A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO.
Jesus entra no jardim da casa de Lázaro...
Os judeus o observam. Sem
querer, eles se separam em grupos bem distintos. De um lado, á frente de Jesus,
todos os que são seus inimigos, divididos entre si, como de costume, pelo
espírito sectário, mas que agora estão todos de acordo para hostilizar a Jesus.
A seu lado, atrás dos apóstolos, aos quais se reuniram Tiago de Zebedeu, José,
Nicodemos e outros de espírito mais benévolo. Mais para lá está Gamaliel,
sempre em seu lugar e com aquela pose, e sozinho, porque o seu filho e seus
discípulos se separaram dele e se dividiram entre os dois grupos principais,
para ficarem mais perto de Jesus.
Com o seu grito habitual:
“Raboni!”, Maria sai da casa, correndo para Jesus, com os braços estendidos e
jogando-se aos pés dele, que ela beija, soluçando alto. Diversos judeus, que
estavam na casa com ela, e que a acompanham unem os seus prantos, que são de
uma duvidosa sinceridade, aos prantos dela. Até Maximino, Marcela, Sara, Noemi
acompanharam Maria, e também todos os servos, e os lamentos são fortes, e em
voz alta. Eu creio que na casa haja ficado ninguém. Marta, vendo Maria chorar
assim, chora alto também ela.
A paz esteja contigo, Maria.
Levanta-te! Olha para Mim. Por que esse choro parecido com quem não tem mais
esperança? Jesus se inclina para dizer em voz baixa estas palavras, tendo os
seus olhos nos olhos de Maria que, estando de joelhos, descansando sobre os
calcanhares, estende a Ele suas mãos em um gesto de imolação, e nem pode falar,
por causa de seus soluços.
Eu não te disse que esperasses
até além do que se pode crer, para veres a glória de Deus? Será que o teu
Mestre mudou, para teres razão de angustiar-se assim?
Mas Maria não presta atenção
nas palavras que são para prepará-la já para a alegria forte demais, depois de
tanta angustia, e grita forte, mais finalmente podendo dominar sua voz: Oh! Por
quê não vieste antes? Por quê foste para longe de nós? Tu sabias que Lázaro
estava doente. Se Tu tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Por quê
é que não vieste? Eu devia mostrar-lhe ainda que o amava. Ele devia viver. Eu
devia mostrar-lhe que estava perseverando no bem. Eu entristeci tanto o meu
irmão! E agora. Agora que eu podia fazê-lo feliz, ele me foi tirado. Tu o
podias ter deixado para mim. Podia ter dado á pobre Maria a alegria de
consolá-lo, depois de lhe haver dado tantos desgostos. Oh! Jesus! Jesus! Mestre
meu! Salvador meu! Esperança minha!, e se prostra de novo com a fronte sobre os
pés de Jesus, que são de novo lavados pelo pranto de Maria, e diz gemendo: Para
que fizeste isso, Senhor? Também para aqueles que te odeiam e que se alegram
com tudo o que acontece... Por quê fizeste isso, Jesus? Mas o tom em que Maria
fala não é de censura, como foi o de Marta, ela revela apenas aquela angústia
de quem além de sua dor de irmã, tem também e de discípula, que sente como está
diminuindo em muitos o conceito sobre o seu Mestre.
Jesus, muito inclinado para
poder ouvir aquelas palavras, murmuradas com a face no chão, se levanta e diz
em voz alta: Maria não chores! Também o teu Mestre está sofrendo pela morte do
amigo fiel.. por ter devido deixá-lo morrer...
Oh! Que sorriso de escárnio, e
que olhar de lívido júbilo está naqueles rostos dos inimigos de Cristo! Eles o
consideram um vencido, e se alegram, enquanto que os amigos dele vão-se
tornando cada vez mais tristes.
