“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

quinta-feira, 21 de julho de 2016

A CONCEPÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA


MARIA DE ÁGREDA – DO LIVRO: MÍSTICA CIDADE DE DEUS


A concepção Imaculada de Maria Mãe de Deus pela virtude do poder divino.

Quando se casaram tinha Santa Ana vinte e quatro anos e Joaquim quarenta e seis. Depois do matrimônio passaram vinte anos sem ter filhos, e assim no tempo da concepção da filha, contava a mãe quarenta e quatro anos, e o pai sessenta e seis. Ainda que essa concepção se realizou pela ordem comum das demais, a virtude do Altíssimo lhe tirou a parte imperfeita e desordenada. Deixou-lhe apenas o necessário para a natureza administrar a devida matéria à formação do corpo mais perfeito que jamais houve, nem poderá haver em pura criatura. Moderou Deus a natureza dos pais e a Graça antecipou-a, para que no ato não houvesse culpa nem imperfeição, mas virtude e merecimento. O modo foi o natural e comum, porém, controlado, corrigido e aperfeiçoado com a força da Divina Graça, para esta produzir seu efeito sem estorvo da natureza. … porque sem milagre não poderia conceber. A concepção operada só pela ordem natural, não depende imediatamente de causas sobrenaturais, mas somente dos pais.  Nesta concepção, porém, ainda que o pai não fosse naturalmente infecundo, pela idade e temperança, já estava com a natureza corrigida e quase inativa. Por isto, foi pela Divina virtude animada, reparada e prevenida de modo que pôde agir de Sua parte com toda perfeição e medida das potências, e proporcionalmente à esterilidade da mãe, servindo-se da natureza apenas o indispensável para que esta inefável filha tivesse pais naturais.  Por esta parte pôde bem resultar sem pecado esta concepção, tendo também a Divina Providência assim determinado.  Que o plasmou com exato peso e medida, na quantidade e qualidade dos quatro humores naturais: sanguíneo, melancólico, fleumático e colérico. A proporção perfeitíssima desta compleição deveria ajudar, sem impedimentos, as operações da alma tão santa como a que animaria esse corpo.  Aquele milagroso corpo em formação no ventre de Santa Ana, antes de ter alma não era capaz de dons espirituais, mas o era para os dons naturais. Estes lhe foram concedidos por ordem e virtude sobrenatural, com tais condições como convinham para o singular fim a que se ordenava aquela formação, superior a qualquer ordem da natureza e Graça. Deste modo, lhe foram dadas compleição e potências tão excelentes que a natureza, só por si, jamais poderia formar outras semelhantes.  A primeira concepção do corpo de Maria Santíssima sucedeu num domingo, correspondente ao dia da criação dos Anjos, de quem seria Rainha, Senhora, superior a todos. Para a formação e crescimento dos demais corpos são necessários, segundo a ordem comum e natural, muitos dias para se organizarem e receberem a última disposição para neles ser infundida a alma racional. Dizem que para o sexo masculino se requerem quarenta e para o feminino oitenta, mais ou menos, conforme o calor natural e organismo das mães. Na formação corporal de Maria Santíssima, a virtude divina apressou o tempo natural, e o que em oitenta dias, ou nos que naturalmente eram necessários, se havia de fazer, foi mais perfeitamente organizado em sete. Durante eles foi preparado aquele milagroso corpo, com devido crescimento, no seio de Santa Ana, para receber a alma santíssima de Sua filha, Senhora e Rainha nossa. No sábado seguinte a esta primeira concepção, fez-se a segunda, criando o Altíssimo a alma de Sua Mãe e infundindo-a em Seu corpo. Surgiu no mundo a pura criatura mais santa, perfeita e agradável a seus olhos, de quantas criou e criará até o fim do mundo e por suas eternidades. Empregou o Senhor misteriosa atenção em relacionar esta obra com a criação dos sete dias, referida no Gênesis (Gên 1, 1-31; 2, 1-3). Realizando aquele simbolismo, sem dúvida descansou, depois de haver criado a suprema criatura, com a qual dava princípio à Encarnação do Verbo e a Redenção do gênero humano. Para Deus e para as demais criaturas, este dia foi festivo e de repouso.  Por causa deste mistério da concepção de Maria Santíssima, ordenou o Espírito Santo que na santa Igreja o Sábado fosse consagrado à Virgem. Foi o dia em que lhe fez o maior benefício, criando sua alma santíssima e unindo-a ao corpo, sem resultar o pecado original nem efeito seu. O dia de Sua Conceição celebrado hoje na Igreja, lembra não o da primeira conceição do corpo, mas o da segunda, a saber, a infusão da alma. Desde esta Conceição até a Natividade, esteve nove meses exatos no seio de Santa Ana. Nos sete dias antes da infusão da alma, esteve só a matéria organizando-se e se dispondo pela virtude Divina. Deste modo, a criação de Maria correspondeu à criação de todas as criaturas que formaram o mundo em seu princípio e vem narrada por Moisés (Gn 1,1). O instante da criação e infusão da alma de Maria Santíssima, foi aquele no qual a beatíssima Trindade, com maior afeto de amor do que quando refere Moisés (Gn 1,26), disse aquelas palavras: - Façamos Maria à nossa imagem e semelhança, Nossa verdadeira Filha e Esposa, para Mãe do Unigênito da substância do Pai, assistem numerosos cortesãos do antigo Céu e mil Anjos são destinados para fazer guarda ao tesouro de um animado corpozinho, do tamanho de uma abelhinha. E assim foi dado a entender Àquela que era criada para Mãe do mesmo Deus, ainda que por ora Ela o ignorasse.

