“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

domingo, 12 de julho de 2015

A REPREENSÃO DE JESUS A JUDAS ISCARIODES PEGO ROUBANDO.


A REPREENSÃO DE JESUS A JUDAS ISCARIODES PEGO ROUBANDO.



Não!, diz Judas, retrucando.
Tens medo que João ouça? Tens medo que ele finalmente fique sabendo quem és Tu, que tens este medo, Tu que te fazes de herói! Sim, que o tens. E tens medo de mim. Sim, que o tens. Tens medo! Por isso não me soubeste maldizer. Por isso, finges que me tens amor, mas é para adular-me. Para segurar-me quieto. Pois tu sabes que eu sou uma força. Sim, Tu sabes que eu sou uma força. A força que te odeia e te vencerá. Eu prometi seguir-te até a morte, oferecendo-te tudo, e tudo eu te ofereci, e estarei perto de Ti á Tua hora e á minha hora. Magnífico é esse rei que não sabe amaldiçoar e expulsar! Rei-nuvem! Rei ídolo! Rei estulto. Mentiroso! Traidor do Teu próprio destino. Tu sempre me desprezaste, desde o nosso primeiro encontro. Não correspondeste comigo. Tu te julgavas um sábio. És um hebetado. Eu te ensinava o bom caminho. Mas Tu... Tu és o puro! És a criatura que é homem, mas que é Deus. E desprezas os conselhos do Inteligente... Tu erraste desde o primeiro momento, e ainda erras, Tu... Tu és... Ah!
O rio de palavras cessa de repente, e, depois dele, vem um silêncio lúgubre depois de tanto clamor, e uma lúgubre imobilidade, depois de tantos gestos. Porque enquanto eu estava escrevendo, sem poder dizer o que estava acontecendo, Judas, parecendo sim, parecendo muito com um cão feroz, que late, ao encontrar a caça, e que dela se aproxima, pronto para dar o bote, foi-se aproximando cada vez mais de Jesus, com um rosto que não se podia olhar, com as mãos em  forma de garras, os cotovelos bem apertados junto ao corpo, como se fosse saltar sobre Jesus, o qual não dá sinal de nenhum medo, e se move, virando até as costas para o outro, que poderia agarrá-lo e segurá-lo pelo pescoço, mas não o faz, porque vai antes abrir a porta e, olhar pelo corredor se João foi-se embora, ou não. O corredor está vazio e meio escuro, tendo João fechado a porta, que vai para a horta, depois que saiu de lá. Jesus, então, torna a fechar a porta com o ferrolho e se encosta nela, esperando, sem fazer nenhum gesto e sem dizer nenhuma palavra, que a tempestade se acalme.
Eu não sou competente. Mas creio não estar errada, se disser que pela boca de Judas, quem falou foi o próprio Satanás, e que este é um momento de possessão evidente do apóstolo pervertido por Satanás, e que ele já está para cometer o Delito, já condenado por sua própria vontade. Até o modo como cessa o rio de palavras, deixando fora de si o apóstolo, faz-me lembrar de outras cenas de possessão, vistas nos três anos de vida pública de Jesus.
Jesus, encostado na porta, todo de branco sobre a madeira escura, não faz nenhum gesto. Somente os seus olhos poderosos, cheios de dor e de fervor, é que estão, olhando para o apóstolo. Se se pudesse dizer que os olhos rezam, eu diria que os olhos de Jesus estão rezando, enquanto ele olha para o desgraçado. Porque não e somente um poder dominador o que sai daqueles olhos tão aflitos, mas é também o fervor da oração. Depois, lá pelo fim da falação de Judas, Jesus abre os braços, que estavam estendidos ao longo do corpo, mas não os abre, nem para tocar no Judas, nem para fazer gestos da direção dele, nem para elevá-los para o céu. Ele os abre horizontalmente, tomando a posição em que estão no Crucifixo, sobre a madeira escura e a parede avermelhada. É aí que da boca de Judas saem devagar as últimas palavras e sai aquele “ah!”, que interrompe o discurso.
