“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A ANGÚSTIA DE MARIA NO SEPULCRO


A ANGÚSTIA DE MARIA NO SEPULCRO


Dizer o que eu sinto é inútil. Eu faria unicamente um exposição do meu sofrimento, e por isso uma coisa sem valor, diante do sofrimento que eu estou vendo. Por isso, eu o descrevo sem comentários sobre mim mesma.
Estou assistindo o sepultamento de Nosso Senhor.
O pequeno cortejo, depois de ter descido do Calvário, encontra cavado na base do mesmo, no calvário do monte, o sepulcro de José de Arimatéia. Num ato de piedade eles entram nele com o Corpo de Jesus.
Estou vendo o sepulcro assim: é um espaço cavado no rochedo, que está perto de um jardim todo em flor. Parece uma gruta natural, mas está cavado pela mão do homem. Lá se encontra a câmara sepulcral propriamente dita com os seus lóculos (feitos diferentes dos das catacumbas). Estes são como umas perfurações redondas, que penetram na pedra como os buracos de uma colméia, só para se ter uma ideia. Por enquanto, estão todos vazios. Vê-se o olho vazio de cada lóculo, como uma mancha negra sobre o cinzento da pedra. Depois, antes da câmara sepulcral, há uma antecâmara. No centro dela está a pequena mesa de pedra para a unção. Sobre ela é posto o corpo de Jesus em seu lençol.
Entram também João e Maria. Não entram outras pessoas, porque a câmara é pequena e, se houvesse muitas pessoas, não poderiam nem mover-se bem. As outras mulheres ficaram perto da porta, isto é, perto da abertura, porque não há porta propriamente dita.
Os dois portadores descobrem o corpo de Jesus.
Enquanto eles preparam as faixas e os aromas em um canto da mesa, à luz de duas tochas, Maria se inclina sobre o corpo de seu Filho, e chora. E de novo o enxuga com o véu que ainda está nas costas de Jesus. É o único banho que toma o Corpo de Jesus, esse das lágrimas de sua Mãe e, ainda que elas sejam muitas, não fazem nada mais do que tirar superficialmente e em parte a poeira, o suor e o sangue daquele Corpo torturado.
Maria não se cansa de acariciar aqueles membros gelados. Com uma delicadeza ainda maior do que se tocasse os de um recém nascido, Ela toma as pobres mãos feridas, as aperta entre as suas, beija os dedos dela, depois as estende, procura unir as bordas das feridas, como quem faz uns curativos, a fim de que elas doam menos, aperta contra suas faces aquelas mãos que não podem mais acariciar, e geme em sua dor atroz. Endireita e ajuda os pobres pés, que estão muito abandonados e também mortalmente cansados, ao terem percorrido tantos caminhos por nós. Mas eles se haviam afastado demais da cruz, especialmente o esquerdo que está quase achatado, como se não tivesse sido usada a cavilha.
Depois Ela volta ao corpo e o acaricia. Ele está tão frio e tão rígido que quando Ela, mais uma vez, olha o rasgão feito pela lança, e que agora, depois de ter ficado o corpo deixado de costas sobre a placa de pedra, está aberto como uma boca, deixando que se veja melhor a cavidade torácica (a ponta do coração aparece claramente entre o esterno e a arcada esquerda das costelas, e uns dois centímetros acima dela está a incisão feita pela ponta da lança no pericárdio, com o comprimento de um bom centímetro e meio, enquanto a parte externa do tórax, do lado direito, é de pelo menos uns sete). Maria grita de novo, como no Calvário. Fica parecendo que a lança a está transpassando, pelo tanto que Ela se contorce em sua dor, levando as mãos ao seu coração, transpassado como o de Jesus. Quantos beijos deu naquela ferida a pobre Mãe!
Depois Ela volta a cabeça, que está virada, e a acerta em seu lugar, pois ela tinha ficado levemente tombada para trás, e bem mais para a direita. A Mãe procura fechar aquelas pálpebras, que teimam em ficar sempre abertas, e a boca que ficou também aberta, meio contraída e um pouco torcida para a direita. Maria penteia os cabelos, que ontem estavam tão bonitos e em ordem, mas que agora viraram uma maranha, estão esgrouviados e grudados pelo sangue. Ela desenrola as madeixas mais longas, torna-as mais macias, ao passá-las por entre os dedos, e as enrola para restituir-lhes aquela forma dos belos cabelos do seu Jesus, antes tão macios e anelados. E Maria geme, porque se lembra de quando Ele era menino. E é esse o motivo principal de sua dor, a lembrança da infância de Jesus, de seu amor por Ele, dos seus cuidados que tinham medo até do ar mais forte para aquela criaturinha divina, e a comparação entre o modo como o tratava naquele tempo com o trato que lhe deram agora os homens.
Os lamentos dela me fazem sentir-me mal. E é o que Ela faz, quando gemendo diz: “Que foi que te fizeram, meu Filho?”, não podendo vê-lo daquele jeito, nu, rígido, sobre uma pedra. E Ela lhe pega o braço, passa-lhe seu braço por baixo das costas dele, e, apertando-o contra o peito com a outra mão, como para niná-lo, com aqueles mesmos movimentos que Ela fazia lá na gruta em que Ele nasceu, tudo isso me faz chorar e sofrer, como se uma mão estivesse procurando alguma coisa em meu coração.


(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, vol. 10)

Sem comentários:

Enviar um comentário