PARÁBOLA DO FARISEU E O PUBLICANO.
Maria
Valtorta viu e ouviu o que se segue por um milagre de Deus.
Ouvi esta outra parábola, para
compreenderdes quais são as coisas que têm valor aos olhos de Deus. Ela vos
ensinará a corrigir-vos de algum pensamento não bom que existe em muitos
corações. A maior parte dos homens se julga por si mesma e, visto que só um
homem entre mil é verdadeiramente humilde, por isso acontece que o homem se
julga perfeito, enquanto que no próximo nota centenas de pecados.
Um dia dois homens foram a
Jerusalém para negócios, subiram ao Templo, como convém que faça todo bom
israelita, todas as vezes que põe o pé na Cidade Santa. Um deles era Fariseu. O
outro era um publicano. O primeiro tinha ido para receber o aluguel de alguns
empórios e para acertar as contas com os seus feitores, que moravam nas
cercanias da cidade. O outro para pagar os impostos cobrados e para pedir
piedade em nome de uma viúva, que não podia pagar a taxa da barca e das redes,
porque a pesca, feita pelo filho mais velho mal bastava para dar de comer a
muitos outros filhos.
O Fariseu antes de subir para
o Templo, havia passado pelos administradores dos empórios, viu que eles
estavam cheios de mercadorias e de compradores, ficou muito contente consigo
mesmo, depois chamou o administrador do lugar e lhe disse: “ Vejo que os teus
negócios vão bem.”
Sim, graças a Deus. Estou
contente com o meu trabalho. Tendo pedido aumentar as mercadorias, e espero
poder fazer isso ainda mais. Melhorei o meu ponto, e no ano que vem terei mais
as despesas com as barcas e prateleiras, e assim ganharei mais.
Bom! Está bem! Fico feliz com
isso. Quanto é que tu pagas por este ponto?
Cem dragmas por mês. É caro
mas o ponto é bom.
Por isso eu vou dobrar o teu
aluguel.
Mas, Senhor! Exclamou o
comerciante. Desse modo tu me tiras todas as vantagens!
Mas é justo! Será minha
obrigação enriquecer-te? E com o que é meu? Vamos logo, ou tu me dás duas mil e
quatrocentas didracmas e já, ou eu te expulso para fora, e fico com a
mercadoria. O ponto é meu, e eu faço dele o que quero.
Assim ele fez com o primeiro,
com o segundo e com o terceiro dos seus arrendatários, dobrando o preço de cada
um, e surdo a todos os pedidos.
E, como o terceiro, carregado
de filhos resolveu oferecer resistência, ele chamou os guardas e mandou pôr os
sinetes de apreensão, levando para fora o infeliz.
Depois em seu palácio,
examinou os registros de seus feitores, achando motivos para puni-los como
preguiçosos, e apreendendo deles a parte ele retinham como de direito. Um deles
estava com o filho á morte e, por causa das muitas despesas, tinha vendido uma
parte do seu azeite para pagar os remédios. Por isso não tinha mais o que dar
ao avarento patrão.
Tem piedade de mim, patrão. O
meu pobre filho está para morrer e depois eu farei trabalhos extraordinários,
para te ressarcir com o que te parecer justo. Mas agora, tu o compreendes, não
me é possível.
Não podes? Eu vou te fazer ver
se podes ou não podes. E, tendo ido com o pobre feitor ao lagar do azeite, o
privou até do resto do azeite que o homem havia reservado para um miserável
alimento e para a lâmpada que o ajudava a tomar os cuidados com o filho durante
a noite.
O publicano, por sua vez, foi
ao seu superior e, tendo entregue os impostos cobrados, ouviu o que lhe
dissera: “ Mas aqui estão faltando trezentos e sessenta asses. Como é isto?
Já te direi. Na cidade há uma
viúva com sete filhos. Somente o primeiro é que está na idade de poder
trabalhar. Mas ele não pode ir para longe da margem com a barca, porque seus
braços ainda são fracos para trabalhar com o remo e a vela. Estando perto da
margem, pouco pesca, e o que ele pesca mal dá para manter a fome daqueles oito infelizes.
Eu não tive coração para exigir a taxa.
Eu compreendo. Mas lei é lei.
Que aconteceria se a lei fosse piedosa? Todos teriam uma razão para não pagar.
Que o jovenzinho mude de ofício, e venda a barca, se não podem pagar.
Ela é para eles o pão do dia
de amanhã, e é uma lembrança do pai.
Eu compreendo. Mas não se pode
transgredir.
Está bem. Mas eu não posso
ficar pensando naqueles oito infelizes, privados do seu único bem. Eu pagarei,
trezentos e setenta asses.
