MARIA EVANGELIZA PEDRO
“Mestre! Mestre!
“Que queres Simão?”
“Murmurei contra Judas, e te havia prometido não fazê-lo
mais. Perdoa-me.”
“Sim. Procura não fazê-lo mais.”
“Tenho ainda 489 vezes para ter o teu perdão...”
“Mas, que é que estás dizendo meu irmão?”, pergunta
espantado, André.
E Pedro, com um brilho de esperteza em seu rosto bondoso,
encurva o pescoço por baixo do pesado saco que vai sendo levado por João de
Endor, e diz: “E não te lembras de que Ele disse que perdoemos setenta vezes
sete? Portanto, eu tenho ainda em haver 489 perdões. E vou trazer a conta bem
feita...”
Todos se riem, e até Jesus é obrigado a sorrir, mas lhe diz:
“Farias melhor em fazer a conta de todas as vezes que sabes ser bom, grande
menino que tu és.”
Pedro se aproxima de Jesus e, com o braço direito abraça
Jesus pela cintura, dizendo: “Meu caro Mestre! Como estou feliz por estar
contigo sem... Deixa para lá! Tu também estás contente... E Tu entendes o que
eu quero dizer. Estamos entre nós. Também aí está a tua Mãe. Aí está este
menino. Vamos indo para Cafarnaum. A estação é bela... Aí estão cinco razões
para estarmos alegres; Oh! É realmente belo estar contigo! Onde é que vamos
ficar esta tarde?”
“Em Jericó.”
“No ano passado foi aí que vimos a mulher velada. Mas, quem
sabe o que aconteceu com ela?... Eu estaria curioso para saber... E encontramos
também aquele das vinhas...” A risada de Pedro é contagiosa, de tão sonora que
é. Todos riem, lembrando-se da cena do encontro com Judas de Keriot.
“Mas tu és incorrigível, Simão”, censura-o Jesus.
“Eu não disse nada, Mestre. Mas deu-me vontade de rir, ao
lembrar-me da cara dele, quando o encontramos lá... nas vinhas dele...”
Pedro está rindo com tanto prazer, que tem que parar,
enquanto os outros vão indo na frente, ainda sob o frouxo do riso.
Pedro é alcançado pelas mulheres. Maria pergunta com doçura:
“Que tens, Simão?”
“Ah! Eu não posso dizer, porque cometeria uma outra falta de
caridade. Mas... aí está, Mãe, dize-me uma coisa, tu que és sábia. Se eu faço
uma insinuação, ou pior, digo uma calúnia, eu peco com certeza. Mas, se eu me
rio de uma coisa conhecida por todos, ou de um fato, também conhecido por
todos, um fato que faz rir, como, por exemplo, a surpresa de um mentiroso e o
seu embaraço, as suas desculpas, e tornar a rir, como nós já rimos, é também um
mal?”
“É uma imperfeição na
caridade. Não chega a ser um pecado como a
maledicência e a calúnia, e nem mesmo como a insinuação, mas é sempre
uma falta de caridade. É como um fio puxado para fora de um tecido. Não chega propriamente a
fazer um rasgo, nem a estragar o pano. Mas é sempre uma coisa que desfaz a
integridade dele e sua beleza, tornando fácil nele a formação de rasgões e
buracos. Não te parece?”
Pedro esfrega a própria fronte, e diz, um pouco humilhado:
“Parece-me que sim. Nunca havia pensado nisso.”
“Pensa nisso agora, e não o faças mais. Há risadas que ofendem mais a caridade do que bofetadas. Alguém
errou? E nós o pegamos em culpa de mentira, ou de outra coisa? E, então? Para
que ficar relembrando aquilo? Ou fazer que aquilo ele se lembre? Baixemos um
véu sobre as culpas do irmão, pensando sempre assim: “ Se fosse eu o culpado,
gostaria que outra pessoa ficasse lembrando minha culpa, e fizesse que ela
fosse lembrada?” Existem vergonhas íntimas, Simão, que fazem sofrer muito. Não
fiques sacudindo a cabeça. Eu sei o que queres dizer... Mas também os culpados
as têm, podes crer. Parte, parte sempre deste pensamento: “Gostaria eu disso?”
E verás que nunca mais pecarás contra a caridade. E terás sempre muita paz em
ti. Olha lá Marziam, como está pulando feliz e cantando. É porque ele não tem
em seu coração nenhum pensamento contra a caridade. Ele não tem que pensar nos
lugares para onde iremos, nem nas despesas, nem nas palavras que há de dizer.
Ele sabe que outros estão pensando em todas as coisas por ele. Faze assim
também. Deixa tudo para Deus. Também o julgamento das pessoas, enquanto podes
ser como um menino, que o bom Deus conduz, porque hás de querer carregar-te com
o peso de ter que decidir e julgar? Virá o momento em que deverás ser juiz e
árbitro, e então dirás: “ Ah! Como a vida era fácil antes, e menos perigosa!”,
e te chamarás de estulto, por teres querido carregar-te antes de tão grande
responsabilidade. Julgar! Que coisa difícil! Ouviste o que disse Síntique, há
dias? “As pesquisas por meio dos sentidos são sempre imperfeitas.” Ela falou
muito bem. Muitas vezes nós julgamos pelas reações dos sentidos, e por isso,
com grande imperfeição. Deixa de julgar..."
(Valtorta – Vol. 4-411/412)
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