“ E que foi visto por Céfas, e depois disto pelos onze. Depois foi
visto por mais quinhentos irmãos estando juntos, dos quais ainda hoje em dia
vivem muitos, e alguns são já mortos. Depois foi visto de Tiago, logo, de todos
os apóstolos. E ultimamente, depois de todos os mais, foi também visto de mim,
como dum aborto. Porque eu sou o mínimo dos Apóstolos, que não sou digno de ser
chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus.”(Carta de São Paulo aos
Coríntios)
Graças a um milagre de Deus, agora
sabemos o que Jesus disse naquela época, quando se reuniu com estas 500
pessoas. Os escritos de Valtorta, confirmam as passagens dos Evangelhos, e vai
além, revela os detalhes de como tudo realmente aconteceu. Para João apóstolo,
Deus concedeu o milagre de ver o futuro e desta visão escreveu o Apocalipse.
Para Valtorta, Deus concedeu o milagre de ver o passado, na época de Jesus, e
escreveu o livro “O Evangelho como me foi Revelado”, contando inúmeras
passagens Bíblicas da vida de Jesus como nenhum outro visionário fez até hoje.
Vejamos então o que Jesus revelou à
Valtorta:
NO MONTE TABOR
20
de Abril de 1.947.
Ai
estão todos os apóstolos, todos os discípulos pastores e também Jônatas, que
Cusa licenciou do seu serviço. Ai estão também Marziam e Manaém e muitos dos
setenta e dois discípulos, e vários outros. Estão por entre as árvores, que
temperam com sua abundante folhagem, a luz e o calor. Elas estão no alto, perto
do cume, onde aconteceu a transfiguração, mas a meia altura da encosta, lá onde
um bosque de carvalhos parece querer pôr um véu diante do cume, segurando-o aos
lados do monte com suas possantes raízes.
Quase
todos estão cochilando por causa da hora e também porque eles ainda não têm o
que fazer e pela longa espera. Mas bastou o grito de um menino, que eu não sei
quem é, pois não o vejo daqui onde estou, para que todos surjam e ponham-se de
pé, ao primeiro movimento que de repente se transforma em uma prostração de todos
com o rosto no chão.
“A
paz a todos vós. Eis-me aqui no meio de vós. A paz esteja convosco.” Jesus
passa pelo meio deles, saudando-os e abençoando. Muitos soltam lágrimas, outros
sorriem, felizes. Mas entre todos há muita paz.
Jesus
vai parar lá onde os apóstolos e os pastores formam um grupo numeroso, juntos
com Marziam, Manaém, Estevão, Nicolau, João de Éfeso, Hermes e um ou outro dos
discípulos mais fiéis e dos quais não me lembro os nomes. Estou vendo aquele de
Corozaim, que deixou de ir sepultar ao seu pai, para acompanhar a Jesus, e um
outro que eu já vi outras vezes. Jesus toma em suas mãos a cabeça do Marziam,
que está chorando ao olhá-lo, beija-o na fronte, apertando-o depois sobre o seu
coração.
Depois
Jesus se vira para os outros e diz: “Há muitos e há poucos. Onde estão os
outros? Eu sei que são muitos os meus discípulos fiéis. Porque agora aqui só se
reúnem com dificuldade, dentre todos eles, umas quinhentas pessoas, excluindo
os meninos, que são filhos deste ou daquele entre vós.”
Pedro
fala em nome de todos, pondo-se de pé. Até aquele momento ele tinha ficado de
joelhos sobre a grama. “Senhor, entre o décimo terceiro, e o vigésimo dia
depois de tua morte, vieram até aqui muitos de muitas cidades da Palestina,
dizendo que Tu tinhas estado entre eles. Assim muitos de nós, para te verem
primeiro, vieram até aqui, uns com este e outros com aquele. Alguns já
partiram. Diziam os que tinham vindo, que te tinham já visto e que tinham
falado contigo mas o mais maravilhoso é que todos diziam ter-te visto no décimo
segundo dia depois da tua morte. Nós ficamos pensando ser este um engano de
algum daqueles falsos profetas que Tu disseste que surgirão para levarem ao
engano os eleitos. Tu o disseste lá sobre o Monte das oliveiras na primeira
tarde... na primeira...”
Pedro
sensibilizado de novo por aquela sua dor, ao recordar-se dela, inclina a cabeça
e se cala. Duas lágrimas, acompanhadas por outras, caem-lhe dos fios da barba
no chão.
Jesus
põe-lhe a mão direita no ombro, e o Pedro estremece àquele contato. E, não
ousando tocá-lo naquela mão com as suas, inclina o pescoço, com o rosto. Para
acariciar com a face e roçar com seus lábios aquela Mão adorável.
