“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

terça-feira, 6 de junho de 2023

O TESTEMUNHO DE JOÃO SOBRE O TRAIDOR






O TESTEMUNHO DE JOÃO SOBRE O TRAIDOR

 

Reflexão: Muitos, inclusive cristãos, acreditam que Judas não era tão mau assim. Justificam a traição como um deslize de momento, uma fraqueza normal que todo ser humano possui. Mas a realidade dos fatos é bem diferente, como veremos a seguir.

 

Maria Valtorta por um desejo de Deus viu e ouviu o seguinte relato:

 

Jesus levanta a cabeça ao olhar para elas, apoiando-a sobre o muro alto, e João faz o mesmo, detendo-se a olhar lá para cima onde se pode até ignorar a existência do mundo... Depois, Jesus diz: “E agora que aqui estamos, purificados e entre as estrelas, vamos rezar.” Ele pôe-se de pé e João o imita; é uma oração longa, silenciosa, profunda, toda da alma, com os braços abertos em cruz, com o rosto levantado e virado para o Oriente, onde já se vem anunciando o começo da claridade da lua. R depois o Pai-nosso, é dito pelos dois, lentamente, não uma só, mas três vezes, e sempre com um aumento de insistência nos pedidos, o que se pode notar claramente na voz deles. É uma súplica, que separa a alma da carne, arremessando-a por sobre os caminhos do infinito, de tão ardente que ela é.

Depois vem o silêncio. Assentam-se onde estavam antes, enquanto a lua vai embranquecendo cada vez mais a terra adormecida.

Jesus passa um braço por sobre os ombros de João e o puxa para Si, dizendo: “Dize-me agora o que achas que deves dizer-me. Quais são as coisas que o meu João percebeu, com a ajuda da Luz espiritual, na alma tenebrosa do companheiro?”

“Mestre... eu estou arrependido de ter-te dito aquilo. Cometerei dois pecados?”

“Por que?”

“Porque te farei ficar triste, revelando-te até o que não sabes, e... porque... Mestre, é pecado dizer o mal que vemos em um outro? Sim, não é verdade? E, então, como é que eu vou poder dizer isso ofendendo a caridade!...” João está angustiado.

Jesus acende uma luz na alma dele: “Escuta, João, para ti qual é mais, o Mestre ou o discípulo?”

“O Mestre, Senhor. Tu és mais.”

“E que sou para ti?”

“O princípio e o fim. Tu és tudo.”

“E crês tu que sendo Eu tudo, saiba também o que vem a ser tudo isso?”

“Sim, Senhor. É por isso que há em mim um grande contraste. Porque eu penso que Tu sabes e sofres. E me lembro de que Tu me disseste um dia que as vezes Tu és homem, somente homem, e por isso o Pai te faz conhecer o que é ser um homem que se há de guiar conforme a razão. E penso também que Deus, por piedade para contigo, poderia ocultar-te estas feias verdades...”

“Apega-te a este pensamento, João, e fala. Com confiança. Confiar o que sabes a quem para ti é “tudo”, não é pecado. Porque o “tudo” não se escandaliza, não murmura, não faltará com a caridade nem por pensamento, para com o infeliz. Seria pecado se tu dissesses o que sabes a quem não pode ser todo amor, aos companheiros, por exemplo, que começariam a fazer murmuração e até atacariam sem misericórdia o culpado, fazendo mal a ele e a si mesmos. Porque é preciso ter misericórdia, uma misericórdia sempre tanto maior quanto mais tivermos à nossa frente uma pobre alma doente de todos os males. Um médico, um piedoso enfermeiro ou até uma mãe, se o mal de um doente é pequeno pouco se impressionam e pouco fazem para curá-lo. Mas, se o filho ou o homem estiver muito doente, em perigo de vida, já com gangrena ou paralisia, então como lutam, vencendo repugnâncias e canseiras, para curá-lo. Não é assim?”

“Assim é Mestre,” diz João, que já tomou sua posição habitual, com o braço passado pelo pescoço do Mestre e a cabeça apoiada sobre o ombro dele.

“Pois bem. Nem todos sabem compadecer-se das almas doentes. Por isso, devemos ser prudentes, ao tornarmos conhecidos os males delas, para que o mundo não as evite e não lhes faça mal com o seu desprezo. Um doente que se vê escarnecido, se entristece e piora. Mas se, pelo contrário, ele é bem cuidado e lhe incutem uma alegre esperança pode ficar bom, porque a alegria confiante de quem o assiste penetra nele e ajuda o remédio a fazer efeito. Mas tu sabes que Eu sou Misericórdia e não vou humilhar Judas. Fala, pois, sem escrúpulos. Tu não és um espião. És um filho que conta ao pai, com amoroso cuidado o mal que descobriu no irmão a fim de que o pai o cure. Vamos...”

João dá um forte suspiro, depois inclina ainda mais a cabeça, deixando-a ir deslizando por sobre o peito de Jesus, e diz: “Como é penoso falar de coisas podres!... Senhor!... Judas é um impuro... e me tenta para a impureza. Que ele se escarneça de mim não me importa, mas o que me dói é que ele venha a Ti com sujeira dos seus amores. Desde que ele voltou, já me tentou muitas vezes. Quando acontece que ficamos sós... e ele procura por todos os modos que isso aconteça – ele não fala de outras coisas a não ser de mulheres... e com isso eu sinto desgosto, como o que teria, se fosse mergulhado em matérias fétidas e ainda tentassem coloca-las em minha boca...”

