“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

domingo, 18 de outubro de 2015

A PERSEVERANÇA DA MULHER CANANÉIA


A cura de uma filha endemoninhada a pedido de sua mãe.



Mas vem vindo também uma que não é da casa. É uma pobre mulher chorosa, envergonhada... Ela vem andando encurvada, quase se arrastando e, tendo chegado perto do grupo, em cujo centro está Jesus, ela se põe a gritar: “Tem piedade de mim, ó Senhor, Filho de Davi! Minha filha está sendo muito atormentada pelo demônio, que a faz praticar coisas vergonhosas. Tem piedade, porque eu sofro muito, e todos zombam de mim por isso. É como se minha filha tivesse culpa pelo que ela faz... Tem piedade, Senhor, Tu que tudo podes. Levanta a tua voz e a tua mão, e dá ordem ao espírito imundo para que saia da Palma. Eu só tenho essa filha, e sou viúva... Oh! Não te vás, Senhor! Tem piedade! Jesus, de fato, tendo acabado de abençoar um por um dos membros da família, depois de ter repreendido os adultos por terem falado de sua vinda, --- e depois deles se desculparem, dizendo: “ Não fomos nós que o falamos, podes crê-lo, Senhor!” Ele se vai inexplicavelmente severo para o lado da mulher, que vai-se arrastando sobre os joelhos, com os braços estendidos em um gesto de súplica, ansiosa, enquanto vai dizendo: “Eu, eu te vi, quando estavas atravessando a torrente, eu ouvi que alguém te chamou: “Mestre”. Então, eu vim vindo atrás de Ti, por entre as moitas, e ouvi as conversas deles. E fiquei sabendo quem és... E esta manhã eu vim, mas como era ainda noite para estar aqui, fiquei na soleira como um cachorrinho, até que Sara se levantou e me fez entrar. Oh! Senhor, tem piedade! Piedade de uma mãe e de uma menina!”
Mas Jesus vai andando ligeiro, surdo a todo chamado. Os da casa dizem a mulher: “Resigna-te! Ele não quer te ouvir. Ele disse: é para os de Israel que Ele veio...”
Mas ela se levanta, desesperada e, ao mesmo tempo, cheia de fé, e responde: “ Não. Eu tanto hei de pedir que Ele me ouvirá.” E se põe a acompanhar o Mestre, sempre gritando em suas súplicas, que atraem para as portas das casas da vila todos os que já despertaram e que, como os da casa de Jonas, se põem a acompanhá-lo, para verem como vai terminar aquilo.
Enquanto isso, os apóstolos olham atônitos uns para os outros, e murmuram: “Por que será que Ele faz isso?” Ele nunca o fez!...”. E João diz: “ Em Alexandrecene, contudo, Ele curou aqueles dois.”
“Mas eles eram prosélitos”, responde Tadeu. “E esta vai tratar de que agora?”
“Ela também é prosélita”, diz o pastor Anás.
Oh! Mas quantas vezes ele curou também aos gentios ou pagãos! E a menina Romana, então?”, diz desconsolado André, que não se conforma com a dureza de Jesus para com a mulher Cananéia.
“Eu vou dizer-vos porque é” exclama Tiago de Zebedeu. “É porque o Mestre foi desdenhado. Sua paciência tem limites, diante de tantos ataques da maldade humana. Não estais vendo como Ele está mudado? Ele tem razão! De agora em diante, Ele vai dedicar-se somente àqueles que Ele conhece. E faz bem.”
“Sim. Mas, por enquanto, essa aí vem gritando atrás de nós e um grande acompanhamento de pessoas vem atrás dela. Se Ele quiser passar por inobservado, achou agora o meio de chamar a atenção até das plantas...”, resmunga Mateus.
“Vamos dizer-lhe que a mande embora... Olhai daqui que belo cortejo vem vindo às nossas costas! Se chegarmos assim à estrada consular, estamos bem arranjados! E esta mulher, se Ele não a mandar embora, não nos vai deixar...” diz Tadeu, importunado, que também se vira, e intima à mulher: “Cala-te, e vai-te embora!” E a mesma coisa faz Tiago de Zebedeu. Mas ela não se impressiona com as ameaças e as injunções, e continua a suplicar.