Tiago
de Alfeu continua a contar: “E nós passamos a desaconselhar que cressem naquelas
aparições, naqueles entre nós que se punham de pé, a fim de irem correndo para
o grande mar, ou para Bozra, ou para Cesaréia de Filipe, para Pela ou para
Quédes, por sobre o monte que fica perto de Jericó, ou as planícies, como a de
Esdrelon, para o grande Hermon, como também em Beteron e Betsemes e outros
lugares sem nome, pois são umas casas isoladas na planície perto de Jafa ou de
Galaad, não se tinha certeza. Alguns diziam: “Tudo isso vimos e ouvimos.”
Outros mandaram dizer que te haviam visto, e até comido contigo. Sim, nós
queríamos entretê-los, pensando que fossem ou umas ciladas de quem está contra
nós, ou até fantasmas vistos por justos, que tanto pensam em Ti, que acabam Te
vendo onde não estás. Mas esses quiseram ir-se embora, uns para aqui, outras
para ali. E de tal modo que ficamos reduzidos a menos de um terço.”
“Tendes
tido razão em insistir para entretê-los. Não porque Eu não tenha realmente
estado onde aqueles, que vo-lo vieram dizer, disseram. Mas porque Eu quero que
as minhas palavras sejam obedecidas, especialmente por aqueles que são meus
servos. Se os servos começam a desobedecer, que é que farão os fiéis?
Escutai
todos vós que estais aqui ao redor. Lembrai-vos de que em um Organismo, para
que ele seja verdadeiramente ativo e são, requer-se uma hierarquia, isto é,
quem comande, e quem transmita as ordens, e também quem obedeça. É assim que
acontece nas cortes dos reis. Assim também nas religiões, da nossa hebraica,
até as outras, ainda que sejam impuras. Sempre existe um chefe, os ministros
dele e, afinal, os fiéis. Não pode um pontífice fazer nada sozinho. Não pode um
rei fazer nada sozinho. E suas disposições são coisas que se referem unicamente
às contingências ou a formalismos de ritos... sim. Infelizmente nunca, nem na
religião mosaica, não existe nada mais do que o formalismo dos ritos...
movimentos de um maquinismo que continua a executar sempre os mesmos gestos,
até agora que a intenção daqueles gestos já morreu. E morreu para sempre. O
Divino Animador deles, Aquele que dava aos ritos um valor, retirou-se do meio
deles. Pois os ritos são gestos e nada mais. Gestos. Gestos que qualquer
histrião poderia arremedar das cenas de um anfiteatro. Ai de uma religião,
quando ela morre, e, de uma potência real, ela vira, ela se transforma, se
torna uma pantomima clamorosa, exterior, uma coisa vazia dentro de um cenário
pintado, atrás de vestes pomposas, um movimento de maquinismos, que executam
determinados movimentos, assim como uma chave faz funcionar uma mola, mas tanto
a mola como a chave não têm consciência do que estão fazendo. Ai! Pensai bem!
Lembrai-vos
sempre, e dizei-o aos vossos sucessores, para que esta verdade seja conhecida
através dos séculos. Menos amedrontador seria o cair de um planeta, caso
ficasse despovoado de astros, e de planetas, isso não seria para os povos uma
desventura igual à que seria o permanecer sem uma religião verdadeira. Deus
remediaria, com o provido poder as necessidades humanas, porque Deus tudo pode
fazer para aqueles que, pelo caminho de sabedoria, ou pelo caminho que sua ignorância
conhece, procura amar a Divindade, com um espírito reto.
Mas,
se chegasse um dia em que os homens não amassem mais a Deus, porque os
sacerdotes de todas as religiões tivessem feito de cada uma delas unicamente
uma pantomima vazia, sendo eles os primeiros a não crerem na religião, então ai
da terra!
Agora,
se Eu estou falando assim, por aquelas religiões que são impuras, algumas
resultantes de revelações parciais feitas a alguns sábios, e outras nascidas
das necessidades instintivas do homem de criar para si uma fé, a fim de dar à
alma um campo onde ela possa amar a Deus, sendo essa necessidade o estímulo
mais forte para o homem, o estado permanente de quem rebusca Aquele que existe
e é desejado pelo espírito, mesmo que sua inteligência, cheia de soberba, se
negue a obsequiar a qualquer deus, e mesmo que, o homem, sem saber que tem uma
alma, não saiba dar o seu nome a esta necessidade que dentro dele se agita, que
é que Eu deverei dizer por esta que leva o meu Nome, da qual Eu criei para vós
os pontífices e os sacerdotes, para esta que Eu vos ordeno que propagueis por
toda a terra?
