UMA PEQUENA AMOSTRA DE
COMO SERÁ O JULGAMENTO DAQUELE QUE TUDO SABE E TUDO VÊ
Maria Valtorta por um desejo de Deus viu e ouviu o seguinte
relato:
...Jesus entra na suntuosa casa de campo do Ismael. Os servos
em grande número, correm ao encontro do hóspede, certamente esperado. Outros
vão avisar o patrão, o qual sai com grandes inclinações ao encontro de Jesus.
“Sê bem-vindo Mestre, à minha casa.”
“Paz a ti, Ismael bem Fabi. Desejaste-me. Eu vim. Por que me
querias aqui?”
“Para ser honrado por ter-te em minha casa e apresentar-te
aos meus amigos. Quero que sejam também teus. Como quero que Tu sejas meu
amigo.”
“Eu sou amigo de todos, Ismael.”
“Eu sei. Mas sabes? É bom ter amizades entre os grandes. E a
minha e a de meus amigos são assim. Tu perdoa se te digo, descuidas muito
daqueles que te podem dar uma mão... Eu sou desses. Por que? Porque te admiro,
e quero que Tu sejas meu amigo.”
“Amigo! Mas sabes tu, Ismael, qual o significado que eu dou a
essa palavra? Para muitos, amigo quer dizer conhecido, para outros, cúmplice,
para outros, servo. Para mim, quer dizer: fiel à Palavra do Pai. Quem não for
assim, não pode ser meu amigo, nem eu dele.”
“Mas é justamente porque eu quero ser fiel, que eu quero a
tua amizade, Mestre. Não acreditas? Olha, eis Eleazar que chega. Pergunta a ele
como eu te defendi aos Anciãos. Eleazar, eu te saúdo. Vem, que o rabi quer te
perguntar uma coisa.”
Grandes saudações e recíprocos olhares indagadores.
“Dize-me tu, Eleazar, o que foi que eu falei do Mestre, na
última vez que estivemos reunidos.”
E depois se vai, deixando o amigo junto de Jesus.
“Oh! Um verdadeiro elogio! Uma defesa apaixonada! Um grande
desejo de ouvir-te me veio, então, pelo tanto Ismael falou de ti, Mestre, como
do maior Profeta que já veio ao povo de Israel! Recordo-me que disse que ninguém
tinha palavras mais profundas do que as tuas, fascínio maior e que, se como
sabes falar souberes também manejar a espada, não haverá rei maior do que tu em
Israel.”
“O meu Reino!... Não é humano esse Reino, Eleazar.”
“Mas o Rei de Israel?”
“Abram-se as vossas mentes para compreender o sentido das
palavras arcanas. Virá o Reino do Rei dos reis. Mas não segundo as medidas
humanas. Não para o que perece, mas para o que é eterno. A ele se chega, não
por um caminho florido de triunfos nem sobre tapetes encharcados pelo sangue
inimigo. Mas por um áspero caminho de sacrifício e pela humilde escada do
perdão e do amor. As vitórias contra nós mesmos é que nos darão este Reino. E
queira Deus que a maior parte de Israel possa entender-me. Mas não é assim. Vós
pensais no que não é. Na minha mão haverá um cedro e o povo de Israel é que
nela o terá colocado. Real e eterno. Nenhum rei poderá tirá-lo da minha Casa.
Mas muitos em Israel não poderão, sem fremirem de horror, porque Ele terá um
nome terrível para eles.”
“Tu não nos achas capazes de seguir-te?”
“Se o quisésseis, poderíeis. Mas não quereis. E por que não
quereis? Vós á sois anciãos. A idade deveria dar-vos compreensão e Justiça.
Justiça também para convosco mesmos. Os jovens... esses poderão errar e arrepender-se
depois. Mas vós! A morte está sempre perto dos anciãos, Eleazar, tu estás menos
enredado nas teorias de muitos dos teus semelhantes. Abre o teu coração à Luz.”
Ismael volta com cinco outros pomposos fariseus.
“Vinde, pois, na casa”, diz o dono dela. E, tendo deixado o
átrio, rico de cadeiras e tapetes, entram em uma sala aonde foram levadas
ânforas e bacias para as abluções. Dali passam depois para a sala de jantar,
muito ricamente preparada.
“Jesus fica a meu lado. Entre mim e Eleazar”, ordena o dono
da casa. E Jesus, que se havia detido no fundo da sala junto aos discípulos um
pouco atemorizados e abandonados, deve ir sentar-se no ponto de honra.
