A penitência sozinha
não dá reparação à culpa
Minha filha, não o sabes? Todos os sofrimentos
que um homem suporta ou pode suportar nesta vida são suficientes para
satisfazer a menor culpa. Sendo eu um bem infinito, a ofensa contra mim pede
satisfação infinita. Desejo que o compreendas. Os males desta existência não
são punições, mas correção a filho que ofende. Assim, a satisfação se dá pelo
amor, pelo arrependimento e pelo desprezo do pecado. Esse arrependimento é
aceito no lugar da culpa e do reato, não pela virtude dos sofrimentos
padecidos, mas pela infinitude do amor. Deus, que é infinito, quer amor e dor
infinitos.
A dor por ele desejada é infinita
em dois sentidos: com relação à ofensa feita contra o Criador e com relação
àquela feita ao próprio homem.
Quem se acha unido a mim por um amor infinito,
sofre quando me ofende ou vê que outros me ofendem; igualmente, quando padece
no corpo ou no espírito, qualquer seja a sua origem, tem merecimento infinito.
Dessa forma satisfaz pela culpa, que era merecedora do inferno. Embora
praticadas no tempo finito, são ações válidas, pois fortalecem-nas as virtudes,
a caridade, a contrição, o desprezo da culpa, que são infinitos.
Foi quanto ensinou Paulo, ao
afirmar: "Se eu falasse a língua dos anjos, adivinhasse o futuro,
partilhasse os meus bens com os pobres, e entregasse o corpo às chamas, mas não
tivesse a caridade, tudo isso de nada valeria" (1Cor 13,13). O glorioso
apóstolo faz ver que os gestos finitos são insuficientes para punir ou
satisfazer, sem a força da caridade.
Filha, fiz-te ver que a culpa não é
reparada neste mundo pelos sofrimentos, suportados unicamente como sofrimentos,
mas sim pelos sofrimentos aceitos com amor, com desejo, com interna contrição
Não basta a força da mortificação; ocorre o anseio da alma.
O mesmo acontece,
aliás, com a caridade e qualquer outra virtude, que somente possuem valor e
produzem a vida em meu Filho Jesus Cristo crucificado, isto é, na medida em que
a pessoa dele recebe o amor e virtuosamente segue suas pegadas. Somente assim
adquirem valor. As mortificações satisfazem pela culpa na feliz comunhão do
amor, adquirido na contemplação da minha bondade. Satisfazem graças à dor e à
contrição quando praticadas no autoconhecimento e na consciência das culpas
pessoais.
Esse conhecimento de si gera desprezo pelo mal, pela sensualidade ³,
induz o homem a julgar-se merecedor de castigos e indigno de recompensa. Assim
- acrescentava a doce Verdade _ é pela contrição interior, pelo amor paciente e
pela humildade, considerando-se merecedora de castigos e não de prêmio, que a
pessoa oferece reparação.
(do Livro O Diálogo – Santa Catarina de
Sena)
Sem comentários:
Enviar um comentário