Jesus fica como está, com os braços abertos, e olhando para o apóstolo, sempre com aquele olhar de dor e de oração. E Judas, como alguém que acabou de sair de um delírio, passa a mão sobre o rosto suado... Depois fica pensando e procurando lembrar-se de tudo, cai por terra, não sei se chorando, como se lhe houvessem faltado as forças.
Jesus abaixa o olhar e os braços e, com uma voz baixa, mas clara, diz:
E então? Eu te odeio?Eu poderia atacar-te com o pé, achatar-te chamando-te de “verme”, poderia amaldiçoar-te, assim como te livrei da força que te fazia delirar. Tu pensavas que era uma fraqueza a minha impossibilidade de amaldiçoar-te. Oh! Não era fraqueza. É que Eu sou o Salvador. E o Salvador não pode amaldiçoar. Ele pode salvar. E quer salvar... Tu disseste: “Eu sou a força. A força que te odeia, e que te vencerá?”
Mas Eu é que sou a força, e até sou a única força. Mas a minha força não é ódio. É amor. E amor não odeia e não amaldiçoa nunca. A força poderia até vencer as batalhas singulares, como entre Mim e ti, entre Mim e Satanás que está em ti, e acabar com o teu patrão para sempre como Eu fiz agora, transformando-me no sinal que salva, no Tau, que Lúcifer não pode ver. Ela poderia até vencer estas batalhas singulares, como vencerá a última, ainda longínqua para quem conta por séculos, mas próxima para quem mede o tempo com a medida da eternidade.
Mas, que adiantaria violar as regras perfeitas do meu Pai? Seria justiça? Nisso haveria algum mérito? Não. Não seria justiça, nem nisso haveria mérito. Não haveria justiça para com os outros homens culpados, aos quais não é tirada a liberdade de o serem e os quais poderiam no dia final perguntar-me e reprovar-me quanto ao porque da condenação e a parcialidade para contigo sozinho. Serão dez, cem mil aqueles, ou setenta vezes dez mil ou cem mil que farão os teus mesmos pecados e se endemoninharão por sua própria vontade, e serão ofensores de Deus, torturadores da mãe e do pai, assassinos, ladrões, mentirosos, adúlteros, luxuriosos, sacrílegos, e no fim deicidas, matando materialmente o Cristo, num dia próximo, e matando-o espiritualmente em seus corações nos tempos futuros. E todos poderiam dizer-me, quando Eu vier separar os cordeiros dos cabritos, a abençoar os primeiros e a amaldiçoar os segundos, a amaldiçoar, porque, então, não haverá mais redenção, mas só salvação ou condenação, a tornar a amaldiçoá-los, depois de já tê-los amaldiçoado singularmente na primeira morte e no juízo particular. Porque o homem, e tu o sabes, pois me ouviste dizê-lo centenas de vezes que o homem pode salvar-se, enquanto dura a vida, enquanto estiver vivo, até os seus últimos suspiros. Basta um instante, a milésima parte de um minuto para que tudo isso seja dito entre a alma e Deus que seja pedido o perdão, e obtida a absolvição... Todos, como Eu dizia, poderiam dizer-me, todos esses condenados: “ Por que é que a nós não nos ligastes ao Bem, como fizeste com Judas? E eles teriam razão.
Porque todo homem nasce com as mesmas coisas naturais e sobrenaturais: um corpo e uma alma. E, enquanto o corpo, sendo gerado pelos homens, pode ser mais ou menos robusto e são, desde o nascimento, a alma, criada por Deus, é para todos igualmente dotada das mesmas propriedades, dos mesmos dons por Deus. Entre as almas do João, falo do Batista, e a tua, não havia diferença, quando elas foram infundidas na carne. E contudo Eu te digo que, mesmo que a graça não a tivesse pré-santificado, para que o Arauto de Cristo fosse sem mancha, como conviria que o fossem todos aqueles que me anunciam, pelo menos no que diz respeito aos pecados atuais, a alma deles teria sido, se teria tornado bem diferente da tua. Ou melhor a tua se teria tornado diferente da dele. Porque ele teria conservado sua alma no frescor dos que não tem culpa, e a teria até mais ornada de justiça, de acordo com a vontade de Deus, que vos deseja todos justos e fazendo que cresçam os dons gratuitos, recebidos com uma perfeição cada vez mais heróica. Tu, ao contrário, devastaste e destruíste a tua alma e os dons a ela dados por Deus. Que é que fizeste de tua liberdade de arbítrio? E de tua inteligência? Terás conservado em teu espírito a liberdade que ele tinha? Tens usado a inteligência de tua mente com inteligência? Não. Tu, tu que não queres obedecer a Mim, não digo a Mim-homem, mas nem mesmo a Mim-Deus, pois tu obedeceste a Satanás. Tu usaste a inteligência de tua mente a liberdade do teu espírito para compreender as Trevas. Porque assim quiseste. Diante de ti foram postos o Bem e o Mal. Depois foi colocado diante de ti somente o Bem. Eu. O teu Eterno Criador, que tem acompanhado o desenvolvimento de tua alma, pois que o Eterno Pensamento nada deixa de conhecer de tudo o que se movem desde quando o tempo existe, e pôs diante de ti o Bem, somente o Bem, porque Ele sabe que tu és mais fraco do que uma alga da fossa.
