“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO.


A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO.


Jesus entra no jardim da casa de Lázaro...

Os judeus o observam. Sem querer, eles se separam em grupos bem distintos. De um lado, á frente de Jesus, todos os que são seus inimigos, divididos entre si, como de costume, pelo espírito sectário, mas que agora estão todos de acordo para hostilizar a Jesus. A seu lado, atrás dos apóstolos, aos quais se reuniram Tiago de Zebedeu, José, Nicodemos e outros de espírito mais benévolo. Mais para lá está Gamaliel, sempre em seu lugar e com aquela pose, e sozinho, porque o seu filho e seus discípulos se separaram dele e se dividiram entre os dois grupos principais, para ficarem mais perto de Jesus.
Com o seu grito habitual: “Raboni!”, Maria sai da casa, correndo para Jesus, com os braços estendidos e jogando-se aos pés dele, que ela beija, soluçando alto. Diversos judeus, que estavam na casa com ela, e que a acompanham unem os seus prantos, que são de uma duvidosa sinceridade, aos prantos dela. Até Maximino, Marcela, Sara, Noemi acompanharam Maria, e também todos os servos, e os lamentos são fortes, e em voz alta. Eu creio que na casa haja ficado ninguém. Marta, vendo Maria chorar assim, chora alto também ela.
A paz esteja contigo, Maria. Levanta-te! Olha para Mim. Por que esse choro parecido com quem não tem mais esperança? Jesus se inclina para dizer em voz baixa estas palavras, tendo os seus olhos nos olhos de Maria que, estando de joelhos, descansando sobre os calcanhares, estende a Ele suas mãos em um gesto de imolação, e nem pode falar, por causa de seus soluços.
Eu não te disse que esperasses até além do que se pode crer, para veres a glória de Deus? Será que o teu Mestre mudou, para teres razão de angustiar-se assim?
Mas Maria não presta atenção nas palavras que são para prepará-la já para a alegria forte demais, depois de tanta angustia, e grita forte, mais finalmente podendo dominar sua voz: Oh! Por quê não vieste antes? Por quê foste para longe de nós? Tu sabias que Lázaro estava doente. Se Tu tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Por quê é que não vieste? Eu devia mostrar-lhe ainda que o amava. Ele devia viver. Eu devia mostrar-lhe que estava perseverando no bem. Eu entristeci tanto o meu irmão! E agora. Agora que eu podia fazê-lo feliz, ele me foi tirado. Tu o podias ter deixado para mim. Podia ter dado á pobre Maria a alegria de consolá-lo, depois de lhe haver dado tantos desgostos. Oh! Jesus! Jesus! Mestre meu! Salvador meu! Esperança minha!, e se prostra de novo com a fronte sobre os pés de Jesus, que são de novo lavados pelo pranto de Maria, e diz gemendo: Para que fizeste isso, Senhor? Também para aqueles que te odeiam e que se alegram com tudo o que acontece... Por quê fizeste isso, Jesus? Mas o tom em que Maria fala não é de censura, como foi o de Marta, ela revela apenas aquela angústia de quem além de sua dor de irmã, tem também e de discípula, que sente como está diminuindo em muitos o conceito sobre o seu Mestre.
Jesus, muito inclinado para poder ouvir aquelas palavras, murmuradas com a face no chão, se levanta e diz em voz alta: Maria não chores! Também o teu Mestre está sofrendo pela morte do amigo fiel.. por ter devido deixá-lo morrer...
Oh! Que sorriso de escárnio, e que olhar de lívido júbilo está naqueles rostos dos inimigos de Cristo! Eles o consideram um vencido, e se alegram, enquanto que os amigos dele vão-se tornando cada vez mais tristes.
