A DOR É CRUZ MAS TAMBÉM É ASA
“A paz esteja
convosco. Ontem Eu ouvi falar de dois infelizes. Um ainda na aurora da vida e o
outro no fim, duas almas que choravam na desolação.
Eu chorei com elas em
meu coração, vendo quanta dor existe nesta terra e como só Deus pode aliviá-la.
Deus! Só o conhecimento exata de Deus, de sua grande e infinita bondade, da sua
constante presença, das suas promessas. Eu vi como o homem pode ser torturado
pelo homem e como pode ser atropelado pela morte com desolações. Nas quais
trabalha Satanás, para aumentar a dor e para produzir ruínas. Eu disse então a
Mim mesmo: “Não devem os filhos de Deus sofrer com esta tortura das torturas.
Demos o conhecimento de Deus a quem não o tem, demo-lo de novo a quem o esqueceu,
envolvido nas tempestades da dor.” Mas Eu vi também que, por Mim só, Eu não
basto mais para satisfazer às infinitas necessidades dos irmãos. E decidi
chamar a muitos, em número cada vez maior, a fim de que todos os que têm
necessidade do conforto do conhecimento de Deus o possam ter.
Estes doze são os
primeiros. Como meus seguidores, são capazes de conduzir a Mim e, por isso, ao
conforto todos aqueles que estão encurvados sob os pesos de dores grandes
demais. Em verdade, Eu vo-lo digo: “Vinde a Mim todos os que estais
angustiados, desgostosos, com o coração ferido, cansados, e Eu compartilharei
da vossa dor e vos darei paz. Vinde, por meio dos meus apóstolos, por meio dos
meus discípulos e discípulas, que cada dia aumentam com novos voluntários.
Encontrareis o consolo em vossas dores, companhia em vossas solidões, o amor
dos irmãos para fazer-vos esquecer o ódio do mundo, encontrareis como mais alto
do que todos, como mais consolador do que todos, como o companheiro perfeito: o
amor de Deus.
Não duvidareis de mais
nada. E nunca mais direis: “Para mim tudo acabou!” Mas direis: “Tudo para mi
está começando, num mundo sobrenatural, que abole as distâncias e acaba com as
separações”, e pelo qual os filhos órfãos serão reunidos aos seus pais, levados
ao seio de Abraão, e os pais e as mães, as esposas e os viúvos, reencontrarão
os filhos perdidos, e o consorte perdido.
Nesta terra da Judéia,
aqui perto de Belém de Noemi, Eu vos lembro que o amor alivia a dor e traz
alegria. Olhai vós que estais chorando, para a desolação de Noemi, depois que
sua casa ficou sem homens. Ouvi suas palavras de desconsoladas despedidas a órfã
e a Rute: “Voltai daqui para a casa de vossa mãe. Que o Senhor use de
misericórdia convosco, como vós usastes para com aqueles que morreram e para
comigo...” Ouvi as suas cansadas insistências. Já não esperava mais nada da
vida aquela que, tempos atrás, era a bela Noemi, e que agora era a trágica
Noemi, esmagada pela dor, só esperava voltar aos lugares em que tinha sido
feliz no tempo de sua juventude, entre o amor do marido e os beijos dos filhos,
para lá morrer. Ela dizia: “Ide, ide. É inútil ficar comigo... Eu estou como
morta... Minha vida já não é mais aqui, e sim lá na outra vida, onde eles
estão. Não sacrifiqueis mais a vossa juventude ao lado de uma coisa que está
morrendo. Porque realmente eu sou “uma coisa”. Tudo me é indiferente. Deus me
tomou tudo. Eu sou uma angústia. E faria a vossa angústia, e está me pesaria no
coração. E o Senhor me pediria contas. Ele, que tanto já me feriu, porque
ter-vos vivas junto de mim já morta, seria um egoísmo meu. Portanto, ide para
vossas mães...”
Mas Rute ficou para
consolar aquela dolorosa velhice. Rute havia compreendido que há dores sempre
maiores do que a nossa, e que sua dor de jovem viúva era menor do que da mulher
que havia perdido, além do marido, os dois filhos; assim como a dor do menino
órfão, que se vê obrigado a viver pedindo esmolas, sem receber nunca mais as
carícias, e nunca mais os bons conselhos, é bem maior do que a da mãe privada dos
filhos; assim como a dor de quem, por um complexo de motivos, chega a ter ódio
do gênero humano, e vê em cada homem um inimigo, que ele deve temer e do qual
se defender é ainda maior do que as outra dores, porque envolve, não somente a
carne, o sangue e a mente, mas até o espírito com os seus deveres e direitos
sobrenaturais, e o leva a perder-se. Quantas mães sem filhos, e filhos sem mãe
há neste mundo! Quantas viúvas sem prole existem, para terem piedade das
velhices solitárias! Quantos há, que ficaram privados de seus amores, para se
dedicarem totalmente aos infelizes, segundo a necessidade que sentem de amor,
combatendo assim o ódio, dando-se a si, dando sempre amor à Humanidade infeliz,
que está sempre mais sofrendo, porque está sempre odiando.
A dor é cruz, mas
também é asa. O luto despoja, mas é para revestir. Levantai-vos vós que estais
chorando! Abri os olhos, saí de vossos pesadelos, saí das trevas, dos egoísmos!
Olhai... O mundo é como uma terra árida e inculta, onde se chora e se morre. E
ele grita: “Acudi-me!” O mundo grita pela boca dos órfãos, dos doentes, dos que
estão sozinhos, dos que não sabem o que fazer, e pelas bocas daqueles que uma
traição ou uma crueldade tornaram prisioneiros do rancor. Ide a estes que estão
gritando. Esquecei-vos entre os esquecidos. Fazei a cura entre os doentes!
Esperai entre os desesperados. O mundo está aberto ás vontades de servir a Deus
no próximo e de se conquistar o Céu: a união com Deus e a reunião com aqueles
pelos quais choramos. Aqui é o campo das competições. Lá está o triunfo.
Vinde. Imitai Rute,
estando ao lado de todas as dores. Dizei, vós também: “Eu estarei convosco até
á morte.” E se vos responderem estas desventuras que se julgam incuráveis: “Não
me chameis Noemi, mas chamai-me Mara, porque Deus me cumulou de amarguras”,
persisti. E Eu, em verdade, vos digo que um dia, pela vossa persistência nessas
desventuras ainda exclamarão: “Seja bendito o Senhor, que tirou minha amargura,
minha desolação, minha solidão, por obra de uma criatura, que soube fazer sua
dor produzir frutos bons. Deus a abençoe para sempre, porque ela foi a minha
salvadora.”
O ato bom de Rute para
com Noemi, pensai nisso, deu ao mundo o Messias, porque de Davi, filho de Isaí,
filho de Obed veio o Messias, como Obed de Booz, Booz de Salmon, Salmon de
Naasson, Naasson de Aminadab de Aram, Aram de Esron, Esron de Farés, e eles
vieram para povoar os campos de Belém, preparando os antepassados do Senhor.
Todo ato bom dá origens a grandes coisas nas quais vós nem pensais. O esforço
de alguém contra o seu egoísmo, pode provocar uma tal onda de amor, que é capaz
de subir, subir conservando em sua pureza aquele que a provocou, até o ponto de
levá-lo ao pé do altar, ao coração de Deus.
Deus vos dê a paz.”
(O Evangelho como me
foi revelado – Maria Valtorta – Vol 3, pg 363 a368)
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