CONSELHOS DE JESUS A UM JOVEM.
Maria
Valtorta viu e ouviu o que se segue por um milagre de Deus.
Um jovem sai de entre a
multidão e alcança o Mestre, saudando-o com respeito. Jesus retribui a
saudação.
Eu desejaria pedir-te uma
coisa, Mestre.
Fala.
Eu te ouvi por acaso numa
manhã depois da Páscoa, perto de um monte vizinho do Carit. E, desde então,
fiquei pensando que eu também podia estar entre aqueles que Tu chamas. Mas,
antes de vir, eu quis saber muito bem o que é necessário fazer e o que não se
deve fazer. Eu fiz estas perguntas aos teus discípulos, todas as vezes que os
encontrava. E um me dizia uma coisa, e outro outra. E eu ficava incerto, quase
espantado, em uma coisa todos estavam concordes, uns com mais intransigência, e
outros com menos, e era sobre a obrigação de ser perfeitos. Eu, sou um pobre
homem, Senhor, e a perfeição é somente para Deus. Eu te ouvi uma segunda vez, e
Tu mesmo dizias: “ Sede perfeitos”.
E eu fiquei desanimado. Uma terceira vez, faz poucos dias, foi no Templo. E,
por mais que fosses severo, já me pareceu que fosse possível sê-lo, porque, nem
eu sei porque... nem eu sei explicá-lo, nem a mim próprio, nem a Ti. Mas me
parecia que, se fosse uma coisa impossível, ou tão perigosa como se quiséssemos
fazer-nos deuses, Tu que nos queres salvar, não no-lo proporias. Porque a
presunção é pecado. Querer ser deuses foi o pecado de Lúcifer. Mas talvez haja
uma maneira de sê-lo, sem pecarmos, e é seguindo a tua doutrina, que certamente
é de salvação. Falei bem?
Falaste
bem. E, então?
E então, eu continuei a
perguntar isto ou aquilo. E, tendo sabido que estavas em Ramá, fui para lá. E,
desde então, com licença de meu pai, eu passei a acompanhar-te. E, aí está,
cada vez mais eu queria ir...
Pois
vem! De que tens medo?
Eu não sei... Nem eu mesmo
sei... Pergunto, pergunto... Mas sempre, enquanto estou te ouvindo, parece-me
fácil, e resolvo ir. E, depois fico pensando no assunto, ou pior, fico
perguntando a um e a outro, e me fica parecendo muito difícil.
Vou
dizer-te o que é que está acontecendo: é uma cilada do demônio, para impedir
que tu venhas. Ele te amedronta com fantasmas, te confunde e te faz ficar perguntando
a quem, como tu, está precisando de luz. Porque é que não vieste a Mim
diretamente?
Porque... eu tinha... não era
medo, mas... os nossos sacerdotes e rabis! Eles são tão duros e soberbos! E
Tu... Eu não tinha coragem de aproximar-me de Ti. Contudo, em Emaús, ontem,
creio ter compreendido que não devo ter medo. E agora estou aqui, a
perguntar-te o que gostaria de saber. Há pouco tempo, um dos teus Apóstolos me
disse: “ Vai, e não tenhas medo. Ele é bom, até com os pecadores.” E um outro
me disse: “ Faze-o sentir-se feliz com a tua confiança. Quem confia nele o acha
mais doce do que uma mãe.” E um outro ainda: “ Eu não sei se estou errado, mas
eu te digo que Ele vai dizer-te que a perfeição está no amor.” Eis o que me
disseram os teus Apóstolos, alguns pelo menos mais doces do que os discípulos.
Não todos, mas são até muito poucos. E entre os Apóstolos há alguns que fazem
medo a um pobre homem como eu. Um me disse, com um riso que não era bom: “
Queres tu tornar-te perfeito? Nós que somos seus Apóstolos não o somos, e tu já
queres sê-lo? É impossível.”(acho que
não é preciso dizer qual foi o
apóstolo que disse esta frase) Se os outros não me tivessem falado, eu
teria fugido, desanimado. Mas estou tentando uma última prova... e, se Tu me
disseres que é impossível.
Meu
filho, achas que Eu poderia ter vindo para propor coisas impossíveis aos
homens? Quem achas tu, que tenha estado a por em teu coração este desejo de te
tornares perfeito? Terá sido o teu próprio coração?
Não, Senhor. Eu penso que
tenhas sido Tu, com as tuas palavras.
Não
estás longe da verdade. Mas, responde-me ainda. Para ti a minhas palavras , que
palavras são?
Justas.
Está
bem. Mas achas que são palavras de homem ou de alguém mais que homem?
Oh! Tu falas com sabedoria, e
mais doce e mais claro ainda. Por isso eu digo que as tuas palavras são mais do
que de homem. E não creio estar falando mal, se é que compreendi bem o que
estavas dizendo no Templo. Porque lá pareceu-me que estavas dizendo que Tu és a
Palavra de Deus, pois falavas como Deus.
Compreendeste bem e falas-te bem. E, então
quem foi que te pôs no coração o desejo da perfeição?
Foi Deus que o pôs nele, por
meio de Ti, que és a Palavra Dele.
Portanto
foi Deus. Agora pensa bem se Deus, que conhece a capacidade dos homens, lhes
diz: “ Vinde a Mim, sede perfeitos.”. é sinal de que Ele sabe que o homem, se
quiser, pode tornar-se perfeito.
