JESUS CHORA DIANTE DE
JERUSALÉM
30 de julho de 1944.
... De uma colina perto de Jerusalém, Jesus olha para a cidade estendida a seus pés. Esta não é uma colina muito alta. No máximo como pode ser a esplanada de São Miniato do Monte, em Florença. Mas é o bastante para que o olho domine sobre a extensão do terreno onde estão as casas e as ruas que sobem e descem pelas pequenas elevações do terreno onde está
30 de julho de 1944.
... De uma colina perto de Jerusalém, Jesus olha para a cidade estendida a seus pés. Esta não é uma colina muito alta. No máximo como pode ser a esplanada de São Miniato do Monte, em Florença. Mas é o bastante para que o olho domine sobre a extensão do terreno onde estão as casas e as ruas que sobem e descem pelas pequenas elevações do terreno onde está
Jerusalém.
Mas esta colina é certamente muito mais alta, se tomarmos por base o nível mais
baixo da cidade, não tanto com o Calvário, mas por estar mais perto do muro do
que ele. Ela nasce propriamente quase de fora dos muros, e se ergue, com um
salto rápido, ao lado dele, enquanto que do outro lado, desce devagar para o
campo todo verde, que se estende para o leste. Pelo menos me parece ser o lado
do oriente, se eu estiver interpretando bem, pela luz solar.
Jesus e os seus estão debaixo de um grupo de árvores, sentados à sombra delas. Estão descansando do muito que caminharam. Depois Jesus se levanta, deixa aquele espaço cheio de árvores onde estavam sentados, e se dirige para onde desejava ir: para um lado do outeiro. Sua alta estatura se destaca nítida no meio do vazio que o circunda. E ela fica parecendo ser ainda mais alta, estando Ele assim de pé, e sozinho. Ele tem as mãos cruzadas sobre o peito, por cima do manto azul, e está olhando sério, muito sério.
Os apóstolos o estão observando. Mas o deixam tranqüilo, não se movem nem falam. Devem estar pensando que Ele veio sozinho para rezar. Mas Jesus não está rezando. Depois de ter ficado olhando de lá para a cidade em todos os seus bairros, em suas elevações, em suas particularidades, de vez em quando lança demorados olhares sobre este ou aquele ponto e outras vezes com menor duração. E Ele se põe a chorar, sem sacudir-se nem fazer barulho. Suas lágrimas enchem as órbitas, depois escorrem, e vão descendo por sobre as faces, e caem, por fim. São grandes lágrimas, silenciosas e muito tristes. São lágrimas como as de quem sabe que deve chorar, sozinho, sem esperar o consolo nem a compreensão de ninguém. Por uma dor, que não pode ser anulada, e que deve ser sofrida, incondicionalmente.
O irmão de João, por sua colocação, é o primeiro que vê aquele pranto e fala dele aos outros. Eles olham um para o outro, surpresos.
“Nenhum de nós lhe fez mal”, diz um deles. E um outro diz: “Não foi ninguém da multidão que o insultou. Pois não havia no meio dela nenhum inimigo dele.”
“E, então, por que Ele está chorando?”, pergunta o mais velho de todos. Pedro e João se levantam, ao mesmo tempo, e se aproximam do Mestre. Pensam que a única coisa que podem fazer seria fazê-lo ouvir que o amam, e perguntar-lhe o que houve.
“Mestre, Tu estás chorando?”, diz João, pousando sua cabeça loura sobre o ombro de Jesus que é mais alto do que ele, da base do pescoço para cima.
E Pedro, pondo-lhe a mão na cintura, e apertando-o, como se o abraçasse, puxa-o para si, e lhe diz: “Que é que te faz sofrer. Jesus? Dize-o a nós, que te amamos.”
Jesus apóia a face sobre a cabeça loura do João e abrindo os braços passa por sua vez, o braço sobre o ombro do João. Ficam assim abraçados todos os três, em uma postura de muito amor. Mas o pranto continua a gotejar. João o percebe descer por entre seus cabelos, e torna a perguntar: “Por que estás chorando, Mestre meu? Será que nós é que te fazemos sofrer?”
Os outros apóstolos se reuniram ao grupo amoroso, e com ansiedade esperam uma resposta.
“Não”, diz Jesus. “Não sois vós. Vós sois meus amigos, e a amizade, quando é sincera, é um bálsamo e um sorriso, mas nunca um pranto. Eu gostaria que vós permanecêsseis sempre meus amigos. E principalmente agora, quando vamos entrar na corrupção que fermenta, que corrompe a quem não tem a vontade decidida de permanecer honesto.”
“Para onde vamos, Mestre? Não é para Jerusalém? A multidão já te saudou com alegria. Queres desiludi-la? Será que vamos a Samaria ver algum milagre? E justamente agora, que a Páscoa está perto?”