Jesus fala ainda com voz mais alta: Mas Eu te digo: Não chores. Levanta-te Olha para Mim! Crês que Eu, que te amei muito, tenha feito isso sem motivo? Podes crer que Eu tenha dado esta dor inutilmente? Vem! Vamos a Lázaro. Onde foi que o colocastes? Jesus, mais do que Maria e Marta, que não falam, tomadas como estão por um choro mais forte, faz a pergunta a todos os outros, especialmente aqueles que tendo saído da casa com Maria, parecem estar mais perturbados. Talvez sejam parentes mais velhos, não sei.
E ele responderam a Jesus, que está visivelmente aflito: “Vem ver”, e se encaminham para o lugar do sepulcro que está lá no fim do pomar, lá onde o chão tem inundações e onde de uma rocha calcária afloram do chão.
Marta, ao lado de Jesus, que ajudou Maria a levantar-se e a guia, porque ela ficou meio cega pelo muito choro, mostra com a mão a Jesus onde é que está Lázaro, e, quando chegam perto do lugar, diz ainda: É ali, Mestre, que o teu amigo está sepultado, e mostra a pedra colocada obliquamente sobre a boca do sepulcro.
Jesus, para ir até lá, acompanhado por todos, teve que passar pela frente de Gamaliel. Mas nem Ele nem Gamaliel se saudaram. Gamaliel depois foi-se unir-se aos outros, indo parar, como todos os mais rígidos fariseus a alguns metros do sepulcro, enquanto Jesus vai na frente, bem perto dele, em companhia das irmãs, do Maximino e daqueles que talvez sejam os parentes. Jesus olha para a pesada pedra que serve de porta ao sepulcro e de obstáculo pesado entre Ele e seu amigo falecido, e chora. O pranto das irmãs aumenta, assim como o dos íntimos e familiares.
Levantai essa pedra. Diz Jesus de repente, depois de ter enxugado suas lágrimas.
Todos fazem um movimento de espanto, e um murmúrio se espalha através da multidão, que aumenta agora, pois alguns de Betânia, que haviam entrado no jardim, entraram na fila dos que nela já se haviam colocado. Eu estou vendo uns fariseus, que tocam em suas frontes, e balançam a cabeça, como para dizerem: Ele está doido!
Ninguém executa a ordem. Até entre os mais fiéis, estão na dúvida, e se rejeitam a fazê-lo.
Jesus repete sua ordem, em voz mais alta, fazendo que o povo fique ainda mais apavorado, pois todos estão tomados por sentimentos opostos., e já fazendo um movimento como quem quer fugir dali, e logo depois outro movimento de quem quer aproximar-se, para poder ver, enfrentar o fedor do sepulcro que, está ali perto, e que Jesus quer que seja aberto.
Mestre, não é possível, diz Marta, fazendo esforço para deter o pranto e poder falar. Há já quatro dias que ele está aí embaixo. E Tu sabes de que doença ele morreu! Somente o nosso amor é que o podia curar... E, com toda a certeza já estará cheirando mal, e fortemente, mesmo com os ungüentos... Que queres ver? A sua podridão? Não se pode... além disso, pela impureza da corrupção e...
Eu já não te disse que, se creres, verás a glória de Deus? Levantai essa pedra. Eu o quero!
É um grito do querer Divino... Um “Oh!” obediente sai de todas as bocas. Os rostos empalidecem, Cada um treme, como se tivesse passado sobre todos um vento gelado como a morte.
Marta faz um sinal a Maximino, e este ordena aos servos que apanhem as ferramentas próprias para remover a pesada pedra. Os servos saem dali e vão apressados, para voltarem com picaretas e alavancas fortes. Põem-se a trabalhar, enfiando os bicos das picaretas, que brilham, por entre as pedras do sepulcro, e em seguida vão enfiando as alavancas no lugar em que haviam posto as picaretas, para um lado, e arrastam depois cuidadosamente, encostando-a ao paredão rochoso. Um mau cheiro doentio sai do fundo daquela cova, fazendo que todos recuem.
