AS LEIS DE DEUS SÃO IMUTÁVEIS E ETERNAS.
25 de mato de 1945.
..."Por tudo o que Eu vos
disse ontem, não deveis ficar pensando que Eu tenha vindo abolir a Lei. Não.
Somente, visto que Eu sou Homem, e compreendo as fraquezas do homem, o que Eu
quis foi encorajar-vos a segui-la, dirigindo os vossos olhares espirituais não
para o abismo escuro, mas para o Abismo luminoso. Porque, se o medo do castigo
pode fazer alguém deter-se, três em dez vezes, a certeza de um prêmio o faz
arremessar-se para a frente sete em dez vezes. Por onde se vê que a confiança
faz mais do que o medo. E Eu quero que tenhais uma confiança plena, firme, para
que possais fazer não sete em dez partes de bem, mas dez em dez, para
conquistardes este prêmio santíssimo que é o Céu.
Eu não mudo nem um i da Lei. E
quem foi que a deu, por entre raios, no Sinai? O Altíssimo. Quem é o Altíssimo? O Deus Uno e Trino. E
de onde foi que Ele a tirou? Do seu Pensamento. E, como foi que a deu? Com a
sua Palavra. Por que foi que a deu? Pelo seu Amor. Vede, pois que a
Trindade estava presente. E o Verbo, obediente como sempre ao Pensamento e ao
Amor, falou pelo Pensamento e pelo Amor. Poderia Eu desmentir-me a Mim mesmo?
Não poderia. Mas Eu posso, já que tudo posso, completar a Lei, torná-la
divinamente completa, não como a fizeram ficar os homens que, durante os
séculos não a tornaram completa, mas indecifrável, impossível de ser cumprida,
sobrepondo leis e preceitos, preceitos e leis, tudo tirado do pensamento deles,
conforme as vantagens deles, e jogando todo esse entulho para apedrejar e
sufocar, para soterrar e esterilizar a Lei Santíssima, que foi dada por Deus.
Poderá uma planta sobreviver, se estiver
sempre mergulhada em avalanchas, em escombros e inundações? Não. A planta
morre. A lei está morta em muitos corações, sufocada debaixo das avalanchas de
exageradas superestruturas. Eu vim para tirá-las todas e, tendo desenterrado a
Lei, tendo ressuscitado a Lei, eis que agora Eu faço dela não mais lei, mas
Rainha. 'As rainhas promulgam as leis. As leis são obras das rainhas, mas não
são mais do que as rainhas. Eu, ao contrário, faço da Lei a rainha: Eu a
completo, a corôo, colocando no seu ápice a grinalda dos conselhos evangélicos.
Primeiro era a ordem. Agora é mais que a ordem. Antes era o necessário. Agora é
mais do que o necessário. Agora ela é a perfeição. Quem a desposa, assim como
Eu vo-la dou, no mesmo instante se torna rei, porque alcançou o que há de
"perfeito" porque não se tornou só obediente, mas heróico isto é,
santo, sendo a santidade a soma das virtudes levadas até o ápice, o ponto mais
alto que possa ser atingido por uma criatura, heroicamente amadas e servidas
com um completo desapego de tudo o que é apetite ou reflexão humana, seja lá o
que for. Eu poderia dizer que o santo é aquele para qual o amor e o desejo servem
de obstáculo para qualquer outra vista, que não seja Deus. Não distraído por
outras vistas inferiores, ele tem as pupilas do coração firmes no Esplendor
Santíssimo que é Deus, e no qual ele vê, pois que tudo é em Deus, a agitação
dos irmãos que, suplicantes, lhe estendem as mãos. E, sem afastar o olhar de
Deus, o santo se inclina para atender aos irmãos que lhe suplicam. Contra a
carne, contra as riquezas, contra as comodidades, ele ergue o seu ideal:
servir.
