QUEIXA DIVINA
Diz Deus Pai:
Não vês como todos me ofendem? No entanto eu os
criei numa grande chama de amor; dei-lhes graças e favores quase infinitos,
gratuitamente, sem nenhum merecimento deles. Olha, minha filha, quanto me
ofendem. Especialmente por egoísmo, do qual procedem todos os outros
males.
O amor-próprio tudo envenenou. Da mesma forma como
a caridade contém todas as virtudes benéficas aos homens, assim o egoísmo
procede do orgulho e contém todos os males. Por falta de amor, os homens
praticam mutuamente o mal. Não me amam nem se amam. Estes dois amores vão
sempre juntos. Por isto eu te dizia que todo mal é feito no próximo.
Tenho muito a me queixar dos homens. De mim só
receberam o bem e eles me odeiam, praticando toda espécie de mal. Afirmei que
somente as lágrimas de meus servidores aplacarão minha ira. Torno a repeti-lo.
Servidores meus, colocai-vos diante de mim com muita oração, repletos de dor e
tristeza por causa das ofensas cometidas contra mim e por causa da condenação
eterna dos maus.
Mitigareis a ira do meu julgamento.
Ninguém escapará de minhas mãos. "Sou aquele
que sou" (Ex 3.14) e vós, vós não possuís a razão do próprio ser. Sois
aquilo que eu fiz. Criei tudo o que participa do ser; somente o pecado não
procede de mim, porque é negação. Por não estar em mim, o pecado não merece
amor. Quem o faz, ofende toda criação e odeia-me.
O homem tem obrigação de me querer bem. Sou
imensamente bom, dei-lhe o ser numa chama de caridade. Todavia, os maus fogem
de mim. Mas por justiça ou misericórdia, ninguém escapa de minhas mãos.
Abre, pois, os olhos da fé e fixa-os em minhas
mãos. Verás como é verdade o que acabei de dizer...
(do Livro O Diálogo – Santa Catarina de Sena)
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