O TESTEMUNHO DOS APÓSTOLOS SOBRE JESUS
8 de novembro de 1945.
Os apóstolos estão de
novo na casa de Antioquia, e com eles estão os dois discípulos e todos os
homens de Antigônio, não mais vestidos com as vestes curtas de trabalho, mas com
vestes longas e festivas. Por aí eu verifico que é dia de sábado. Filipe roga
aos apóstolos que falem pelo menos uma vez a todos eles, antes da partida, que
já está iminente. “Sobre o quê?” “Sobre o que quiserdes. Vós já ouvistes nestes
dias os nossos discursos. Podeis tratar dos assuntos que ouvistes neles.” Os
apóstolos se olham uns aos outros. A quem caberá a palavra? A Pedro,
naturalmente. Ele é o chefe. Mas Pedro não gostaria de falar, e passa a honra
de fazer isso a Tiago de Alfeu e a João Zebedeu. E, somente quando ele vê que
eles não aceitam é que ele se decide a falar.
“Hoje nós ouvimos na sinagoga o capitulo 52 de Isaías. De um
modo douto, conforme o mundo, mas deficiente, conforme a Sabedoria, é que foi
feito o comentário. Não se deve por isso censurar o comentador, o qual fez o
que podia, com sua sabedoria mutilada, em sua melhor parte, que é o
conhecimento do Messias e do tempo novo que Ele nos trouxe. Mas não façamos
críticas, e sim orações para que ele chegue ao conhecimento dessas duas graças
e as possa aceitar com facilidade. Vós me dissestes que na Páscoa ouvistes
falar do Mestre, com fé por parte de alguns, e com escárnio por parte de
outros. E que somente pela grande fé, que enche os corações da casa de Lázaro,
todos os corações, é que tínheis podido resistir ao mal-estar que aquelas
insinuações dos outros queriam transmitir aos vossos corações, e muito pior
ainda, por serem aqueles outros justamente os rabis de Israel. Mas ser doutos
não quer dizer ser santos, nem já estar de posse da Verdade. A Verdade é esta:
Jesus de Nazaré é o Messias prometido, é o Salvador, do qual falam os profetas,
o último dos quais faz pouco tempo que foi repousar no seio de Abraão, depois
do glorioso martírio que sofreu morrendo pela justiça. João Batista disse, e
aqui estão presentes os que ouviram, estas palavras: “Eis o Cordeiro de Deus,
que tira os pecados do mundo”. Suas palavras foram cridas pelos mais humildes
entre os presentes, porque a humildade ajuda a chegar à Fé, enquanto que para
os soberbos é difícil o caminho, - carregados como eles estão de tantas coisas
- para chegarem ao cume do monte, onde, casta e luminosa, vive a Fé. Estes
humildes, porque eram tais e porque creram, mereceram ser os primeiros no
exército do Senhor Jesus. Vede, pois, quanto é necessária a humildade, para se
ter uma fé pronta, e quanto e premiado o saber crer, mesmo diante de aparências
contrárias. Eu vos exorto e vos incito a terdes estas duas qualidades em vós,
e, então sereis do exército do Senhor, e conquistareis o Reino dos Céus... A ti, agora, Simão Zelotes. Eu já falei.
Agora, tu, continua.”
O Zelotes, apanhado assim de improviso, e tão claramente
indicado para ser o segundo orador, deve ir para a frente sem demora e sem
reclamação. E ele o faz, dizendo: “Continuarei o discurso de Simão Pedro, chefe
de todos nós por vontade do Senhor. E continuarei sempre, tomando o assunto do
capítulo 52 de Isaías, visto por um que conhece a Verdade Encarnada, da qual à
servo para sempre. Lá está dito: “Levanta- te, reveste-te de tua força, ó Sião,
veste-te para a festa, ó cidade do Santo”. Assim verdadeiramente devia ser.