Tu me gritaste, dizendo que eu te odeio. Mas, sendo Ru um só com o Pai e o Amor, Um só aqui como no Céu, - porque se em Mim há duas naturezas, e o Cristo por sua natureza humana, enquanto a vitória não o livrar de suas limitações humanas, está agora em Efraim, e não pode estar em outro lugar neste instante. Como Deus, o Verbo de Deus, Eu estou no Céu e na Terra, estando sempre onipresente e onipotente a minha Divindade – sendo Eu agora um só com o Pai e o Espírito Santo, a acusação a Mim feita, e tu, foi a Deus Uno e Trino que a fizeste... Aquele Deus Pai, que te criou por amor, Aquele Deus Espírito, que te falou tantas vezes, a fim de dar-te desejos bons. É por amor. A este Deus Uno e Trino, que tanto de amou, que te trouxe para o meu caminho, tornando-te cego para as coisas do mundo, a fim de dar-te tempo para me veres, a fim de um modo de Me ouvires. E tu... E tu... Depois de me teres visto e ouvido, depois de teres livremente vindo ao Bem, ouvindo, com tua inteligência que aquele era o único caminho para a verdadeira glória, rejeitaste o Bem e livremente te entregaste ao Mal. Mas, se tu, com o teu livre arbítrio, quiseste isso, se sempre mais rudemente tens repelido a minha mão, que se te oferecia, para trazer-te para fora do sorvedouro, se tu sempre mais te foste afastando do porto, para te afundares no furioso mar das paixões, do Mal, podes dizer a Mim, Aquele do qual Eu procedo, Aquele que me formou homem para procurar a tua salvação, podes tu dizer que te temos odiado?
Tu me tens censurado por ter querido o teu mal. Também o menino mau reprova o médico e sua mãe, pelos remédios amargos que o fazem beber e pelas coisas que ele deseja, e eles lhe negam para o seu bem. Até este ponto Satanás tornou-te cego e doido, papa que tu não entendas mais a verdadeira natureza, das medidas que Eu tenho tomado para contigo, e para que tu possas chegar a dizer: “ Será uma aversão, um desejo de arruinar-te, isso é que é o providente cuidado do teu Mestre, do teu Salvador, do teu amigo para curar-te? Eu te procurei ter sempre perto de Mim... Tirei de tuas mãos o dinheiro... Mas, tu não sabes, não percebes que ele é como certas beberagens mágicas, que despertam em quem as tomou uma sede insaciável, e colocam dentro do sangue um ardor, um furor cujo fim é a morte? Tu, estou lendo o teu pensamento, me censuras, pensando assim: “ E, então, porque é que durante tanto tempo, me deixaste ser o administrador do dinheiro?” Por que assim foi? Porque, se Eu te tivesse proibido, antes de tocar nas moedas, tu já te terias vendido antes e terias roubado antes. Mas te vendeste assim mesmo, porque pouco podias roubar... Mas Eu devia procurar impedir que isso acontecesse, sem violentar a tua liberdade. O ouro é tua ruína. Pelo ouro tu te tornaste um luxurioso e um traidor...
Eis! Tu acreditaste nas palavras de Samuel! Eu não sou... Diz Judas.
