BÍBLIA
SAGRADA
ADVENTO
DA IGREJA
VOLUME
1
INTRODUÇÃO
A Bíblia não se encerra com o Livro do
Apocalipse de João. Ela é a revelação da existência de Deus como único Criador
de tudo que existe, seja visível ou invisível. É a Palavra de Deus, inspirada
por Ele nas consciências dos homens, que às professam por meio de palavras e
escritos. É a história humana terrestre desde seu início, e terá um fim ao
completar os sete mil anos proféticos, e então, o último dia chegará com o
julgamento de toda vida humana, desde Adão e Eva até o último homem nascido de
mulher. Nos primórdios dos tempos, como existiam apenas cinco livros, eram
chamados de Torá em hebraico e Pentateuco em grego. Com a inclusão dos livros
subsequentes do Antigo Testamento, chegando a quarenta e seis, naturalmente os
gregos os chamavam Bíblia, que na língua deles significa livros. Com o Novo
Testamento da Nova Aliança agregou-se mais 27 livros, totalizando setenta e três,
mas a história humana terrestre não terminou, a Palavra de Deus também não se
calou. Ela continuou a ser escrita pelo Espírito Santo através de seus Santos e
Mártires até o dia de hoje, e tais livros com as revelações do Céu devem ser
agregadas na Bíblia, fazer parte dela, como continuação. Não podemos deixa-la
com a história da humanidade escrita parcialmente, aceitando somente os
primeiros quatro mil anos, desde a queda de nossos progenitores. A continuação
da Bíblia deve conter primeiramente o início da história da Esposa de Cristo na
Terra, a Igreja Católica Apostólica Romana, sua nascente, e através dela
colocar todos os livros inspirados de seus Santos, visionários, com a história
de todos os Papas. Nesta continuação da Bíblia foram incluídas milhares de
Palavras vindas do Céu, porém, não foi possível, infelizmente, colocar todas as
mensagens.
O
advento da Igreja, é o tempo do Espírito Santo, da Terceira Pessoa da Trindade,
se assim não o fizermos, dando continuidade, estaremos menosprezando-A. Seria
como se o Espírito Santo não tivesse existido. É o advento da “Pedra”
profetizada por Daniel, referente ao sonho de Nabucodonosor sobre a Estátua, que
destrói todos os reinos, saindo-se única vencedora. Também é a “Pedra”,
alegoria dada por Jesus à Pedro Apóstolo como primeiro Pontífice da Nova
Aliança. É a Pedra rejeitada pelos construtores do Templo tornando-se Pedra
angular, perfeita e eterna. Felizes aqueles que acreditaram e praticaram os
ensinamentos da Tradição da Igreja, instrumento infalível para a salvação das
almas, cuja função foi entronizar Deus no coração dos homens, transformando-o
Templo do Espírito Santo. Este é o Templo verdadeiro onde Deus deseja estar, no
coração dos homens. Também é preciso reconhecer que somente dentro das Igrejas
Católicas, depois do Rito Eucarístico, recebemos verdadeiramente o Corpo e o
Sangue de Cristo transubstanciado, adquirindo portanto, naquele momento
sublime e milagroso, Deus em nossos corações, com a consumação da hóstia
consagrada. Os sete Sacramentos da Igreja dão uma grande ajuda para as almas
desejosas de serem salvas da condenação eterna, mas o Sacramento da Eucaristia
é o momento de maior elevação espiritual para os cristãos. Deus permanece
naquele coração, enquanto não pecar novamente.
Os
antipapas que surgiram durante a história da Igreja, nada mais são do que
cismáticos, que ousaram se auto proclamar Pontífices, esquecidos de seus
deveres cristãos em aceitar as recomendações tradicionais da Igreja. A Velha
Serpente colocou trinta e nove antipapas nestes dois mil anos, sendo o último
deles Mario Jorge Bergoglio, identificado no livro do Apocalipse como a Besta
que veio da Terra, o lacaio do Anticristo. A ação das Trevas foi constante, a
fim de desestabilizar a Igreja de Cristo, criar confusão e divisão. É esta
história riquíssima que devemos eternizar para os habitantes do último milênio,
o legado da Igreja, a história completa da luta da Luz contra as Trevas.
Neste
tempo da Igreja, uma missão especial de salvação foi dada pelo Criador à Maria
Santíssima, a Mulher Vestida de Sol, a fim de preparar o rebanho para a Grande
Tribulação. Com as inúmeras aparições da Mãe em muitos lugares da terra,
contribuiu com suas revelações, desvendar as ciladas de Satanás, nos orientar e
elevar a nossa fé. Ela, a Mãe do Verbo, salvou mais almas para a glória de
Deus, do que todos os Santos juntos. Houve em torno de duas mil aparições de
Maria desde a fundação da Igreja, e em quase todos estes lugares pediu para
construir um Santuário, uma Igreja Católica em sua memória; nestes livros do
advento da Igreja estão somente as mais reveladoras. Não porque tais aparições
excluídas sejam menos importantes, muito menos os inúmeros cristãos
desconhecidos do mundo que aqui não foram lembrados, mas conhecidos e amados pelo
Senhor, devido ao grande trabalho em prol da Igreja e da conversão das almas. Há
mais de vinte mil Santos e beatos católicos reconhecidos oficialmente pela
Igreja Católica através do processo de canonização, nossos heróis que fizeram a
vontade de Deus no mundo, a ponto de, pela graça de Deus, merecerem esse reconhecimento.
Foram luzes de fé e esperança, engrandecendo espiritualmente a Santa Igreja
através dos tempos. Nesta continuação da Bíblia estão mencionados apenas os
mais relevantes. Muitos destes Santos e mártires Católicos ficaram com seus
corpos incorruptíveis depois da morte. Alguns levaram décadas para começarem a
se decompor, outros mais de cem anos, e outros permanecem incorruptíveis até os
dias de hoje. Trata-se de pessoas com uma espiritualidade muito elevada, que
perseveraram até o fim de suas vidas purificando a alma e o corpo, doando-se
inteiramente ao Senhor. Os corpos incorruptos destes Santos ficaram assim por
um milagre sobrenatural vindo do Criador, com o intuito de mostrar que é
possível a matéria se eternizar conjuntamente com o espírito para o julgamento
final, e para que crêssemos no que disseram e fizeram esses servos do
Altíssimo. Esses inúmeros corpos estão em exposição nos Santuários e Igrejas de
Cristo espalhadas pelo mundo.
Lembremos
também que todas as relíquias de Jesus Cristo estão nesta Santa Igreja, tais
como: O Santo Sudário de Turim, o pano que cobriu Jesus no túmulo de José de
Arimatéia, a Tunica de Argentil, confeccionada por Maria, vestiu Jesus durante
o carregamento da Cruz, o Santo Sudário de Oviedo, colocado sobre a cabeça de
Jesus no sepulcro, a Coroa de espinhos, os pregos, o Véu de Verônica, pano que
enxugou o rosto de Cristo durante o carregamento da Cruz, onde miraculosamente
se estampou o Rosto Santo do Salvador, além de outras. Nossa Senhora guardou
tais relíquias num baú de madeira, e depois de sua morte foi entregue a João
Apóstolo e dele para outros lugares. Esta Igreja tem sido a força motriz por
trás de alguns dos principais eventos da história mundial, incluindo a cristianização
da Europa Ocidental, Central e da América Latina, a disseminação da
alfabetização, hospitais, o desenvolvimento da arte e música, literatura,
arquitetura, contribuições para o método científico, além de outras
inestimáveis e necessárias influência social enfatizando as virtudes e a
moralidade. Ela desempenhou um papel poderoso nos assuntos globais, incluindo a
Reconquista, as Cruzadas, a Inquisição, a Controvérsia da Investidura, o
estabelecimento do Sacro Império Romano e a queda do Comunismo na Europa
Oriental no final do século XX. Durante todos estes comflitos, principalmente
durante a primeira e segunda guerra mundial, atuou sempre como pacificadora,
ajudando a todos os necessitados que a ela recorriam como última instância,
para sobreviverem. Não é ousado dizer que o mundo sem o cristianismo teria se
tornado uma ruína moral e social em todos os aspectos.
A Igreja
Católica Apostólica Romana é a maior e mais longínqua instituição da terra, e a
ela devemos nossa gratidão a Deus, por tê-la criado para o nosso bem. Esta
grandiosíssima instituição chega nestes finais dos tempos com os números de sua
imponência: tem quase 220 mil Igrejas espalhadas pelo mundo, aproximadamente um
bilhão e quatrocentos mil fiéis, 5.340 Bispos, 407.870 Sacerdotes, 49.200
diáconos. Ajuda administrar 74.368 Jardins de Infância, frequentados por
7.565.095 alunos, 100.939 escolas primárias com 34.699.835 alunos, 49.868
escolas secundárias para 19.485.025 alunos. Acompanha 2.483.406 alunos do
ensino médio e 3.925.325 estudantes universitários. Banca 5.405 hospitais,
15.276 lares de idosos, 10.567 creches. O Legado da Igreja é a certeza de que
mostrou o Caminho certo a seguir, a Verdade contida em sua doutrina para
conquistar a Vida eterna. Enquanto a Bíblia anterior foi escrita
providencialmente por Deus com enigmas indecifráveis, a atual chegou para
revelá-los, a fim de que a humanidade fique sabendo o significado de cada
Profecia, antes da segunda vinda de Cristo. Deus, amorosíssimo como é, jamais
deixaria de providenciar tais revelações, utilizando para isso seus servos, os
visionários do final dos tempos. As visões e mensagens inspiradas pelo
Paráclito, recebidas pelos visionários – antigamente chamados de Profetas -, o
autor é Deus. Já a história dos Papas, e os eventos escatológicos mais
marcantes da humanidade, foram escritas e reescritas por inúmeros autores, por
centenas de anos, mantendo sempre a mesma história, mudando apenas a forma de
contá-las, de acordo com cada autor-biográfico, portanto não se pode cobrar
direitos autorais dos textos aqui apresentados. A grande maioria das citações
históricas foi escrita por integrantes da própria Igreja, identificando seu
escrevente apenas como fonte de informação. A começar pela Bíblia, o
Martirológio Romano, Martirológio Jeronimiano, o Liber Pontificalis, Legenda
Áurea, entre outros, são obras da Igreja Católica. Sendo a fonte das mensagens
deste livro inspiradas por Deus, ou historicamente por ministros da Igreja, o
conteúdo torna-se propriedade de toda a humanidade, porque é a herança de nossos
pais, é o legado da Igreja, a Verdade que não se cala. Em apocalipse 22;18-19,
João nos adverte para que ninguém tire ou acrescente nada no Livro por ele
escrito. Muitos entenderam que não era para acrescentar novas revelações do Céu.
Não, meus queridos cristãos. A recomendação foi apenas para não alterar somente
o que ele havia escrito. Afinal, quem é que pode limitar as providências
Divinas? Quem como Deus?
ÍNDICE
GERAL
Nesta
continuação da história humana adotou-se como referência de busca a
escatologia, portanto não tem número de páginas, nem mesmo capítulos e
versículos.
BÍBLIA - ADVENTO DA
IGREJA - VOLUME 1
1 – S.PEDRO – 33-67
1.1- Nossa Senhora do Pilar
2 – S. LINO – 67-76
3 – S. CLETO – 77-88
4 – S. CLEMENTE I – 89-98
5 – S. EVARISTO – 98-105
6 – S. ALEXANDRE I – 105-115
7 – S. SISTO I – 115-125
8 – S. TELÉSFORO – 125-136
9 – S. HIGINO – 137-140
10 – S. PIO I – 140-155
11 – S. ANICETO – 155-166
12 – S. SOTERO – 166-175
13 – S. ELEUTÉRIO – 175-189
14 – S. VÍTOR I – 189-199
15 – S. ZEFERINO – 199-217
16 – S.CALISTO I – 217-222
Antipapa: Hipólito (217-235)
17 – S. URBANO I – 222-230
17.1 - Santa Cecília
18 – S. PONCIANO – 230-235
19 – S. ANTERO – 235-236
20 – S. FABIANO – 236-250
21 – S. CORNÉLIO – 251-253
Antipapa: Novaciano (251)
22 – S. LÚCIO I – 253-254
23 – S. ESTÊVÃO I – 254-257
24 – S. SISTO II – 257-258
25 – S. DIONÍSIO – 259-268
26 – S. FÉLIX – 269-274
27 – S. EUTIQUIANO – 275-283
27.1 – Santa Helena
28 – S. CAIO – 283-296
29 – S.MARCELINO – 296-304
30 – S. MARCELO I – 307-309
31 – S. EUSÉBIO – 309-310
32 – S. MELQUÍADES – 311-314
33 – S. SILVESTRE I – 314-335
33.1 - São Nicolau
34 – S. MARCOS - 336
35 – S. JÚLIO I – 337-352
36 – S. LIBÉRIO – 352-366
Antipapa: Félix II (355- 365)
36.1 - Aparição de Nossa Senhora das Neves
37 – S. DÂMASO I – 366-384
Antipapa: Ursino (366-367)
37.1 - São Jerônimo
38 – S. SIRÍCIO – 385-398
38.1 - Santo Agostinho de Hipona
39 – S. ANASTÁCIO I – 399-401
40 – S. INOCÊNCIO I – 401-417
41 – S. ZÓSIMO – 417-418
42 – S. BONIFÁCIO I – 418-422
Antipapa: Eulálio (418-419)
43 – S. CELESTINO I – 422-432
44 – S. SISTO III – 432-440
45 – S. LEÃO I – 440-461
46 – S. HILÁRIO – 461-468
47 – S. SIMPLÍCIO – 468-483
48 – S. FÉLIX III – 483-492
49 – S. GELÁSIO I – 492-496
50 – S. ANASTÁCIO II – 496-498
51 – S. SÍMACO – 498-514
Antipapa: Lourenço (498-505)
51.1 - São Bento
52 – S. HORMISDAS – 514-523
53 – S. JOÃO I – 523-526
54 – S. FÉLIX IV – 526-530
55 – BONIFÁCIO II – 530-532
Antipapa: Dióscoro (530)
56 – JOÃO II – 533-535
57 – S.AGAPITO I – 535-536
58 – S. SILVÉRIO – 536-537
59 – VIRGÍLIO – 537-555
60 – PELÁGIO I – 556-561
61 – JOÃO III – 561-574
62 – BENTO I – 575-579
63 – PELÁGIO II – 579-590
64 – S. GREGÓRIO I – 590-604
65 – SABINIANO – 604-606
66 – BONIFÁCIO III - 607
67 – S. BONIFÁCIO IV – 608-615
68 – S. ADEODATO I – 615-618
69 – BONIFÁCIO V – 619-625
70 – HONÓRIO I – 625-638
71 – SEVERINO - 640
72 – JOÃO IV – 640-642
73 – TEODORO I – 642-649
74 – S. MARTINHO I – 649-655
75 – S. EUGÊNIO I – 654-657
76 – S. VITALIANO – 657-672
77 – ADEODATO II – 672-676
78 – DONO – 676-678
79 – S. AGATO – 678-681
80 – S. LEÃO II – 682-683
81 - 684-685 – S. BENTO II – 684-685
82 – JOÃO V – 685-686
83 – CÓNON – 686-687
Antipapas: Teododoro (687), Pascoal (687-692)
84 – S. SÉRGIO I – 687-701
85 – JOÃO VI – 701-705
86 – JOÃO VII – 705-707
87 – SISÍNIO - 708
88 – CONSTANTINO – 708-715
89 – S.GREGÓRIO II – 715-731
90 – S. GREGÓRIO III – 731-741
91 – S. ZACARIAS – 741-752
92 – ESTÊVÃO I (II) - 752
93 – S.ESTÊVÃO II (III) – 752-757
94 – S. PAULO I – 757-767
Antipapas: Constantino II (767-768), Filipe (768)
95 – S. ESTÊVÃO III (IV) – 768-772
96 – ADRIANO I – 772-795
97 – S.LEÃO III – 795-816
97.1 - Aparição de Nossa Senhora em Corbie
98 – S. ESTÊVÃO IV, (V) – 816-817
99 – S. PASCOAL I – 817-824
100 – EUGÊNIO II – 824-827
101 – VALENTINO - 827
102 – GREGÓRIO IV – 827-844
Antipapa: João (844)
103 – SÉRGIO II – 844-847
104 – S.LEÃO IV – 847-855
Antipapa: Anastácio (855)
105 – BENTO III – 855-858
106 – S. NICOLAU I – 858-867
107 – ADRIANO II – 867-872
107.1 - Santos Cirilo e Metódio
108 – JOÃO VIII – 872-882
109 – MARINO I – 882-884
110 – ADRIANO III – 884-885
111 – ESTÊVÃO V (VI) – 885-891
112 – FORMOSO – 891-896
113 – BONIFÁCIO VI - 896
114 – ESTÊVÃO VI (VII) – 896-897
115 – ROMANO - 897
116 – TEODORO II - 897
117 – JOÃO IX – 898-900
118 – BENTO IV – 900-903
119 – LEÃO V - 903
Antipapa: Cristóvão (903-904)
120 – SÉRGIO III – 904-911
121 – ANASTÁCIO III – 911-913
122 – LÂNDO – 913-914
123 – JOÃO X – 914-928
124 – LEÃO VI - 928
125 – ESTÊVÃO VII (VIII) – 929-931
126 – JOÃO XI – 931-935
127 – LEÃO VII – 936-939
128 – ESTÊVÃO VIII (IX) – 939-942
129 – MARINO II – 942-946
130 – AGAPITO II – 946-955
131 – JOÃO XII – 955-963
132 – LEÃO VIII – 963-964
133 – BENTO V – 964-965
134 – JOÃO XIII – 965-972
135 – BENTO VI – 973-974
Antipapa: Bonifácio VII (974)
136 – BENTO VII – 975-983
137 – JOÃO XIV – 983-984
138 – JOÃO XV – 985-996
139 – GREGÓRIO V – 996-999
Antipapa: João XVI (997- 998)
140 – SILVESTRE II – 999-1003
141 – JOÃO XVII - 1003
142 – JOÃO XVIII – 1003-1009
143 – SÉRGIO IV – 1009-1012
144 – BENTO VIII – 1012-1024
Antipapa: Gregório (1012)
145 – JOÃO XIX – 1024-1032
146 – BENTO IX – 1032-1044
147 – SILVESTRE III - 1045
148 – BENTO IX - 1045
149 – GREGÓRIO VI – 1045-1046
150 – CLEMENTE II – 1046-1047
151 – BENTO IX – 1047-1048
152 – DÂMASO II - 1048
153 – S. LEÃO IX – 1049-1054
154 – VÍTOR II – 1055-1057
155 – ESTÊVÃO IX (X) – 1057-1058
Antipapa: Bento X (1058)
156 – NICOLAU II – 1059-1061
156.1 - Aparição de Nossa Senhora de Walsingham
157 – ALEXANDRE II – 1061-1073
Antipapa: Honório II (1061-1072)
158 – S. GREGÓRIO VII – 1073-1085
Antipapa: Clemente III (1080 e 1084-1100)
159 – VÍTOR III – 1086-1087
160 – URBANO II – 1088-1099
160.1 - Santo Anselmo de Cantuária
161 – PASCOAL II – 1099-1118
Antipapas: Teodorico (1100-1102), Alberto (1102), Silvestre
IV (1105-1111)
162 – GELÁSIO II – 1118-1119
Antipapa: Gregório VIII (1118-1121)
163 – CALISTO II – 1119-1124
164 – HONÓRIO II – 1124-1130
Antipapa: Celestino II (1124)
165 – INOCÊNCIO II – 1130-1143
Antipapas: Anacleto II (1130-1138), Vítor IV (1138)
166 – CELESTINO II – 1143-1144
167 – LÚCIO II – 1144-1145
168 – EUGÊNIO III – 1145-1153
168.1 – Santa Hildegarda de Bingen
169 – ANASTÁCIO IV – 1153-1154
170 – ADRIANO IV – 1154-1159
171 – ALEXANDRE III – 1159-1181
Antipapas: Vítor IV (1159-1164), Pascoal III (1164-1168),
Calisto III (1168-1178), Inocêncio III (1179-1180)
172 – LÚCIO III – 1181-1185
173 – URBANO III – 1185-1187
174 – GREGÓRIO VIII - 1187
175 – CLEMENTE III – 1187-1191
176 – CELESTINO III – 1191-1198
177 – INOCÊNCIO III – 1198-1216
177.1 - São Domingos Gusmão
177.2 - Aparição de Nossa Senhora em Prouile
177.3 - São Francisco de Assis
177.4 - Santa Clara de Assis
178 – HONÓRIO III – 1216-1227
179 – GREGÓRIO IX – 1227-1241
180 – CELESTINO IV - 1241
181 – INOCÊNCIO IV – 1243-1254
181.1 – Santa Matilde de Hackeborn
181.2 - Aparição de Nossa Senhora do Carmo
182 – ALEXANDRE IV – 1254-1261
183 – URBANO IV – 1261-1264
184 – CLEMENTE IV – 1265-1268
185 – GREGÓRIO X – 1271-1276
186 – INOCÊNCIO V - 1276
187 – ADRIANO V - 1276
188 – JOÃO XXI – 1276-1277
189 – NICOLAU III – 1277-1280
190 – MARTINHO IV – 1281-1285
191 – HONÓRIO IV – 1285-1287
192 – NICOLAU IV – 1288-1292
193 – S.CELESTINO V - 1294
194 – BONIFÁCIO VIII – 1294-1303
195 – BENTO XI – 1303-1304
196 – CLEMENTE V – 1305-1314
197 – JOÃO XXII – 1316-1334
Antipapa: Nicolau V (1328-1330)
198 – BENTO XII – 1334-1342
199 – CLEMENTE VI – 1343-1352
199.1 - Santa Catarina de Siena
199.2 - Santa Brígida da Suécia
200 – INOCÊNCIO VI – 1352-1362
201 – URBANO V – 1362-1370
202 – GREGÓRIO XI – 1370-1378
202.1 - Santa Francisca Romana
203 – URBANO VI – 1378-1389
204 – BONIFÁCIO IX – 1389-1404
205 – INOCÊNCIO VII – 1404-1406
206 – GREGÓRIO XII – 1406-1417
Antipapas: Clemente VII (1378-1394), Bento XIII (1394-1423),
Alexandre V (1409-1410), João XXIII (1410-1415)
207 – MARTINHO V – 1417-1431
207.1 - Santa Joana D`arc
208 – EUGÊNIO IV – 1431-1447
Antipapa: Félix V (1439-1449)
208.1 - Aparição de Nossa Senhora de Caravaggio
209 – NICOLAU V – 1447-1455
209.1 - Santa Catarina Gênova
210 – CALISTO III – 1455-1458
210.1 – Os Catorze Santos Auxiliares
211 – PIO II – 1458-1464
212 – PAULO II – 1464-1471
213 – SISTO IV – 1471-1484
214 – INOCÊNCIO VIII – 1484-1492
214.1 - Aparição de Nossa Senhora da Guarda
215 – ALEXANDRE VI – 1492-1503
216 – PIO III - 1503
217 – JÚLIO II – 1503-1513
218 – LEÃO X – 1513-1521
219 – ADRIANO VI – 1521-1523
220 – CLEMENTE VII – 1523-1534
220.1 - Santa Angela de Mérice
220.2 - Aparição de Nossa Senhora em Guadalupe
221 – PAULO III – 1534-1549
222 – JÚLIO III – 1550-1555
223 – MARCELO II - 1555
223. 1 - Aparição de Nossa Senhora em Kazan
224 – PAULO IV – 1555-1559
225 – PIO IV – 1559-1565
226 – S. PIO V – 1566-1572
226.1 - Santa Tereza D`avila
226.2 - Aparição de Nossa Senhora da Boa Saúde
227 – GREGÓRIO XII – 1572-1585
227.1 - Aparição de Nossa Senhora do Fetal
227.2 - São Camilo de Léllis
228 – SISTO V – 1585-1590
229 – URBANO VII - 1590
230 – GREGÓRIO XIV – 1590-1591
231 – INOCÊNCIO IX - 1591
232 – CLEMENTE VIII – 1592-1605
232.1 - Aparição de Nossa Senhora do Bom Sucesso
233 – LEÃO XI - 1605
234 – PAULO V – 1605-1621
234.1 - Aparição de Nossa Senhora de Siluva
235 – GREGÓRIO XV – 1621-1623
236 – URBANO VIII – 1623-1644
236.1 - São Vicente de Paulo
237 – INOCÊNCIO X – 1644-1655
237.1 - Aparição de Nossa Senhora de Coromoto
238 – ALEXANDRE VII – 1655-1667
238.1 - Aparição de Nossa Senhora de Jesus de Ágreda
238.2 - Aparição de Nossa Senhora de Laus
239 – CLEMENTE IX – 1667-1669
240 – CLEMENTE X – 1670-1676
241 – INOCÊNCIO XI – 1676-1689
242 – ALEXANDRE VIII – 1689-1691
243 – INOCÊNCIO XII – 1691-1700
244 – CLEMENTE XI – 1700-1721
244.1 - Aparição de Nossa Senhora Aparecida, Portugal
244.2 - Prodígio de Nossa Senhora Aparecida, Brasil
244.3 – Nossa Senhora Desatadora dos Nós
245 – INOCÊNCIO XIII – 1721-1724
246 – BENTO XIII – 1724-1730
247 – CLEMENTE XII – 1730-1740
248 – BENTO XIV – 1741-1758
248.1 - Santo Afonso de Ligório
248.2 - Aparição de Nossa Senhora da Ortiga
249 – CLEMENTE XIII – 1758-1769
250 – CLEMENTE XIV – 1769-1774
251 – PIO VI – 1775-1799
251.1 - Aparição de Nossa Senhora de Lavang
252 – PIO VII – 1800-1823
252.1 - Santa Ana Catarina Emmerich
253 – LEÃO XII – 1823-1829
254 – PIO VIII – 1829-1830
254.1 - Aparição de Nossa Senhora das Graças, Medalha
Milagrosa
255 – GREGÓRIO XVI – 1831-1846
256 – PIO IX – 1846-1878
256.1 - São João Bosco
256.2 - Aparição de Nossa Senhora de La Salete
256.3 - Aparição de Nossa Senhora em Lichen
256.4 - Aparição de Nossa Senhora em Lurdes
256.5 - Aparição de Nossa Senhora da Boa Ajuda, Champion
256.6 - Aparição de Nossa Senhora da Esperança, Pontmain
BÍBLIA
– ADVENTO DA IGREJA – VOLUME 2
256.7 - Aparição de Nossa Senhora de Pellevoisin
257 – LEÃO XIII – 1878-1903
257.1 - Beata Maria Serafina Micheli
257.2- Aparição de Nossa Senhora de Knock
257.3 - Aparição de Nossa Senhora de Sheshan
257.4 - Beato Charles de Foucauld
257.5 - Santa Tereza de Lisiex
257.6 - Santa Josefa Menendes
258 – S. PIO X – 1903-1914
259 – BENTO XV – 1914-1922
259.1 - Aparição de Nossa Senhora em Fátima
260 – PIO XI – 1922-1939
260.1 - Santa Tereza Benedita da Cruz
260.2 - Santa Faustina Kowalska
260.3 - Aparição de Nossa Senhora das Lágrimas
260.4 - Aparição de Nossa Senhora a Beata Alexandrina
M.C.Balazar
260.5 - Aparição da Virgem do Coração de Ouro
260.6 - Aparição de Nossa Senhora dos Pobres
260.7 - Aparição de Nossa Senhora no Sítio da Guarda
261 – PIO XII – 1939-1958
261.1 - Aparições de Jesus e Nossa Senhora à Maria Valtorta
261.1.1 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 1
261.1.2 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 2
261.1.3 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 3
261.1.4 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 4
BÍBLIA
– ADVENTO DA IGREJA – VOLUME 3
261.1.5 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 5
261.1.6 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 6
261.1.7 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 7
261.1.8 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 8
261.1.9 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 9
BÍBLIA
– ADVENTO DA IGREJA – VOLUME 4
261.1.10 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 10
261.2 - Aparição de Nossa Senhora em Umbe
261.3 - Aparição de Nossa Senhora de Bonate
261.4 - Aparição de Nossa Senhora em La Codosera
261.5 - Aparição de Nossa Senhora de Todas as Nações
261.6 - Aparição de Nossa Senhora em Marienfried
261.7 - Aparição de Nossa Senhora do Rosário da Cova da Cruz
261.8 - Aparição de Nossa Senhora Virgem da Revelação
261.9 - Aparição de Nossa Senhora Rosa Mística, Montichiari
261.10 - Aparição de Nossa Senhora na Ilha de Bouchard
261.11 - Aparição de Nossa Senhora Medianeira
261.12 - Aparição de Nossa Senhora em Necedah
261.13 - Aparição de Nossa Senhora da América
261.14 - Prodígio de Nossa Senhora das Lágrimas, Itália
261.15 - Beata Elena Aielo
262 – Antipapa JOÃO XXIII – 1958-1963
262.1 - Aparição de Nossa Senhora Rainha de Turzovka
262.2 - Aparição de Nossa Senhora em Garabandal
263 – PAULO VI – 1963-1978
263.1 - Aparição de Nossa Senhora das Rosas, Maria Aux. Das
Mães, Baisaid
263.2 - Aparição de Nossa Senhora Aparecida, Guiricema
263.3 - Aparição de Nossa Senhora da Eucaristia
263.4 - Aparição de Nossa Senhora em Akita
263.5 - Aparição de Nossa Senhora em Cua
263.6 - Aparição de Nossa Senhora em Caserta
263.7 - Aparição de Nossa Senhora ao Padre Stefano Gobbi
263.8 - Aparição de Jesus à Matilde Oliva Arias
264 – JOÃO PAULO I - 1978
265 – JOÃO PAULO II – 1978-2005
265.1 - Aparição de Nossa Senhora em Cuapa
265.2 - Aparição de Nossa Senhora em Medjugorje
265.3 - Aparição de Nossa Senhora em Naju
265.4 - Aparição de Jesus, Nossa Senhora, Miguel Arcanjo, e
São Jose ao Discípulo
BÍBLIA
– ADVENTO DA IGREJA – VOLUME 5
265.5 - Aparição de Nossa Senhora Rainha da Paz em Anguera
266 – BENTO XVI – 2005-2013
266.1 - Aparição de Jesus, Nossa Senhora à Maria Divina Misericórdia
267 - Antipapa FRANCISCO – 2013-2028
Legado do advento da Igreja
ABREVIATURAS
1 Co = 1ª Epístola aos Coríntios
1 Cr = 1º Livro de Crônicas
1 Jo = 1ª Epístola de João
1 Pe = 1ª Epístola de Pedro
1 Rs = 1º Livro de Reis
1 Sm = 1o. Livro de Samuel
1 Tm = 1ª Epístola a Timóteo
1 Ts = 1ª Epístola aos Tessalonicenses
2 Co = 2ª Epístola aos Coríntios
2 Cr = 2º Livro de Crônicas
2 Jo = 2ª Epístola de João
2 Pe = 2ª Epístola de Pedro
2 Rs = 2ª Livro de Reis
2 Sm = 2º Livro de Samuel
2 Tm = 2ª Epístola a Timóteo
2 Ts = 2ª Epístola aos Tessalonicenses
3 Jo = 3ª Epístola de João
Ag = Ageu
Am = Amós
Ap = Apocalipse
At = Atos dos Apóstolos
Cl = Colossenses
Ct = Cântico dos Cânticos (ou Cantares de Salomão)
Dn = Daniel
Dt = Deuteronômio
Ec = Eclesiastes
Ed = Esdras
Ef = Efésios
Ex = Êxodo
Ez = Ezequiel
Fm = Filemon
Fp =
Filipenses
Gl = Gálatas
Gn = Gênesis
Hb = Hebreus
Hc = Habacuque
Is =Isaías
Jd = Judas
Jl =Joel
Jn =Jonas
Jo = João
Jó = Jó
Jr = Jeremias
Js = Josué
Jz = Juízes
Lc = Lucas
Lm = Lamentações de Jeremias
Lv = Levítico
Mc = Marcos
Ml = Malaquias
Mq = Miquéias
Mt = Mateus
Na = Naum
Ne = Neemias
Nm = Números
Ob = Obadias
Os = Oséias
Pv = Provérbios
Rm = Romanos
Rt = Rute
Sf = Sofonias
Sl = Salmos
Tg = Tiago
Tt = Tito
Zc = Zacarias
ABREVIATURAS
DAS ORDENS CATÓLICAS
É uso corrente na Igreja Católica apor
a sigla da ordem ou congregação religiosa logo após o nome do religioso ou da
religiosa. Estas letras são, em geral, as iniciais da designação latina da
organização.