Por
esta Única, Verdadeira, Perfeita, Imutável na Doutrina ensinada por Mim, que
sou Mestre, e completada pelo ensinamento daquele que está para vir, o Espírito
Santo, Guia Santíssimo para os meus Pontífices e para aqueles que os ajudarão,
os chefes segundos, nas diversas Igrejas criadas nas diversas regiões, onde se
afirmará a minha Palavra.
E
estas Igrejas não serão, por serem diversas em número, não serão diversas em pensamento,
mas serão uma só coisa com a Igreja, formando com as partes de cada uma o
grande edifício sempre maior, bem grande, o novo Templo que, com seus pavilhões
atingirá todos os confins do mundo. Não são diferentes em seu pensamento, pois
estão todas sujeitas ao Chefe da Igreja, a Pedro e aos sucessores dele, até o
fim dos séculos.
E
aqueles que, por qualquer motivo se separarem da Igreja Mãe, seriam uns membros
cortados, não mais nutridores, nem mais nutridos pelo místico Sangue, que é a
graça, que de Mim, Cabeça Divina da Igreja, lhes vem. Semelhantes a uns filhos
pródigos, separados por sua própria vontade da casa paterna, ficariam sem sua
efêmera riqueza, e constante e sempre mais grave miséria, obtusos, com seus
alimentos e vinhos, por demais pesados para a inteligência espiritual, e depois
a adoecer, por terem comido as bolotas amargas que os animais impuros comem,
com um coração contrito, voltassem à casa paterna, dizendo: “Nós pecamos. Pai,
perdoa-nos, e abre para nós as portas de tua morada.” E, então, mesmo que ele
seja membro de uma Igreja separada, ou de uma Igreja inteira, como ele disse,
mas onde e quando surgirão tantos meus imitadores, aptos para redimirem estas
inteiras Igrejas separadas, a custo da vida, para fazerem a fim de reconstruírem
um único ovil, sob as ordens de um só pastor, assim como Eu desejo
ardentemente. E, então, tanto importa que seja um só, ou uma assembléia
daqueles que voltam, abri-lhes as vossas portas.Sede paternos. Pensai bem que
todos, desde uma ou muitas horas, talvez até durante anos, fostes, cada um de
vós uns filhos pródigos, dominados pela concupiscência. Não sejais rigorosos
para com quem se arrepende. Lembrai-vos bem disso. Muitos de vós fugistes há
vinte e dois dias, hoje. E vossa fuga não era uma negação do vosso amor a Mim?
Agora, pois assim como Eu vos acolhi, logo que vos arrependestes, e voltastes a
Mim, assim fazei sempre. Tudo o que Eu fiz, fazei-o vós. Vós vivestes comigo
durante três anos. As minhas obras e o meu pensamento, vós os conheceis. Quando
no futuro, vos encontrardes diante de um caso a resolver, voltai vosso olhar
para o tempo em que estivestes comigo, e comportai-vos como Eu me comportei.
Assim não errareis nunca. Eu sou o exemplo vivo e perfeito do que deveis fazer.
E
lembrai-vos também de que Eu não me neguei nem ao próprio Judas de Keriot... O
sacerdote deve, por todos os meios, procurar salvar-se.
E
que predomine o amor, sempre entre os meios usados para salvar.
Pensai
que Eu não ignorava qual era o horror de Judas. Mas Eu, superando toda
repugnância, tratei ao mesquinho como tratei a João. A vós... a vós muitas
vezes será poupada a amargura de conhecer que tudo é inútil para salvar um
discípulo amado... E poderíeis por isso trabalhar sem aquele cansaço que toma
conta de nós, quando se fica sabendo que tudo é inútil... E que é preciso
trabalhar até mesmo agora... e sempre... até que tudo se cumpra...”
“Mas
Tu estás sofrendo, Senhor? Eu achava que Tu não pudesses sofrer mais! Tu sofres
ainda por causa do Judas! Esquece-te dele, Senhor!”, grita João, que nem por um
instante tira os seus olhares do seu Senhor.
Jesus
abre os braços, no seu habitual gesto de resignada confirmação de um
acontecimento doloroso, e diz: “ Assim é... Judas foi e é a maior dor no mar de
minhas dores. É a dor que ainda faltava... As outras dores terminaram quando o
sacrifício terminou. Mas esta continua. Eu o amei. Eu me consumi a Mim mesmo ao
fazer esforços para salvá-lo... Eu pude abrir as portas do Limbo, e tirar de lá
os justos, pude abrir as portas do Purgatório e tirar de lá os que lá estavam
se purificando. Mas o lugar do horror estava fechado sobre ele. E para ele foi
inútil a minha morte.”
