A CURA DAS OVELHAS DE UM PASTOR PERSEVERANTE NA FÉ
...
E os seis vão indo, enquanto Jesus os fica esperando na estrada. E, nesse
ínterim, Jesus fica rezando, o triste Jesus que ninguém quer... Retornam os
apóstolos, com um pequeno balde de leite, e dizem:
“Ele
mandou dizer-te que vás até lá, que ele te precisa falar, pois ele não pode
deixar lá as cabras inquietas, só com os pequenos pastores.” Jesus diz: “Então,
vamos ate lá para comermos o nosso pão.” E lá se vão todos, beirando o
despenhadeiro, em cujas bordas estão se dependurando as cabras aventureiras.
“Eu
te agradeço pelo leite que me deste. Que queres de Mim?”
“Tu
és o Nazareno, não é mesmo? Aquele que faz milagres?”
“Eu sou aquele que prega a Salvação
Eterna. Eu sou o Caminho para ir-se ao Deus Verdadeiro, sou a Verdade que se
doa, a Vida que vivifica. Não sou um feiticeiro, que faz prodígios. Os milagres
são as manifestações da minha bondade e da vossa fraqueza, que sente
necessidade de provas para crer. Mas, o que queres de Mim?”
“É
o seguinte: Há dois dias, Tu não estavas em Alexandrecene?”
“Sim.
Por quê?”
“Eu
também estava lá com os meus cabritos, e quando percebi que havia lá uma briga,
procurei sair de lá, porque é costume lá suscitarem brigas para, na hora delas,
roubarem o que está nas feiras. Todos são ladrões: os fenícios... e os outros
também. Eu não deveria dizer isso, porque sou filho de pai prosélito e de mãe
síria, sendo prosélito eu também. Mas é verdade. Bom. Voltemos ao caso. Eu me
havia colocado em um grande curral com os meus animais, esperando pelo carro de
meu filho. E, à tarde, ao sair da cidade, encontrei uma mulher que estava
chorando, com uma filha pequenina nos braços. Ela tinha andado oito milhas, para
chegar a Ti. Porque ela mora fora, nas campinas. Eu lhe perguntei o que ela
tinha. É uma prosélita. Tinha ido para vender e comprar. Tinha ouvido falar de
Ti. E a esperança havia crescido em seu coração. Então, ela foi correndo até
sua casa, e apanhou a menina. Mas, quando se leva peso, tem-se que caminhar
devagar! Quando ela chegou ao empório dos irmãos, Tu não estavas mais lá.
Contudo, eles, os irmãos, lhe disseram: “Eles o expulsaram daqui. Mas Ele nos
disse ontem de tarde que fará de novo uma permanência em Tiro.” Eu - também eu
sou pai - então, eu lhe disse: “Vai, pois, até lá.” E ela me respondeu: “E, se,
depois de tudo o que aconteceu, Ele resolver ir por outros caminhos, para
voltar à Galiléia?” E eu lhe disse: “Escuta: ou Ele vai por aquele caminho, ou
pelo outro dos confins. Eu pastoreio entre Rohob e Lesendam, justamente aos
lados da estrada que serve de limite entre aqui e Neftali. Se eu o vir, lhe
direi. Palavra de prosélito.” E acabei de te dizer.”
“E
Deus que te pague por isso. Eu irei à mulher.
Pois devo voltar a Aqzib.”
“Vais
a Aqzib? Então, podemos viajar juntos, se tu não desprezas a um pastor.”
“Eu
não desprezo a ninguém. Para que vais a Aqzib?”
“Porque
os cordeiros estão lá... A não ser que não os tenha mais.” “Por quê?”
“Porque
por lá está passando a doença. Não sei se foi feitiçaria ou outra coisa. Só sei
que a minha bela manada ficou doente. Por isso eu trouxe para cá as cabras, que
ainda estão sãs, para separá-las das ovelhas. Aqui estarão com dois filhos.
Agora eu estou na cidade, fazendo as compras. Mas vou voltar para lá... para
vê-las morrer, as minhas belas ovelhas lanudas...” O homem suspira... Olha para
Jesus, e se desculpa: “Falar destas coisas a Ti, que és quem és, e afligir-te a
Ti, que já vives aflito pelo modo como te tratam, é uma espécie de estultícia.
