CARIDADE
(A extensão da compreensão desta palavra)
Diz Jesus:
“Eu vos falei da fé e da esperança, e pensava
que não fosse preciso falar-vos de novo sobre a caridade, porque Eu tanto a
exalo, que dela deveríeis estar já saturados. Mas estou vendo que vós a
conheceis só de nome, sem saberdes qual é a natureza e a forma dela. Tendes
dela um conhecimento como o que tendes da lua. Estais lembrados de quando Eu
vos disse que a esperança é como o braço atravessado do doce jugo, que regula a
fé e a caridade, que é o patíbulo da humanidade, e o termo da salvação? Sim.
Mas não compreendestes as minhas palavras, qual o significado delas. E, por que
não me pedistes explicação delas? Pois Eu vos vou dá-las. É um jugo, porque
obriga o homem a conservar baixa a sua soberba estulta, sob o peso das verdades
eternas. E é um patíbulo para esta vossa soberba. O homem que espera em
Deus, seu Senhor, necessariamente humilha o seu orgulho, que gostaria de
proclamar-se “deus”, mas reconhece que ele não é nada, e que Deus é tudo, que
ele nada pode e que Deus pode tudo, que ele homem é um pó que passa, e que Deus
é eternidade, que eleva o pó a um grau superior, dando-lhe um prêmio de
eternidade. O homem se prega em sua cruz santa, para chegar à Vida. E aí o
fixam as chamas da fé, da caridade, mas é a esperança que o levanta até o Céu,
pois ela está entre as outra duas. Mas guardai bem esta lição: se faltar a
caridade, o trono fica sem luz, e o corpo, despregado de um lado, inclina-se
para a lama, por não ver mais o Céu. Ele anula assim os efeitos salutares da
esperança, e acaba tornando estéril até a fé, porque afastados de duas da três
virtudes teologais, caem num enfraquecimento e enregelamento mortal.
Não vos recuseis a Deus, nem nas coisas muito
pequenas. E já é recusar-se a Deus deixar de prestar ajuda ao próximo, por um
orgulho de pagãos.
A minha doutrina é um jugo que pega a humanidade culpável e é um malho
que rompe a opressão dura para libertar o espírito. É um jugo e um malho, sim.
Mas também quem a aceita não sente o cansaço que produzem as outras doutrinas
humanas, e todas as outras coisas humanas, mas também quem se deixa ferir por
elas não sente a dor de ser esmagado no seu eu humano, mas experimenta uma
sensação de libertação. Por que é que procurais livrar-vos dela, para
substituí-la por tudo o que é pesado e doloroso?
Vós todos tendes as vossas dores e as vossas
canseiras. Toda a humanidade tem dores e canseiras, ás vezes até acima das
forças humanas. Desde o menino, como este, que já traz em seus pequenos ombros
um grande peso, que o faz encurvar-se, e que afasta o sorriso infantil dos seus
lábios, e a despreocupação de sua mente, que sempre, humanamente falando, não
terá por isso nunca sido de um menino. Desde este menino, até o velho que se
inclina já para a tumba, com todos os seus desenganos e canseiras, com o peso e
as feridas de sua longa vida. Mas na minha Doutrina e na minha Fé está o
alívio para estes pesos oprimentes. Por isso, ela é chamada a “Boa Nova”. E
quem a aceita e lhe obedece, será feliz desde esta terra, porque terá Deus para
seu alívio, e as virtudes para lhe tornarem fácil e luminoso o caminho, como se
elas fossem umas boas irmãs que, segurando-o pela mão, com suas lâmpadas
acesas, lhe alumiarão o caminho e a vida, e lhe cantam as promessas eternas de
Deus, até quando, depois que seu corpo se tiver inclinado, já cansado desta
terra, tiver ido despertar no Paraíso.
Por que quereis, ó homens, ficar afadigados,
desolados, cansados, desgostosos, desesperados, quando podeis ser aliviados e
confortados? Porque vós também meus Apóstolos, quereis sentir os cansaços da
missão, as suas dificuldades, a sua severidade, enquanto que, se tiverdes a
confiança de um menino, podereis ter somente uma risonha tarefa, uma luminosa
facilidade para cumpri-la, e compreender e sentir que ela é severa, somente
para com os impenitentes, que não conhecem a mão do menino pelo caminho,
mostrando aos passos incertos do pequenino onde é que estão as pedras, os
espinheiros, os ninhos das serpentes e os buracos, para que ele os fique
conhecendo, e não corra perigo.
...Vinde a Mim, vós Apóstolos, e vinde a Mim,
vós todos, ó homens que sofreis por dores materiais, por dores morais, por
dores espirituais. Estas últimas, produzidas pela dor de não saberdes
santificar-vos, como quereríeis por amor a Deus e com solicitude, e sem
voltardes ao Mal. O caminho da santificação é longo e misterioso, e as vezes
por ele se anda, sem que o caminhante saiba que vai indo pelas trevas, com sabor de um tóxico na boca, e achando que não
está indo para a frente, e que não está bebendo nenhum líquido celeste. Ele não
sabe também que essa cegueira espiritual é um dos elementos da perfeição.
Felizes aqueles, três vezes felizes que continuam a andar, sem poderem
gozar da luz e de doçuras, e não param porque nada estão vendo, nem ouvindo, e
não ficam parados, dizendo: “Enquanto Deus não me der delícias, eu não vou para
a frente.” Eu vo-lo digo: a estrada mais escura se tornará mais clara, de
repente, abrindo-se para paisagens celestes. O tóxico, depois de ter
tirado todos os gostos pelas coisas humanas, se transformará em doçura do Paraíso
para estes corajosos, que dirão, espantados: “Como foi isso? Como eu estou
sentindo tanta doçura e alegria?” Porque eles terão perseverado, e Deus os fará
exultar, desde esta terra, com as coisas do Céu.
Mas, enquanto isso, para resistirdes, vinde a
Mim, vós todos que estais afadigados e cansados, vos, Apóstolos, e convosco
todos os homens que procuram a Deus, que choram por causa da dor desta terra,
que se extenuam, lutando sozinhos, e Eu vos restaurarei. Tomai sobre vós o
meu jugo. Ele não é um peso, é um apoio. Abraçai a minha Doutrina, como se
fosse uma esposa amada. Imitai o vosso Mestre, que não se limita a falar
bem dela, mas faz o que ensina. Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de
coração. Encontrareis o repouso para as vossas almas, porque mansidão e
humildade vos dão o reino nesta terra e nos Céus. Eu já vo-lo disse que os
verdadeiros triunfadores entre os homens são os que os conquistam pelo amor,
pois o amor é sempre manso e humilde. Eu não vos mandaria nunca fazer coisas
superiores ás vossas forças, porque Eu vos amo e vos quero comigo no meu Reino.
Tomai, pois, a minha insígnia e o meu tribunal e esforçai-vos para serdes
semelhantes a Mim, e tais quais a minha Doutrina ensina. Não tenhais medo,
porque o meu jugo é suave e o meu peso é leve, enquanto que infinitamente
poderosa é a glória de que gozareis se me fordes fiéis. Infinita e eterna...
(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta
– Vol. 4, pg. 289 a 292)
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