“Não
fiques sofrendo! Não sofras! Já estás na glória, Senhor meu! A Ti todo glória e
alegria. Tu já consumastes a tua dor!”, pede ainda humildemente João.
“Verdadeiramente,
ninguém podia pensar que Ele pudesse sofrer ainda!”, dizem todos, espantados e
comovidos, cochichando uns aos outros.
“E
vós nem pensais quão grande dor deverá ainda sofrer o meu coração. Nos séculos
vindouros, por meio de cada pecador impenitente, por todas as heresias que me
negam, por todos os que dizem crer em Mim, e me negam, por todos ó tortura das
torturas!, por todos os sacerdotes culpados, e que são causa de escândalos, e
causa também de ruínas. Vós não sabeis. Não sabeis, por enquanto. Nunca o
sabereis completamente, até chegar a hora. Não o sabereis completamente
enquanto não estiverdes comigo na Luz dos Céus. Então, que ireis compreender...
Ao contemplar Judas, Eu contemplei nele os escolhidos para os quais a redenção
se transformou em ruína, por causa da perversa vontade deles...
Oh!
Vós que sois fiéis, vós que formareis os futuros sacerdotes, lembrai-vos da
minha dor, tornai-vos cada vez mais santos para consolardes a minha dor,
exortai, vigiai, ensinai, combatei, estai atentos como umas mães, incansáveis
como uns mestres, vigilantes como uns pastores, viris como os guerreiros para
preparar os futuros sacerdotes, que por vós hão de ser formados. A culpa do
décimo segundo apóstolo, fazei oh!, fazei que ela não tenha repetições demais
no futuro.
Sede
como Eu fui convosco, como Eu sou convosco. Eu vos disse: “Sede perfeitos como
o Pai dos Céus.” E que a vossa humanidade trema diante desta ordem. E agora
mais ainda do que quando Eu vo-la dei. Porque agora vós já conheceis a vossa
fraqueza. Pois bem. Para encorajar-vos, Eu vos direi: “Sede como o vosso
Mestre...” Eu sou o Homem. E o que Eu vos fiz, vós o podeis fazer. Até os
milagres. Sim. Até os milagres. Para que o mundo conheça que sou Eu que vos mando
e para que quem sofre não fique chorando no desconforto deste pensamento: “Ele
não está mais entre nós para curar os nossos doentes e consolar as nossas
dores.”
Nestes
dias fiz milagres para consolar os corações e para persuadi-los de que o Cristo
não foi destruído, por ter sido condenado à morte, mas, pelo contrário, Ele
está mais forte, eternamente forte e poderoso. Mas, quando Eu não estiver mais
entre vós, vós fareis o que Eu fiz até aqui, e que Eu farei ainda. Mas, não
somente pelo poder de fazer milagres, mas pela vossa santidade, crescerá o amor
a nossa Religião. É pela vossa santidade e não pelo dom que Eu vos transmito, é
que sereis queridos ao meu Coração, e o Espírito de Deus vos iluminará,
enquanto a Bondade de Deus e seu Poder encherão as vossas mãos com os dons de
Cristo.
O
milagre não é um ato comum e indispensável para a vida. Não é assim! Felizes
aqueles que souberem permanecer na fé, sem meios extraordinários, que os ajudem
a crer, mas nem mesmo o milagre é um ato tão exclusivamente reservado para
tempos especiais, que deva cessar, quando cessarem aqueles tempos. O milagre
existirá no mundo. Sempre existirá. E sempre mais numeroso, quanto mais
numerosos forem os justos no mundo. Quando se vir que os verdadeiros milagres
são feitos muito raramente, pode-se dizer que a fé e a justiça estão
enfraquecidas. Porque Eu disse: “ Os sinais que hão de acompanhar àqueles que
têm uma verdadeira fé em Mim, serão a vitória contra os demônios e sobre as
doenças, sobre os elementos e sobre as emboscadas. “Deus está com quem o ama. E
o sinal de que os meus fiéis estarão em Mim será o número e a força dos
prodígios que farão em meu Nome e para dar glória a Deus. Para um mundo que não
tem milagres verdadeiros, sem caluniar, dizer: “perdeste a fé e a justiça. Tu
és um mundo sem santos.”
Portanto,
para voltar ao princípio, fizestes bem em procurar entrever aqueles que,
semelhantes a uns meninos seduzidos por um rumor de música, ou por um brilho
estranho, correm, distraídos para longe das coisas que para eles são seguras.
Mas estais vendo? Eles recebem o seu castigo, porque perdem a minha palavra.
