Quem dá aos pobres, a Deus dá.
DEUS-CARIDADE
Continuação do tema posterior: A Caridade é o próprio Deus.
Quando
em um tálamo se realiza uma concepção, esta se realiza com um mesmo ato, tanto
em um tálamo de ouro, como sobre a esteira do estábulo. E a criatura que se
forma no seio de uma rainha não é diferente da que se forma no seio de uma
mendiga, mas é igual em todos os pontos da terra, seja qual for a religião
delas. Todas as criaturas nascem como nasceram Abel e Caim, do seio de Eva. E a
igualdade da concepção, formação e modo de nascer dos filhos de um homem e de
uma mulher sobre a terra, corresponde a uma outra igualdade no Céu, a criação
de uma alma a ser infundida no embrião para que ele seja de homem e não de
animal, e o acompanhe, desde o momento em que foi criado até a morte, e lhe
sobreviva, na esperança da ressurreição universal, para se unirem de novo
agora, no corpo ressuscitado, e receber com ele o prêmio ou o castigo. O prêmio
ou o castigo, de acordo com as ações praticadas durante a vida terrena.
Para
que não fiqueis pensando que a Caridade seja injusta e que só porque muitos não
serão de Israel ou de Cristo, mas sendo virtuosos na religião que seguem,
convencidos de que ela é verdadeira, tenham que ficar para sempre sem prêmio.
Depois do fim do mundo, não sobreviverá outra virtude, a não ser a caridade,
isto é, a união com o Criador de todas as criaturas, que viveram com justiça.
Não haverá muitos Céus, um para Israel, um para os cristãos, um para os
católicos, um para os gentios, um para os pagãos. Não haverá mais de um. Haverá
um só Céu. E, portanto, haverá um só prêmio: Deus, o Criador, que se reúne com
suas criaturas, que viveram na justiça, nas quais, pela beleza dos espíritos e
dos corpos dos Santos, admitir-se-á de Si mesmo, com uma alegria de Pai e de
Deus. Haverá um só Senhor. Não um Senhor para Israel, outro para o Catolicismo,
outro para cada uma das outras religiões.
Agora
vou revelar-vos uma grande verdade. Lembrai-vos dela. Transmiti-a aos vossos
sucessores. Não fiqueis sempre esperando que o Espírito Santo esclareça as
verdades, depois de anos e séculos de obscurantismo. Ouvi. Vós talvez direis:
“Mas, então, que vantagem há em sermos da religião que é santa, se no fim do
mundo iremos ser tratados todos do mesmo modo, como o serão os gentios?” Eu vos
respondo: É a mesma a justiça que há, e é uma verdadeira justiça, para aqueles
que, mesmo sendo da verdadeira religião santa, ainda não forem felizes, por não
terem vivido como santos. Um pagão virtuoso, somente por ter vivido
virtuosamente, convencido de que sua religião era boa, terá, no fim o Céu. Mas
quando? No fim do mundo, quando, das quatro moradas dos mortos,(Limbo, Purgatório, Céu e Inferno) só duas subsistirão, isto é, o Céu e o Inferno.
Porque a Justiça, naquele momento, só poderá conservar e dar ao dois reinos a
quem, da árvore do livre arbítrio quis escolher os frutos bons, ou quis os
frutos maus.
Mas
quanto se terá que esperar antes que um pagão virtuoso chegue àquele prêmio!...
Não pensais nisso? E essa espera, especialmente a partir do momento no qual a
Redenção, com todos os seus conseqüentes prodígios, já se tiver verificado, e o
Evangelho tiver sido pregado, é que será a purificação das almas, que viveram
como justos em outra religião, mas não puderam entrar na Verdadeira Fé, depois
de a terem conhecido como existente e de provada realidade. Para esses o Limbo,
pelos séculos dos séculos, até o fim do mundo. Para os que crêem no verdadeiro
Deus, mas não souberam ser heroicamente santos, haverá um longo purgatório, que
para alguns poderá terminar no fim do mundo. Mas, depois da expiação e da
espera, seja qual for a sua proveniência, estarão todos à direita de Deus. E os
maus, seja qual for a sua proveniência, à esquerda, e depois, no inferno
horrível, enquanto o Salvador entrará, com os bons, no Reino eterno.”
“Senhor,
perdoa, se eu não te entendo. O que estás dizendo é muito difícil... pelo menos
para mim... Tu dizes sempre que és o Salvador e que redimirás aos que crêem em
Ti. E, então, aqueles que não crêem, ou porque não te conheceram, por terem
vivido antes de Ti, ou então, como é grande o mundo, por não terem tido notícia
de Ti, como poderão ser salvos?”, pergunta Bartolomeu.
“Eu
já to disse, pela vida de justos deles, por suas boas obras, pela fé deles, que
eles crêem ser a verdadeira.”
“Mas
eles não recorreram ao Salvador...”