Porque, quando se cumpre uma promessa, quando se faz uma paz, cessa, então, uma
condenação, e chega o tempo da alegria, os corações e a cidade deviam vestir-se
para a festa, e levantar de novo as frontes abatidas, sentindo-se não mais
odiados, vencidos, espancados, mas amados e libertados. Não viemos aqui para
mover um processo contra Jerusalém. A caridade, primeira entre todas as
virtudes, o proíbe. Deixemos, pois, de ficar observando os corações dos outros,
e olhemos para o nosso. Enchamos de força o nosso coração com aquela fé da qual
falou Simão, vistamo-nos festivamente, pois que nossa fé secular no Messias vê
realizada a presença dele entre nós. O Messias, o Santo, o Verbo de Deus, já
veio. E disso têm a prova, não somente as almas que já estão ouvindo dizer as
palavras da Sabedoria, que as confortam e infundem nelas santidade e paz, mas
até os corpos. Por obra do Santo, ao qual tudo é concedido pelo Pai, vêem-se
libertados dos males mais atrozes e até da morte, para que nas terras dos vales
da nossa Pátria de Israel ecoem hosanas ao Filho de Davi e ao Altíssimo, que
nos enviou o seu Verbo, como havia prometido aos Patriarcas e aos Profetas. Eu,
que vos estou falando, era um leproso, destinado a morrer, depois de anos de
uma angústia cruel, naquela solidão em que ficavam os leprosos, como se fossem
feras. Então, um homem me disse: “Vai a Ele, ao Rabi de Nazaré, e tu ficarás
curado. No corpo. No coração. Sobre o corpo não havia mais aquela doença, que me
separava dos outros homens. E no coração não havia mais aquele rancor, que nos
separa de Deus. E, com uma alma nova, de proscrito, de doente e inquieto, eu
passei a ser o seu servo, chamado para a feliz missão de ir por entre os
homens, amando-os, em nome dele, instruindo-os no único conhecimento que é
necessário e que é o de Jesus de Nazaré, do Salvador. E felizes são aqueles que
crêem nele. Fala tu, agora, Tiago de Alfeu.”
“Eu sou o irmão do
Nazareno. Meu pai e o pai dele eram irmãos, nascidos de um mesmo seio. Contudo,
eu não posso dizer-me irmão, mas servo dele. Porque a paternidade de José,
irmão de meu pai, foi uma paternidade espiritual, e em verdade eu vos digo que
o verdadeiro Pai de Jesus, nosso Mestre, é o Altíssimo que nós adoramos, o Qual
permitiu que sua Divindade, Una e Trina, se encarnasse na Segunda Pessoa, e
viesse à terra, permanecendo, contudo, sempre unida com as outras Duas, que
habitam no Céu. Porque isso Deus pode fazer, sendo Ele infinitamente poderoso.
E Ele o faz por amor, já que o amor é a sua natureza. Jesus de Nazaré é o nosso
irmão, ó homens, porque nasceu de uma mulher e é semelhante a nós por sua
humanidade. É o nosso Mestre, porque Ele é Sábio, é a própria Palavra de Deus,
que veio falar-nos, para fazer que sejamos de Deus. E é nosso Deus, sendo um só
com o Pai e o Espírito Santo, com os quais está sempre em união de amor, de
poder e por natureza. Esta verdade, que, com manifestas provas, me foi dado
conhecer, o Justo, que foi meu parente, ficai, vós também, de posse dela. E
contra o mundo, que procura roubar-vos de Cristo, dizendo: “Ele é um homem como
os outros”, respondei, dizendo: “Não. Ele é o Filho de Deus, é a Estrela
nascida de Jacó, é a vara que se levanta lá, em Israel, é o Dominador”. Não vos
deixeis levar por nada. Esta é a Fé.
Fala, tu, agora, André.”
“Esta é a Fé. Eu sou
um pobre pescador do lago da Galiléia e, nas silenciosas noites de pesca, sob a
luz dos astros, eu tinha mudos colóquios comigo mesmo. Eu dizia: “Quando virá?
