A FORÇA DA PALAVRA.
Maria
Valtorta viu e ouviu o que se segue por um milagre de Deus.
Atrás do grosso tronco da
nogueira, está uma figura humana. Jesus dá dois passos para o lado dela e diz:
Acompanha-me. E vai colocar-se na banqueta de pedra colocada perto da casa, do
lado do oriente.
A mulher vai indo para frente,
toda velada e inclinada. Jesus coloca a lâmpada sobre a pedra, ao lado dele.
Fala. Ele deu esta ordem com a
severidade de um Deus, e a mulher, em vez de continuar para frente e de falar,
dá uns passos para trás, inclina-se mais ainda e fica calada.
Fala, Eu te mando. Querias
falar comigo. E Eu vim. Fala, diz Jesus com tom de doçura na voz.
Silêncio.
Então Eu vou falar. E Eu te
pergunto: porque me odeias tanto, a ponto de servir aos que querem a minha
ruína, e a desejam de todos os modos e para ela procuram todas as causas
possíveis? Responde. Que foi que Eu te fiz de mal, ó infeliz? Que foi que te
fez de mal o Homem, que nem em seu coração zombou da vida infame que tu levas?
Será que este homem te corrompeu, Ele que, nem em seu coração te desejou, para
que possas odiar assim, e mais do que aqueles que te prostituíram, e te
rebaixam cada vez que eles vêm a ti? Responde! Que foi que te fez Jesus de
Nazaré, o filho do Homem, que tu apenas conheces de vista, por te teres
encontrado com Ele nas ruas da cidade, Jesus que nem conhece o teu rosto, nem
ás tuas graças dá importância, e que somente da tua alma é que Ele quer ver
suja e enfeada figura, para conhecê-la e curá-la? Então, fala!
Não sabes quem Eu sou? Sim, em
parte tu o sabes. E até em duas partes o sabes. Sabes que Eu sou um homem jovem
e que a minha pessoa te agrada. Quem te disse isso foi a tua animalidade
desenfreada. E a tua língua de ébria te disse a quem pôde ficar ouvindo a
confissão de tua sensualidade, e te deu uma arma com que fazer-me mal. Sabes
que Eu sou Jesus de Nazaré, o Cristo. Isto te disseram aqueles que desfrutando
do teu desejo carnal, te pagaram para que viesses aqui a fim de me tentar. Eles
te disseram: “ Ele se diz o Cristo. As multidões o chamam de Santo, o Messias.
Ele não é mais do que um impostor. Precisamos ter a prova de sua miséria como
homem. Dá-nos essas provas, e te cobriremos de ouro.” E, porque tu, se tens
ainda um resto de justiça, a última migalha daquele tesouro de justiça, que
Deus havia colocado em tua carne junto com tua alma, mas que tu quebraste e
esparramaste por aí, não querendo fazer-me mal, porque, a teu modo tu me
amavas, e, então eles te disseram: “ Nós não lhe faremos mal! Pelo contrário!
Nós abandonaremos contigo o homem, dando-te os meios de fazê-lo viver como um
rei ao teu lado. Basta-nos podermos dizer a nós mesmos, para pormos em paz a
nossa consciência, que Ele é um simples homem. Dá-nos essas provas, e te
cobriremos de ouro. Será uma prova de que temos razão, não crendo que Ele é o
Messias.” Assim disseram eles. E tu, então, vieste. Mas, se Eu aderisse ás tuas
adulações, teria o Inferno sobre Mim. Eles já estão prontos para cobrir-me de
lama e para prender-me. E tu estás sendo o instrumento para que possam fazer
isso.
Estás vendo que não te faço
perguntas. Eu falo, porque sei. Sem necessidade de perguntar, se é que tu sabes
destas duas coisas. Mas há uma terceira que tu não sabes. Tu não sabes quem Eu
sou, além de ser um homem e ser Jesus. Em Mim, tu vês o homem. Os outros te
dizem: “ È o Nazareno”. Mas Eu te digo quem sou. Eu sou o Redentor. E, para
redimir, devo ser sem pecado. A minha possível sensualidade de homem, olha como
Eu a espezinhei. Assim como faço com esta nojenta lagarta que, na escuridão,
vinha de uma lama para outra lama, a fim de realizar os seus lascivos amores.
Assim, Eu a espezinhei sempre. E assim a espezinho agora também. E assim estou
disposto a arrancar de ti a tua doença e espezinhá-la, livrando-te dela, para
tornar-te sã e santa. Porque Eu sou o Redentor. Somente isso. Tomei um corpo
para salvar-vos, para destruir o pecado, e para amar-vos, mas com um amor que
dá a sua vida, o seu sangue, a sua palavra, tudo, a fim de levar-vos para o
Céu, para a Justiça, não para amar-vos como a um animal. E, nem mesmo como
homem, porque Eu sou mais do que homem.
Sabes tu exatamente quem Eu
sou? Não o sabes. Tu não sabias nem mesmo qual era a importância do que tinhas
vindo fazer. E disso Eu te perdôo, sem que tu mo peças. Tu não sabias. Mas, e a
tua prostituição? Como pudeste viver nela? Tu ao eras assim. Eras boa. Oh!
Infeliz! Não te lembras de tua infância? Não te recordas dos beijos de tua mãe?