As perguntas são feitas por muitos ao mesmo tempo. Jesus levanta as mãos para impor silêncio e depois, com a mão direita, mostra a cidade. É um gesto largo como o do semeador, que joga as sementes para a frente de si. Ele diz: “Ali está a corrupção. Nós estamos entrando em Jerusalém. Estamos entrando. E somente o Altíssimo é que sabe como Eu quereria santificá-la de novo a esta que já deveria ser a Cidade Santa. Mas não poderei fazer nada mais para ela. Está corrompida, e corrompida irá ficar. E os rios da santidade, que jorram do Templo vivo, ainda mais jorrarão por alguns dias, até deixá-lo vazio de vida, não sendo eles suficientes para redimi-la. Virá ao Santo a Samaria e o mundo pagão. Sobre os templos mentirosos surgirão os templos do verdadeiro Deus. Os corações dos gentios adorarão o Cristo. Mas este povo, esta cidade será sempre inimiga dele, e o seu ódio ao maior dos pecados. Isto deve acontecer. Mas, ai daqueles que vão ser instrumentos desse delito. Ai deles!...” Jesus olha fixamente para o Judas, que está quase à sua frente.
“Isto a nós não acontecerá nunca. Nós somos os teus apóstolos e cremos em Ti, e estamos dispostos a morrer por Ti.” Judas mente despudoradamente, e não abaixa o olhar, ainda que sinta que o olhar de Jesus continua sobre ele... Os outros protestam todos juntos.
Jesus responde a todos, mas evita responder ao Judas diretamente.
“Queira o céu que vós sejais assim. Mas ainda há muita fraqueza em vós... e a tentação poderia tornar-vos semelhantes àqueles que me odeiam. Rezai muito, e velai muito sobre vós. Satanás sabe que está para ser vencido, e quer vingar-se, afastando-vos de Mim. Satanás está ao redor de todos nós. Ao redor de Mim, para impedir- me de fazer a vontade do Pai e de cumprir a minha missão... E de vós para fazer de vós servos seus. Vigiai. Do lado de dentro daqueles muros, Satanás pegará aquele que não souber ser forte. Aquele para o qual a maldição terá sido o ter ele sido escolhido, porque ele fez dessa escolha um plano humano. Eu vos escolhi para o Reino dos Céus, e não para o do mundo. Lembrai-vos disso. E tu, cidade que queres a tua ruína, e sobre a qual Eu choro, fica sabendo que o Cristo ora pela tua redenção. Oh! Se pelo menos nesta hora que te resta souberes vir a quem seria a tua paz! Pelo menos que compreendesses nesta hora o Amor que está passando no meio de ti, e te despojasses do ódio que te torna cega e louca, cruel para contigo mesma, e para com o teu bem! Mas dia virá em que te lembrarás desta hora! Já será tarde demais, então, para chorares e te arrependeres. O Amor terá passado, e terá desaparecido de tuas estradas, e só ficará o ódio, que foi o preferido por ti. E o ódio se porá contra ti, e contra os teus filhos. Porque tem-se aquilo que se quis e ódio se paga com ódio. E não será mais o ódio dos fortes contra o desarmado. Mas ódio contra ódio e, por isso, guerra e morte. Cercada por trincheiras e homens armados, já terás definhado, mesmo antes de seres destruída, e verás caindo os teus filhos pelas armas e pela fome, e os que sobreviverem serão levados como prisioneiros e escarnecidos, e, então, tu pedirás misericórdia, mas não a encontrarás mais, porque te recusaste a reconhecer a tua Salvação. Eu choro, meus amigos, porque Eu tenho um coração de homem, e por isso as ruínas da Pátria me fazem chorar. Mas é justo que isso se cumpra, pois a corrupção campeia do lado de dentro destes muros, e passa acima de todos os limites, atraindo o castigo de Deus. Ai dos cidadãos que são causa do mal da Pátria. Ai dos reitores, que são a causa principal disso. Ai daqueles que deveriam ser santos, para levarem os outros a serem honestos, pois, ao contrário disso, eles estão profanando a casa do seu ministério e a si mesmos! Vinde. Minha ação nada mais valerá. Mas façamos que a Luz brilhe, ainda uma vez, no meio das Trevas!”
e Jesus vai descendo, acompanhado pelos seus. Vai, andando depressa pelo caminho, com um rosto sério, e, eu diria, quase fechado. Ele nem fala mais. Entra em uma casinha, aos pés da colina, e eu não vejo nada mais.