Estarei eu ainda vivo? Faltam ainda muitos anos, conforme a profecia.” Para o
homem, que tem uma vida limitada, até umas poucas dezenas de anos já parecem
séculos... Eu me perguntava: “Como virá Ele? Onde? De quem? E a minha
obtusidade humana me fazia sonhar com régios esplendores, régias moradas,
cortejos, clamores, poder, e uma majestade de um brilho insuportável... Eu
dizia: “Quem poderá olhar para este grande Rei?” Eu pensava que Ele fosse mais
aterrorizante, quando se manifestasse, do que o próprio Javé no Sinai. E dizia
a mim mesmo: “Lá no Sinai os hebreus viram o monte relampejar, e só não ficaram
reduzidos a cinzas, porque o Eterno lhes falava por detrás das nuvens. Mas
aqui, Ele olhará para nós com olhos mortais e nós morreremos...” Eu era
discípulo do Batista. E, quando não estava pescando, eu ia a ele, com outros
companheiros. E acontece que um dia deste mês... As margens do Jordão estavam
cheias de multidões que tremiam, quando o Batista falava. Eu havia notado um
jovem belo e calmo, que vinha vindo por um caminho, em direção a nós. Era
humilde em suas vestes mas doce em seu semblante. Parecia pedir amor e dar
amor. Seus olhos azuis pousaram um momento sobre mim, e eu senti uma coisa, que
nunca havia sentido. Parecia-me estar sendo acariciado em minha alma, estar
sendo tocado de leve pelas asas de um anjo. Por um momento, eu me senti tão
longe da terra, tão diferente, que cheguei a dizer: “Agora estou morrendo! Este
é o chamado que Deus faz ao meu espírito.” Mas eu não morri. Fiquei fascinado,
ao contemplar aquele jovem desconhecido que, por sua vez, havia fixado os seus
olhos azuis sobre o Batista. E o Batista virou-se, correu até Ele e o saudou,
inclinando-se. Falaram um com o outro. E, como a voz de João era sempre no
mesmo tom, as misteriosas palavras chegaram até mim, que as estava escutando,
cheio do desejo de saber quem era aquele jovem desconhecido. Minha alma o ouvia
e o achava diferente de todos. Eles diziam: “Eu é que deveria ser batizado por
Ti...”
“Deixa por enquanto. Convém cumprirmos toda a justiça...”
João havia dito: “Virá aquele, ao qual eu não sou digno de
desatar os cordões das sandálias.” Ele tinha dito: “Entre vós, em Israel, está
Alguém que vós não conheceis. Ele já tem na mão a peneira, e vai limpar o seu
terreiro e atear nas palhas um fogo que não se acaba.” Eu tinha, pois, diante
de mim um jovem do povo, de aspecto manso e humilde e, no entanto, ouvi dizer
que era Aquele do qual nem mesmo o Santo de Israel, o último Profeta, o
Precursor, era digno de desatar as sandálias. Eu ouvi dizer que Ele era Aquele
que nós não conhecíamos. Mas eu não fiquei com medo dele. Pelo contrário,
quando João, depois do super-extasiante trovão de Deus, depois do inconcebível
esplendor da Luz, em forma de uma pomba de paz, disse: “Eis o Cordeiro de
Deus”, eu, com a voz da alma, muito alegre por ter pressentido que aquele jovem
manso e humilde de aspecto era o Rei Messias, gritei, com a voz do meu
espírito: “Eu creio!” É por causa dessa fé que eu sou servo dele. Sede-o vós
também, e tereis paz. Mateus, cabe a ti
narrar as outras glórias do Senhor.”
“Eu não posso usar das palavras serenas de André. Ele era um
justo, eu era um pecador. Por isso, não tem cores festivas a minha palavra, mas
tem a paz de um salmo, cheia de confiança. Eu era um pecador. Um grande
pecador. Vivia no erro completo. Eu me havia endurecido e não me sentia mal. Se
alguma vez os fariseus ou o sinagogo me açoitavam com os seus insultos ou
censuras, falando em Deus, que é um juiz inexorável, eu, por um momento, ficava
horrorizado... mas eu me arrimava nesta estulta idéia: “Eu já estou
completamente condenado. Por isso, vamos gozar, ó meus sentidos, enquanto
pudermos.” E, então, mais do que nunca, eu me aprofundava no pecado. Já há duas
primaveras que um Desconhecido veio a Cafarnaum. Também para mim Ele era desconhecido.