A.A. - Congregação dos Agostinianos da Assunção; Pia
Sociedade dos Padres da Assunção; Assuncionistas
A.B.A. - Monges Antonianos Beneditinos Armênios; Antonianos
A.C.J. - Servas do Sagrado Coração de Jesus
A.C.I. - Escravas do Sagrado Coração de Jesus
A.D. - Servas do Senhor; Congregação das Servas Pobres de
Jesus Cristo, de Dernbach
A.M. - Agostinianas Missionárias
A.M.J. - Ancilas do Menino Jesus
A.S. - Auxiliares do Sacerdócio
A.S.C. - Adoradoras do Sangue de Cristo
A.S.C.J. - Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus
A.S.J.M. - Agostinianas Servas de Jesus e Maria
A.S.M. - Arautos da Misericórdia Divina: Comunidade dos
Apóstolos de Santa Maria; Apóstolos de Santa Maria
B. - Clérigos Regulares de São Paulo; Barnabitas
B.A. - Basilianos Melquitas de Alepo; Ordem Basiliana Alepina
B.C. - Ordem Basiliana de São João Batista dos Melquitas;
Ordem Basiliana Chouerita de São João Batista; Basilianos Choueritas
B.D.P. - Fraternidade Beneditina da Divina Providência;
Monges Beneditinos da Divina Providência
B.M.M.D. - Monges e Monjas Beneditinos de Maria Mãe de Deus.
B.S. - Ordem Basiliana do Santíssimo Salvador dos Melquitas;
Basilianos Salvatorianos; Basilianos Melquitas de São Salvador
C.A.S.H. - Clérigos Apostólicos de São Jerônimo; Jesuatas
C.B. - Irmãos das Escolas Cristãs da Irlanda
C.C.N. - Instituto Religioso Chemin Neuf; Instituto Religioso
do Caminho Novo
C.C.V. - Carmelitas da Caridade de Vedruna
C.C.V.I. - Congregação da Caridade do Verbo Encarnado
C.D.C. - Congregação dos Padres Seculares da Doutrina Cristã;
Doutrinários; Congregação da Doutrina Cristã
C.D.P. - Carmelitas da Divina Providência
C.F.A. - Congregação dos Irmãos Aleixanos; Irmãos Celitas;
Celitas
C.F.C. - Congregação dos Irmãos da Caridade; Bigi
C.F.H. - Irmãos Cristãos da Imaculada Conceição da Santíssima
Virgem e Mãe de Deus Maria; Irmãos de Huybergen; Irmãos de Huijbergen
C.F.M.I. - Congregação dos Filhos de Maria Imaculada;
Pavonianos de Bréscia
C.F.P. - Congregação dos Irmãos dos Pobres de São Francisco
Seráfico (de Aachen)
C.F.V. - Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo; Congregação
dos Irmãos de São Vicente de Paulo
C.F.X. - Congregação dos Irmãos de São Francisco Xavier
C.I.A.S.P. - Congregação das Angélicas de São Paulo
S.S.A. - Congregação das Irmãs de Santa Ana
C.F.S. - Congregação da Fraternidade Sacerdotal
CIANSP - Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade
C.I.C.M. - Congregação do Imaculado Coração de Maria;
Missionários de Scheut
C.I.I.C. - Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição
C.J. - Instituto dos Josefinos; Josefinos da Bélgica
C.J.M. - Congregação de Jesus e Maria; Eudistas
C.M. - Congregação da Missão; Lazaristas; Vicentinos
C.M.E.S - Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo
C.M.F. - Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado
Coração de Maria; Claretianos
C.M.I. - Congregação dos Carmelitas de Maria Imaculada
C.M.M. - Congregação dos Missionários de Mariannhill
C.M.P.S. - Comunidade Missionária Providência Santíssima
(Jardinopólis, Brasil)
C.M.S.F. - Congregação Missionária de São Francisco de Assis;
Irmãos Missionários de São Francisco de Assis
C.O. - Congregação do Oratório de São Filipe Neri;
Congregação do Oratório; Filipinos; Oratorianos; Confederação do Oratório de
São Filipe Neri[2]
C.O.S.J. - Congregação dos Oblatos de São José de Asti
C.P. - Congregação da Santíssima Cruz e Paixão de Nosso Senhor
Jesus Cristo; Passionistas; Clérigos Descalços da Santíssima Cruz e Paixão de
Nosso Senhor Jesus Cristo; Congregação da Paixão de Jesus Cristo
C.P.O. - Congregação dos Operários Pios; Calasantinos
C.P.P.S. - Congregação dos Missionários do Preciosíssimo
Sangue
C.P.P.S. - Congregação dos Missionários do Preciosíssimo
Sangue; Missionários do Preciosíssimo Sangue
C.R. - Ordem dos Clérigos Regulares; Clérigos Regulares de
São Caetano de Thiene; Teatinos
C.R. - Congregação da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo; Ressurrecionistas
C.R.L. - Cônegos Regulares Lateranenses; Ordem dos Cônegos
Lateranenses
C.R.S.A. - Confederação dos Cônegos Regulares de Santo
Agostinho
C.R.S.P. - Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo;
Barnabitas
CS - Caritas Socialis
C.S. - Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu;
Scalabrinianos
C.S.B. - Congregação de São Basílio
C.S.C. - Congregação de Santa Cruz
C.S.J. - Congregação de São José; Josefinos de murialdo
C.S.S. - Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor
Jesus Cristo; Estigmatinos
C.S.Sp. - Congregação do Espírito Santo; Missionários do
Espírito Santo.
C.Ss.R. - Congregação do Santíssimo Redentor; Redentoristas.
C.V.S. - Sodalício dos Clérigos Paroquiais; Clérigos
Paroquiais; Clérigos de São Viator; Catequistas de São Viator
D.C. - Congregação dos Padres da Doutrina Cristã;
Doutrinários
E.P. - Arautos do Evangelho
Es. - Família da Esperança
F.A.M. - Filhos do Amor Misericordioso
F.D.C. - Congregação das Filhas do Amor Divino; Filhas do
Amor Divino
F.D.P. - Congregação da Pequena Obra da Divina Providência;
Filhos da Divina Providência; Pequena Obra da Providência Divina; Orionitas
F.B.M.V. - Filhas da Bem-aventurada Virgem Maria
F.B.O.S.J. - Fraternidade Beneditina dos Oblatos de São José
- Ordinariado Militar do Brasil
F.F.I. - Frades Franciscanos da Imaculada
F.M.A. - Filhas de Maria Auxiliadora
F.M.B.A.V.S.B. - Família Monástica de Belém, da Assunção da
Virgem e de São Bruno
F.M.M.A. - Congregação dos Irmãos da Misericórdia de Maria
Auxiliadora
F.M.M.D.P. - Congregação das Religiosas Franciscanas
Missionárias da Mãe do Divino Pastor; Franciscanas Missionárias da Mãe do
Divino Pastor
F.M.M.M.D. - Fraternidade Missionária Maria Mãe de Deus -
Instituto Pobres servos de Maria por Amor (ramos feminino e masculino)
F.M.I - Congregação dos Filhos de Maria Imaculada
(Pavonianos)
F.M.S. - Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas; Irmãos
Maristas; Irmãozinhos de Maria; Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria;
Maristas
F.M.V.D. - Fraternidade Missionária Verbum Dei
F.N.D.L. - Congregação dos Irmãos de Nossa Senhora de Lourdes
F.N.S.V. - Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa
Senhora das Vitórias; Irmãs Vitorianas
F.S.A. - Filhos de Sant'Ana
F.S.C. - Irmãos das Escolas Cristãs; Irmãos Lassalistas;
Irmãos de La Salle
F.S.C.J - Congregação das Irmãs Filhas do Sagrado Coração de
Jesus
F.S.E. - Irmãs Franciscanas da Eucaristia
F.S.C.J. - Congregação das Irmãs Franciscanas do Sagrado
Coração de Jesus; Franciscanas do Sagrado Coração de Jesus
F.S.G.M. - Irmãs Franciscanas do Mártir São Jorge
F.S.M. - Fraternidade São Mauro
F.S.M.P. - Filhas de Santa Maria da Providência; Irmãs
Guanellianas
F.S.P. - Pia Sociedade das Filhas de São Paulo; Paulinas
I.B.D.P. - Congregação das Irmãs Beneditinas da Divina Providência[2]
I.F.E. - Instituto dos Frades de Emaús, Emautanos; Família
Emautana
I.M. - Instituto Internacional das Irmãs de Santa Marcelina;
Irmãs Marcelinas.
I.M.C. - Instituto da Consolata para as Missões Estrangeiras;
Instituto das Missões da Consolata de Turim; Padres da Consolata
I.M.S.S -Instituto Mãe do Santíssimo Sacramento
IR.S.C. - Instituto dos Irmãos do Sagrado Coração (Lyon -
França)
I.S.B. - Instituto das Irmãs Sacramentinas de Bérgamo
I.V.E - Instituto do Verbo Encarnado
L.C. - Legionários de Cristo, Missionários do Sagrado Coração
e da Virgem das Dores
M.A.D. - Congregação das Irmãs Mensageiras do Amor Divino
M.S.S.P.S. - Missionárias Servas do Espírito Santo;
Congregação das Missionárias Servas do Espírito Santo
M.C. - Missionárias da Caridade
M.C.C.J. - Congregação dos Missionários Combonianos do
Coração de Jesus; Combonianos
M.I. - Ordem dos Ministros dos Enfermos Camilianos
M.I.C. - Congregação dos Padres Marianos da Imaculada
Conceição
M.L.M. - Missionários das Lágrimas de Maria; Missionários de
Nossa Senhora das Lágrimas
M.O.P.P. - Missão Operária São Pedro e São Paulo
M.S. - Congregação dos Missionários de Nossa Senhora da
Salette
M.S.C. - Sociedade dos Missionários do Sagrado Coração de
Jesus
M.S.C.S. - Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo;
Scalabrinianas
M.S.F. - Congregação dos Missionários da Sagrada Família
N.D.S. - Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora de Sion
O.Ann.M. - Ordem da Anunciação; Ordem da Anunciação da Virgem
Maria; Anunciadas
O.A.D. - Ordem dos Agostinianos Descalços; Ordem dos Eremitas
de Santo Agostinho
O.A.R. - Ordem dos Agostinianos Recoletos; Agostinianos;
Recoletos de Santo Agostinho
Obl. OSB. - Oblatos beneditinos, Ordem de São Bento;
Beneditinos
O. Carm. - Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do
Monte Carmelo; Ordem do Carmo; Ordem dos Carmelitas; Carmelitas Calçados;
Carmelitas da Antiga Observância; Ordem dos Carmelitas Observantes;
O.C.D. - Ordem dos Irmãos Descalços da Bem-Aventurada Virgem
Maria do Monte Carmelo; Ordem dos Carmelitas Descalços; Carmelitas Descalços;
Ordem Carmelitana Descalça
O.C.D.S. - Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares;
Carmelitas Descalços Seculares; Ordem Carmelita Secular; Carmelo Secular
O. Cart. - Ordem Cartusiana; Ordem da Cartuxa; Religiosos da
Cartuxa; Cartusianos; Cartuxos; Monges e Monjas Cartuxos
O. Cist. - Ordem de Cister; Ordem Cisterciense; Cistercienses
O.C.S.O. - Ordem Cisterciense da Estrita Observância;
Trapista
O.de.M - Ordem de Nossa Senhora das Mercês; Mercedários
O.F.B. - Ordem dos Irmãos de Nossa Senhora de Belém; Ordem
dos Irmãos de Belém; Betlemitas
O.F.M. - Ordem dos Frades Menores; Franciscanos
O.F.M. Cap - Ordem dos Frades Menores Capuchinhos;
Capuchinhos
O.F.M. Conv - Ordem dos Frades Menores Conventuais;
Conventuais
O.F.S. - Ordem Franciscana Secular; Franciscanos Seculares
O.H. - Ordem Hospitaleira de São João de Deus; Irmãos de São
João de Deus
O.L.M. - Ordem Libanesa Maronita; Baladitas
O.M. - Ordem dos Mínimos de São Francisco de Paula; Ordem dos
Mínimos; Paulanos, Mínimos
O.M.I. - Missionários Oblatos de Maria Imaculada;
O.Min. - Ordem dos Menores de São Francisco de Assis
O.M.M. - Ordem Maronita da Bem Aventurada Virgem Maria
O.M.V. - Oblatos de Maria Virgem
O.P. - Ordem dos Pregadores (Dominicanos)
O.Praem. - Ordem Premonstratense; Premonstratenses; Frades
Regulares de Prémontré; Ordem dos Cônegos Regulares Premonstratenses;
Norbetinos; Cônegos Brancos
O.S.A. - Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos)
O.SS.A. - Ordem da Santíssima Anunciação, Celestes
O.S.B. - Ordem de São Bento; Beneditinos
O.S.B. - Beneditinas Missionárias de Tutzing
O.S.B.M. - Ordem de São Basílio Magno; Ordem Basiliana de São
Josafat
O.S.B.Oliv. - Ordem de Nossa Senhora do Monte Oliveto;
Olivetanos
O.S.C. - Ordem da Santa Cruz; Padres Crúzios; Cônegos
Regulares da Ordem da Santa Cruz; Padres e Irmãos Crúzios; Crúzios;
O.S.F.S - Congregação dos Oblatos de São Francisco de Sales
O.S.H. - Ordem de São Jerónimo; Monges jerónimos; Monjas
jerónimas; Jerónimos; Jerónimas
O.S.J. - Congregação dos Oblatos de São José; Josefinos de
Asti
O.S.M. - Ordem dos Servos de Maria; Servitas
O.S.O. - Ordem de Santa Eulália; Eulalistas
O.Ss.S. - Ordem do Santíssimo Salvador de Santa Brígida;
Brigidinas
O. Trinit. - Ordem da Santíssima Trindade e da Redenção dos
Cativos; Trinitários
O.T.C. - Ordem Terceira do Carmo; Venerável Ordem Terceira de
Nossa Senhora do Carmo; Terceiros Carmelitas
P.I.M.E. - Pontifício Instituto das Missões; Pontifício
Instituto para as Missões Estrangeiras; Pontifício Instituto das Missões
Estrangeiras de Milão; Instituto Pontifício dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
e dos Santos Ambrósio e Carlos para as Missões Estrangeiras; PIME
P.S.D.P. - Congregação dos Pobres Servos da Divina
Providência; Calabrianos
P.S.S.C. - Pia
Sociedade São Caetano
P.S.S.P. - Pia Sociedade de São Paulo - Padres e Irmãos
Paulinos
R.A.D. - Congregação das Religiosas do Amor de Deus
R.B.P. - Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom
Pastor; Congregação das Irmãs do Bom Pastor; Irmãs do Bom Pastor; Religiosas do
Bom Pastor
R.C.J. - Rogacionistas do Coração de Jesus; Filhas do Divino
Zelo
S.A.C. - Sociedade do Apostolado Católico; Palotinos
S.C.J. - Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus;
Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus; Dehonianos
S.C.J. - Congregação do Sagrado Coração; Padres de Timon
David
S.D.B. - Sociedade de São Francisco de Sales; Salesianos de
Dom Bosco; Sociedade Salesiana; Salesianos
SdC. - Servos da Caridade; Obra de Dom Guanella
s.d.P. - Missionários Servos dos Pobres (Servos dos Pobres)
SDM - Instituto dos Servos da Divina Misericórdia (Pequenos
Servos do Coração Imaculado de Maria) Associação Pública de Fiéis, fundada em
23 de abril de 2010, por Padre Sérgio Nishiyama, SDM, e aprovada suas
Constituições e Normas por Dom Ladislau Biernaski, Bispo Diocesano de São José
dos Pinhais, Paraná, Brasil. O Instituto dos Servos da Divina Misericórdia está
com a Sede-Geral e o Seminário no município de Fazenda Rio Grande/PR e no
município de Curitiba/PR encontra-se o Noviciado, Postulantado e Aspirantado.
S.D.N. - Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do
Santíssimo Sacramento; Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa
Senhora; Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora; Instituto
dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento; Sacramentinos de
Nossa Senhora
S.D.S. - Sociedade do Divino Salvador (Salvatorianos)
S.J. - Companhia de Jesus; Jesuítas
SSCC - Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria
e da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento; Congregação dos Sagrados
Corações; Congregação de Picpus; Padres de Picpus
SSS - Congregação do Santíssimo Sacramento; Sacramentinos
S.S.P. - Sociedade S. Paulo; Paulistas ou Paulinos
S.V.D. - Congregação do Verbo Divino; Missionários do Verbo
Divino; Verbitas
S.X. - Pia Sociedade de São Francisco Xavier para as Missões
Extrangeiras; Xaverianos
T.O.R. - Terceira Ordem Regular de São Francisco
U.A.C. - União do Apostolado Católico
Explicitação
de inúmeras denominações
Martirológio
Romano - O Martirológio Romano é uma
coletânea histórica dos Santos e beatos honrados pela Igreja Católica Romana. Apesar
do nome, inclui todos os Santos conhecidos e não apenas os mártires. A sua
primeira versão foi escrita no século XVI e aprovada pelo Papa Gregório XIII em
1586, tendo sido revisto múltiplas vezes. A atual edição do Martirológio Romano
(2001), que atualizou a edição de 1956, inclui 6538 Santos e beatos, mas o seu
número total é maior, já que em muitos casos se refere apenas um nome,
acompanhado pela menção: «e companheiros mártires». É um livro litúrgico que
constitui a base dos calendários litúrgicos que determinam a data das festas
religiosas anuais. O documento está ordenado segundo os dias do calendário,
nele se anotando o local e a data de morte, o título canônico (apóstolo,
mártir, confessor, virgem, ou outro), o tipo de memória litúrgica e algumas
notas sobre a sua espiritualidade e factos relevantes da vida e obra.
Martirológio
Jeronimiano - Ou Martirológio de Jerônimo (em latim:
Martyrologium Hieronymianum) constitui o mais antigo catálogo dos mártires
cristãos da Igreja Católica. Deve o seu nome ao fato de ter sido atribuído a
São Jerônimo.
Liber
Pontificalis - Do latim, o Livro dos Pontífices, é um livro
de biografias de Papas de São Pedro, até o Papa Estêvão V do século XV. A
publicação original parou com o Papa Adriano II (867-872) ou o Papa Estêvão V
(885-891), mas foi posteriormente completada em um estilo diferente até que o Papa
Eugênio IV (1431-1447) e, em seguida o Papa Pio II (1458-1464).
Legenda
Áurea: É uma coletânea de narrativas
hagiográficas, de Santos Católicos, reunidas por volta de 1260 pelo dominicano
e futuro Bispo de Gênova Tiago de Voragine. É uma reunião de biografias de
santos escritas no século XIII com a intenção de difundir valores morais
edificantes e arregimentar um maior número de fiéis para a Igreja Católica. O
objetivo imediato do autor era fornecer aos frades material para elaboração de
sermões, de modo a proporcionar uma pregação mais eficiente. A coletânea
conheceu enorme sucesso na Idade Média e se tornou referência nos estudos
religiosos. Ao selecionar vasto material erudito e popular, Tiago de Voragie
conta a trajetória dos santos de forma envolvente - tendo em vista os que
ouviam a pregação - e também eficiente do ponto de vista teológico. Nos
relatos, o autor combina simbologia e história, teologia e mitologia.
Pelagianismo - Foi um conceito teológico que negava o pecado original, a
corrupção da natureza humana, o servo arbítrio (arbítrio escravizado, cativo) e
a necessidade da graça divina para a salvação. O termo é derivado do nome de
Pelágio da Bretanha. Acreditavam que todo homem é totalmente responsável pela
sua própria salvação e portanto, não necessita da graça divina, em que todo
homem nasce "moralmente neutro", sendo capaz, por si mesmo, sem
qualquer influência divina, de salvar-se quando assim o desejar.
Visigodos
- Foram um de dois ramos em que se
dividiram os godos, um povo germânico originário do leste europeu, sendo o
outro os ostrogodos. Ambos pontuaram entre os bárbaros que penetraram o Império
Romano tardio no período das migrações. Após a queda do Império Romano no
Ocidente, os visigodos tiveram um papel importante na Europa nos 250 anos que
se seguiram, particularmente na Península Ibérica, onde substituíram o domínio
romano na Hispânia, reinando de 418 até 711, data da invasão muçulmana.
Nestorianismo - É uma doutrina cristológica proposta por Nestório,
Patriarca de Constantinopla (428–431). A doutrina, que foi formada durante os
estudos de Nestório sob Teodoro de Mopsuéstia na Escola de Antioquia, enfatiza
a desunião entre as naturezas humana e divina de Jesus.
Novacianismo - Foi um movimento durante o cristianismo primitivo formado
pelos seguidores de Novaciano e que se recusavam a readmitir em comunhão os
lapsi - os cristãos batizados que tinham renegado a sua fé e realizado
sacrifícios aos deuses pagãos - durante a perseguição de Décio em 250. Eles
foram posteriormente declarados como heréticos.
Monofisismo
- É o ponto de vista cristológico que
defende que, depois da união do divino e do humano na encarnação de Jesus
Cristo, teria apenas uma única "natureza", a divina, e não uma
síntese de ambas. O monofisismo é contraposto pelo diofisismo (ou
"diafisismo"), que defende que Jesus preservou em si as duas
naturezas.
Maniqueísmo
- É uma filosofia religiosa sincrética
e dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo heresiarca do
século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou
Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a
popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo usado para
descrever todas as doutrinas fundamentadas nos dois princípios opostos do Bem e
do Mal.
Arianismo - Foi uma visão cristológica antitrinitária sustentada
pelos seguidores de Ário, presbítero cristão de Alexandria nos primeiros tempos
da Igreja primitiva, que negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai,
que os igualasse. Ou seja negava a divindade de Jesus Cristo.
Três
Capítulos - A Controvérsia dos Três Capítulos,
uma das fases da controvérsia calcedônia, foi uma tentativa de reconciliar os
cristãos ortodoxos orientais das províncias romanas da Síria (Igreja Ortodoxa
Síria) e Egito (Igreja Ortodoxa Copta) com a Igreja Ortodoxa, logo após o
fracasso do Henótico. Os Três Capítulos consistiam nas proposições
anatemizando: Teodoro de Mopsuéstia e suas obras. Algumas obras específicas de
Teodoreto de Ciro. A carta de Ibas de Edessa para Máris de Calcedônia.
Origenismo
- Cognominado Orígenes de Alexandria ou
Orígenes de Cesareia ou ainda Orígenes, o Cristão, foi um teólogo, filósofo
neoplatônico patrístico e é um dos Padres gregos. Um dos mais distintos pupilos
de Amônio de Alexandria, Orígenes foi um prolífico escritor cristão, de grande
erudição, ligado à Escola Catequética de Alexandria, no período pré-niceno.
Lombardos
ou longobardos - Eram um povo germânico
originário da Europa Setentrional que colonizou o vale do Danúbio e, a partir
dali, invadiu a Itália bizantina, em 568, sob a liderança de Alboíno. Lá
estabeleceram um Reino Lombardo, posteriormente chamado de Reino Itálico, que
durou até 774, quando foi conquistado pelos francos.
Anglo-saxões - Os anglo-saxões ou anglo-saxônicos foram um povo que
habitou a Grã-Bretanha a partir do século V. Eles compreendem um povo formado
de tribos germânicas que migraram para a ilha a partir da Europa continental,
seus descendentes (anglos, frísios, jutos e saxões) e grupos celtas britânicos
(bretões) que adotaram alguns aspectos da cultura e língua anglo-saxônica.
Iconoclastia
- Doutrina bizantina dos séculos VIII e
IX que repudiava a representação e o culto de imagens sagradas.
Adocionismo - Algumas vezes chamado de monarquianismo dinâmico, é uma
visão teológica não trinitária do cristianismo primitivo, que professa que
Jesus nasceu humano, tornando-se posteriormente divino por ocasião do seu
batismo, ponto em que foi adotado como filho de Deus.
Docetismo
-
Foi uma heresia cristã primitiva que promovia uma visão falsa da
humanidade de Jesus. A palavra docetismo vem do grego dokein, que significava
“parecer”; segundo o docetismo, Jesus Cristo só parecia ter um corpo humano
como o nosso. O docetismo aceitava que Jesus podia ter sido de alguma forma
divino, mas negava a Sua plena humanidade. Os docetistas convictos ensinavam
que Jesus era apenas um fantasma ou uma ilusão, parecendo ser humano, mas não
tendo corpo algum. Outras formas de docetismo ensinavam que Jesus tinha um
corpo “celestial” de algum tipo, mas não um corpo real e natural de carne. O
docetismo estava intimamente relacionado ao gnosticismo, que via a matéria
física como inerentemente má e a substância espiritual como inerentemente boa.
Normandos - Foram um povo germânico estabelecido no norte da França,
cuja aristocracia descendia em grande parte de viquingues da Escandinávia. Eles
desempenharam um importante papel político, militar e cultural na parte norte e
mediterrânea da Europa Medieval e Oriente Médio, por exemplo: a colonização da
Normandia, a Conquista Normanda da Inglaterra, o estabelecimento de estados na
Sicília e sul da península Itálica e as Cruzadas. Sua rica história originou
várias lendas a seu respeito.
Guelfos e
Gibelinos - Constituíam facções políticas que, a
partir do século XII, estiveram em luta na Itália, especialmente na República
Florentina. Os conflitos se intensificaram sobretudo a partir do século XIII.
Na origem, tratava-se de uma disputa entre os partidários do papado (os
guelfos) e os partidários do Sacro Império Romano-Germânico (os gibelinos).
Jansenismo
- É a doutrina dos seguidores de
Cornelius Jansen, teólogo holandês que se tornou bispo católico de Ypres.
Atribui a salvação da alma ao juízo prévio do Criador, predestinação, e não às
"boas obras" ou à disposição da criatura, do livre arbítrio. Ou seja,
segundo esta teoria, todos os seres humanos já nascem com seu destino traçado
por Deus, são escolhidos aqueles que vão se salvar ou ser condenados
antecipadamente pelo Criador. A teoria jansenista se acompanhava de uma ética
severa e rigoroso ascetismo.
Tomismo - é o sistema
filosófico e teológico de Santo Tomás de Aquino.
Cátaros
ou albigenses - surgiram na França e
possuíam uma visão dualista do mundo, ou seja, o mundo material era mau e o
mundo espiritual era bom. Afirmavam que o mundo havia sido criado por Satã,
contestavam a Trindade e condenavam o casamento e a procriação. Foram
perseguidos durante a Cruzada Albigense (1209-1229), e a heresia desapareceu a
partir do século XIV.
Valdenses
- também surgiram na França a partir
das pregações de Pedro Valdo, rico comerciante de Lyon que abandonou seu ofício
em 1176 para seguir a vida como pregador. Faziam voto de pobreza, contestavam a
autoridade da Igreja Católica e afirmavam obedecer somente a Deus. Foram
perseguidos pela Inquisição, mas sobreviveram e fundaram igrejas que hoje atuam
em vários países.
Reconquista
-
É o processo histórico ao longo do qual os reinos cristãos da Península
Ibérica procuraram dominar a região durante o período de al-Andalus. Tal
processo decorreu entre 718 ou 722 e 1492, com a conquista do Emirado de
Granada pelos reinos cristãos.
Controvérsia
das Investiduras - Foi um conflito entre o papado
e o Sacro Império Romano-Germânico, que ocorreu entre 1075 e 1122, que teve
como objeto o poder de nomear Bispos.
As
cruzadas - Foram expedições militares
organizadas por católicos da Europa Ocidental, com o objetivo inicial de
reconquistar para o mundo cristão lugares sagrados, como o Santo Sepulcro, em
Jerusalém, na Palestina, que estavam sob o domínio militar dos muçulmanos.
Inquisição
ou Santa Inquisição - Foi um grupo de instituições
dentro do sistema jurídico da Igreja Católica Romana cujo objetivo era combater
a heresia, apostasia, blasfêmia, feitiçaria e costumes considerados perniciosos
para a alma.
Escolasticismo
ou Filosofia Escolástica - É um método ocidental de
pensamento crítico e de aprendizagem, com origem nas escolas monásticas
cristãs, que concilia a fé cristã com um sistema de pensamento racional,
especialmente o da filosofia grega.