Jesus fala ainda com voz mais
alta: Mas Eu te digo: Não chores. Levanta-te Olha para Mim! Crês que Eu, que te
amei muito, tenha feito isso sem motivo? Podes crer que Eu tenha dado esta dor
inutilmente? Vem! Vamos a Lázaro. Onde foi que o colocastes? Jesus, mais do que
Maria e Marta, que não falam, tomadas como estão por um choro mais forte, faz a
pergunta a todos os outros, especialmente aqueles que tendo saído da casa com
Maria, parecem estar mais perturbados. Talvez sejam parentes mais velhos, não
sei.
E ele responderam a Jesus, que
está visivelmente aflito: “Vem ver”, e se encaminham para o lugar do sepulcro
que está lá no fim do pomar, lá onde o chão tem inundações e onde de uma rocha
calcária afloram do chão.
Marta, ao lado de Jesus, que
ajudou Maria a levantar-se e a guia, porque ela ficou meio cega pelo muito
choro, mostra com a mão a Jesus onde é que está Lázaro, e, quando chegam perto
do lugar, diz ainda: É ali, Mestre, que o teu amigo está sepultado, e mostra a
pedra colocada obliquamente sobre a boca do sepulcro.
Jesus, para ir até lá,
acompanhado por todos, teve que passar pela frente de Gamaliel. Mas nem Ele nem
Gamaliel se saudaram. Gamaliel depois foi-se unir-se aos outros, indo parar,
como todos os mais rígidos fariseus a alguns metros do sepulcro, enquanto Jesus
vai na frente, bem perto dele, em companhia das irmãs, do Maximino e daqueles
que talvez sejam os parentes. Jesus olha para a pesada pedra que serve de porta
ao sepulcro e de obstáculo pesado entre Ele e seu amigo falecido, e chora. O
pranto das irmãs aumenta, assim como o dos íntimos e familiares.
Levantai essa pedra. Diz Jesus
de repente, depois de ter enxugado suas lágrimas.
Todos fazem um movimento de
espanto, e um murmúrio se espalha através da multidão, que aumenta agora, pois
alguns de Betânia, que haviam entrado no jardim, entraram na fila dos que nela
já se haviam colocado. Eu estou vendo uns fariseus, que tocam em suas frontes,
e balançam a cabeça, como para dizerem: Ele está doido!
Ninguém executa a ordem. Até
entre os mais fiéis, estão na dúvida, e se rejeitam a fazê-lo.
Jesus repete sua ordem, em voz
mais alta, fazendo que o povo fique ainda mais apavorado, pois todos estão
tomados por sentimentos opostos., e já fazendo um movimento como quem quer
fugir dali, e logo depois outro movimento de quem quer aproximar-se, para poder
ver, enfrentar o fedor do sepulcro que, está ali perto, e que Jesus quer que
seja aberto.
Mestre, não é possível, diz
Marta, fazendo esforço para deter o pranto e poder falar. Há já quatro dias que
ele está aí embaixo. E Tu sabes de que doença ele morreu! Somente o nosso amor
é que o podia curar... E, com toda a certeza já estará cheirando mal, e
fortemente, mesmo com os ungüentos... Que queres ver? A sua podridão? Não se
pode... além disso, pela impureza da corrupção e...
Eu já não te disse que, se
creres, verás a glória de Deus? Levantai essa pedra. Eu o quero!
É um grito do querer Divino...
Um “Oh!” obediente sai de todas as bocas. Os rostos empalidecem, Cada um treme,
como se tivesse passado sobre todos um vento gelado como a morte.
Marta faz um sinal a Maximino,
e este ordena aos servos que apanhem as ferramentas próprias para remover a
pesada pedra. Os servos saem dali e vão apressados, para voltarem com picaretas
e alavancas fortes. Põem-se a trabalhar, enfiando os bicos das picaretas, que
brilham, por entre as pedras do sepulcro, e em seguida vão enfiando as
alavancas no lugar em que haviam posto as picaretas, para um lado, e arrastam
depois cuidadosamente, encostando-a ao paredão rochoso. Um mau cheiro doentio
sai do fundo daquela cova, fazendo que todos recuem.
