Minha
Doce Regina, eterna esposa.
Eu sei que foi Deus que me deu você,
existem certas situações na vida que exasperam a realidade, e nos indicam
caminhos a seguir; a maneira pela qual lhe conheci é uma dessas situações
inesperadas, confeccionadas por um ser superior.
Lembro-me de tudo como se estivesse vendo na minha
frente, toda a cena do nosso primeiro encontro onde me pronunciei, ( já a havia
visto dias antes no cinema, apenas visto).
Já era noite, quase 22 horas, eu caminhava
de volta para casa com um amigo, chegando perto do fim da enorme praça Barão,
em direção contraria à Igreja Matriz, ( hoje Basílica); e eis que, não sei
como, parei, olhei para meu amigo e disse:
-João, pode seguir seu caminho, eu vou
voltar!
-Mas o que deu em você, não íamos
embora? – Retrucou meu amigo.
-Preciso voltar!
E voltei pelo mesmo lado da praça, em
direção à igreja, quando a vi conversando com mais duas amigas.
Ao me aproximar, ainda não certo do que
fazia, ela me olhou, e logo pôs sua atenção sobre mim, mas retornou a conversar
com suas amigas.
Não sei explicar o motivo que me fez ir
até ela, parecia ser imprescindível a minha investida, tinha de acontecer, eu queria.
E já mais perto, ela se vira me encarando, e eu lhe disse:
-Posso falar com você?
Quero ressaltar a condição daqueles dias
de Regina, ela tinha apenas 14 anos, adorava conversar com as amigas, tinha
sonhos de estudar e se formar em alguma faculdade, poderia apenas enamorar-se
sem compromisso, tinha toda sua adolescência pela frente, para brincar, passear
e se divertir, como todas as meninas de sua idade.
As possibilidades de uma menina de
apenas 14 anos namorar sério hoje em dia, é como procurar uma flor no deserto,
quase impossível!
Depois de um mês apenas conversando,
veio a resposta, quando assistíamos ao filme” E o Vento Levou”. Ela deu-me um
crucifixo, e me disse:
-Eu aceito namorar com você.
No nosso namoro, sempre houve respeito
um pelo outro, nunca nos ofendemos; queríamos mesmo estar juntos, nos ajudar, e
nos mantivemos em nosso relacionamento castos até o casamento, porque ela
queria, e eu respeitei.
A minha família e a dela não são
famílias ricas, tínhamos muitas privações, uma coisa era querer, a outra era
poder; ia de ônibus até a casa dela para namorar, para depois sair. Só tempo
depois consegui comprar um fusca, o que
não adiantou muito, porque sempre faltava dinheiro para colocar combustível.
Os nossos três primeiros anos de casados
foram muito conturbados pelas mudanças de casa e de cidade, que meu emprego me
obrigava a ter. Nesta época muito difícil, onde ela teve de deixar de lado
alguns sonhos para me apoiar, jamais me deixou sozinho, sempre do meu lado,
sempre me aconselhando.
Sei também de sua fé em São Francisco de
Assis, em Nossa Senhora; que reza sempre pedindo alguma graça. Esta fé e crença
em Deus sempre nos uniu. E quem em Deus crê, sempre acontece alguma coisa de
bom.
Eu havia acabado de perder o meu
emprego, foi uma das melhores coisas ocorridas em nossas vidas, o que parecia o
fim do mundo se transformou em um jardim florido, cheio de oportunidades, mudou
o rumo de nossas vidas para sempre.
Com o fim daquele emprego, onde me
jogavam de uma cidade para outra, ainda morando de aluguel, mas já na cidade de
nossos pais, uma dádiva acontece: ela engravida.
Apesar de desempregado, e com o carro
sendo consertado, depois de um acidente automobilístico ocorrido alguns dias
antes de perder o emprego, me sentia feliz, e ela mais feliz ainda, a
expectativa da vinda de nosso filho aliviava os problemas.
Sua mãe e seu pai vieram para agraciá-la
e confortá-la, suas duas irmãs também; a família dela sempre foi muito unida, e
é ainda hoje apesar de todos os percalços da vida.
Sua mãe e seu pai sabiam da nossa
situação e queriam ajudar, mas a Deus nada é impossível. Logo peguei um pequeno
serviço de vendedor e fui ver, a pedido de meu sogro, um financiamento para
comprar uma casa.
Moro nesta casa até hoje, terminei
recentemente de quitá-la depois de 25 anos e logo vou passá-la em usufruto para
meu filho.
Houve outra situação de grande
preocupação, quando meu pequeno negócio, um restaurante montado depois de
alguns anos de sacrifício, estava à beira da falência, com grandes quantidades
de contas atrasadas.
O dono da imobiliária onde eu pagava o
aluguel do restaurante, sabendo do que se passava, disse-me:
-Você jamais vai conseguir sair dessas
dívidas, porque são muitas!
Nunca, nunca vou me esquecer deste dia.
Estive para fechar o restaurante, com dívidas
e tudo mais, umas três vezes, perdi uns 20 quilos, não conseguia me alimentar
direito, meu filho tinha apenas 7 anos, minha esposa tinha uma loja de roupas
que montou junto com uma irmã minha. Então ela decidiu vendê-la para se dedicar
a sua profissão, professora de português; e assim, com a sua parte na venda, me
ajudou a pagar algumas contas, mas ainda faltavam muitas.
Nessa época de recuperação do
restaurante, onde nada sobrava, quem pagava as contas de casa e algumas outras
era ela, sempre trabalhando para trazer para casa o que faltava. Nosso filho
recebia dela toda a atenção, não só na alimentação, mas na formação intelectual
dele.
Nosso filho sempre foi amado desde a
concepção, nossa doação a ele é total, vivemos para vê-lo feliz.
Ela sempre esteve do meu lado, me
orientando, me aconselhando, segurando as pontas em casa, pois ela não deixava
o essencial faltar, e eu a ouvi:
-Você tem que tentar tocar o
restaurante, não desista dele!
Decidi então não fechá-lo, comecei do
zero novamente, e com as dívidas para pagar.
Somente depois de 4 anos, com muito esforço, dedicação, privações de
todo tipo, consegui finalmente quitar as últimas dívidas.
E começamos a ter alguns anos de
fartura, quando digo fartura, para nós significa comida a vontade, uma casa
boa, sem luxos, um carro bom para viajar, dar estudo a nosso filho, nada mais
do que isso.
Somos felizes com o que temos, talvez
seja este o maior trunfo de nossa união, não temos ganância nenhuma, nos
contentamos com o que temos, somos gratos a Deus e O agradecemos sempre pela
saúde, e por tudo.
Naquele dia no jardim da praça, em
frente à igreja, Deus me deu uma mulher, uma amiga, uma conselheira, uma
companheira, não só para esta vida na Terra, mas para toda a eternidade no Paraíso.
Obrigado, Deus, eu sei que foi Você!
ANTONIO CARLOS CALCIOLARI
12/06/2013


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