Mas vós também tendes tido a vossa culpa. Vós estais lembrados de que Eu vos
disse que não ficásseis correndo para cá e para lá cada vez que alguém dissesse
que Eu estava em tal lugar. Mas vós não vos lembrais de que Eu também disse que
na segunda vinda de Cristo Ele será semelhante a um relâmpago, que sai do
oriente e resplandece até o Poente, em tempo menor do que o de abrir e fechar
os olhos. Pois bem. Essa segunda vinda começou desde o momento da minha
Ressurreição. E ela chegará ao seu fim com a aparição do Cristo como Juiz,
diante de todos ressuscitados. Mas, antes disso, muitas vezes Eu aparecerei
para converter, para curar, para consolar, ensinar e dar ordens!
Essa
verdade Eu vos digo: Eu estou para voltar ao meu Pai. Mas a terra não ficará
sem a minha presença. Eu serei seu vigilante amigo, Mestre e Médico lá onde os
corpos e as almas de pecadores ou de Santos, tiverem necessidade de Mim, ou
forem escolhidos por Mim, a fim de transmitirem as minhas palavras aos outros.
Porque também isto é verdade, pois a Humanidade terá necessidade de um contínuo
ato de amor da minha parte, sendo ela tão dura para dobrar-se, e fácil para
esfriar-se, pronta para esquecer, desejosa de descer, mais do que de subir, que
se Eu não a entretivesse com os meios sobrenaturais, nada adiantariam a lei, o
Evangelho, os auxílios Divinos, que minha Igreja administrará, para conservar a
Humanidade no conhecimento da verdade e na vontade de chegar ao Céu. Eu falo da
Humanidade de Mim, que creio... grande massa dos habitantes da terra.
Eu
virei. Quem me tiver, que permaneça humilde. Quem não me tiver, não fique
cobiçoso por ter-me e ser elogiado por isso. Ninguém deseje o extraordinário
para entrar nos Céus. Pois isso é uma arma, que sendo mal usada pode abrir,
pode abrir o inferno, em vez do Céu. E agora vou dizer-vos como. Porque a
soberba pode surgir. Porque pode surgir um estado de espírito, que Deus
condena, pois ele é semelhante a um torpor, com o qual alguém vai-se acomodando
para acariciar o tesouro recebido, e considerar-se já no Céu por ter já
recebido aquele dom. Em tal caso, em lugar de chamas e asas, ele se retrai. E
ai transformará em gelo e pedra, de onde sua alma se precipita e morre. Um dom
mal usado pode suscitar a avidez de possuí-lo mais ainda, por isso, receber
mais elogios. Então, nesse caso se poderia substituir o Senhor pelo Espírito do
Mal, para seduzir os imprudentes com prodígios impuros.
Ficai
sempre longe das seduções de toda espécie. Fugi delas. Ficai sempre contentes
com o que Deus vos concede. Ele sabe o que vos é útil, e de que modo. E sempre
pensai que todo dom é mais uma prova do que um dom, uma prova de vossa justiça
e bondade. Eu dei a todos vós as mesmas coisas. Mas o que vos tornou melhores,
arruinou Judas. Será, então, que o dom era um mal? Mas maligna era a vontade
daquele espírito.
Assim
sucede agora. Eu apareci a muitos. Não somente para consolá-los e fazer-lhes
bem, mas para fazer-vos contentes. Vós me havíeis pedido que Eu persuadisse o
povo disso, isto é, que aqueles do Sinédrio pensam em persuadir ao pensamento
deles de que Eu estou ressuscitado. Eu apareci a crianças e a adultos, num
mesmo dia, em lugares tão distantes entre si, que seriam necessários muitos dias
de viagem para se ir chegando em cada um deles. Mas para Mim não existe mais a
escravidão das distâncias. Estas aparições, ao mesmo tempo, vos desorientaram a
vós também.
“Aquelas
pessoas viram fantasmas”, que vós vos esquecestes de uma parte das minhas
palavras, isto é, que Eu estaria de agora em diante, no oriente, no ocidente,
no norte e no sul, onde Eu achar que é justo entrar, sem que nada me impeça, e
tudo isso feito rapidamente como se fosse um fulgor que passa pelo Céu.
Eu
sou um verdadeiro Homem. Eis aqui os meus membros e o meu corpo sólido, quente,
capaz de mover-se, de respirar e de falar, como o vosso. Mas Eu sou verdadeiro
Deus. E, se durante trinta e três anos, para uma finalidade superior, ainda que
unida à Humanidade, esteve a Divindade, agora esta se impõe e a Humanidade goza
da perfeita liberdade dos corpos glorificados. Rainha unida assim à Divindade,
não mais sujeita a tudo o que é limitação para a Humanidade. Eis-me aqui. Aqui
estou convosco, e poderia, se Eu quisesse estar, dentro de um instante, nos
confins do mundo, a fim de atrair a Mim algum espírito que me procure.
