APARIÇÃO DE JESUS RESSUSCITADO NO CENÁCULO
Questionado pelos
Apóstolos do porque apareceu primeiro à sua Mãe, à Maria Madalena e para Lázaro
antes deles, recebem a resposta justa pelo orgulho aflorado em seus corações
hebreus.
(O Evangelho como me foi revelado – Maria Valtorta –
Vol. 10 –pg. 269 a 273)
“Mas
eles receberam um grande prêmio...”
“A
eles Tu apareceste.”
“A
todos os três.”
“Mas
à Maria logo depois de tua mãe...”
Está
claro como entre os Apóstolos havia uma saudade daquelas aparições de
privilégio.
“Maria,
já há muitas horas que sabe que ressuscitaste. E nós só agora é que estamos
podendo ver...”
“Para
eles não há mais dúvidas. Mas, para nós, eis que somente agora é que estamos
percebendo que nada acabou. Porque assim fazes com eles Senhor, se ainda nos
amamos e não nos repudias?”, pergunta o Judas do Alfeu.
“É
verdade. Porque tratar assim às mulheres, e especialmente a Maria. Tu até
tocaste na fronte dela, e ela diz que lhe parece estar sempre com uma grinalda
eterna. E a nós, os teu Apóstolos, nada?”
Jesus
não sorri mais. Seu rosto não esta perturbado, mas seu sorriso cessou. Ele olha
sério para Pedro, que falou por último, tornando a encher-se de coragem, à
medida que o medo e o tempo vão passando, e diz: “Eu tinha Apóstolos. Eu os
amava com todo o meu coração. Eu os havia escolhido, e, como uma mãe, havia
tomado cuidado para que eles crescessem durante a minha vida. Eu não tinha
segredos com eles. Eu lhes dizia tudo, tudo lhes explicava, tudo perdoava. Mas
suas fraquezas humanas, suas ousadias, suas teimosias... tudo. E Eu tinha
também discípulos. Uns ricos e outros pobres. Tinha mulheres de um passado sem
brilho ou de uma constituição débil. Mas meus prediletos eram os Apóstolos.
E
assim chegou a minha hora. Um deles me traiu e me entregou aos verdugos. Três
deles ficaram dormindo, enquanto Eu suava sangue. Todos, menos dois, fugiram
por vileza. Um me renegou por medo, ainda que estivesse vendo o exemplo do
outro, jovem e fiel. Em como se isso não bastasse, entre os doze Eu tive um
suicida desesperado, e um que duvidou tanto do meu perdão, que não acreditava
facilmente, ou pelas palavras de sua mãe, na misericórdia divina. Assim, se Eu
tivesse olhado para minha fileira, com olhos humanos, Eu teria devido dizer:
“Menos João, fiel por seu amor, e o Simão, fiel na obediência, Eu não tenho
mais Apóstolos.” Isto Eu teria devido dizer, enquanto estava sofrendo no
recinto do Templo, no Pretório, pelas ruas da cidade e até já sobre a Cruz.
Algumas
mulheres me acompanhavam... Uma delas, a mais culpada no passado, foi, como
disse João, a chama que soldou as fibras arrebentadas dos corações. Essa mulher
é Maria de Magdala. Tu me renegaste e fugiste, enquanto que ela desafiou a
morte para estar perto de Mim. Insultada, ela descobriu o seu rosto, pronta
para receber a cusparada e as bofetadas, pensando em ser assim semelhante a seu
Rei crucificado. No fundo dos corações ela era escarnecida por sua fé firme na
minha Ressurreição, e soube continuar a crer. Torturada, foi assim que
continuou a agir. Desolada, nesta manhã ela disse: “De tudo eu me despojo, mais
dai-me o meu Mestre.” Podes fazer ainda a ousada pergunta: “Porque dar-se a
ela?”
Eu
tinha unas discípulos pobres, eram pastores. Pouco Eu me aproximei deles, e, no
entanto, como souberam eles proclamar sua fidelidade.
