ENSINAMENTOS DE JESUS PARA SE CHEGAR AO BANQUETE COM DEUS NO
CÉU
“Jesus,
tem piedade de mim!” É uma voz lamentosa, que entra pelas janelas abertas, pois
a sala está fechada e com os lampadários acesos. Talvez fechada por causa do
frio.
“Quem
está me chamando?”
“Só
pode ser algum importuno. Eu vou fazer que o expulsem. Ou talvez seja algum
mendigo. Farei que lhe dêem um pão.”
“Jesus,
eu estou doente. Salva-me!”
“Eu
já o disse. É um importuno. Vou castigar os servos por o terem deixado passar.”
E Ismael se levanta.
Mas
Jesus, mais novo do que ele pelo menos uns vinte anos, e mais alto a partir da
base do pescoço para cima, faz que ele se assente, pondo-lhe a mão no ombro e
dando-lhe esta ordem: “ Fica quieto ai, Ismael. Eu quero ver quem é esse que
está me procurando. Fazei que ele entre.”
Entra
um homem de cabelos ainda pretos. Pode ter uns quarenta anos. Mas está inchado
como uma barrica e amarelo como um limão maduro. Tem os lábios arroxeados e
semi-abertos, em uma boca ofegante. Vem acompanhando-o a mulher da primeira
parte desta visão.
O
homem anda para frente com dificuldade, tanto por causa da doença, como pelo
medo que tem. Ele se vê olhado com más intenções! Mas Jesus deixou o seu posto,
e foi para perto do infeliz, pegando-o pela mão, e levando-o para o centro da
sala, para um espaço vazio, por entre as mesas. E precisamente bem para debaixo
do lampadário.
“Mestre...
eu tenho procurado muito... e há muito tempo... Nada mais quero, a não ser a
saúde... também para os meus filhos e minha mulher... Tu podes tudo... Olha a
que fiquei eu reduzido!”
“E
crês que Eu te possa curar?”
“Se
eu creio!... Cada passo que eu dou é para mim uma dor... cada sacudidela um
sofrimento... e, no entanto, eu andei quilômetros para procurar-te... e depois,
com o carro, ainda vim vindo atrás de Ti... mas nunca te alcançava... Se eu
creio!... Eu estou espantado é por não estar ainda curado, quando a minha mão
está dentro da Tua, pois tudo de Ti é santo, ó Santo de Deus.”
O
pobrezinho sopra como um fole por causa do esforço que fez para dizer todas
aquelas palavras. A mulher olha para o marido e para Jesus, e chora.
Jesus
olha para eles, e sorri. Depois se vira, e pergunta: “Tu, velho escriba,
(dirige-se ao velho trêmulo, que falou por primeiro), responde-me> é
permitido curar aos sábados?”
“Aos
sábados não é permitido fazer obra alguma.”
“Nem
mesmo salvar alguém do desespero? Isso não é um trabalho braçal.”
“O
sábado é consagrado ao Senhor.”
“Que
obra há mais digna de um dia sagrado do que a de fazer que um filho de Deus
possa dizer ao Pai: Eu te amo e te louvo, porque me curaste?”
“Isso
ele deve fazer, mesmo que seja um infeliz.”
“Cananias,
estás sabendo que, neste momento, o teu bosque mais bonito está completamente
incendiado, e que em toda a encosta do Hermon se está refletindo a cor purpúrea
das chamas?”
O
velhinho dá um salto, como se uma cobra o houvesse picado.
“Mestre,
estás dizendo a verdade ou estás brincando?”
“Eu
digo a verdade. Eu estou vendo, e sei.”
“Oh!
Infeliz de mim! O meu bosque mais belo! São milhares de ciclos que viraram
cinza! Ó maldição! Que sejam malditos os cães que nele puseram fogo. Que pegue
fogo nas vísceras deles, como pegou nas minhas árvores!” O velhinho está
desesperado.
“É
apenas um bosque, Cananias, e tu te lamentas tanto! Por que não dá louvor ao
Senhor, no meio desta desventura? Este homem aqui não está perdendo a madeira
das árvores, que tornam a nascer, mas sem a vida e o pão dos filhos, e deveria
ele dar o louvor, que tu não dás. Portanto, escriba, não será lícito curar este
aqui num sábado?”