E
que fruto terá isso de ter Eu estado perto da Cesaréia marítima e na Alta
Cesaréia, ou em Carit e Engati, perto de Pela ou de Juta e em outros lugares da
Judéia ou em Bozra, ou sobre o Grande Hermon e em Sidon, ou nos confins da
Galiléia? E também que tenha Eu curado um menino e ressuscitado a outro que
fazia pouco tempo que havia morrido, e ter confortado uma angústia e chamado
para o meu serviço a um que estava sendo macerado em uma dura penitência, e
também para Deus um justo, que me havia pedido isso, e dado a minha mensagem
aos inocentes, e as minhas ordens a um coração fiel?
Será
que tudo isso persuadirá este mundo? Não. Aqueles que não souberam crer com
verdadeira fé, ficarão na dúvida, e os malvados dirão que são delírios e
mentiras as aparições e que o morto não estava morto, mas dormindo.
Estais
lembrados de quando Eu vos disse a parábola do rico Epulão? Eu nela disse que
Abraão respondeu ao condenado: “Se eles não dão ouvidos a Moisés e aos
profetas, não crerão também em alguém que ressuscite dos mortos”, para
dizer-lhes o que é que devem fazer. Por acaso, terão eles acreditado em Mim,
que sou o Mestre, e nos meus milagres? Que é que foi que conseguiu o milagre de
Lázaro? Conseguiu que se apressasse a minha condenação. E a minha ressurreição
que foi que conseguiu? Que aumentasse o ódio deles. Até os meus milagres destes
últimos dias no meio de vós, não persuadirão o mundo, mas unicamente aqueles
que já não são mais do mundo, tendo eles escolhido o Reino de Deus, com os seus
cansaços trabalhos atuais e a sua glória
futura.
Mas
Eu tenho o prazer de ver-vos confirmados na fé em minha ordem, permanecendo
sobre este monte, sem terdes pressas humanas para irdes gozar de coisas também
boas, mas diferentes daquelas de que Eu vos havia falado. A desobediência dá um
décimo, e leva nove décimos. Eles lá se foram embora, e ouvirão palavras dos
homens. E que são sempre aquelas. Vós ficastes e ouvistes as minhas palavras, uma
coisa boa e útil. A lição servirá de exemplo a todos vós, e também a eles no
futuro.”
Jesus
passa o olhar sobre aqueles rostos ali recolhidos, e chama: “Vem cá, Eliseu de
Engadi. Quero dizer-te uma coisa.”
Eu
não o havia reconhecido como aquele que era leproso, o filho do velho Abraão.
Naquela ocasião, ele parecia um esqueleto espectral e agora é um homem sadio,
na flor dos anos.
Ele
se aproximou, prostrando-se aos pés de Jesus que lhe diz: “Uma pergunta está
tremendo sobre os teus lábios, desde quando ficaste sabendo que Eu estive em
Engadi. E é esta: “Tu consolaste meu pai?” Eu te digo: “Mais do que consolá-lo,
Eu fiz. Eu o tomei comigo.”
“Elizeu,
Eu estou aqui por breve tempo ainda. E depois irei para o meu Pai...”
“Senhor,
então queres dizer que meu pai morreu?”
“Ele
adormeceu sobre o meu coração. Para ele também terminou a dor. Ele terminou sua
vida, permanecendo sempre fiel ao Senhor. Não. Não chores. Tu não tinhas
deixado para acompanhar-me?”
“Sim,
meu Senhor...”
“È
isto, o teu pai está comigo. Por isso, acompanhando-me, virás outra vez para
perto do teu pai.”
“Mas
quando? Mas como?”
“Lá
na vinha dele. Lá onde o ouvi falar de Mim a primeira vez. Ele me fez lembrar
de seu pedido no ano passado. E Eu lhe disse: “Vem.” E ele morreu feliz, porque
tu deixaste tudo para seguir-me.”
“Perdoa-me, se eu estou chorando... Era meu pai...”
“Perdoa-me, se eu estou chorando... Era meu pai...”
“Eu
sei compreender a dor...” E põe-lhe a mão sobre a cabeça para confortá-lo,
dizendo aos discípulos: “Eis aqui um novo companheiro. Considerai-o querido,
pois Eu o tirei do seu sepulcro para servir-me.”
Depois
Ele o chama: “Elias vem a Mim. Não fiques envergonhado, como alguém que se
sente estrangeiro entre seus irmãos... Todo o passado se destruiu. E tu também
vens, ó Zacarias, que deixaste pai e mãe por causa de Mim, vai pôr-te junto com
os setenta e dois, junto com o José de Cíntio. Pois vós o mereceis, porque por
amor a Mim, desafiastes aos poderosos, por amor a Mim. E tu, Filipe, e também
tu, companheiro dele, e que não queres mais ser chamado pelo teu nome, porque
ele te parece horrível, e tomas agora o nome do pai, que é um justo, mesmo sem
ainda estar no meio daqueles que me acompanham abertamente.