Montanismo - Foi um movimento cristão fundado por Montano por volta de
156-157, que se organizou e difundiu em comunidades na Ásia Menor, em Roma e no
Norte de África. O movimento caracterizou-se como uma volta ao profetismo,
pretendendo revalorizar elementos esquecidos da mensagem cristã primitiva,
sobretudo a esperança escatológica. Propunha um rigoroso ascetismo, visando à
preparação para o momento final, preceituando-se a castidade durante o
casamento e proibindo-se as segundas núpcias. No plano alimentar instituiu-se o
jejum durante duas semanas por ano e a xerofagia (consumo de alimentos secos),
sem o consumo de carne. Negavam a absolvição aos réus de pecados graves (mesmo
após o batismo com confissão e arrependimento). As mulheres eram obrigadas ao
uso de véu nas funções sagradas. Recomendava-se aos fiéis que não fugissem às
perseguições e que se oferecessem voluntariamente ao martírio.
Gnosticismo - Designa um conjunto de crenças de natureza filosófica e
religiosa cujo princípio básico assenta na ideia de que há em cada homem uma
essência imortal que transcende o próprio homem. Os gnósticos consideram a
existência humana neste mundo como não natural, por estar submetida a diversos
sofrimentos. Segundo o gnosticismo, o caminho para a libertação desses
sofrimentos é através do conhecimento. Não um conhecimento adquirido de forma
racional e com base científica, mas um conhecimento intuitivo e transcendental
que dá sentido à própria vida humana. Tem origem em várias seitas religiosas
anteriores ao cristianismo, mas nos primeiros séculos da era cristã chega a
misturar-se com o próprio cristianismo.
Marcionismo
- É uma corrente religiosa que surgiu
no século II, fundada por Márcion de Sinope. Essa doutrina defendia a
existência de dois deuses distintos: um deus do Antigo Testamento, considerado
um deus vingativo e cruel, e um deus do Novo Testamento, que seria o verdadeiro
Deus, de amor e misericórdia.
INÍCIO
DO ADVENTO DA IGREJA
O
advento da Igreja se
iniciou com os atos dos Apóstolos após a morte de Cristo, tendo como Pontífice
Simão Pedro.
Em Jerusalém, sobre o Monte Calvário,
o céu estava limpo e o sol escaldante, mas de repente se transformou num céu
negro cheio de raios e ventanias. Um grande estrondo provocado por um terremoto
sacode a terra, deixando rachaduras, assustando os judeus que fogem
aterrorizados. Um Anjo do Senhor neste mesmo momento rasga o Véu dos Santos dos
Santos no Templo de alto a baixo, como um sinal de abandono da presença Divina.
Uma lágrima vermelha do Criador cai na terra, banhando-a de Sangue, com a morte
de seu Primogênito. Porém, no terceiro dia, uma luz vinda dos confins do
universo, como um meteoro vai direto até o sepulcro, quando um novo estrondo estremece
a terra, afastando a enorme pedra que o selava, e os guardas romanos,
atordoados, fogem. A Luz então entra no Corpo inerte de Jesus, que em seguida
levanta, transpassando os panos da mortalha com seu Corpo imaterial fulgurante.
Ressuscitando dos mortos com uma matéria incorpórea de intensa Luz, conhecida
apenas por Deus, de uma beleza indescritível. Depois de quarenta dias
ressuscitado volta aos Céus, posicionando-se à direita do Pai, donde há de vir
e julgar os vivos e os mortos.
E o
Verbo que era Deus se fez Hóstia, transformando-se em Comida e Bebida vinda do
Céu para os homens, na Nova Aliança eterna, para os purificar e salvar.
Convidando-nos para a Graça, o Amor, afim de elevar-nos novamente ao patamar
puríssimo de nossos progenitores quando foram criados.
Jesus
nasceu no dia 25 de dezembro e viveu 33 anos completos, vindo a falecer numa
sexta-feira dia 3 de abril do ano 34 d.C., ressuscitando três dias depois num
domingo dia 6. Durante 40 dias esteve presente na terra ressuscitado, chegando ao
dia 15 de maio do ano 34 d.C., quando subiu aos Céus. Assume então no dia 16 de
maio de 34 d.C. o primeiro representante de Deus na terra, o Apóstolo Pedro,
primeiro Pontífice da Nova Aliança. Assim começa o advento da Santa Igreja.
1º
- São Pedro - 34 – c.67
Simão Pedro,
filho de Jonas, casado com Porfíria, sem filhos, natural de Betsaida,
trabalhava como pescador em Cafarnaum. Adotou um órfão de 12 anos, chamado
Marzian no segundo ano de evangelização do Senhor, que depois de alguns anos se
tornou discípulo de Cristo. No ano 34 d.C., logo depois da morte do Senhor,
Pedro assumiu o posto de líder dos Apóstolos, conforme Jesus havia profetizado
anteriormente dizendo que ele seria a Pedra de sua Igreja. Logo nos primeiros meses
depois do Pentecostes, quando os Apóstolos e Nossa Senhora receberam o Espírito
Santo, Pedro decidiu que o sábado deveria ficar com os Judeus, e que o dia para
realizar os Missais em memória do Senhor, seria no domingo, dia da ressurreição.
A primeira Missa do cristianismo foi realizada no Cenáculo em Jerusalém por
Jesus Cristo. O Cenáculo é portanto a primeira Igreja do cristianismo, onde
Pedro realizou a segunda Missa, e depois passou ao Apóstolo Thiago, irmão de
Judas Tadeu, primos de Jesus. Thiago foi o primeiro Bispo do cristianismo em
Jerusalém. Pedro ajudou na fundação da Igreja de Antioquia, depois se dirigiu a
Roma e la ficou até sua morte. Durante seu Pontificado morreu o discípulo
Estevão em c.34 d.C., ex-aluno do Fariseu e Doutor Gamaliel; também foi
assassinado o Apóstolo Thiago primo de Jesus, em c.41 d.C. e a miraculosa
Assunção de Nossa Senhora em c.44 d.C. Em c.48 d.C. foi necessário o primeiro
Concílio do cristianismo presidido por Pedro. O Concilio de Jerusalém foi uma
reunião inicial entre as lideranças cristãs nos meados do século I, para abordar
se os gentios deveriam seguir as leis de Moisés. Entre alguns da Judeia
estabeleceu-se uma dúvida e uma polêmica: saber se os gentios, ao se
converterem ao cristianismo, teriam que adotar algumas das práticas antigas da
Lei Mosaica para poderem ser salvos, inclusive fazer-se circuncidar. O apóstolo
Paulo, ao levar o cristianismo à outros povos, não exigia a circuncisão desses
novos cristãos. Diante disso os presbíteros de Jerusalém se reuniram em torno
de Pedro, que já exercia sua função de chefe dos Apóstolo e da igreja, com o
Bispo do Cenáculo em Jerusalém, Tiago, primo de Jesus. Na reunião deste
Concílio, Pedro foi enfático em afirmar que não havia diferença entre os
gentios e eles; portanto deveriam seguir a doutrina de Jesus igual para todos,
excluindo, obviamente, os costumes Mosaicos.
A
comunidade cristã de Roma foi fundada pelos apóstolos Pedro e Paulo. Por esta
razão desde a antiguidade a comunidade de Roma teve o primado sobre todas as
outras comunidades locais; nessa visão o ministério de Pedro continua sendo
exercido até hoje pelo Bispo de Roma, assim como o ministério dos outros
apóstolos é cumprido pelos outros Bispos unidos a ele, que é a cabeça do
colégio apostólico, do colégio episcopal. Nestes 33 anos do Pontificado de
Pedro, muita coisa permaneceu encoberta pelo véu do mistério divino. Devido as
perseguições implacáveis do Anticristo Nero, logo depois de ter incendiado
Roma, São Pedro foi crucificado – a seu pedido - de cabeça para baixo, pois não
se achava digno morrer como Cristo morreu, e agonizante desfaleceu. Seu túmulo
está sob a Basílica de São Pedro no Vaticano, em Roma. Pedro, a Pedra, faz
parte literalmente das pedras da Sede da Igreja Católica. São Paulo Apóstolo
morreu nesta mesma época.
1
. 1 - Nossa Senhora do Pilar
A conversão
da Espanha ao cristianismo foi muito difícil. O Apóstolo Tiago, que em espanhol
é chamado de Santiago, sofria grandes desafios para evangelizar os pagãos da
Península Ibérica. Estamos falando dos anos 40 do primeiro século da nossa era:
fazia pouco tempo que Jesus tinha morrido e ressuscitado. Seus apóstolos ainda viviam
neste mundo, assim como sua Mãe, Nossa Senhora, que morava na Terra Santa. Acontece
que, certa noite, para encorajar o Apóstolo a não esmorecer diante da
resistência pagã na Espanha, a Virgem Santíssima apareceu para São Tiago na
região de Caesaraugusta, hoje Saragoça (em espanhol, Zaragoza), acompanhada por
um coro de anjos. Ela estava sobre um pilar e afirmava a São Tiago que, no
futuro, a fé daqueles povos ibéricos seria profunda e firme. Assim incentivado,
o Apóstolo perseverou na árdua missão e o resultado é que, hoje, uma das mais
numerosas parcelas de católicos de todo o planeta reza em espanhol. Maria tinha
pedido a São Tiago que construísse naquele mesmo lugar uma igreja cujo altar
ficasse ao redor do pilar onde ela estava. E fez uma promessa: “Este
lugar permanecerá até o fim do mundo para que a graça de Deus realize milagres
e prodígios pela minha intercessão àqueles que suplicarem a minha ajuda”.
São
Tiago e seus seguidores atenderam ao pedido de Nossa Senhora e construíram ali
a capela que foi chamada de Nossa Senhora do Pilar. Foi o primeiro templo
dedicado à Virgem Maria. Essa devoção foi se consolidando até que Nossa Senhora
do Pilar fosse reconhecida, como é até hoje, a Padroeira da Espanha. Depois de
evangelizar a região, São Tiago, irmão de João, voltou para Jerusalém e lá
morreu martirizado por volta do ano 44. Segundo a tradição, os seus discípulos
levaram o corpo de volta à Espanha para sepultá-lo onde hoje se ergue um dos
mais populares destinos de peregrinação do mundo inteiro: Santiago de Compostela.
Quanto à aparição de Maria como Nossa Senhora do Pilar, trata-se, a rigor, de
um caso de bilocação, ou seja, o fenômeno de se estar fisicamente presente em
dois lugares ao mesmo tempo. Recordemos que, na época, Nossa Senhora ainda
estava nesta Terra, morando na Palestina, quando apareceu para São Tiago em
Saragoça. E quanto ao pilar, ele existe até hoje, tendo resistido a quase dois
milênios de invasões, perseguições, batalhas, a brutal Guerra Civil Espanhola e
até mesmo à queda de três bombas, que, milagrosamente, não explodiram.
2º
- São Lino - c.67 – c.76
Lino foi
um dos setenta e dois discípulos de Jesus. Nas escrituras é mencionado em 2
Timóteo 4;21. Nasceu em Túcia, Itália no ano 10 d.C. Com sua cidadania romana,
Lino se tornou influente em Roma ao lado de Pedro. Como ainda não havia uma
Igreja em Roma, as Igrejas nesta época eram improvisadas nas casas de
conhecidos cristãos. Antes, porém, que fosse eleito bispo, trabalhava pela
salvação das almas ao lado de São Pedro, de quem era grande colaborador. Teria
recebido a missão de pregar na Gália. Chegando àquelas terras, estabeleceu-se
em Vesôncio (atual Besançon), capital do Franco Condado. Graças ao apoio que
tinha do tribuno Onósio, principal magistrado que tinha por missão lutar pelas
causas do povo, São Lino acabou transformando-se em um homem público, exercendo
preponderante papel junto à população. Em pouco tempo tornou-se um líder
influente, de grande capacidade intelectual. Dadas as circunstâncias,
aproveitou o terreno para plantar as sementes da religião cristã, mesmo sabendo
que os obstáculos, dificuldades e perseguições seriam inevitáveis. Por
conseguinte, empreendeu intenso esforço para afastar o povo da idolatria e da
adoração de deuses estranhos. Seus discursos eram duros, porém, verdadeiros e
por isso, não tardou que acabasse sendo violentamente escorraçado da cidade.
Era uma figura extremamente incômoda e inconveniente aos líderes pagãos, que
diante da persuasão junto ao povo, temiam a perda de seu espaço. São Lino
testemunhou a queda de alguns imperadores romanos e a destruição de Jerusalém
pelo Imperador Tito, em 70 d.C., cumprindo-se a profecia de Jesus. Em sua
última prática na cidade de Vesôncio, São Lino criticou e repreendeu
veementemente os idólatras, feiticeiros renomados e diversos pagãos, que
ofereciam sacrifícios aos seu ídolos e seus deuses. "Cessai", disse
São Lino, "cessai de render adoração a tão vis criaturas". Os líderes
presentes, percebendo que estavam prestes a cair em descrédito pela força de
sua palavra, gritaram ao povo, dizendo que as insolências sacrílegas proferidas
por Lino, iriam provocar a ira dos deuses e caso lhe dessem ouvidos, sério
castigo se precipitaria sobre o povo. Continuando a esbravejar, incitaram o
povo, que acabou investindo contra o santo mediante golpes, tendo sido expulso
da cidade completamente ferido e também abandonado, até mesmo por aqueles que
sempre o apoiaram. Dali retornou para Roma, onde permaneceu até ser escolhido
como sucessor de São Pedro. As sementes que deixou para trás, germinaram com
grande vigor, tanto que passaria a ser venerado pelo povo tempos depois, em sua
primeira Sede Episcopal de Besançon. Lino, depois de curar a filha do Consul
Sênio Saturnino, o mesmo se voltou contra ele, dominado por insinuações
mentirosas de seus conselheiros, mandou degolar Lino no dia 23 de Setembro de c.76
d.C.
3º
- Santo Anacleto - c.77 – c.88
Nasceu
em Atenas, Grécia, faleceu em Roma, 92 d.C. Foi Papa durante o reinado de Tito,
quando em 24 de agosto de 79 o Monte Vesúvio causou a destruição das cidades de
Estábia, Ercolano e Pompéia. Cletus, nome grego que também identifica Anacleto,
viveu os anos iniciais do cristianismo, marcados por perseguições e descrenças.
A Igreja Católica apenas começava a se organizar para propagar os ensinamentos
de Jesus Cristo, o qual deixou seu Apóstolo Pedro como responsável romano pela
palavra. Anacleto assumiu o papado no ano 77, sucedendo o Papa Lino, e viveu
entre oscilações de paz e perseguições. Naquele momento, no entanto, as
perseguições aos cristãos eram bem mais intensas e cotidianas, especialmente
porque Roma ainda era um império pagão, cultuava vários deuses. O Papa Anacleto
conviveu com o reinado do imperador Vespasiano e de seus dois filhos, que eram
pagãos e perseguiam a religião do Senhor. Esses cristãos pioneiros ainda viviam
sob a expectativa do fim do mundo a qualquer momento, o que incomodava também
os interesses de Roma. Há poucas informações registradas sobre o papado de
Anacleto, pois se trata de um período muito distante e é bem provável que
documentos dos cristãos tenham sido destruídos entre as constantes
perseguições. Mas sabemos que Anacleto ordenou sacerdotes em Roma, construiu um
monumento sobre a sepultura de Pedro e instituiu sua veneração. Anacleto também
orientou que os cristãos não aceitassem comida oferecida aos deuses pagãos e
condenou o culto de objetos supostamente mágicos e de feitiçaria em geral. Embora
Anacleto tenha conseguido alguns momentos de paz para os cristãos, o que
predominou foi mesmo a perseguição. O final de sua vida foi em decorrência
justamente desse cenário opressor. No ano 88, o segundo filho de Vespasiano a
ocupar o trono de imperador, Domiciano, promoveu uma perseguição que capturou o
Papa Anacleto e o assassinou. O Papa foi martirizado e sepultado ao lado de
Lino na Colina do Vaticano, local de construção da Basílica de São Pedro.
4º
- São Clemente I - c.89 – c.98
Também
conhecido como Clemente Romano. Nascido em Roma, nos arredores do Coliseu, de
família hebraica, foi um dos primeiros a receber o batismo de São Pedro. Foi
sucessor de Anacleto I, e autor da Epístola de Clemente aos Coríntios (segundo
Clemente de Alexandria e Orígenes), talvez o segundo documento de literatura
cristã, endereçada à Igreja de Corinto. Ele foi considerado posteriormente o
primeiro Pai da Igreja Apostólica Romana por ter defendido publicamente o sistema
religioso através da hierarquia sacerdotal e rituais dogmáticos. Estabeleceu o
uso da Crisma, deu início ao rito papado sendo o primeiro Papa instituído e
iniciou o uso da palavra Amém nas cerimônias religiosas. É conhecido pela carta
que escreveu para a comunidade de Corinto, na qual rezava uma convicta censura
à igreja, devida sobretudo às discórdias entre os fiéis (consta que os
presbíteros mais jovens teriam expulsado do meio dos cristãos os bispos
nomeados pela Igreja de Roma), estabeleceu normas precisas referentes à ordem
eclesiástica hierárquica (bispos, presbíteros, diáconos) e ao primado da Igreja
de Roma. Neste pontificado ocorreu uma segunda perseguição aos cristãos, na
época de Domiciano. Com Nerva, os cristãos viveram uma temporada de paz. Mais
tarde, Clemente foi preso no reinado de Trajano. Após ser detido e condenado ao
exílio, com trabalhos forçados nas minas de cobre de Galípoli; no ano 97,
decidiu que os cristãos não podiam ficar sem um guia espiritual, renunciando em
favor de Santo Evaristo. Converteu muitos presos e por isso, no ano 100 foi
atirado ao mar com uma pedra amarrada ao pescoço, tornando-se num mártir
cristão dos princípios da Cristandade. Seu corpo foi recuperado das águas e
sepultado em Quersoneso, na Crimeia, de onde, mais tarde, por ordem de Nicolau
I, seu corpo foi levado a Roma.
5º
- Santo Evaristo - c.98 – c.105
Temos
muito poucas informações certas a respeito de santo Evaristo, um dos primeiros
sucessores de Pedro. Santo Ireneu e Santo Eusébio indicam-no como sucessor
imediato de são Clemente, e por isso foi por volta do ano 98 que ele se tornou
Papa, ou mais exatamente bispo de Roma. Esse esclarecimento faz-se oportuno,
pois então o título de papa, ou seja pai, era conferido a qualquer autoridade
religiosa: só a partir do século VI ficou reservado ao pontífice romano. Era
grego originário de Antioquia, enquanto seu pai, de nome Judas, era judeu de
Belém. O Martirológio Romano, que escreve precisamente: “Em Roma, santo
Evaristo, Papa e mártir, que, sob o Imperador Adriano empurpurou com o seu
sangue a Igreja de Deus”. Há duas disposições tomadas por santo Evaristo no
exercício do seu pontificado: a distribuição dos sacerdotes de Roma nos vinte e
cinco títulos ou igrejas paroquiais da cidade, que teriam sido instituídas já
por São Cleto; e que os diáconos estivessem ao lado do bispo enquanto este
pregava e proclamava o prefácio da missa, para testemunhar, em caso de
necessidade, a ortodoxia e também para conferir maior solenidade à celebração.
Neste Pontificado morre João
Apóstolo. João foi preso em Éfeso pelos Romanos e levado para Roma afim de ser
morto numa grande vasilha de óleo fervente. Porém Deus tinha outros planos para
o Apóstolo querido, e um milagre aconteceu. João saiu do óleo fervente como se
fosse apenas água. Depois disso o Imperador Domiciano irritado mandou exilar
João na Ilha Grega de Patmos, onde escreveu o Apocalipse. Morreu em Éfeso, no
ano de c.103 d.C. Acredita-se que João foi arrebatado por Deus ao Céu, como Enoc
e Elias, por isso não tem túmulo.
6º
- Santo Alexandre - c.105 – c.115
Nascido
em Roma no ano 75, Aleksander esteve entre os primeiros cristãos e, por
consequência, sofreu com as perseguições do Império Romano. Fiel e seguidor dos
ensinamentos de Jesus Cristo, Aleksander dedicou-se à religião desde cedo. Sua
firmeza de personalidade e sua capacidade de exercer influência sobre as
pessoas o levaram a uma posição de destaque no cristianismo. O romano era
conhecido também por sua piedade, o que o representava como uma santidade. Suas
características de homem pacífico, porém determinado, ajudaram a converter
centenas de pessoas à fé cristã, incluindo membros do Senado e da nobreza
romana. Ações que representaram verdadeiras conquistas para a Igreja Católica,
pois as décadas e séculos iniciais do cristianismo foram repletos de
perseguição e insatisfação com a religião monoteísta que nascia e crescia em um
império historicamente identificado pelo politeísmo. Com todas suas notáveis
características para o momento, Aleksander, ou simplesmente Alexandre, foi
escolha imediata para suceder o Papa Evaristo, falecido no ano 105. Naquela
época, Alexandre tinha apenas 30 anos, mas já era bem conhecido na esfera
política e possuía um histórico favorável. O papado de Alexandre I deixou um
legado representativo especialmente para a liturgia católica. O Papa
estabeleceu o uso de pão sem fermento durante a celebração da eucaristia, assim
como a mistura de um pouco de água ao vinho que é consagrado na celebração para
representar a união de Cristo com a Igreja. A característica litúrgica mais
marcante de seu papado foi ter instituído o uso de água benta para aspersão. O
Papa Alexandre I ordenou seis padres, dois diáconos e cinco bispos, de acordo
com alguns pesquisadores. Para confrontar os opositores da Igreja Católica,
excomungou todos que impediam que os legados da instituição religiosa
exercessem os cargos indicados pelo Sumo Pontífice. Também escreveu epístolas,
ordens e decretos. Sua atuação resultou no descontentamento do Império Romano,
que tinha intolerância à Igreja Católica. Acredita-se que Alexandre I tenha
sido aprisionado pelo imperador Aureliano e, mesmo na cadeia, o papa teria
realizado milagres capazes de converter outros romanos. Embora haja dúvidas
sobre a precisão dos fatos, acredita-se que Aureliano tenha ordenado a
martirização do Papa Alexandre I, o qual teria sido amarrado a um cavalo,
chicoteado e finalmente morto na fogueira, levando consigo alguns de seus
seguidores. Após dez anos de papado, Alexandre I faleceu no ano 115 e foi
canonizado pela Igreja Católica. Muitos séculos mais tarde, em 834, seus restos
mortais foram transferidos para Freising, na Baviera.
7º
- São Xisto I - c.115 - c.125
Nascido
em Roma no ano 42, Elvidius Xystus, ou simplesmente Sisto, era filho de um
romano que tinha o nome de Pastor. Viveu em um período muito próximo dos
primeiros cristãos. É um período também de muitas dificuldades para esses
fieis, pois havia grande perseguição do Império Romano, que professava o
paganismo como religião oficial. Nessa época, a Igreja Católica ainda não
estava consolidada como instituição e tampouco gozava do prestígio que a
caracterizaria a partir da Idade Média. O Papa Sisto I enfrentou as primeiras
divergências entre a Igreja de Roma e as Igrejas do Oriente e, curiosamente, um
dos principais motivos foi a Páscoa. Esta era uma celebração já estabelecida
entre os cristãos orientais e que ainda não havia sido adotada no Ocidente.
Hoje, no entanto, é uma das celebrações mais marcantes e importantes da Igreja
Católica Romana. Outro enfrentamento ocorreu contra os adeptos da gnose, que
procuravam conciliar todas as religiões e explicar o sentido mais profundo de
tudo. Combateu fortemente as doutrinas gnósticas. Mas, além da divergência,
Sisto I estabeleceu importantes atos para os católicos. Foi este papa que
determinou que ninguém, além dos presbíteros e ministros do culto, pode tocar
no cálice e na patena durante a consagração. Determinou também que os bispos
consagrados deveriam ter um documento comprobatório do papa. O Papa Sisto I
parece ter sido muito influente na tradição litúrgica do catolicismo. Foi autor
de duas epístolas. A primeira acerca da doutrina da Santíssima Trindade e a
segunda sobre o primado do Bispo de Roma sobre as igrejas particulares. Foi o
primeiro papa a enviar um missionário para evangelização da Gália. O Papa Sisto
I deu importante continuidade ao trabalho de estruturação eclesiástica e
fundamentou ritos que se tornaram marcantes na Igreja Católica. Pelo que
consta, deu auxílio paternal aos mártires cristãos e foi igualmente
martirizado. Faleceu no dia sete de fevereiro de 125, aos 83 anos de idade, e
foi sepultado nas terras onde posteriormente seria erguida a Basílica de São
Pedro.
8º
- São Telésforo - c.125 – c.136
Nascido
em ano desconhecido, Telésforo era proveniente de Terranova da Sibari. Viveu em
um período chamado de cristianismo primitivo, próximo da época em que Jesus
Cristo pregou sua palavra. Era um momento de muita dificuldade para os cristãos
porque eram perseguidos pelos imperadores romanos, que professavam o paganismo.
Muitos dos líderes cristãos foram martirizados em função da opressão. Telésforo
se tornou papa no ano 125 para ser sucessor de Sisto I. Apesar das dificuldades
vividas pelos cristãos naquela época, seu papado foi de relativa paz porque os
imperadores Adriano e Antonino não publicaram éditos de perseguição aos
cristãos, algo muito comum naquele período. No entanto, a paz não foi completa
porque os cristãos tiveram desentendimentos com outros grupos religiosos e
comunidades que não seguiam a fé cristã. Não se conhecem muitas informações
sobre o Papa Telésforo porque as fontes daquele período foram, em grande parte,
perdidas em função de conflitos e desastres. O que se sabe mesmo é acerca dos
dados gerais que são conhecidos sobre o momento. Por exemplo, os pagãos viviam
fazendo acusações aos cristãos e tentando se apropriar de seus bens. Muitos
cristãos dessa fase foram atirados aos leões para servirem de alimento. No que
diz respeito especificamente ao papado de Telésforo, são creditados a ele
alguns ritos tradicionais da Igreja Católica, porém sem precisão, pois alguns
pesquisadores contestam esses fatos. O Papa Telésforo teria supostamente
instituído as comemorações natalinas para celebrar a vinda de Jesus Cristo à
Terra, ainda que esse ritual tenha se tornado oficial apenas no ano 440. Hoje
sabe-se, contudo, que a data do Natal concorria com as datas comemorativas dos
pagãos em dezembro, e que ela não representa a data que seria mais precisa do
nascimento de Jesus Cristo. Alguns argumentam também que foi o Papa Telésforo
que instituiu a celebração da missa do Galo, estabeleceu a Páscoa aos domingos
e a Quaresma como o período de sete semanas precedentes. Todavia há argumentos
suficientes para questionar essas atribuições. Apesar de um papado em relativa
paz com os imperadores, o período de 13 anos de Telésforo como líder da Igreja
Católica terminou de modo trágico, como era comum na época. Fontes da época
indicam que o Papa Telésforo morreu martirizado no ano 137. Ele foi sepultado
junto ao túmulo de São Pedro. Foi santificado mais tarde e é venerado na Igreja
Católica Apostólica Romana e na Igreja Ortodoxa Grega.
9º
- Santo Higino - c.137 - c.140
Nascido
em Atenas, na Grécia, no ano 90, Hyginys Desposyni era filho de um filósofo
grego e, provavelmente, teve uma formação cultural e analítica mais ampla para
sua época. Não são conhecidas muitas informações de sua vida, mas, como cristão,
enfrentou as mesmas dificuldades da comunidade cristã de sua época, que era
perseguida pelos pagãos. Seu pontificado iniciou no ano 137 e introduziu muitos
costumes típicos e importantes da liturgia católica. O Papa Higino sucedeu o
Papa Telésforo e se esforçou em tornar mais precisa a questão da hierarquia no
interior da Igreja. Até hoje, a instituição religiosa é conhecida por sua
rígida estrutura hierarquizada. E parece mesmo que o Papa Higino gostava
bastante da ordem, foi ele também quem introduziu o costume da existência do
padrinho e da madrinha no batismo. Outra tradição amplamente difundida e
praticada entre os católicos. Além dessas marcas tradicionais do ritual e da
estrutura católica, o Papa Higino enfrentou as típicas perturbações causadas pelas
constantes perseguições aos seguidores da fé cristã. Para o cristianismo
primitivo, essa era uma condição comum, não diferente daquela enfrentada por
muitos outros papas. Mas uma preocupação de seu pontificado foi em relação ao
que se considerava como heresia, que nascia e começava a tomar forma naquele
momento. O Papa Higino identificou e condenou heresias e seus heresiarcas, conquistando
vitória sobre eles. Combateu um movimento gnóstico que enfrentou Roma. O
gnosticismo foi considerado uma heresia por misturar doutrinas e práticas
religiosas com filosofia e mistérios. Os gnósticos acreditavam que havia uma fé
comum para os incultos e uma ciência reservada aos doutores. O Papa Higino,
excomungou seus principais líderes. Não há certeza sobre a causa de sua morte,
mas era muito comum naquele momento, em função da perseguição sofrida pelos
cristãos, o martírio dos papas. O certo é que seu pontificado durou quatro anos
e que Higino faleceu aos 50 anos de idade, no ano 140. Ele foi enterrado
próximo à tumba de São Pedro.
10º
- São Pio I – c.140 – c.155
Nascido
em Aquileia, na Itália, no ano 100, Pius Desposyni era filho do 15º Bispo de
Jerusalém, Judas. Acredita-se que ele era um dos príncipes antigos aparentados
com Jesus Cristo por causa de sua filiação. No entanto, esta era uma questão
que só interessava aos cristãos, pois, na época em que viveu, o cristianismo
era primitivo e sofria com muitas perseguições. Pouco importando informações
como essa para os imperadores pagãos. Já para os cristãos, este fato certamente
influenciou na escolha de Pio para suceder o Papa Higino. Além disso, Pio
jejuou e orou durante três dias voltando suas preces aos fiéis romanos e a
escolha adequada de seu novo pontífice. Sua eleição ocorreu no ano 140, liderando
a Igreja Católica durante os reinados de Antonino Pio e Marco Aurélio, dois
imperadores romanos não convertidos ao cristianismo. O novo Papa enfrentou
muitas dificuldades advindas de problemas variados. Pio I enfrentou problemas
de cunho religioso com os judeus convertidos e com os hereges de seu tempo.