E o era para todos, pois estava no começo de sua missão. Só poucos homens já o
conheciam, sabiam quem Ele realmente era. Estes que aqui estais vendo, e mais
uns poucos outros. Eu fiquei admirado de sua esplêndida virilidade, mais casta
do que a de uma virgem. Esta foi a primeira coisa que me surpreendeu nele. Eu
via como Ele, sério e, no entanto, estando sempre pronto a ouvir os meninos,
que iam até Ele, como as abelhas vão a uma flor. O único entretenimento dele
eram os brinquedos inocentes deles e as palavras sem malícia deles. Depois
fiquei maravilhado com o seu poder. Ele fazia milagres. E eu disse: “Ele é um
exorcista. Um santo.” Contudo, eu me sentia tão vituperável diante dele, que me
esquivava a encontrar-me com Ele. Mas Ele me procurava. Ou talvez eu tivesse a
impressão de que Ele o fazia. Ele não dava uma volta ao redor de minha banca,
sem que ficasse me olhando com aquele seu olhar doce e um pouco triste. E, cada
uma daquelas vezes, em mim havia um sobressalto da consciência, que estava entorpecida,
mas que já não voltava mais ao grau de torpor de antes. Um dia - as pessoas
estavam sempre elogiando as palavras dele -, eu tive o desejo de ir ouvi-lo. E,
tendo ido esconder-me atrás do canto de uma casa, eu o ouvi falando a um
pequeno grupo de homens. Falava com simplicidade a respeito da caridade, que é
como uma indulgência para os nossos pecados... Desde aquela tarde, eu, o
avarento e duro de coração, quis fazer por onde Deus me perdoasse muitos
pecados... Comecei a fazer as coisas em segredo... Mas Ele sabia que era eu,
porque Ele tudo sabe. Uma outra vez eu o ouvi explicar justamente o capítulo 52
de Isaías: dizia Ele que em seu Reino, na Jerusalém Celeste, não haverá imundos
e incircuncisos de coração, e prometia que aquela Cidade celeste, de cuja
beleza Ele falava com uma palavra tão persuasiva, que eu tenho saudades dela,
cidade aquela que haveria de ser de quem o acompanhasse. E depois... E
depois... Oh! Aquele não foi um dia de tristeza, mas de ordem. Feriu o meu
coração, despiu a minha alma e a cauterizou, pegou-a com seu punho, esta pobre
alma doente, torturou-a com seu amor exigente... E eu fiquei com uma alma nova.
Eu fui à direção dele, com arrependimento e desejo. Ele não esperou que eu lhe
dissesse: “Senhor, tem piedade!” Ele disse: “Segue-me!” O manso havia vencido
Satanás, no coração do pecador. E que isto vos ensine, se algum de vós está
perturbado por culpas, que Ele é o Salvador bom e que não é preciso fugir dele,
mas, quanto mais pecadores formos, vamos a Ele com humildade e arrependimento
para sermos perdoados.” Tiago de
Zebedeu, fala tu.”
“Na verdade, não sei o que dizer. Vós falastes e dissestes o
que eu teria dito. Porque a verdade é esta, e não pode mudar. “Eu também estava
com André à margem do Jordão, e não prestei atenção em Jesus, senão quando
no-lo mostrou o Batista. Mas eu acreditei logo, e quando Ele partiu, depois de
sua luminosa manifestação, eu fiquei como alguém que sai de um cume cheio de
sol para ser fechado dentro de um cárcere escuro. Eu ficava angustiado por não
encontrar o sol. O mundo estava todo cheio de luz, depois que me havia
aparecido a Luz de Deus, e que depois me desaparecera. Entre os homens eu
estava sozinho. Enquanto eu me saciava, ficava com fome. Durante o sono, eu
velava com minha melhor parte e o dinheiro, a profissão, os afetos, tudo,
haviam passado para trás deste desejo ardente dele, sem ter outros atrativos.