O banquete começa com numerosos pratos de carne e de peixe
assados. Vinhos e, ao que parece, licores, ou pelo menos água com mel, passam e
repassam.
Todos procuram fazer Jesus falar. Um velho, todo trêmulo,
pergunta, com voz rouca de decrépito: “Mestre, é verdade o que se diz por aí,
que tu pretendes anular a Lei?”
“Eu não mudarei um jota da Lei. Antes eu vim justamente para
torna-la novo íntegra, como quando foi dada a Moisés.”
“Quer dizer que foi mudada?”
“Nunca. Apenas ela teve a triste sorte de todas as coisas
excelentes, quando são postas na mão do homem.”
“Que quereria dizer? Explica-te.”
“Eu quero dizer que o homem, por uma antiga soberba ou pelo
antigo estímulo da tríplice luxúria, quis retocar a reta palavra e fez dela uma
coisa que oprime os fiéis, enquanto que, para os retocadores, ela não é mais do
que um amontoado de frases... que vão sendo impingidas aos outros.”
“Mas, Mestre! Os nossos rabinos...”
“Isto é uma acusação! Não nos decepciones em nosso desejo de
te ajudar!”
“Ah! Ah! Têm razão em dizer-te rebelde!”
“Silêncio! Jesus é meu hóspede. Que fale livremente.”
“Os nossos rabinos começaram seus grandes trabalhos com a
santa intenção de tornar mais fácil a aplicação da Lei. O próprio Deus começou
esta escola, quando às palavras dos dez mandamentos, Ele acrescentou muitas
minuciosas elucidações. Isto para que o homem não tivesse a desculpa de dizer
que não tinha conseguido entender. Portanto, foi um trabalho santo o dos
Mestres, que partem em pedacinhos, para os pequenos, o pão para os seus
espíritos, dado por Deus. Mas é santo se tem reta intenção. E isso nem sempre
aconteceu. E hoje em dia o é menos que nunca. Mas, por que quereis que eu fale,
vós, que vos sentis ofendidos, quando eu enumero as culpas dos mais poderosos?”
“Culpas? Que culpas temos nós?”
“Eu gostaria que tivésseis só méritos!”
“Mas não o temos. Tu assim pensas, e os teus olhos o dizem.
Jesus, não é criticando que se graneia a amizade dos poderosos. Tu nunca
reinarás. Nem sabes a arte.”
“Eu não vos peço para reinar como vos entendeis, nem mendigo
amizades. Quero amor. Mas honesto e santo. Um amor que vá de mim para aqueles
que eu amo, e que se manifeste, usando para com os pobres aquilo que eu prego
que seja usado: a misericórdia.”
“Eu, desde que te ouvi, não emprestei mais com usura”, diz um
deles.
“E Deus te recompensará por isso.”
“ O Senhor é minha testemunha, se eu espanquei ou não, os
meus servos, que mereciam umas varadas, desde que me foi dita uma das tuas
parábolas”, diz um outro.
“E eu? Mais de dez alqueires de cevada eu deixei nos campos
para os pobres!”, diz ainda um outro.
Os fariseus estão se louvando em alto estilo.
Ismael ainda não falou nada. Jesus o interpela: “E tu
Ismael?”
“Oh! Eu! Eu sempre usei de misericórdia. E não tenho nada
mais a fazer, do que continuar como sempre fiz.”
“Boa coisa para ti! Porque, se assim é realmente, tu és o
homem que não conhece o que são os remorsos.”
“Oh! É certo que não!”
Jesus o traspassa com seus olhos de safira.
Eleazar lhe toca, com a mão no braço: “Mestre, escuta. Eu
tenho um caso especial para submeter ao teu parecer. Eu adquiri, faz pouco
tempo, uma propriedade de um infeliz, que se viu arruinado por uma mulher. Ele
ma vendeu, mas sem dizer-me que nela morava uma velha serva, a sua nutriz, já
cega e meio hebetada. O vendedor não a quer. Eu... não a quereria. Mas, jogá-la
no meio da estrada... Que farias tu, Mestre?”
“E tu, o que farias, se tivesses de dar um conselho a
outrem?”
“Eu diria: Conserva-a. Não será por um pão que irás ficar
arruinado.”
“E por que falarias assim?”
“Ora... por que eu penso que faria assim? Porque eu gostaria
que assim fosse feito...”