Entre estes estavam os gnósticos, com destaque para Marcião, criador do
marcionismo, uma seita religiosa cristã do início do século II que rejeitava
que o Antigo Testamento estivesse ultrapassado e fazia oposição entre justiça e
amor, lei e evangelho. Pio I até tentou dialogar com esses hereges que
defendiam visões mais espiritualizadas dos evangelhos sagrados, mas não houve
entendimento, então Marcião foi excomungado. O Papa Pio I foi o criador da
tradição da celebração da Páscoa aos domingos. É identificado também como o
construtor da igreja Santa Pudenziana, uma das mais antigas de Roma. Seu
pontificado foi dedicado a combater as ameaças hereges especialmente propagadas
pelos gnósticos. Assim, o décimo papa tentava consolidar a presença e a
soberania da Igreja Católica. Mas suas ações não fizeram da religião cristã a
predominante no império e, por isso, acredita-se que Pio I tenha sido
martirizado. Pio I permaneceu 15 anos à frente da Igreja Católica e faleceu aos
55 anos de idade, no ano 155. Foi reconhecido mais tarde como Santo e é
celebrado no dia 11 de julho.
11º
- Santo Aniceto - 155 - 166
Nascido
na Síria no ano 110, acredita-se que Aniceto tenha sido proveniente da cidade
Emesa, que hoje é identificada pelo nome Hims. Devoto em toda sua vida, fez
parte do grupo de cristãos comumente chamados primitivos, ou seja, aqueles que
viveram e compartilharam hábitos do tempo de Jesus Cristo. Esses cristãos, dos
dois primeiros séculos, eram membros de uma Igreja pequena e fortemente
reprimida pelos pagãos romanos. Enfrentaram muitas condições desfavoráveis para
manter o trono de São Pedro. Com o falecimento do Papa Pio I, Aniceto tornou-se
o líder, em 155, dessa comunidade religiosa que, apesar das dificuldades,
crescia. O Papa Aniceto foi o primeiro Sumo Pontífice a fazer uma condenação
pelo crime de heresia. Em seu papado, o montanismo foi oficialmente condenado
como herético. O montanismo era um movimento cristão fundado por Montano nos
anos 156-157, que foi organizado e difundido entre várias comunidades que se
espalhavam pela Ásia Menor, o Norte da África e na própria Roma. O movimento
era como uma volta ao profetismo para valorizar elementos esquecidos da
mensagem cristã primitiva, com atenção especial para a esperança escatológica.
Era dotado de vários dogmas, como a castidade durante o casamento, a proibição
das segundas núpcias, o jejum durante duas semanas do ano, o consumo de
alimentos secos, o não consumo de carne, a não absolvição de pecadores e o
oferecimento voluntário ao martírio. Mas não apenas o montanismo foi condenado
pelo Papa Aniceto, o gnosticismo também o foi. Esta era uma doutrina que
pregava o racionalismo cristão, com uma supervalorização do conhecimento, o
qual seria o suficiente para a salvação. Esse racionalismo incomodava muito à
Igreja e seus preceitos. Assim, o gnosticismo foi fortemente perseguido e
imediatamente condenado pelo papado. Por sinal, o Sumo Pontífice em questão
dedicou-se muito a proibições. Além das condenações das doutrinas consideradas
heréticas pelo líder da Igreja e seus cardeais, Aniceto determinou que os
padres estavam proibidos de deixar o cabelo crescer para não ser motivo de vaidade.
Um fato marcante do papado de Aniceto para todo o ritual católico envolveu
algumas resoluções sobre a Páscoa. Durante seu pontificado, o Papa recebeu
Policarpo em Roma para discutirem a controvérsia da Páscoa. O problema, que
atormentava os cristãos e a unidade da Igreja na época, envolvia um conjunto de
controvérsias sobre a data apropriada para a celebração cristã da Páscoa.
Naquele momento, os cristãos preocupavam-se com a dúvida sobre seguir ou não as
práticas do Antigo Testamento. Eles chegaram ao entendimento de terminar o
jejum no dia considerado de ressureição de Jesus. O Papa Aniceto liderou a
Igreja Católica por 11 anos e faleceu em 166, aos 56 anos de idade.
12º
- São Sotero - c.166 - c.175
São
Sotero foi elevado ao papado depois da morte de S. Aniceto. Sotero foi Papa num
período em que ser cristão era muito difícil e perigoso. Nasceu na cidade de
Fondi, na Campânia, Itália, e seu pai se chamava Concórdio. Durante o seu
pontificado, a Igreja ampliou-se bastante. Ele mesmo ordenou inúmeros diáconos,
sacerdotes e bispos; e seu pontificado foi exemplar. Disciplinou por meio das
leis canônicas, a participação das mulheres na Igreja, que até então não tinham
seu caminho muito bem definido. Mas, sobretudo, o papa Sotero combateu com
grande valentia e coragem as heresias que pairavam sobre a Igreja dos tempos
iniciais do cristianismo. No seu tempo, foi extinta a heresia de Montano, que
propunha um exagerado rigor de costumes. Era uma doutrina de medo e de
pessimismo, porque o fim do mundo sempre poderia acontecer a qualquer momento.
Supondo isso, todos os cristãos deveriam viver numa santidade irreal,
renunciando ao matrimônio e buscando o sofrimento da penitência constante,
porque, segundo Montano, a Igreja não tinha faculdades para perdoar os pecados.
Essa doutrina, que também era defendida por Tertuliano e, principalmente,
Novaciano, foi condenada pela Igreja na época do papa Sotero. Ele defendeu a
doutrina ensinada por Jesus Cristo e que a Igreja sempre continuou praticando,
ou seja, que para o pecador verdadeiramente arrependido não existe pecado, por
maior que seja, a que não se possa conceder o perdão. Assim, desapareceu o
clima de rigor e pessimismo que tanto atormentava os cristãos, tão contrário ao
da doutrina do Evangelho, que prega o amor, o perdão, a alegria e a esperança. Outra
característica do papa Sotero foi sua ardente caridade para com os
necessitados. Ele desejava que se vivesse como os primeiros cristãos, citados
nos textos dos apóstolos, onde “tudo era comum entre eles” e onde “todos eram
um só coração e uma só alma.” Papa Sotero pedia esmolas para as dioceses mais
ricas, para que fossem distribuídas entre as mais pobres e esforçava-se “por
tratar a todos com palavras e obras, como um pai trata os seus filhos”. Ele foi
um eloquente defensor dos cristãos perseguidos e deixou isso registrado na
carta que enviou especialmente para os de Corinto. Os vestígios dela foram
encontrados quando Eusébio de Cesaréia entregou a ele a eufórica resposta de
Dionísio, em agradecimento pelo conforto que o valoroso papa levou aos corações
aflitos pela morte iminente. Provavelmente, foi este corajoso apoio que levou
ao martírio o Papa Sotero, que morreu em 20 ou 22 de abril de 175, pela
perseguição do imperador Marco Aurélio. Foi martirizado e sepultado no Vaticano, mais tarde seu corpo
foi transferido para a igreja de San Martino ai Monti.
13º
- Santo Eleutério - c.175 - c.189
Nascido
em Épiro, na Grécia, no ano 130, sabe-se pouco sobre a vida de Eleutério. Ele
viveu em um período que podemos chamar ainda de cristianismo primitivo, no qual
os seguidores da fé cristã conviviam com muitas dificuldades porque eram
perseguidos pelos pagãos dominantes da época. Naquele tempo, o culto cristão
era proibido e condenado em muitos lugares, o que resultou em uma série de
papas martirizados. Eleutério, cujo nome em grego significa livre, enfrentou as
dificuldades da época, porém gozou de condições relativamente boas durante seu
papado. O pontificado do Papa Eleutério foi inicialmente pacífico porque o
imperador Cômodo não era um perseguidor dos cristãos. Isso não quer dizer que
era um cristão em fé, pelo contrário, era pagão. Porém não se importava com a
questão da perseguição aos cristãos. Essa condição já conferiu relativa paz a
Eleutério para conduzir seu papado. Diz-se ainda que o papa teria recebido
cartas do rei Lúcio de uma parte da Bretanha pedindo que o pontífice enviasse
missionários para instruir seu povo na fé cristã. O pedido teria sido
correspondido e os padres Damião e Fugácio teriam sido os responsáveis pelo
batizado de Lúcio, de sua rainha e de grande parte de sua população. Mas esta
não é uma história fundamentada em fatos históricos, não há dados que comprovem
a ocorrência da situação. Porém ela ilustra o momento singular dos católicos em
meio a tantas perseguições da época. Com um pouco de liberdade para agir, o
Papa Eleutério foi quem resolveu a questão judaica sobre alimentos puros e
impuros. Embora as duas religiões tivessem traços comuns em suas essências,
catolicismo e judaísmo, aos poucos, iam se distinguindo, e Eleutério foi
fundamental neste caso. Os católicos deixaram de conviver com restrições
alimentares, como acontecia com os judeus, nessa época. Outra medida importante
para a tradição litúrgica dos católicos aplicada pelo Papa Eleutério foi considerar
o Papa como sucessor de Pedro. O estabelecimento desse costume reafirmava Pedro
como o Pai da Igreja, o primeiro a divulgar a obra de Jesus Cristo, o primeiro
Papa. E, por fim, ele introduziu as primeiras normas para celebração da Páscoa.
O pontificado de Eleutério foi marcado também pelo combate à doutrina
montanista, considerada excessiva e foi amplamente combatida pelos católicos. Permaneceu
em seu pontificado por 14 anos e faleceu aos 59 anos de idade, em 189.
14º
- São Vitor I - c.189 - c.199
Nascido
na Tunísia no ano 155, Vitor era proveniente de uma província romana e era
filho de Félix, única informação precisa que se conhece sobre sua família e sua
vida antes de se tornar papa. Sabe-se que Vitor cresceu sob influência do cristianismo
e do Império Romano, uma combinação que ainda não era muito saudável em sua
época. Ele assumiu a liderança da recente Igreja Católica no ano 189, momento
em que os cristãos se aproximavam de melhores condições de vida e de culto no
Império Romano. O Papa Vitor I foi mais significativo para a história da
instituição religiosa no que se refere às tradições dos rituais litúrgicos. Foi
ele quem flexibilizou o processo de batismo ao estabelecer que qualquer água
poderia ser utilizada no caso de faltar água benta nessas celebrações. Foi o
Papa Vitor I também que estabeleceu o domingo como dia sagrado para se
respeitar a memória da ressurreição de Jesus Cristo, o que era feito no sábado.
No mesmo sentido, Vitor I determinou que a Páscoa sempre seria celebrada no domingo,
o que causou o desagrado de muitos bispos. Em resposta, o Sumo Pontífice
excomungou todos os bispos que se opuseram à mudança. Por fim, ainda no que se
refere à liturgia, foi ele quem estabeleceu a celebração das missas em latim, e
não mais em grego. Todas as suas medidas que influenciaram diretamente na
tradição dos rituais católicos foram ratificadas mais de um século depois no
Concílio de Niceia, realizado na cidade que dá nome ao encontro no ano 325. O
Papa Vitor I permaneceu cerca de dez anos como Bispo de Roma, e sua atuação foi
muito marcante para a história da Igreja Católica. As medidas que tomou na
liderança da instituição religiosa marcam profundamente o culto católico atual.
À exceção do idioma no qual as missas são celebradas, muitos dos costumes
cristãos que marcam a sociedade ocidental são provenientes de sua época. Ainda
que tenha sido marcante no sentido litúrgico e que sua época já apresentasse
melhoras para a vida cotidiana dos fiéis, o Papa Vitor I foi, provavelmente,
vítima da chamada quinta perseguição, promovida pelo Imperador romano Sétimo
Severo, que era pagão. Acredita-se que Vitor I tenha sido martirizado nesse
contexto e sua vida tenha se encerrado aos 44 anos de idade no ano 199.
15º
- São Zeferino - c.199 - c.217
Nascido
em Roma, na Itália, em data desconhecida, Zeferino é um Papa com origens ainda
não conhecidas. Ele foi o primeiro Papa do século III, mas sabe-se pouco sobre
sua vida antes do papado e sua influência e atuação no mundo cristão. Tudo que
é conhecido a seu respeito basicamente inicia com sua eleição para Papa. No
mais, o que se sabe é a respeito do contexto geral de sua época, no qual havia
muita perseguição aos cristãos, já que a religião ainda não havia se tornado
oficial do Império Romano. O papado de Zeferino começou no ano de 199 e avançou
pelas duas primeiras décadas do século seguinte. Durante seu exercício, o Papa
teve que enfrentar problemas teológicos que dividiam os fiéis, na ocasião,
excomungou Tertuliano. Foi o primeiro autor cristão a produzir uma obra
literária em latim e era um grande defensor do cristianismo e combatente das
heresias. Embora tenha se tornado importante para a Igreja Católica, suas
ideias não eram plenamente aceitas pelos ortodoxos da época. O Papa Zeferino
estabeleceu alguns costumes na liturgia cristã, como a comunhão para maiores de
14 anos na Festa de Páscoa e o uso da patena e de cálices sagrados produzidos
em vidro. No entanto, Zeferino não era muito significativo na política
institucional, seu assessor, Calisto, era quem se incumbia das tarefas. Em
função disto, Calisto conquistou grande poder e reconhecimento na Igreja
Católica, supostamente até dominando o Papa Zeferino. Quando o Sumo Pontífice
manifestou sua intenção de criar uma catacumba na Via Ápia, a tarefa e os
cuidados do projeto foram atribuídos a Calisto. Não por menos, tornou-se conhecida
como Catacumba de Calisto. O Papa Zeferino foi descrito como um homem simples e
sem educação por São Hipólito. Seu pontificado durou 18 anos e foi encerrado por
martírio. Ele faleceu no dia 20 de dezembro de 217 e foi o primeiro papa a ser
enterrado na Catacumba de Calisto, que se tornaria seu sucessor.
16º
- São Calixto I - c.217 - c.222
Nascido
em Roma no ano 165, Calisto foi escravo em sua juventude e era responsável por
coletar dinheiro entre os fiéis para auxílio de órfãs e viúvas. Conta-se que,
em determinada ocasião, ele perdeu a coleta e aproveitou para fugir de Roma.
Sem muito sucesso, tentou pular de uma ponte para continuar fugindo, mas foi
capturado e levado novamente ao seu proprietário. Mais tarde, Calisto foi
alforriado graças ao pedido de vários credores que acreditavam que poderiam
recuperar o dinheiro de alguma maneira. No entanto, esse não foi o fim da
juventude conturbada de Calisto. O jovem chegou a brigar em uma sinagoga onde
fazia negócios com judeus. Seu comportamento, agora que não era mais escravo,
resultou em prisão. Explorado como escravo e preso por desordem em local
sagrado para os judeus, a juventude de Calisto ainda escondia outra vertente
perseguida na época em que viveu. Calisto era cristão. A crença de Calisto foi
denunciada e ele foi condenado a trabalhar forçadamente nas minas de Sardenha,
de onde só saiu a pedido de Jacinto, um fiel que solicitou a liberação dos
cristãos. Mas, neste ponto, a saúde de Calisto já estava muito debilitada em
função de todas as explorações e perseguições que sofreu ao longo de sua
juventude. Calisto foi enviado para se recuperar em Antium e lá recebeu uma
pensão do Papa Vitor I, iniciando sua escalada no cristianismo. Calisto
tornou-se diácono e era muito respeitado pelos Papas de sua época. O Papa
Zeferino o confiou importantes funções na Igreja Católica. Sua atividade fiel e
responsável fez crescer sua popularidade entre os cristãos. A vida difícil
levada por Calisto representava bem a martirizarão de um cristão em busca da
salvação de sua alma. Quando o Papa Zeferino faleceu, Calisto foi imediatamente
eleito, no ano 217, para sucedê-lo. O Papa Calisto I não exerceu um papado de
tranquilidade. Assim como sua vida, o tempo em que permaneceu como Supremo
Pontífice também foi repleto de confusões, perseguições e acusações. Foi
perseguido, junto com todos os cristãos. Os imperadores de Roma ainda
empreendiam grandes caçadas contra cristãos em favor do paganismo. Seu papado,
propriamente dito, foi acusado de ser indulgente na administração das
penitências, causando tamanho distúrbio que apareceu a figura de um antipapa
com o nome de Hipólito. O desentendimento girava em torno de discórdias com as
práticas de Calisto I, especialmente em relação à absolvição que este concedeu
a adúlteros, homicidas e apóstatas. A misericórdia de Calisto I com os
pecadores, mesmo os reincidentes, desagradava os cristãos mais fervorosos. Por
isso, o papa teve que conviver com um antipapa ao longo de três anos. Toda a
vida do Papa Calisto I foi muito difícil, quando jovem, foi escravo e esteve
preso. Tornou-se papa e foi muito questionado, a ponto de confrontar um
antipapa. E o final de sua vida morreu durante uma rebelião popular no dia 14
de agosto de 222, tornando-se um mártir. Foi enterrado na Via Aureliana e seus
restos mortais foram transferidos no século XIX para Santa Maria in Trastevere.
17º
- Santo Urbano I - c.222 - c.230
Nascido
em Roma no ano 175, Urbano viveu uma época em que as perseguições aos cristãos
eram intensas e rotineiras. Não havia liberdade religiosa plena e seguidamente
os papas eram martirizados pelo Império Romano. Com o falecimento do Papa
Calisto I em 222, Urbano foi eleito para ser seu sucessor no mesmo ano. O papa
de Urbano I é, geralmente, esquecido ou pouco comentado. De fato sabe-se pouco
sobre sua atuação como Sumo Pontífice, mas não há dúvida que tenha vivido
momento de relativa estabilidade no Império Romano. Isto porque o imperador da
época era Alexandre Severo, o qual estabeleceu certa tolerância à crença
monoteísta professada pelos cristãos romanos. Embora a religião do Império
Romano fosse o paganismo e a perseguição e o massacre ao cristianismo fosse
intenso naquela época, Alexandre Severo permitiu certa liberdade de culto e
tolerou razoavelmente o convício entre as crenças. A condição de relativa paz
vivida pelos cristãos durante o papado de Urbano I, algo que não era comum
naqueles tempos, foi importante para que a Igreja Católica florescesse e
cultivasse algumas representações. Com alguma liberdade para administrar a
Igreja, o Papa Urbano I determinou que todos os vasos sagrados fossem feitos de
prata e benzeu alguns artefatos deste material para a paróquia de Roma. Era o
início da riqueza que marcaria tão notoriamente a história da Igreja Católica. Embora
o catolicismo já desse sinais de sua preocupação com a riqueza no final do
século II, o papa não deixou de pensar nos desvalidos. Mesmo cultuando os
objetos de valor, Urbano I determinou que as esmolas ofertadas à Igreja fossem
empregadas exclusivamente em duas frentes, o culto divino e os desvalidos. Ou
seja, a Igreja demonstrava já seu perfil dúbio que oscila entre riqueza e
pobreza. Apesar da rotineira martirização dos Papas nessa época, tudo indica
que o final da vida de Urbano I não tenha seguido esse caminho. Seu Pontificado
durou oito anos e terminou com seu falecimento no ano 230, quando tinha 55 anos
de idade.
17 . 1 - Santa Cecília
Nascida
em Roma c.180, falecimento em Roma c.230. - Cecília seria da nobre família
romana dos Metelos, filha de senador romano e cristã desde a infância. Ela foi
dada em casamento, contra a vontade, a um jovem chamado Valeriano. Se bem que
tivesse alegado os motivos que a levavam a não aceitar este contrato, a vontade
dos pais se impôs de maneira a tornar-lhe inútil qualquer resistência. Assim se
marcaria o dia do casamento e tudo estava preparado para a grande cerimônia.
Da
alegria geral que estampava nos rostos de todos, só Cecília fazia exceção. A
túnica dourada e alvejante peplo que vestia não deixavam adivinhar que por
baixo existia o cilício, e no coração lhe reinasse a tristeza. Estando só com o
noivo, disse-lhe Cecília com toda a amabilidade e não menos firmeza:
“Valeriano, acho-me sob a proteção direta de um Anjo que me defende e guarda
minha virgindade. Não queiras, portanto, fazer coisa alguma contra mim, o que
provocaria a ira de Deus contra ti”. A estas palavras, incompreensíveis para um
pagão, Cecília fez seguir a declaração de ser cristã e obrigada por um voto que
tinha feito a Deus de guardar a pureza virginal. Disse-lhe mais: que a
fidelidade ao voto trazia a bênção, a violação, porém, o castigo de Deus.
Valeriano, ficou "vivamente impressionado" com as declarações da
noiva, respeitou-lhe a virgindade, converteu-se e recebeu o batismo naquela
mesma noite. Valeriano relatou ao irmão Tibúrcio o que tinha se passado e
conseguiu que também ele se tornasse cristão. Turcius Almachius, prefeito de
Roma, teve conhecimento da conversão dos dois irmãos. Citou-os perante o
tribunal e exigiu peremptoriamente que abandonassem, sob pena de morte, a
religião que tinham abraçado. Diante da recusa formal, foram condenados à morte
e decapitados. Também Cecília, teve de comparecer na presença do juiz. Antes de
mais nada, foi intimada a revelar onde se achavam escondidos os tesouros dos
dois sentenciados. Cecília respondeu-lhe que os tinha bem guardados, sem deixar
perceber ao tirano que já tinham achado o destino nas mãos dos pobres.
Almachius, mais tarde, cientificado deste fato, enfureceu-se e ordenou que
Cecília fosse levada ao templo e obrigada a render homenagens aos deuses. De
fato foi conduzida ao lugar determinado, mas com tanta convicção falou aos
soldados da beleza da religião de Cristo que estes se declararam a seu favor, e
prometeram abandonar o culto dos deuses. Almachius, vendo novamente frustrado
seu estratagema, deu ordem para que Cecília fosse trancada na instalação
balneária do seu próprio palacete e asfixiada pelos vapores d’água. Cecília teria
sido então protegida milagrosamente, e embora a temperatura tivesse sido
elevada a ponto de tornar-se intolerável, ela nada sofreu. Segundo outros
mitos, a Santa foi posta em um banho de água fervente do qual teria saído
ilesa. Almachius recorreu então à pena capital. Três golpes vibrou o algoz sem
conseguir separar a cabeça do tronco. Cecília, mortalmente ferida, caiu por
terra e ficou três dias nesta posição. Aos cristãos que a vinham visitar dava
bons e caridosos conselhos e ao Papa entregara todos os bens, com o pedido de
distribuí-los entre os pobres. Outro pedido fora o de transformar a sua casa em
igreja, o que se fez logo depois de sua morte. Foi enterrada na Catacumba de
São Calisto. As diversas invasões dos godos e lombardos fizeram com que os Papas
resolvessem a transladação de muitas relíquias de santos para igrejas de Roma.
O corpo de Santa Cecília ficou muito tempo escondido, sem que lhe soubessem o
jazigo. Uma aparição da Santa ao Papa Pascoal I (817-824) trouxe luz sobre este
ponto. Achou-se o caixão de cipreste que guardava as relíquias. O corpo, foi
encontrado intacto e na mesma posição em que tinha sido enterrado. O esquife
foi achado em um ataúde de mármore e depositado no altar de Santa Cecília. Ao
lado da Santa acharam seu repouso os corpos de Valeriano, Tibúrcio e Máximo. Em
1599, por ordem do Cardeal Sfondrati, foi aberto o túmulo de Santa Cecília e o
corpo encontrado ainda na mesma posição descrita pelo papa Pascoal. O escultor
Stefano Maderno que assim o viu, reproduziu em finíssimo mármore, em tamanho
natural, a sua imagem. Ele teve pouco tempo, pois o corpo se desintegrou em
poucos dias. A Igreja ocidental, como a oriental, têm grande veneração pela
Mártir, cujo nome figura no cânon da Missa. O ofício de sua festa traz como
antífona um tópico das atas do martírio de Santa Cecília, as quais afirmam que
a Santa, nos festejos do casamento, ouvindo o som dos instrumentos musicais,
teria elevado o coração a Deus nestas piedosas aspirações: “Senhor, guardai sem
mancha meu corpo e minha alma, para que não seja confundida”. Desde o século
XV, Santa Cecília é considerada padroeira da música sacra. Sua festa é
celebrada no dia 22 de Novembro, dia da Música e dos Músicos.
18º
- São Ponciano - c.230 - c.235
Nascido
em Roma no ano 175. Naquela época, os cristãos enfrentavam grandes dificuldades
para se expressar e, à exceção de Pedro, os papas se revezavam na liderança da
Igreja com alta frequência. Não se sabe muito a respeito da vida particular de
Ponciano antes de ser papa, somente pode-se inferir sua representatividade para
a comunidade cristã. Com o falecimento do papa Urbano I em 230, um conclave se
formou para eleger o novo Papa. No dia 21 de julho de 230, Ponciano foi eleito
para assumir o posto de liderança da Igreja. O pontificado de Ponciano começou
em meio a um cisma existente no catolicismo, o qual o novo Papa superou de
forma singular. Para interromper a divisão que existia em sua religião,
Ponciano e outros líderes da Igreja foram exilados pelo imperador romano Maximino
Trácio. Todos eles foram enviados para Sardenha. Ponciano não gostou da medida
imposta e, para resolver o cisma, renunciou ao seu posto. Foi, assim, o
primeiro papa da história da Igreja Católica a renunciar seu papado. O papa
Ponciano enfrentou de frente o antipapa Hipólito que existia na época em que
assumiu o papado. Ponciano tinha um relacionamento muito bom com o imperador
Alexandre Severo, mas quando este foi destituído e morto Maximino Trácio tomou
o poder. Maximino é reconhecido como o primeiro bárbaro a reger Roma. Também
foi o primeiro imperador que comandou o império sem ter posto o pé na cidade de
Roma. Maximino reativou uma forte perseguição aos cristãos e exilou o Papa e o
antipapa. O cisma foi resolvido com a abdicação de ambos em favor de um único
papa, Antero. Ponciano renunciou no dia 28 de setembro de 235. Não se sabe
quanto tempo ele permaneceu exilado, mas sabe-se que Ponciano e Hipólito foram
martirizados até a morte. Ponciano trabalhou forçadamente e de forma desumana
nas minas de Sardenha, o que levou à sua morte por esgotamento. Seus restos
mortais foram, então, levados para Roma e enterrados na catacumba do Papa
Calisto I.
19º
- Santo Antero - c.235 - 236
Nascido
na Grécia em 180, Antero era filho de Romulus e, em função de seu nome,
acredita-se que ele teria sido um escravo livre. Homem dedicado à religião, foi
eleito Papa no dia 21 de novembro de 235, sucedendo o Papa Ponciano. O Papa
Antero foi um dos papas que menos tempo exerceu o pontificado, pois ele faleceria
apenas um mês e dez dias depois de assumir o posto de Sumo Pontífice da Igreja
Católica. Sua morte ainda é um mistério, não se sabe ao certo o motivo de um
pontificado tão curto. A ideia mais plausível é de que o imperador romano
Maximino Trácio o condenou à morte pela aprovação do Pontífice aos atos dos
Mártires. O carisma do papa teria enfurecido o imperador romano que, naquela época,
foi um ódio de um pagão contra o cristianismo que aflorava. Em seu pouco tempo
de pontificado, conquistou várias conversões entre romanos e gregos, ambos
pagãos. Incomodou mais ainda o imperador Maximino Trácio o fato de que até
membros de sua guarda pessoal estavam se convertendo ao cristianismo. Além da
inimizade do imperador romano, o Papa Antero teve que enfrentar a oposição de
Nereu, um sacerdote de Chipre que cobiçava o posto de Sumo Pontífice. Todavia,
Nereu não possuía seguidores ou adeptos em quantidade suficiente para causar um
enfrentamento direto ou mesmo um cisma na Igreja Católica. Só que isso não o
impediu de causar muitos transtornos ao curto pontificado de Antero. O Papa
Antero faleceu no dia três de janeiro de 236, para satisfação de seus
adversários. Foi enterrado na catacumba do Papa Calisto I, em Roma, mas o local
só foi desterrado em 1854. Seus restos mortais foram, então, transferidos para a
igreja de São Silvestre.
20º
- São Fabiano - 236 - 250
Nascido
em Roma no ano 200, Fabiano viveu a fase inicial do cristianismo católico na
Europa. Esse momento foi muito marcado pelo preconceito e, em alguns momentos,
a caça deliberada do Império Romano aos seguidores da nova religião. Em meio a
um conturbado período, os religiosos tentavam dar prosseguimento aos
ensinamentos de Jesus Cristo. Por volta do ano 200, o Império Romano começou a
demonstrar mais tolerância com o cristianismo e, inclusive, alguns de seus
imperadores passariam a tender para o lado da doutrina católica. Quando Fabiano
voltava para Roma após o falecimento do papa Antero, havia uma divisão na
escolha do novo Supremo Pontífice. Conta-se que uma pomba branca surgiu
repentinamente e pousou sobre a cabeça de Fabiano, encantando todos os cristãos
romanos, que o escolheram por unanimidade para ser o novo papa. Fabiano teria
cedido ao momento sublime e aceitado liderar a Igreja Católica. O Papa Fabiano
exerceu seu papado com grande retidão. Seu cargo na liderança da Igreja
Católica esteve inserido em um momento de relativa paz para os cristãos.
Aproveitando-se disso, Fabiano implementou reformas na divisão administrativa
das regiões que permaneceram vigentes por muitos séculos. Mas, ainda assim,
houve confrontos e momentos difíceis. Um deles foi com o imperador romano Décio,
e também um desentendimento com o Bispo Privado que exercia sua função na
África, o qual foi deposto pelo Papa. Fabiano é identificado como responsável
pelas primeiras expedições às Gálias. Em meio as disputas políticas do Império
Romano, Fabiano teria batizado o primeiro imperador romano cristão, Felipe, o
árabe, que seria assassinado por Décio, em seguida começou a perseguir e
maltratar os cristãos chegando a matar o Pontífice. O Papa Fabiano é
considerado mártir da Igreja Católica e chamado de São Fabiano pelos cristãos.
Ele faleceu aos 50 anos de idade, após 14 anos de papado, no dia 20 de janeiro
de 250.
