“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O JULGAMENTO COM OLHOS HUMANOS


Como nós vimos no artigo anterior, Jesus perdoa imediatamente o descrente Tomé, assim que leu o seu coração arrependido, como também os outros apóstolos por O terem abandonado durante sua crucificação. No texto a seguir veremos o julgamento de uma mulher, que ao reconhecer os apóstolos, os julga com os olhos humanos, usando de muita sinceridade, porém com muita severidade. Que sirva de reflexão para todos nós.

O JULGAMENTO COM OLHOS HUMANOS


...“Vamos voltar para trás...”, propõe Mateus.
“Ou, então vamos parar aqui na pequena ponte,” diz Bartolomeu.
Eles param. Mas Tiago do Zebedeu e o outro Tiago, o André e o Tomé voltam para trás e, pensativos, ficam olhando para o chão e para as coisas. O André, empalidecendo, mostra com o dedo a parede de uma casa, onde aparece, sobre a brancura da cal, uma mancha rubro escura, e diz: “É sangue! Será talvez sangue do Mestre? Estaria já perdendo sangue aqui? Oh! Dizei-me!”
“E que queres que nós te digamos, se nenhum de nós o acompanhou”, diz desconsolado, Tiago do Alfeu.
“Mas, meu irmão, e sobretudo João, o acompanharam.”
“Não logo. Não tão logo. Disse-me João que o acompanharam da casa do Malaquias. Daqui não havia nenhum. Ninguém de nós...” diz Tiago do Zebedeu.
Eles estão olhando a grande mancha escura sobre o muro branco, a pouca distância do chão, e o Tomé observa: “Nem a chuva foi capaz de lavá-la. Nem a saraiva que caiu tão forte por estes dias conseguiu fazê-la despegar-se daquele muro...”
“Vamos perguntar aos daquela casa. Talvez eles saibam...” aconselha Mateus, que já os alcançou.
“Acho que não é bom. Sabes por quê? Eles poderiam ser inimigos do Cristo e...”, responde Tomé.
“E nós continuamos a ser uns covardes...”, termina Tiago do Alfeu, dando um grande suspiro. Pouco a pouco todos se foram aproximando daquele muro e o estão olhando.
Vai passando por lá uma mulher, uma retardatária, que vem voltando da fonte com os cântaros pingando água fresca. Ela põe os cântaros no chão, e os interroga:
“Estais vendo aquela mancha no muro? Sois vós discípulos do Mestre? Vós me pareceis sê-lo por serdes magros no rosto, e também porque eu não vos vi indo atrás do Senhor, quando Ele passou por aqui, preso e sendo conduzido para a morte. Isso me põe na incerteza porque um discípulo que segue o Mestre nas horas boas, e se julga honrado de ser discípulo dele, e tem sempre olhares severos para aqueles que não estão com Ele, prontos a deixar tudo e acompanhar o Mestre, pois devem também nas horas más ir atrás Dele. Deveria pelo menos fazer isso. Mas eu não os vi. Não. Não vos vi. E, se eu não vos vi, isso é sinal de que eu, uma mulher de Sidon, estive atrás daquele que não foi acompanhado pelos seus discípulos israelitas. Mas eu recebi um beneficio Dele. Vós... Será que a vós Ele nunca havia feito um benefício? Isso me causa estranheza, pois Ele fazia benefícios até aos gentios e samaritanos, aos pecadores e até aos ladrões, dando-lhes a vida eterna, quando não podia mais dar-lhe a vida da carne. Será que Ele não vos amava? Isso era sinal de que vós éreis piores do que as áspides e das hienas imundas, ainda que na verdade eu creio que Ele amasse até as víboras e os chacais, não por serem o que eram, mas porque foram criados por seu Pai. Eles são sangue. Sim. São sangue. Também é sangue uma mulher da beira do grande mar. Antigamente aquelas terras eram dos filisteus, por isso os habitantes de lá ainda são um pouco desprezados pelos hebreus. No entanto, ela soube defender o Mestre até que o marido bateu nela com tanta força, que depois de tê-la espancado, quebrou-lhe a cabeça, e o cérebro e o sangue saíram para fora e borrifaram a parede da casa no lugar onde agora os órfãos estão chorando. Mas ela havia recebido um benefício. O Mestre havia curado o seu marido, que estava doente de uma doença horrível. E por isso ela amava o Mestre. E o amou até chegar a morrer por ele. E ela foi, antes Dele para o seio de Abraão, como dizeis vós. Também Anália foi antes Dele, e sabia morrer assim também ela, se a morte não a tivesse levado antes. E também uma mãe, mais acima, lavou com sangue, o sangue do ventre aberto pelo filho brutal, a fim de defender o Mestre. E uma velha morreu de dor, ao ver passar ferido e espancado Aquele que havia feito voltar a vista ao seu filho. E um velho mendigo morreu, porque ele colocou o seu corpo em defesa, e recebeu na cabeça a pedrada, que estava destinada à cabeça do vosso Senhor. Pois não é verdade que o reconhecíeis como vosso Senhor? Os valentes de um rei morrem ao redor dele. Mas de vós nenhum morreu, vós estáveis sempre longe daqueles que o espancavam, Ah! Não. Houve um que morreu. Ele se matou. Mas não por sentir alguma dor. Também não foi para defender o Mestre. Primeiramente ele o vendeu, e depois o mostrou qual era, por meio de um beijo, e, em seguida se matou. Ele não tinha mais nada que fazer. Não tinha mais por onde crescer em maldade. Nisto ele já estava formado, estava perfeito, como o Belzebu. O mundo o teria apedrejado, para tirá-lo desta terra. Oh! Eu creio que esta piedosa que morreu, para impedir que o Mártir levasse pancadas, eu creio que a velha Ana que morreu pela dor de vê-lo daquele modo, e o velho mendigo, e a mãe do Samuel e a virgem que morreu, e eu que não sei subir ao Templo, pois tenho pena dos cordeiros e das pombas que são imoladas, eu creio que teríamos tido a coragem de apedrejá-lo, e não teríamos tremido, ao vê-lo ferido pelas nossas pedradas. Ele o sabia, e poupou ao mundo o trabalho de matá-lo, e poupou-nos a nós o termos que fazer-nos carrascos para vingar o Inocente.”
Ela olha para eles com desprezo. E o seu desprezo vai ficando cada vez mais evidente, à medida que ela vai falando. Seus olhos, grandes e negros, estão duros como o olho de uma ave de rapina, quando está olhando um grupo que não sabe ou não pode reagir. E ela assobia por entre os dentes sua última palavra: “bastardos!”, e recolhendo as suas ânforas, ela vai-se embora, contente por ter podido cuspir todo o seu desprezo para com os discípulos que abandonaram o Mestre.
Eles estão aniquilados. Estão com as cabeças inclinadas, os braços pendentes e desfibrados. A verdade os esmaga. E eles ficam meditando sobre as conseqüências de sua vileza. E continuam calados.
Nem ousam olhar-se um ao outro. Até João e o Zelotes, os dois que são inocentes desta culpa, estão agora como os outros, talvez pela dor de terem visto tão humilhados os companheiros, e pela impossibilidade de curar aquela ferida que lhes fez aquela mulher com suas palavras sinceras.
A estrada já está na penumbra. A lua, nos seus últimos dias, levanta-se tarde, e por isso o crepúsculo escurece depressa. O silêncio é absoluto. Não há nenhum rumor, nem se ouve nenhuma voz humana.

( O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, vol. 10, pg. 293 a 296)

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