Eu
tinha discípulas tímidas, como o são todas as mulheres hebréias. Contudo, elas
souberam deixar suas casas e vir para o meio do mar de um povo que blasfemava
contra Mim, e elas o faziam para me darem aquele socorro que os Apóstolos ma
haviam negado.
Eu
tinha umas pagãs que me admiravam, como a um filósofo. Pois para elas Eu o era.
Mas souberam descer até aos costumes hebreus, aquelas poderosas romanas, a fim
de me dizerem, naquelas horas de abandono por parte de um mundo de ingratos:
“Nós somos tuas amigas.”
Eu
tinha o rosto cheio de cuspiduras e de sangue, Lágrimas e suor gotejavam sobre
as feridas. Sujeira e poeira o cobriam como uma crosta. De quem era a mão que
me limpou? Foi a tua? Ou atua? Ou a tua? Não foi nenhuma das vossas mãos. Este
homem estava perto da Mãe. Ele é que reunia as ovelhas espalhadas. E, se
espalhadas estavam as minhas ovelhas, como é que elas podiam socorrer-me? Tu
escondias o teu rosto por medo do desprezo do mundo, enquanto o teu Mestre ia
indo coberto pelo desprezo de todo o mundo, sendo Ele inocente.
Eu
tinha sede. Sim. Leva em conta também isso. Eu estava morrendo de sede. A febre
e a dor se haviam apoderado de Mim. Já havia saído sangue de Mim no Getsêmani,
pela dor de ser traído e abandonado, negado, açoitado, submergido por culpas
infinitas e pelo rigor de Deus. E também no Pretório correu sangue... Quem foi
que quis dar-me uma gota dӇgua para minha garganta que ardia de sede? Teria
sido uma mão de Israel? Não. Foi a piedade de um pagão. Aquela mesma mão que,
por um decreto eterno, me abriu o peito para mostrar que o coração já tinha uma
ferida mortal, e era aquela que a falta de amor, que a vileza, a traição me
haviam feito. Foi um pagão. E Eu vos faço lembrar. “Eu tive sede, e me deste de
beber.” Em todo Israel não houve um que me desse um conforto, ou pela
impossibilidade de fazê-lo, como a Mãe e as mulheres, ou, pela má vontade de
fazê-lo. E um pagão foi quem teve para com o desconhecido a piedade que meu
povo me negou. Ele encontrou no Céu aquele sorvo que ele me deu.
Em
verdade, Eu vos digo que, se Eu recusei todo conforto, porque quando não convém
abrandar a sorte, e Eu não quis rechaçar o que o pagão me oferecia, porque naquilo
Eu provei o mel de todo amor com que me brindarão os gentios, em recompensa
pela amargura que Israel me fez beber. Ele não me tirou a sede. Mas o
desconforto sim. Por isso, Eu tomei aquele sorvo, sem saber o que era. Para
atrair a Mim aquele que já estava inclinado para o Bem. Que ele seja abençoado
pelo Pai por sua piedade.
Vós
não falais mais? Porque é que não perguntais também porque é que Eu agi assim?
Não tendes coragem de perguntar isso? Então Eu vo-lo irei dizer. Tudo Eu vos
direi sobre o porque desta hora. Quem é que sois vós? Não sois os meus
continuadores? Sim. Vós sois, apesar da vossa perturbação. Que é que deveis
fazer? Converter o mundo para o Cristo. Converter! Isto é o que há de mais
delicado e difícil, meus amigos. Os desprezos, as aversões, os orgulhos, os
zelos exagerados, tudo isso são coisas que tornam impossível o bom êxito. Mas
como nada e ninguém vos teria persuadido a usar da bondade da condescendência
da caridade, para com aqueles que estão nas trevas, então foi necessário. Compreendeis?
Foi necessário que vós tivésseis uma vez por todas, esmagado o vosso orgulho de
hebreus, de homens, de Apóstolos, para dardes lugar somente à verdadeira
sabedoria do vosso ministério, isto é, à mansidão, à paciência, à piedade, ao
amor sem fanfarrices, nem aversões.
