COMO DEVEMOS ORAR?
Ouvi como deveis orar, com os lábios e com o
trabalho, como todo o vosso ser, pelo impulso do coração que ama, sim, a Deus,
e o sente como pai, mas que sempre lembra Quem é o Criador e quem é a criatura,
e se põe com um amor reverencial sempre na presença de Deus, tanto quando ora,
como quando está fazendo seus negócios, tanto quando está andando, como quando
está descansando, tanto quando ganha, como quando está distribuindo os seus
bens. Por impulso do coração, Eu disse.
É esta a qualidade primeira e essencial. Porque tudo vem do coração, e como for
o coração assim será a mente, assim será a palavra, o olhar e a ação. O homem
justo tira do seu coração de justo o bem e, quanto mais tira, mais acha para
tirar, porque o bem que foi feito cria um novo bem, assim como o sangue que se
renova na circulação pelas veias, e volta ao coração enriquecido com sempre
novos elementos apanhados com o oxigênio que absorveu e com o suco dos
alimentos que assimilou. Enquanto isso, o homem perverso, do seu coração
tenebroso, cheio de fraudes e venenos, não pode tirar senão fraudes e venenos,
que sempre mais vão aumentando, fortalecidos pelas culpas que se vão
acumulando, assim como no homem bom vão-se acumulando as bênçãos de Deus.
Podeis, pois, acreditar que a exuberância do coração é que transborda dos
lábios e se manifesta nas ações. Fazei que vosso coração seja humilde e puro,
amoroso, confiante, sincero. Amai a Deus com o amor pudico que uma virgem tem
para com o seu esposo.
Em verdade, eu vos digo que todas as almas são
como umas virgens desposadas ao Eterno Amor, a Deus nosso Senhor; esta terra é
o tempo do noivado, tempo no qual o anjo, dado para a guarda de todo homem, é o
paraninfo espiritual e todas as horas e todas as contingências da vida são
outras tantas servas, que preparam o enxoval das núpcias. A hora da morte é a
hora em que se completam as núpcias, e ai vem o conhecimento, o abraço, a fusão
e, com a veste de uma verdadeira esposa, a alma pode levantar o seu véu e
lançar-se nos braços do seu Deus, sem que, por amar assim ao seu esposo, possa
induzir outros a escândalo. Mas, por
enquanto, ó almas ainda sacrificadas no laço do noivado com Deus, quando
quiserdes falar com o esposo, ponde-vos na paz da vossa morada, e acima de tudo
na paz da vossa morada interior, e falai, anjo de carne ladeado pelo Anjo da Guarda,
falai ao Rei dos Anjos. Falai ao vosso Pai no segredo do vosso coração e do
vosso quarto interior. Deixai fora tudo o que é do mundo: o desejo de quererdes
ser vistos e o de edificar, e os escrúpulos das longas orações cheias de
palavras, palavras monótonas, cheias de tibieza e polidas em amor. Por caridade! Livrai-vos das medidas no orar. Na verdade, há alguns que perdem horas em
um monologo, que eles vão repetindo,
apenas com os lábios, e que não passa de um solilóquio, pois nem o Anjo da
Guarda o ouve, de tão grande que é o rumor vazio para o qual ele procura achar
remédio, aprofundando-se, por sua
vez, em uma ardente oração em favor do seu ignorante protegido. Em verdade,
há alguns que não fariam uso diferente daquelas horas, nem que Deus lhes
aparecesse, e lhes dissesse: "A salvação do mundo depende de que tu
abandones esta linguagem sem vida, e vás, simplesmente, buscar água em um poço
e derramar essa água no solo, por amor de Mim e dos teus semelhantes". Em
verdade, há alguns que acham que é mais importante o seu monólogo do que o ato
delicado de quem acolhe um visitante ou socorre um necessitado. São almas que
caíram na idolatria da oração. A oração é um ato de amor. E amar é coisa que se
pratica, tanto quando se ora, como quando se faz o pão; tanto meditando, como
prestando assistência a um enfermo; tanto fazendo uma peregrinação ao Templo,
como cuidando das necessidades da família; tanto sacrificando um cordeiro, como
sacrificando até os nossos justos desejos de recolhimento junto ao Senhor.
Basta que nos impregnemos completamente a nós mesmos e as nossas ações com o
amor. Não tenhais medo! O pai está vendo. O Pai compreende. Ele está ouvindo.