Como um menino que perdeu a mãe, eu gemia: “Volta, Cordeiro do Senhor! Ó
Altíssimo, como mandaste Rafael para guiar Tobias, manda o teu anjo para
conduzir-me pelos caminhos do Senhor, para que eu o encontre, o encontre, o
encontre!” Contudo, quando depois de dezenas de dias de uma inútil espera, de
buscas cansativas, que, por sua inutilidade, nos tornavam mais cruel a perda do
nosso João, parado pela primeira vez, Ele nos apareceu no caminho, e estava
vindo do deserto, eu não o reconheci logo. E aqui, meus irmãos no Senhor, quero
aproveitar para ensinar-vos um outro caminho para ir a Ele e reconhecê-lo.
Simão de Jonas disse que é preciso ter fé e humildade para reconhecê-lo. Simão
Zelotes confirmou também a absoluta necessidade da Fé, para reconhecer em Jesus
de Nazaré Aquele que é, no Céu e na terra, conforme tudo o que foi dito. E
Simão Zelotes, precisava de uma fé bem grande, até para esperar pelo seu corpo,
que estava irremediavelmente doente. Por isso Simão Zelotes diz que Fé e
Esperança são os meios para termos o Filho de Deus. Tiago, irmão do Senhor,
fala do poder da Fortaleza para conservar o que se encontrou. A Fortaleza que
impede que as insídias do mundo e de Satanás tirem a base da nossa Fé. André
mostra toda a necessidade de unir à Fé uma santa sede de Justiça, procurando
conhecer e reter a Verdade, seja qual for a boca santa que a anuncia, não pelo
orgulho humano de parecer douto, mas pelo desejo de conhecer a Deus. Quem se
instrui na verdade, encontra a Deus. Mateus, que antes foi pecador, vos indica
um outro caminho pelo qual se chega a Deus: despojar-se da sensualidade por
espírito de imitação, eu diria, por um reflexo de Deus que é Pureza infinita.
Ele, o pecador é, em primeiro lugar, ferido pela “virilidade casta” do
Desconhecido, que foi a Cafarnaum e, como se esta tivesse o poder de
ressuscitar a sua continência morta, ele proíbe a si mesmo, em primeiro lugar,
a sensualidade carnal, desembaraçando assim o caminho para a vinda de Deus e
para a ressurreição das outras virtudes mortas. Da continência passa para a
misericórdia, da misericórdia para a contrição, da contrição para a vitória
sobre si mesmo e para a união com Deus. “Segue-me”. “Eu vou”. Mas a sua alma já
havia dito: “Eu vou”, e o Salvador já havia dito: “Segue-me”, desde quando,
pela primeira vez, a Virtude do Mestre tinha atraído a atenção do pecador.
Imitai-o. Porque qualquer experiência dos outros, ainda que seja penosa,
serve-nos de guia para evitar o mal e para encontrar o bem naqueles que são de
boa vontade. Eu, por mim, digo que, quanto mais o homem se esforça para viver
pelo espírito, mais se torna apto para reconhecer o Senhor, e uma vida angélica
muito contribui para isso. Entre nós, discípulos de João, aquele que o
reconheceu, depois daquela ausência, foi a alma virgem. Mais ainda do que
André, ele o reconheceu, não obstante a penitência ter mudado o rosto do
Cordeiro de Deus. Por isso, eu digo: “Sede castos para que possais
reconhecê-lo.” Judas, queres tu falar agora?”