“Vamos dizer ao Mestre que a expulse, visto que Ele não a quer atender. Assim não pode continuar!”, diz Mateus, enquanto André murmura: “Pobrezinha!”, e João fica repetindo sem parar: “Eu não estou entendendo... Eu não estou entendendo...” João está atordoado com o modo de agir de Jesus.
Mas, apressando o passo, eles já alcançaram Jesus, que vai indo ligeiro como um perseguido.
“Mestre! Por favor, manda embora aquela mulher! É um escândalo! Ela vem gritando atrás de nós. Está mostrando com o dedo a todos nós. A estrada está ficando sempre mais cheia de passantes, e muitos vão-se colocando atrás dela. Dize a ela que se vá embora.”
“Dizei-o vós. Eu já dei resposta.”
“Ela não escuta. Vamos, fora! Dize-lhe assim Tu. E com severidade.”
Jesus pára e se vira. A mulher entende que isto é um sinal d que vai ser atendida e acelera o passo, levanta o tom, já agudo, de sua voz, com um rosto que empalidece, por causa da esperança que cresce.
“Cala-te, mulher. E volta para tua casa. Eu já te disse: “Eu vim para as ovelhas de Israel.” Para curar os doentes, e ir buscar as perdidas. Tu não és de Israel...”
Mas a mulher já está a seus pés, e os beija, adorando-o, segurando-o pelos tornozelos, como se ela fosse uma náufraga, que encontrou um penhasco de salvação, e que geme: “Senhor, ajuda-me! Tu o podes, Senhor. Dá ordem ao demônio, Tu que és santo...Senhor, Senhor. Tu és o dono de tudo, da graça e do mundo. Tudo te está sujeito, Senhor. Eu o sei. Eu o creio. Lança mão, pois do que é o teu poder, e usa dele em favor de minha filha.”
“Não fica bem tomar o pão dos filhos da casa e jogá-los aos cães da rua”
“Eu creio em Ti. E crendo, de cão da rua eu me tornei um cão da casa. Eu te disse: Eu vim antes da aurora deitar-me na soleira da porta da casa onde estavas e, se tivesses saído por lá, terias tropeçado em mim. Mas Tu saíste pelo outro lado, e não me viste. Não viste este pobre cão torturado, cheio de fome da tua graça, que esperava entrar, rastejando para onde Tu estavas para beijar-te os pés e assim pedir-te que não o rejeitasses...”
“Não fica bem jogar o pão dos filhos aos cães”, repete Jesus.
“Mas os cães entram na sala, onde o dono da casa está, e comem com os filhos, comem o que cai da mesa ou os restos do que eles dão aos familiares e que não vai mais ser usado. Eu não te pelo que me trates como filha nem que me faças sentar-me à tua mesa. Mas dá-me pelo menos as migalhas...”
Jesus sorri. Oh! Como se transfigura o seu rosto neste sorriso de alegria! As pessoas, os apóstolos, a mulher olham, admirados para Ele, percebendo que alguma coisa está para acontecer. E Jesus diz: “Oh! Mulher! Grande é a tua fé! E com ela tu consolas o meu espírito. Vai, pois, e que seja feito como queres. Desde este momento, o demônio saiu de tua filhinha. Vai em paz. E, visto que de um cão perdido, soubeste querer passar a ser um cão da casa, que saibas, por isso no futuro ser filha, sentada à mesa do Pai. Adeus.”
Oh! Senhor! Senhor!... Eu quereria sair correndo para ir ver a minha Palma querida... E, quereria ficar contigo, seguir-te! Ó Bendito! Ó Santo!”
“Vai, vai mulher. Vai em paz.”
E Jesus retoma o seu caminho, enquanto a cananéia, mais ligeira do que uma menina, vai correndo pela estrada por onde veio, acompanhada pela multidão curiosa por ver o milagre...
“Mas, por que, Mestre, fizeste que ela ficasse pedindo tanto, para só depois atendê-la?”, pergunta Tiago de Zebedeu.
“Por tua causa, e por causa de todos vós. Isto não é uma derrota, Tiago. Aqui Eu não fui expulso, escarnecido, amaldiçoado... Que isto reerga o vosso espírito abatido. Eu já recebi hoje o meu alimento saborosíssimo. E por ele bendigo a Deus.


(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 5, pgs.223 a 226) 

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