animal que tem medo de perder sua
vida animal. A morte, cujo aspecto já é um sorriso para os justos, pois é por
ela que eles vão para a alegria da posse de Deus, e é terror para aqueles que
sabem que morrer quer dizer passar do inferno do coração para o Inferno de
Satanás, e para sempre. E, como uns alucinados, vêem de todos os lados a
vingança pronta para feri-los.
Mas,
ficai sabendo, Eu estou falando aos justos, ficai sabendo que se o remorso e as
trevas de um coração culpado dão ocasião, ou fomentam as alucinações do
pecador, a ninguém é lícito erigir-se em juiz do irmão, e, muito menos em seu
carrasco. Somente um é Juiz: Deus. E, se a justiça do homem criou os seus
tribunais, a estes é que toca a tareja de administrar justiça, e ai daqueles
que profanarem tal nome, e quiserem julgar pelo critério de suas próprias
paixões, ou pelas pressões dos poderes humanos.
Maldito
seja quem se fizer carrasco particular de um seu semelhante! Mas maldição ainda
maior para aqueles que, sem que o façam por uma irritação irrefletida, mas por
um frio cálculo humano, condenam à morte ou à desonra de um cárcere, sem
justiça. Porque se aquele que matar será dado um castigo sete vezes maior, como
disse o Senhor, assim aconteceria com quem matasse Caim, como aquele que sem
julgamento condena, escravizando-se a Satanás, vestindo-se com a veste de autoridade
humana, será condenado setenta e sete vezes pelo rigor de Deus.
Seria
necessário ter isso sempre presente, especialmente agora, ó homens que vos
matais uns aos outros, para fazerdes dos que tombaram a base do vosso triunfo,
e não sabeis que estáveis cavando sob os vossos pés o precipício no qual vós
precipitareis, amaldiçoados por Deus e pelos homens. Pois Eu disse: “Não
matarás.”
Eva
sobe pelo seu caminho de expiação. O arrependimento cresce nela, diante das
provas de seu pecado. Ela quis conhecer o bem e o mal. E a lembrança do bem
perdido é para ela como a lembrança do sol para alguém que de repente tenha
ficado cego. E o mal feito está diante dela, nos despojos do seu filho morto, e
ao redor dela, pelo vazio criado pelo filho homicida e fujão. Depois disso,
nasce Set. E depois e Sete. Enós, o primeiro sacerdote.
Vós
inchais vossas mentes com os rios da vossa ciência, e falais de evolução, como
para dardes um sinal da vossa formação espontânea. O homem animal, ao
evoluir-se se tornará o super-homem. Vós dizeis assim. Sim. Assim é. Mas a meu
modo. No meu campo. Não no vosso. Não será passando da espécie dos quadrúpedes
para a dos homens, mas sim, passando-se da dos homens para a dos espíritos. E,
tanto mais crescerá o espírito, quanto mais evoluirdes.
Vós,
que falais de glândulas, e que encheis a boca falando de hipófises, ou pineal,
e colocais nesta a sede da via, começada, não no tempo em que viveis, mas nos
tempos precedentes e nos que sucederão os atuais, ficai sabendo que a vossa
verdadeira glândula, a que faz de vós os verdadeiros possuidores eternos na
vida PE o vosso espírito, quanto mais ele se desenvolver, tanto mais possuireis
as luzes divinas, e vos transformareis de homens em deuses, deuses imortais,
obtendo assim, sem irdes contra o plano de Deus, obedecendo às suas ordens a
respeito da árvore da Vida, possuindo esta vida exatamente como Deus quer que a
possuais, pois que Ele para vós a criou eterna e brilhante, num abraço feliz
com sua eternidade, que vos absorve em si, e vos comunica as suas propriedades.
Quanto
mais o espírito tiver evoluído, tanto mais conhecereis a Deus. Conhecer a Deus,
quer dizer amá-lo e servi-lo, e, por isso ser capazes de invocá-lo em favor de
vós mesmos e dos outros. E com isso vos tornareis os sacerdotes que desta Terra
oram a Deus por seus irmãos, visto que o sacerdote é consagrado. Mas também o é
o cristão convicto, amoroso e fiel. E assim especialmente o é a alma vítima que
se imola a si mesma por um impulso de caridade.
Não
é o hábito o que Deus observa, mas a disposição. E, em verdade, Eu vos digo que
aos meus olhos aparecem muitos tonsurados, que de sacerdotes só tem a tonsura,
e muitos leigos nos quais a caridade que os possui e pela qual eles se deixam
consumir é o Óleo da ordenação, que faz deles os meus sacerdotes, desconhecidos
pelo mundo, mas conhecidos por Mim, que os abençôo.
(
O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 10, pgs. 85 a 91)
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