“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A PARÁBOLA DO ESCULTOR


A PARÁBOLA DO ESCULTOR


Jesus sobe em uma barca, que foi puxada para a praia, e, daquela tribuna improvisada, fala aos seus ouvintes, tendo-os à sua frente, à beira d`água e por entre as árvores.
Ele toma como ponto de partida de sua pregação a pergunta que um homem lhe faz: "A nossa Lei, Mestre, quase nos mostra como feridos por Deus os infelizes, pois até os proíbe de qualquer serviço junto do altar. Mas, que culpa têm eles? Não seria justo dizer-se que os culpados são os pais deles, que os deram à luz assim infelizes? E especialmente as mães? E, como é que temos que proceder com estes que nasceram assim infelizes?”
Ouvi: 
Um escultor perito e perfeito fez um dia a forma de uma estátua, e ficou uma obra tão bem feita, que ele gostou muito dela, e disse: “Quero que a terra fique cheia de maravilhas como esta”. Mas, ele sozinho, não podia executar obra de tal magnitude. Então, chamou em sua ajuda outras pessoas, e lhes disse: “Segundo este modelo, fazei-me até dez mil estátuas igualmente perfeitas. Depois eu lhes darei os últimos retoques, infundindo uma expressão em suas fisionomias.” Mas seus ajudantes não eram capazes de fazer aquilo, porque, além de serem muito inferiores ao seu mestre em capacidade, tinham ficado um pouco ébrios, depois de terem provado uma fruta, cujo suco cria delírios e névoas. Então, o escultor deu a eles umas espécies de formas, e disse: “Modelai nelas o material. Ficará uma obra com medidas exatas, e eu a completarei, dando-lhe vida, com um último retoque.” E os ajudantes puseram mãos à obra.
Mas o escultor tinha um grande inimigo. Era seu inimigo pessoal e inimigo dos seus ajudantes, e procurava por todos os meios desfazer-se do escultor e semear mal-entendidos entre ele e os seus ajudantes. Para isso ele colocou no trabalho deles a sua astúcia, primeiro alterando o material que deveria escorrer pela forma, e depois enfraquecendo o fogo, e, mais adiante até o trabalho dos ajudantes. Então aconteceu que aquele que rege o mundo, para procurar impedir o mais possível que a obra fosse realizada produzindo cópias imperfeitas, decretou sanções graves contra aqueles modelos que foram fabricados de modo imperfeito. E uma daquelas sanções era que aqueles modelos não pudessem ser expostos na Casa de Deus. Pois nela tudo deve, ou deveria ser sempre perfeito. Eu digo deveria, porque não é assim. Ainda que a aparência deles seja bonita, a realidade não é bonita. Os que estão presentes na casa de Deus parecem ser sem defeitos, mas o olho de Deus descobre neles os mais graves defeitos: os que estão no coração.
Oh! O coração! É com ele que se serve a Deus. Na verdade, é com ele. Não é preciso nem basta ter o olho limpo e o ouvido perfeito, a voz harmoniosa, membros bem feitos, para cantar louvores agradáveis a Deus. Não preciso, nem basta ter belas vestes, limpas, perfumadas. Límpido e perfeito, harmonioso e bem construído deve ser o espírito em seu olhar, seu ouvido, sua voz, suas formas espirituais, e estas devem ser ornadas de pureza. Esta é a veste bonita, limpa e perfumada pela caridade. Este é o óleo saturado da essência que agrada a Deus.
E que caridade seria a de alguém que, sendo feliz e vendo um infeliz, tivesse para com ele só zombaria e ódio? Mas, até pelo contrário, dupla e tripla medida será dada a quem, sem ter culpa, nasceu infeliz. A infelicidade é um sofrimento que traz merecimento para quem passa por ele e para quem, junto com o desventurado, sofre também com aquilo, talvez pelo amor a algum parente, ou talvez ainda batendo no peito e pensando: “A causa deste sofrimento sou eu com os meus vícios.” Mas não deve nunca converter-se em causa de culpa espiritual para quem a vê. Em culpa ele se transforma, se transformar-se em uma falta de caridade, Por isso Eu vos digo, não sejais nunca sem caridade para com o vosso próximo.
Nasceu ele infeliz? 
Amai-o, porque ele leva consigo o seu grande sofrimento.
Tornou-se ele infeliz por sua culpa? 
Amai-o, porque sua culpa já se mudou em castigo. 
Será ele o pai de um infeliz, que assim nasceu, ou assim ficou? 
Amai-o, porque não há sofrimento maior do que a dor de um pai ferido em seu filho.
É uma mãe que gerou um monstro? 
Amai-a, porque ela está literalmente esmagada por aquela dor que ela acha a mais desumana das dores. Desumana ela não é.
Pois ainda maior é a dor de uma que é mãe de um monstro em sua alma, pois ela se lembra de ter dado a luz um demônio e um perigo para a terra, para a Pátria, para os amigos. Oh! Esta não ousa mais nem levantar a fronte, essa pobre mãe de um feroz, de um abjeto, de um homicida, de um traidor, de um ladrão, de um corrupto! Pois bem. Eu vos digo: Amai também a essas mães, as mais infelizes. Pois elas através dos séculos serão chamadas mães de um assassino, de um traidor.
Por toda parte a terra ouviu o pranto das mães dilaceradas por uma morte cruel do seu próprio filho. Desde Eva até hoje, quantas mães sentiram dilacerando-se as suas vísceras, mais do que nas dores do parto. Mas, que é que Eu estou dizendo? Elas sentiram que lhes estavam sendo arrancadas vísceras, e com elas o coração por alguma mão feroz, postas sobre elas diante do filho assassinado, justiçado, torturado pelos homens, e, uivando em seus espasmos, envolveram-se num delírio de um amor espasmódico e doloroso, sobre aqueles despojos que não ouviram mais nada, não se acalentavam mais com o seu calor, nem podiam mais fazer nenhum gesto, quando não acontecia ter que ouvir ainda daquela boca as palavras: “Mãe, eu te odeio.”
E, no entanto, Eu vos digo que a terra ainda não ouviu o grito, nem recolheu as lágrimas da mais santa e mais infeliz das mulheres. Mais santa e infeliz do que aquelas que serão eternas na lembrança dos homens. A Mãe do Redentor morto e a mãe daquele que será o seu traidor. Elas duas, mártires de um modo diferente, se ouvirão, apesar da distância entre elas, se ouvirão gemendo, e será a mãe inocente e santa, a mais inocente, a Inocente Mãe do Inocente, a que dirá à sua irmã distante, mártir de um filho incrivelmente cruel: “Minha irmã, eu te amo.”
Amai para serdes dignos desta, que amará por todos, e amará a todos. O amor somente, que salvará a terra.”


(de Jesus à Valtorta, Vol. 6, pgs. 396 a 399)

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