Jesus que vinha se tornando cada vez mais claro em suas palavras, e contudo sem assumir tons violentos, nem ameaçar com castigo, de repente dá um grito, e uma ordem, que eu diria cheia de furor. Ele dardeja seus olhares sobre o rosto de Judas, que se levantou para dizer aquela palavra, e lhe impõe um “cala boca”, que mais se parece com o estampido de um raio.
Judas se agacha sobre os calcanhares, e não abre mais a boca. Faz-se um silêncio no qual Jesus, com um visível esforço, recompõe sua humanidade, em uma compostura, e sob um domínio tão poderoso, que só isso já dá testemunho do que nele há de Divino. Recomeça a falar, com sua voz de costume, calorosa, doce, quando não é severa, é persuasiva, conquistadora. Só os demônios é que resistem aquela voz.
Eu não preciso de que me fale Samuel, nem ninguém para ficar sabendo de tuas ações. Tu dizes que não entendes mais as minhas palavras. Pobre infeliz! Não entendes mais nem a ti mesmo. Não entendes mais nem o bem, nem o mal. Satanás ao qual seguiste em todas as tentações que ele te apresentava, te fez de bobo. Mas já houve um tempo em que tu me entendias. E acreditavas que Eu sou quem Sou! E esta lembrança não se extinguiu em ti. E, como é que podes crer que o Filho de Deus, que Deus tenha necessidade das palavras de um homem para conhecer os pensamentos e as ações de um outro homem? Tu ainda não estás tão pervertido, a ponto de não creres que Eu seja Deus, e nisto está a tua maior culpa. Porque, que tu me creias ser Deus, isso fica demonstrado pelo medo que tens de minha ira. Tu percebes que não estás lutando contra um homem, mas contra o próprio Deus, e tremes. Tremes, porque como Caim, tu não podes ver e pensar em um Deus diferente, que não seja um vingador de si mesmo e dos inocentes. Tu tens medo de que aconteça como aconteceu a Coré, Datã e Abiron e aos sequazes deles. E, assim mesmo, tu, sabendo quem Eu sou, lutas ainda contra Mim. Eu deveria dizer-te: “ Maldito!” Mas Eu não seria mais o Salvador.
Tu quererias que eu te expulsasse. Tu fazes de tudo, e ainda o dizes, para chegar a isso. Esta razão não justifica as tuas ações. Porque para separar-se de Mim, não é preciso pecar. E tu o podes fazer Eu te digo. Eu o venho dizendo desde Nobe, quando voltaste a Mim, em uma linda manhã, todo sujo com tuas mentiras e libidinagens, como se tivesse saído do Inferno, para ires cair na lama dos porcos ou na cama das macacas libidinosas, e Eu tive que fazer um esforço contra Mim mesmo para não te repelir com a ponta da sandália, como um farrapo nojento e, para vencer a náusea que me incomodava, não somente em meu espírito, mas até em minhas vísceras. Eu sempre te disse isto. Mesmo antes de aceitar-te. Mesmo antes de vir para cá. Portanto, foi para ti mesmo, para ti somente, que Eu fiz aquele sermão. Mas tu sempre quiseste ficar... Para tua ruína. Tu! A minha maior dor!
Mas já pensas, e o dizes, ó herético chefe de muitos que virão, que Eu sou superior á dor. Não. Somente ao pecado Eu sou superior. Somente a ignorância é que Eu sou superior. Ao pecado, porque sou Deus. E a ignorância, porque não pode haver ignorância na alma que não é lesada pela Culpa Original. Mas Eu te falo como Homem, como o Homem, como o Adão redentor que veio reparar a culpa do Adão pecador, a fim de mostrar como teria ficado o homem, se tivesse permanecido como foi criado: inocente. Entre os dons de Deus dados a Adão, por ventura não estava uma inteligência sem enganos e uma ciência muito grande, visto que a união com Deus infundia no filho abençoado as luzes do Pai Onipotente. Eu, o novo Adão, estou acima do pecado por minha própria vontade.
Um dia, em tempo que já vai longe, um homem decaído a tal ponto, que era inútil pôr diante de seus olhos as pérolas preciosíssimas das virtudes de Cristo. Não terias compreendido o valor delas... e as teria trocado por... umas pedras, pois tão grande era o tamanho delas! Também no deserto Eu te respondi repetindo as palavras que Eu te havia dito naquela tarde, indo para o Getsêmani.
