A GRUTA
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Entrai, diz o Mestre levantando a pequena luz. Entrai. Este é o quarto onde
nasceu o Rei de Israel.
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Estás brincando, Mestre! Isto aqui é uma fétida caverna. Ah! Eu aqui não fico
mesmo! Tenho nojo de tudo isso. Este lugar é úmido, frio, fétido, cheio de
escorpiões, e talvez até de serpentes...
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Contudo... Amigos, aqui, na noite do dia 25, das Encênias, da Virgem nasceu
Jesus Cristo, o Emanuel, o Verbo de Deus feito Carne por amor do homem: Eu, que
vos falo. Também naquele tempo, como hoje, o mundo se fez surdo às vozes do
Céu, que falavam aos corações... e rejeitou a mãe... e aqui... Não, Judas, não
desvies com desgosto o teu olhar daquelas corujas esvoaçantes, daquelas
lagartixas, daquelas teias de aranha, e não soergas com repugnância a tua
bonita veste bordada para que não se arraste no chão, que está coberto de
excrementos dos animais. Aquelas corujas são as filhas das filhas daquelas que
foram os primeiros brinquedos sacudidos diante dos olhos do Menino, para o qual
os anjos cantavam o “Glória” ouvido pelos pastores, não embriagados, senão por
uma alegria extática, uma verdadeira alegria. Aquelas lagartixas, com sua cor
de esmeralda, foram as primeiras cores que passaram pelas pupilas de meus
olhos, as primeiras, depois do candor do rosto e das vestes de minha mãe.
Aquelas teias de aranha foram dossel de meu berço real. Este chão... oh! tu o
podes pisar sem desprezo... Ele está coberto de excrementos, mas está
santificado pelos pés dela, a santa, a grande santa, a pura, a inviolada, a
puérpera deípara, aquela que deu à luz porque devia dar à luz, deu à luz,
porque Deus, não o homem, lhe mandou, e a fez ficar grávida de si. Ela, a sem
mácula, pisou neste chão. Tu o podes pisar. E, pela planta dos teus pés, queira
Deus que te suba ao coração a pureza por ela aqui derramada...
Simão
está ajoelhado. João vai diretamente à manjedoura, e chora com a cabeça nela
apoiada. Judas está estarrecido... Depois é vencido pela emoção e, sem mais
pensar em sua bonita veste, prostra-se no chão, segura a ponta da veste de
Jesus, a beija e bate no peito, dizendo:
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Oh! Misericórdia, bom Mestre, da cegueira do teu servo! Minha soberba cai por
terra... eu Te vejo como és. Não o rei que eu pensava. Mas o Príncipe eterno, o
Pai do século futuro, o Rei da paz. Piedade, meu Senhor e meu Deus! Piedade!
-
Sim. Toda a minha piedade! Agora vamos dormir onde dormiu o Infante e a virgem,
onde João tomou agora o lugar da mãe em adoração, onde Simão está parecendo o
meu pai adotivo. Ou, se assim preferis, Eu vos falarei daquela noite...
-
Oh! Sim, Mestre. Faze-nos conhecer o teu florescer!
-
Para que seja uma pérola de luz em nossos corações. E para que o possamos
narrar ao mundo.
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E venerar tua mãe, não somente por ser mãe, mas por ser... Oh! Por ser a
virgem! Primeiro falou Judas, depois Simão e, por fim João, com um rosto que
está chorando e rindo, lá junto à manjedoura!...
-
Vinde sobre o feno. Ouvi... e Jesus narra como foi a noite do seu nascimento.
“... estando a mãe já perto do tempo de dar à luz, foi, por ordem de César
Augusto, feito um edito pelo delegado imperial Públio Sulpício Quirino, quando
era governador da Palestina Sêncio Saturnino. O edito era: que se fizesse o
recenseamento de todos os habitantes do Império. Aqueles que não fossem
escravos deviam ir para os seus lugares de origem, para se inscreverem nos
registros do Império. José, esposo da mãe, era da estirpe de Davi, e de Davi
era a mãe. Obedecendo, por isso, ao edito, deixaram Nazaré para virem até
Belém, berço da estirpe real. O tempo estava frio...”.
Jesus
continua a narração e tudo cessa neste ponto.
(de
Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi revelado, Vol 1)
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