Estás
vendo todos? Eu não excluo ninguém que tenha boa vontade, não aqueles que já me
servem como discípulos, nem aqueles que praticavam obras boas em meu Nome,
mesmo sem pertencerem as fileiras dos meus discípulos, também não àqueles que
pertenciam as seitas, que nem todos amam, os quais podem sempre entrar pelo
caminho justo, sem serem rejeitados. Assim como Eu faço, fazei vós. Eu não uno
esses aos velhos discípulos. Porque o Reino dos Céus está aberto a todos os de
boa vontade. E, ainda que eles não estejam presentes, Eu vos digo que não
repilais nem mesmo os gentios. Eu não os repeli, quando os conheci como
desejosos de conhecer a Verdade.
Fazei
o que Eu faço.
E
tu Daniel, que saíste, verdadeiramente saíste, não da cova dos leões, mas dos
chacais, vem e une-te a estes. E, vem cá tu, Benjamim. Eu vos uno a estes(e
mostra os setenta e dois, que estão quase todos), porque a messe do Senhor irá
produzir muito fruto, e temos necessidade de muitos trabalhadores.
Agora
estamos aqui juntos, enquanto passa o dia. Quando chegar a tarde, deixareis o
monte e, lá pela aurora, ireis comigo, vós apóstolos, e vós dois que Eu chamei
a parte, e todos os que aqui estão dos setenta e dois(e mostra Zacarias, e este
mostra José de Cíntio, que para mim não é novo). Os outros ficarão aqui à
espera dos que saíram correndo, para cá e para lá, como umas vespas ociosas,
para dizer-lhes. Porque não é imitando os meninos preguiçosos e desobedientes,
que se encontra o Senhor. E que estejam em Betânia todos, vinte dias antes do
Pentecostes, porque depois eles iriam procurar-me em vão. Sentai-vos todos, e
descansai. E vós, vinde comigo um pouco à parte.”
Ele
está se preparando e segurando pela mão Marziam, acompanhado pelos onze
apóstolos.
Ele
se assenta onde a grama está mais viçosa abaixo dos bosques de carvalhos, e
puxa para perto de Si Marziam, que está muito triste. E tão triste, que Pedro
chega a dizer: “Consola-o Senhor. Ele já estava triste, mas agora o está ainda
mais.”
“Por
que, menino? Será que não estás comigo? Não deverias estar feliz, por estares
sabendo que Eu superei a dor.”
Como
única resposta, o Marziam se põe a chorar fortemente.
“Eu
não sei o que ele tem. Interroguei, mas foi inútil. Hoje é que eu não haveria
de ver um pranto assim!”, resmunga Pedro, um pouco inquieto.
“Mas
eu o sei”, diz João.
“Isso
é bom para ti. Mas, porque é então que ele está chorando?”
“Ele
não está chorando só hoje. Já vem chorando há dias.”
“Pois
eu nem percebi isso. E por que é que ele chora?”
“O
Senhor o sabe. Tenho certeza disso. E também eu sei que só Ele é que tem a
palavra que consola”, diz ainda João, sorrindo.
“É
verdade. E Eu sei que Marziam é um bom discípulo, é mesmo um menino, por
enquanto, um menino que não vê a verdade das coisas. Mas é o meu dileto entre
todos os discípulos. Contudo ele ainda não pensa que Eu precisei ir reforçar a
fé dos que vacilam ainda, e absolver e receber as vidas dos que espiram, anular
os venenos da dúvida inoculados nos mais fracos, para responder com piedade ou
com rigor àqueles que ainda querem combater contra Mim, para dar testemunho,
com a minha presença, de que estou ressuscitado, lá onde insisti que havia
necessidade de vir a ti, ó Marziam, em dizer que Eu estava morto. Será
necessário vir a ti, menino, cuja fé, esperança e caridade, cuja vontade e
obediência são minhas conhecidas? Vir a ti por um instante, quando Eu te tiver
comigo, como agora, muitas vezes ainda? Tu, que farás o banquete de Páscoa, e
não somente tu, mas no meio de todos os outros discípulos? Estás vendo todos
estes? Eles fizeram a sua Páscoa, e o sabor do cordeiro e dos ázimos e do vinho
tornou-se todo cinzas e fel e vinagre para os paladares deles, nas horas que
vieram depois. Mas Eu e tu, meu menino, consumiremos com alegria, e será um mel
que desce e permanece tal, a nossa Páscoa. Quem chorou antes, agora gozará. E
quem antes gozou, não pode pretender gozar de novo.”