Se tivesse sido João, ou Simão o Zelotes que me repetisse aquele pedido, Eu teria respondido de uma outra maneira, porque João é um puro, e não o teria feito com a malícia com que tu fazias, pois tu estavas cheio de malícia... E porque Simão é um velho sábio, e, mesmo sem deixar de conhecer a vida, como a ignora João, ele chegou aquela sabedoria que sabe contemplar cada episódio sem receber dele alguma perturbação em seu eu. Mas ele não chegaram jamais á tentação de perguntarem se Eu nunca havia cedido ás tentações comuns, aquela tentação. Porque na pureza intemerata do primeiro não há lembrança de luxúria, e, na mente meditativa do segundo há muita luz para ver a pureza que resplende um Mim.
Tu me perguntaste, e Eu te respondi. Como Eu podia. Com aquela prudência que não deve nunca separar-se da sinceridade, tanto uma como outra, santas aos olhos de Deus. Aquela prudência que é como o tríplice véu, estendido entre o Santo e o povo, estendido para guardar o segredo do Rei e aquela prudência que regula as palavras de acordo com aquele que escuta, com sua capacidade intelectual para entender, com sua pureza espiritual e com vossa justiça. Porque certas verdades, ditas aos sujos, tornam-se motivo de risos, e não de veneração.
Não sei se te lembras de todas aquelas palavras. Eu me lembro delas. E as repito aqui, nesta hora em que Eu e tu estamos ambos á beira do Abismo. Porque... mas não é preciso dizer isso. Eu falei no deserto em resposta aos porquê aos quais minha primeira explicação não havia satisfeito: “ O Mestre nunca se sentiu superior ao homem para ser “ O Messias”. Pelo contrário, sabendo que era o Homem, quis sê-lo em tudo, menos no pecado. Para sermos mestres, precisamos ter sido alunos. Em tudo sábia, como Deus. A minha inteligência Divina podia fazer-me, compreender até as lutas do homem, para poder entender com os recursos de sua inteligência. Mas, algum dia, meu pobre amigo teria podido me dizer: “ Tu não sabes o que quer dizer ser homem e ter os sentidos e as paixões.” E teria sido este um reparo justo. Eu vim aqui para preparar-me, não somente para a minha missão, mas também para a tentação de Satanás. Porque o homem não teria podido ter domínio sobre Mim. Satanás veio, quando cessou a minha união solitária com Deus, e Eu percebi que era o Homem, com uma verdadeira carne, sujeita ás fraquezas da carne: a fome, o cansaço, a sede, o frio. Eu percebi o que é a matéria com as suas exigências, o moral com as suas paixões. E, se por minha vontade dominei em seu nascimento todas as paixões não boas, deixei que crescessem as paixões santas.
Lembras-te destas palavras? E Eu disse também na primeira vez a ti, a ti somente: “ A vida é um dom santo e por isso deve ser amada santamente. A vida é um meio para se atingir um fim, que é a eternidade.”
Eu disse: “ Demos, então á vida o que lhe serve para ela durar e para ajudar o espírito em sua conquista: continência da carne em seus apetites, continência da mente em seus desejos, continência do coração em todas as paixões que tem um sabor humano e um arrojo sem limites para adquirir as paixões que são do Céu: o amor a Deus e ao próximo, a vontade de servir a Deus e ao próximo, a obediência á voz de Deus, o heroísmo no bem e na virtude.”
E foi, então, que me disseste que Eu podia fazer isso, porque Eu era Santo, mas que tu não podias, porque eras um homem jovem e cheio de vitalidade. Como se o ser jovem e vigoroso fosse uma desculpa para entregar-se ao vício, como se somente os velhos e os doentes uns pela idade e outros pela fraqueza, impotentes para aquilo que  desejavas, ardendo como estás de luxúria, estivessem livres da tentação, da sensualidade! Nesse caso, Eu teria podido replicar-te em muitas coisas. Mas tu não estás em condições de entendê-las. Nem mesmo agora o estás, mas pelo menos agora não podes sorrir com aquele teu sorriso de incredulidade, se Eu te disser que o homem sadio pode ser casto, se por si mesmo ele não der acolhida ás seduções do demônio e da sensualidade.