“Sim. Sede castos para
que possais reconhecê-lo. Mas, sede-o também para que possais conservar em vós
sua Sabedoria, com seu Amor, com toda a sua Identidade. É ainda Isaias, que diz
no capítulo 52: “Não toqueis no que é impuro... Purificai-vos, vós que levais
os vasos do Senhor”. É bem verdade que toda alma, que se faz sua discípula, é
semelhante a um vaso cheio pelo Senhor, e o corpo que a contém é como quem leva
o vaso consagrado ao Senhor. Deus não pode estar onde está a impureza. Mateus
disse como foi que o Senhor explicou que nada de imundo, de separado de Deus
haverá na Jerusalém celeste. Sim. Mas é necessário que não seja imundo aqui em
baixo, nem separado de Deus, para se poder entrar lá. Infelizes daqueles que
vão adiando até à ultima hora para se arrependerem. Nem sempre terão tempo para
mudar seus corações no momento do triunfo, e não gozarão, portanto, dos frutos
que daí decorrem. Aqueles, que no Rei Santo e humilde esperam ver um monarca
terreno e, mais ainda, aqueles que têm medo de ver nele um monarca terreno,
estão despreparados naquela hora, arrastados pelo engano e decepcionados por
seus próprios pensamentos, que não são pensamentos de Deus, mas uns pobres
pensamentos humanos, esses pecarão muito mais. A humilhação de ser homem está
sobre Ele. Disso deveremos lembrar-nos. Isaías diz que todos os nossos pecados
fazem que fique mortificada a Pessoa Divina, que está debaixo de uma aparência
comum. Quando eu penso que o Verbo de Deus tem ao redor de Si, como uma crosta
suja, toda a miséria da humanidade, desde quando esta existe, fico pensando
também, com profunda compaixão e profunda compreensão, no sofrimento que Ele
deve sentir por isso, em sua alma sem culpa. É como a repugnância de uma pessoa
sã, que ficasse recoberta de trapos e com as sujeiras de um leproso. Realmente
aquele que foi transpassado por causa de nossos pecados e todo coberto de
chagas por todas as concupiscências do homem. Sua alma, vivendo entre nos, deve
tremer, na convivência conosco, como os que têm arrepios de febre. Contudo, Ele
não fala. Não abre a boca para dizer: “Isto me faz horror.” Mas abre a boca
para dizer: “Vinde a mim, para que Eu vos tire as vossas culpas.” Ele é o
salvador. Em sua infinita bondade, Ele quis esconder a sua beleza insuportável,
para ser observada por nossos olhos. Se ela nos aparecesse como é vista no Céu,
nos teria reduzido a cinzas, como disse André. Naquela hora, ela se tornou
atraente, como a de um Cordeiro manso, para podermos aproximar-nos dela e
salvar-nos. Sua opressão, sua condenação durará até que, tendo-se consumado o
esforço de ser o homem perfeito no meio dos homens imperfeitos, Ele será
exaltado acima da multidão dos que tiverem sido resgatados no triunfo de sua
realeza santa. Deus conhece a morte, a fim de salvar-nos para a Vida! Que estes
pensamentos vos façam amá-lo sobre todas as coisas. Ele é o Santo. Eu o posso
dizer, eu que com Tiago, cresci com Ele. Eu digo e direi, pronto a dar a minha
vida para fazer esta confissão, a fim de que os homens creiam nele, e tenham a
Vida eterna. João Zebedeu, é a tua vez
de falar.”
