“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO







A PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO



Mas as pessoas já estão se reunindo no pequeno jardim da casa do Elias, e estão reclamando a palavra do Mestre. E, ainda que Jesus não esteja muito disposto a fazê-lo, entristecido como está por causa da prisão do Batista e pelo modo como ela foi feita, contudo Ele se dá por vencido e, á sombra das árvores, começa a falar.
“Ainda neste belo tempo dos trigais que estão soltando espigas, Eu vos quero propor uma parábola, tomada dos grãos. Ouvi-a.
O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente em seu campo. Mas, enquanto o homem e sés empregados dormiam, veio um inimigo dele, espalhou sementes de joio nos sulcos e foi-se embora. A principio ninguém percebeu nada. Veio o inverno com as chuvas e as geadas, veio o fim do mês de Tebet, e as sementes germinaram. Era um verdor de grandes folhas tenras, que mal vinham despertando. Em sua infância inocente, pareciam todas iguais. Veio o mês de Shebat, depois o de Adar, e as plantas se formaram, e começaram a mostrar suas espigas. Aí é que se viu que aquele verdor não era só do trigo, mas também do joio, que estava bem enroscado, com seus tentáculos, fininhos e pegajosos, nas hastes do trigo.
Ao verem isso, os empregados foram à casa do patrão e lhe disseram: “Senhor, que semente foi que semeaste? Não foi uma semente escolhida, separada de quaisquer outras sementes, que não fossem as do trigo?”
“Certamente que foi. Eu escolhi os grãos todos iguais em sua formas. E, se houvesse outras sementes, eu as teria visto.”
“E, como é, então, que nasceu tanto joio no meio do trigo.”
O Patrão pensou, depois disse: “Algum inimigo meu fez isso para prejudicar-me.”
E os empregados ainda lhe perguntaram: “Não queres que nós vamos por entre os sulcos e, com paciência, apanharemos as espigas do joio e arrancaremos. Manda que iremos fazer.”
Mas o patrão lhes respondeu: “Não. Vós poderíeis ao fazer o que dizeis, arrancar junto o trigo e, quase com certeza, ofenderíeis as espigas ainda tenras. Deixai, pois que um e outro fiquem juntos até o fim da colheita. Naquela ocasião, eu direi aos ceifadores: “Passai a foice em tudo junto; depois, antes de amarrar os feixes, agora que a secura do tempo tornou quebradiças as hastes do joio e que, ao mesmo tempo já estão bem formadas e duras as espigas, agora sim, separai o joio do trigo, e fazei com ele uns feixes à parte. E vós os queimareis depois, e eles vão servir de adubo para o solo. Ao mesmo tempo, vós levareis o trigo puro para os celeiros, e ele vai servir para se fazer um pão muito bom, e para humilhar o inimigo, que só terá ganhado isto: ficar abjeto aos olhos de Deus pelo seu ódio.”
Agora, refleti entre vós como frequentemente acontece, e como é grande a semeadura do Inimigo em vossos corações. E compreendei como é preciso vigiar, com paciência e constância, para fazer que seja pouco o joio que se misture ao trigo escolhido. A sorte do joio é ser queimado. Quereis vós ser queimados, ou tornar-vos cidadãos do Reino? Pois bem. Que saibais sê-lo. O bom Deus dá a Palavra. O Inimigo está vigiando para torná-la nociva, por que a farinha de trigo misturada com a farinha de joio dá um pão amargo e que faz mal ao estômago. Que saibais com boa vontade, se houver joio em vossa alma, separá-lo para jogá-lo fora, a fim de que não sejais indignos de Deus.
Ide meus filhos. A paz esteja convosco.”
As pessoas vão-se afastando lentamente. No pequeno jardim ficaram os oito apóstolos com Elias, seu irmão, a mãe e o velho Isaac, que sente sua alma alimentar-se, quando olha para seu Salvador.
“Vinde ao redor de Mim, e ouvi. Eu vos explico o sentido completo da parábola, que tem ainda dois aspectos. Além daquele de que Eu falei à multidão.