21º
- São Cornélio - 251 - 253
Nascido
em Roma no ano 200, Cornélio viveu um momento complicado para os cristãos. Em
meados do século de seu nascimento, o Imperador Décio perseguia os cristãos do
Império Romano, chegando a ordenar que cometessem sacrifícios religiosos, pois,
em caso contrário, seriam sentenciados à morte. A ameaça fez com que alguns
cristãos apostatassem, outros realizaram os sacrifícios e alguns se recusaram,
o que os levou à morte. Nesse cenário persecutório, o Papa Fabiano se recusou a
atender os ordenamentos do imperador e foi um dos cristãos martirizados. Para
agravar a crise na Igreja Católica, Décio tentou impedir a eleição de um novo Papa,
mas, forçado a se ausentar de Roma para combater os godos, a eleição foi
realizada. Na ocasião, Cornélio, contra sua vontade, foi eleito Papa em 251. O
papado de Cornélio foi muito turbulento. Já havia um cenário anterior
estimulado pelo Imperador Décio desfavorável, mas, semanas depois, Novaciano se
proclamou antipapa, gerando um cisma. Novaciano achava que seria eleito Papa e
não concordou com a derrota. Só que Cornélio tinha o apoio de importantes
religiosos da época e de diversas regiões cristãs, enquanto Novaciano era
apoiado apenas por uma minoria do clero de Roma. Cornélio reagiu excomungando
Novaciano. O Papa Cornélio enfrentou as perseguições contra os cristãos e o
cisma da Igreja, demonstrando grande capacidade para ser um líder religioso,
mesmo que não fosse seu interesse ser Papa. Possuía dons diplomáticos também
para solucionar problemas políticos. Perfil que o tornou um exemplo para todos
os Papas que o sucederam. A morte de Décio não aliviou a perseguição aos
cristãos porque o sucessor, Treboniano Galo, também foi um opositor. O novo
imperador exilou o Papa em Civitavecchia. Após uma vida toda dedicada ao
cristianismo, Cornélio faleceu em reclusão em 253. É venerado como Santo pela
Igreja Católica.
22º
- São Lúcio I - 253 - 254
Nascido
em Roma no ano 205, Lúcio tem uma história familiar desconhecida. Sabe-se apenas
o nome de seu pai, que era Prophyrianus. Lúcio nasceu em um momento que o
cristianismo começava a se expandir pelo Império Romano. Foi por volta do ano
200 que os cristãos passaram a superar as perseguições religiosas, iniciando
uma guinada que levaria o cristianismo a ser a religião oficial do Império. A
conversão do primeiro imperador romano ao cristianismo selaria de vez a
amplitude do cristianismo e abriria as portas para que influenciasse profundamente
toda a história ocidental. Lúcio faz parte do momento inicial do papado, ainda
sem muitas riquezas. Foi o sucessor do Papa Cornélio, que faleceu em 253. Lúcio
foi eleito no dia 25 de junho do mesmo ano em meio a uma perseguição que havia banido
seu antecessor e o novo Papa. Todavia, Lúcio I conseguiu retornar a Roma para
exercer seu papado. O papado de Lúcio I foi curto, porém conturbado. Já de
início, teve de contornar a perseguição sofrida para assumir seu posto. Feito
isto, precisou combater o novacionismo, um movimento do cristianismo primitivo que
se recusava a readmitir cristãos que tinham celebrado os deuses pagãos durante
a perseguição empreendida pelo imperador Décio. Esse embate foi intenso e, mais
tarde, os novacianos seriam declarados hereges. De toda forma, Lúcio I foi
firme em defesa da doutrina de Cristo segundo a Igreja Católica. O papado de
Lúcio I ainda enfrentou grandes dificuldades em função da perseguição e da
intolerância religiosa dos romanos. Décio foi um dos exemplos, era um imperador
intolerante e caçador de cristãos. Só durante o papado de Lúcio I, cerca de 900
cristãos foram martirizados. O Supremo Pontífice teve poucas oportunidades de
fazer seu trabalho, pois faleceu em cinco de março de 254, menos de um ano
depois de assumir o posto. Mas também se tornou um mártir na batalha pela
liberdade e legitimidade do cristianismo. O falecimento de Lúcio I apresenta um
curioso detalhe, sua tumba está na catacumba de Calisto, seus restos mortais
estão na igreja de Santa Cecília in Trastevere e sua cabeça está na Catedral de
Santo Ansgar, em Copenhague, na Dinamarca.
23º
- Santo Estevão I - 254 - 257
Nascido
em Roma no ano 210, Estevão era proveniente de uma família de nobres. Vivenciou
uma época imediatamente posterior à conversão do Império Romano ao
cristianismo, ou seja, quando Roma trocou oficialmente o paganismo pela
religião de Jesus Cristo. Embora ainda houvesse alguma perseguição aos
cristãos, era um momento favorável para a Igreja Católica, que se expandia pelo
império e conquistava poderes políticos. Estevão era homem religioso e
reconhecido membro da Igreja. Quando seu antecessor faleceu, Lúcio I, ele foi
eleito no dia 12 de maio de 254 para ser o novo líder da instituição religiosa.
Seu papado seria curto e conturbado, apesar do crescente poder e da crescente
influência da Igreja Católica. O Papa Estevão I teve desavenças com as igrejas
do continente africano e do continente asiático, com as quais travou um embate
acerca da supremacia da sede romana. Foi muito rígido com os homens
considerados hereges, os quais não aceitavam se reintegrar à Igreja Católica.
Por conta disso, envolveu-se em discussão com Cipriano de Cartago sobre o
rebatismo de hereges. Também foi intolerante na reabilitação de Bispos que eram
acusados de apostasia. O Papa Estevão I enfrentou muitos problemas e os
potencializou em função de sua intransigência. Quando assumiu o papado, já
havia um antipapa em exercício. Era um estudioso conhecido como Novaciano que
antagonizava a figura do Papa romano desde 251. Novaciano tinha o apoio de
muitos nobres e religiosos, o suficiente para o manter com relativa estabilidade
em confronto com os Papas romanos. Todavia Estevão I intensificou as disputas
cismáticas e abalou a zona de conforto de Novaciano. Estevão I conseguiu reunir
as igrejas que antes estavam desunidas, porém não foi capaz de derrubar
Novaciano em vida. O Papa romano abriu caminho para acabar com o poderio e a
estabilidade do antipapa vigente. No entanto, não viveu o suficiente para vê-lo
derrotado. No meio desse confronto havia outro personagem, o imperador romano
Valeriano. Este foi responsável pela perseguição ao Papa e ao antipapa. Estevão
I foi caçado pelo imperador romano e, segundo consta, martirizado. Faleceu no
dia dois de agosto de 257. O antipapa, contudo, também foi alvo de perseguição
do imperador romano. Logo após a morte de Estevão I, Novaciano fugiu para
tentar escapar da perseguição de Valeriano. Não se sabe ao certo se ele também
foi martirizado, mas faleceu no ano 258. Só que Novaciano deixaria marcas
cismáticas por muitos séculos na Igreja Católica, em função das seitas que se estabeleceram.
O Papa Estevão I foi canonizado pela Igreja Católica e é chamado de São
Estevão.
24º
- São Xisto II - 257 - 258
Papa
Sisto II (em latim: Sistus) foi o vigésimo quarto Papa, de 31 de Agosto de 257
até 6 de Agosto de 258. Ele morreu como mártir, durante a perseguição do
imperador Valeriano. Sisto II procurou unir a igreja cristã em torno dos
sacramentos e da palavra de Deus. Perdoou os delatores, fortaleceu o espírito
dos condenados pelo "crime capital de professar a fé em Jesus
Cristo". Reatou as relações com os bispos africanos e da Ásia Menor,
interrompidas pela controvérsia sobre o batismo dos hereges. Efetuou o
translado dos restos de São Pedro e São Paulo. Teria sido Sisto o primeiro Papa
a enviar um missionário para a evangelização da Gália, o bispo São Peregrino.
Sisto II
foi decapitado no dia 6 de agosto de 258, sendo um dos primeiros a cair vítima
da promulgação de um édito do imperador Valeriano contra os cristãos, publicado
nos primeiros dias daquele mês. O documento ordenava que bispos, padres e
diáconos fossem sumariamente condenados à morte. Naquele dia, tentando escapar
da vigilância dos oficiais imperiais, reuniu seus fiéis em um cemitério pouco
conhecido, próximo à Via Ápia. Durante da celebração, foi repentinamente preso
por um grupo de soldados. Não se sabe se ele foi decapitado imediatamente ou
foi levado a um tribunal para receber sua sentença, e depois levado de volta ao
cemitério para a execução.
25º
- São Dionísio - 259 - 268
Nascido
provavelmente na Magna Grécia em ano desconhecido, a vida de Dionísio ainda é
um mistério para os historiadores. A origem grega ainda não é um consenso para
os pesquisadores, já que não foram encontradas provas que atestem o fato. Da
mesma forma, não se sabe como foi a formação religiosa que levaria Dionísio ao
posto máximo da Igreja Católica. Esta, por sua vez, sofria com as intensas
perseguições promovidas pelo Império Romano durante o século III. Mesmo já com
mais de 200 anos de religião estabelecida, o cenário era muito instável para os
cristãos porque cada imperador se comportava de uma maneira na relação com a
doutrina e seus fiéis. Até a elevação do cristianismo como religião oficial do
império e ao gozo de benefícios na sociedade romana, os cristãos conviveram com
muitos desafios. Foi nesse contexto opressor que levou à morte o Papa Sisto II.
Para sucedê-lo, foi eleito o Papa Dionísio, em 22 de julho de 259. O Papa
Dionísio só foi eleito e assumiu o posto de Sumo Pontífice um ano após a morte
do Papa Sisto II, vítima da perseguição de Valeriano. O momento era péssimo
para os cristãos porque o imperador promovia violentas perseguições contra os
fiéis e, com o falecimento do Papa, dificultou ao máximo a eleição de um
sucessor. A perseguição só diminuiu em 259, quando a Igreja conseguiu fazer seu
novo líder. No ano seguinte, 260, o Imperador Valeriano seria capturado e morto
pelos persas. Seu fim traria novo alento para os cristãos, pois o sucessor,
Galiano, publicaria um édito de tolerância, acabando com a perseguição aos
cristãos e os concedendo um status de legalidade. O Papa Dionísio assumiu em
meio a transição de uma má fase para uma boa fase para os seguidores de Cristo.
Cabia a ele, então, reorganizar a Igreja que, além de abalada com os ataques,
estava em desordem. Para isso, o Papa enviou muito dinheiro para as igrejas da
Capadócia, que haviam sido devastadas e que muitos de seus membros haviam sido
feitos prisioneiros. Junto ao Imperador Galiano, o Papa Dionísio teve paz para
trazer a ordem novamente para a Igreja. O édito valeria até o ano 303, logo,
seria um momento raro de crescimento para os fiéis nos primeiros séculos de fé
cristã. Para se ter uma noção de como era severa a perseguição aos cristãos até
então, o Papa Dionísio é considerado o primeiro Papa da Igreja Católica a não
ser martirizado. Após nove anos de papado, Dionísio faleceu de morte natural no
dia 26 de dezembro 268 e foi sepultado na Catacumba de São Calisto.
26º
- São Félix I - 269 - 274
Nascido
em Roma em data desconhecida, Félix viveu em meados do século III. Naquela
ocasião, a perseguição aos católicos já não era tão intensa como nos dois
séculos anteriores, embora o Império Romano ainda não tivesse se convertido ao
cristianismo e as opressões ainda existissem. Os dados sobre sua vida são tão
desconhecidos quanto à data de seu nascimento. Sabe-se extremamente pouco sobre
sua vida antes do falecimento do Papa Dionísio, o qual sucedeu a partir de
cinco de julho de 269. O Papa Félix I foi quem autorizou a celebração da missa
sobre os túmulos dos mártires. Ele iniciou o sepultamento dos mártires sobre o
altar para fugir da perseguição do imperador Adriano. Iniciou um longuíssimo
hábito da Igreja Católica que, no entanto, não é praticado mais. Naquele
século, a situação era mais branda para os católicos, porém as perseguições e
as dificuldades se acentuavam de acordo com a postura religiosa de cada
imperador, pois a religião do império era o paganismo. Talvez a mais
significativa medida do Papa Félix I em relação à própria Igreja tenha sido a
intervenção na questão que envolvia Paulo de Samósata. Este bispo pregava que
Cristo e o Espírito Santo eram qualidades de um único Deus, assim a inspiração
de Jesus vinha do alto e crescia em Espírito Santo até se tornar o Pai no
momento de sua ressurreição. No entanto, o Concílio de Éfeso, em 431, já havia
estabelecido que Jesus Cristo era homem e Deus em uma única pessoa, definindo a
divindade e a humanidade de Cristo e as duas naturezas distintas em uma só
pessoa. Em função disso, Paulo de Samósata foi deposto de seu cargo
eclesiástico e condenado por suas doutrinas trinitárias e cristológicas no
Sínodo de Antioquia, realizado em 268. O Papa que criou a tradição de sepultar
os mártires sob o altar de celebração das missas também foi martirizado, como
se acredita. Após cinco anos de Pontificado à frente da Igreja Católica, foi
sepultado na catacumba de São Calisto, na Via Ápia, no dia 30 de dezembro de
274.
27º
- Santo Eutiquiano - 275 - 283
Nascido
em Luni, na Itália, em 240, Eutiquiano viveu uma época em que os católicos
começavam a conquistar um pouco de liberdade para seu culto e suas ações. De
todo modo, ainda não gozavam de plena aceitação ou de reconhecimento oficial, o
que significa dizer que os cristãos ainda sofriam perseguições impostas pelos
pagãos da época. Não se conhece praticamente nada sobre a vida de Eutiquiano,
além do fato de ter chegado ao principal posto da Igreja Católica em meio a
situações tão conturbadas para a fé cristã. Ele se tornou Papa no dia quatro de
janeiro de 275 para suceder o Papa Félix I. O Papa Eutiquiano ordenou ações que
seriam muito marcantes para os cristãos da época, e, de certo modo, seriam
confrontadoras da lógica estabelecida. Ele ordenou, por exemplo, que os
mártires fossem cobertos pela dalmática, um manto que era parecido com o dos
imperadores romanos. Uma afronta para a época. Alguns anos mais tarde, o Papa
Silvestre I adotaria a mesma dalmática como traje dos clérigos encarregados de
ler a epístola e o evangelho nas missas solenes. O que ajudou a solidificar a
tradição que chega aos nossos dias. Os diáconos celebram todas suas missas
vestindo suas dalmáticas específicas para cada situação. Além de iniciar uma
conduta que marcaria profundamente a tradição das celebrações católicas, o Papa
Eutiquiano também instituiu a benção da colheita nos campos. Ele proibiu ainda que se entregasse a comunhão
aos enfermos. Queria evitar que o Santíssimo Sacramento fosse profanado e
acreditava que proibir as mulheres ou leigos portassem a comunhão a um enfermo
já seria uma inibição. Morreu martirizado no dia sete de dezembro de 283 e foi
o último Papa a ser sepultado na cripta dos Papas.
27
. 1 - Santa Helena
Santa
Helena, de família plebeia e pagã, nasceu em meados do século III,
provavelmente em Drepamin, na Bitínia, no Golfo da Nicomédia (hoje, Turquia);
essa cidade, mais tarde, foi chamada Helenópolis, em sua honra, pelo seu filho
e futuro imperador Constantino. Segundo Santo Ambrósio, Helena exercia o cargo
de “estabulária”, ou seja, a estalajadeira encarregada dos estábulos. A
modéstia e a delicadeza de Helena levaram o jovem oficial, Constâncio Cloro, a
apaixonar-se por ela, apesar do seu nível social mais elevado. No entanto, quis
casar-se com ela, levando-a consigo para Dardania, nos Bálcãs.
A jovem,
que não tinha direito ao título honorífico do seu marido, foi uma esposa fiel.
No ano 280, em Naisso, na Sérvia, deu à luz ao filho Constantino. Constâncio,
esposo de Helena, consentiram-lhe obter, junto com Galério, o título de César
(co-regente); mas era preciso ratificar a sua elevação pelo novo sistema
político da Tetrarquia. Por isso, os imperadores Diocleciano e Maximiano, em
293, obrigaram-no a divorciar-se da sua esposa e de unir-se em matrimônio com a
enteada do segundo, Teodora. Isso era possível porque a lei romana não
reconhecia o casamento entre nobres e plebeus. Helena foi obrigada a deixar sua
família e seu filho. Helena se fez pequena, afastada da família e do filho, que
até então havia educado com dedicação e amor; ela nunca desanimou. Pelo
contrário, permaneceu, humildemente, na sombra, enquanto Constantino foi elevado
à corte de Diocleciano. Com a morte de Constâncio em 306, Constantino mandou
buscar a mãe para junto de si na Corte. Não sabemos quando se fez cristã; se
ela que influiu na conversão de Constantino ou se, como escreve Eusébio de
Cesareia, foi ele quem à converteu. Tornou-se uma cristã fervorosa e piedosa. Tinha-lhe muito amor e não parou de encher de
honras. Entre as suas primeiras medidas, o novo imperador mandou chamar
imediatamente a sua mãe, Helena Flávia Júlia, a qual foi condecorada com o
título de Augusta. As honras jamais influenciaram seu coração, pelo contrário,
estimularam a sua atenção inata para com o próximo, que se concretizou em dar
esmolas, satisfazer as necessidades materiais dos pobres e libertar numerosas
pessoas das prisões, das minas e do exílio. Luminosa e contagiosa, a ponto de
muitos perceberem a influência que teve na conversão do seu filho e na
promulgação do Edito de Milão, em 313, que concedeu a liberdade de culto aos
cristãos após três séculos de perseguição. Dizem que Helena participava das
celebrações religiosas, usando roupas modestas, para se confundir com a
multidão, e convidava os famintos para o almoço, servindo-os pessoalmente. Em
326, um acontecimento perturbou a vida da família: Constantino mandou matar,
primeiro seu filho Crispo, por instigação da madrasta, Fausta, sua segunda
mulher, também suspeita de acometer a sua honra. Diante dessa tragédia, com 78
anos de idade, Helena manteve firme a sua fé fazendo uma peregrinação penitencial
à Terra Santa. Ali, mandou construir duas Basílicas: a da Natividade, em Belém,
e a da Ascensão, no Monte das Oliveiras. Essa iniciativa inspirou Constantino a
construir também a Basílica da Ressurreição. No Gólgota, ao mandar destruir os
edifícios pagãos, construídos pelos romanos, aconteceu uma prodigiosa
descoberta da verdadeira Cruz. Após aquela insigne vitória de Constantino sobre Maxêncio, quando ele
recebeu de Deus o sinal da Cruz do Senhor, Santa Helena, sua mãe, foi a
Jerusalém para procurar a Cruz de Cristo. Lá cuidou ela de destruir a imagem de
Vênus, em mármore, que, para apagar a memória da Paixão de Cristo Senhor, os
gentios haviam colocado no lugar da Cruz e que ali permanecera durante cerca de
180 anos. O mesmo ela fez no presépio do Salvador, onde fora posto um simulacro
de Adônis, e no lugar da ressurreição, onde haviam colocado um de Júpiter. Purgado,
assim, o local da Cruz, foram encontradas depois de profundas escavações três
cruzes, e, à parte delas, a inscrição que havia sido posta sobre a Cruz do
Senhor. Como não se sabia sobre qual das três Jesus foi afixado, um milagre
sanou a dúvida. Eis que Macário, bispo de Jerusalém, tendo elevado preces a
Deus, levou cada uma das cruzes a três mulheres que sofriam de grave enfermidade,
e, enquanto as duas primeiras de nada serviram às mulheres, a terceira Cruz,
levada à terceira mulher, curou-a imediatamente. Santa Helena, tendo encontrado a Cruz da salvação,
construiu ali uma igreja magnificentíssima, na qual depositou parte da Cruz em
urnas de prata, entregando outra parte a seu filho Constantino, que a levou
para Roma, à igreja da Santa Cruz de Jerusalém. Ela também entregou ao filho os
cravos que trespassaram o Santíssimo Corpo de Jesus Cristo. Naquele tempo,
Constantino sancionou uma lei para que, desde então, ninguém fosse condenado ao
suplício da cruz. Santa Helena morreu em 329, aos 80 anos de idade, em um lugar
não identificado. Ainda moribunda, foi assistida por seu filho, que, depois,
levou seu corpo para a Via Labicana, em Roma, onde foi sepultada em um mausoléu
em sua homenagem. Seu sarcófago de pórfiro, transportado ao Latrão, no século
XI, hoje está conservado no Museu Vaticano.
28º
- São Caio - 283 - 296
Nascido
na Dalmácia, região que hoje é pertencente à Croácia, em data desconhecida,
Caio, por sinal, é um dos Papas mais desconhecidos. Sabe-se muito pouco sobre
sua vida pessoal e mesmo religiosa antes de se tornar Sumo Pontífice. Há falta
de dados históricos para reconstruir sua trajetória, porém sabe-se que era
descendente da família imperial de Dioclesiano, que era seu tio. Com o falecimento
do Papa Eutiquiano, Caio foi eleito para ser sucessor no dia 17 de dezembro de
283. Era uma época de muitas dificuldades para os cristãos, mas o Papa Caio
conseguiu oferecer um período de relativa paz, construir igrejas por toda Roma
e encontrou as catacumbas de cristãos que foram martirizados antes de seu
papado. Habilidoso no trato com as autoridades romanas, o Papa Caio conseguiu
converter o prefeito Cromâncio. O Sumo Pontífice foi conselheiro dos cristãos
refugiados que se escondiam na casa do prefeito romano, todavia sugeriu que
todos fugissem antes de serem presos pela perseguição que era constante. Pelo
que consta, foi o mesmo que alertou São Sebastião, o qual preferiu ficar em
Roma para animar e defender os cristãos, no entanto acabou morto, mas em
circunstâncias impressionantes. Ao tomar conhecimento de cristãos infiltrados
no exército romano, Maximiano realizou uma caça a esses cristãos, expulsando-os
do exército. Só os filhos de soldados ficaram obrigados a servirem o exército.
E este era o caso do Capitão Sebastião. Para os outros jovens a escolha era
livre. Denunciado por um soldado, o imperador se sentiu traído e mandou que
Sebastião renunciasse à sua fé em Jesus Cristo. Sebastião se negou a fazer esta
renúncia. Por isso, Maximiano mandou que ele fosse morto para servir de exemplo
e desestímulo a outros. Maximiano, porém, ordenou que Sebastião tivesse uma
morte cruenta diante de todos. Assim, os arqueiros receberam ordens para
matarem-no a flechadas. Eles tiraram suas roupas, o amarraram num poste no
estádio de Palatino e lançaram suas flechas sobre ele. Ferido, deixaram que ele
sangrasse até morrer, mas as flechas não conseguiram seu intento. Irene, uma
cristã devota, e um grupo de amigos, foram ao local e, surpresos, viram que
Sebastião continuava vivo. Levaram-no dali e o esconderam na casa de Irene que
cuidou de seus ferimentos. Depois de curado, Sebastião continuou evangelizando
e se apresentou ao imperador Maximiano, que não atendeu ao seu pedido.
Sebastião insistia para que ele parasse de perseguir e matar os cristãos. Desta
vez o imperador mandou que o açoitassem até morrer e depois fosse jogado numa
fossa, para que nenhum cristão o encontrasse. Porém, após sua morte, São
Sebastião apareceu a Lucina, uma cristã, e disse que ela encontraria o corpo
dele pendurado num poço, pedindo para ser enterrado nas catacumbas junto dos
apóstolos.
Voltando
a falar sobre o Papa Caio, em uma de suas ações, decretou que todo bispo só
poderia assumir a posição após desempenhar as funções de ostiário, leitor,
exorcista, acólito, sub-diácono, diácono e padre. Reformando a administração da
Igreja, dividiu os bairros de Roma entre os diáconos e conteve agitadores que
desejavam se vingar da morte imposta a outros pontífices. Embora tenha conseguido
ampliar a presença da Igreja Católica em Roma física e administrativamente, o
Papa Caio conviveu com uma época em que as medidas contra os cristãos estavam
em crescimento. A tradição diz que o Sumo Pontífice foi decapitado no dia 22 de
abril de 296, data que marca o fim do seu papado. Caio foi sepultado na
Catacumba de Calisto, mas seus restos mortais estão hoje na capela da família
Barberini.
29º
- São Marcelino - 296 – 304
Ordenou
São Silvestre, que viria a assumir o pontificado em 314. Nascido em Roma em
data desconhecida, Marcelino viveu no terceiro século da era cristã, época de
dificuldades e perseguições para os fiéis que professavam tal fé. Naquele
momento, o cristianismo ainda não era reconhecido como religião oficial do Império
Romano e dava seus primeiros passos contra a repressão do paganismo. Em função
disso, os cristãos sofriam constantemente com perseguições, assassinatos e
martírios que não poupavam nem mesmo o Sumo Pontífice líder da mais alta
hierarquia dentro da Igreja Católica. Nem sempre o relacionamento com os
imperadores era satisfatório, pois variava em função da concepção de cada um
deles. Essa instabilidade perduraria por mais de um século ainda até a situação
dos cristãos se tornasse mais confortável. Sabe-se pouco sobre a vida de
Marcelino, o mais preciso é que ele foi eleito Papa no dia 30 de junho de 296
para suceder o Papa Caio. O Papa Marcelino precisou enfrentar a conjuntura de
perseguição durante seu pontificado. Enquanto liderou a Igreja Católica, teve que
se defender de um grande movimento pagão que tinha o intuito de confrontar o
cristianismo. O movimento foi liderado por César Galério, em 302, o qual
convenceu o Imperador Diocleciano do perigo que era os cristãos para Roma.
Acredita-se, inclusive, que César Galério tenha promovido algumas ações de
distúrbio para culpar os cristãos. Verdade ou não, o certo é que o Imperador
Romano decretou seu primeiro édito de perseguição e intolerância aos cristãos.
A influência de César seria fundamental para a grande perseguição promovida por
Diocleciano. De início, os soldados cristãos tiveram que abandonar o exército,
as propriedades da Igreja foram confiscadas e seus livros sagrados queimados.
Os cristãos se deparavam com inúmeras restrições, eram forçados a renunciar a
própria fé e suas manifestações foram impedidas. A esposa e a filha de
Diocleciano, que eram cristãs, foram forçadas a professar o paganismo. Em
função de todo esse contexto, nada há de registro sobre as ações do Papa
Marcelino durante seu pontificado. Naturalmente, ele estava preocupado com a
sobrevivência da religião naquele período e também com a sua própria vida. Em
303, a perseguição apresentou maiores proporções, causando graves danos à
Igreja. Em meio ao conturbado período vivido pelos cristãos e a Igreja
Católica, o Papa Marcelino chegou a ser acusado de ter entregue os textos
sagrados e feito ofertas aos deuses pagãos para escapar das perseguições.
Supostamente, o Papa teria apostatado e logo depois se arrependido, o que
causaria a ira de Diocleciano, que o condenaria à morte. Mas nada disso foi
comprovado. No entanto, sabe-se que a conduta do Papa não era aprovada pelos
cristãos. O Papa Marcelino foi rapidamente venerado e muito se disse sobre seu
processo de martirização, mas o mais provável é que o Papa tenha falecido de
causas naturais no ano 304. O dia preciso também é uma incerteza, mas
provavelmente no mês de outubro. Ele permaneceu à frente da Igreja por oito
anos e faleceu após dois anos de grandes perseguições de Diocleciano. Curiosamente,
foi em seu pontificado que surgiu o primeiro país cristão, a Armênia.
Diferentemente de seus antecessores, não foi sepultado nas Catacumbas de São
Calisto, pois esta foi confiscada pelo Imperador.
30º
- São Marcelo I - 307 - 309
São
Marcelo só foi eleito quatro anos após a morte de São Marcelino, devido às
terríveis perseguições que os cristãos sofreram pelas mãos do imperador Dioclesiano.
Acabou sendo exilado pelo imperador Maxêncio, e sofreu diversas humilhações e
castigos. Morreu exilado, numa igreja que foi fechada e transformada num
estábulo, onde trabalhava como escravo. Nascido em Roma no ano 255, Marcelo viveu uma época ainda de insegurança
para os cristãos, pois eles continuavam sendo perseguidos pelos imperadores. Um
dos maiores opositores daquela época era Dioclesiano, imperador que chegou a
tornar obrigatório o culto a Júpiter, pois se identificava com este deus, além
de ordenar violenta perseguição aos cristãos. Enquanto isso, Marcelo
dedicava-se à vida religiosa com o reconhecimento de seus companheiros em fé. A
situação para os cristãos era tão tensa em Roma no período do imperador
Dioclesiano que o Papa Marcelino faleceu em 304 e houve uma vacância de quatro
anos até Marcelo ser eleito como sucessor. As péssimas condições de
relacionamento vividas pelos cristãos dificultavam a manutenção de suas
atividades cotidianas. Junto com o Papa Marcelino, vários outros fieis foram
martirizados. No entanto, a repressão foi reduzindo gradativamente até que os
cristãos pudessem se reunir novamente para reorganizar sua comunidade e para
realizar suas celebrações. O Papa Marcelo I assumiu uma Igreja em condição desastrosa, pois ela
havia perdido muitos bens e muitos fieis estavam com medo de se manifestar. O
novo Papa buscou logo a reorganização através da divisão do território romano
em 25 distritos chefiados por presbíteros. Seu novo modelo administrativo
permitiria novamente a presença dos cristãos e de suas manifestações por todas
as partes. No entanto, Marcelo I era severo e muito fiel às tradições de sua
religião, ele condenava completamente os cristãos que renunciaram à religião
para salvar suas vidas em algum momento de perseguição. Ainda que a situação
fosse desfavorável durante seu papado, Marcelo I não aceitava readmitir os fiéis
que abandonaram a religião, ele exigia severas penitências. Foi assim que o Papa
começou a conquistar opositores. A situação gerou um grupo de cristãos que se
opunha ao pontífice, criando situações de grande instabilidade. O papado de Marcelo I foi muito breve
porque, além da pressão externa, os desequilíbrios internos da religião
contribuíram para uma situação insustentável. O imperador Magêncio aproveitou
para o exilar em 309 em local que ainda é desconhecido. Magêncio se beneficiou
do tumulto que as penitências impostas pelo Papa causaram. No mesmo ano o Papa
Marcelo I faleceu em seu exílio e, mais tarde, foi venerado como santo e seus
restos mortais transferidos para San Marcello al Corso, onde se encontra
atualmente, falecendo aos 54 anos de idade.
31º
- Santo Eusébio - c.309 - c.310
Nascido
na Grécia por volta do ano 255, Eusébio viveu uma época de mudanças estruturais
favoráveis à Igreja Católica. Todavia, embora o cristianismo se tornasse cada
vez mais aceito pelo Império Romano, os cristãos ainda não viviam em paz com
seu culto. Continuava existindo opositores e defensores do tradicional
paganismo que promoviam perseguições aos praticantes da nova religião
monoteísta. Eusébio sempre foi um homem religioso e carismático, sua ascensão
ocorreu, de certa forma naturalmente. Com o falecimento do Papa Marcelo I,
Eusébio foi facilmente eleito no dia 18 de abril de 309 para ser seu sucessor.