“Tu estás bem perto da justiça, Eleazar. Faze como tu
aconselharias, e o Deus de Jacó estará sempre contigo.”
“Obrigado Mestre.”
Os outros estão resmungando entre si.
“Por que estais murmurando?”, pergunta-lhes Jesus. “Será que
não falei certo? Este homem também não falou certo? Ismael defende os teus
hóspedes, tu, que sempre usaste de misericórdia.”
“Mestre, tu falas bem, mas... Se fizesse sempre assim...
Seriamos vítimas dos outros.”
“Eu não digo isto. Mas há casos...”
“A Lei manda ter misericórdia...”
“Sim, para com o irmão pobre, para com o forasteiro, o
peregrino, a viúva e o órfão. Mas esta velha, que veio cair nos braços de
Eleazar, não é irmã dele, nem é peregrina, nem forasteira, nem órfã, nem viúva,
Ela não é nada dele. Nem mais nem menos do que uma mobília velha, que não é
dele, mas ficou esquecida pelo seu antigo dono, na hora da entrega do que ele
vendeu. Portanto, Eleazar poderia até expulsá-la, sem mais escrúpulos. Enfim, a
culpa pela morte da velha não seria dele, mas do seu verdadeiro patrão... o
qual não a pode mais manter, pois ele também é pobre, e por isso, também ele
está livre de obrigações. De modo que, se a velha morrer de fome, a culpa é da
velha, não é assim?”
“Assim é, Mestre. Esta é a sorte dos que... não servem mais
para nada: os doentes, os velhos, os incapazes. Esses estão condenados à
miséria à mendicância. E a morte é a melhor coisa para eles. Assim foi desde
que o mundo existe, e assim será.”
“Jesus tem piedade de mim!” É uma voz lamentosa, que entra
pelas janelas abertas, pois a sala está fechada e com os lampadários acesos.
Talvez fechada por causa do frio.
“Quem está chamando?”
“Só pode ser algum importuno. Eu vou fazer que o expulsem. Ou
talvez seja algum mendigo. Farei que lhe dêem um pão.”
“Jesus, eu estou doente. Salva-me!”
“Eu já o disse. É um importuno. Vou castigar os servos, por o
terem deixado passar.” E Ismael se levanta.
Mas Jesus, mais novo que ele pelo menos uns vinte anos, e
mais alto, a partir da base do pescoço para cima, faz que ele se assente
pondo-lhe a mão no ombro e dando-lhe esta ordem: “Fica quieto ai, Ismael. Eu
quero ver quem é esse que me está procurando. Fazei que ele entre.”
Entra um homem de cabelos ainda pretos. Pode ter uns quarenta
anos. Mas está inchado como uma barrica e amarelo como um limão maduro. Tem os
lábios arroxeados e semi-abertos, em uma boca ofegante. Vem acompanhado da
mulher da primeira parte desta visão.
O homem anda para frente com dificuldade, tanto por causa da
doença, como pelo medo que tem. Ele se vê olhado com más intenções. Mas Jesus
deixou seu posto, e foi para perto do infeliz, pegando-o pela mão, e levando-o
para o centro da sala, para um espaço vazio, por entre as mesas. E precisamente
bem para debaixo do lampadário.
“Mestre... eu tenho procurado muito... e há muito tempo...
Nada mais quero, a não ser a saúde... também para meus filhos e minha mulher...
Tu podes tudo... Olha a quê fiquei eu reduzido!”
“E crês que eu te possa curar?”
“Se eu creio!... Cada passo que eu dou é para mim uma dor...
cada sacudidela um sofrimento... e, no entanto eu andei quilômetros para
procurar-te... e depois com o carro, ainda vindo atrás de Ti... mas nunca te
alcançava... Se eu creio!... Eu estou espantado é por não estar ainda curado,
quando a minha mão está dentro da tua, pois tudo de Ti é santo, ó Santo de Deus.”
O pobrezinho sopra como um fole por causa do esforço que fez
para dizer todas aquelas palavras. A mulher olha para o marido e para Jesus, e
chora.
Jesus olha para eles e sorri. Depois se vira e pergunta: “Tu,
velho escriba, (dirige-se ao velho trêmulo, que falou por primeiro),
responde-me: é permitido curar aos sábados?”
“Aos sábados não é permitido fazer obra alguma.”
“Nem mesmo salvar alguém do desespero? Isso não é um trabalho
braçal.”
“O sábado é consagrado ao Senhor.”