Marta pergunta em voz baixa: Mestre queres descer lá dentro? Se queres, vamos precisar de umas tochas... Mas ela fica lívida, só ao pensar em fazer isso.
Jesus não lhe responde. Ele eleva os olhos para o Céu, abre os braços em cruze reza com uma voz muito forte, destacando bem as sílabas das palavras: “Pai! Eu te agradeço por me teres ouvido. Eu sabia que tu me ouves sempre. Mas Eu o disse por estes que estão aqui presentes, pelo povo que me rodeia, para que creiam em Ti, em Mim, e que Tu Me mandaste.” Fica ainda assim por alguns momentos, e parece ter sido arrebatado em êxtase, e ter-se transfigurado, enquanto, sem produzir nenhum som, diz outras palavras secretas de oração e adoração. Não sei. O que eu sei é que Ele está tão iluminado, que não se pode nem olhar para Ele, sem que se sinta o coração tremer dentro do peito. Parece que Ele se torna, em seu corpo, uma luz que se espiritualize, que cresça em estatura, e até se eleve da terra conservando, porém, as cores dos seus cabelos, dos olhos, da pele, das vestes, não como durante a sua Transfiguração no monte Tabor, durante a qual tudo se tornou luz nele e de um candor ofuscante, e parece emanar dele uma luz, e que tudo o que é dele se transforme em luz. A luz parece fazer um halo ao redor Dele, especialmente ao redor do seu rosto, levantado para o Céu, certamente arrebatado em contemplação do Pai.

Ele fica assim por algum tempo, depois volta a Si: agora é o homem, mas de uma poderosa majestade. Ele vai para a frente até á beira do sepulcro. E, tendo mudado a posição dos braços que até agora estavam abertos em cruz, com as palmas viradas para o Céu, daí para a frente estarão com as palmas viradas para a terra e, por isso as mãos já estão dentro da cova do sepulcro e se embranquecem dentro da escuridão que enche a cova. Ele solta um fogo azul de seus olhos, cujo brilho miraculoso é insuportável, dentro daquela escuridão muda, e, com uma voz poderosa, com um grito mais forte do que quando mandou ao vento que cessasse, com uma voz que em nenhum outro milagre eu ouvi, Ele grita: “ Lázaro! Vem para fora!”
A voz repercute, produzindo um eco naquela cavidade sepulcral, e se expande saindo dela, e indo por todo jardim. Repercute, tendo ido por sobre ás primeiras ondulações das colinas que estão para lá dos campos e de lá volte repetida e submissa, como uma ordem que não pode cair em vão. E certamente, de muitíssimos lados se ouve a sua repetição: “Fora! Fora! Fora!
Todos sentem um arrepio mais intenso e, se a curiosidade parece fincar a todos naquele lugar, os rostos perdem a cor, os olhos se arregalam, enquanto as bocas se entrefecham involuntariamente, com o urro de espanto já na garganta.
Marta, que vai um pouco atrás, e meio ao lado, está fascinada a olhar para Jesus. Maria cai de joelhos, pois ela nunca se afastou de seu Mestre, cai de joelhos na entrada do sepulcro, com uma mão sobre o peito, a frear as palpitações do coração, e a outra que, inconsciente e convulsivamente, segura um pedaço do manto de Jesus, e compreende-se que ela esteja tremendo, porque o manto tem umas leves sacudidas, transmitidas pela mão que o segura.
Uma coisa branca parece vir saindo do ponto mais fundo da cova. No começo apenas uma pequena linha branca, depois se transforma em uma espécie de oval, depois ao oval se sub põem umas linhas mais amplas, mais longas, sempre mais longas. E o que tinha estado morto, apertado em suas faixas, vem vindo lentamente para a frente, cada vez mais visível, parecendo um fantasma, impressionante.
