A
MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES.
Mestre,
a tarde já vem perto. Este é um lugar deserto, está longe das casas e dos
povoados, e é um lugar sombreado e úmido. Daqui a pouco, já não poderemos nem
enxergarmos mais, nem caminhar. A lua hoje sai tarde. Manda o povo para que vá
a Tariquéia ás povoações que ficam ás margens do rio Jordão, para comprarem
alimento e procurarem alojamento.
Não
é preciso que elas se vão. Dai-lhes vós de comer. Elas podem dormir aqui, como
dormiram, quando ficaram Me esperando.
Só
nos restam cinco pães e dois peixes, Mestre, como já sabes.
Trazei-me.
André
vai procurar o menino. Está ele de guarda á bolsa. A pouco estava com o filho
do escriba e dois outros, atento a fazer coroas de flores, brincando de rei.
André vai solícito. Também João e Filipe põem-se a procurar Marziam por entre
uma multidão, que está sempre mudando de lugar. Encontram-no todos quase ao
mesmo tempo. Ele vai levando uma bolsa de mantimentos a tiracolo, tendo um
grande ramo de clematite a rodear-lhe a cabeça, e uma cinta de clematite, da
qual está pendente, como se fosse uma espada, um pedaço de vara encaroçada. O
punho da espada é o caroço maior de todos e a lâmina é o resto da própria vara.
Com Marziam estão outros sete, igualmente ataviados, formando um acompanhamento
ao filho do escriba, um rapazinho muito magro, com olhos muito sérios como os
de quem já sofreu tanto, que, por isso, está mais enfeitado do que os outros,
para fazer o papel do rei.
Vem
Marziam. O Mestre te está chamando!
Marziam
deixa os seus amiguinhos boquiabertos, e lá se vai, apressado, mesmo sem ter
tirado as suas insígnias feitas com flores. Mas o seguem também os outros, e
logo Jesus se vê rodeado por uma pequena coroa de meninos engrinaldados com
flores. Ele os acaricia, enquanto Filipe vai tirando da bolsa um pacote com pão
e estão embrulhados dois grandes peixes: dois quilos de peixe, pouco mais.
Insuficientes também para os dezessete, ou melhor, para os dezoito com Manaém,
da comitiva de Jesus. Levam esses alimentos ao Mestre.
Está
bem. Agora trazei-me cestos. Dezessete, que é o vosso número. Marziam
distribuirá o pão ás crianças. Jesus olha fixamente para o escriba, que se
conserva sempre perto dele, e lhe pergunta: “ Queres tu também dar alimento aos
famintos? Eu gostaria. Mas eu também não tenho nada.”
Pois
distribui do meu, Eu o cedo.
Mas...
vais matar a fome de cinco mil homens, sem falar das mulheres e crianças, só
com aqueles dois peixes e aqueles cinco pães?
Sem
dúvida. Não sejas incrédulo. Quem crer verá realizar-se o milagre.
Oh!
Nesse caso, quero também eu distribuir o alimento.
Faze
com que te dêem também uma cesta.
Os
apóstolos estão de volta com cestos e cestinhos largos e rasos, e outros fundos
e estreitos. Também o escriba volta com o seu cesto. É um pouco pequeno.
Compreende-se, por um lado, a sua fé e, por outro, a sua incredulidade, que o
fizeram escolher aquele, como se fosse o maior de todos.
Está
bem. Ponde todos aqui na frente. E fazei que o povo se sente em ordem, por
fileiras regulares, tanto quanto for possível.
E,
enquanto isso acontece, Jesus ergue os pães com os peixes, tudo junto, faz o
oferecimento deles, reza e abençoa. O escriba não deixa de acompanhá-lo com o
olhar, nem por um instante. Depois, Jesus parte os cinco pães em dezoito
pedaços, parte os dois peixes em dezoito pedaços, e coloca o pedaço de peixe, um
pedacinho bem pequeno, um em cada cesto, reduz a bocados os dezoito pedaços de
pão, cada pedaço em muitos bocados. Muitos, é um modo de dizer, uns vinte,
quando muito. Cada pedaço partido, um em cada cesto, com o peixe.
Agora,
pegai tudo isso e distribui á sociedade. Ide. Vai, Marziam, vai dá-lo aos teus
companheiros.
Puxa!
Como está pesado!, diz Marziam, levantando o seu cesto e indo depressa aos seus
pequenos amigos, mas vai caminhando como quem, de fato leva um peso.
Os
apóstolos, os discípulos, Manaém e o escriba ficam olhando perplexos como ele
vai indo. Depois pegam os seus cestos e, sacudindo a cabeça, dizem uns aos
outros: “ O menino está brincando. Eles não estão mais pesados do que antes!” E
o escriba olha, quer ver os cestos também por dentro, e neles enfia a mão para
apalpar o fundo, porque a claridade já está pouca naquele canto onde está
Jesus, ao passo que, mais ao longe, na clareira da mata, ainda está bem claro.
Contudo,
mesmo depois de terem verificado isso, vão indo para o lado do povo, e começam
a distribuição. E dão, dão, dão. E, de vez em quando se viram assombrados para
Jesus, que vai ficando cada vez mais longe, e que, de braços cruzados e
encostado a uma árvore, está sorrindo amorosamente do assombro deles.
A
distribuição é longa e farta. O único que não demonstrava assombro é Marziam,
que se ri, feliz por poder saciar com pão e peixe a tantas crianças pobres. E
ele é o primeiro a voltar para Jesus, dizendo: “ Eu dei muitos, mas muitos mesmo,
porque eu sei o que é a fome”, e levanta aquele seu rostinho, não mais magro,
como me lembro que antes era, mas que está pálido e arregalando os olhos. Jesus,
então o acaricia, e o sorriso volta, todo luminoso, aquele rostinho juvenil
que, confiante, se apóia em Jesus, seu Mestre e protetor.
Pouco
a pouco, vão voltando os apóstolos e os discípulos, todos emudecidos pelo
assombro. O último é o escriba, que nada diz. Mas faz um ato que é mais que um
discurso. Se ajoelha e beija a orla da veste de Jesus.
(
O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 4, pgs 320.321,322)
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