Mas seu papado não seria nada fácil, pois a Igreja enfrentava atos de violência
que perturbavam a paz. Na época, havia uma grande discussão sobre a readmissão
dos considerados apóstatas, ou seja, aqueles que declaradamente abandonavam a
religião. O confronto de ideias gerou uma severa dissensão na Igreja e o Papa
Eusébio se posicionou a favor da exclusão definitiva dos que tinham apostatado
da comunhão, permitindo a readmissão apenas aos que passassem por um ato
público de penitência. Eusébio enfrentou forte oposição daqueles que exigiam a
readmissão imediata ao corpo religioso, intensificando muito o conflito. O Papa
Eusébio foi firme à condenação dos apóstatas e também na defesa da disciplina
eclesiástica. Pelo que se tem notícia, ele foi o Papa mais amado e venerado
pelos cristãos de sua época porque era homem de grande bondade e de
misericórdia, embora fosse decididamente contra a reintegração daqueles que
haviam apostatado. Esta posição foi fundamental para que seu papado durasse tão
pouco tempo. No dia 17 de agosto do mesmo ano em que assumiu, o Papa Eusébio
foi deportado para a Sicília e exilado por ordem do Imperador Magêncio, que
defendia uma posição contrária sobre os apóstatas. A data marcaria o fim
oficial de seu papado, pois Eusébio jamais voltaria do exílio. Ele faleceu
pouco tempo depois, no dia 21 de outubro do mesmo ano, quando tinha 55 anos de
idade. O corpo do Papa Eusébio foi transladado para Roma provavelmente em 311 e
depositado em um cubículo nas Catacumbas de São Calisto. É venerado como Santo
e Mártir pelos cristãos.
32º
- São Melquíades - 311 - 314
Conversão do Imperador Constantino
ao catolicismo. Tempos de paz para a Igreja pelo fim das perseguições aos
cristãos.
Nascido
no norte da África provavelmente no ano 270, Melquíades é também conhecido como
Milcíades, Miltíades ou Melquiadas. Junto como os demais fieis do cristianismo,
viveu as perseguições empreendidas pelo Império Romano, porém foi sempre
dedicado à vida religiosa. Sua ascensão na vida religiosa o levou dos povos
berberes ao posto máximo da Igreja Católica, como sucessor do Papa Eusébio. O
Papa Melquíades assumiu o pontifício de Roma no dia dois de julho do ano 311 em
função do exílio que o imperador Maxêncio impôs ao Papa Eusébio na Sicília. Mas
o Pontificado de Melquíades alcançou uma grande conquista para os cristãos,
pois, em 312, o imperador Constantino assumiu o poder em Roma e se aproximou
respeitosamente do Papa. O novo imperador romano deu ao pontífice um palácio
para ser sua residência e sede do governo cristão. O Palácio Laterano, como era
chamado, ainda está de pé e é parte do patrimônio arquitetônico do Vaticano,
indicado hoje como Palácio de Latrão. Foi residência Papal por 770 anos. O ato
do imperador já representava um grande avanço e boas esperanças para o povo
cristão. No ano seguinte, em 313, houve uma medida ainda melhor para os fiéis,
o imperador garantiu a liberdade religiosa dos cristãos e devolveu as propriedades
que foram tomadas. A bondade do imperador Constantino foi fruto de sua
conversão ao cristianismo, o que foi sucedido pela transformação da fé cristã
em religião oficial de Roma. A nova realidade mudava por completo o cotidiano
dos cristãos e da Igreja Católica, que ganhava espaço e liberdade para agir em
prol de sua expansão. O Papa Melquíades aproveitou essa liberdade para
organizar as sedes paroquiais e recuperar os bens da Igreja. No seu pontificado
deu-se início a construção da Basílica de São João e reforçou-se a unidade da
Igreja de Roma. Além disso, vários costumes católicos são atribuídos a
Melquíades. O legado do Papa Melquíades é importantíssimo para a Igreja
Católica, foi fundamental para transformar a história do Ocidente, em função de
sua aproximação com o imperador Constantino. Os benefícios da conversão do
Império Romano ao cristianismo causariam uma guinada no poder político e
cultural da Igreja. O fim da perseguição aos fiéis do cristianismo e ampliação
patrimonial iniciariam uma forte ascensão que culminaria com o poder supremo da
instituição durante a Idade Média. O Papa Melquíades, no entanto, não chegou a
completar quatro anos como Sumo Pontífice. Faleceu no dia dois de janeiro de
314 e foi erroneamente indicado como mártir em alguns documentos medievais. Mas
é venerado como santo pela Igreja Católica.
IMPERADOR
CONSTANTINO - Flávio Valério Aurélio Constantino (272-337), conhecido por
Constantino I ou Constantino, o Grande, foi imperador do Império Romano de 306
a 337 d.C. Passou a história como primeiro imperador cristão. Era filho de um
oficial grego, Constâncio Cloro, que no ano 305 foi nomeado Augusto ao mesmo
tempo que Galério, e de Helena, uma mulher que chegaria a ser santa. Por morte
de Constâncio Cloro, em 306, Constantino é aclamado imperador do Ocidente pelo
exército local, no meio de uma difícil situação política, agravada pelas
tensões com o antigo imperador, Maximiano, e com o seu filho Maxêncio.
Constantino começou por derrotar Maximiano, em 310, e logo a seguir Maxêncio,
na batalha de Ponte Milvio, em 28 de Outubro de 312. Segundo a tradição,
Constantino teve uma visão antes dessa batalha. Olhando o Sol, ao qual prestava
culto, como pagão que era, viu uma cruz e ordenou que os seus soldados pusessem
nos escudos o monograma de Cristo (as duas primeiras letras do seu nome em
grego, sobrepostas). Embora continuasse a praticar ritos pagãos, a partir dessa
vitória passou a mostrar-se favorável aos cristãos. Com Licínio, imperador do
Oriente, promulgou o chamado “Édito de Milão”, favorecendo a liberdade de
culto. Mais tarde, os dois imperadores confrontaram-se e, no ano de 324,
Constantino derrotou Licínio, convertendo-se no único Augusto do Império. Constantino
levou a cabo numerosas reformas de tipo administrativo, militar e econômico,
mas no que mais se destacou foi nas disposições político-religiosas e, em
primeiro lugar, nas que tinham por objetivo a cristianização do Império.
Promoveu estruturas adequadas para conservar a unidade da Igreja, como modo de
preservar a unidade do Estado e legitimas a sua configuração monárquica, embora
também tivesse outras motivações religiosas de tipo pessoal. Tomou certas
medidas contra heresias e cismas, a par de várias disposições administrativas
eclesiásticas. Lutou contra o cisma causado pelos donatistas no norte da
África, para defender a unidade da Igreja, e convocou o Concílio de Niceia,
para resolver a controvérsia trinitária originada por Ario. Em 330 transferiu a
capital do Império de Roma para Bizâncio, à qual chamou Constantinopla, o que
implicou uma ruptura com a tradição, apesar de ser sua intenção realçar o
aspecto de capital cristã. Como era normal na sua época, só foi batizado pouco
antes de morrer, por Eusébio de Nicomédia, bispo de tendência ariana.
33º
- São Silvestre - 314 - 335
O imperador Constantino
decreta o fim da crucificação, da perseguição aos cristãos e pessoalmente
contribui para a construção de Igrejas.
O Papa manda erigir a
imagem de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos, em gratidão à Maria Santíssima
pelo fim da perseguição contra a Igreja.
Condenação das heresias
donatista e ariana pelos concílios de Arles e Nicéia.
É construída a Basílica
Vaticana sobre o túmulo de São Pedro, com auxílio do imperador Constantino.
(Esta deu lugar a atual Basílica de São Pedro).
O Papa Silvestre I em
seu calendário confirma o domingo (e não o sábado judaico) como o primeiro dia
da semana, "dies dominicus" ("Dia do Senhor", em latim) e
ordena aos membros da igreja que o mantenham como um dia santo; dia em que
Jesus ressuscitou; como já tinha sido falado pela Epístola de Barnabé, Santo
Inácio de Antioquia aos Magnésios, São Justino o Mártir em sua Apologia, etc.
Em 325, a controvérsia
ariana irrompe em Alexandria, causando ampla violência e perturbações entre os
cristãos.
Em 325, o Primeiro
Concílio Ecumênico de Nicéia, convocado como resposta à controvérsia ariana,
estabelece o Credo Niceno, declarando a crença dos cristãos trinitários
ortodoxos na Trindade.
18 de novembro de 326:
o Papa Silvestre I consagra a Basílica de São Pedro, construída por
Constantino, o Grande, sobre o túmulo do apóstolo Pedro.
Nascido
em Roma no ano 285, Silvestre viveu a época da recente conversão do Império
Romano ao cristianismo. Homem de fé e atuante no catolicismo, foi o sucessor do
Papa Melquíades que faleceu no início do ano 314. No dia 31 de janeiro do mesmo
ano, Silvestre foi eleito. O Papa Silvestre I exerceu um dos mais longos pontificados
da história da Igreja Católica. Ele foi Sumo Pontífice por 21 anos. Assumiu o
posto com apenas 29 anos, o que lhe garantiu longevidade. Seu pontificado longo
interagiu muito bem com o momento vivido pelo cristianismo primitivo,
alcançando várias conquistas para a Igreja Católica que permitiram a esta uma
expansão significativa. O pontificado do Papa Silvestre I ocorreu ao mesmo
tempo em que Constantino I era o imperador de Roma. A relação entre os dois foi
sadia, o que permitiu benefícios mútuos. Constantino I convocou um sínodo e um
concílio, nos quais o Papa enviou emissários para presidir os encontros. O
imperador romano apresentava um quadro de saúde bastante debilitado, e o Papa
foi simpático aos seus interesses. O bom relacionamento entre o Papa Silvestre
I e o imperador Constantino I estabeleceu a autoridade da Igreja Católica no
mundo Antigo e Medieval e deu início aos primeiros monumentos cristãos, como o
Santo Sepulcro em Jerusalém e as primitivas basílicas de São João de Latrão e
São Pedro. Esse bom relacionamento entre os dois líderes muito se deu em função
da conversão de Constantino I ao cristianismo. Sua conversão é atribuída a uma
visão que o imperador teve durante uma batalha em Milvius. Mas, seja como for,
o fato é que até o reinado deste imperador os cristãos eram perseguidos
rotineiramente no Império Romano. A divergência de religião entre cristianismo
e paganismo resultou em vários conflitos e massacres que contabilizaram perdas
maiores para os cristãos. A conversão de Constantino I inaugurou uma nova fase
na história da Igreja Católica, pois abriria caminho para que a crença se
tornasse oficial do império, se firmasse, conquistasse adeptos em grande
quantidade, assim como poder político. Para a Igreja, é o início de um estado
de paz. Não há dúvida de que a maior conquista do papado de Silvestre tenha
sido a valorosa e harmônica relação com Constantino I. Isso garantiu também que
o Papa pudesse exercer seu pontificado com tranquilidade, sem perseguição,
exílio ou assassinato, como muito de seus antecessores. Faleceu aos 50 anos de
idade, em 31 de dezembro de 335. Silvestre I foi o primeiro Papa canonizado sem
ter sofrido martírio, é celebrado como São Silvestre I.
33
. 1 - São Nicolau
São
Nicolau de Mira, também conhecido como São Nicolau de Bari, foi um dos
primeiros cristãos, era grego, proveniente da Ásia Menor. É o Santo padroeiro
da Rússia, da Grécia, da Noruega e de Beit Jala, na Palestina. É o patrono dos
guardas-noturnos na Armênia e dos coroinhas na cidade de Bari, na Itália, onde
estariam sepultados seus restos.
São
Nicolau era de ascendência grega e seria proveniente de Patara (atual Turquia),
no Império Romano, onde teria nascido na segunda metade do século III, e teria
falecido em dezembro do ano de 350 (6 de dezembro segundo o calendário hoje
usado no Ocidente, 19 de dezembro no calendário do cristianismo oriental), em
Mira, também na atual Turquia. Foi um bispo cristão que ficou conhecido por sua
caridade e afinidade com as crianças. Devido à sua imensa generosidade e aos
milagres que lhe foram atribuídos, foi canonizado pela Igreja Católica e
tornou-se um símbolo ligado diretamente ao nascimento do Menino Jesus. São
Nicolau é considerado um dos santos mais conhecidos da cristandade, tendo servido
de inspiração para a figura do Papai Noel, símbolo do Natal. Teria vivido
alguns anos nas vizinhanças da cidade de Belém, na Terra Santa, próximo ao
local do nascimento de Jesus. Sobre a cripta onde teria vivido, foi construída
o que é hoje a principal igreja de Beit Jala, pequena cidade na Palestina.
A
Nicolau foram atribuídos vários milagres, sendo daí proveniente sua
popularidade em toda a Europa e sua designação como protetor dos marinheiros e
comerciantes, santo casamenteiro e, principalmente, amigo das crianças. Sob o
império de Diocleciano, Nicolau foi encarcerado por recusar-se a negar sua fé
em Jesus Cristo. Após a subida ao poder de Constantino, Nicolau volta a
enfrentar oposição, desta vez da própria Igreja. Diante de um debate com outros
líderes eclesiásticos, Nicolau levanta-se e esbofeteia um de seus antagonistas,
o herege Ário. Isso o impede de permanecer como líder da Igreja. Nicolau,
porém, não se dá por vencido e permanece atuante, prestando auxílio a crianças
e outros necessitados.
Aparição de Nossa Senhora a São Nicolau
Quando
São Nicolau era Bispo de Mira, na Turquia, e vivia grandes dificuldades para
levar adiante sua missão de servir a Cristo, na condução de sua diocese, Nossa
Senhora Mãe da Misericórdia, apareceu-lhe em duas oportunidades para
incentivá-lo e fortalecê-lo em sua árdua jornada. Após estas manifestações o
Santo Bispo reanimou-se, inclusive tendo importante participação no Concílio de
Nicéia, onde com ardor e inspirada sabedoria defendeu a divindade de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Esta tornou-se a sua grande missão durante o resto de sua
vida: pregar e defender a Divindade de Nosso Senhor.
Um caso
famoso, sempre relatado em suas biografias, mostra como ele ajudava aos
sofredores. Segue-se: Ocorre que, na cidade de Patara, havia um rico
comerciante que tinha três filhas; quando estas cresceram, tornaram-se
formosas, mas, bem por esta época, as transações comerciais de seu pai
fracassaram, até que ele chegou à completa falência. Teve então o comerciante a
criminosa ideia de usar a beleza das filhas para obter os meios de
sobrevivência de que necessitava. São Nicolau soube do plano e decidiu salvar
tanto o pai quanto as filhas de tal pecado e vergonha.
À noite, camuflou-se com uma capa e foi
à casa do comerciante falido. Não consta que tenha descido pela chaminé, mas
fez quase isso: jogou pela janela um saco não com presentes, mas com moedas de
ouro. Algumas versões dão conta de que isto se deu na véspera do Natal. Fato é
que o comerciante, achando o ouro, com grande alegria preparou o enxoval da
filha mais velha e assim arranjou-lhe um bom casamento. Para tanto, naquela
época, era preciso que a noiva tivesse um bom dote. Algum tempo depois, São Nicolau
novamente jogou outro saco com ouro para dentro da casa do comerciante, o
suficiente para o enxoval e casamento da segunda filha. Quando São Nicolau,
repetindo o mesmo plano, jogou o terceiro saco com ouro para a filha mais nova,
o comerciante, desconfiado, já estava à sua espera. Prostrando-se diante do Santo,
agradeceu-lhe, com lágrimas que lhe desciam copiosamente pelas faces, a
salvação da família de um horrível pecado e da grave vergonha a que se
submeteria perante toda a cidade. Após o casamento das três filhas, o
comerciante conseguiu enfim recuperar seus negócios, e começou a ajudar também
seus próximos, imitando o exemplo de seu benfeitor.
Vemos
claramente como o episódio descrito acima, em muitos aspectos, deu origem às
lendas que conhecemos sobre o Papai Noel. A conclusão da história deste Santo,
que é especialmente querido pelos ortodoxos e em particular pelos russos, é a
seguinte: em certo ponto, ele acabou por vender todas as suas posses para dar o
dinheiro aos mais necessitados. Ele, que desde a morte dos pais havia se
aproximado de seu tio, o Bispo da cidade de Patara, foi logo ordenado
sacerdote, e terminou por se tornar, ele próprio, o Bispo de Mira. Homem tão
bondoso e caridoso, Nicolau foi sempre amado por todo o povo, e conta-se que
realmente gostava de distribuir presentes entre as crianças. Faleceu no dia 6
de dezembro de 343, sendo o aniversário de sua morte o dia de São Nicolau.
Assim, influenciados pela popularidade de São Nicolau na Europa, os imigrantes
europeus trouxeram sua história e suas tradições para a América. Eis a origem
do nome Santa Claus (corruptela de Saint Nikolaus/St. Niklaus) que o Papai Noel
tem em inglês. Com o passar dos tempos, outras lendas e mitos sobre ele foram
sendo acrescentadas à sua verdadeira história, e assim apareceu o "Papai
Noel" dos dias de hoje.
34º
- São Marcos - 336
Nascido
em Roma no ano 290, Marcos cresceu no momento de transição do paganismo para o
cristianismo no Império Romano. Os cristãos ainda sofriam com alguns ataques e
a religião monoteísta havia se tornado há pouco a religião oficial do Império.
A instituição Igreja Católica, contudo, já mostrava forte expansão e apontava
para a significativa influência que teria na vida política e cultural do Ocidente.
Naquela época, os Papas permaneciam pouco tempo no cargo, em função de variadas
situações. Muitos deles, inclusive, foram perseguidos e aprisionados, morrendo
como mártires. Marcos foi eleito para suceder o Papa Silvestre I no dia 18 de
janeiro de 336. Ele ficou pouquíssimo tempo no posto de Sumo Pontífice, falecendo
no final do mesmo ano. O papado de Marcos foi muito curto, o que o
impossibilitou de grandes realizações. No entanto, ainda deixou algumas
heranças culturais para a Igreja Católica. Acredita-se, por exemplo, que tenha
surgido em seu papado a compilação de Bispos e mártires do cristianismo. O
papado de Marcos também gerou o primeiro calendário com as festas religiosas da
Igreja Católica e instituiu o uso do pálio, um tecido com lã branca de cordeiro
ilustrado com cruzes negras. Marcos ainda mandou construir as basílicas de São
Marcos e de Santa Balbina, mas não teria tempo de velas prontas. O Papa Marcos
era novo quando assumiu o papado, tinha apenas 46 anos de idade. Demonstrava
vigor e ânimo para conduzir a Igreja Católica. No entanto, faleceu supostamente
de causas naturais no dia sete de outubro de 336, mesmo ano em que havia
assumido o posto de Sumo Pontífice. Mesmo com pouco tempo à frente da Igreja
Católica, deixou marcas culturais para sempre, como o extenso calendário de
festas religiosas que existe atualmente. Foi canonizado mais tarde e é também
reconhecido como Papa São Marcos.
35º
- São Júlio I - 337 - 352
Em 345, o Papa Júlio I
oficialmente define a data de 25 de dezembro para a celebração da Natividade ou
Natal.
Júlio
era de origem romana, filho de um certo cidadão chamado Rústico. Viveu no
período em que a Igreja respirava a liberdade religiosa concedida pelo
Imperador Constantino, o Magno, em 313. Essa liberdade oferecia ao cristianismo
melhores condições de vida e expansão da religião. Por outro lado, surgiram as
primeiras heresias: donatismo, puritanismo na moral, e o arianismo, negando a
divindade de Cristo. Com a morte de Constantino, os sucessores, infelizmente,
favoreceram os partidários do arianismo. O Papa Júlio I tomou a defesa e
hospedou o Patriarca de Alexandria, Atanásio, o grande doutor da Igreja,
batalhador da fé no Concílio de Nicéia e principal alvo do ódio dos arianos,
que o tinham expulsado da sede patriarcal. O Papa Júlio I convocou dois sínodos
de bispos em que, com a condenação do semi-arianismo, Atanásio foi reabilitado,
recebendo cartas do Papa que se felicitava com a Igreja de Alexandria, baluarte
da ortodoxia cristã. O Papa Júlio I construiu várias igrejas em Roma: a dos
Santos Apóstolos, a da Santíssima Maria de Trastévere, e mais três mandou
construir nos cemitérios das vias Flavínia, Aurélia e Portuense,
respectivamente as igrejas de São Valentim, de São Calisto e de São Félix. Cuidou
da organização eclesiástica e da catequese catecumenal, ou seja, dos adultos e
mais velhos. Morreu em 352, após quinze anos de pontificado. Foi sepultado no
cemitério de Calepódio, na via Aurélia, numa igreja que ele também havia
mandado edificar. Sua veneração começou entre os fiéis a partir do século VII.
Suas relíquias, segundo a tradição, foram transladadas para a Basílica de São
Praxedes a pedido do Papa Pascoal I. O seu culto, que já fora autorizado,
refloresceu em 1505, quando do seu translado para a Basílica da Santíssima
Maria de Trastévere, em Roma.
36º
– Libério - 352 - 366
Libério
reinou de 17 de maio de 352 até 24 de setembro de 366. Seu primeiro ato como
Papa foi, após se reunir em um sínodo em Roma, escrever ao Imperador Constâncio
II (353-354), então em Arles, pedindo para que fosse feito um Concílio em
Aquileia tratando dos assuntos relacionados a Atanásio de Alexandria, mas seu
mensageiro Vicêncio de Cápua foi pressionado pelo imperador em um Conciliábulo
(Conciliabulum) feito em Arles para subscrever, contra à sua vontade, a uma
condenação do ortodoxo Patriarca de Alexandria. Após isto, o comando imperial
de Milão impôs seus cânones sobre todos os Bispos ocidentais, como
consequência, Libério foi perseguido e exilado para Bereia e substituído pelo antipapa
Félix II. Após um exílio de mais de dois anos, o imperador Constâncio II
chamou-o a Roma, sendo a Sé de Roma oficialmente ocupada pelo antipapa Félix. O
imperador propôs que Libério governasse a Igreja juntamente com Félix, mas
antes da chegada de Libério, Félix foi expulso pelo povo romano. Após a morte
do imperador Constâncio II em 361, Libério anulou os decretos e reiterou sua
posição e os Bispos que aprovaram o concílio retiraram a sua adesão. Em 366,
Libério deu um acolhimento favorável a uma delegação do Episcopado Oriental, e
admitiu em sua comunhão mais moderada os convertidos Arianos. Morreu em 24 de
setembro de 366.
O Concílio de Laodiceia ou Sínodo de Laodiceia, foi um sínodo
regional de aproximadamente 30 clérigos da Anatólia (atual Turquia) entre 363 e
364 d.C. Logo depois da guerra romano-persa na época do imperador romano
Teodósio I. As principais decisões e preocupações do concílio envolveram
efetivamente o comportamento dos membros da igreja. O concílio registrou seus
cânones por meio de regras escritas, cujos principais manuscritos sobreviveram
até a atualidade ou foram citados por outros sínodos e concílios.
36
. 1 - Aparição de Nossa Senhora das Neves – Itália
No ano
de 363 vivia em Roma um ilustre descendente de nobre família romana, o qual,
não possuindo herdeiros, resolveu, em combinação com a esposa, consagrar sua
imensa fortuna à glória de Deus e em honra a Santíssima virgem Maria. Na noite
de 4 para 5 de agosto estava pensando seriamente no assunto, quando a Rainha do
Céu apareceu-lhe em sonhos e disse-lhe: - "Edificar-me-eis uma
basílica na colina de Roma que amanhã aparecerá coberta de neve". Ora, nos dias 4 e 5 de
agosto, é a época de maior calor na Itália. Mas no dia seguinte, devido a um
estupendo milagre, o monte Esquilino estava coberto de neve. A população da
cidade acudiu ao lugar do prodígio e até mesmo o Papa Libério que recebeu a
mesma revelação também em sonho, acompanhado de todo o clero, para lá se
dirigiu. Logo depois de iniciada a construção, a Basílica foi denominada de
Nossa Senhora das Neves, devido ao fenômeno climático. Este templo, no entanto,
é conhecido universalmente pelo nome de Santa Maria Maior (Basilica di Santa
Maria Maggiore) por ser a mais importante entre todas as Igrejas de Roma
dedicadas à Virgem Santíssima.
37º
- São Dâmaso I - 366 - 384
Em 381, Primeiro
Concílio Ecumênico de Constantinopla. Condenação das heresias de Macedônio e
Apolináris.
Em 382, o Concílio de
Roma, sob o Papa Dâmaso I, define o cânon da Bíblia, listando os livros aceitos
do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Nenhum outro deve ser considerado
escritura.
Nascido
em Portugal no ano 305, não há certeza se ele é proveniente de Guimarães ou de
Idanha-a-Velha. Sabe-se, contudo, que ele viveu um período de transição quanto
à perseguição sofrida pelos cristãos no Império Romano. Até o século III as
perseguições eram intensas, variando de acordo com a postura religiosa de cada
imperador. Em alguns momentos havia relativa paz. Mas, em outros, a perseguição
era extrema, causando a morte de muitos cristãos e mesmo de Papas, que eram
martirizados. A situação instável avançou pelo século IV, mas a ascensão de
Constantino ao poder no Império Romano mudaria a história não apenas de seu
império, mas também de todo o Ocidente. Constantino converteu-se ao catolicismo
e o tornou religião oficial de Roma. A partir daí, a perspectiva mudaria para
os cristãos, já que as perseguições cessariam, pelo menos como eram antes. As
condições propícias de melhor estabilidade para o culto levariam os cristãos ao
domínio ideológico e político que marcaria toda a Idade Média. No entanto, as disputas
políticas pelo poder no interior da própria Igreja Católica e com outros
monarcas seria sempre constante. Quando o Papa Libério faleceu, por exemplo,
havia uma intensa disputa no seio da Igreja Católica que retardou a eleição do
sucessor Dâmaso. O Papa Dâmaso I foi eleito para ser o sucessor do Papa
Libério, no entanto, só ocupou o cargo efetivamente após uma grave disputa com
Ursino, que se declarava também Papa. Isso aconteceu no início do mês de
outubro do ano 366. O Papa tinha 61 anos de idade naquela época. Antes do
efetivo reconhecimento como Sumo Pontífice, Dâmaso enfrentou dois anos de
batalhas sangrentas. Os dois postulantes ao posto montaram exércitos e
combateram avidamente em busca do poder que almejavam. Em meio a vários
conflitos e elevado número de mortes, Dâmaso foi acusado de assassinato e teve
que se defender perante um tribunal imperial. Ursino também recebeu acusações e
foi julgado. Porém, como Dâmaso tinha o apoio do Imperador Valentiniano I, ele
foi inocentado enquanto seu adversário foi condenado ao desterro. Passada a
tormenta, o Papa Dâmaso I se dedicou à administração da Igreja Católica e à
condução de seu pontificado. Como recebeu grande apoio do império para
assegurar sua eleição, tratou logo de promover uma aproximação entre o poder
temporal e o poder espiritual, os quais entraram em consonância. O pontífice
criou, assim, condições propícias para um bom relacionamento com os monarcas e
para ter relativa estabilidade para se dedicar às causas religiosas. Agindo
muito bem estrategicamente, Dâmaso I teve forças para combater qualquer ameaça
de cisma na Igreja. Deixou um importante legado para a história da instituição
religiosa como escritor de epigramas e de cartas sinodais, além de ter
encomendado uma revisão da Bíblia latina, conhecida como Vulgata Latina, que é
uma das mais importantes traduções do livro sagrado para os cristãos. Adotou o
hábito de usar o Anel do Pescador, um costume dos Papas que dura até hoje, mas,
naquela época, tratava-se de um único anel que era passado de um Papa para o
seu sucessor. Apesar do caminho sangrento que percorreu para efetivar seu
pontificado, Dâmaso I é reconhecido como um dos mais importantes Papas do
século IV. Ele permaneceu à frente da Igreja Católica durante 18 anos e faleceu
aos 79 anos de idade, no dia 11 de dezembro de 384.
CREDO
NICENO CONSTANTINOPOLITANO
Creio em um só Deus, Pai
todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e
invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus,
Nascido do Pai antes de todos os séculos: Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas
foram feitas. E, por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus: e
encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também
por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as escrituras; E subiu aos céus, onde
está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar
os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo,
Senhor que dá a vida, e procede do Pai; e com o Pai e o Filho é adorado e
glorificado: Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja Una, Santa, Católica
e Apostólica. Professo um só batismo para remissão dos pecados. Espero a
ressurreição dos mortos; E a vida do mundo que há de vir. Amém.
Este
Credo é uma obra prima, uma inspiração Divina que deve ser eternizada, sem
mudanças ou alterações. O nome "niceno-constantinopolitano"
referencia o primeiro Concílio de Niceia 325 d.C., do qual resultou o Credo
Niceno, e o primeiro Concílio de Constantinopla (381 d.C.), onde a declaração
de fé foi finalmente estabelecida a partir dos resultados dos dois concílios.
Os concílios se reuniam a fim de esclarecer questões teológicas que geravam
controvérsias, de modo que as linhas acrescidas significam os pontos de
unanimidade na Igreja Una de Cristo.