“Que obra há mais digna de um dia sagrado do que a de fazer
que um filho de Deus possa dizer ao Pai: Eu te amo e te louvo, porque me
curaste.”
“Isso ele deve fazer mesmo que seja um infeliz.”
“Cananias, estás sabendo que neste momento o teu bosque mais
bonito está completamente incendiado, e que em toda a encosta do Hermon se está
refletindo a cor púrpura das chamas?”
O velhinho dá um salto, como se uma cobra o houvesse picado.
“Mestre, estas dizendo a verdade ou estás brincando?”
“Eu digo a verdade. Eu estou vendo, e sei.”
“Oh! Infeliz de mim! O meu bosque mais belo” São milhares de
siclos que viraram cinza! Ó mandição! Que sejam malditos os cães que nele
puseram fogo. Que pegue fogo nas vísceras deles, como pegou nas minhas
árvores!” O velhinho está desesperado.
“É apenas um bosque, Cananias, e tu lamentas tanto. Porque
não dás louvor ao Senhor, no meio desta desventura? Este homem aqui não está
perdendo a madeira das árvores, que tornam a nascer, mas sem a vida e o pão dos
filhos, e deveria ele dar o louvor, que tu não dás. Portanto escriba, não será
lícito curar aqui num sábado?”
“Maldito sejas Tu, ele e o sábado. Eu tenho coisa bem
diferente em que pensar...” e, tendo dado um empurrão em Jesus, que lhe havia
posto uma mão sobre o braça, sai dali furioso, e ouve-se como ele brada, com
sua voz rouca, que lhe tragam o carro.
“E agora?” pergunta Jesus, correndo o olhar sobre os outros.
“E agora, dizei-me: É lícito, ou não?”
Ninguém lhe responde. Eleazar inclina a cabeça, depois de ter
entreaberto os lábios, que ele torna a cerrar, atingido pelo ar gelado, que
desceu sobre todos na sala.
“Pois bem, Eu vou falar”, diz Jesus. Ele está impressionante
e trovejante, em seu aspecto e sua voz, como acontece sempre quando está para
operar algum milagre. “Eu vou falar. E falo. E digo: homem, que te seja feito
conforme a tua fé. Tu estás curado. Dá louvor ao Eterno. Vai em paz.”
O homem fica como se fosse uma estátua. Talvez até pensasse
que iria ficar de repente esbelto como era antes. E lhe parece que não está
curado. Mas, que ele está sentindo? Ele dá um grito de alegria e se joga aos
pés de Jesus e os beija.
“Vai! Vai! Sê sempre bom. Adeus!”
O homem sai, acompanhado pela mulher, que até o fim se vira
para saudar a Jesus.
“Mas, Mestre... Na minha casa... Em dia de sábado...”
“Tu não aprovas? Eu sei. E por isso Eu vim. Tu, meu amigo?
Não. Meu inimigo. Não és sincero comigo, nem com Deus.”
“E ainda me ofendes agora?”
Não. Eu digo a verdade. Tu disseste que Eleazar não está
obrigado a socorrer aquela velha, porque ela não é de sua propriedade. Mas tu
tinha dois órfãos em tua propriedade. Eram filhos de dois servos teus, fiéis,
que morreram no trabalho, um com a foice na mão, e a outra, morta pelo
demasiado cansaço por ter-te devido servir como tu exigiste dela, que
trabalhasse por si mesma e pelo marido. E tu ainda dizias: “ Eu combinei com
duas pessoas na trabalho e, para conservar-te, quero que faças o teu trabalho e
o do morto.” E ela fez aquele trabalho e nele morreu, depois de ter concebido.
Pois aquela mulher era mãe. E não houve para com ela nem a compaixão que se tem
para com um animal que dá cria. Onde estão agora aquelas duas crianças?”
“Não sei. Um dia elas desapareceram.”
“Não fiques mentindo agora. Ter sido cruel já basta. Não é
preciso fazer uso da mentira, para tornar ainda mais odiosos aos olhos de Deus
os teus sábados, mesmo que sejam passados sem obras servis. Onde estão aquelas
crianças?”
Não sei. Não o sei mais, podes crer.”