Jesus e os seus estão debaixo de um grupo de árvores, sentados à sombra delas. Estão descansando do muito que caminharam. Depois Jesus se levanta, deixa aquele espaço cheio de árvores onde estavam sentados, e se dirige para onde desejava ir: para um lado do outeiro. Sua alta estatura se destaca nítida no meio do vazio que o circunda. E ela fica parecendo ser ainda mais alta, estando Ele assim de pé, e sozinho. Ele tem as mãos cruzadas sobre o peito, por cima do manto azul, e está olhando sério, muito sério.
Os apóstolos o estão observando. Mas o deixam tranqüilo, não se movem nem falam. Devem estar pensando que Ele veio sozinho para rezar. Mas Jesus não está rezando. Depois de ter ficado olhando de lá para a cidade em todos os seus bairros, em suas elevações, em suas particularidades, de vez em quando lança demorados olhares sobre este ou aquele ponto e outras vezes com menor duração. E Ele se põe a chorar, sem sacudir-se nem fazer barulho. Suas lágrimas enchem as órbitas, depois escorrem, e vão descendo por sobre as faces, e caem, por fim. São grandes lágrimas, silenciosas e muito tristes. São lágrimas como as de quem sabe que deve chorar, sozinho, sem esperar o consolo nem a compreensão de ninguém. Por uma dor, que não pode ser anulada, e que deve ser sofrida, incondicionalmente.
O irmão de João, por sua colocação, é o primeiro que vê aquele pranto e fala dele aos outros. Eles olham um para o outro, surpresos.
“Nenhum de nós lhe fez mal”, diz um deles. E um outro diz: “Não foi ninguém da multidão que o insultou. Pois não havia no meio dela nenhum inimigo dele.”
“E, então, por que Ele está chorando?”, pergunta o mais velho de todos. Pedro e João se levantam, ao mesmo tempo, e se aproximam do Mestre. Pensam que a única coisa que podem fazer seria fazê-lo ouvir que o amam, e perguntar-lhe o que houve.
“Mestre, Tu estás chorando?”, diz João, pousando sua cabeça loura sobre o ombro de Jesus que é mais alto do que ele, da base do pescoço para cima.
E Pedro, pondo-lhe a mão na cintura, e apertando-o, como se o abraçasse, puxa-o para si, e lhe diz: “Que é que te faz sofrer. Jesus? Dize-o a nós, que te amamos.”
Jesus apóia a face sobre a cabeça loura do João e abrindo os braços passa por sua vez, o braço sobre o ombro do João. Ficam assim abraçados todos os três, em uma postura de muito amor. Mas o pranto continua a gotejar. João o percebe descer por entre seus cabelos, e torna a perguntar: “Por que estás chorando, Mestre meu? Será que nós é que te fazemos sofrer?”
Os outros apóstolos se reuniram ao grupo amoroso, e com ansiedade esperam uma resposta.
“Não”, diz Jesus. “Não sois vós. Vós sois meus amigos, e a amizade, quando é sincera, é um bálsamo e um sorriso, mas nunca um pranto. Eu gostaria que vós permanecêsseis sempre meus amigos. E principalmente agora, quando vamos entrar na corrupção que fermenta, que corrompe a quem não tem a vontade decidida de permanecer honesto.”
“Para onde vamos, Mestre? Não é para Jerusalém? A multidão já te saudou com alegria. Queres desiludi-la? Será que vamos a Samaria ver algum milagre? E justamente agora, que a Páscoa está perto?”
As perguntas são feitas por muitos ao mesmo tempo. Jesus levanta as mãos para impor silêncio e depois, com a mão direita, mostra a cidade. É um gesto largo como o do semeador, que joga as sementes para a frente de si. Ele diz: “Ali está a corrupção. Nós estamos entrando em Jerusalém. Estamos entrando. E somente o Altíssimo é que sabe como Eu quereria santificá-la de novo a esta que já deveria ser a Cidade Santa. Mas não poderei fazer nada mais para ela. Está corrompida, e corrompida irá ficar. E os rios da santidade, que jorram do Templo vivo, ainda mais jorrarão por alguns dias, até deixá-lo vazio de vida, não sendo eles suficientes para redimi-la. Virá ao Santo a Samaria e o mundo pagão. Sobre os templos mentirosos surgirão os templos do verdadeiro Deus. Os corações dos gentios adorarão o Cristo. Mas este povo, esta cidade será sempre inimiga dele, e o seu ódio ao maior dos pecados. Isto deve acontecer. Mas, ai daqueles que vão ser instrumentos desse delito. Ai deles!...” Jesus olha fixamente para o Judas, que está quase à sua frente.
“Isto a nós não acontecerá nunca. Nós somos os teus apóstolos e cremos em Ti, e estamos dispostos a morrer por Ti.” Judas mente despudoradamente, e não abaixa o olhar, ainda que sinta que o olhar de Jesus continua sobre ele... Os outros protestam todos juntos.
Jesus responde a todos, mas evita responder ao Judas diretamente.