37
. 1 - São Jerônimo
Também
conhecido como Jerônimo de Estridão (Estridão, c. 347 – Belém, 30 de setembro
de 420), foi um sacerdote cristão ilírio, destacado como teólogo, historiador e
confessor, e considerado Santo e Doutor da Igreja pela Igreja Católica. Filho
de Eusébio, da cidade de Estridão, na fronteira entre a Dalmácia e a Panônia, é
mais conhecido por sua tradução da Bíblia para o latim (conhecida como Vulgata)
e por seus comentários sobre o Evangelho dos Hebreus, mas sua lista de obras é
extensa. Eusébio Sofrônio Jerônimo nasceu na cidade de Estridão, na província
romana da Dalmácia, por volta de 347, mas só foi batizado entre 360 e 366,
quando viajou para Roma com seu amigo Bonoso, seu companheiro quando foi viver
como eremita numa ilha no Adriático – para continuar seus estudos sobre
retórica e filosofia. Lá, Jerônimo estudou gramática latina e um pouco de grego
com o gramático Élio Donato, embora não tenha adquirido a proficiência na
língua grega que, anos depois, alegaria ter obtido como estudante. Jerônimo,
tendo nascido em uma região do Império com forte presença romana desde 165
a.C., quando da derrota do último rei da Ilíria, Gêncio, e já completamente latinizada
no século IV d.C., teria falado latim como língua materna. Em Antioquia, onde
ficou por mais tempo, dois de seus companheiros morreram e ele próprio ficou
seriamente doente mais de uma vez. Durante uma destas enfermidades (perto do
inverno de 373-374), Jerônimo teve uma visão que levou-a a abandonar seus
estudos seculares para dedicar-se completamente a Deus. Ele parece ter trocado
uma grande quantidade de tempo que dispendia no estudo dos clássicos para
estudar a Bíblia, dirigido por Apolinário de Laodiceia, que na época ensinava
em Antioquia e ainda não dava sinais de sua futura condenação por heresia. Tomando
por um súbito desejo de viver em penitência asceta, Jerônimo passou um tempo no
deserto de Cálcis, para o sudoeste de Antioquia, uma região conhecida como
"Tebaida Síria", onde moravam numerosos eremitas. Lá também
dedicou-se a aprender pela primeira vez o hebraico, sob a tutela de um judeu
convertido e é possível que ele tenha mantido correspondência com os
judeo-cristãos de Antioquia. Por volta desta época, Jerônimo contratou uma
cópia de um "Evangelho Hebreu", do qual fragmentos foram preservados
em suas notas e que é hoje conhecido como "Evangelho dos Hebreus",
considerado o verdadeiro Evangelho de Mateus pelos nazarenos. Depois disso, ele
próprio traduziu partes da obra para o grego. De volta em Antioquia em 378 ou
379, foi ordenado pelo Bispo Paulino de Antioquia. Logo depois, viajou para
Constantinopla para continuar seus estudos sobre as Escrituras com Gregório
Nazianzeno. Ele passou por volta de uns dois anos por lá e partiu novamente
para Roma, onde passou os três anos seguintes (382-385) na corte do Papa Dâmaso
I e a liderança cristã da cidade. O motivo da viagem foi um convite para que
participasse do concílio de 382 realizado para acabar com o cisma na Igreja de
Antioquia, que na época tinha mais de um patriarca alegando ser o verdadeiro.
Acompanhando um deles, Paulino, pretendia apoiá-lo nos trabalhos, acabou se
destacando junto ao Papa e passou a exercer um importante papel durante seus
concílios. Jerônimo então recebeu diversos encargos em Roma e realizou ali uma
revisão da Bíblia Latina (Vetus Latina) baseando-se em manuscritos gregos do
Novo Testamento. Ele também atualizou o saltério contendo o "Livro dos
Salmos" que era na época utilizado em Roma baseando-se na Septuaginta
grega. Em Roma, Jerônimo estava rodeado por um círculo de mulheres bem-nascidas
e bem-educadas, incluindo algumas oriundas das mais nobres famílias patrícias
romanas, como as viúvas Leia, Marcela e Paula, com suas filhas Blesila e
Eustóquia. Como resultado da crescente inclinação destas mulheres pela vida
monástica, da indulgente lascividade que imperava em Roma e mais a crítica
feroz de Jerônimo ao clero secular, que não poupava ninguém, logo irrompeu um
conflito contra o clero romano e seus aliados. Uma rica viúva, Paula deu
condições para que Jerônimo pudesse viver sem preocupações financeiras e se
dedicasse aos estudos. Ela seguiu-o depois para Belém e morreu com ele na Terra
Santa. Em agosto de 385, Jerônimo abandonou Roma definitivamente e voltou para
Antioquia com seu irmão Pauliniano e diversos amigos; logo depois vieram Paula
e Eustóquia, decididas a terminar suas vidas na Terra Santa. No inverno do
mesmo ano, Jerônimo viajou com elas na função de conselheiro espiritual. O
grupo, acompanhado do bispo Paulino de Antioquia, peregrinou por Jerusalém,
Belém e os lugares santos da Galileia antes de seguir para o Egito, onde viviam
os heróis da vida asceta, os monges do deserto. Na Escola Catequética de
Alexandria, Jerônimo ouviu Dídimo, o Cego, ensinar sobre o Profeta Oseias e
contar o que se lembrava de Santo Antão, que morrera trinta anos antes. Depois,
passou algum tempo na Nítria admirando a disciplinada vida comunitária dos
numerosos habitantes da "cidade do Senhor", percebendo que, mesmo
ali, "serpentes escondidas", ou seja, a influência do polêmico
teólogo alexandrino Orígenes. No final do verão de 388, voltou para a Terra
Santa e passou o resto de sua vida numa cela eremítica perto de Belém rodeado
por uns poucos amigos, homens e mulheres (incluindo Santa Paula e Eustóquia), a
quem ele atendia como sacerdote e professor.
Com recursos financeiros suficientes
providenciados pela rica Paula, que investia também em aumentar sua biblioteca,
Jerônimo passou a levar uma vida de incessante produção literária. A estes
últimos trinta e quatro anos de sua carreira pertencem suas mais importantes
obras; sua versão do Antigo Testamento traduzida do original hebraico, o melhor
de seus comentários sobre as Escrituras, seu catálogo de autores cristãos (De
Viris Illustribus) e o seu diálogo contra os pelagianos, de perfeição reconhecida
até pelos seus adversários. Em 416, como consequência de suas obras contra o
pelagianismo, partidários inflamados da crença invadiram os edifícios
monásticos perto de onde vivia, atearam-lhes fogo, atacaram os moradores e
mataram um diácono, forçando Jerônimo a se refugiar numa fortaleza nas
imediações. Jerônimo morreu perto de Belém em 30 de setembro de 420. Diz-se que
seus restos, originalmente enterrados em Belém, foram trasladados para a
Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, embora outros locais no ocidente também
reivindiquem a posse de alguma relíquia relacionada ao Santo.
Suas
avaliações direcionadas principalmente contra os defensores de doutrinas
contrárias às ortodoxas, até mesmo a tradução de um tratado de Dídimo, o Cego,
sobre o Espírito Santo para o latim (iniciada em Roma em 384 e completada em
Belém) revela uma tendência apologética contra os arianos e os pneumatomachoi.
O mesmo vale para sua versão para "De principiis", de Orígenes (ca.
399), cujo objetivo era sobrepujar a tradução incorreta de Rufino. Durante suas
passagens por Constantinopla e Antioquia, por exemplo, Jerônimo estava mais
preocupado com a controvérsia ariana e, especialmente, com o cisma em Antioquia
protagonizado por Melécio de Antioquia e Lúcifer Calaritano. Duas cartas ao Papa
Dâmaso trazem reclamações a ambos os partidos em disputa, os melecianos e os
paulinianos, que tentavam atraí-lo para a controvérsia sobre a relação entre
Deus Pai e Deus Filho na Trindade e, mais especificamente, à aplicação de termos
como ousia (substância) e hipóstase a esta relação. Na mesma época ou pouco
depois (373), ele compôs sua "Liber Contra Luciferianos", na qual ele
utiliza o diálogo de forma bastante inteligente para combater os princípios da
facção dos calaritanos, principalmente sua rejeição ao batismo realizado por
heréticos. Em Roma (por volta de 383), Jerônimo escreveu uma apaixonada
resposta aos ensinamentos de Helvídio defendendo a doutrina da virgindade
perpétua de Maria e da superioridade da castidade sobre o matrimônio. Um
adversário de natureza similar foi Joviniano, com quem debateu em 392
("Adversus Jovinianum" e a defesa desta obra endereçada ao seu amigo
Pamáquio - Ep. 48). Em 406, uma vez mais Jerônimo defendeu as práticas piedosas
cristãs e sua própria ética asceta contra o presbítero gaulês Vigilâncio, que
era contrário à veneração dos mártires e das relíquias, ao voto de pobreza e ao
celibato clerical. Em paralelo, participou ainda da controvérsia com João II de
Jerusalém e Rufino sobre a ortodoxia do origenismo. A este período pertencem
algumas de suas mais apaixonadas e completas obras: a "Contra Joannem
Hierosolymitanum" (398 ou 399); duas obras intimamente relacionadas,
"Apologiae contra Rufinum" (402) e sua "última palavra",
escrita poucos meses depois, "Liber tertius seu ultima responsio adversus
scripta Rufini". A última obra de Jerônimo foi sua "Dialogus contra
Pelagianos" (415), contra a heresia do pelagianismo. Jerônimo é o segundo
autor mais prolífico do cristianismo antigo, (depois de Santo Agostinho). Na
Igreja Católica, ele é reconhecido como Santo padroeiro dos tradutores, bibliotecários
e enciclopedistas.
38º
- São Sirício - 385 - 398
Em 391, os decretos
teodosianos proíbem a maioria dos rituais pagãos ainda praticados em Roma.
No Concílio de Hipona
em 393, na África do Norte, foi um dos primeiros a fazer uma lista formal dos
livros que seriam reconhecidos como canônicos.
No Concílio de Catargo
em 397, reiterou e confirmou a lista de livros canônicos.
Nascido
em Roma no ano 334, viveu aquele que seria o último século do que se pode
chamar de dificuldade do cristianismo no Império Romano. Houve momentos de
graves crises e momentos de relativa paz, mas a situação só apresentou melhores
substanciais quando a religião foi declarada oficial do império. A partir de
então, os cristãos tiveram que se preocupar especialmente com os problemas
internos da Igreja Católica, que não eram poucos, e com as relações políticas.
Sirício era um homem comum em Roma, casado e com filhos, mas fiel ao cristianismo
e próximo da Igreja Católica. Não se conhece exatamente o número de filhos que
tinha, mas conta-se que ele deixou sua esposa e seus filhos para se tornar Pontífice.
Com o falecimento do Papa Dâmaso I, Sirício foi escolhido por unanimidade no dia
17 de dezembro de 384 para ser seu sucessor. Havia naquele período uma
tentativa de autopromoção de Ursino, que se apresentava como antipapa, mas seu
prestígio era pequeno e sua iniciativa foi frustrada pela escolha do novo Papa.
O Papa Sirício assumiu a liderança da Igreja Católica quando tinha 50 anos de
idade. Durante 15 anos dedicou-se ativamente à administração da Igreja, sendo o
primeiro Papa a escrever decretos. Era um homem calmo e sereno, tinha humildade
suficiente para dialogar e evitar o confronto. Sua reputação causou natural
agrado a muitas pessoas e, desta forma, conseguiu converter muitos fiéis ao
cristianismo. Mas Sirício não abria mão de administrar a Igreja de acordo com
os preceitos religiosos que acreditava, atuando de maneira a reforçar a
doutrina e os dogmas, deixando legados para a história da instituição
religiosa. Mesmo tendo sido casado e com filhos, Sirício reforçava fortemente o
celibato para sacerdotes e diáconos e proibiu o casamento de membros do clero,
deixando, certamente, um reforço na tradição da Igreja que dura até hoje. Outro
ponto de destaque de sua administração foi o combate a heresias, condenou
várias das doutrinas que pregavam caminhos diferentes para o paraíso através do
cristianismo ou que reconheciam Jesus Cristo com essências diferenciadas
daquelas determinadas pela Igreja Católica. Ainda que tentasse resolver tudo
através do diálogo, e conseguisse em vários casos, não deixava de condenar
aquilo que ia contra os preceitos da Igreja. Foi através do assunto heresia que
o Papa Sirício se envolveu com a política dos reis no século IV. O Sumo
Pontífice se manifestou contrariamente à condenação do Bispo Prisciliano, da
Espanha, por heresia, o que o levaria à pena de morte. Criou-se um momento de
tensão com o Imperador Magno Máximo, já que o Papa declarou-se publicamente
contra o veredito e defendeu o povo contra a tirania imperial. Após seus 15 anos
de Pontificado, faleceu no dia 26 de novembro de 399, aos 65 anos de idade.
Hipona (hoje Annaba) foi uma antiga cidade situada onde hoje
se encontra o território da Argélia. No outono de 393, os Bispos do Norte da
África foram convocados à sede do episcopado, sob a liderança do Bispo local,
Valério, do Primaz de Cartago, Aurélio, e do então presbítero Agostinho, que
assumiria o Bispado três anos depois.
O Papa Sirício, embora diligente na administração da Igreja,
não participou deste sínodo regional. No entanto, as deliberações finais foram
expressamente submetidas a ele, nestes termos: “Ad confirmationem huius
canonis, Ecclesia trans mare consultatur” (Sobre a confirmação deste cânon, se
consultará a Igreja do outro lado do mar, ou seja, Roma). Sob seu pontificado e
ainda sobre a confirmação da lista dos livros inspirados, foram realizados
outros dois sínodos regionais, um em 394 e outro em 397. O Papa Sirício, por
sua vez, deu particular atenção à observância do cânon pelo clero.
38
. 1 - Santo Agostinho de Hipona
Aurélio
Agostinho de Hipona, Tagaste, 13 de novembro de 354 – Hipona, 28 de agosto de
430), conhecido universalmente como Santo Agostinho, foi um dos mais
importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo, cujas
obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e filosofia
ocidental. Foi Bispo de Hipona, uma cidade na província romana da África.
Escrevendo na era patrística, é amplamente considerado como o mais importante
dos Padres da Igreja no ocidente. Suas obras-primas são De Civitate Dei (A
Cidade de Deus) e "Confissões", ambas ainda muito estudadas
atualmente. De acordo com Jerônimo, seu contemporâneo, Agostinho
"restabeleceu a antiga fé". Em seus primeiros anos, Agostinho foi
muito influenciado pelo maniqueísmo e, logo depois, pelo neoplatonismo de
Plotino. Depois de se converter ao cristianismo e aceitar o batismo em 387,
desenvolveu uma abordagem original à filosofia e teologia, acomodando uma
variedade de métodos e perspectivas de uma maneira até então desconhecida.
Acreditando que a graça de Cristo era indispensável para a liberdade humana, ajudou a formular a doutrina do pecado original e deu contribuições semanais ao desenvolvimento da doutrina da guerra justa. Quando o Império Romano do Ocidente começou a ruir, Agostinho desenvolveu o conceito de "Igreja Católica" como uma "Cidade de Deus" espiritual (na obra homônima) distinta da cidade terrena e material de mesmo nome. "A Cidade de Deus" estava também intimamente ligada ao segmento da Igreja que aderiu ao conceito da Trindade como postulado pelo Concílio de Niceia e pelo Concílio de Constantinopla. Na Igreja Católica e na Comunhão Anglicana, Agostinho é venerado como um Santo, um proeminente Doutor da Igreja e o Patrono dos agostinianos. Sua festa é celebrada no dia de sua morte, 28 de agosto. Muitos protestantes, especialmente os calvinistas, consideram Agostinho como um dos "pais teológicos" da Reforma Protestante por causa de suas doutrinas sobre a salvação e graça divina. Na Igreja Ortodoxa, algumas de suas doutrinas não são aceitas, como a da cláusula Filioque, do pecado original e do monergismo. Ainda assim, apesar destas controvérsias, é considerado também um Santo, sendo comemorado como "Beato Agostinho" no dia 15 de junho. Outro sim, numerosos autores ortodoxos advogaram a favor de suas obras e de sua personalidade, como Genádio II de Constantinopla e Seraphim Rose. No verão de 386, depois de ouvir a história da vida de Santo Antão do Deserto por Placiano e seus amigos, Agostinho se converteu. Como ele próprio contou depois, a conversão foi incitada por uma voz infantil que ele ouviu pedindo-lhe para "tomar e ler", o que ele entendeu ser um comando divino para abrir a Bíblia, abri-la e ler a primeira coisa que encontrasse. Agostinho abriu na Epístola aos Romanos num trecho conhecido como "transformação dos crentes", os capítulos 12 ao 15, no qual Paulo delineia como o Evangelho transforma os crentes e seu comportamento. Ambrósio batizou Agostinho e seu filho Adeodato na Vigília da Páscoa de 387 em Mediolano. Um ano depois, em 388, Agostinho completou sua apologia "Sobre a Santidade da Igreja Católica". No mesmo ano, a família decidiu voltar para a África, mas Mônica morreu em Óstia, perto de Roma, quando se preparava para embarcar. Quando chegaram, passaram a viver aristocraticamente com os rendimentos auferidos pelas extensivas propriedades da família na região. Logo depois, Adeotato também faleceu e Agostinho, entristecido, vendeu todo seu patrimônio e deu o dinheiro aos pobres, mantendo apenas a casa da família, que ele converteu numa fundação monástica para si e alguns amigos. Em 391, foi ordenado sacerdote em Hipona e rapidamente tornou-se um pregador muito famoso - há mais de 350 sermões de Agostinho que se acredita serem autênticos - e um ardoroso adversário do maniqueísmo, sua religião da juventude. Em 395, foi nomeado Bispo coadjutor de Hipona e, logo depois, assumiu o trono episcopal, motivo pelo qual é conhecido como "Agostinho de Hipona", uma posição que manteve até sua morte em 430. Suas "Confissões" foram escritas entre 397 e 398, ao passo que "A Cidade de Deus" foi escrita para consolar os cristãos logo depois do traumático saque de Roma pelos visigodos em 410. Neste período, Agostinho trabalhou incansavelmente para converter o povo de Hipona. Apesar de ter deixado o mosteiro, continuou a levar uma vida asceta na residência episcopal. Para seus companheiros, deixou uma regula que fez com que, muito depois, fosse considerado como o "padroeiro do clero regular". Grande parte do que sabemos sobre os anos finais de Agostinho foi relatada por seu amigo Possídio, o Bispo de Calama (moderna Guelma, na Argélia), em sua obra Sancti Augustini Vita. Possídio admirava Agostinho como uma pessoa intelectualmente poderosa e de retórica arrebatadora que aproveitava todas as oportunidades para defender o cristianismo contra seus detratores. Ele preservou também os traços pessoais de Agostinho em detalhes, revelando um indivíduo que comia pouco, trabalhava muito, desprezava fofocas, evitava as tentações da carne e era muito prudente na administração financeira de sua sé. Na primavera de 430, os vândalos, uma tribo germânica convertida ao arianismo, invadiram a África romana e cercaram Hipona. Agostinho, porém, já estava irremediavelmente doente. De acordo com Possídio, um dos poucos milagres atribuídos a ele, a cura de um doente, deu-se durante o cerco. Ainda segundo ele, Agostinho passou seus últimos dias em oração e penitência, com salmos pendurados nas paredes de seu quarto para que pudesse lê-los. Antes de morrer, ordenou que a biblioteca da igreja de Hipona e todos os seus livros fossem cuidadosamente preservados, e faleceu finalmente em 28 de agosto de 430. Logo em seguida, os vândalos desistiram do cerco, mas retornaram não muito depois e incendiaram a cidade, destruindo tudo menos a catedral e a biblioteca de Agostinho. Agostinho foi canonizado por aclamação popular e foi depois reconhecido como Doutor da Igreja em 1298 pelo Papa Bonifácio VIII.
39º
- Santo Anastácio I - 399 - 401
Em 400, a tradução da
Bíblia em latim da Vulgata de Jerônimo é publicada, declarada autêntica pelo Concílio de Trento. Este permaneceu o texto padrão
no mundo católico até o Renascimento.
Anastácio,
nasceu em Roma. Combateu com energia a heresia donatista nas províncias no
Norte da África. Na base dessa heresia, estava o rigorismo defendido pelo Bispo
Donato (donde o nome “donatismo”), Bispo da Numídia, no Norte da África. Dentre
tantas ações, Papa Anastácio é mais conhecido pela controvérsia contra o
origenismo, isto é, ele foi totalmente contrário à posição defendida por alguns
partidários de Orígenes – um grande escritor eclesiástico – segundo a qual, as
almas seriam eternas e os demônios poderiam também se converter e alcançar a
salvação, tornando o inferno algo obsoleto. Praticamente o que se sabe sobre o
Papa Santo Anastácio vem do conteúdo das cartas de São Jerônimo. São Jerônimo
chegou a tecer grandes elogios à Anastácio. Num de seus discursos, Jerônimo
afirma que se o Papa morreu cedo, foi por respeito da Providência, pois assim o
Papa foi poupado de assistir ao trágico espetáculo da queda de Roma, por obra
do bárbaro Alarico. A história guarda também a memória da amizade que Papa Anastácio
nutria por São Paulino, Bispo de Nola: entre os dois houve uma intensa troca de
cartas. Eleito em 27 de novembro de 399, conciliou os cismas entre Roma e a
Igreja de Antioquia. Combateu tenazmente os seguidores de costumes imorais, que
estavam convencidos de que também na matéria se escondia a divindade. Deixou
como principal legado para a liturgia católica a obrigação dos sacerdotes
permanecerem de pé durante a leitura do Evangelho. Morreu em 19 de dezembro, em
Roma e foi sucedido por Santo Inocêncio I. Segundo o Martirológio Romano, pouco
depois de sua morte Roma foi tomada e saqueada pelos Godos, um povo germânico
originário das regiões meridionais da Escandinávia, que se distinguiam por
usarem escudos redondos e espadas curtas e obedecerem fielmente a seus reis.
40º
- Santo Inocêncio I – 401 - 417
O Papa
Inocêncio I liderou a Igreja Católica no início do século V e, em seu pontificado,
apoiou, o mais tarde designado São Jerônimo à terminar a revisão da tradução
latina da Bíblia, que ficou pronta em 404. Este foi um evento importante de seu
pontificado porque foi no começo daquele século que a Bíblia foi elaborada como
livro sagrado para os cristãos. Em função de sua defesa das prerrogativas da Sé
Apostólica, o Papa Inocêncio I tentou unificar a Igreja do Ocidente em torno da
práxis romana, estabelecendo, então, a observância dos ritos romanos, o
catálogo dos livros canônicos e as regras monásticas. Assim, reforçava a
supremacia da Igreja de Roma sobre as questões de doutrina e fé. Naturalmente,
combateu as heresias de sua época, com destaque para a condenação de Pelágio da
Britânia, um monge que foi acusado por seus adversários de negar o pecado
original, de negar que a graça de Deus é essencial para a salvação e de
defender que o homem é capaz de decidir o seu futuro. Por outro lado, foi
defensor de São João Crisóstomo, considerado um dos Doutores da Igreja
Católica. O Papa Inocêncio I também enfrentou problemas políticos durante seu
pontificado, como a invasão de Roma pelos visigodos. Sob a liderança de Alarico
I, o povo considerado bárbaro invadiu e saqueou a cidade de Roma. No entanto, a
Igreja conseguiu se defender. Por fim, no relacionamento benéfico com o
império, Inocêncio I conseguiu convencer o Imperador Flávio Honório a proibir
as lutas de gladiadores. Estes foram apenas dois eventos trágicos de seu
reinado, tendo em vista que as lutas de gladiadores eram muito populares na
época. Faleceu aos 67 anos de idade no dia 12 de março de 417, após 16 anos de
pontificado.
João
Crisóstomo (Antioquia, c. 347 – Comana Pôntica, 14 de setembro de 407) foi um Arcebispo
de Constantinopla e um dos mais importantes patronos do cristianismo primitivo.
É conhecido por suas poderosas homilias, por sua habilidade em oratória, por
sua denúncia dos abusos cometidos por líderes políticos e eclesiásticos de sua
época, por sua "Divina Liturgia" e por suas práticas ascetas. Chrysostomos,
em português Crisóstomo, significa "da boca de ouro" em língua grega,
que lhe foi dado por conta de sua lendária eloquência. O título apareceu pela
primeira vez na "Constituição" do Papa Vigílio em 553, sendo João
Crisóstomo considerado o maior pregador cristão da história.
41º
- São Zósimo – 417 - 418
Nascido
em Masuraca, na Grécia, no ano 370, Zósimo era filho de Abrão e acredita-se que
sua família era de origem judaica. Viveu uma época de acomodação para a Igreja
Católica, pois a religião já havia sido declarada a oficial no Império Romano
e, então, conquistava mais poder e influência na sociedade. Ainda assim,
opositores e perseguidores continuavam existindo e, eventualmente, causando
grandes perturbações. Zósimo seria o sucessor do longo pontificado do Papa
Inocêncio I. O Papa Zósimo assumiu a liderança da Igreja Católica no dia 18 de
março de 417, quando tinha 47 anos de idade. Seu pontificado foi breve, porém
muito atormentado. Durante pouco mais de um ano como Papa, Zósimo estabeleceu
regras rígidas para o catolicismo romano. Proibiu que filhos ilegítimos fossem
ordenados e reivindicou o poder da Igreja contra interferências alheias. O
curto pontificado de Zósimo teve muito trabalho enfrentando o pelagianismo, um
comportamento considerado herético na época por disseminar a ideia de que as
pessoas podiam se salvar sem as graças de Deus. Com o intuito de unir a Igreja,
o Papa Zósimo criou vicariatos no Ocidente, mas não obteve muito sucesso em
função da incompetência dos Bispos indicados. O Sumo Pontífice publicou uma
epístola decretando a superioridade da Sede Apostólica e condenando os que
apelavam ao poder civil. Por fim, declarou que somente os Bispos e o próprio Papa
tinham autoridade para deliberações sobre assuntos eclesiásticos. O Papa Zósimo
faleceu em Roma no dia 26 de dezembro de 418, aos 48 anos de idade. Foi um
breve pontificado que durou pouco mais de um ano, embora muito turbulento.
Porém Zósimo deixou uma situação instável com sua morte. Havia uma parte do
clero que estava insatisfeita e que decidiu eleger um antipapa de nome Eulálio
para se opor ao Papa legítimo. A existência de dois líderes criou dois grupos
de oposição que entraram em conflito. Bonifácio I chegou a ser expulso de Roma,
mas o comportamento do antipapa acabou desagradando o Imperador Romano Honório,
que interferiu diretamente na resolução do cisma dando ordem e condição para
que o Papa Bonifácio I assumisse seu posto legítimo. Todavia, a situação abriu
precedente para um longo período de ingerência civil na escolha do Papa.
42º
- São Bonifácio I - 418 – 422
Nascido
em Roma no ano 375, Bonifácio era filho de um presbítero chamado Jocundo. Sua
vida foi sempre atrelada à religião, o que resultou em sua ordenação pelo Papa
Damásio I. Bonifácio esteve sempre muito próximo ao alto poder da Igreja
Católica, desde sua ordenação. Mais tarde, ele serviu ao Papa Inocêncio I em
Constantinopla, esboçando um caminho para o sumo pontificado através de
importantes ligações políticas no interior da Igreja. Quando o Papa Zósimo
faleceu, no ano 418, Bonifácio tinha 43 e foi eleito para ser o sucessor no dia
28 de dezembro do mesmo ano. Não havia, contudo, um consenso em torno de
Bonifácio para que fosse o líder da religião. Em desagrado com sua eleição, um
grupo de opositores preferiu negar sua autoridade e escolher um antipapa
chamado Eulálio. O Papa Bonifácio I iniciou seu papado com sérios problemas
administrativos no seio da Igreja Católica. Teve de se impor e combater a
figura do antipapa existente, superando os opositores de sua eleição. Defendeu
a unidade eclesial e a primazia da Sé Romana. Para sua sorte, o antipapa
Eulálio viveu pouco tempo como antagonista. Todavia, os dois papas coexistentes
foram aconselhados a deixar Roma até que um concelho tomasse a decisão acerca
da divisão. O concelho ratificou a eleição de Bonifácio e deu a Eulálio um
bispado em Campânia, encerrando a questão em 419. Poucos anos depois, em 423,
Eulálio faleceu. O papado de Bonifácio I foi profundamente marcado pela interferência
do poder civil nas decisões da instituição religiosa, pois foi o prefeito de
Roma que decidiu a disputa pelo sumo Pontificado. Esta situação impactou o
restante do exercício de seu cargo e o Papa teve dificuldades para lidar com
vários arcebispos e para administrar a Igreja Católica no continente africano.
Ainda assim, Bonifácio I conseguiu contornar a situação e atuar de tal forma
que lhe garantisse o respeito e a representatividade como autoridade máxima da
Igreja. Em sua alçada, renovou a legislação religiosa feita pelo Papa Sotero,
mas manteve a proibição de escravos se tornaram clérigos. O Papa Bonifácio I
teve um papado curto que durou apenas quatro anos. Faleceu no dia quatro de setembro
de 422.
43º
- São Celestino I - 422 – 432
Convocou o Concílio de
Éfeso que instituiu a segunda parte da Ave-Maria, ou seja "Santa Maria Mãe
de Deus".
Em 431, o Concílio
Ecumênico de Éfeso declara que Jesus existia como Homem e Deus simultaneamente,
esclarecendo seu status na Santíssima Trindade. O significado do Credo Niceno
também é declarado um texto sagrado e permanente da igreja.
Nascido
em Campânia no ano 380, Celestino era filho de Priscus e viveu sua infância em
Roma. Há muito pouca informação sobre sua vida antes de se tornar Papa. Porém
uma das coisas mais marcantes sobre sua vida antes de se tornar um importante
religioso é que teria vivido durante um tempo em Milão na Arquidiocese de
Mediolanum com aquele que viria a ser conhecido como Santo Ambrósio, um dos
padres latinos e doutores da igreja. Após sua estadia em Milão, Celestino
envolveu-se profundamente com o mundo religioso do catolicismo. Com o
falecimento do Papa Bonifácio I, ele foi eleito para o pontificado seguinte no
dia dez de setembro de 422. Como Papa, assumiu o nome de Celestino I. Os anos
iniciais em que esteve no posto máximo da Igreja Católica são pouco conhecidos.
Além disso, algumas das atitudes mais importantes aconteceram realmente no
final de seu papado. Celestino I permaneceu por praticamente dez anos à frente
da Igreja Católica. Na ocasião do Primeiro Concílio de Éfeso, em 431, ele não
compareceu. Todavia enviou delegados para condenar os nestorianos, os
seguidores de uma doutrina cristológica proposta pelo Patriarca de
Constantinopla, Nestório, enfatizando a desunião entre as naturezas humana e
divina de Jesus. Como cristão ortodoxo, Celestino I condenou também os
pelagianos, seguidores de uma teologia cristã que sustentava que todo homem é
responsável por sua completa salvação, ou seja, não necessitando da graça
divina para isso. Celestino enviou representantes para a Irlanda com a função
ampliar a obra missionária na região. Em Roma, Celestino I confrontou-se
fortemente com os novacianos, os seguidores de um movimento do cristianismo
primitivo que se recusavam a readmitir os cristãos que tinham negado sua fé e
realizado rituais com sacrifícios aos deuses pagãos durante a perseguição aos
cristãos empreendida pelo imperador Décio no ano 250. Celestino aprisionou o Bispo
dos novacianos e proibiu seus cultos. Celestino I foi um Papa ortodoxo que
combateu qualquer ideia questionadora à fé como estabelecida pela Igreja
Católica Romana. Entrou em choque com grupos diversos e os derrotou ou os
oprimiu. Aos 52 anos de idade, faleceu no dia 27 de julho de 432 e foi enterrado
no cemitério de Santa Priscila. Mais tarde, seus restos mortais foram
transferidos para a Basílica de Santa Prassede, onde se encontram até hoje. Foi
o primeiro Papa a citar o bastão pastoral e é considerado Santo pela Igreja
Católica.