Em um sentido universal, a parábola tem esta aplicação: o campo é o mundo. A semente boa são os filhos do Reino de Deus, semeados por Deus sobre o mundo, à espera de chegarem ao seu limite, quando serão cortados pela Falcífera, e levados ao Dono do mundo, para que os coloque de novo em seus celeiros. O joio são os filhos do Maligno, espalhados, por sua vez, pelo campo de Deus, com a intenção de causar tristeza ao Dono do mundo e de estragar as espigas de Deus. O Inimigo de Deus o semeou de propósito, por meio de um sortilégio, porque o diabo verdadeiramente desnatura o homem, até fazer dele uma criatura sua, e esta semeia, para levar para fora do caminho a outros, que ele não foi capaz de tornar seus escravos de outro modo. A colheita, ou melhor, a formação dos feixes e o transporte dos mesmos até os celeiros é o fim do mundo. E os que fazem essa tarefa são os anjos. A eles foi mandado que reúnam as criaturas cortadas, e separem o trigo do joio e, como na parábola este é queimado, assim serão queimados no fogo eterno os condenados, no Juízo Final.
O Filho do homem mandará que sejam tirados do seu Reino todos os causadores de escândalos e de iniqüidades. Porque então o Reino será no Céu e na terra, e entre os cidadãos do Reino na terra estarão misturados muitos filhos do Inimigo. Estes atingirão, como foi dito também pelos Profetas, a perfeição do escândalo e da abominação em todos os ministérios da terra, e darão grandes aborrecimentos aos filhos do espírito. No Reino de Deus, nos Céus, já terão sido expulsos os corruptos, porque a corrupção não entra no Céu. Agora, pois, os anjos do Senhor, impunhando a foice por entre as fileiras da última colheita, cortarão e separarão o trigo do joio, e jogarão este na fornalha ardente, onde há choro e ranger de dentes, mas levando consigo os justos, o trigo escolhido, para a Jerusalém Eterna, onde eles brilharão como sóis no Reino de meu e vosso Pai.
Isto no sentido universal. Mas para vós há um outro ainda, e vem responder às perguntas que, especialmente como ontem à tarde, costumais fazer. Vós estáveis perguntando a vós mesmos: “Mas, então, no meio do grupo dos discípulos pode existir traidores?”, e tremeis de horror e de medo em vossos corações. Eles podem existir. Disso Eu estou certo.
O semeador espalha a boa semente. Neste caso, mais do que espalhar, poder-se-ia dizer que ele “colhe”. Porque o Mestre, que seja Eu ou que tenha sido o Batista, havia escolhido os seus discípulos. Como foi que houve extraviados? Não, mas pelo contrário, eu falei mal quando chamei os discípulos de sementes. Vós poderíeis entender-me mal. Eu vou chamá-los, então de “campo”. Tantos discípulos, tantos campos escolhidos pelo Mestre para formarem a área do Reino de Deus, os bens de Deus. Com esses o Mestre se afadiga, para cultivá-los, a fim de que produzam cem por cento. Ele toma todos os cuidados. Todos. Com paciência. Com amor. Com sabedoria. Com canseiras. Com constância. Ele olha também as tendências más deles. A aridez e a cobiça deles. Vê as teimosias e fraquezas deles. Mas, fica esperando, espera sempre, e fortalece a sua esperança com a oração e a penitência, porque os quer levar a perfeição.
Mas os campos estão abertos. Não são um jardim fechado, cercado por muros como uma fortaleza, do qual só o mestre é o dono, e no qual só ele pode penetrar. Estão abertos. Colocados no centro do mundo, no meio do mundo e todos podem aproximar-se deles, todos podem entrar neles. Todos e tudo. Oh! Oh! Mas não é só o joio que é a semeadura. O joio: este poderia ser o símbolo da leviandade amarga do espírito do mundo. Mas aí nascem, lançados pelo inimigo, todas as outras sementes. Aí estão as urtigas. Aí as tiriricas. Aí as cuscutas. Aí os cipós-chumbo. Aí, enfim as cicutas e os tóxicos. Por que? Por que? Que são eles?
As urtigas: são os espíritos irritantes, indomáveis, que ferem, por uma superabundância de venenos, e causam tanto mal-estar.
As tiriricas significam os parasitas que esgotam o mestre, pois só sabem rastejar e sugar, aproveitando-se do trabalho dele e prejudicando aos cheios de vontade, que certamente colheriam maiores frutos, se seu mestre não fosse perturbado e distraído pelos cuidados que dele exigem as tiriricas.
Os cipós-chumbo, inertes, que só se levantam do chão, aproveitando-se do trabalho dos outros.
As cuscutas são um tormento no caminho, já difícil, do mestre, e um tormento para os discípulos que o acompanham. Elas se agarram a nós, espetam, ferem, arranham, só causam desconfiança e sofrimento.
