MARIA, A TODA BELA
“Mestre,
não te agradam as flores?” Tomé interpela o Mestre, que tinha ficado escutando
tudo, mas sem falar.
“Tudo
na Criação me agrada. Mas estas flores estão entre as minhas prediletas...”
“Por
que?”, perguntam muitos. E, ao mesmo tempo, Judas pergunta: “E as víboras,
também te agradam?”, e ele se ri.
“Elas
também. Servem...”
“Para
quê?”, perguntam muitos.
“Para
morder. Ah! Ah! Ah!”, ri-se, zombeteiro, Judas.
“Nesse
caso, deveriam agradar-te, e muito”, replica Tadeu, esmagando a risada com um
subentendido bem claro. Agora, são os outros que se riem, pelo bote bem dado.
Jesus
não se ri. Está até pálido e triste. Olha para os seus doze, e especialmente
para os dois antagonistas, que olham um com ira e o outro com severidade, e
responde a todos, deixando para responder ao Iscariotes em particular.
“Se Deus as fez, é sinal de que servem.
Nada há de inútil nem de totalmente nocivo entre os seres criados. Só o mal é que é totalmente e somente nocivo, e ai
daqueles que se deixam morder por ele. Um dos pontos de sua mordida é a
incapacidade de distinguir melhor entre o Bem e o Mal, é o desvio da razão e da
consciência pervertida para coisa não boas, e é a cegueira espiritual pela
qual, ó Judas do Simão, não se vê mais resplandecer o poder de Deus sobre as
coisas, até sobre as pequeninas. Nesta flor, ele está escrito pela beleza, pelo
perfume, pela forma tão inteligente de qualquer flor, por esta gota de orvalho,
que treme e brilha suspensa do cílio de cera desta minúscula pétala, e parece
uma lágrima de reconhecimento para com o Criador, que tudo fez, e tudo bem
feito, tudo útil, tudo variado. Mas está escrito que tudo era bonito aos olhos
dos progenitores, enquanto eles não tinham as cataratas do pecado. E tudo lhes
falava de Deus, enquanto nas coisas, ou melhor, nas pupilas deles não foi
instilado o líquido que alterou neles a capacidade de ver a Deus. Também no
momento atual, quanto mais Deus se lhe revela, mais o espírito se torna
soberano em uma criatura...”
“Salomão
cantou as maravilhas de Deus, e também Davi... e não tinham com certeza seu
espírito como soberano! Mestre, desta vez te peguei num erro.”
“Um
sem-vergonha é que és tu! Como tens a ousadia de dizer isso?”, detona
Bartolomeu.
“Deixa-o
falar. Não lhe dou importância. São palavras que o vento dispersa, e com as
quais não ficarão escandalizadas nem as ervas nem as plantas. Nós, os únicos
que as escutamos, sabemos dar a elas o peso que realmente têm, não é verdade? E
não pensemos mais nelas. A juventude é muitas vezes irrefletida. Tem dó dela...
Mas alguém me havia perguntado porque é que prefiro o lírio dos convales. Eu
lhes respondo assim: “Pela sua
humildade. Nele tudo fala de humildade... Os lugares de que ele gosta... a
postura da flor... Ele me faz pensar em minha Mãe. Esta flor... Tão pequena! E,
no entanto, procurai perceber o odor de um só de seus caules. O ar, ao redor,
fica todo perfumado por ele... Também minha Mãe, humilde, modesta,
desconhecida, que só pedia que a deixassem desconhecida... Também o perfume da
santidade dela foi tão forte, que me atraiu do Céu...”
“Sim,
Tomé.”
“E
achas que os nossos antigos ao louvarem o lírio do vale, já a ressentissem?”,
pergunta Tiago do Alfeu. Naquele tempo eles a comparavam a outras plantas e
flores, à rosa, à oliveira, e aos mais gentis dos animais: às rolas, às
pombas...”
“Cada um dizia dela aquilo que achava
ser mais belo entre as criaturas. E, entre as outras criaturas, Ela é realmente
a Toda Bela.
Contudo Eu a chamaria lírio do convale,
a pacífica oliveira se tivesse que celebrar os seus louvores”, e Jesus se alegra e se ilumina, pensando em sua Mãe,
e se afasta para ficar só...
(de
Jesus à Valtorta, Vol. 6, pgs. 346 a 348)
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