Vós
estais vendo como todos vós venceram na fé e no agir, entre aqueles que vós
olháveis com desprezo, ou com uma compaixão orgulhosa. Todos, até a pecadora de
outros tempos. Até Lázaro, impregnado de uma cultura profana, foi o primeiro
que, em meu Nome, perdoou e guiou. E as mulheres pagãs. A enfraquecida mulher
do Cusa. Enfraquecida? Mas, na verdade, ela ganha de todos vós. Ela é a
primeira mártir da minha fé. E os soldados de Roma. E os pastores. E o
herodiano Manaém. E até o Gamaliel, o rabino. Não te fiques estremecendo, João.
Pensas tu que o meu espírito ainda estivesse nas trevas? Todos vós pensáveis
assim. E isso aconteceu convosco para que amanhã, lembrando-vos do vosso erro,
não fecheis o coração para os que se aproximam da Cruz.
Eu
vo-lo digo. E Eu já sei que, ainda que Eu o tenha dito, vós não o fareis, a não
ser quando a Força do Senhor vos dobrar, como uma varinha, à minha vontade, que
é a de ter cristãos por toda a Terra. Eu venci a morte. Mas ela é menos dura do
que o velho hebraísmo. Mas Eu vos dobrarei.
Tu
Pedro, em vez de ficares envilecido e chorando... tu que deves ser a Pedra da
minha Igreja, grava esta amarga verdade no coração. A mirra é usada para
preservar da corrupção. Então, impregna-te de mirra. E, quando quiseres fechar
o coração e a Igreja à alguma pessoa de outra fé, lembra-te de que não Israel,
não foi Israel que me defendeu e quis ter piedade. Lembra-te de que não tu, mas
uma pecadora é que soube ficar ao pé da Cruz, e mereceu ver-me por primeira. E,
para não seres digno de censura, sê imitador do teu Deus. Abre o coração e a
Igreja dizendo: “Eu, o pobre Pedro, não posso desprezar, porque se eu
desprezar, serei desprezado por Deus, e o meu erro se tornará vivo aos olhos
Dele.” Ai de ti, se Eu não te tivesse despedaçado assim. Não o serias um
pastor, mas terias virado um lobo.”
Jesus
se levanta. Ele está muito majestoso.
“Meus
filhos. Agora Eu falarei, durante o tempo em que Eu estiver entre vós. Mas,
enquanto isso, Eu vos absolvo e perdôo. Depois da prova, que foi aviltante e
cruel, mas que também foi salutar e necessária, venha a vós a paz do perdão. E
com essa paz no coração tornai-vos meus amigos fiéis e fortes. O Pai me mandou
a este mundo. E Eu vos mando pelo mundo, a fim de continuardes a minha evangelização.
Misérias de toda sorte virão sobre vós, pedindo alívio. Sede bons, pensando em
vossa miséria, quando ficastes sem o vosso Jesus. Sede iluminados. Nas trevas
não se pode ver. Sede limpos, para ensinardes a limpeza. Sede amor, para
poderdes amar. Mas enquanto ele não chega, a fim de preparar-vos para este
ministério, Eu vos comunico o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados,
estarão perdoados. E a quem os retiverdes, ficarão retidos. A vossa experiência
vos faça justos, para julgardes. O Espírito Santo vos faça santos, para
santificardes. A vontade sincera de corrigir-vos de vossas faltas vos torne
heróicos para a vida que vos espera. Tudo o que está por dizer, Eu vo-lo direi,
quando aquele que está ausente tiver chegado. Rezai em Nome dele. Permanecei em
minha paz, e sem nenhuma ansiedade ou dúvida sobre o meu amor por vós.”
E
Jesus desaparece, como havia entrado, deixando entre João e Pedro um lugar
vazio. E Ele desaparece no meio de um vivo clarão, que os faz fechar os olhos,
de tão forte que ele é. E quando os olhos ofuscados se abrem, eles verificam
somente que a paz de Jesus ficou entre eles, como uma chama que queima e que
cura, que consome as amarguras do passado, e as transforma em um único desejo
de servir.
O
EVANGELHO COMO ME FOI REVELADO – MARIA VALTORTA
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