NÃO COBREM DEUS POR TEREM AJUDADO
Diz Jesus:
“Ouvi. Em verdade,
Eu vos digo que ninguém deve ficar gabando-se de cumprir o próprio dever e
exigir por isso especiais favores, pois cumpriu sua obrigação.
Judas me fez lembrar
que vós tudo me destes. E me disse que por isso Eu tenho o dever de
contentar-vos pelo que fazeis. Mas escutai um pouco. Entre vós há pescadores,
donos de terras, mais do que um têm as suas oficinas, e o Zelotes tinha um
sevo. Pois bem. Quando os empregados da barca, ou os homens que, como servos,
vos ajudavam no olival, no vinhedo ou nos campos, ou os aprendizes na oficina,
ou simplesmente o servo fiel, que cuidava da casa e da mesa, quando terminavam
seus trabalhos, por acaso vós púnheis a servi-los? E não é assim em todas as
casas e encargos? Qual é o homem que, tendo um empregado a arar ou a
apascentar, ou um operário na oficina, lhe diz, quando ele termina o serviço:
“Vai logo a mesa?” Nenhum. Mas, mesmo que ele esteja voltando do campo, ou já
tenha ido guardar as ferramentas de trabalho, qualquer patrão diz: “Prepara-me
a comida, vai lavar-te e, com roupa limpa e cingida, serve-me a comida,
enquanto eu como e bebo! Depois tu comerás e beberás.” E não se pode dizer que
isso seja dureza de coração. Porque o servo deve servir o patrão, e o patrão
não lhe fica obrigado por ter o servo feito o que pela manhã o patrão lhe
ordenou fazer. Pois, se é verdade que o patrão tem o dever de ser humano para
com o seu próprio servo, também o servo tem o dever de não ser negligente e
desmazelado, mas de cooperar para o bem-estar do patrão, que o veste e mata-lhe
a fome. Suportaríeis vós que os vossos empregados na barca, os camponeses, os
servos de casas vos dissessem: “Serve-me, porque eu trabalhei?” Eu creio que
não.
Assim também vós,
olhando o que já fizestes e o que fazeis por Mim, no futuro, olhando o que
havereis de fazer para continuardes a minha obra e continuardes a servir o
Mestre devereis sempre dizer, porque vereis também que tereis feito sempre
muito menos do que era justo que fizésseis, para alcançardes a altura do que
recebestes de Deus: “Nós somos uns servos inúteis, porque não fizemos mais do
que o nosso dever.” Se assim raciocinardes, vereis que não sentireis mais
pretensões nem maus humores surgindo dentro de vós,mas agireis com justiça.”
Jesus se cala. Todos refletem.
Pedro toca com o
cotovelo em João, que está refletindo, com seus olhos celestiais fixos sobre as
águas, que da cor do anil passam para uma cor azulada, pois a luz da lua está
batendo nelas, e lhe diz: “Pergunta-lhe quando é que alguém faz mais do que o
seu dever. Eu gostaria de chegar a fazer mais do que o meu dever, eu...”
“Eu também Simão. Eu
estava pensando justamente nisso”, responde-lhe João, com o seu belo sorriso
sobre os lábios, e pergunta em voz alta: “Mestre, dize-me: o homem, teu servo,
não poderá nunca fazer mais do que o seu dever, para dizer-te com isso que te
ama completamente?”
“Menino, Deus te deu
tanto, que por justiça, todo o teu heroísmo sempre seria pouco. Mas o Senhor é
tão bom, que mede o que lhe dais, não com sua medida infinita, mas o mede com a
medida limitada da capacidade humana. E, quando Ele vê que vós destes sem vos
poupardes, aí Ele vos dá uma medida bem cheia, transbordante, generosa, e diz:
“Este meu sevo deu mais do que era do seu dever. Por isso Eu lhe darei a
superabundância dos meus prêmios.”
“Oh! Como estou
contente, eu então te darei uma medida transbordante, para ter essa
superabundância!”, exclama Pedro.
“Sim. Tu ma darás.
Vós ma dareis. Todos aqueles que são amantes da Verdade, da Luz, ma darão. E
comigo estarão sobrenaturalmente felizes.”
(O Evangelho como me
foi Revelado – Maria Valtorta- Vol. 6, pg. 421,422)
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