Marta pergunta em voz baixa:
Mestre queres descer lá dentro? Se queres, vamos precisar de umas tochas... Mas
ela fica lívida, só ao pensar em fazer isso.
Jesus não lhe responde. Ele
eleva os olhos para o Céu, abre os braços em cruze reza com uma voz muito
forte, destacando bem as sílabas das palavras: “Pai! Eu te agradeço por me
teres ouvido. Eu sabia que tu me ouves sempre. Mas Eu o disse por estes que
estão aqui presentes, pelo povo que me rodeia, para que creiam em Ti, em Mim, e
que Tu Me mandaste.” Fica ainda assim por alguns momentos, e parece ter sido
arrebatado em êxtase, e ter-se transfigurado, enquanto, sem produzir nenhum
som, diz outras palavras secretas de oração e adoração. Não sei. O que eu sei é
que Ele está tão iluminado, que não se pode nem olhar para Ele, sem que se
sinta o coração tremer dentro do peito. Parece que Ele se torna, em seu corpo,
uma luz que se espiritualize, que cresça em estatura, e até se eleve da terra
conservando, porém, as cores dos seus cabelos, dos olhos, da pele, das vestes,
não como durante a sua Transfiguração no monte Tabor, durante a qual tudo se
tornou luz nele e de um candor ofuscante, e parece emanar dele uma luz, e que
tudo o que é dele se transforme em luz. A luz parece fazer um halo ao redor
Dele, especialmente ao redor do seu rosto, levantado para o Céu, certamente
arrebatado em contemplação do Pai.
Ele fica assim por algum
tempo, depois volta a Si: agora é o homem, mas de uma poderosa majestade. Ele
vai para a frente até á beira do sepulcro. E, tendo mudado a posição dos braços
que até agora estavam abertos em cruz, com as palmas viradas para o Céu, daí
para a frente estarão com as palmas viradas para a terra e, por isso as mãos já
estão dentro da cova do sepulcro e se embranquecem dentro da escuridão que
enche a cova. Ele solta um fogo azul de seus olhos, cujo brilho miraculoso é
insuportável, dentro daquela escuridão muda, e, com uma voz poderosa, com um
grito mais forte do que quando mandou ao vento que cessasse, com uma voz que em
nenhum outro milagre eu ouvi, Ele grita: “ Lázaro! Vem para fora!”
A voz repercute, produzindo um
eco naquela cavidade sepulcral, e se expande saindo dela, e indo por todo jardim.
Repercute, tendo ido por sobre ás primeiras ondulações das colinas que estão
para lá dos campos e de lá volte repetida e submissa, como uma ordem que não
pode cair em vão. E certamente, de muitíssimos lados se ouve a sua repetição:
“Fora! Fora! Fora!
Todos sentem um arrepio mais
intenso e, se a curiosidade parece fincar a todos naquele lugar, os rostos
perdem a cor, os olhos se arregalam, enquanto as bocas se entrefecham
involuntariamente, com o urro de espanto já na garganta.
Marta, que vai um pouco atrás,
e meio ao lado, está fascinada a olhar para Jesus. Maria cai de joelhos, pois
ela nunca se afastou de seu Mestre, cai de joelhos na entrada do sepulcro, com
uma mão sobre o peito, a frear as palpitações do coração, e a outra que,
inconsciente e convulsivamente, segura um pedaço do manto de Jesus, e
compreende-se que ela esteja tremendo, porque o manto tem umas leves sacudidas,
transmitidas pela mão que o segura.
Uma coisa branca parece vir
saindo do ponto mais fundo da cova. No começo apenas uma pequena linha branca,
depois se transforma em uma espécie de oval, depois ao oval se sub põem umas
linhas mais amplas, mais longas, sempre mais longas. E o que tinha estado
morto, apertado em suas faixas, vem vindo lentamente para a frente, cada vez
mais visível, parecendo um fantasma, impressionante.
Jesus recua, vai recuando,
insensível mas continuamente, mais do que ele avança. Por isso, a distância
entre os dois é sempre a mesma. Maria vê-se obrigada a deixar o pedaço do
manto, mas não sai de onde está. A alegria, a emoção, tudo a prende ao lugar
onde estava.