Fica pobre o santo? Fica diminuído? Não. Ele
chegou a possuir a sabedoria e a riqueza verdadeiras. Por isso, possui tudo. E
não sente cansaço, porque, se é verdade que ele é um produtor continuo, também
é verdade que ele é nutrido continuamente. Porque, se é verdade que ele
compreende a dor do mundo, também é verdade que ele se alimenta com a alegria
do Céu. De Deus ele se nutre, em Deus ele se alegra. Ele é a criatura que
compreendeu o sentido da vida. Como estais vendo, Eu não mudo, nem mutilo a
Lei, como também não a corrompo com as super posições de fermentantes teorias
humanas. Mas Eu a completo. Ela é o que é, e assim será até o último dia, sem
que dela se mude uma só palavra, ou se tire um só preceito. Ela está coroada
pela perfeição. Para ter-se a salvação, basta aceitá-la como foi dada. Para ter
uma imediata união com Deus, é preciso vivê-la, como Eu a aconselho. Mas, visto
que os heróis são uma exceção, Eu falarei para as almas comuns, para a massa
das almas, para que não se diga que, por querer a perfeição, eu faço que fique
desconhecido o necessário. Mas, de tudo o que Eu digo, guardai bem isto: quem
se permite violar um só entre os menores destes mandamentos será considerado o
menor no Reino dos Céus. E aquele que levar outros a violá-los será considerado
o menor pelo que ele fez e por causa daqueles que ele tiver levado à violação.
Ao passo que aquele que, com sua vida e suas obras, ainda mais do que com as
palavras, tiver persuadido outros a obedecerem, este será grande no Reino dos
Céus, e sua grandeza irá aumentando por cada um daqueles que ele tiver ido
levando a obedecer e assim a santificar-se. Eu sei que o que estou para dizer-vos
será desagradável para muitos. Mas Eu não posso mentir, ainda que a verdade que
Eu estou para dizer me crie inimigos . Em verdade, Eu vos digo que, se a vossa
justiça não se criar de novo, e não se separar completamente da pobre e
injustamente chamada justiça, que vos foi ensinada pelos escribas e fariseus;
que se não sereis de verdade e muito mais justos dos fariseus e escribas, que
pensam que são justos quando aumentam as fórmulas, mas sem procurar uma mudança
substancial em seus espírito, não entrareis no Reino.
Guardai-vos dos falsos profetas
e dos ensinadores do erro. Eles vêm a vós com veste de cordeiro, mas são uns
lobos ferozes. Vêm vestidos de santidade, mas são uns zombadores de Deus, pois
dizem que amam a verdade, mas se nutrem com a mentira. Observai-os bem, antes
de acompanhá-los. O homem tem uma língua, e com ela pode falar, tem olhos,
e com eles olha, tem mãos, e com elas faz sinais. Mas ele tem uma outra coisa,
que dá testemunhos mais verdadeiros de quem ele é: são os seus atos. E que é
que quereis vós que seja um par de mãos juntas em oração, se com elas depois o
homem se entrega ao roubo e à fornicação? E que é que valem dois olhos que, querendo
passar por inspirados, viram-se para todos os lados, se, quando passou a hora
daquela comédia, eles sabem fixar-se, bem cobiçosos, sobre uma mulher, ou sobre
o inimigo, no primeiro caso para a luxúria, e no outro para o homicídio? E que
quereis que seja uma língua, que sabe assobiar uma mentirosa canção de
louvares, e seduzir com suas palavrinhas melosas, enquanto por detrás de vós
ela vos calunia, e é ainda capaz de jurar falso, contanto que vos possa fazer
passar por uma pessoas desprezível? Que é a língua, que faz longas orações
hipócritas, e depois sai dali, rapidamente, para ir arrasar a boa fama do
próximo, ou seduzir a boa fé dele? Dá náusea. Dão náusea aqueles olhos e aquelas
mãos mentirosas. Mas os atos do homem, seus verdadeiros atos, isto é o seu modo
de comportar-se em família, no comércio, no trato com o próximo e com os seus
criados, esses podem dar dele este testemunho: "Este é um servo de
Deus". Porque as ações santas são o fruto de uma verdadeira religião. Uma
árvore boa não dá frutos maus, e uma árvore má não dá frutos bons. Estas moitas
de espinho, por acaso poderão dar-vos uvas saborosas? E aqueles cardos, ainda
mais espinhosos, poderão dar-vos um dia figos maduros e tenros? Não, porque em
verdade, poucas e ásperas frutinhas colhereis das primeiras. e um fruto que não
se pode comer é o que virá daquelas flores, pois mesmo estando elas agora em
flor, já estão cercadas de espinhos. O homem que não é justo, poderá ele talvez
incutir respeito com sua aparência, mas só com ela. Também aquele pé de cardo
parece feito de penas, parece um floco de finos fios de prata, que o orvalho
recobriu, fazendo que pareçam estar cheios de diamantes. Mas, se,
distraidamente, tocardes nele, vereis que não se trata de nenhum floco, mas de
um monte de espinhos, que ferem o homem, fazem mal às ovelhas e, por isso, os
pastores os arrancam de seus pastos, e os jogam no fogo que eles acendem de
noite, a fim de que nem as sementes escapem. É uma medida justa e previdente.
