PARÁBOLA DA GOTA QUE ESCAVA A ROCHA.
Jesus fala com os Siquemitas,
ou escuta o que eles estão falando. É evidente que os samaritanos estão
orgulhosos por terem em seu meio o Mestre, e estão sonhando mais do que convém.
Chegam ao ponto de dizerem a Jesus, mostrando os altos montes, que ficam á
esquerda de quem esta indo para o norte: “ Estás vendo? É feia a fama que tem o
Rebal e o Garizim. Mas eles, pelo menos para Ti, são muito melhores do que
Sião. E o seriam totalmente, se Tu o quisesses, escolhendo-os para a tua
morada. Sião é sempre um esconderijo para os Jebuseus. E os de agora são para
Ti ainda mais inimigos do que os antigos para Davi. Ele, tendo feito uso da
violência, tomou a cidadela. Mas Tu, que não usas violência, lá não reinarás.
Nunca. Fica conosco, Senhor, e nós te honraremos.”
Jesus lhes responde: “
Dizei-me: ter-me-íeis amado se, com violência Eu vos tivesse querido
conquistar?
Na verdade, não. Nós te amamos
mesmo, mas porque és todo amor.
Então por ele, isto é, pelo
amor, Eu reino em vossos corações?
Assim é, Mestre. Mas é porque
nós escolhemos o teu amor. Eles, os de Jerusalém, não te amam.
É verdade. Eles não me amam.
Mas, vós que tendes todos muita experiência no comércio dizei-me: quando
quereis vender, adquirir ou ganhar, será que ficais desanimados porque em
certos lugares não vos amam, ou fazeis tranquilamente o que tendes que fazer,
preocupando-vos somente em fazer boas compras e boas vendas, sem ficardes
preocupados em pensar se o dinheiro que ganhais é um dinheiro sem amor por
parte daqueles de quem comprastes ou a quem vendestes?
É só com o negócio que nos
preocupamos. Pouco nos importa se para isso falta o amor daquele com quem
negociamos. E, terminando o negócio, termina também o nosso relacionamento.
Fizemos um bom negócio... e o resto não tem valor.
Pois bem. Eu também, que vim
para tratar dos negócios de meu Pai, só devo preocupar-me com isso. Agora, se
lá onde Eu trato deles Eu encontro amor ou desprezo, ou aspereza, isso não me
preocupa. Em uma cidade comercial não é com todos que se obtém ganhos e se
fazem boas compras e boas vendas. Mas, mesmo quando só se faz um bom negócio
com um bom ganho, dizemos que nossa viagem não foi inútil, e lá voltamos
repetidas vezes. Porque o que não se obtiver só com um na primeira vez, vai-se
obter com três na segunda, com sete na quarta e com dez mais dez nas outras.
Não é assim? Eu também, a fim de conquistar pessoas para o Céu, faço como vós
em vossas feiras. Eu insisto, continuo, acho que já é bastante até o que é
pequeno, no número, no tamanho, porque até uma só alma, se for salva, já é uma
grande coisa e uma grande compensação para o meu cansaço.
Cada vez que Eu vou lá, e
consigo vencer todo tipo de reações do homem, até conquistar, como Rei do
espírito, ainda que seja apenas um súdito, não, Eu não digo que foi inútil a
minha viagem, inúteis as minhas dores, inúteis os meus cansaços. Mas Eu digo
que foram bons, amáveis e desejáveis os desprezos, as injúrias e acusações. E
Eu não seria um bom conquistador, se parasse diante dos obstáculos e das
fortalezas de granito.
Mas te seriam necessários
muitos séculos para venceres tudo isso. Tu... és um homem. Não viverás muitos
séculos. Por quê ficas perdendo o teu tempo onde não te desejam?
Eu viverei muito menos. Pelo
contrário, daqui a pouco não estarei entre vós, não verei mais auroras e o por
do sol, que são como os marcos miliários de dias que surgem e de dias que já se
foram, mas os contemplarei apenas como belezas naturais, e louvarei por elas o
Criador que as fez, e que é o meu Pai. Não verei mais florirem as plantas nem
amadurecerem as frutas, nem terei mais necessidade dos frutos da terra para
conservar a minha vida, porque, tendo voltado para o meu Reino, me nutrirei com
o amor. E, no entanto, Eu abaterei essas muitas fortalezas fechadas, que são os
corações dos homens. Observai aquela pedra ali, por baixo daquela nascente, do
lado do monte. A nascente é muito fraca, parece, até que não escorre, mas que
somente pinga: é uma gota que cai, talvez há séculos, sobre aquela rocha que se
lança para fora do lado da montanha. E a pedra é muito dura. Não é um calcário
quebradiço, nem um macio alabastro, mas um basalto duríssimo. E, no entanto,
olhai como no centro do penhasco convexo, e que não obstante seja ele assim –
se tenha formado um pequenino espelho de água, não mais largo do que o cálice
de um nenúfar, mas suficiente para refletir o céu azul e matar a sede dos passarinhos.