Um “Oh!” cada vez mais claro,
sai das gargantas, antes fechadas por um espasmo de espera, de um sussurro que
mal se notava em voz, e de voz em um grito alto.
Lázaro já está na entrada, e
lá fica parado e rígido, mudo, semelhante a uma estátua de gesso, que está
apenas esboçada, e, por isso, ainda informe, uma coisa comprida, sutil na
cabeça, sutil nas pernas, mais larga no tronco, macabra como a própria morte,
espectral na brancura das faixas colocadas sobre o fundo escuro do sepulcro. Ao
sol, cujos raios o cobrem, das faixas parecem estar escorrendo, por aqui e por
ali, os corrimentos da podridão.
Jesus grita em voz alta: “
Livrai-o das faixas, e deixai-o andar. Dai-lhe roupas e alimento.”
Mestre!..., diz Marta, e
quereria talvez dizer mais alguma coisa, mas Jesus olha fixamente para ela, sub
julgando-a com aquele seu fúlgido olhar, e diz: “ Aqui! Depressa! Trazei uma
veste. Vesti-o na presença de todos, e dai-lhe o que comer.” Ele dá a ordem,
mas não se vira nunca para olhar quem está atrás dele, nem dos lados. Seus
olhos olham somente para Lázaro, para Maria que está perto do ressuscitado, e
sem se preocupar com o nojo que todos sentem, ao verem as faixas cheias de pus,
e para Marta que está arquejante, como se alguém lhe estivesse estourando o
coração, e não sabe se deve gritar por sua alegria, ou chorar...
Os servos se apressam em fazer
o seu trabalho. Noemi corre, indo-se embora por primeira, e é a primeira que
vai voltar com as vestes, que ela traz penduradas no braço. Alguns desligam os
laços das faixas, depois de terem arregaçado as mangas e erguido suas vestes,
para que não tocassem na podridão, que está escorrendo. Marcela e Sara voltam
com ânforas de perfume, acompanhadas pelos servos que uns com bacias e outros
vasilhas, soltando vapores de água quente, e outros com bandejas, tigelas
cheias de leite ou com vinho, frutas e fogaças cobertas de mel.
As bandagens baixas e muito
compridas de linho, tendo orlas dos dois lados, e que certamente foram tecidas
para aquele uso são desenroladas como uns rolos de fitas, de uma grande bobina,
e vão-se amontoando no chão, pesadas porque cheias de aromas e podridão, os
servos vão afastando tudo isso, fazendo uso de uns bastões. Eles começaram pela
cabeça, pois até nela há podridão, que certamente desceu do nariz, dos ouvidos,
da boca. O sudário que foi colocado sobre o rosto, está todo impregnado com o
que estava gotejando, e o rosto de Lázaro, que aparece muito pálido e magro,
está com os olhos ainda fechados pelas pomadas neles postas sobre as órbitas,
com os cabelos grudados, e também a barbicha rala sobre o queixo, que com tudo
isso ficou sujo. Vai cindo lentamente o lençol, o sudário posto ao redor do
corpo e pouco a pouco as bandas vão caindo, vão descendo, descendo, deixando
livre o tronco, que elas haviam apertado por dias seguidos, e restituindo a
forma humana aquilo que antes tinham feito ficar parecendo uma grande
crisálida. As costas ossudas, os braços emagrecidos, as costas mal cobertas de
pele e o ventre deprimido, tudo isso vai aparecendo lentamente. E, pouco a
pouco, a medida que as bandas vão caindo, as irmãs, o Maximino e os servos se
esforçam para tirar a primeira camada de sujeira e de bálsamos, insistindo até
com água frequentemente mudadas, e transformadas em detergentes pelos aromas
que lhe foram acrescentados, e a pele ainda não aparece completamente limpa.