Castidade é um afeto espiritual, é um movimento que repercute sobre a carne, e a invade toda, a eleva, a perfuma e a preserva. Quem está saturado de castidade não tem lugar para outros sentimentos não bons. Nele não entra a corrupção. Não há lugar nele para ela. E, além disso, a corrupção não entra vindo de fora. Ela não é um movimento de penetração do exterior para o interior. Mas é um movimento que, do interior do coração, do pensamento, sai para penetrar e invadir o invólucro que é a carne. Por isso é que Eu disse que é do coração que saem as corrupções. Todo adultério, toda luxúria, todo pecado sensual não é que tenham origem no exterior. Mas vêm das artimanhas do pensamento que, estando corrompido, veste com uma aparência pruriginosa tudo o que vê. Todos os homens têm olhos para verem. Mas, como é que acontece, então, que a mulher que deixa indiferentes dez homens, que olham para ela como para uma criatura semelhante a eles, e a vêem como uma bela obra da natureza, mas sem por isso sentirem que se levantam dentro deles estímulos e fantasmas obscenos, como é que ela perturba ao undécimo homem, e o leva até a concupiscências indignas? É porque aquele undécimo homem já corrompeu o seu coração e seu pensamento e, onde os dez viram uma irmã, ele só vê a fêmea.
E, mesmo sem dizer-te isso, o que Eu te disse é que Eu vim, não para os anjos, mas para os homens. Eu vim para restituir aos homens a sua realeza de filhos de Deus, ensinando-os a viverem como deuses. Deus é sem luxúria ó Judas. Mas Eu vos quis mostrar que o homem também pode viver sem luxúria. Eu vos quis mostrar que se pode viver como Eu ensino. Para mostrar-vos isso, Eu tive que tomar uma carne verdadeira, para poder sofrer as tentações do homem e dizer ao homem, depois de o ter instruído: “ Fazei como Eu.”
E tu me perguntas-te se Eu pequei ao ser tentado. Tu te lembras? Eu te respondi, pois Eu estava vendo que não podias entender que Eu tivesse sido tentado sem ter caído parecendo-te ser uma coisa inconveniente a tentação para o Verbo, e impossível o não pecar o homem, e Eu te respondi que todos podem ser tentados, mas que pecadores são somente aqueles que o querem ser. O teu espanto foi grande, e ficaste tão incrédulo, que insististe: “ Pecaste alguma vez?” Naquele tempo ainda podias ser incrédulo. Nós nos conhecíamos, havia pouco tempo. A Palestina está cheia de rabis, cuja doutrina é o contrário da vida que eles levam. Mas agora tu sabes que Eu não pequei, que Eu não peco. Tu sabes que a tentação, por forte que seja, torna o homem são, viril, um vivente entre os homens, rodeado por eles e por Satanás, mas não me perturba até o ponto de Eu pecar. Mas, ao contrário, toda tentação, ainda que tentar repeli-la aumenta a virulência dela, porque o demônio a fazia ficar sempre mais forte, para vencer-me, sendo para Mim uma vitória maior. E isso não somente quanto á luxúria, um turbilhão que me havia rodeado, sem poder abalar nem arranhar a minha vontade.
Não há pecado lá onde não há consentimento na tentação, Judas. Mas já há pecado lá onde, mesmo sem consumar o ato, se acolhe e se fica contemplando a tentação. Será um pecado venial, mas já está a caminho do pecado mortal, que ele prepara em vós. Porque acolher a tentação e demorar-se no pensamento, acompanhar mentalmente as fases de um pecado é enfraquecer-nos anos mesmos. Satanás sabe disso, e por isso lança diversas chamas, sempre esperando que uma delas penetre e trabalhe dentro de vós. Depois já seria fácil procurar que o tentado se transforme em culpado.