“Maldito
sejas Tu, ele e o sábado. Eu tenho coisa bem diferente em que pensar...”, e,
tendo dado um empurrão em Jesus, que lhe havia posto uma mão sobre o braço, sai
dali furioso, e ouve-se como ele brada, com sua voz rouca, que lhe tragam o seu
carro.
“E
agora?”, pergunta Jesus, correndo o olhar sobre os outros.”E agora, dizei-me: É
lícito, ou não?”
Ninguém
lhe responde. Eleazar inclina a cabeça, depois de ter entreaberto os lábios,
que ele torna a cerrar, atingido pelo ar gelado, que desceu sobre todos na
sala.
“Pois
bem, Eu vou falar”, diz Jesus. Ele está impressionante e trovejante, em seu
aspecto e sua voz, como acontece sempre quando está para operar algum milagre.
“Eu vou falar. E falo. E digo: homem que te seja feito conforme a tua fé. Tu
estás curado. Dá louvor ao Eterno. Vai em paz.”
O
homem fica como se fosse uma estátua. Talvez até pensasse que iria ficar de
repente esbelto como era antes. E lhe parece que não está curado. Mas, que ele
está sentindo? Ele dá um grito de alegria e se joga aos pés de Jesus e os
beija.
“Vai!
Vai! Sê sempre bom. Adeus!”
O
homem sai, acompanhado pela mulher, que até o fim se vira para saudar a Jesus.
“Mas
Mestre... Na minha casa... Em dia de sábado...”
“Tu
não o aprovas? Eu sei. E por isso Eu vim. Tu, meu amigo? Não. Meu inimigo. Não
és sincero comigo, nem com Deus.”
“E
ainda me ofendes agora?”
“Não.
Eu digo a verdade. Tu disseste que Eleazar não está obrigado a socorrer aquela
velha, porque ela não é de sua propriedade. Mas tu tinhas dois órfãos um tua propriedade.
Eram filhos de dois servos teus, fiéis, que morreram no trabalho, um com a
foice na mão, e a outra, morta pelo demasiado cansaço por ter-te devido servir
como tu exigiste dela, que trabalhasse por si mesma e pelo marido. E tu ainda
dizias: “Eu combinei com duas pessoas no trabalho e, para conservar-te, quero
que faças o teu trabalho e o do morto.” E ele fez aquele trabalho e nele
morreu, depois de ter concebido. Pois aquela mulher era mãe. E não houve para
com ela nem a compaixão que se tem para com um animal, que dá cria. Onde estão
agora aquelas duas crianças?”
“Não
sei. Um dia elas desapareceram.”
“Não
fiques mentindo agora. Ter sido cruel já basta. Não é preciso fazer uso da
mentira, para tornar ainda mais odiosos aos olhos de Deus os teus sábados,
mesmo que sejam passados sem obras servis. Onde estão aquelas crianças?”
“Não
sei. Não o sei mais, podes crer.”
“Eu
sei. Eu as encontrei numa manhã de novembro, uma manhã fria, chuvosa, escura.
Eu as encontrei esfaimadas e trêmulas, perto de uma casa, como dois
cachorrinhos à procura de um pedaço de pão... Malditas e expulsas por quem
tinha as vísceras de um cão. Porque até um cão teria tido compaixão dos dois
orfãozinhos. E tu e aquele homem não a tivestes. Os pais delas não te serviam
mais, não é verdade? Eles tinham morrido. Os mortos só podem chorar em seus sepulcros,
ao ouvirem os soluços de seus infelizes filhos, que os outros ainda desprezam.
Mas os mortos levam os seus prantos e os prantos de seus filhos a Deus,
dizendo: “ Senhor, faze por nós as nossas vinganças, porque o mundo nos oprime
quando não pode mais aproveitar-se de nós.” Não te serviam mais os dois
pequeninos, não é? Sim e não, já que a menina servia para respigar... E tu os
expulsastes, negando-lhes até aqueles poucos bens que eram do pai e da mãe
deles. Podiam morrer de fome, como dois cães em algum carreador. Podiam viver,
tornando-se ele um ladrão e ela uma prostituta. Porque a fome leva ao pecado.
Mas, que te importava isso?