Eu não vos digo: "Matai os falsos
profetas e os fiéis hipócritas." Antes vos digo: "Deixai isso para
Deus." Eu vos digo: "Estai atentos, afastai-vos deles para não vos
envenenardes com os seus sucos. " Como Deus há de ser amado, Eu vo-lo disse
ontem. Eu insisto em dizer como é que há de ser amado o próximo.
Noutros tempos se dizia:
"Amarás o teu amigo e odiarás o teu inimigo." Não. Não é assim. Isto
era bom naqueles tempos em que o homem não tinha o conforto do sorriso de Deus.
Mas agora chegaram os tempos novos, nos quais Deus ama tanto o homem, que lhe
manda o seu Verbo para redimi-lo. Agora o Verbo está falando. E é a Graça que
já se está difundindo. Depois, o Verbo consumará o sacrifício de paz e de
redenção, e a Graça não só se difundirá, mas será dada a todos os espíritos que
crêem no Cristo. Por isso é preciso elevar à perfeição o amor ao próximo, a tal
ponto que já não se faça diferença entre o amigo e o inimigo. Estais sendo
caluniador? Amai e perdoai. Recebestes agressões ou pancadas? Amai e oferecei a
outra face a quem vos esbofeteia, e pensai que é melhor que a ira se desafogue
em vós, que a sabeis suportar, do que em algum outro, que iria vingar-se da
afronta. Fostes roubados? Não fiqueis pensando: "Este meu próximo é um
cobiçoso", mas pensai com caridade: "Este meu pobre irmão é um
necessitado", e dai-lhe até a túnica, se já vos tirou a capa. Assim fareis
que fique impossível para ele cometer um duplo furto, pois não terá mais
necessidade de espoliar outro da túnica. Vós dizeis: "Mas poderia ser um
vício, e não uma necessidade." Está bem; mas dai assim mesmo. Deus vos
recompensará por isso, e o que for injusto será castigado. Mas muitas vezes, e
isso relembra tudo o que Eu disse ontem sobre a mansidão, vendo-se tratado
assim, o vício cai do coração do pecador, e ele se redime, chegando até a reparar
o seu furto com a entrega do que roubou. Sede generosos com aqueles que, mais
honestos, em vez de roubar-vos, vos pedem o que precisam. Se os ricos fossem realmente pobres
de espírito, como vos ensinei ontem, não haveria essas lamentáveis desigualdades
sociais, causas de tantas desventuras humanas e sobre-humanas. Pensai sempre:
"Mas se eu estivesse na necessidade, como é que eu receberia a recusa de
uma ajuda?" E agi de acordo com a resposta do vosso eu. Fazei aos outros o
que gostaríeis que vos fosse feito, e não façais aos outros o que não
gostaríeis que vos fosse feito.
Antiga é aquela palavra: "Olho por olho, dente por dente",
palavra que não está nos dez mandamentos, mas que foi colocada depois, porque o
homem privado da Graça é uma fera tal, que só pode compreender a vingança. Mas
aquela palavra antiga está anulada por esta palavra nova: "Ama quem te
odeia, reza por quem te persegue, perdoa a quem te calunia, fala bem de quem
fala mal de ti, faze o bem a quem te prejudica, sê paciente com o briguento,
condescendente com quem te aborrece, ajuda de boa vontade a quem recorre a ti,
e não uses de usura com ele, não vivas criticando nem julgando os outros."
