O COLÓQUIO DE JESUS E MARIA
Estão
falando um com o outro dos seus parentes... de José de Alfeu, sempre teimoso,
de Simão, que não é lá muito corajoso em sua profissão de fé, dominado como
está pelo primeiro de seus irmãos, que é obstinado e autoritário em suas
idéias, como era o pai deles. A grande dor de Maria, que gostaria que todos os
seus sobrinhos fossem discípulos do seu Jesus...
E
Jesus a conforta, e, para desculpar o primo, fala bem da forte fé israelita
dele: “É um grande obstáculo, sabes? Um verdadeiro obstáculo. Porque todas as
fórmulas e preceitos formam uma barreira para a aceitação da ideia messiânica
em sua verdade. É mais fácil converter um pagão, desde que seja um espírito
ainda não completamente corrompido. O pagão ainda reflete, e enxerga a boa
diferença entre o seu Olimpo e o meu Reino. Mas Israel... Israel em sua parte
mais culta... sente dificuldade para seguir o conceito novo!...”
“E,
no entanto, aquele conceito sempre persiste!”
“Sim.
É sempre o Decálogo, são sempre as profecias. Mas tudo isso foi deturpado pelo
homem. E tomou tudo isso, tirando tudo das esferas sobrenaturais onde estava, e
o trouxe para o nível desta terra, para o clima deste mundo, e o manipulou
junto com sua humanidade, e modificou tudo... O Messias. Rei espiritual do
grande Reino, que se chama de Israel, porque o Messias nasce do trono de
Israel, mas que é mais justo dar-lhe o nome de Cristo, porque Cristo centraliza
o que há de melhor em Israel, tanto do atual, como do passado, e o sublima com
sua perfeição de Deus-Homem, e o Messias para eles não pode ser o Deus manso,
pobre sem aspiração para o poder e a riqueza, obediente aos que nos dominam,
por um castigo divino, pois na obediência está a santidade, desde que essa
obediência não desvirtue a grande Lei. E, por isso, pode-se dizer que a fé
deles luta contra a verdadeira Fé. Desses obstinados e convencidos de serem
eles uns justos, há tantos... e em todas as classes, e até entre os meus
parentes e apóstolos. Podes crer, ó Mãe, que a obtusidade deles para crer em
minha Paixão vem daí. Os erros de avaliação deles é daí que se originam... Até
mesmo a teima e obstinação deles, quando consideram os gentios e os idólatras,
não vendo neles o homem, quando deviam olhar o espírito do homem, aquilo que
tem uma única origem e ao qual Deus queria dar um único destino: o Céu. Olha
Bartolomeu... Ele é um exemplo. É ótimo, e sábio, está disposto a tudo, para
dar-me honra e conforto... Mas diante, Eu já não digo, de uma Aglaé nem de uma
Síntique, que já é uma flor, se for comparada à pobre Aglaé, que somente a
penitência é capaz de transformar de lama em flor, mas nem mesmo diante de uma
pobre menina, cuja sorte causa dó, e cujo instintivo pudor atrai admiração, e
nem o meu próprio exemplo o convence, E, nem as minhas palavras, pois para
todos é que Eu vim.”
“Tens
razão. Até o próprio Bartolomeu e Judas de Keriot, os dois mais doutos, ou pelo
menos o douto filho de Tolmai e Judas de Keriot, que não sei exatamente a que
classe poderá pertencer, mas que está impregnado, saturado das auras do Templo,
são os mais resistentes. Mas... Bartolomeu é bom, e sua resistência é ainda
desculpável. Judas... não. Ouviste o que disse Mateus, que foi de propósito à
Tiberíades... E Mateus tem experiência da vida, especialmente daquela vida...
Por isso é justa a observação de Tiago de Zebedeu: “Mas, quem dá tanto dinheiro
ao Judas?” Porque aquela vida custa dinheiro... Pobre Maria de Simão!”
Jesus
faz o seu gesto com as mãos, querendo dizer: “Assim é!”, e suspira. Depois diz:
“Já ouviste dizer? As romanas estão em Tiberíades... Valéria não me mandou
dizer nada, mas eu preciso saber, antes de retomar o meu caminho. Eu, te quero
comigo em Cafarnaum, por algum tempo, minha Mãe... Depois tu voltarás para cá.
Eu irei para os confins da Siro-Fenícia, e de lá voltarei para saudar-te, antes
de descer para a Judéia, a ovelha teimosa de Israel...”
“Meu
filho, amanhã de tarde eu irei. Levarei comigo Maria de Alfeu. Aurea irá para a
casa de Simão de Alfeu, porque não ficaria sem crítica ficar ela convosco mais
dias... Assim é o mundo... E eu irei. Em Caná, como primeira etapa, e, depois
pela manhã partirei, e irei fazer uma parada na casa da mãe de Salomé de Simão.
E, ao pôr do sol, partirei de novo, e chegaremos, pois ainda será sai claro em
Tiberíades. Irei à casa do discípulo José, porque quero, pessoalmente, ir à
casa de Valéria, e, se eu fosse à casa de Joana, ela quereria ir... Não. Eu,
Mãe do Salvador, serei aos seus olhos, diferente da discípula do Salvador... e
não me dirá que não. Não tenhas medo, meu Filho!”
“Eu
não tenho medo. O que me preocupa é que te canses.”
“Oh!
Para salvar uma alma! Que é este nada que é andar vinte milhas, estando o tempo
bom?”
“Mas
será um cansaço também moral. Fazer perguntas... ficar talvez humilhada?”
“Pouca
coisa, e passa logo. Mas uma alma fica!”
“Serás
como uma andorinha extraviada do bando, na Tiberíades corrompida. Leva contigo
Simão.”
“Não,
meu Filho. Nós duas somente, duas pobres mulheres... Mas são duas mães e duas
discípulas. Isto significa duas forças morais... Eu agirei logo. Deixa-me ir...
Basta que NE abençoes.”
“Sim,
minha Mãe. Com todo o meu coração de Filho, e com todo o meu poder de Deus.
Vai, e que os anjos te acompanhem pelo caminho.”
“Obrigada,
Jesus. Agora vamos entrar. Eu deverei levantar-me de manhã cedo para preparar
todas as coisas para os que vão viajar e para os que ficam. Dize a oração, meu
Filho...”
Jesus
se levanta, Maria também, e, juntos dizem o Pai-nosso...
Depois
tornam a entrar em casa, fecham a porta... a luz desaparece, e cessam todas as
vozes humanas. O que continua é só o vento suave por entre as frondes e o
rumorejo leve do fio de água, caindo no pequeno tanque.
(de
Jesus à Valtorta, Vol 7, pgs. 32 a 35)
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