“Mas, com isso ficas profundamente perturbado?”

“Perturbado, como? Minha alma freme. Minha razão grita contra tais perturbações. Eu não quero ser corrompido.”

“E a tua carne, que faz?”

“Ela se arrepia toda.”

“Somente isso?”

“Somente, Mestre, e então fico chorando, porque me parece que Judas não poderia fazer maior ofensa a quem se consagrou a Deus. Dize-me, isso rompe a integridade de minha oferta?”

“Não. Não mais do que um punhado de lama jogado sobre uma pedra de diamante. A lama não risca a pedra nem penetra nela. Basta um pouco de água pura jogado sobre a pedra para que ela fique limpa. E fica mais bonita do que antes.”

“Então, limpa-me.”

“A tua caridade e o teu anjo te limpam. Não fica nada de suo sobre ti. Tu és um altar polido sobre o qual desse Deus. E, que mais faz Judas?” A cabeça de João desliza mais para baixo.

“Que é?”

“Ele... Não é verdade que seja dinheiro dele aquele que ele te dá para os pobres. É dinheiro dos pobres que ele rouba para si, para ser louvado por uma generosidade que ele não tem. Tu o fizeste ficar furioso quando, ao voltarmos do Tabor, lhe tiraste todo o dinheiro. Então ele me disse: “Entre nós há espiões.” E eu lhe disse: “Espiões de que? Será que estás roubando?” “Não!” “Respondeu-me ele, “Mas faço uso da previdência e faço duas bolsas. Alguém contou isso ao Mestre e Ele me obrigou a entregar tudo, e Ele ordenou com uma tal energia, que eu me vi obrigado a entregar tudo o que tinha.”

Mas não é verdade Senhor, que ele o faça por previdência. Ele o faz para ter dinheiro. Ele assim faz para ter a certeza de estar dizendo a verdade.”

“Quase certeza! E esta dúvida sim, é que já é uma culpa leve. Não podes acusa-lo de ser ladrão se disso não estiveres inteiramente certo. As ações dos homens têm, ás vezes, uma feia aparência e são boas.”

“É verdade Mestre. Não o acusarei, nem mesmo por pensamento. Mas, que ele tenha duas bolsas e aquela que ele diz ser dele e que ele te dá seja a tua mesmo, fazendo assim para ser elogiado, isso é verdade. Isso eu não faria. Acho que não é bom fazer assim.”

“Tens razão. Que mais tens a dizer?”

João levanta o rosto espantado, abre a boca para falar, mas depois torna a fechá-la, e cai de joelhos, escondendo o rosto por entre a veste de Jesus, que lhe põe a mão sobre os cabelos.

“Então, levanta-te! Poderias ter visto mal. Eu vou ajudar-te a ver bem. Deves dizer-me também que tu pensas sobre prováveis causas dos pecados de Judas.”

“Senhor, Judas se sente sem a força que quereria ter para fazer milagres. Tu sabes como ele sempre ambicionou possuí-la... Tu te lembras de Endor? Mas, ao contrário, é ele quem faz em menor número. Desde que ele voltou, então, já não consegue mais nada...e, de noite ele se queixa disso até quando está sonhando, como se isso fosse um incubo, e... Mestre, meu Mestre!”

“Vamos fala até o fim.”

“Ele roga pragas... e pratica a magia. Isto não é mentira, nem é duvidoso. Eu vi. Ele me escolhe porque dormia profundamente. Agora, eu o confesso, eu o vigio e o meu sono é menos profundo, porque, logo que ele se move, eu o percebo... Talvez eu tenha feito mal. Eu fingi dormir para ver o que ele estava fazendo. E por duas vezes eu o vi e ouvi fazer coisas feias. Eu não entendo a magia. Mas o que ele fazia, era!”

“Só isso?”

“Não e sim. Em Tiberíades eu o acompanhei. Ele foi a uma casa. Perguntei-lhe depois quem morava lá. Era um que praticava necromancia com outros. E, depois que Judas saiu, já quase de manhã, pelas palavras que ele disse eu pude compreender que eles se conhecem e que são muitos... e que não são todos estrangeiros. Ele está pedindo ao demônio a força, que Tu não lhe dá. É por isso que eu sacrifico a minha ao Pai para que a passe para ele e ele não seja mais pecador.”

“Deverias dar-lhe a tua alma. Mas isso, nem o Pai nem Eu o permitiríamos...”

“Há um longo silêncio. Depois Jesus, com uma voz cansada, diz: “Vamos, João. Desçamos. Vamos descansar, enquanto esperamos a aurora.”

“Estás mais triste do que antes, Senhor! Eu fiz mal em falar!”

“Não. Eu já o sabia. Mas pelo menos tu estás mais aliviado... e isso é bom.”

“Senhor, devo evita-lo.”

“Não. Não tenhas medo. Satanás não faz mal aos Joãos. Ele os aterroriza, mas não pode tirar-lhes a graça que Deus continuamente lhes concede. Vem. Pela manhã Eu falarei e depois iremos para Péla. É preciso andar depressa, porque o rio está cheio por causa das neves que se vão derretendo e pelas chuvas dos dias anteriores. Logo virá a cheia que, muito mais do que a lua arqueada, é sinal de chuvas abundantes.”

Eles descem e desaparecem no quarto que fica abaixo do terraço.

 

(O Evangelho como me foi revelado- Maria Valtorta-Vol. 5,pgs. 412 à 416)

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