Lázaro, logo que deixaram
livre o seu rosto, e ele pôde olhar, dirigiu os seus olhos para Jesus, antes de
fazê-lo para as irmãs, e se esqueceu e se abstraiu de tudo o que vai
acontecendo, e ele vai olhando sempre com um sorriso de amor sobre seus lábios
pálidos e um brilho de pranto nas órbitas profundas para o seu Jesus. Também
Jesus lhe sorri, e tem um brilho de pranto no canto dos olhos, e, sem falar,
dirige os olhares de Lázaro para o Céu, e Lázaro o compreende, e move os seus
lábios em uma silenciosa oração.
Marta achou que ele queria
dizer alguma coisa, e que ainda não tinha voz, e perguntou: “ Que me dizes,
Lázaro meu?”
Nada Marta. Eu estou dando
graças ao Altíssimo. A pronuncia é firme e a voz está forte.
O povo solta um novo “Oh!” de
espanto.
Ele já está livre até nos
flancos, livre e limpo. Já o podem revestir com a túnica curta, uma espécie de
camisola, que cobre a virilha e desce por sobre as coxas.
Fazem-no sentar-se para lhe
desligarem as pernas e lavá-las. Quando elas aparecem, Marta e Maria dão altos
gritos, talvez mostrando as pernas e as faixas apertadas sobre as pernas e
sobre o sudário colocado sob as faixas, os escoamentos da podridão são tão
numerosos, que se transformam em pequenos rios sobre os tecidos, mas as pernas,
ao aparecerem, já estão cicatrizadas. Somente as cicatrizes vermelho cianóticas
ficaram para mostrar onde estavam as gangrenas.
O povo grita ainda mais alto,
estuporado.
Jesus sorri, e sorri Lázaro,
que olha por um instante suas pernas já curadas, e depois torna a ficar
abstraído, olhando para Jesus. Parece que não pode saciar-se de olhar para
Jesus. Os judeus, os saduceus, os escribas, os rabis vão para a frente, tomando
cuidado para não contaminar suas vestes. Olham bem de perto Lázaro. Olham bem
de perto a Jesus. Mas nem Lázaro, nem Jesus lhes dão atenção. Eles olham então,
um para o outro, e nada mais lhes interessa.
Chegaram as sandálias, e foram
colocadas em Lázaro. Ele se põe de pé, ágil e com firmeza. Pega a veste que
Marta lhe entrega, veste-se com ela sozinho, aperta a cintura e alisa as dobras
da roupa. E ei-lo aí, magro e pálido, mas igual a todos. Ele lava as mãos e os
braços até os cotovelos, tendo antes arregaçado as mangas. Depois, com nova
água, lava o rosto e a cabeça, até ver que de fato está todo limpo. Ele enxuga
os cabelos e o rosto, entrega a toalha ao servo, e vai diretamente a Jesus.
Prostra-se diante dele e lhe beija os pés.
Jesus se inclina, o faz
levantar-se e o aperta sobre o coração dizendo-lhe: “ Boas vindas, meu amigo. A
paz esteja contigo e a alegria. Que vivas para cumprir a tua feliz sorte.
Levanta o teu rosto para que Eu te dê o beijo de saudação.” E o beija,
recebendo de Lázaro, em troca, um beijo nas faces.
Somente depois de ter venerado
e beijado o Mestre, é que Lázaro fala com suas irmãs e as beija, depois beija
Maximino e a Noemi, que estão chorando de alegria, e alguns daqueles que eu
acho que tenham parentesco com os da casa, ou sejam amigos muito íntimos.
Depois beija José, Nicodemos, Simão Zelotes e alguns outros. Jesus se dirige
pessoalmente a um dos servos que tem em seus braços uma bandeja com alimentos,
e apanha uma fogaça com mel, uma maçã, um copo de vinho, e os oferece a Lázaro,
depois de ter oferecido e abençoado tudo, para que ele com os alimentos se
reconstitua. E Lázaro come com o bom apetite de uma pessoa sã. E todos soltam
de novo um “Oh!” de espanto.