“Eu sei. Eu as encontrei uma manhã de novembro, uma manhã
chuvosa, escura. Eu as encontrei esfaimadas e trêmulas, perto de uma casa, como
dois cachorrinhos à procura de um pedaço de pão... Malditas e expulsas por quem tinha as
vísceras de um cão. Porque até um cão teria tido compaixão dos dois
orfãozinhos. E tu e aquele homem não a tivestes. Os pais delas não te serviam mais,
não é verdade? Eles teriam morrido. Os mortos só podem chorar em seus
sepulcros, ao ouvirem os soluços de seus infelizes filhos, que os outros ainda
desprezam. Mas os mortos levam seus prantos de seus filhos a Deus, dizendo:
“Senhor, faze por nós as nossas vinganças porque o mundo nos oprime quando não
pode mais aproveitar-se de nós.” Não te serviam mais os dois pequeninos, não é?
Sim e não, já que a menina servia para respingar... E tu os expulsastes,
negando-lhes até aqueles poucos bens que eram do pai e da mãe deles. Podiam
morrer de fome, como dois cães em algum carreador. Podiam viver, tornando-se
ele um ladrão e ela uma prostituta. Porque a fome leva ao pecado. Mas, que te
importava isso?
Há pouco tempo, tu citavas a Lei, em apoio de tuas teorias.
Pois, então, a Lei não diz: “Não façais mal a viúva e ao órfão, porque se lho
fizeres, e eles levantarem suas vozes, recorrendo a Mim, Eu ouvirei o grito
deles, e o meu furor dardejará raios. Eu vos exterminarei pela espada, e as
vossas mulheres é que ficarão viúvas, e os vossos filhos órfãos?” Não diz assim
a Lei? E, então, por que tu não a cumpres? Tu, que me defendes diante dos
outros? Por que, então, não defendes a minha doutrina com o teu modo de viver?
Tu queres ser meu amigo? E então, por que fazes o oposto do que Eu digo? Um de
vós está correndo, a ponto de perder o fôlego, arrancando os cabelos, por causa
da perda de um bosque. Mas, por que não os arranca das ruínas de seu coração! E
tu, que estás esperando para fazê-lo?
Por que é que quereis julgar-vos perfeitos, vós que, por uma
eventualidade, vos dizeis grandes? E, se o fosseis em alguma coisa, por que é
que não procurais sê-lo em tudo? É porque me odiais, por descobrir Eu as vossas
mazelas? Eu sou o médico de vossas almas.
Pode um médico curar, se ele não descobrir e limpar as feridas? Mas, não
sabeis vós que muitos, e aquela mulher que acabou de sair é uma das que merecem
o primeiro lugar no banquete de Deus, ainda que na aparência eles sejam uns
pobres desprezíveis? Não é a parte de fora, mas a de dentro, é o coração, é o
espírito o que vale. Deus vos vê, lá do alto do seu trono. E Ele vos julga.
Quantos deles, não vê Ele como melhores do que vós? Então escutai. Como regra,
agi sempre assim: Quando vos convidarem para um banquete de casamento, ide
ocupar sempre o último lugar. Porque depois vos sentireis honrados, com dupla
honra, quando o dono da casa vos disser; “Meu amigo, vem mais adiante.” Será uma
honra por merecimento e uma honra para a vossa humildade. Enquanto que... Que
triste hora para um soberbo, ter que ficar envergonhado, ao ouvir que lhe
dizem: “Vai lá para o fundo, porque aqui está alguém que é mais do que tu”.
Pois bem. Fazei o mesmo, quando se trata do banquete secreto do vosso espírito
em suas núpcias com Deus. Quem se humilha será exaltado, e quem se exalta será
humilhado.
... É verdade. Mas por isso é que Eu disse, no começo deste
banquete, que o meu Reino se conquista com vitórias sobre si mesmos, e não com
a vitória das armas em campo de batalha. O lugar na grande Ceia é para estes
humildes de coração. Contanto que aquele coração queira. E basta uma palavra. E
Eu vos tenho dito tantas. E fico olhando. Em um coração está nascendo uma
planta santa. Em outro, há espinheiros para Mim, e dentro dos espinheiros há
áspides e escorpiões. Não importa. Eu vou pelo meu caminho reto. Quem me ama
que me siga. Eu vou indo e chamando. Os que são retos, venham a Mim. Eu vou
indo e instruindo. Os que buscam a Justiça, que se aproximem da Fonte. Quanto
aos outros... Quanto aos outros, julga-los-á o Pai Santo. Ismael, Eu te saúdo.
Não me odeies. Medita. E aos seus moradores, paz a todos, se merecerdes a paz.”
(O Evangelho como me foi revelado-Maria Valtorta-Vol. 5
pgs.251 à 261)
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