“Queira o céu que vós sejais assim. Mas ainda há muita fraqueza em vós... e a tentação poderia tornar-vos semelhantes àqueles que me odeiam. Rezai muito, e velai muito sobre vós. Satanás sabe que está para ser vencido, e quer vingar-se, afastando-vos de Mim. Satanás está ao redor de todos nós. Ao redor de Mim, para impedir- me de fazer a vontade do Pai e de cumprir a minha missão... E de vós para fazer de vós servos seus. Vigiai. Do lado de dentro daqueles muros, Satanás pegará aquele que não souber ser forte. Aquele para o qual a maldição terá sido o ter ele sido escolhido, porque ele fez dessa escolha um plano humano. Eu vos escolhi para o Reino dos Céus, e não para o do mundo. Lembrai-vos disso. E tu, cidade que queres a tua ruína, e sobre a qual Eu choro, fica sabendo que o Cristo ora pela tua redenção. Oh! Se pelo menos nesta hora que te resta souberes vir a quem seria a tua paz! Pelo menos que compreendesses nesta hora o Amor que está passando no meio de ti, e te despojasses do ódio que te torna cega e louca, cruel para contigo mesma, e para com o teu bem! Mas dia virá em que te lembrarás desta hora! Já será tarde demais, então, para chorares e te arrependeres. O Amor terá passado, e terá desaparecido de tuas estradas, e só ficará o ódio, que foi o preferido por ti. E o ódio se porá contra ti, e contra os teus filhos. Porque tem-se aquilo que se quis e ódio se paga com ódio. E não será mais o ódio dos fortes contra o desarmado. Mas ódio contra ódio e, por isso, guerra e morte. Cercada por trincheiras e homens armados, já terás definhado, mesmo antes de seres destruída, e verás caindo os teus filhos pelas armas e pela fome, e os que sobreviverem serão levados como prisioneiros e escarnecidos, e, então, tu pedirás misericórdia, mas não a encontrarás mais, porque te recusaste a reconhecer a tua Salvação. Eu choro, meus amigos, porque Eu tenho um coração de homem, e por isso as ruínas da Pátria me fazem chorar. Mas é justo que isso se cumpra, pois a corrupção campeia do lado de dentro destes muros, e passa acima de todos os limites, atraindo o castigo de Deus. Ai dos cidadãos que são causa do mal da Pátria. Ai dos reitores, que são a causa principal disso. Ai daqueles que deveriam ser santos, para levarem os outros a serem honestos, pois, ao contrário disso, eles estão profanando a casa do seu ministério e a si mesmos! Vinde. Minha ação nada mais valerá. Mas façamos que a Luz brilhe, ainda uma vez, no meio das Trevas!”
e Jesus vai descendo, acompanhado pelos seus. Vai, andando depressa pelo caminho, com um rosto sério, e, eu diria, quase fechado. Ele nem fala mais. Entra em uma casinha, aos pés da colina, e eu não vejo nada mais.
Diz Jesus:
A cena narrada por Lucas parece desconexa, quase sem lógica. Eu que me compadeço das desventuras de uma cidade culpada, e não saberei compadecer-me dos costumes desta cidade? Não. Não os conheço, e não me posso compadecer deles, pois que, pelo contrário, são esses próprios costumes que geram as desventuras. E, ao vê-las, torna-se para mim mais aguda a minha dor. A minha ira contra os profanadores do Templo é uma lógica conseqüência da minha meditação sobre as próximas desventuras de Jerusalém.
São sempre as profanações do culto de Deus, da Lei de Deus, que provocam os castigos do Céu. Fazendo da Casa de Deus uma espelunca de ladrões, aqueles sacerdotes indignos e aqueles crentes indignos, pois o são somente de nome, atraiam sobre todo o povo maldição e morte. É inútil dar este ou aquele nome ao mal que faz um povo sofrer. Procurai o nome justo, que é este: “Punição por viverem como uns brutos”. Deus se retira, e o Mal avança. Eis o fruto de uma vida nacional indigna do nome de cristã.
Como naqueles tempos, também agora, neste fim de século, não tenho faltado com prodígios, que fazem estremecer e reclamar... Mas, hoje como ontem, Eu não atraí sobre Mim e sobre meus instrumentos nada mais, do que escárnio, indiferença e ódio. Cada um em particular e as nações recordem-se de que inutilmente choram quando, antes, não quiseram conhecer sua salvação. Inutilmente me invocam, quando no tempo em que Eu estava com eles, eles me perseguiram com uma guerra-sacrílega que, partindo das consciências individuais, devotadas ao Mal, espalhou-se por toda a Nação. As Pátrias não se salvam somente com as almas, mas também com uma forma de vida, que atraia as proteções do Céu.
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