Jesus age como se estivesse
vendo somente Lázaro. Mas na verdade, está observando tudo e todos, e vendo
como com gestos de ira Sadoque e Elquias, Cananias, Félix, Doras e Cornélio e
outros, estão para se afastarem, diz em voz alta: “ Espera um momento, ó
Sadoque. Preciso dizer-te uma palavra. A ti e aos teus.” Eles param ali com
umas caras de delinqüentes. José de Arimatéia faz um gesto de assustado, e faz
sinal ao Zelotes para que entretenha a Jesus. Mas Jesus já vai indo para o
grupo dos que odeiam e já está dizendo em voz alta: “ Será que já te basta, ó
Sadoque, o que viste até agora? Disseste-me um dia que para crer, precisáveis,
tu e os teus iguais de ver um corpo desfeito recompor-se, e com saúde. Não
estás saciado com a podridão que viste? Serás capaz de admitir que Lázaro
estava morto e que agora está vivo e são, como havia muitos anos que ele não
estava? Eu sei disso. Vós viestes aqui para tentar essas pessoas e pô-las na
maior dor e em dúvidas. Vós vieste aqui para procurar-me, esperando
encontrar-me escondido no quarto do moribundo. Vós vieste aqui, não por um
sentimento de amor de desejo de honrar o extinto, mas para terdes a certeza de
que Lázaro estava realmente morto, e continuastes a vir, sempre mais cheios de
júbilo, quanto mais o tempo ia passando. Se as coisas tivessem acontecido como
vós esperáveis, como pensáveis que elas iam indo, teríeis tido razão de
alegrar-vos. Pensáveis no amigo, que a todos cura, mas não é capaz de curar ao
seu amigo. O Mestre que premia toda fé, mas não a de seus amigos de Betânia.
É o Messias impotente diante da
realidade de uma morte. Isto é o que vos dava razão para alegrar-vos. Mas eis!
Deus vos deu a resposta. Nenhum profeta jamais pôde reunir o que estava
desfeito, além de estar morto. Mas Deus fez isso. E aí esta o testemunho vivo
do que é que Eu sou. Houve um dia em que Deus tomou um tanto de barro, e com
ele formou uma estátua, soprou nela o sopro da vida, e assim foi feito o homem.
Eu mesmo estava para dizer: “ Faça-se o homem á nossa imagem e semelhança.”
Porque Eu sou o Verbo do Pai. Hoje, Eu, o Verbo, disse aquilo que é menos do
que o barro: a corrupção: “Vive”, e a corrupção tornou a transformar-se em
carne, e em carne Eu reuni o espírito, que jazia, há dias no seio de Abraão. Eu
o chamei, e fiz voltar por minha vontade, porque Eu tudo posso, Eu, o Vivente,
Eu, o Rei dos reis, ao qual estão sujeitas todas as criaturas, todas as coisas.
E agora, que é que tendes a responder-me?”
... Eles nada respondem.
... Tudo isso não vos basta ainda para crerdes, para aceitardes o
indiscutível.
Os visitantes se retiraram...
Jesus olha em torno de si. Vê
esfumaçar-se e ficar roxo o céu no fundo do jardim, lá, além do sepulcro.
Jesus, sozinho, ereto em meio a um caminho, diz: “ A podridão que é anulada
pelo fogo. A podridão da morte. Mas aquela dos corações... dos corações nenhum
fogo anulará. Nem mesmo o fogo do Inferno. Será eterna. Que horror! Maior que a
morte. Maior que a corrupção, e... Mas quem te salvará, ó Humanidade, se tanto
amas ser corrompida? Queres ser corrupta. E Eu... Eu arranquei do sepulcro um
homem com uma palavra. E com um mar de palavras... e um de dor não poderei
arrancar o pecado do homem, dos homens, milhões de homens.”
Senta-se e cobre o rosto com
as mãos, angustiado.
(O Evangelho como me foi
Revelado – Maria Valtorta, Vol. 8, pgs 399,400,401.402,403,404,405,406,407,408)
A paz de Jesus.
Sem comentários:
Enviar um comentário