COMO CUIDAR DAS ALMAS?
As
obras de misericórdia corporais aplainam o caminho para as espirituais, as
quais o tornam tão liso e plano, que a entrada de Deus em um homem, preparado
desse modo para o encontro divino, acontece até sem que o indivíduo o fique
sabendo. Ele encontra a Deus em si, e nem sabe por onde Ele terá entrado. Por
onde? Ás vezes, acompanhando um sorriso, uma palavra de piedade, ou um pão, que
faz a abertura da porta de um coração fechado para a graça, e assim é que
começa o caminho de Deus para entrar naquele coração.
As
almas! Elas são coisas da maior variedade que possa existir. Nelas não há nada
de material, e são tantas as coisas materiais sobre esta terra, e tão variadas
em suas aparências, assim como as almas o são em suas tendências e reações.
Estais
vendo este robusto terebinto? Ele está no meio de um grande parque de
terebintos, todos parecidos com ele em sua espécie. Quantos são? Centenas e
centenas, talvez mil, talvez até mais. Eles cobrem este lado áspero do monte,
dominando com o odor áspero e saudável de suas resinas, todos os outros odores
do vale e do monte. Mas, olhai bem. São mil, ou mais e não há nem um só, pela
grossura, a altura, a robustez, a inclinação, a posição, que seja igual a
outro, se observarmos bem. Um está reto como uma lâmina, outro inclinado para o
norte ou para o sul, para o oriente ou para o ocidente. Um nasceu em terra
firme, outro sobre a beira de um barranco, que nem se sabe como possa
sustentá-lo, nem como possa manter-se assim suspenso no ar, como se estivesse
fazendo uma ponte com outro que vem de lá, outro sobre uma torrente, que agora
está seca, mas que no tempo de chuva é uma cachoeira. Uns são contorcidos, como
se algum malvado os tivesse comprimido, quando eram umas plantinhas tenras,
outros são sem defeitos. Uns são revestidos de folhas, quase desde o chão,
outros são escabelados, e têm apenas uma moitinha de folhas, lá no alto. Uns
têm ramos só do lado direito. Outros bem cobertos de folhas em baixo e
queimados lá em cima por algum raio. Um está quase morto, e ainda sobrevive em
um único e obstinado galho, um galhinho, uma folha, -- que é que eu estou
dizendo: uma folha, no meio dos milhares de folhas que ele tem? – que seja
semelhante a outra. A princípio parece que o sejam. Mas não são. Olhai este
galho. O mais debaixo de todos. Observai nele a ponta, somente a ponta do
galho. Quantas folhas haverá naquela ponta? Talvez umas duzentas agulhinhas
verdes e leves. Estais vendo bem? Haverá aí alguma semelhante a outra em cor,
robustez, frescor, flexibilidade, postura e idade? Não há.
Assim
são as almas tantas quantas forem, tantas serão suas diversidades e tendências
e reações. E não será bom mestre e médico das almas quem não as souber conhecer
e trabalhar, de acordo com suas diversas tendências e reações. Não é um
trabalho fácil, meus amigos. É necessário um estudo contínuo, o hábito de
meditar, que ilumina mais do que qualquer outra leitura sobre textos limitados.
O livro que um mestre e um médico de almas deve estudar são as próprias almas.
Tantas são as folhas do livro, quantas são as almas, e em cada folha muitos
sentimentos e paixões passadas, presentes e em embrião.
Por
isso é um estudo contínuo, atento, meditativo, uma paciência constante,
tolerância, fortaleza em saber fazer os curativos das feridas mais purulentas,
para saneá-las, sem mostrar repugnância, pois esta entristece o doente, e sem
uma falsa piedade, que, para não desgostá-lo ao descobrir a podridão, e não
limpá-la, por medo de fazer sofrer a parte podre, deixa assim que o mal se vê
agravando, e corrompendo todo o resto do corpo. É preciso prudência, enquanto
se faz o curativo, para não se agravar o caso, se se tratar com modos rudes
demais as feridas dos corações e para não se ficar infectado por elas, ao
quererem bancar os experientes, que não têm medo de infectar-se ao tratarem com
os pecadores.
E
todas estas virtudes, necessárias ao mestre e ao médico das almas que, onde
encontram a sua luz para ver e compreender, a sua paciência, talvez heróica,
para perseverarem, recebendo só frieza, e algumas vezes até ofensas, e a
fortaleza para medicarem com sabedoria, com prudência a fim de não danificarem
ao doente nem a si mesmos?
No
amor. Sempre no amor. Ele dá luz a tudo, dá sabedoria, fortaleza e prudência.
Ele nos preserva das curiosidades, que são o caminho que leva a querer assumir
as culpas que foram curadas. Quando alguém é todo amor, não pode entrar nele
nenhum desejo nem outra ciência, que não seja a do amor.
Estais
vendo? Dizem os médicos que, quando alguém está para morrer de uma doença,
dificilmente torna a adoecer dela, porque o sangue dele já a teve e a venceu.
Este conceito não é completamente certo, mas também não é totalmente errado.
Mas o amor, que é saúde e não doença, faz isso que dizem os médicos, e o faz
com todas as más paixões. Quem ama firmemente a Deus e aos irmãos nada faz que
desagrade a Deus e aos irmãos, e por isso se aproxima dos doentes do espírito
e, ao tomar conhecimento de coisas que o amor tinha até então ocultado, não se
corrompe por elas, pois fica fiel ao amor, e o pecado não penetra nele.
Que
quereis que seja a sensualidade, para alguém que venceu a sensualidade com a
caridade?
Que
é que são as riquezas para quem no amor de Deus e das almas encontra todo o seu
tesouro?
Que
poder tem a gula, a avareza, que é que pode a incredulidade, a preguiça ou a
soberba contra quem só deseja a Deus, e se entrega a si mesmo ao serviço de
Deus, contra quem, em sua fé encontra todo o seu bem, contra quem se sente
estimulado pela chama incansável da caridade, e trabalha incansavelmente para
agradar a Deus, por quem conhece a Deus – pois amá-lo é conhecê-lo – e não pode
mais encher-se de soberba, porque ele se vê quem é em comparação com Deus?
Um dia vós sereis sacerdotes da minha
Igreja. Portanto, sereis os médicos e mestres dos espíritos. Lembrai-vos destas
minhas palavras. Não será o nome que tereis e as vestes que usareis, nem as
funções que exercereis que vos farão ser sacerdotes, isto é, ministros de
Cristo, médicos e mestres das almas, mas será o amor que possuirdes o que vos tornará
tais. Ele vos dará tudo o que é necessário para o terdes, e as almas, todas
diferentes umas das outras, chegarão a ter uma única semelhança, a semelhança
com o Pai, se vós as souberdes trabalhar com amor.”
(de
Jesus à Valtorta, Vol 7, pgs.337 a 340)
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