Jesus recua, vai recuando, insensível mas continuamente, mais do que ele avança. Por isso, a distância entre os dois é sempre a mesma. Maria vê-se obrigada a deixar o pedaço do manto, mas não sai de onde está. A alegria, a emoção, tudo a prende ao lugar onde estava.
Um “Oh!” cada vez mais claro, sai das gargantas, antes fechadas por um espasmo de espera, de um sussurro que mal se notava em voz, e de voz em um grito alto.
Lázaro já está na entrada, e lá fica parado e rígido, mudo, semelhante a uma estátua de gesso, que está apenas esboçada, e, por isso, ainda informe, uma coisa comprida, sutil na cabeça, sutil nas pernas, mais larga no tronco, macabra como a própria morte, espectral na brancura das faixas colocadas sobre o fundo escuro do sepulcro. Ao sol, cujos raios o cobrem, das faixas parecem estar escorrendo, por aqui e por ali, os corrimentos da podridão.
Jesus grita em voz alta: “ Livrai-o das faixas, e deixai-o andar. Dai-lhe roupas e alimento.”
Mestre!..., diz Marta, e quereria talvez dizer mais alguma coisa, mas Jesus olha fixamente para ela, sub julgando-a com aquele seu fúlgido olhar, e diz: “ Aqui! Depressa! Trazei uma veste. Vesti-o na presença de todos, e dai-lhe o que comer.” Ele dá a ordem, mas não se vira nunca para olhar quem está atrás dele, nem dos lados. Seus olhos olham somente para Lázaro, para Maria que está perto do ressuscitado, e sem se preocupar com o nojo que todos sentem, ao verem as faixas cheias de pus, e para Marta que está arquejante, como se alguém lhe estivesse estourando o coração, e não sabe se deve gritar por sua alegria, ou chorar...
Os servos se apressam em fazer o seu trabalho. Noemi corre, indo-se embora por primeira, e é a primeira que vai voltar com as vestes, que ela traz penduradas no braço. Alguns desligam os laços das faixas, depois de terem arregaçado as mangas e erguido suas vestes, para que não tocassem na podridão, que está escorrendo. Marcela e Sara voltam com ânforas de perfume, acompanhadas pelos servos que uns com bacias e outros vasilhas, soltando vapores de água quente, e outros com bandejas, tigelas cheias de leite ou com vinho, frutas e fogaças cobertas de mel.
As bandagens baixas e muito compridas de linho, tendo orlas dos dois lados, e que certamente foram tecidas para aquele uso são desenroladas como uns rolos de fitas, de uma grande bobina, e vão-se amontoando no chão, pesadas porque cheias de aromas e podridão, os servos vão afastando tudo isso, fazendo uso de uns bastões. Eles começaram pela cabeça, pois até nela há podridão, que certamente desceu do nariz, dos ouvidos, da boca. O sudário que foi colocado sobre o rosto, está todo impregnado com o que estava gotejando, e o rosto de Lázaro, que aparece muito pálido e magro, está com os olhos ainda fechados pelas pomadas neles postas sobre as órbitas, com os cabelos grudados, e também a barbicha rala sobre o queixo, que com tudo isso ficou sujo. Vai cindo lentamente o lençol, o sudário posto ao redor do corpo e pouco a pouco as bandas vão caindo, vão descendo, descendo, deixando livre o tronco, que elas haviam apertado por dias seguidos, e restituindo a forma humana aquilo que antes tinham feito ficar parecendo uma grande crisálida. As costas ossudas, os braços emagrecidos, as costas mal cobertas de pele e o ventre deprimido, tudo isso vai aparecendo lentamente. E, pouco a pouco, a medida que as bandas vão caindo, as irmãs, o Maximino e os servos se esforçam para tirar a primeira camada de sujeira e de bálsamos, insistindo até com água frequentemente mudadas, e transformadas em detergentes pelos aromas que lhe foram acrescentados, e a pele ainda não aparece completamente limpa.