Ele concede. Quantas graças são concebidas por apenas um só e perfeito suspiro
de amor! Quanta abundância por um sacrifício íntimo, mas feito com amor. Não
sejais como os pagãos. Deus não precisa que lhe digais o que Ele deve fazer,
porque daquilo vós estais necessitando. Isto os pagãos podem dizer aos seus
ídolos, que não os podem entender. Não
vós a Deus, ao Deus, o verdadeiro Deus espiritual, que não é somente Deus e Rei, mas é vosso Pai, e
sabe, antes mesmo que lho peçais, de que é que estais precisando.
Pedi, e vos será dado, procurai e achareis,
batei, e se vos abrirá. Porque quem pede, recebe; quem procura, acha e será
aberta a porta a quem nela toca. Quando um vosso filhinho vos estende a
mãozinha, e diz: "Meu pai, estou com fome", será que lhe dareis uma
pedra? Será que lhe dareis uma cobra, quando ele vos pede um peixe? Não, mas
vós lhe dais pão e peixe, e além disso, o acariciais e abençoais, porque para o
pai é um prazer alimentar o seu filho, e vê-lo feliz em seu sorriso. Se, pois,
vós, que tendes o coração imperfeito, sabeis dar presentes bons aos vossos filhos,
por um amor natural, que até os animais têm para com as suas crias, quanto mais
o vosso Pai que está nos Céus concederá àqueles que lhas pedirem as coisas boas
e necessárias para a sua vida. Não tenhais medo de pedir, e não tenhais medo de
ficar sem receber! Mas, Eu vos quero pôr
em guarda contra um erro muito comum, mas não façais como os fracos na fé e no
amor, os pagãos da verdadeira religião, porque mesmo entre os que têm fé há
pagãos, cuja pobre religião é um emaranhado de superstições e de fé, um
edifício arruinado pela metade, no qual se infiltraram as ervas parasitas de
todas as espécies, a ponto de ele se encher de gretas, e ir-se destruindo, e
eles, enfraquecidos e pagãos, percebem que sua fé está morrendo, se não forem
atendidos. Vós pedis. E achais que é
justo pedir. De fato, para aquele
momento não deixaria de ser justa aquela graça. Mas é que a vida não termina
naquele momento. E o que é bom hoje pode não ser amanhã. Disso vós não sabeis,
porque vós só conheceis o presente, e isso é também uma graça de Deus. Mas
Deus, conhece também o futuro. E muitas vezes, para poupar-vos um sofrimento
maior, deixa de atender uma vossa oração.
No meu ano de vida pública,
mais de uma vez ouvi que os corações gemiam: "Quanto eu sofri, quando Deus
não me ouviu. Mas agora eu digo: 'Foi bom assim, porque aquela graça me teria
impedido de chegar a esta hora de Deus." A outros Eu ouvi dizer, ou
dizerem a Mim: "Por que, Senhor, não me ouves? A todos ouves, e a mim,
não?" E Eu, mesmo sentindo a dor de ver que sofriam, precisei dizer:
"Eu não posso" pois se os atendesse, isso seria pôr um estorvo à
frente deles, no vôo em que estavam para a vida perfeita. Também o Pai as vezes
diz: "Não posso." Não porque não possa fazê-lo imediatamente. Mas
porque não o quer fazer, em vista das consequências futuras.
Ouvi: Um menino está doente das vísceras. A
mãe chama o médico, e o médico lhe diz: "Para que ele fique bom, é preciso
que faça um jejum absoluto." O menino chora, grita, suplica, parece
extremamente debilitado. A mãe, sempre compadecida, une os seus lamentos ao do
filho. Acha que o médico é muito rigoroso, ao falar daquela proibição total de
alimento: Mas o médico continua intransigente. E, afinal, ele diz:
"Mulher, eu sei e tu não sabes. Queres que o teu filho morra, ou que eu o
salve?" A mãe diz em alta voz: "Eu quero que ele viva!". Então,
diz-lhe o médico: "Eu não posso permitir que ele tome alimento. Pois ele
morreria." Também o Pai, as vezes, diz assim. Vós, ó mães compadecidas do
vosso eu, não quereis vê-lo sofrer por lhe ter sido negada uma graça. Mas Deus diz: "Eu não posso. Seria
isso o teu mal. Mas chegará o dia ou
virá a eternidade, na qual chega-se a dizer: "Obrigado, meu Deus, por não
terdes dado ouvidos à minha tolice."
O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta,
pgs 96 – 107, Vol 3)
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