Como tudo isto era novo na Terra e dela não poderia proceder, diz que desceu do Céu. Não obstante descender de Adão pela ordem comum da natureza, não vem pelo caminho ordinário do pecado, trilhado por todos os seus predecessores filhos daquele primeiro delinquente. Somente para esta Senhora houve diferente decreto na Divina predestinação, e abriu-se nova senda pela qual viesse ao mundo com seu Divino Filho. Na ordem da Graça, Cristo e Maria não acompanharam nem foram acompanhados por qualquer outro dos mortais. Deste modo, desceu nova do Céu, da mente e Vontade Divina. Enquanto os demais filhos de Adão descendem da Terra, terrenos e maculados por ela, esta Rainha de toda a criação vem do Céu, descendente somente de Deus pela inocência e Graça. Costumamos dizer vir alguém da família ou solar do qual nasceu, porque aí recebeu o ser natural. Considerada Sua qualidade de Mãe do Verbo Eterno, o ser natural que Maria recebeu de Adão é apenas uma sombra, comparada ao que recebeu do Eterno Pai para aquela dignidade, na Graça e participação de Sua Divindade. Em Maria este ser da graça é o principal, e o da natureza acessório e secundário. O Evangelista visou o principal que desceu do Céu, e não o acessório que veio da Terra. Desceu ataviada e preparada por Deus que lhe deu tudo quanto quis, e quis lhe dar tudo quanto pôde. Pôde dar tudo o e não era ser Deus; o mais próximo de Sua Divindade; o mais distante do pecado; o quanto uma pura criatura pudesse receber. Este adorno não teria sido completo se algo lhe faltara, e esta falta existiria se em algum momento carecesse da inocência e Graça. Sem isto nada seria suficiente para torná-La formosa, pois as jóias da Graça cairiam sobre um rosto afeado, de natureza maculada pelo pecado, ou sobre uma veste manchada e repugnante. Já é tempo que o entendimento humano se abra e se expanda na honra de nossa grande Rainha. Quem pensar o contrário, baseado em outra opinião, se retraia e não ouse despojá-la do adorno de Sua Imaculada pureza no instante de Sua Divina Conceição. 

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