“Mas
o Salvador sofrerá também por eles. Não fazes ideia, ó filho de Tolmai, de qual
seja a amplitude de valor que terão os meus méritos de Homem-Deus.”
“Meu
Senhor, sempre menores que os de Deus, que aos que Tu tens, e desde todo o
sempre.”
“Resposta
justa e não justa resposta. Os méritos de Deus são infinitos, dizes tu. Tudo é
infinito em Deus. Mas Deus não tem méritos, no sentido de não ter merecido. Ele
tem os atributos de suas próprias virtudes. Ele é o que é: a Perfeição, o
Infinito, o Onipotente. Mas, para merecer, precisa cumprir com esforço, alguma
coisa que seja superior à nossa natureza. Não é um mérito comer, por exemplo.
Mas pode granjear um mérito o saber comer. Pois pode granjear um mérito, o
saber comer moderadamente, fazendo até verdadeiros sacrifícios para dar aquilo
que economizamos aos pobres. Também não é nenhum mérito estarmos calados. Mas o
pode ser, quando o fazemos para não rebater a uma ofensa. E assim por diante.
Agora
tu compreendes que Deus não tem necessidade de esforçar-se a Si mesmo, pois é
Perfeito e Infinito. Mas o Homem-Deus pode esforçar-se a Si mesmo, humilhando a
infinita Natureza divina sob uma limitação humana, vencendo a natureza humana,
que não está ausente, nem é metafísica nele, mas é real com todos os sentidos e
sentimentos, com as suas possibilidades de sofrimento e de morte, com sua
vontade livre.
Ninguém
ama a morte, especialmente se ela é dolorosa, se é antes do tempo e não
merecida. Ninguém a ama. E, no entanto, todo homem deve morrer. Por isso, ele
deverá olhar a morte, com a mesma calma com que ele vê ir-se acabando tudo o que
tem vida. Pois bem. Eu me esforço com minha humanidade para amar a morte. E não
só isso. Eu escolhi a vida para poder ter a morte, pela humanidade. Por isso na
minha veste de Homem-Deus adquiro aqueles merecimentos que, permanecendo Deus,
Eu não podia adquirir. E com eles que são infinitos por causa da forma com que
os adquiro, pela natureza divina unida à humana, pelas virtudes da Caridade e
da obediência, com as quais Eu me coloquei em condições de os merecer pela
Fortaleza, pela Justiça, pela Temperança e a Prudência, por todas as virtudes
que Eu pus no meu coração para torná-lo agradável a Deus, meu Pai, Eu terei um
poder infinito, não só como Deus, mas como homem que se imola por todos, ou
seja, que atinge o limite máximo da Caridade. É o sacrifício o que dá
merecimento, Eu completo o sacrifício e completo o mérito. Perfeito o
sacrifício e perfeito o mérito. E esse merecimento pode ser usado, segundo a
santa vontade da vítima, a qual o Pai diz: “Seja como tu queres”. Porque ela o
amou sem medida, e amou o próximo sem medida.
Eis
que Eu vo-lo digo. O mais pobre dos homens pode ser o mais rico e beneficiar um
número sem medida de irmãos, se ele souber amar até o sacrifício. Eu vo-lo
digo: Ainda que não tivésseis nem mesmo uma migalha de pão, um copo d”água, uma
veste esfarrapada, vós sempre podeis fazer benefícios. Como? Rezando e sofrendo
pelos irmãos. Fazendo benefícios a quem? A todos. De que modo? De mil modos,
todos santos, porque, se vós souberdes amar, sabereis agir como Deus, ensinar,
perdoar, administrar, e, como Homem-Deus, até redimir.”
“Ó
Senhor, dá-nos essa Caridade”, suspira João.
“Deus
vo-la dou, porque a vós Ele se doa. Mas vós deveis acolhê-la e praticá-la
sempre com maior perfeição. Nenhum acontecimento deve ser por vós separado da caridade.
Desde os materiais, até os do espírito. Que tudo seja feito com caridade e pela
caridade. Santificai as vossas ações, as vossas jornadas, ponde o sal e, vossas
orações e a luz em vossas obras. A luz, o sabor, a santificação e a Caridade.
Sem esta, são nulos os ritos, vãs as orações, e falsas as ofertas. Em verdade,
Eu vos digo que o sorriso com que um pobre vos saúda como irmãos, tem mais
valor do que um saco de moedas que alguém pode jogar a vossos pés, somente para
ser notado. Sabei amar e Deus estará convosco sempre.”
“Ensina-nos
a amar assim, Senhor.”
“Há
dois anos que Eu venho ensinando. Fazei o que me vedes fazer, e estareis na
Caridade e a Caridade estará em vós, e sobre vós estará o selo, o crisma, a
coroa que vos fará verdadeiramente reconhecer como ministros de Deus-Caridade.
Agora vamos parar à sombra deste lugar. Aqui há grama abundante e alta, e as
plantas sempre temperam o calor. Continuaremos a viagem à tarde...
(
O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 7)
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