E tendo combinado assim, os
dois subiram para o Templo e passando por perto do gazofilácio, o fariseu
tirou, com ostentação uma grande bolsa do seu seio, e a sacudiu até cair a
última moeda no Tesouro. Naquela bolsa estavam as moedas recebidas de quase
todos os negociantes e do azeite arrecadado do feitor, e logo vendido a um
mercador. O publicano, porém, só lançou um punhadinho de pequenos trocados,
depois de ter tirado o tanto que era necessário para voltar para seu lugar. Um
e outro deram, pois, o que tinham. O fariseu na aparência foi o mais generoso,
porque deu até a última moedinha, que tinha consigo. Mas é preciso refletir
que, em seu palácio, ele tinha outras moedas, e tinha crédito aberto junto a
ricos cambistas.
De lá eles foram para diante
do Senhor. O fariseu ia justamente na frente para perto do limite do Átrio dos
hebreus, rumo ao Santo, enquanto que o publicano ficou lá no fundo do Templo,
quase por debaixo da abóbada, que ficava no Pátio da Mulheres, e estava
encurvado, esmagado, só por pensar em sua miséria, em comparação com a Perfeição
Divina. E rezavam, tanto um, como o outro.
O fariseu bem aprumado, cheio
de insolência, como se fosse o dono do lugar. E como se estivesse prestando
homenagem a algum visitante, dizia: “ Eis que eu vim venerar-te na Casa que é a
nossa glória. Eu vim, ainda que perceba que Ti estás em mim, pois eu sou justo.
E eu sei que o sou. Mas por mais que eu saiba, que somente por meu merecimento
é que sou assim, eu te agradeço, como é de lei, por isso que eu sou. Eu não sou
ladrão, injusto, adúltero, pecador como aquele publicano, que jogou ao mesmo
tempo que eu, um punhadinho de moedas no Tesouro. Eu, como Tu, viste, te dei
tudo o que eu tinha comigo. Aquele avarento, porém repartiu em duas partes, e a
Ti deu a menor. A outra parte, com certeza ele guardou para as patuscadas e as
mulheres. Mas eu sou puro. Eu não me contamino. Eu sou puro e justo, jejuo duas
vezes na semana, pago os dízimos de tudo que possuo. Sim! Eu sou puro, justo e
bendito, porque eu sou santo. Recordai-vos disso, ó Senhor!
O publicano, de longe, lá do
seu canto, sem nem ousar levantar o olhar para as portas preciosas do Templo, e
batendo no peito, assim rezava: “Senhor, eu não sou digno de estar neste lugar.
Mas Tu és justo e Santo, e ainda me concedes isso, porque sabes que o homem é
pecador e, se não vem a Ti, torna-se um demônio. Oh! Meu Senhor!
Eu quereria honrar-te noite e
dia, mas tenho que obedecer aos meus superiores, porque aquele trabalho é o meu
pão. Faze, ó meu Deus, que eu saiba temperar o meu dever para com os meus
superiores, com a caridade para com os meus pobres irmãos, a fim de que no meu
trabalho não venha a achar a minha condenação. Todo trabalho é Santo, se for
feito com caridade. Conserva a sua caridade sempre presente no meu coração,
para que eu, miserável como sou, saiba compadecer-me dos sujeitos a mim, como
Tu te compadeces de mim, grande pecador. Eu teria querido honrar-te mais, ó
Senhor. Tu sabes disso, mas eu pensei que tirar o dinheiro destinado ao Templo
para ajudar oito corações infelizes, fosse coisa melhor do que colocá-lo no
gazofilácio para ir, depois, derramar lágrimas de desolação por oito inocentes
infelizes. Mas se eu errei, faze que eu o compreenda, ó Senhor, e eu te darei
até a última moedinha, e voltarei ao povoado a pé, pedindo a esmola de um pão.
Faze-me compreender a tua justiça. Tem piedade de mim, ó Senhor, pois eu sou um
grande pecador.
Esta é a parábola.
Em verdade, em verdade Eu vos
digo que, enquanto o fariseu saiu do Templo com mais um pecado juntado aqueles
que ele já havia feito, antes de subir ao Mória, o publicano saiu de lá
justificado, e a benção de Deus o acompanha até a sua casa, e lá ficou. Porque
ele foi humilde e misericordioso, e suas ações tinham sido ainda mais Santas do
que as suas palavras. Enquanto o fariseu, somente por palavras e externamente
era bom, mas no seu interior fazia as obras de Satanás, por sua soberba e
dureza de coração, e Deus o odiava por isso.
Quem se exalta será sempre ,
antes ou depois, humilhado. Se não aqui, na outra vida. E quem se humilha será
exaltado, especialmente lá em cima no Céu, onde se vêem as ações dos homens em
sua verdade verdadeira.
(O Evangelho como me foi
Revelado – Maria Valtorta, Vol 8, pgs 183,184,185,186,187)
A paz de Jesus.
Antonio Carlos Calciolari.
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