É esta uma palavra antiga. Ela ressoou, pela primeira vez, quando foi dirigida
a Abraão, como uma revelação, como uma ordem, um convite: “ Eu sou o Deus
Onipotente. Caminha em minha presença. Sê perfeito.” E Deus se lhe manifesta, a
fim de que o Patriarca não tivesse dúvidas sobre a Santidade daquela ordem, nem
da verdade do convite. Ele o manda caminhar em sua presença, porque quem
caminha nesta vida, convicto de estar fazendo sob o olhar de Deus, não pratica
más ações. Por conseguinte, Ele se põe na condição de quem pode tornar-se
perfeito, como Deus o convida a tornar-se.
É verdade! É verdade! Se Deus
o disse, é porque pode ser feito. Oh! Mestre! Como tudo se compreende quando Tu
falas! Mas, então por quê foi que os teus discípulos e até aquele Apóstolo me
transmitiram uma idéia tão cheia de medo da Santidade? Por acaso não crêem eles
serem verdadeiras aquelas palavras e as Tuas? Ou não saberão eles andar na
presença de Deus?
Não
fiques pensando assim. Não julgues. Vê, meu filho, ás vezes o próprio desejo
deles de ser perfeitos, e sua humildade, lhes dão o medo de nunca poderem
sê-lo.
Mas
então, o desejo da perfeição e a humildade não são obstáculos. Pelo contrário,
é até necessário esforçar-se por tê-los profundamente, mas bem ordenados. São
bem ordenados quando não têm pressas imprudentes, desânimos sem razão, dúvidas
e faltas de confiança, como aquelas de quem crê que, por causa de sua
perfeição, o homem não possa tornar-se perfeito. Todas as virtudes são
necessárias, e uma delas é um vivo desejo de chegar á perfeição.
Sim. Isto já me diziam aqueles
a quem eu interroguei. Diziam-me que é necessário ter as virtudes. Mas uns me
diziam ser necessária uma, e outros, outra. E todos me afirmavam a absoluta
necessidade de ter aquela que eles diziam ser indispensável para sermos Santos.
E isso me enchia de medo, porque como é que se vai poder ter todas as virtudes
em grau perfeito, fazendo-as nascer juntas, como um ramalhete de diversas
flores? É preciso tempo... e a vida é tão breve. Tu, Mestre explica-me qual é a
virtude indispensável.
É a
caridade. Se amares, serás Santo, porque do amor a Deus e ao próximo é que vêm
todas as virtudes e todas as boas obras.
Sim. Assim é mais fácil então,
a Santidade é o Amor. Se eu tiver a caridade, terei tudo. É disso que é feita a
caridade.
Disso
e das outras virtudes. Porque a Santidade não é somente ser humildes, ou
somente prudentes, ou somente castos, e assim por diante. Mas consiste em ser
virtuosos. Vê, meu filho, quando um rico quer dar um jantar, será que ele manda
fazer só um alimento? Ou, ainda, quando quer fazer um ramalhete de flores, para
oferecer como homenagem, por acaso ele irá colocar no ramalhete só uma flor?
Não, não é verdade? Porque, ainda que colocasse sobre as mesas grande
quantidade do mesmo alimento, os convivas o criticariam como um anfitrião
sovina, que se preocupa somente em querer mostrar as suas posses, mas não em
demonstrar sua fineza, como um anfitrião que se preocupa com os diversos gostos
de seus convidados, e que quer ver cada um deles, servindo-se deste ou daquele
alimento, e não se sacie com ele, mas sinta prazer em comê-lo. É assim que se
faz um ramalhete. Não com uma só flor. Mas com muitas flores juntas, ele faz
que as diversas cores e os diversos perfumes agradem a todos os olhos e
olfatos, e são causa de elogios ao anfitrião. A Santidade, que devemos
considerar como um ramalhete de flores oferecido ao Senhor, deve ser formada
por todas as virtudes. Em um espírito predominam a humildade, em outro a
fortaleza, em outro a continência, em outro a paciência, em outro o espírito de
sacrifício e de penitência, todas estas nascidas da planta real e finalmente
perfumada, que é o amor, e cujas flores predominarão sempre no ramalhete, pois
todas as virtudes é que compõem a Santidade.
E qual delas deve cultivar com
mais cuidado?
A
caridade. Eu já te disse.
E depois?
Não
existe um método meu filho. Se tu amares o Senhor, Ele te dará os seus dons,
isto é, Ele se comunicará a ti, e então as virtudes que tu queres ver crescer
robustas, crescerão sob o sol da Graça.
Em
outras palavras, na alma que ama, é Deus quem opera fundamentalmente, deixando
que o homem use de sua livre vontade, em tender á perfeição, e de seus esforços
para repelir as tentações e manter-se fiel aos seus propósitos, em suas lutas
contra a carne, do mundo e do demônio que o assaltam. E isso para que o seu
filho tenha merecimento em sua Santidade.
Ah! Agora sim! Portanto é
muito justo dizer-se que o homem é feito para ser perfeito, como Deus quer.
Obrigado, Mestre. Agora eu sei. E agora assim farei. E Tu, reza por mim.
Eu
te terei em meu coração. Vai, e não fiques com medo de que Deus te deixe sem
sua ajuda.
O jovem muito contente se
separa de Jesus.
(O Evangelho como me foi
Revelado – Maria Valtorta, Vl 8, pgs 112,113,114,115,116)
A paz de Jesus.
Antonio Carlos Calciolari.
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