JESUS CONSOLANDO PEDRO.
Maria
Valtorta viu e ouviu o que se segue por um milagre de Deus.
Não. Mas não
posso mais com isto. No alto do Nebo, aquela violência. Antes foi em Esebon, e
antes de lá, em Jerusalém, e em Cafarnaum. Depois do Nebo, em Caliroé e agora
em Betábara...Oh!
Ele inclina a cabeça entre as mãos e
chora...
Não te entristeças, Simão. Não
te faças ficar privado até da tua, da vossa coragem! Diz-lhe Jesus, indo
para perto dele e pondo uma mão sobre a pesada veste cinzenta com que se cobre
o Apóstolo.
Não posso,
não posso nem ver. Não posso ver-te sendo maltratado assim... Se me deixasse
reagir, talvez eu pudesse. Mas assim... eu ter que conter-me... e ficar ouvindo
os insultos deles aos teus sofrimentos, como um pequenino inocente. Oh! Isso me
arrebenta todo por dentro, e viro um trapo... Mas olhai se é possível ficar
vendo-o assim. Parece um doente, alguém que está morrendo de febre. Parece um
culpado que está sendo perseguido e não encontra onde parar, onde encostar a cabeça.
Aquela hiena do Nebo! Aquelas serpentes de Caliroé. Aquele doido, que ainda
está lá. Sem falar no segundo, que tu dizes ser dominado por Belzebu! Eu tenho
medo dos endemoninhados. Penso que Satanás assim os prendeu, devem ter sido
muito maus. Mas... o homem pode cair, sem nenhuma vontade de fazê-lo. Contudo
aqueles que, sem serem possessos, fazem o que estão fazendo, com todo o seu
raciocínio livre! Oh! Não os vencerá nunca, visto que não os queres castigar? E
eles... te vencerão. E o pranto do Apóstolo fiel, que se havia enxugado sob o
fogo da ira, recomeça forte...
Meu Pedro, e tu crês que eles
não sejam possessos? Crês que para o serem, precisam ser como aquele de Caliroé
e outros que temos encontrado? Crês que a possessão se manifeste somente com aqueles
gritos indecentes, com aqueles pulos, aquelas fúrias, a mania de viver em
furnas, com os mutismos, com os membros encolhidos, com a razão entorpecida, de
modo que o possesso fala e age inconscientemente? Não. Há também as obsessões e
as possessões, mais sutis e fortes, e mais perigosas, porque criam obstáculos á
razão e a enfraquecem, a fim de que não faça coisas boas, mas até a
desenvolvem, a aumentam para que seja poderosa, a fim de servir aquele que a
possui. Deus, quando toma posse de uma inteligência, e faz uso dela a fim que o
sirva, transfunde na mesma e nas horas em que o próprio indivíduo está a
serviço de Deus, a inteligência sobrenatural, que aumenta de muito a
inteligência natural dele. Credes, por exemplo, que Isaías, Ezequiel, Daniel e
os outros profetas, se tivessem devido ler e explicar aquelas profecias, como
se elas tivessem sido escritas por outros, não teriam eles encontrado nelas as
dificuldades indecifráveis que nelas encontram nossos contemporâneos? E no
entanto, Eu vos digo que eles , quando as recebiam, as compreendiam
perfeitamente.
Olha Simão, apanhemos esta flor, que nasceu
aqui, aos teus pés. O que tu estás vendo na sombra que envolve o cálice? Nada.
Vês um cálice profundo, uma pequena boca, e nada mais. Agora, olha para ele,
enquanto eu apanho e o trago para cá, para baixo deste raio de sol. Que estás
vendo?
“Vejo uns
estames, vejo o pólen, uma coroazinha de pequenos pêlos, que parecem uns
cílios. E ao redor dos estames, uma tirinha toda cheia de cílios pequeninos,
que orna a pétala larga e as duas menores... e vejo uma gotinha de orvalho no
fundo do cálice... e... oh! Aí está! Um mosquitinho cheio de cílios, que não
consegue livrar-se mais... Mas, então! Deixa-me ver melhor! O pequeno pêlo
parece ter sido untado com mel, e está pegajoso... Já entendi! Deus o fez
assim, ou para que a planta se nutra, ou para que se nutram os passarinhos que
vêm apanhar as moscas, ou para que o ar fique limpo delas... Que maravilha!”
Mas, sem a forte luz do sol,
não terias visto nada.
É verdade.
Não teria.
Igualmente acontece com o que
é da propriedade de Deus. A criatura que de seu “eu”, leva somente a boa
vontade de amar totalmente ao seu Deus, com o abandono de seus desejos, com a
prática das virtudes e o domínio de suas paixões, fica absorta em Deus, na
Sabedoria que é Deus, tudo vê e compreende. Depois de terminada essa ação,
penetra na criatura um estado no qual o que foi recebido se transforme em norma
de vida e santificação, mas faz ficar escuro, ou melhor, crepuscular, o que
antes parecia tão claro. O demônio, perpétuo inimigo de Deus, produz um efeito
análogo nos obsessos da mente, ainda que mais limitado, porque somente Deus é
infinito, naqueles que espontaneamente se lhe entregam para triunfarem, e
comunica-lhes uma inteligência superior, mas unicamente voltada para o mal,
para prejudicar, para ofender a Deus e ao homem. Mas a ação de Satanás
encontrando o consentimento da alma, é contínua, levando-lhe assim,
gradualmente á ciência total do mal. Estas são as piores possessões. Nada disso
aparece externamente, e por isso não são evitados esses possessos. Como Eu já
disse muitas vezes, o Filho do homem vai ser ferido pelos possessos desta
qualidade.
(O Evangelho como me foi
Revelado, Maria Valtorta, Vol 8, pgs 17,18,19)
A paz de Jesus.
Antonio Carlos Calciolari.

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