O QUE É PRECISO PARA SEGUIR JESUS?
Jesus
está no Templo.
Jesus
faz uma pergunta à queima roupa: “ Por que vos apertais ao redor de Mim?
Dizei-o. Tendes rabis conhecidos e sábios, bem vistos por todos. Eu sou o
Desconhecido e mal visto. Por que é, então, que vindes a Mim?
“Porque
nós te amamos”, dizem alguns. E outros: “Porque Tu tens palavras diferentes das
dos outros.” E outros ainda:”Para ver os teus milagres.” E: “Porque já te
ouvimos falar.” E ainda:”Porque somente Tu tens palavras de vida eterna, e
obras que estão de acordo com as Tuas palavras.” E, finalmente:”Porque queremos
unir-nos aos teus discípulos.”
Jesus
olha para as pessoas, à medida que vão falando, como se quisesse transpassá-las
com seu olhar, para ler as suas mais secretas sensações, e alguns, não
resistindo aquele olhar, se afastam, ou, quando não, vão esconder-se atrás de
alguma coluna, ou de pessoas mais altas do que eles.
Jesus
retoma: Mas, sabeis vós o que quer dizer, e o que é vir atrás de Mim? Eu
respondo apenas a estas perguntas, porque não merece resposta a curiosidade, e
porque quem tem fome das minhas palavras é, por conseqüência, meu amigo e
desejoso de unir-se a Mim. Portanto, entre os que já falaram, há dois grupos:
os curiosos, que Eu deixo de lado, e os cheios de vontade, aos quais Eu ensino,
sem enganos, qual é a severidade desta vocação.
Vir a Mim como discípulo quer dizer
renunciar a todos os amores por causa de um só amor: o Meu. O amor egoísta para consigo mesmos, o amor culpável
para com as riquezas, ou á sensualidade, ou ao poder, o amor honesto para com a
esposa, o amor santo para com a mãe, o pai, o amor amável dos e aos filhos e
irmãos, tudo deve ceder lugar ao meu amor, se quiserdes ser meus.
Em verdade, Eu vos digo que mais livres
do que uns passarinhos, que voam pelos ares, devem ser os meus discípulos, mais
livres do que os ventos, que percorrem os ares, sem que ninguém os detenha, nem
as pessoas, nem nenhuma outra coisa, e até sem as mais leves barreiras, como
são as das teias de aranha. O espírito como uma delicada borboleta,
fechada ainda dentro do pesado casulo da carne, que pode tornar-lhe pesado o
vôo, ou refreá-lo completamente, até por uma irisdescente e impalpável teia de
aranha: a aranha da sensibilidade, da falta de generosidade no sacrifício. Eu
quero tudo, sem reservas, o espírito precisa dessa liberdade de dar, dessa
generosidade de dar, para poder estar certo de que não está embaraçado pela
teia de aranha das intenções, dos hábitos, das reflexões, dos medos, estendida,
com numerosos fios por aquela aranha monstruosa, que é Satanás, ladrão de
almas.
Se
alguém quer vir a Mim, e não odeia santamente a seu pai, à sua mãe, à sua
mulher, aos seus filhos, aos seus irmãos e irmãs, e até à sua própria vida, não
pode ser meu discípulo. Eu disse: “não odeia santamente”. Vós em vosso coração
estais dizendo: “ O ódio, que Ele assim está ensinando, nunca é santo.
Portanto, Ele está em contradição.” Não. Eu não me contradigo. Eu mando odiar o
pesadume do amor, isto é, o lado apaixonado e carnal do amor ao pai e à mãe, à
esposa e aos filhos, aos irmãos e irmãs e à própria vida, mas antes Eu ordeno
me se ame, com liberdade que não pesa, e que é própria dos espíritos, aos
parentes e à vida. Amai-os em Deus e por Deus, não pondo a Deus em segundo
lugar, depois deles, mas ocupai-vos e preocupai-vos em levá-los até onde o
discípulo chegou, isto é, a Deus Verdade.
Assim
amareis santamente aos parentes e à vida, e conciliareis os dois amores, e
fareis liames de sangue, que não são pesos, mas são asas, não são culpa, mas
justiça.