Mas as ovelhas são afeto e dinheiro para nós, sabes?”
“Eu
compreendo. Mas elas ficarão sãs. Tu não as fizeste ver por quem entende do
assunto?” “Oh! Todos me disseram a mesma coisa: “Mata-as, e vende suas peles.
Não há mais nada a fazer.” E ainda me ameaçaram, se eu as deixar vagueando por
aí. Eles têm medo de que a doença pegue nas deles. Por isso, devo conservá-las
fechadas... e morrem em maior número. Eles são maus, sabes? aqueles de Aqzib.”
Jesus
diz simplesmente: “Eu sei.”
“Eu
digo que fizeram feitiço contra elas...”
“Não.
Não creias nessas histórias... Quando vierem os teus filhos, vais partir logo?”
“Logo.
Daqui a momentos, estarão aqui. Estes são os teus discípulos? São só estes?”
“Não,
tenho ainda outros.”
“E
por que eles não vêm aqui? Uma vez, perto de Meron, encontrei um grupo deles. O
chefe deles era um pastor. Assim se dizia. Um alto, robusto, chamado Elias...
Foi em outubro, me parece. Antes ou depois dos Tabernáculos. Agora, ele te
deixou?”
“Nenhum
discípulo me deixou.”
“Haviam-me
dito que...”
“Que
foi?” “Que Tu... que os fariseus... Afinal, que os discípulos te haviam deixado
por medo, e porque Tu eras um...”
“Demônio.
Dize-o logo. Eu sei. Duplo mérito é o teu que, mesmo assim, ainda crês.”
“E,
por esse mérito, não poderias, de passagem, abençoar o meu rebanho?”, o homem
está muito ansioso...
“Eu
abençôo o teu rebanho. Este...”, e levanta a mão, abençoando os cabritos
espalhados, “... e também o das ovelhas. Acreditas que minha bênção as salve?”
“Como
salvas os homens das doenças, assim poderás salvar também os animais. Dizem que
és o Filho de Deus. As ovelhas foram criadas por Deus. Por isso elas são coisas
do Pai. Eu... Eu não sabia se era respeitoso fazer este pedido. Mas, se podes,
faze-o, Senhor, e eu levarei ao Templo grandes ofertas de louvor. Ou melhor,
darei a Ti para os pobres. E será muito bom.” Jesus sorri, e fica calado.
Chegam os filhos do pastor e, pouco depois, Jesus com os seus e o velho partem,
deixando os jovens tomando conta das cabras. Vão indo rápidos, querendo chegar
logo a Quedes, para saírem de lá quanto antes, procurando alcançar a estrada
que do mar vai para o interior. Deve ser a mesma que se bifurca aos pés do
promontório, por onde passaram, quando iam para Alexandrecene. Pelo menos é
assim que compreendo pelas palavras do pastor aos discípulos. Jesus está na
frente, sozinho. “Será que não teremos outros aborrecimentos?” “Quedes não
depende daquele centurião. Está fora dos confins da Fenícia. Os centuriões,
basta não irritá-los, pois se desinteressam pelas religiões.”
“Além
disso, nós não vamos parar lá...”
“Seríeis
capazes de fazer mais de trinta milhas em um dia?”, pergunta o pastor.
“Oh!
Nós somos peregrinos perpétuos!” Vão indo sempre para frente. Já chegaram a
Quedes. E Quedes já vai ficando para trás, sem incidentes. Pegam a estrada
direta. Num cipo está marcado: Aqzib. O pastor observa isso, e diz: “Amanhã lá
estaremos. Esta noite vireis ficar comigo. Conheço cidadãos dos vales, mas
muitos estão nos confins da Fenícia... Bem! Atravessaremos a fronteira. E
certamente não seremos logo descobertos... Oh! A vigilância deles! Melhor seria
que a praticassem com os ladrões...”
O
sol vai descendo, e os vales não servem para ajudar a manter a claridade, pois
estão cheios de bosques. Mas o pastor tem muita prática, e vai com segurança.
Chegam a uma pequena vila, ou melhor, a um punhado de casas.
“Se
eles nos hospedarem aqui, são israelitas. Estamos já nos confins. Se não nos
quiserem, iremos para outro lugar, que é fenício.”
“Eu
não tenho prevenções, homem.”....
O
Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 5)
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