Lázaro, logo que deixaram livre o seu rosto, e ele pôde olhar, dirigiu os seus olhos para Jesus, antes de fazê-lo para as irmãs, e se esqueceu e se abstraiu de tudo o que vai acontecendo, e ele vai olhando sempre com um sorriso de amor sobre seus lábios pálidos e um brilho de pranto nas órbitas profundas para o seu Jesus. Também Jesus lhe sorri, e tem um brilho de pranto no canto dos olhos, e, sem falar, dirige os olhares de Lázaro para o Céu, e Lázaro o compreende, e move os seus lábios em uma silenciosa oração.
Marta achou que ele queria dizer alguma coisa, e que ainda não tinha voz, e perguntou: “ Que me dizes, Lázaro meu?”
Nada Marta. Eu estou dando graças ao Altíssimo. A pronuncia é firme e a voz está forte.
O povo solta um novo “Oh!” de espanto.
Ele já está livre até nos flancos, livre e limpo. Já o podem revestir com a túnica curta, uma espécie de camisola, que cobre a virilha e desce por sobre as coxas.
Fazem-no sentar-se para lhe desligarem as pernas e lavá-las. Quando elas aparecem, Marta e Maria dão altos gritos, talvez mostrando as pernas e as faixas apertadas sobre as pernas e sobre o sudário colocado sob as faixas, os escoamentos da podridão são tão numerosos, que se transformam em pequenos rios sobre os tecidos, mas as pernas, ao aparecerem, já estão cicatrizadas. Somente as cicatrizes vermelho cianóticas ficaram para mostrar onde estavam as gangrenas.
O povo grita ainda mais alto, estuporado.
Jesus sorri, e sorri Lázaro, que olha por um instante suas pernas já curadas, e depois torna a ficar abstraído, olhando para Jesus. Parece que não pode saciar-se de olhar para Jesus. Os judeus, os saduceus, os escribas, os rabis vão para a frente, tomando cuidado para não contaminar suas vestes. Olham bem de perto Lázaro. Olham bem de perto a Jesus. Mas nem Lázaro, nem Jesus lhes dão atenção. Eles olham então, um para o outro, e nada mais lhes interessa.
Chegaram as sandálias, e foram colocadas em Lázaro. Ele se põe de pé, ágil e com firmeza. Pega a veste que Marta lhe entrega, veste-se com ela sozinho, aperta a cintura e alisa as dobras da roupa. E ei-lo aí, magro e pálido, mas igual a todos. Ele lava as mãos e os braços até os cotovelos, tendo antes arregaçado as mangas. Depois, com nova água, lava o rosto e a cabeça, até ver que de fato está todo limpo. Ele enxuga os cabelos e o rosto, entrega a toalha ao servo, e vai diretamente a Jesus. Prostra-se diante dele e lhe beija os pés.
Jesus se inclina, o faz levantar-se e o aperta sobre o coração dizendo-lhe: “ Boas vindas, meu amigo. A paz esteja contigo e a alegria. Que vivas para cumprir a tua feliz sorte. Levanta o teu rosto para que Eu te dê o beijo de saudação.” E o beija, recebendo de Lázaro, em troca, um beijo nas faces.
Somente depois de ter venerado e beijado o Mestre, é que Lázaro fala com suas irmãs e as beija, depois beija Maximino e a Noemi, que estão chorando de alegria, e alguns daqueles que eu acho que tenham parentesco com os da casa, ou sejam amigos muito íntimos. Depois beija José, Nicodemos, Simão Zelotes e alguns outros. Jesus se dirige pessoalmente a um dos servos que tem em seus braços uma bandeja com alimentos, e apanha uma fogaça com mel, uma maçã, um copo de vinho, e os oferece a Lázaro, depois de ter oferecido e abençoado tudo, para que ele com os alimentos se reconstitua. E Lázaro come com o bom apetite de uma pessoa sã. E todos soltam de novo um “Oh!” de espanto.

