PARAÍSO, PURGATÓRIO E O INFERNO
Visto que não demora muito para
que O Aviso chegue, é bom estarmos conscientes sobre as conseqüências de
participar deste grande milagre com pecados não confessados.
Diz
Deus:
A condenação eterna
Ocupei-me da felicidade dos santos, para que
entendesses melhor a infelicidade dos condenados ao inferno. Aliás, outro
tormento destes últimos é ver quanto os bem-aventurados são felizes. Tal
conhecimento acrescenta-lhes a pena, da mesma forma como a condenação dos maus
leva os justos a glorificar minha bondade. A luz é mais evidente na escuridão,
e a escuridão na luz. Conhecer a alegria dos santos é dor para os réus do
inferno.
Os condenados aguardam com temor o dia do juízo
final. Sabem que então seus sofrimentos aumentarão. Ao escutar o terrível
convite: "Surgite, mortui, venite ad juicium", a alma retornará ao
corpo. Para os bem-aventurados será um corpo de glória; para os réus, um corpo
para sempre obscurecido. Diante do meu Filho, sentirão grande vergonha. Também
diante dos santos. O remorso martirizará a profundidade do seu ser, quero
dizer, a alma; mas também o corpo. Acusá-los-ão: o sangue de Cristo, por eles derramado;
as obras de misericórdia, espirituais e corporais, do meu Filho; o bem que eles
mesmos deveriam ter praticado em benefício dos outros, segundo o evangelho.
Terá seu castigo a maldade com que trataram os irmãos, pois eu mesmo,
compassivo, perdoara-lhes (Mt 18,33). Serão repreendidos pelo orgulho, egoísmo,
impureza, ganância; e tudo isso reavivará seus padecimentos.
No instante da morte, somente a alma é repreendida;
no juízo final também o corpo, por ter sido instrumento da alma na prática do
bem ou do mal conforme a orientação da vontade. Todo bem e todo mal é feito
através do corpo. Por esse motivo, minha filha, os justos terão no corpo
glorificado uma luz e um amor infinitos; já os réus do inferno sofrerão pena
eterna em seus corpos, usados para o pecado. Ao recuperar o corpo diante de
Jesus ressuscitado, os réus sentirão tormento renovado e acrescido: a
sensualidade sofrerá na sua impureza vendo a natureza humana unida à divindade,
contemplando este barro adâmico - vossa natureza - colocada acima de todos os
coros angélicos, enquanto eles, os maus, estarão no mais profundo abismo.
Os condenados verão brilhar sobre os eleitos a
liberalidade e a misericórdia, quais frutos do sangue de Cristo; saberão das
dificuldades suportadas pelos bons e que agora se mostram em seus corpos como
frisos de adorno para as vestes. O valor de tais sofrimentos físicos, não
provém do corpo, mas da riqueza da alma; e ela que dá ao corpo o merecimento da
luta, como a companheira na prática das virtudes. Tal exteriorização se
verifica porque o corpo manifesta o resultado das batalhas da alma, como o
espelho reflete a face do homem.
Ao se verem privados de tamanha beleza, os
habitantes das trevas verão surgir em seus próprios corpos os sinais dos
pecados e terão maiores tormentos e confusão. E ao soar aquela terrível
sentença: "Ide, malditos, para o fogo eterno" (Mt 26,41), suas almas
e corpos encaminhar-se-ão para a companhia dos demônios, sem mais remédio nem
esperança. Cada um a seu modo, se envolverá na podridão em que viveu na terra,
de acordo com as ações que praticou: o avarento arderá na sua ganância dos bens
que desordenadamente amou; o maldoso, na sua ruindade; o impuro, na imunda e
infeliz concupiscência; o injusto, nas suas iniquidades; o rancoroso, no seu
ódio pelos outros. Quanto ao egoísmo, fonte de todos os males, arderá como
princípio causador de tudo, em sofrimentos insuportáveis. O orgulho terá igual
sorte. Assim, corpo e alma serão punidos em todos os vícios.
É desse modo que chegam ao próprio fim os homens
que vão pela estrada inferior, no rio do pecado, sem refletir e reconhecer as
próprias culpas, sem implorar o perdão. Nas pegadas do demônio, pai da mentira,
entram pela porta do engano e chegam à condenação eterna.
Vós, como filhos meus escolhidos, ide pela estrada
de cima, pela ponte; conservai-vos no caminho da Verdade, entrai pela porta
verdadeira. Foi o que ensinou meu Filho: "Ninguém vai ao Pai senão por
mim". Ele é a porta e o caminho que conduzem a mim, oceano de paz!
(do
Livro O Diálogo – Santa Catarina de Sena)
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