Vós não sabeis em que condições são praticadas
suas ações pelos homens. Em toda espécie de socorro sede generosos, sede
misericordiosos. Quanto mais derdes mais
vos será dado, e uma medida bem cheia e calcada será despejada por Deus no seio
de quem for generoso. Deus, não só vos dará conforme tiverdes dado, mas mais,
muito mais. Procurai amar e fazer-vos amar. As brigas acabam custando muito
mais do que entrar num entendimento amigável. E viver em amizade é como um mel,
que deixa por muito tempo o seu gosto na língua. Amai, amai! Amai amigos e inimigos. para
serdes semelhantes ao vosso Pai, que faz chover sobre os bons e sobre os maus,
e faz descer a luz do sol sobre justos e injustos, reservando-se o direito de
dar sol e orvalhadas eternas, e fogo e saraivadas infernais no dia em que os
bons vão ser separados como espigas escolhidas, por entre os feixes da
colheita. Não basta amar aos que vos amaina e dos quais esperais uma
retribuição. Isso não tem merecimento: é uma alegria, e até os homens honestos
por natureza o sabem fazer. Os próprios publicanos e pagãos o fazem. Mas vós
amais como Deus ama, amais por respeito a Deus, que é o Criador também dos que
são vossos inimigos, ou para vós pouco amáveis. Eu quero em vós a perfeição do
amor, e por isso Eu vos digo: "Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai,
que está nos Céus. " Tão grande é o preceito do amor para com o próximo e
do aperfeiçoamento do amor para com o próximo, que Eu não vos digo mais como se
dizia: "Não matar," porque aquele que mata será condenado pelos
homens. Mas Eu vos digo: "Não vos ireis", porque um juízo mais alto
que o dos homens, está acima de vós, e leva em conta também as ações
imateriais. Quem tiver insultado o irmão, será condenado pelo Sinédrio. Mas
quem o tiver tratado de doido, e portanto o tiver prejudicado, será condenado
por Deus. É inútil fazer ofertas ao altar, se antes não se fez no interior do
coração o sacrifício dos próprios rancores, por causa de Deus, e não se cumpriu
o rito santíssimo de saber perdoar. Por isso, quando estiveres para fazer uma
oferta a Deus, se tu te lembrares de que tens uma falta contra teu irmão, ou de
que ainda estás guardando rancor por uma falta dele, deixa a tua oferta aí,
diante do altar, faze primeiro a imolação do teu amor próprio, reconcilia-te
com o teu irmão, e depois vem para diante do altar, e agora, mas só agora é que
o teu sacrifício será santo.
Um bom acordo é sempre o melhor que se pode
fazer. O juízo dos homens é sempre incerto, e quem, com teimosia, se aventura a
crer nele, poderia perder a causa, devendo pagar ao adversário até a última
moeda, ou ir apodrecer na cadeia. Em tudo levantai o olhar para Deus. Perguntai
a vós mesmos: Terei eu o direito de fazer o que Deus não faz comigo?"
Porque Deus não é tão inexorável e obstinado como vós sois. Ai de vós, se Ele o
fosse! Ninguém se salvaria. Que esta reflexão vos leve a ter sentimentos de
mansidão, de humildade, de piedade. E, então, não vos faltará da parte de Deus,
nesta vida e na outra, a recompensa.
Aqui, diante de Mim, está também um que me
odeia, e que não tem coragem para
dizer-me: "Cura-me!", porque ele sabe que eu conheço os seus
pensamentos. Mas Eu digo: "Que se faça o que estás querendo. E, assim como
te estão caindo as escamas dos olhos, que caiam também do teu coração o rancor
e as trevas."
Ide todos com a minha paz. Amanhã vos falarei
de novo.
( O Evangelho como me foi
revelado – Maria Valtorta, pgs, 89,90,91,92,93,94,95,96)
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