Aquela convexidade do penhasco talvez tenha sido feita pelo homem, para fazer
aparecer uma pedra preciosa no centro do penhasco escuro, ou uma taça de
refrigerante para os passarinhos? Não. O homem não se ocupou com isso. Talvez
nos muitos séculos em que os homens vieram passando pela frente deste penhasco,
uma gota, há séculos tenha vindo escavando, com um sincopado, inexorável
trabalho – e somos nós os primeiros que o observamos – este basalto negro, com
sua turquesa líquida no centro, e admiramos sua beleza, e louvamos o Eterno,
por tê-la querido para delícia dos nossos olhos e refrigério para os
passarinhos que fazem seus ninhos aqui por perto.
Mas dizei-me uma coisa. Terá
sido talvez a primeira gota, que brotou por baixo da grande cornija basáltica,
que está sobreposta ao penhasco, e que cai daquela altura sobre esta rocha, a
que escavou a taça para refletir o céu, o sol, as nuvens e as estrelas? Não.
Milhões e milhões de gotas, uma depois da outra, se foram sucedendo, brotando
lá de cima como uma lágrima, e descendo com o seu brilho para bater sobre o
penhasco e, com uma nota de harpa, morrer sobre ele, e foram arranhando cada
vez, até uma profundidade quase nula, pelo tanto que o material era duro. E
assim, durante séculos, com um movimento como o da areia em uma clepsidra
marcando o tempo: há tantas gotas por hora, tantas na duração, de uma vigília,
tantas entre aurora e, o pôr do sol, tantas durante o dia, tantas de um sábado
até o outro, tantas de uma lua nova a outra, de um Nisã a outro, e de um século
a outro.
Resistente o penhasco,
persistente a gota.
O homem que é soberbo, e por
isso impaciente e ocioso, joga para um lado o macete e a goiva, depois das
primeiras batidas, dizendo: “Isso não se pode escavar.” Mas a gota escavou. E
era isso que ela tinha que fazer. Para isso ela foi criada. E gemeu, soltando
uma gota atrás da outra, durante séculos, até escavar o penhasco. E depois não
ficou parada, dizendo: “ Agora que o céu se preocupe com o trabalho de encher a
taça, que eu escavei, com seus orvalhos e chuvas, com suas geadas e neves.” Mas
continuou a cair, e ela sozinha enche a minúscula taça nos calores do verão,
nos rigores do inverno, enquanto as chuvas, violentas ou mansas, enrugam o
espelho, mas não podem nem embelezá-lo, nem alargá-lo, nem torná-lo mais fundo,
mas ele já está cheio, é útil e belo. A nascente sabe que suas filhas, as
gotas, vão morrer lá na pequena bacia, mas não as detém, e sim, as empurra para
o seu sacrifício e, para que não fiquem sozinhas e tristes, manda-lhes novas
irmãs, a fim de que quem morrer não deixe o lugar da morta desocupado, mas seja
ocupado por outras.
Assim, Eu também, batendo uma
primeira vez e depois cem ou mil vezes nas fortalezas duras dos duros corações,
e perpetuando-me em meus sucessores, que Eu hei de enviar até o fim dos
séculos, abrirei nela muitas passagens, e a minha Lei entrará como um sol em
todos os lugares em que estiverem as criaturas. E, se depois elas não quiserem
a Luz, e fecharem as passagens que trabalhadores incansáveis tiverem aberto, Eu
e meus sucessores não teremos culpa disso, aos olhos do nosso Pai. Se aquela
nascente procurasse ir para outro caminho, ao perceber a dureza do penhasco, e
tivesse gotejado mais, lá onde o terreno é de ervas, dizei-me vós, que teríamos
tido aquela jóia luminosa, e os passarinhos aquele limpo e cristalino alimento?
Ela não seria nem vista,
Mestre.
Quando muito, um pouco de
erva, mais viçoso até o verão, e que mostraria o lugar onde a nascente
gotejava.
Ou, então... menos ervas do
que em outros lugares, porque murchariam, pela contínua umidade, as raízes
delas.
E pela lama. Nada mais.
Portanto, seria um gotejar inútil.
Assim o dissestes. É um
gotejar inútil e ocioso. Eu também, se tivesse que preferir unicamente os
lugares onde os corações estão dispostos a acolher-me, por justiça ou por
simpatia, Eu faria um trabalho imperfeito. Porque Eu trabalharia, isto sim, mas
sem me cansar, com um complacente compromisso entre o dever e o prazer. Não é
pesado trabalhar onde o amor nos ordena e onde o amor torna dóceis as almas que
hão de ser trabalhadas. Mas, se não há cansaço, não há merecimento, e não há
muito ganho porque poucas conquistas se fazem, se nos limitarmos só aquelas que
são justas. Eu não sentia, Eu, se não procurasse redimir, primeiro para a verdade,
e depois para a Graça todos os homens.
E achas que conseguirás? Que
mais poderás fazer, além de tudo o que já fizeste, para persuadir os teus
adversários a aceitar a tua palavra? Que mais? Se nem mesmo a ressurreição do
homem de Betânia valeu para que os judeus dissessem que Tu és o Messias de
Deus?
Eu tenho ainda alguma coisa a
fazer, uma coisa muito grande, muito maior do que as já feitas.
Quando Senhor?
Quando a lua de Nisã estiver
cheia. Portanto, prestai atenção.(Aqui Jesus está falando de sua morte na cruz
para a redenção dos homens.)
(O Evangelho como me foi
revelado – Maria Valtorta, Vol 9,pgs24,25,26,27)
A paz de Jesus.
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