Há
pouco tempo tu citavas a Lei, em apoio de tuas teorias. Pois, então a Lei não
diz: “ Não façais mal à viúva e ao órfão, porque, se lho fizeres, e eles
levantarem suas vozes, recorrendo a Mim, Ru ouvirei o grito deles, e o meu
furor dardejará raios. Eu vos exterminarei pela espada, e as vossas mulheres é
que ficarão viúvas, e os vossos filhos órfãos?” Não diz assim a lei? E, então,
por que tu não a cumpres? Tu que me defendes diante dos outros? Por que, então
não defendes a minha doutrina com o teu modo de viver? Tu queres ser meu amigo?
E, então, por que fazes o oposto do que Eu te digo? Um de vós está correndo, a
ponto de perder o fôlego, arrancando os cabelos, por causa da perda do seu
bosque. Mas, por que não os arranca das ruínas do seu coração! E tu, que estás
esperando para fazê-lo?
Por
que é que quereis julgar-vos perfeitos, vós que, por uma eventualidade, vos
dizeis grandes? E, se o fôsseis em alguma coisa, por que é que não procurais
sê-lo em tudo? É porque me odiais, por descobrir Eu as vossas mazelas? Eu sou o
médico de vossas almas. Pode um médico curar, se ele não descobrir e limpar as
feridas? Mas, não sabeis vós que muitos, e aquela mulher que acabou de sair é
uma, merecem o primeiro lugar no banquete de Deus, ainda que na aparência eles
sejam uns pobres desprezíveis? Não é a parte de fora, mas a de destro, é o
coração, é o espírito o que vale. Deus vos vê, lá do alto de seu trono. E Ele
vos julga. Quantos deles, não vê Ele como melhores do que vós? Então escutai.
Como regra, agi sempre assim: Quando vos convidarem para um banquete de
casamento, ide ocupar sempre o último lugar. Porque depois vos sentireis
honrados, com dupla honra, quando o dono da casa vos disser: “Meu amigo vem
adiante.” Será uma honra por merecimento e uma honra para a vossa humildade.
Enquanto que... Que triste hora para um soberbo, ter que ficar envergonhado, ao
ouvir que lhe dizem: “ Vai lá para o fundo, porque aqui está alguém que é mais
do que tu.” Pois bem. Fazei o mesmo, quando se trata do banquete secreto do
vosso espírito em suas núpcias com Deus. Quem se humilha será exaltado, e quem
se exalta será humilhado.
Ismael,
não fiques com raiva de Mim, que te estou curando. Eu não te tenho ódio. Eu vim
para curar-te. Tu estás mais doente do que aquele homem. Tu me convidaste para
dar um brilho a ti mesmo, e para satisfazer aos amigos. A maior parte deles sem
vontade, por soberba, e para se alegrarem. Não faças assim. Não convides aos
ricos, aos amigos, aos parentes. Mas, abre a tua casa, abre o teu coração aos
pobres, aos mendigos, aos aleijados, aos coxos, aos órfãos e às viúvas. Eles te
darão em troca as suas bênçãos. Mas Deus as transformará para ti em graças. E
no fim... Oh! No fim que sorte feliz vai ser a de todos os misericordiosos, que
de Deus receberão a retribuição, na ressurreição dos mortos! Ai daqueles que
acariciam somente a esperança de levar vantagem e depois, fecham seus corações
ao irmão, que não lhes pode mais servir. Ai deles! Eu farei a vingança pelos
abandonados.”
...Mas
por isso é que Eu te disse, no começo deste banquete, que o meu Reino se
conquista com vitórias sobre si mesmos, e não com vitória das armas em campo de
batalha. O lugar na grande Ceia é para estes humildes de coração. Contanto que
aquele coração queira. E basta uma palavra. E Eu vos tenho dito tantas. E fico
olhando. Em um coração está nascendo uma planta santa. Em outro, há espinheiros
para Mim. Eu vou pelo meu caminho reto. Quem me ama, que me siga. Eu vou indo,
e chamando. Os que são retos, venham a Mim. Eu vou indo e instruindo. Os que
buscam a Justiça, que se aproximem da Fonte. Quanto aos outros... Quanto aos
outros, julgá-los-á o Pai Santo. Ismael, Eu te saúdo. Não me odeies. Medita. E
acredita que Eu fui severo por amor, não por ódio. Paz a esta casa e aos seus
moradores, paz a todos, se merecerdes a paz.”
(O
Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 5, pgs. 256 a 261)
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