“Verdadeiramente...
Não estávamos muito alegres naquele dia...”, murmura Tomé.
“Sim.
Nosso coração estava tremendo...”, diz Mateus.
“E
um rebuliço de suspeitas e de ira estava em nós, pelo menos em mim”, diz Tadeu.
“E
por isso dizeis que quereríeis fazer a Páscoa suplementar, todos...”, diz Pedro.
“Isso
mesmo, Senhor.”
“Um
dia, tu te queixaste porque as discípulas e o teu filho não teriam tomado parte
no banquete pascal. Agora te queixas, porque quem não gozou naquele dia deva
agora ter a sua alegria.”
“É
verdade. Eu sou um pecador.”
“E
Eu sou aquele que se compadece. Quero que estejais todos ao redor de Mim, e não
somente vós, mas também as discípulas. E Lázaro nos dará, mais uma vez,
praticará mais uma vez conosco a hospitalidade. Eu não quis as tuas filhas,
Filipe, nem as vossas mulheres, nem Mirta, nem Noemi, nem a jovenzinha que está
com elas, nem este homem. Não havia lugares para todos em Jerusalém naqueles
dias!”
“É
verdade! Mas foi bom que não estivesse lá”, suspira Filipe.
“Sim.
Eles teriam visto a nossa vileza.”
“Cala
a boca, Pedro. Ela está perdoada.”
“Sim.
Mas eu falei dela ao meu filho, e eu creio que por isso é que ele estava triste
daquele jeito. Eu a confessei porque todas as vezes que a confesso é um alívio.
É como se me tirassem uma grande pedra do coração. Eu me sinto mais absolvido
todas as vezes que me humilho. Mas, se Marziam estiver triste porque tu te
mostraste aos outros.”
“Por
isso, e não por outras causas, meu Pai.”
“Pois
então fica alegre. Ele te amou e te ama. Tu o estás vendo. Eu te havia falado,
mas era da segunda Páscoa...”
“Eu
pensava ter cumprido com muito pouca boa vontade a obediência que Porfíria
havia exigido de mim em teu Nome, ó Senhor. E que por isso Tu me castigasses. E
eu pensava também que não te mostravas a mim, porque eu odiava o... os teus
crucificadores”, confessa Marziam.
“Não
odeies a ninguém. Eu perdoei.”
“Sim,
meu Senhor. Não odiarei mais.”
“E
não fiques mais triste.”
“Não
o ficareis mais, Senhor.”
Marziam,
como todos os muitos jovens em anos, e com menos medo de Jesus do que os
outros, se abandona ao abraço de Jesus, agora que é certo que Jesus não está
encolerizado com eles, mas com toda a confiança. Pelo contrário, ele se esconde
todo, como um pintinho por baixo da asa da mãe e na curva do braço o aperta a
si, ao cessar aquela ânsia que o tornava triste e inquieto, depois de tantos
dias, afinal adormece feliz.
“Ele
ainda é um menino”, observa o Zelotes.
“Sim.
Mas quanto ele sofreu. Foi Porfíria que me contou, quando avisada por José de
Tiberíades, ele o trouxe a mim”, respondeu Pedro. Depois ele diz ao Mestre: “Então
Porfíria também esteve em Jerusalém?” Quanto desejo se nota na voz de Pedro!
“Estiveram
todas. Eu as quero abençoar, antes de subir ao meu Pai. Pois também elas
prestaram serviço, e muitas vezes até melhor que os homens.”
“E
a casa de tua Mãe, não vais?”, pergunta Tadeu.
“Nós
estamos juntos!”
“Juntos?
Desde quando?”
“Judas,
Judas! Então te parece que Eu, que sempre encontrei alegria perto dela, agora
não esteja com Ela?”
“Mas
Maria está sozinha em sua casa. Assim me disse ontem minha mãe.”
Jesus
sorri, e responde: “Atrás do véu do Santo dos Santos só entra o Sumo Sacerdote.”
“E,
então, que queres dizer?”
“Quero
dizer que há felicidades que não podem ser descritas nem conhecidas. Isto é o
que quero dizer.”
Ele
afasta docemente o Marziam de seu dorso, e o coloca nos braços do João. Que está
mais perto. E ele se põe de pé. E, enquanto eles estão todos com as cabeças
inclinadas, menos o João, que tem em seu peito a cabeça do Marziam, recebeu a
bênção de Jesus, e Ele desaparece.
“Ele
é verdadeiramente como o relâmpago, do qual Ele fala”, diz Bartolomeu.
E
ele ficam pensativos à espera do pôr-do-sol.
Sem comentários:
Enviar um comentário