MARIA DE ÁGREDA – DO LIVRO: MÍSTICA CIDADE DE DEUS
Prossegue o
mistério da concepção de Maria Santíssima, com a segunda parte do Cap. 21 do
Apocalipse.
Esta vingança da ira do Omnipotente (Ap
15,1) acontecerá nos últimos séculos do mundo. Castigo tão novo que nem antes
nem depois na vida terrestre se verá outro maior. … Ainda que os enigmas do
Apocalipse encubram seu rigor, ai dos infelizes sobre quem eles caírem. Ai de
mim que ofendi a Deus, tão forte e poderoso para punir. Fico atônita só com o
conhecimento e a ameaça de tal calamidade.
Assim arrebatado diz: Mostrou-me a cidade
santa de Jerusalém que descia do Céu (v. 10) construída não na Terra, onde era
estrangeira e peregrina, mas no Céu. Lá não pôde ser fabricada com materiais
comuns de pura Terra, ainda que desta haja sido tomada a Sua natureza. Esta
Mística Cidade foi conduzida ao Céu para lá ser construída ao modo celestial,
angélico e até Divino, semelhante à Divindade.
Teve a alma de Maria Santíssima tanta participação na Divindade e em
Seus atributos e perfeições, que se fosse possível vê-La em seu próprio ser,
pareceria iluminada com a claridade eterna do mesmo Deus. … Em vista de Sua
incapacidade, o entendimento criado só pode dizer que Maria Santíssima teve um
não sei quê de Divindade.
Assim, confessa a substância da verdade,
a ao mesmo tempo, a ignorância para explicar o que declara por verdadeiro. Em Sua formação recebeu Maria Santíssima a
variedade de virtudes e perfeições com as quais Deus compôs e teceu Sua alma,
toda semelhante a um cristal puríssimo. Sem sombras nem átomo de culpa, de Sua
claridade e pureza emite raios e reflexos de Divindade. Como o cristal, banhado
pelo Sol, parece encerrá-lo dentro de si e reproduz seus resplendores.
Entretanto, este cristalino jaspe tem sombras, porque é filha de Adão e pura
criatura. Tudo quanto tem do resplendor do Sol da Divindade, é participação
dela. Ainda que o pareça, não é o Sol Divino por natureza, mas por participação
e comunicação da Graça. É criatura, formada pela mão de Deus, mas para ser Mãe
Sua. Recebem os santos Anjos nomes
relativos ao ofício e ministério para os quais são enviados ao mundo. Por dentro era de puríssimo ouro, semelhante a
um vidro limpíssimo. Isto exprime que tanto na formação de Maria Santíssima,
como depois no decurso de Sua vida inocentíssima, jamais houve mácula que
obscurecesse Sua cristalina pureza. A mancha ou sombra, ainda que seja de um
átomo, que caísse no vidro ao ser fabricado, nunca mais desapareceria. Seria
sempre uma sombra em Sua transparência, claridade e pureza. Da mesma forma, se
Maria Santíssima em Sua conceição houvera contraído a mancha ou sombra do
pecado original, este sempre seria notado, e com esse defeito não poderia ser
vidro puro e limpíssimo. Tampouco seria ouro puro, pois Sua santidade teria
tido a liga do pecado original a diminuir seus quilates. Pelo contrário, foi de
ouro e vidro esta cidade, porque puríssima e semelhante à Divindade.
Contem a
última parte do Cap. 21 do Apocalipse sobre a concepção de Maria Santíssima.
Em nosso atribulado século, quando a
soberba dos hereges tanto se levanta contra Deus; quando Sua Igreja está tão
chorosa e aflita, com tão lamentáveis misérias, só há um único remédio:
voltarem-se os reinos e reis católicos à Mãe da Graça e misericórdia, Maria
Santíssima. Empenhem-nA com algum singular serviço no aumento de Sua devoção e
glória em toda a Terra. Da reforma e emenda de nossos pecados, seguir-se-á a
vitória contra os infiéis e extirpação das falsas seitas que oprimem a Santa
Igreja, pois Maria Santíssima é o cutelo que as degola e as extermina do mundo
inteiro. Atualmente, o mundo
experimentou o dano deste esquecimento. Se os príncipes católicos não alcançam
êxito no governo de seus reinos, na conservação e aumento da Fé Católica, no
combate de seus inimigos, nas guerras contra os infiéis, tudo sucede porque não
atinam com este norte para se guiarem. Não visaram Maria como princípio e fim
imediato de suas obras e pensamentos, esquecidos que esta Rainha anda pelos
caminhos da Justiça para ensiná-la, desejando levá-los por ela e enriquecer aos
que a amam. Ó Príncipe e Cabeça da santa
Igreja católica, ó Prelados, também chamados príncipes dela! - Ó católico
Príncipe e Monarca de Espanha, a quem por natural obrigação, por singular afeto
e por ordem do Altíssimo, dirijo esta humilde, porém, sincera exortação! - Lançai
vossa coroa e monarquia aos pés desta Rainha do Céu e da Terra; procurai a
Restauradora da humanidade, recorrei a quem, com o Poder Divino, está acima de
todo o poder dos homens e do inferno; voltai vossos afetos Àquela que tem em
Suas mãos as chaves da vontade e tesouros do Altíssimo; levai vossa honra e
glória a esta Santa Cidade de Deus que a deseja, não por precisar aumentar a
dEla, mas para melhorar e aumentar a vossa. - Oferecei-Lhe com vossa piedade
católica, e de todo o coração, algum grande e agradável obséquio, a cuja
recompensa estão ligados infinitos bens: a conversão dos gentios, a vitória
contra os hereges e pagãos, a paz e a tranquilidade da Igreja, nova luz e
auxílios para melhorar os costumes, e vos fazer grande e glorioso rei, nesta e
na outra vida. Ó monarquia da Espanha,
ditosa por ser Católica! Se à firmeza e zelo da Fé que, sem merecer, recebeste
da destra do Omnipotente, acrescentasses o santo temor de Deus exigido pela
profissão desta Fé, com que foste distinguida entre todas as nações do orbe! -
Oh! se para conseguir este fim e cúmulo de tuas felicidades, todos teus
moradores se enchessem de ardente fervor na devoção de Maria Santíssima!
Doutrina o que desejo de ti é que te
lembres: apesar de seres concebida em pecado, descendente da Terra e com
inclinações terrenas, nem por isso desanimes no combate contra as paixões até
vencê-las, e com elas a teus inimigos. Auxiliada com a força da Graça do
Altíssimo, podes elevar-te sobre ti mesma e vir a ser descendente do Céu, donde
procede a Graça.
… e para não faltares a ela trabalha em mortificar a
parte inferior da natureza, onde vivem as funestas inclinações e paixões. Morre
a tudo o que é da Terra, sacrifica diante do Altíssimo todos os teus apetites
sensitivos, e em nenhum satisfaças, nem sigas tua vontade, sem permissão da
obediência. Não deixes o segredo do teu interior onde serás iluminada pela
lâmpada do Cordeiro.
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