Os tóxicos: são os delinqüentes que estão entre os discípulos, aqueles que chegam a trair e a apagar a vida, como a cicuta e outras ervas venenosas. Por acaso, já tereis visto como elas são bonitas com as suas florzinhas, que depois se transformam em bolinhas brancas, vermelhas ou roxo azuladas? Quem diria que aquela corola estrelada, cândida ou levemente rosada, com seu coraçãozinho de ouro, quem haveria de dizer que aqueles corais de todas as formas, tão parecidos com aquelas frutinhas que são a delícia dos passarinhos e das crianças, sejam capazes de, quando maduras, dar a morte? Ninguém. Mas os inocentes aí caem. Crêem que todos são bons como eles... colhem os frutos, comem e morrem.
Acham que todos são bons como eles! Oh! que verdade que sublima o mestre e condena o seu traidor! Como? A bondade não desarma? Não torna inofensivo o querer-mal? Não. Não torna mais assim, porque o homem que tombou como presa do Inimigo, tornou-se insensível a tudo o que é superior. E tudo o que é superior muda de aspecto para ele. A bondade é vista como uma fraqueza, em que é permitido pisar, e refina sua má vontade, refina o desejo de degolar, como em uma fera, só com o sentir cheiro de sangue. Também o mestre é sempre um inocente, e deixa que seu traidor o envenene, porque não quer, e não deixa os outros pensar que um homem seja capaz de dar a morte a quem é inocente.
Dos discípulos, que são os campos do mestre, é que vêm os inimigos. E são muitos. O primeiro é Satanás. Os outros são os servos dele, isto é, os homens, as paixões, o mundo e a carne. Aí está o discípulo mais fácil de ser atingido por eles, porque ele não está completamente ao lado do Mestre, mas está em cima do muro, entre o Mestre e o mundo. Ele não sabe, não quer separar-se completamente das coisas do mundo, da carne, das paixões e do demônio, para estar completamente com quem o leva para Deus. Sobre ele o mundo e a carne, as paixões e o demônio espalham suas sementes. O ouro, o poder, a mulher, o orgulho, um medo de ser mal julgado pelo mundo e um espírito de utilitarismo. “Os grandes é que são os mais fortes. E por isso eu os sirvo, para tê-los como amigos.” E se tornam delinqüentes e condenados por causa de coisas tão mesquinhas!
Por que o Mestre, que está vendo a imperfeição do discípulo, ainda que não queira render-se a este pensamento: “Este vai ser o meu matador”, não o elimina imediatamente do meio dos discípulos? Isto vós perguntais porque é inútil fazer isso. Se o fizesse não impediria que ele continuasse seu inimigo e agora dupla e prontamente seu inimigo, pela raiva ou pela dor de ter sido descoberto, ou por ser expulso. Dor. Sim. Porque às vezes o mau discípulo não percebe que o é. É tão sutil a obra do demônio, que ele nem a percebe. Ele fica endemoninhado, sem nem suspeitar de que está sendo submetido a essa operação. Raiva. Sim. Raiva por estar sendo conhecido pelo que realmente é, quando ele não está inconsciente do trabalho de Satanás, e de seus adeptos: são os homens que tentam o fraco em suas fraquezas, para tirar do mundo o santo, que, só por sua santidade, comparada ás maldades deles, já os ofende. E, então, o santo ora e se abandona a Deus. “O que Tu permites se faça, seja feito”, diz ele. Somente acrescenta esta cláusula: “Contanto que sirva para o teu fim.” O santo sabe que virá a hora em que serão expulsos de suas colheitas os joios daninhos. Por quem? Pelo mesmo Deus, que não permite nada além do que é útil para o triunfo de sua vontade de amor.”
“Mas, se Tu admites que sempre é Satanás e os adeptos dele, parece que a responsabilidade do discípulo diminua”, diz Mateus.
“Nem penses nisso. Se o Mal existe, existe também o bem. E existe no homem o discernimento e, com ele a liberdade.”
“Tu dizes que Deus não permite nada além de tudo que é útil para o triunfo de sua vontade de amor. Portanto, também esse erro é útil, se Ele o permite, e serve para um triunfo da vontade divina”, diz Iscariotes.
“E tu argumentas, como Mateus, que isto justifica o delito do discípulo. Deus havia criado o leão sem ferocidade e a serpente sem veneno. Agora, um é feroz e a outra venenosa. Mas Deus os separou do homem por isso. Medita sobre isso e tira as conclusões. Vamos para casa. O sol já está forte demais. Parece que vem aí o começo de um temporal. E vós estais cansados por causa de uma noite sem dormir.”
“A casa tem uma sala alta, bem ampla e fresca. Nela podereis repousar”, diz Elias.

(O Evangelho como me foi revelado – Maria Valtorta –Vol 3 – pg. 170 a 176)

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