Tu naquele tempo não compreendeste. Não podias entender. Agora podes. Agora és menos merecedor do que naquele tempo, porque já compreendes, e, no entanto, Eu te repito aquelas palavras que te foram ditas, porque tu, e não Eu, és quem a tentação repelia não dá descanso... Ela não te dá descanso... Ela não te dá descanso, porque, tu não a repeles totalmente. Não completas o ato, mas guardas o pensamento dele. Hoje é assim, e amanhã... Amanhã tu cais no verdadeiro pecado. Por isso é que Eu te ensinei a pedir a ajuda do Pai contra a tentação. Eu, o Filho de Deus, Eu, o já vencedor de Satanás, pedi ajuda ao Pai, porque sou humilde. Tu, não. Tu não pediste a Deus a salvação, a preservação. Tu és soberbo. E por isso vais te precipitando no abismo.
Lembras-te de tudo isso? E podes agora compreender o que vem a ser para Mim verdadeiro Homem, com todas as reações do homem, o que é estar te vendo assim: luxurioso, mentiroso, ladrão, traidor e homicida? Sabes que esforço me impões para tolerar-te perto de mim? Sabes que cansaço me dás para dominar-me como nesta hora, para cumprir até o fim a minha missão quanto a ti? Um outro homem qualquer já te teria pegado pelo pescoço, ao ver que és um ladrão a arrombar e a apanhar moedas, sabendo que tu és o traidor, e mais do que um traidor... Eis que Eu te falei. Ainda te falei com piedade. Olha. Agora não é verão, mas pela janela vem entrando a brisa fresca da tarde. E, no entanto, Eu estou suando como se tivesse ficado cansado pelo mais rude  dos trabalhos. Mas não fazes idéia do que isso me custa? Nem do que és? Queres que Eu te expulse? Não. Nunca. Quando alguém está se afogando, será um assassino quem assim o vir, e o deixar afogar-se. Tu estás entre duas forças, que te puxam.
 Eu e Satanás.
Mas, se Eu te deixar, ficará só com ele. E como te salvarás? Tu porém, me deixarás. Com o teu espírito, tu já me deixaste. Pois bem. Eu ainda detenho junto a Mim a crisálida de Judas. O teu corpo, já privado da vontade de me amar, esse teu corpo que para o bem é inerte. Eu o detenho, enquanto tu não exigires também este nada, que são os teus despojos, para uni-los ao teu espírito, a fim de poderes pecar com todo o teu ser.
Judas!... Não me dizes nada, ó Judas? Não tens nem uma palavra para o teu mestre? Não tens algum pedido a fazer-me? Eu não exijo que tu digas: “ Perdão!” Eu já te perdoei muitas vezes sem resultado. Eu sei que esta palavra é apenas um som sobre os teus lábios. Não é um gesto de um espírito contrito. Eu quereria um gesto do teu coração. Será que já estás tão morto, que nem sentes mais um desejo? Fala! Tens medo de Mim> Oh! Se o tivesses! Pelo menos isso!
Mas não me temes. Se tu me temesses, Eu te daria as palavras que Eu te disse naquele dia longínquo no qual falávamos das tentações e dos pecados: “ Eu te digo que, depois do Delito dos delitos, se o culpado dele corresse aos pés de Deus com verdadeiro arrependimento e, chorando lhe pedisse o perdão, oferecendo-se para a expiação com confiança, sem desesperar, Deus o perdoaria, e, por meio da expiação, o culpado ainda salvaria o seu espírito.”
Judas! Mas se tu não me temes, Eu te amo ainda. E a este meu amor infinito não tens nenhum pedido a fazer agora?
Não. Ou, pelo menos, uma só coisa. Que proíbas João de falar. Como queres que eu dê uma reparação, se eu serei o opróbrio entre vós? E diz isso com orgulho.
E Jesus lhe responde: “ E é assim que falas? João não falará. Mas tu, pelo menos Eu to peço, procura agir de tal modo, que nada transpareça da tua ruína. Recolhe aquelas moedas, e coloca-as na bolsa de Joana. Eu procurarei fechar o cofre com o ferro que usaste para abri-lo.”

( Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 9, pgs 121,122,123,124,125,126,127,128,129,130,131)



Meses depois deste ocorrido Judas trai Jesus por trinta moedas, dadas pelo Sinédrio. As palavras do próprio Jesus a respeito de Judas Iscariodes, também reveladas á Valtorta, diz que, se não existisse o Inferno, teria que criar um somente para Judas Iscariodes.


A paz de Jesus.

Sem comentários:

Enviar um comentário