Faça um celeiro para esta vida cheia de virtudes, para poder colher na outra vida.
PERSEVERANÇA E OCIOSIDADE.
Ouvi,
diz Jesus.
Verdadeiramente
as alterações do espírito se fazem ver no rosto. É como se o demônio assomasse
á superfície daquele seu possesso. Poucos são os que, sendo demônios, ou por
atos ou por sua aparência, não dêem sinais daquilo que são. E esses poucos são
os perfeitos no mal, os perfeitamente perversos. O rosto do justo, ao
contrário, é sempre belo, mesmo quando materialmente ele é deforme, e de uma
beleza sobrenatural, que se derrama do seu interior para o exterior. E, não por
medo de dizer, mas pela verdade dos fatos, nós podemos observar nos que estão
sem a impureza dos vícios um frescor até em suas carnes. A alma está em nós e
presente em todas as nossas partes. Os maus cheios de uma alma corrompida
corrompem também as carnes. Enquanto que os perfumes de uma alma pura preservam
tudo. A alma corrompida impele a carne para os pecados obscenos e estes a tornam
envelhecida e deformada. A alma pura impele a carne a uma vida pura. E isso
conserva o frescor e comunica majestade.
Fazei
que em vós permaneça uma juventude pura de espírito, e que ressurja, se já
estiver perdida, e tomai cuidado para resguardar-vos de toda cobiça, tanto da
sensualidade, como do poder. A vida do homem não depende da abundância dos bens
que ele possui. Nem esta, nem, muito menos a outra: a eterna. Mas depende de
sua maneira de viver. E, com a vida, a felicidade desta terra e a do Céu.
Porque o viciado não é feliz, realmente feliz. Enquanto que o virtuoso é sempre
feliz, tem sempre alegria celestial, mesmo quando é pobre e sozinho. Nem a
morte o impressiona. Porque ele não tem culpa nem remorsos que o façam ter medo
do encontro com Deus, e não tem saudades das coisas que deixa na terra. Ele
sabe que no Céu é que está o seu tesouro e, como alguém que vai pegar a herança
que o espera, uma herança santa, ele vai alegre, bem disposto, ao encontro da
morte, que lhe abre as portas do Reino, onde está o seu tesouro.
Formai
logo o vosso tesouro. Começai-o desde a juventude, vós que sois jovens;
trabalhai incansavelmente, vós anciãos que, pela idade, estais já mais perto da
morte. Mas, posto que a morte tem um prazo desconhecido, e muitas vezes chega
para o menino antes de chegar para o velho, não fiqueis adiando o trabalho de
formar para vós um tesouro de virtude e de boas obras para a outra vida, a fim
de que a morte não vos pegue, sem que tenhais posto no Céu um tesouro de
merecimentos. Muitos são os que dizem: “ Oh! Eu sou jovem e forte. Por
enquanto, quero gozar nesta terra, depois me converterei”. Que grande erro!
Ouvi
esta parábola.
As
terras de um homem rico haviam produzido muito. Ele havia feito uma colheita
imensa. Pôs-se ele, então a contemplar toda aquela riqueza, os montes de
cereais sobre os seus campos e terreiros e, não tendo mais lugar nos celeiros,
precisava colocar a colheita sob telheiros provisórios e até nos quartos de sua
casa. Então ele disse: “ Eu trabalhei como um escravo, mas a terra não me
decepcionou. Trabalhei e consegui uma colheita que vale por dez, e agora
preciso descansar por outras dez. Como vou fazer para guardar toda esta
colheita? Vendê-la, eu não quero, porque seria obrigado a trabalhar para ter
uma nova colheita no ano que vem. Eu vou fazer o seguinte: Vou desmanchar os meus
celeiros, e farei outros bem maiores, onde possam caber todas as colheitas,
todos os meus bens. Depois eu direi a mim mesmo: “ Desperta, homem! Tens
garantida agora a posse de muitos bens, e por muitos anos. Descansa, então,
come, bebe, regala-te!” Aquele homem, como muitos outros, não fazia diferença
entre o corpo e a alma, misturava o que é sagrado com o que é profano, porque na
verdade a alma não se regala nas glutonarias nem no ócio, e aquele homem, como
muitos outros, depois de ter feito a primeira boa colheita nos campos de bem,
logo parou, achando que já havia feito tudo.
Mas, não sabeis vós que, uma vez posta a
mão no arado, é preciso que quem assim fez persevere, durante um, dez, cem
anos, enquanto durar esta vida, porque ficar parado é um delito contra nós
mesmos, pois com isso deixamos de dar valor a uma glória maior, e isso é voltar
atrás, pois quem pára, quase sempre não só deixa de ir para a frente, mas fica
para trás? O tesouro do Céu deve aumentar o amor de ano em ano, para que seja
realmente bom. Visto que a misericórdia vai ser benigna até para quem teve
poucos anos para formar o seu tesouro. Mas ela não será cúmplice dos
preguiçosos, que têm longa vida, e trabalham pouco. Há de ser um tesouro em
contínuo aumento. E, se ele não for mais um tesouro frutífero e ficar inerte, isso
irá em detrimento da paz já preparada no Céu.
Deus
disse ao estulto: “ Homem estulto, que confundes o corpo e os bens da terra com
o que é espiritual, e de uma graça de Deus fazes um mal, fica sabendo que nesta
mesma noite te será exigida e tirada a tua alma, e o teu corpo jazerá sem vida.
Tudo o que acumulaste, de quem será? Pensas em levá-lo contigo? Não. Tu ficarás
como nu, sem teres as tuas colheitas terrenas, nem obras espirituais praticadas
diante dos meus olhos, e assim serás pobre na outra vida. Melhor teria sido
para ti se, com tuas colheitas, tivesses feito obras de misericórdia para com o
próximo e para ti próprio. Porque sendo misericordioso para com os outros, era
para a tua alma que o estarias sendo. E, em vez de nutrir pensamentos de ócio,
devias exercer atividades das quais pudesses tirar honestas vantagens para o
teu corpo e grandes méritos para a tua alma, até que Eu te houvesse chamado.”
E
o homem naquela noite morreu e foi severamente julgado.
Em verdade, Eu vos digo que assim
acontece a quem ajunta tesouros para si e não se torna rico aos olhos de Deus.
Agora ide e fazei um tesouro da doutrina que
vos acaba de ser transmitida.
A
paz esteja convosco.
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