O DESEJO DE UMA VELHINHA DE SEGUIR JESUS
Maria Salomé é
acolhida como discípula.
2 de maio de 1945.
Jesus está em uma casa que compreendo ser a de Tiago e João, pelo que estão dizendo os que nela se
encontram. Com Jesus, além dos dois apóstolos, estão Pedro e André, Simão
Zelote, Iscariotes e Mateus. Os outros não os vejo. Tiago e João estão felizes.
Vão e vêm entre a mãe deles e Jesus, como umas borboletas que não sabem qual a
flor que hão de preferir, entre duas igualmente amadas, e Maria Salomé acaricia
os seus dois rapagões, a cada vez que dela se aproximam, toda contente,
enquanto Jesus sorri. Devem ter acabado de tomar a refeição, porque a mesa
ainda está posta. Mas os dois querem que Jesus coma uns cachos de uva branca,
tida em conserva pela mãe e que deve ser doce como o mel. O que é que eles não
dariam a Jesus! Mas Salomé quer dar e receber alguma coisa que seja mais do que
uvas e carícias. E depois de ter parado um pouco, pensativa, olhando para Jesus
e olhando para Zebedeu, decide. Vai ao Mestre, que está sentado com as costas
apoiadas na mesa e ajoelha-se diante Dele.
"Que queres, mulher?".
"Mestre, Tu decidiste que tua Mãe e a mãe de Tiago e
Judas vão Contigo e também Susana vai, e certamente também a grande Joana de
Cusa irá. Todas as mulheres que te veneram irão, se uma qualquer for. Eu quereria
ir também. Leva-me, Jesus. Eu te servirei com amor".
"Tu tens que
cuidar do Zebedeu. Não o amas mais?".
"Oh! Se o amo! Mas eu amo mais a Ti. Oh! Não quero dizer
que te amo como homem. Tenho sessenta anos e há quase quarenta que estou
casada, e nunca vi outro homem, que não fosse o meu. Louca, agora que sou uma
velha, não vou ficar. Nem, porém, pela velhice, morre o meu amor pelo meu
Zebedeu. Mas Tu... Eu não sei falar. Sou uma pobre mulher. Falo como sei. E é
isto, ao Zebedeu eu amo com tudo o que era antes. Mas a Ti eu amo com tudo
aquilo que soubeste fazer vir em mim com as tuas palavras e com as que me foram
ditas pelo Tiago e pelo João. E é uma coisa bem diferente... mas tão
bela".
"Não será tão bela como o amor de um ótimo esposo".
"Oh! Não. O é
muito mais!... Oh! Não o leves a mal, Zebedeu! Eu te amo ainda com toda mim
mesma. Mas a Ele eu amo com alguma coisa que é ainda Maria, mas que não é mais
Maria, a pobre Maria tua esposa, mas é mais do que isto... Oh! eu nem sei
explicar!". Jesus sorri para a mulher, que não quer ofender ao marido, mas
não pode calar-se, diante do seu grande e novo amor. Também o Zebedeu sorri
gravemente, aproximando-se da mulher que, continuando de joelhos, vira-se sobre
si mesma para olhar, ao esposo e a Jesus. alternadamente.
"Mas sabes, Maria, que terás que deixar a tua casa? Tu,
que aqui cuidas de tantas coisas! Os teus pombos... as tuas flores... e esta
videira que produz aquela uva doce de que tanto te orgulhas... e as tuas
colméias, as mais famosas do povoado... e não mais aquele tear, no qual fizeste
tantos tecidos e tanta lã para os teus queridos... E os netinhos? Como farás,
sem os teus pequenas netos?"
"Oh! Mas meu
Senhor! Que queres que sejam as paredes, os pombos, as flores, a videira, as
colméias, o tear? Tudo isso são coisas boas, queridas, mas tão pequenas,
comparadas a Ti e ao amor a Ti?! Os netinhos... é, sim. Será uma pena não poder
fazê-los dormir no colo e ouvir que me estão chamando... mas Tu és mais! Oh! se
és mais do que todas as coisas de que falaste! E, se elas, mesmo tomadas todas
juntas, e por minha fraqueza, fossem tão queridas como Tu, ou mais do que
seguir-te e servir-te, eu, chorando, as lançaria de lado com lágrimas de
mulher, para seguir-te com o sorriso da minha alma. Leva-me, Mestre. Dizei isto a Ele, vós, João
e Tiago... e tu, meu esposo. Sede bons. Ajudai-me, vós todos! ".
"Tudo bem. Irás
tu também com as outras. Eu quis fazer-te meditar bem sobre o passado e o
presente, sobre o que vais deixar e sobre o que vais assumir. Mas vem, Salomé.
Já estás madura para entrar na minha família".
"Oh! Madura! Eu sou menos que uma criança! Mas Tu me
perdoarás os erros e me segurarás pela mão. Tu... Porque, grosseira como eu
sou, de tua Mãe e da Joana eu terei muita vergonha. De todos eu terei vergonha.
Menos de Ti. Porque Tu és o Bom e tudo compreendes, de tudo tens dó, tudo
perdoa".
( de Jesus à Valtorta, O Evangelho como me foi Revelado, Vol.
2)
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