MARIA DE ÁGREDA – DO LIVRO: MÍSTICA CIDADE DE DEUS
(Continuação do artigo anterior)
Como o
Altíssimo manifestou aos santos Anjos o tempo determinado e oportuno da
Concepção de Maria Santíssima e os que atribuiu para a Sua guarda.
Ficou
dito acima que para Deus não há passado nem futuro, porque tudo vê presente em
Sua mente infinita, e tudo conhece com um ato simplicíssimo. Já é tempo que comecemos a obra de nosso
beneplácito, e criemos aquela pura criatura, que achará graça a Nossos olhos
acima de todas as outras. Criemos uma
alma segundo nossos desejos, fruto de nossas perfeições, prodígio de nosso
infinito poder, sem ser ofendida nem tocada pela mácula do primeiro pecado.
Seja imagem e semelhança unicamente de
nossa Divindade e permaneça em nossa presença por toda a eternidade, para a
plenitude de nosso beneplácito e agrado. Nela depositaremos todas as
prerrogativas e graças que, em nossa primeira e condicional vontade, tínhamos
destinado para os Anjos e homens, se tivessem conservado no primeiro estado.
Entre
estes, o mais singular benefício e a maior honra será não sujeita- la à malícia
de nossos inimigos; por isto, será livre da morte da culpa. Este foi o decreto que as três Divinas Pessoas
manifestaram aos santos Anjos, exaltando a glória e veneração de Seus
Santíssimos, altíssimos e inescrutáveis desígnios. Chegou o tempo - acrescentou Sua Majestade -
determinado por nossa providência, para fazer surgir a criatura mais agradável
e aceite a nossos olhos: a restauradora da primeira culpa da estirpe humana,
aquela que esmagará a cabeça do dragão; singular mulher que em Nossa presença
apareceu como um grande sinal (Ap 12,1), e que há de vestir de carne humana ao
eterno Verbo.
Ainda que Sua geração e formação hão de ser pela ordem comum da
natural propagação, seja diferente na ordem da Graça, segundo a disposição de
Nosso imenso poder. Conheci, nesta
ocasião, que desde aquela grande batalha travada no Céu entre São Miguel e o
dragão com seus aliados (Ap 12,7); depois da qual estes foram lançados às
trevas exteriores, e os vitoriosos exércitos de São Miguel confirmados na graça
e glória; começaram estes santos espíritos a pedir o cumprimento dos mistérios
da Encarnação que então conheceram. Nestas petições contínuas perseveraram, até
a hora que Deus lhes manifestou o cumprimento de seus desejos e súplicas.
Logo nomeou o Altíssimo quais seriam
empregados em tão alto ministério, e escolheu cem de cada um dos nove coros,
somando novecentos. Em seguida, nomeou outros doze, para mais frequentemente A assistirem
em forma corporal e visível. Levavam dísticos e emblemas da Redenção, e eram os
doze guardas das portas da cidade referidos pelo Apocalipse (Ap 21,12), e dos
quais falarei adiante na explicação daquele capítulo. Além destes, designou o
Senhor outros dezoito Anjos dos mais superiores, para que subissem e descessem
por esta mística escada de Jacob, com embaixadas da Rainha à Sua Alteza e do Senhor
para Ela.
Além de todos estes santos
Anjos, assinalou o Altíssimo outros setenta Serafins, dos supremos e mais
próximo ao trono da Divindade. Deviam comunicar-se com a Princesa do Céu pelo
mesmo modo como entre si eles se comunicam, ou seja, pela iluminação que os
inferiores recebem dos superiores. … Quando alguma vez se ausentava e ocultava
o Senhor - como adiante veremos estes
setenta Serafins a iluminavam e consolavam. A eles confiava os afetos de Seu
ardentíssimo amor e ânsias pelo seu tesouro escondido.
O número setenta,
correspondeu aos anos de Sua vida santíssima que foram, não sessenta, como
direi em seu lugar. Seus principais
chefes foram condecorados com a honra de fazer parte do número dos custódios da
Rainha e Senhora. Reunidos, somam o número de mil, entre Serafins e os outros
Anjos de ordens inferiores. Com isso, esta Cidade de Deus ficou superabundantemente
guarnecida contra os exércitos infernais. Para melhor ordenar este invencível esquadrão,
foi nomeado seu chefe o príncipe da milícia celestial, São Miguel, que embora
não assistisse sempre com a Rainha, muitas vezes A acompanhava e se Lhe
manifestava.
O Altíssimo o incumbiu de alguns ministérios como especial
embaixador de Cristo Senhor nosso, para atender à guarda de Sua Mãe Santíssima.
De igual modo, foi nomeado o santo príncipe Gabriel, para do Eterno Pai descer
com legações e ministérios referentes à Princesa do Céu. A princípio Ela não as entendeu, porque o
Altíssimo ordenou a estes santos Anjos não lhe revelassem que viria a ser Mãe
de seu Unigênito até o tempo determinado por Sua Divina Sabedoria.
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