Nem das palavras dela? Nem das oras de oração? Das palavras de Sabedoria, que
ouvias ser explicadas de tarde por teu pai, e aos sábados pelo sinagogo? Quem
foi que te fez ficar assim hebetada e ébria? Não te lembras? Não tens saudades
daqueles tempos? Dize-me: Estás verdadeiramente feliz? Não respondes? Eu falo
em teu lugar. E Eu digo: não, não és feliz. Quando despertas, encontras sobre o
teu travesseiro a tua vergonha, a dar-te a primeira tortura do dia, cada dia. E
a voz da consciência te grita a sua reprovação, enquanto te ficas enfeitando e
perfumando com prazer. E sentes um cheiro insuportável, até nas essência mais
finas. E um sabor nauseante, até nos alimentos mais gostosos. E as tuas jóias
te pesam como umas correntes. E elas o são. E, enquanto te ris e seduzes, alguma
coisa geme dentro de ti. E te embebedas para vencer os aborrecimentos e a
náusea que te causa a tua vida. E odeias aqueles que dizes amar, a fim de
receber algum lucro deles. E maldizes a ti mesma. E teu sono é cheio de
íncubos. E a lembrança de tua mãe é uma espada em teu coração. E a maldição de
teu pai não te deixa em paz. Além disso, recebes as ofensas dos que se
encontram contigo as crueldades dos que abusam de ti, sem piedade, e sempre. Tu
és uma mercadoria. Tu és vendida. E uma mercadoria comprada se usa como se
quer. Rasga-se, consome-se, pisa-se nela, cospe-se sobre ela. Está sob os
direitos do comprador. Tu não te podes rebelar... E será que uma situação assim
te faz feliz? Não. Estás desesperada. Estás acorrentada. Estás sendo torturada.
Sobre a terra és um farrapo nojento, que por qualquer um pode ser pisado. Se tu
procuras, nas horas de sofrimento encontrar conforto e levantar o teu espírito
para Deus, sentes a ira de Deus sobre ti, uma prostituta, e vês o Céu fechado,
e mais ainda do que o foi para Adão. Se te sentes mal, ficas com grande medo de
morrer, porque sabes qual é a tua sorte. Pois o abismo te espera. OH! Infeliz!
E tudo isso ainda não bastava? Gostarias de acrescentar a torrente de tuas
culpas também a culpa de teres sido a ruína do Filho do homem? Deste que te
ama? Ele é o único que te ama. Porque foi por tua alma também que Ele se
revestiu com a carne humana. Eu poderia salvar-te, se tu o quisesses. Sobre o
abismo de tua objeção, inclina-se o Abismo da Misericordiosa Santidade, e fica
esperando um teu desejo de Salvação, para arrancar-te do abismo de tua
imundície. Em teu coração tu ainda pensas ser impossível que Deus te perdoe. E
ficas ainda procurando bases para este teu pensamento no confronto que fazes
com o mundo, que não te perdoa, por seres uma prostituta. Mas Deus não é o
mundo. Deus é bondade, Deus é perdão. Deus á Amor.
Tu vieste a Mim, tendo sido
paga para me fazer mal. Em verdade Eu te digo que o Criador, contanto que salve
uma sua criatura, pode transformar em bem o que é mal. E, se tu quiseres, em
bem vai se mudar a tua vinda a Mim. Não te envergonhes do teu Salvador. Não te
envergonhes de lhe mostrares nu o teu coração. Ainda que o queiras esconder.
Ele o vê, e chora sobre ele. Chora. Ama. Não te envergonhes de arrepender-te.
Sê ousada em arrepender-te, como o foste na culpa. Não és tu a primeira
prostituta que vem chorar a meus pés, e que Eu reconduzo á Justiça... Eu nunca
expulsei nenhuma criatura, por mais culpada que ela fosse. Pelo contrário,
sempre procurei atraí-la e salvá-la. Esta é a minha missão. Não me causa horror
o estado de um coração. Eu conheço Satanás e as obras dele. Conheço os homens e
suas fraquezas. Conheço a condição da mulher que paga, como é de justiça, mais
duramente do que o homem, as conseqüências da culpa de Eva. Portanto, eu sei
julgar e compadecer-me. E Eu te digo que mais do que para com as mulheres
decaídas, Eu sou severo aqueles que as fizeram cair. Quanto a ti, Eu sou mais
severo para com aqueles que te mandaram, do que para contigo, que vieste, sem
saber exatamente para que estavas sendo usada. Eu teria preferido que tu
tivesses vindo impelida por um desejo de redenção, como outras tuas irmãs. Mas,
se tu obedeceres ao desejo de Deus e se de uma má ação fizeres a pedra angular
da tua nova vida, Eu te direi a palavra de paz.
...Com rapidez, ela agarra uma
pedra aguçada que ela viu no chão, e com ela se fere até sair sangue do rosto,
e arranha com suas unhas pintadas. O sangue goteja das feridas, as feições
ficam inchadas pelos golpes, até que enfim, sua fúria se aplaca, e ela
ofegante, exausta, desfigurada, despenteada, rasgada, com as vestes sujas de
sangue e de terra, enfim se joga no chão aos pés de Jesus, gemendo: “ E agora
me podes perdoar, se estás vendo meu coração, porque não há mais nada do meu
passado, nada mais de.. Tu venceste, Senhor, na luta contra os teus inimigos e
contra minha carne... Perdoa-me os meus pecados...
Eu os havia já perdoado, desde
quando Eu vim ao teu encontro.
Levanta-te, e não peques mais.
( O Evangelho como me foi
Revelado – Maria Valtorta, pgs. 266,267,268,269,270,271, Vol 8)
A paz de Jesus.
Antonio Carlos Calciolari.
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