“Como são belos sobre
os montes os pés do mensageiro! Do mensageiro da paz, daquele que anuncia a
felicidade e prega a salvação, daquele que diz a Sião: “Reinará o teu Deus!” E
estes pés vão indo, incansáveis, já há dois anos pelos montes de Israel,
chamando para a reunião as ovelhas do rebanho de Deus, confortando, curando,
perdoando, dando a paz. A sua paz. Na verdade, eu fico admirado ao ver que não
estremecem de alegria as colinas e não exultam as águas da Pátria, sob as
carícias de seus pés. Mas o que mais me espanta é ver que não estremeçam de
alegria os corações, nem exultem, dizendo: “Louvor ao Senhor! O Esperado
chegou! Bendito o que vem em nome do Senhor!”, o que espalha graças e bênçãos,
paz e salvação, e chama para o seu Reino, abrindo-nos o caminho para ele, o
que, sobretudo, derrama amor em cada um dos seus atos e palavras, em cada
olhar, em cada respiro. Que é, então, este mundo, para ficar cego, diante da Luz, que está vivendo entre nós? Que lajes,
pois, haverá, de mais espessura do que a pedra que fica nas portas dos
sepulcros, que lajes são estas, que muraram a vista das almas para que não
vejam esta Luz? Que montanha de pecados terá o homem sobre si mesmo para ficar
assim, oprimido, separado, cego, ensurdecido, encadeado, paralisado, para ficar
assim inerte, diante do Salvador? Que é o Salvador? É a Luz unida ao Amor. A
boca dos meus irmãos engrandeceu os louvores do Senhor, revocou as suas obra,
relembrou as virtudes, que hão de ser praticadas, para chegarmos ao caminho. E
eu vos digo: Amai. Não há outra virtude maior e mais semelhante à Natureza
dele. Se amardes, praticareis todas as virtudes, sem cansar-vos, a começar pela
virtude da castidade. Não vos será uma coisa pesada ser castos porque, amando a
Jesus, não amareis a nenhum outro imoderadamente. Sereis humildes, porque
vereis nele as suas infinitas perfeições com olhos de amor e, por isso, não vos
ensoberbecereis pelas vossas, que são mínimas. Sereis pessoas de fé. Quem não
crê em quem ama? Sereis contritos por causa do arrependimento que salva, pois o
vosso arrependimento será sincero, isto é, um arrependimento pela tristeza a
Ele causada, e não por aquela por vós merecida. Sereis fortes. Oh! Sim! Unidos
a Jesus seremos fortes! Fortes contra tudo. Sereis cheios de esperança, porque
não duvidareis do Coração dos corações, que vos ama com todo o seu Ser. Sereis
sábios. Sereis tudo. Amai Aquele que anuncia a felicidade verdadeira, que prega
a salvação! Que vai incansável pelos montes e vales, chamando o rebanho para a
reunião, e no caminho está a paz, pois a paz está no seu Reino, que não é deste
mundo, mas que é verdadeiro, como Deus é verdadeiro. Deixai todos os caminhos,
que não sejam o dele. Livrai-vos de toda nebulosidade. Andai na Luz. Não sejais
como o mundo, que não quer ver a Luz, que não a quer conhecer. Mas ide ao nosso
Pai, que é o Pai das Luzes, que é Luz sem medida, através do Filho, que é Luz
do mundo, para gozar de Deus no abraço do Paráclito, que é o fulgurar das
Luzes, em uma só felicidade de amor, que centraliza os Três em Um só. Ó
Infinito oceano do Amor, sem tempestades, sem trevas, acolhe-nos! A todos nós!
Na tua Paz. A todos! Por toda a Eternidade. A todos sobre a terra, porque te
amamos, ó Deus, e ao próximo como Tu queres. A todos, no Céu. Porque, ainda e
sempre, amamos, não somente a Ti e aos celestes habitantes, mas também, e
ainda, aos irmãos militantes nesta terra, à espera da paz e, como anjos de
amor, os defendemos e socorremos nas lutas e nas tentações, para que eles
possam estar contigo em tua Paz, para glória eterna do Senhor nosso, Jesus,
Salvador, Amante do homem, até o limite
sem limite do seu sublime aniquilamento.”
“E o tormento causado por
um homem, não querido senão por um homem mau, cumpriu-se parando, como um curso
d’água que pára em um lago, depois de ter feito o seu percurso... Eu te faço
observar como até Judas de Alfeu, mais alimentado pela Sabedoria do que os outros,
lê a passagem de Isaías sobre os meus sofrimentos de Redentor, uma explicação
humana. E assim estava todo Israel, que se recusava a aceitar a realidade
profética, e contemplava as profecias sobre as minhas dores como alegorias e
símbolos. O grande erro, pelo qual, na hora da Redenção bem poucos em Israel
souberam ainda ver o Messias naquele Condenado. A Fé não é somente uma coroa de
flores. Ela também tem espinhos. E é santo aquele que sabe crer nas horas de
glória, como nas horas trágicas, e sabe amar, tanto quando Deus o cobre de
flores, como quando o coloca sobre espinhos.
(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 4)
Sem comentários:
Enviar um comentário