Jesus age como se estivesse vendo somente Lázaro. Mas na verdade, está observando tudo e todos, e vendo como com gestos de ira Sadoque e Elquias, Cananias, Félix, Doras e Cornélio e outros, estão para se afastarem, diz em voz alta: “ Espera um momento, ó Sadoque. Preciso dizer-te uma palavra. A ti e aos teus.” Eles param ali com umas caras de delinqüentes. José de Arimatéia faz um gesto de assustado, e faz sinal ao Zelotes para que entretenha a Jesus. Mas Jesus já vai indo para o grupo dos que odeiam e já está dizendo em voz alta: “ Será que já te basta, ó Sadoque, o que viste até agora? Disseste-me um dia que para crer, precisáveis, tu e os teus iguais de ver um corpo desfeito recompor-se, e com saúde. Não estás saciado com a podridão que viste? Serás capaz de admitir que Lázaro estava morto e que agora está vivo e são, como havia muitos anos que ele não estava? Eu sei disso. Vós viestes aqui para tentar essas pessoas e pô-las na maior dor e em dúvidas. Vós vieste aqui para procurar-me, esperando encontrar-me escondido no quarto do moribundo. Vós vieste aqui, não por um sentimento de amor de desejo de honrar o extinto, mas para terdes a certeza de que Lázaro estava realmente morto, e continuastes a vir, sempre mais cheios de júbilo, quanto mais o tempo ia passando. Se as coisas tivessem acontecido como vós esperáveis, como pensáveis que elas iam indo, teríeis tido razão de alegrar-vos. Pensáveis no amigo, que a todos cura, mas não é capaz de curar ao seu amigo. O Mestre que premia toda fé, mas não a de seus amigos de Betânia. É  o Messias impotente diante da realidade de uma morte. Isto é o que vos dava razão para alegrar-vos. Mas eis! Deus vos deu a resposta. Nenhum profeta jamais pôde reunir o que estava desfeito, além de estar morto. Mas Deus fez isso. E aí esta o testemunho vivo do que é que Eu sou. Houve um dia em que Deus tomou um tanto de barro, e com ele formou uma estátua, soprou nela o sopro da vida, e assim foi feito o homem. Eu mesmo estava para dizer: “ Faça-se o homem á nossa imagem e semelhança.” Porque Eu sou o Verbo do Pai. Hoje, Eu, o Verbo, disse aquilo que é menos do que o barro: a corrupção: “Vive”, e a corrupção tornou a transformar-se em carne, e em carne Eu reuni o espírito, que jazia, há dias no seio de Abraão. Eu o chamei, e fiz voltar por minha vontade, porque Eu tudo posso, Eu, o Vivente, Eu, o Rei dos reis, ao qual estão sujeitas todas as criaturas, todas as coisas. E agora, que é que tendes a responder-me?”
... Eles nada respondem.
... Tudo isso não vos basta ainda para crerdes, para aceitardes o indiscutível.
Os visitantes se retiraram...
Jesus olha em torno de si. Vê esfumaçar-se e ficar roxo o céu no fundo do jardim, lá, além do sepulcro. Jesus, sozinho, ereto em meio a um caminho, diz: “ A podridão que é anulada pelo fogo. A podridão da morte. Mas aquela dos corações... dos corações nenhum fogo anulará. Nem mesmo o fogo do Inferno. Será eterna. Que horror! Maior que a morte. Maior que a corrupção, e... Mas quem te salvará, ó Humanidade, se tanto amas ser corrompida? Queres ser corrupta. E Eu... Eu arranquei do sepulcro um homem com uma palavra. E com um mar de palavras... e um de dor não poderei arrancar o pecado do homem, dos homens, milhões de homens.”
Senta-se e cobre o rosto com as mãos, angustiado.


(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 8, pgs 399,400,401.402,403,404,405,406,407,408)


A paz de Jesus.

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