Até
a vossa vida deveis estar prontos a odiar para acompanhar-me. Odeia sua vida
aquele que, sem medo de perdê-la, nem de torná-la humanamente triste, a põe a
meu serviço. Mas isso não é mais do que uma aparência de ódio. É um sentimento
erroneamente chamado “ódio” pelo pensamento do homem, que não sabe elevar-se,
do homem todo terreno, pouca coisa superior aos brutos. Na realidade, esse ódio
aparente, que consiste em dizer não às satisfações sensuais da existência para
dar sempre mais vasta vida ao espírito, é Amor. Amor é o mais alto que existe,
o mais abençoado. Isto de negar a si mesmo as baixas satisfações, isto de interditar
a si a sensualidade dos afetos, isto de sair à procura de censuras e
comentários injustos, isto de correr o risco de punições, repúdios, maldições
talvez até de perseguições, é uma sequência de sofrimentos. Mas é necessário
abraçá-los e tomá-los sobre nós como uma cruz, um patíbulo sobre o qual se
expiam todas as culpas passadas, a fim de irmos justificados para Deus, do qual
se obtém toda graça verdadeira, poderosa, a santa graça de Deus para todos
aqueles que nós amamos. Quem não leva a sua cruz, e não vem com ela atrás de
Mim, quem não sabe fazer isso, não pode ser meu discípulo.
Pensai,
pois, muito nisso, vós que dizeis: “Nós viemos porque queremos unir-nos aos
teus discípulos.” Não é vergonha, mas uma sabedoria, saber cada um pesar-se a
si mesmo, julgar-se, e confessar a si mesmo e aos outros: “Eu não tenho
qualidades para ser discípulo.” Por que não? Os pagãos têm como base dos seus
ensinamentos a necessidade de “conhecerem-se a si mesmos”, e vós, israelitas,
não saberíeis fazer isso para conquistardes o Céu?
Porque
lembrai-vos bem disso, felizes aqueles que virão a Mim. Mas, melhor do que vir,
para depois trair a Mim e Aquele que me enviou, melhor é não vir mesmo, e
permanecerem como filhos da Lei, como até agora fostes. Ai daqueles que, tendo
dito: “Eu venho”, causarem dano depois ao Cristo, sendo uns traidores do ideal
cristão, escandalizando os pequenos, os bons! Ai deles! E, no entanto, haverá
desses, e haverá sempre.
Imitai
pois, aquele que quer edificar uma torre. Antes, ele calcula, atentamente a
despesa que terá, e faz as contas do dinheiro que tem, para ver se tem que
levá-la a termo, a fim de que, tendo terminado os fundamentos, não possa
levantar a obra, por não ter mais dinheiro. Nesse caso ele perderia também o
que tinha antes, ficando sem a torre e sem seu dinheiro e, em troca disso
receberia as zombarias do povo, que dirá: “Esse aí começou a construir, e não
pôde acabar. Agora ele pode encher seu estômago com as ruínas de sua obra
inacabada.
Imitai
também os reis da terra, fazendo que os pobres acontecimentos do mundo sirvam
de ensinamentos sobrenatural. Eles, quando querem mover uma guerra contra outro
rei, examinam antes, com calma e atenção, todas as circunstancias pró e contra,
meditam se as vantagens da conquista valem mesmo o sacrifício das vidas dos
súditos, estudam se vai ser possível conquistar aquele lugar, se o seu exército
que é só a metade do exército do seu rival, ainda que mais preparado para o
combate, será ou não capaz de vencer. E, justamente pensando se dez mil vão ser
capazes de vencer vinte mil, antes que se trave o primeiro combate, manda ao
encontro do seu rival uma embaixada com ricos presentes, e, aplacando o seu
rival, que já havia suspeitado de alguma coisa, ao ver aquelas mobilizações das
tropas feitas pelo outro, o desarmam, com provas de amizade, anulam as
suspeitas e fazem um tratado de paz, na verdade sempre muito mais vantajoso,
tanto humana, como espiritualmente, do que uma guerra.
Assim
deveis fazer vós, antes de começardes a nova vida, e pôr-vos em marcha contra o
mundo. Porque isto é que é ser meus discípulos: ir contra a turbulenta e
violenta corrente do mundo, da carne, de Satanás. E, se não sentis em vós
mesmos a coragem de renunciar a tudo por meu amor, não venhas a Mim, porque não
podeis ser meus discípulos.
(
O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 4, pg. 378,379,380,381)
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