Santo
Ambrósio, Aurélio Ambrósio (c. 340 – Mediolano, 4 de abril de 397), foi um Arcebispo
de Mediolano (moderna Milão) que se tornou um dos mais influentes membros do
clero no século IV. Foi prefeito consular da Ligúria e Emília, cuja capital era
Mediolano, antes de tornar-se Bispo da cidade por aclamação popular em 374.
Ambrósio era um fervoroso adversário do arianismo. Tradicionalmente atribui-se
a Ambrósio a promoção do canto antifonal, um estilo no qual um lado do coro
responde de forma alternada ao canto do outro, e também a composição do Veni
redemptor gentium, um hino natalino. Ambrósio é um dos quatro doutores da
Igreja originais e é notável por sua influência sobre o pensamento de Santo
Agostinho.
44º
- São Xisto III - 432 – 440
Pouco se
sabe sobre as origens de São Xisto III, antes de ele se tornar Papa. Sabe-se
que uma das grandes marcas de seu pontificado foi a amizade com Santo Agostinho
e a luta contra algumas heresias que ameaçavam o futuro da Igreja. Nisso, ele
teve papel determinante. A princípio, antes de ser Papa, São Xisto assumiu uma
posição de neutralidade a respeito da “doutrina” dos pelagianos e de uma
controvérsia sobre isso que apareceu no sul da França. Porém, foi sabiamente
advertido pelo Papa Zózimo e, com a ajuda de Santo agostinho, reconheceu seu
erro. Agostinho, com efeito, combatia com toda a força a heresia pelagiana. Os
dois mantinham constante contato através de cartas. A doutrina pelagiana,
criada por um indivíduo de sobrenome Pelágio, negava a realidade do pecado
original, bem como a fragilidade e a corrupção inerente à natureza humana. A
doutrina defendia também a ideia de que o homem, por sua própria força, tinha a
capacidade para não pecar, “não precisando”, assim, da graça de Deus. Logo que
assumiu, começou a agir com muita firmeza e austeridade com todos aqueles que
se desviavam da verdadeira Doutrina Católica. Santo Agostinho o ajudou no
discernimento e na maneira de agir com relação às heresias. Assim, São Xisto
III conseguiu acabar definitivamente com a doutrina pelagiana dentro da Igreja.
São Xisto III também soube conduzir com prudência e sabedoria ações
conciliadoras em relação ao nestorianismo, outra ideologia criada por Nestório.
Esta, continha desvios acerca do verdadeiro papel da Virgem Maria na história
da Salvação. O Papa Xisto III acabou com a controvérsia que estava acontecendo
entre os padres João de Antioquia e outro chamado Cirilo, que era patriarca da
cidade de Constantinopla. O Papa Xisto III demonstrou ainda forte autoridade
papal numa disputa com um Patriarca chamado Proclo. O imperador romano do
Oriente queria que a região da lliría passasse para o governo de
Constantinopla. Para tanto, contava com o auxílio de Procolo. Xisto III
escreveu muito e trabalhou para que a região fosse mantida sob o governo romano
do Ocidente. E conseguiu. No Concílio de Éfeso, ocorrido em 431, a Virgem Maria
foi proclamada Mãe de Deus. Por isso, o Papa Xisto III, depois de eleito,
ampliou e enriqueceu uma Basílica que era dedicada à Santa Mãe das Neves. Esta,
ficava no alto do monte Esquilino. Mais tarde ela passou a ser chamada de
Basílica de Santa Maria Maior. O notável é que esta igreja é a primeira igreja
do Ocidente dedicada a Nossa Senhora. Assim, os fiéis católicos receberam um
maravilhoso monumento dedicado ao culto da Virgem Maria. Havia na Palestina
algumas tábuas guardadas e veneradas como tendo pertencido à manjedoura que
acolheu o salvador quando ele nasceu em Belém. O Papa Xisto III pediu que essas
relíquias fossem trasladadas para a mesma Igreja em Roma. Assim, ele deu origem
à tradição do presépio que, mais tarde, São Francisco aprimorou. Xisto III
também Introduziu na cultura ocidental a Missa do Galo, que passou a ser
celebrada na noite do Natal. Esta missa já era celebrada na cidade de
Jerusalém, na Terra Santa, desde os primórdios da Igreja. Durante todo o
pontificado, o Papa Xisto III realizou uma enorme atividade na área da
construção. Construiu inúmeras igrejas e reformou outras tantas. Dentre elas se
destaca a esplendorosa Basílica de São Lourenço, situada em Lucina, na Itália. Faleceu
no dia 19 de agosto do ano 440. Antes de morrer, indicou aquele que, segundo o
seu coração, deveria ser seu sucessor: Leão Magno. Este, de fato, o sucedeu e
se tornou um dos Papas mais importantes para a Igreja dos primeiros séculos. A
Igreja instituiu sua festa no dia 28 de março.
45º
- São Leão I - 440 – 461
8 de outubro de 451:
Conselho Ecumênico de Calcedônia é aberto. 1º de novembro de 451: O Concílio de
Calcedônia, o quarto Concílio Ecumênico, é encerrado. É emitido o Credo
Calcedônia, que reafirma Jesus como verdadeiro Deus e verdadeiro homem e o
dogma da Virgem Maria como a Mãe de Deus. O conselho excomunga Eutiques,
levando ao cisma com a Ortodoxia Oriental.
Leão I,
dito o Grande ou São Leão Magno, foi Papa entre 29 de setembro de 440 e sua morte
em 10 de novembro de 461. Um aristocrata de origem italiana, Leão foi o
primeiro a receber o título de "o Grande". Ele é, provavelmente, mais
famoso por ter ido ao encontro de Átila, o Huno, em 452 para persuadi-lo a
desistir de sua invasão da Itália. Ele é também considerado um Doutor da
Igreja, lembrado teologicamente por seu "Tomo de Leão", um documento
que foi fundamental durante os debates do Concílio de Calcedônia. Este concílio
ecumênico, o quarto, tratou principalmente de questões cristológicas e elucidou
a definição considerada ortodoxa de que Cristo é uma união hipostática de duas
naturezas: humana e divina, unidas em uma única pessoa, "sem confusão e
nem divisão" (diofisismo). A ele se seguiu um grande cisma entre os
diofisistas e as igrejas monofisistas e miafisistas. De acordo com o
"Liber Pontificalis", Leão era nativo da Toscana. Em 431, já como diácono,
ocupou uma posição suficientemente importante na visão do Patriarca Cirilo de
Alexandria a ponto deste escrever para ele para pedir a intervenção de Roma nas
reivindicações do também Patriarca Juvenal de Jerusalém sobre a Palestina - a
menos que esta carta tenha sido endereçada ao Papa Celestino I e não a Leão.
Mais ou menos na mesma época, João Cassiano dedicou-lhe um tratado contra
Nestório escrito a seu pedido. Mas nada mostra mais a confiança que lhe era
dedicada do que ele ter sido escolhido pelo imperador para mediar a disputa
entre Aécio e o cônsul Cecina Décio Aginácio Albino, as duas maiores
autoridades romanas na Gália. Neste ínterim, o Papa Sisto III morreu (11 de
agosto de 440) e Leão foi unanimemente eleito pelo povo para sucedê-lo. Em 29
de setembro, ele iniciou um pontificado que seria marcante para a centralização
do governo da Igreja Romana.
Leão foi
muito importante para a centralização da autoridade espiritual na Igreja e na
reafirmação da autoridade Papal. O bispo de Roma já era visto na época como o
principal patriarca da igreja ocidental, mas muito da autoridade Papal estava,
na época, delegada aos Bispos de cada diocese. Não sem enfrentar séria
oposição, Leão conseguiu reafirmar sua autoridade na Gália, por exemplo. Quando
Pátroclo de Arles, havia recebido do Papa Zósimo o reconhecimento como um
primaz subordinado sobre toda a Igreja da Gália, um direito que foi fortemente
reafirmado por seu sucessor, Hilário de Arles. Um apelo de Celidônio de
Besançon deu a Leão a oportunidade de reafirmar sua autoridade sobre Hilário,
que teimosamente se defendeu em Roma contra a autoridade judicial de Leão.
Sentindo que a primazia de sua sé estava ameaçada, Leão apelou aos poderes
seculares em busca de ajuda e conseguiu que o imperador Valentiniano III
emitisse o famoso decreto de 6 de junho de 445 que reconheceu a primazia do Bispo
de Roma baseando-se nos méritos de São Pedro, na dignidade da cidade e na
legislação do Primeiro Concílio de Niceia. O decreto também serviu de base para
a extradição, pelas mãos dos governadores provinciais, de qualquer Bispo que se
recusasse a atender os chamados de Roma. Depois do decreto, Hilário se submeteu
ao Papa e, durante o governo de seu sucessor, Ravênio, Leão dividiu a Arquidiocese
entre Arles e Vienne (450). Para defender sua posição, além de recorrer a
passagens bíblicas, Leão também descreve sua própria relação pessoal com Pedro
em termos que derivam do direito romano. Ele se considera ao mesmo tempo um
herdeiro (ainda que indigno) e um deputado (vicarius) de Pedro, recebedor de
sua autoridade apostólica e, sendo, assim, está obrigado a seguir seu exemplo.
Por um lado, Pedro se posta à sua frente como uma obrigação de como Leão
deveria exercer seu cargo; por outro, Leão, como o Bispo de Roma, representa o
Apóstolo, cuja autoridade ele detém. Cristo, porém, sempre aparece como fonte
de toda autoridade e de toda a graça e Leão responde a ele sobre como exerce
seus deveres. Pedro é, portanto, um exemplo para a relação de Leão com Cristo.
Assim, o cargo de Bispo de Roma, com sua importância universal, estaria
enraizado na relação especial entre Cristo e São Pedro, uma relação que, não se
pode repetir; portanto, Leão depende da mediação de Pedro, de seu auxílio e
exemplo para conseguir realizar adequadamente seu papel e exercer sua
autoridade como Bispo de Roma, tanto na cidade quanto além dela. Em 445, Leão
entrou em conflito com Dióscoro de Alexandria, sucessor de São Cirilo como Patriarca
de Alexandria, insistindo que a prática eclesiástica de sua sé deveria seguir à
de Roma argumentando que São Marcos, o discípulo de São Pedro e fundador da
Igreja de Alexandria, não poderia ter seguido nenhuma outra tradição que não à do
primeiro entre os Apóstolos. Na África, o fato da província da Mauritânia
Cesariense ter se mantido parte do império e da fé nicena durante a invasão dos
vândalos—o que a deixou predisposta a receber ajuda externa por causa de seu
isolamento—deu a Leão uma oportunidade de afirmar sua autoridade na região, o
que ele fez decisivamente, mesmo enfrentando questionamentos. Sobre a Itália,
numa carta aos Bispos da Campânia, Piceno e Túscia (443), exigiu de todos a
observância de todos os seus preceitos e de seus predecessores; ele também admoestou
bruscamente os Bispos da Sicília (447) por terem se desviado dos costumes
romanos sobre o batismo, exigindo que eles enviassem delegados a um sínodo em
Roma para que aprendessem a forma apropriada. Sobre a Grécia, em decorrência da
antiga divisão entre as porções ocidental e oriental do Império Romano, a
Ilíria estava eclesiasticamente sujeita à Roma. O Papa Inocêncio I havia
estabelecido o Arcebispo de Tessalônica como seu vigário para conter a
crescente influência do Patriarca de Constantinopla na região. Numa carta de c.
446 a um dos Bispos da cidade, Anastácio, Leão admoestou-o pela forma como ele
tratou um dos Arcebispos sujeitos a ele; depois de dar várias instruções sobre
as funções encarregadas a ele e depois de sublinhar que certos poderes estavam
reservados para o Papa, Leão escreveu: "O cuidado sobre a Igreja Universal
deve convergir para o trono único de Pedro e nada, em lugar nenhum, deve se
separar de sua cabeça".
No Segundo Concílio de Éfeso, em
449, os representantes de Leão entregaram seu famoso "Tomo"
("carta" em latim), uma afirmação da fé da Igreja romana, endereçado
ao arcebispo Flaviano de Constantinopla que repete, de forma muito aderente às
teorias de Agostinho, as fórmulas da cristologia ocidental. O concílio não
apenas não leu a carta e ignorou os protestos dos legados de Leão, como depôs
Flaviano e Eusébio de Dorileia, que apelaram para Roma. Parcialmente por conta
disto, este concílio jamais foi reconhecido como ecumênico e terminou depois
sendo repudiado no Concílio de Calcedônia. Depois disso, Leão exigiu do
imperador que um concílio ecumênico fosse realizado na Itália e, enquanto isso
não acontecia, num sínodo em Roma em outubro do mesmo, repudiou todas as
decisões do já infame "Latrocínio de Éfeso". Sem fazer um exame
crítico de seus decretos dogmáticos, ele exigiu em suas cartas ao imperador e
outras personalidades a deposição de Eutiques, acusando-o de ser maniqueísta e
docético. Com a morte de Teodósio II em 450 e da mudança brusca que se seguiu
no cenário político oriental, Anatólio de Constantinopla, o Patriarca seguinte,
seguiu as recomendações de Leão e seu "Tomo" foi lido e reconhecido
em toda parte. Depois disso, Leão não queria mais realizar um concílio,
especialmente por que ele dificilmente se realizaria na Itália. Ao invés disso,
ele foi convocado para uma reunião em Niceia, que foi depois mudada para
Calcedônia.
Uma
ocasião perfeita para ampliar a autoridade de Roma no oriente se mostrou quando
a controvérsia cristológica sobre as ideias de Eutiques se reacendeu. No início
do conflito, apelou a Leão e se refugiou nele em sua condenação ao Arcebispo de
Constantinopla Flaviano. Mas, ao receber um relato mais completo do próprio
Flaviano, Leão passou a apoiá-lo decisivamente. O Tomo foi apresentado
novamente em Calcedônia como uma solução proposta para a controvérsia
cristológica que ainda grassava tanto no oriente quanto no ocidente. Desta vez
ele foi lido. Os atos do concílio relatam que "Depois da leitura da citada
epístola, os mais reverenciados Bispos gritaram: 'Esta é a fé dos padres, esta
é a fé dos Apóstolos. Assim cremos todos, assim creem os ortodoxos. Anátema
àquele não acredita. Pedro falou conosco através de Leão. Assim ensinaram os Apóstolos.
Piedosamente e verdadeiramente Leão ensinou, assim ensinou Cirilo. Eterna seja
a memória de Cirilo. Leão e Cirilo ensinaram o mesmo, anátema àquele que não
acredita nisso. Esta é a verdadeira fé. Aqueles entre nós que são ortodoxos
acreditam nisso. Esta é a fé dos padres. Porque estas coisas não foram lidas em
Éfeso? Estas são as coisas que Dióscoro escondeu". Leão defendia a
verdadeira divindade e a verdadeira humanidade da pessoa única e não dividida
de Cristo (a chamada união hipostática) contra heresias que defendiam variações
desta fórmula. Ele abordou o tema em muitos de seus sermões e, através dos
anos, desenvolveu ainda mais seus conceitos originais. Uma ideia central para
Leão, à volta da qual ele aprofunda e explica sua teologia, é a presença de
Cristo na Igreja, mais especificamente na doutrina e na pregação da fé
(Escrituras, tradição e suas interpretações), na liturgia (sacramentos e
celebrações), na vida de cada fiel e da Igreja organizada, especialmente quando
reunida em concílio. Apesar da aceitação do "Tomo", Leão recusou-se
firmemente a confirmar as decisões disciplinares do concílio, que pareciam
permitir que Constantinopla adquirisse, na prática, uma autoridade similar à de
Roma, principalmente ao considerar a importância civil de uma cidade como fator
determinante para sua posição eclesiástica; mas ele apoiou fortemente seus
decretos dogmáticos, especialmente quando, depois da ascensão do imperador
bizantino Leão I, o Trácio (457), uma possível acomodação com Eutiques parecia
possível. Leão conseguiu ainda fazer com que um Patriarca imperial, Timóteo III
de Alexandria, fosse eleito como Patriarca de Alexandria no lugar do copta
Timóteo II Eluro depois do assassinato do ortodoxo grego Protério de Alexandria.
Apesar
de ter sido derrotado na Batalha dos Campos Cataláunicos, em 451, Átila invadiu
a Itália romana no ano seguinte, saqueando importantes cidades (como Aquileia)
enquanto marchava para Roma. Ele então exigiu que a irmã do imperador romano do
ocidente, Valentiniano III, fosse enviada até ele com um rico dote. Para
responder à ameaça, Valentiniano enviou três emissários para negociar com o
invasor: Genádio Avieno, um dos cônsules de 450, Mêmio Emílio Trigécio, um ex
prefeito urbano, e Leão. A maior parte dos historiadores celebra as ações de
Leão, dando-lhe todo o crédito pelo sucesso da embaixada. De acordo com
Próspero da Aquitânia, Átila teria ficado tão impressionado com Leão que
recuou. Jordanes afirma que Átila temia o mesmo destino do rei visigótico
Alarico I, que morreu logo depois de saquear Roma em 410. Paulo, o Diácono, no
final do século VIII, relata que um homem enorme, vestido em trajes sacerdotais
e armado com uma espada visível apenas para Átila, ameaçou ele e seu exército
com a morte durante a conversa com Leão, o que compeliu o huno a atender o
pedido do Papa. Infelizmente, a intercessão de Leão não conseguiu evitar que
Roma fosse saqueada pelos vândalos em 455, mas as mortes e a devastação da
cidade foram diminuídas por sua influência. Leão morreu em 10 de novembro de
461.
A
importância do Pontificado de Leão está em sua afirmação da jurisdição
universal do Bispo de Roma, expressada em suas epístolas e em suas outras 96
orações sobreviventes. Esta tese é conhecida geralmente como a doutrina da
primazia petrina: de acordo com Leão, diversos padres da Igreja e algumas
interpretações das Escrituras, a Igreja foi construída a partir de Pedro, de
acordo com a chamada "Confissão de Pedro" (Mateus 16:16–19). Leão foi
proclamado Doutor da Igreja por Bento XIV em 1754 (Doctor Ecclesiae). As cartas
e sermões de Leão refletem os muitos aspectos de sua carreira e personalidade e
são fontes históricas de valor inestimável. Sua prosa rítmica, chamada de
cursus leonicus, influenciou a linguagem eclesiástica por séculos. A Igreja
Católica Apostólica Romana define 10 de novembro como a data da festa de São
Leão e ela já aparece no Martyrologium Hieronymianum e no
"Calendário" de São Vilibrordo do século VIII como dia de sua morte e
admissão no céu. Sua festa já foi celebrada em Roma no dia 28 de junho, o
aniversário do traslado de suas relíquias para a Basílica de São Pedro, mas, no
século XII, a festa do rito galicano, celebrada em 11 de abril, entrou para o
Calendário Geral Romano, que manteve a data até ser abolido em 1969. Algumas
denominações vetero-católicas continuam a observar estas datas. As igrejas
católicas orientais e também as igrejas ortodoxas celebram São Leão em 18 de
fevereiro. Leão foi originalmente sepultado num monumento próprio. Porém,
alguns anos depois de sua morte, suas relíquias foram colocadas num túmulo que
continha também as relíquias dos quatro primeiros papas chamados
"Leão". No século XVIII, as relíquias de Leão Magno foram separadas
das dos demais e ganharam uma capela separada.
46º
- Santo Hilário - 461 – 468
Nascido
na Sardenha, Itália, em 415, Hilário inclinou-se à vida religiosa. Não se
conhece muito sobre sua vida antes de sua carreira eclesiástica, mas como
membro da Igreja foi um religioso de destaque. Hilário foi o sucessor do Papa
Leão I, que faleceu em 461. No dia 19 de novembro do mesmo ano, o conclave
decidiu por Hilário para ser o novo Supremo Pontífice. Ainda antes de se tornar
Papa, Hilário era muito próximo de Leão I e seu homem de confiança, chegou,
inclusive, a representar o próprio Papa no Concílio de Éfeso demonstrando
oposição ao monofisismo e lutando pelos direitos da Igreja. O Papa Hilário deu
continuidade às suas posições políticas e de seu antecessor durante seu papado.
Confirmou três concílios e defendeu a supremacia da Igreja Católica em um
momento que Bispos da Espanha e da Gália semeavam tendências autônomas. Como
parte desse embate, criou um vicariato na Espanha que o ajudou a demonstrar a
supremacia da Igreja e também formar mais religiosos. Neste sentido, foram
criados vários conventos em Roma. O Papa Hilário acreditava na supremacia e no
poder cultural da Igreja Católica. Acreditava que era preciso formar religiosos
e formar com qualidade. Ele estabeleceu que a formação do sacerdote deveria ser
dotada de profunda cultura e não permitiu mais que Pontífices e Bispos
escolhessem seus sucessores. Hilário foi fundamental para a formação do aparato
cultural da Igreja Católica, interferiu na organização litúrgica e contribuiu
com o patrimônio da Basílica de Latrão. Foi responsável pela formulação da
dupla natureza de Jesus Cristo quando escreveu que este nasceu de Deus e se fez
homem ao assumir um corpo. Severo e religioso convicto do poder cultural do
catolicismo, Hilário exerceu seu papado durante quase sete anos. Faleceu no dia
29 de fevereiro de 468 em Roma e foi enterrado na igreja São Lourenço fora dos
Muros.
47º
- São Simplício - 468 - 483
Nascido
em Tivoli, na Itália, no ano 430, Simplício era um amante das artes, homem
muito dedicado à vida religiosa e influente nos bastidores da Igreja. Com o
falecimento do Papa Hilário em 468, foi eleito para o posto de Sumo Pontífice
no dia três de abril do mesmo ano, quando tinha 38 anos de idade. O pontificado
de Simplício enfrentou muito mais problemas internos na Igreja do que externos.
Em sua época, o cristianismo já havia se tornado a religião oficial do Império
Romano e desfrutava de notória influência na política. Desde o imperador
Constantino I, a Igreja Católica gozava de paz, as perseguições aos cristãos
haviam cessado e os monumentos do catolicismo proliferavam, assim como seu
poder. Toda essa situação transferiu para o interior da Igreja alguns embates.
Núcleos eclesiásticos passaram a disputar o poder no interior da instituição
religiosa, causando conflitos e rompimentos. O Papa Simplício teve que conviver
com um grande cisma da Igreja Católica que resultaria na fundação das igrejas
da Armênia, da Síria e do Egito. O cristianismo fragmentava-se em diferentes
instituições. O papado de Simplício apresentou um relacionamento muito tenso
também com a igreja de Constantinopla. O Papa tentou interver em algumas
situações e nomeações da igreja no Oriente, o que só ampliou o descontentamento
e a instabilidade na relação entre as partes. Crise foi sem dúvida o teor do
papado de Simplício. Além do cisma, da fundação de novas igrejas e da
divergência com a igreja do Oriente, o oitavo ano de atuação do Papa vivenciou
a queda do Império Romano do Ocidente, um desastre para um dos maiores impérios
da história. Apesar de todos esses problemas que são administrativos, mas em
diferentes esferas, o Papa Simplício não deixou de praticar atos de caridade e
generosidade. As complicações que se abateram sobre a Igreja Católica e o
Império Romano gerou uma legião de miseráveis até em Constantinopla. Um grande
número de pessoas pobres e desamparadas que necessitavam de auxílio para
sobreviver. O Papa Simplício encarregou-se de organizar e distribuir esmolas
aos peregrinos e às novas igrejas, atendendo com caridade os desvalidos. Foi
atuante no serviço social e também na atividade pastoral da Igreja Católica. Veio
a faleceu aos 53 anos de idade no dia dez de março de 483, após um papado de
quase 13 anos. Foi enterrado na Basílica de São Pedro.
FIM
DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE - ANO 476
48º
- São Félix III - 483 - 492
Nascido
na Itália no ano 440, a vida religiosa de Félix antes de se tornar Papa não é
muito conhecida. Sabe-se apenas que era proveniente de uma família nobre de
nome Anicia composta por senadores de Roma, ou seja, imagina-se que tivesse
respaldo de grande influência nas questões políticas e religiosas. No entanto,
deve ter conseguido expandir suas influências sabiamente, pois foi indicado
para o posto de Papa por Odoacro, rei dos hérulos com atuação fundamental na
queda do Império Romano do Ocidente. Com o falecimento do Papa Simplício, em
483, foi eleito o Papa Félix III no dia 13 de março do mesmo ano. Seu papado
dedicou-se a estabelecer a paz no Oriente e combater heresias do cristianismo
na época. A luta pela purificação da doutrina envolveu um combate com Eutiques,
um monge de Constantinopla que fundamentava o monofisismo. Seus seguidores
acreditavam que Jesus Cristo era dotado de apenas uma natureza, a divina. A
ideia se contrapunha ao que pregava a Igreja do Ocidente, de que Jesus Cristo
era dotado de uma natureza divina e de uma humana, e por isso era considerada
herética. Esta tensão realmente incomodava os cristãos romanos da época, que
viviam em sérias disputas pela imposição de sua doutrina. O debate criou sérios
problemas com o Patriarcado de Constantinopla. As querelas doutrinárias com o
Oriente começaram antes ainda do papado de Félix III. Um ano antes de sua
eleição, o imperador do Oriente, Zenão, promulgou um documento que parecia
defender ou favorecer o monofisismo. No entanto, a Igreja Católica romana havia
condenado tal doutrina no Concílio de Calcedônia realizado em 451. Quando
assumiu o posto de Sumo Pontífice, Félix III enviou embaixadores a
Constantinopla para discutir com o patriarca os motivos e os fins do documento.
Para insatisfação do Papa, o Patriarca Acácio se recusou a abrir mão do que
havia ratificado no documento e supostamente ainda tentou corromper os
embaixadores. A reação foi enfática, Acácio foi excomungado, criando, assim,
sérias desavenças entre Roma e Constantinopla. A confusão que se criou em torno
de disputas doutrinárias gerou um cisma e um ambiente de tensão com a Igreja
oriental. O imperador Zenão convenceu o rei dos Ostrogodos, Teodorico, a lutar
contra Odoacro, amigo de Félix e quem o havia indicado para Papa. O embate
resultou na vitória de Teodorico, que ficou com o título de rei da Itália.
Nesse contexto, contudo, nem Zenão nem o Papa chegaram a vivenciar seu
desfecho, ambos faleceram em 491. O papado de oito anos de Félix III chegou ao
fim no dia primeiro de março de 491. O Papa está atrelado a algumas
curiosidades. Por exemplo, Félix III teve filhos e um deles seria pai do
conhecido São Gregório Magno. Outra curiosidade é que Félix III é o único Papa
enterrado na Basílica de São Paulo Extramuros.
49º
- São Gelásio I - 492 - 496
Nascido
na África no ano 410, Gelásio era filho de um humilde ferreiro que sempre viveu
na pobreza e amou os pobres. Foi um homem singular em sua época. Na ocasião, a
Igreja Católica já havia conquistado grande espaço e influência no Império
Romano. A religião já havia se tornado a oficial entre os romanos e a Bíblia já
havia sido definida quanto ao seu conteúdo. Gelásio traçou um caminho religioso
por uma longa vida. Com o falecimento do Papa Félix III, Gelásio foi eleito no
dia primeiro de março de 492 para ser seu sucessor, já aos 82 anos de idade. O
Papa Gelásio I foi singular, inicialmente, pela idade que tinha quando assumiu
o papado. E em segundo lugar porque era de origem africana. Até hoje, são raros
os Papas não europeus. Como líder da Igreja Católica foi combatente de
doutrinas que considerava heréticas. Era contrário ao pelagianismo, ao
maniqueísmo e ao arianismo. A primeira delas era uma doutrina teológica cristã
atribuída a Pelágio da Bretanha que sustentava que todo homem era responsável
pela sua própria salvação, não necessitando da graça divina. Ideia que feria
diretamente os interesses da Igreja Católica. O maniqueísmo era uma filosofia
sincrética e dualista fundada por Maniqueu que dividia o mundo entre bom e mau.
O bom era o espírito e o mau era a matéria. A ideologia conquistou muitos
seguidores e, por isso, foi considerada herética pela Igreja Católica. Por fim,
o arianismo era uma visão cristológica sustentada pelos seguidores de Arius que
negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, ou seja, negava
que os dois possuíssem a mesma essência. O Papa Gelásio I foi o primeiro a
efetuar a distinção entre poder temporal dos imperadores e poder espiritual dos
Papas, colocando os Bispos em posição superior. Assim, um Papa não poderia ser
julgado por ninguém. A partir dele surgiu uma norma eclesiástica que durou até
a Idade Moderna chamada de Infabilidade Papal. Também desenvolveu um grande
trabalho de renovação litúrgica. Organizou e presidiu o sínodo de 494, no qual
saiu aprovada a grande renovação litúrgica da Igreja. Assim, ele instituiu o
Sacramentário Gelasiano, para uniformizar as funções e ritos das várias
igrejas. Trata-se do decreto que, levando o seu nome, contém cerca de cinquenta
prefácios litúrgicos, uma coletânea de orações para recitar durante a missa.
Atualmente, esse e os outros decretos que assinou fazem parte do acervo do
Museu Britânico. O Papa Gelásio I também ratificou os livros canônicos e
apócrifos aprovados pela Igreja Católica. O papado de Gelásio I durou pouco
mais de quatro anos, e faleceu no dia 21 de novembro de 496, aos 86 anos de
idade.
50º
- Anastácio II - 496 - 498
Nascido
em Roma no ano 445, Anastácio estava inserido em uma nova e atraente realidade
para a Igreja Católica. Naquele mesmo século, a religião havia finalmente
alcançado a plenitude em Roma, pois fora declarada religião oficial do Império
Romano. Após muitos anos de perseguição de seus seguidores, os cristãos não
conviviam mais com o risco constante de martírio ou execuções causadas por
imperadores pagãos. Desde Constantino, o cristianismo assumiu um novo status e
seus fiéis passaram a se locomover com mais tranquilidade dentro do império. No
interior da Igreja Católica, no entanto, havia enorme desordem que persistiria
por muitos séculos. Clérigos e nobres brigavam constantemente pelo poder, Papas
eram acusados de heresias e golpes eram tramados por todos os lados. Anastácio,
que dedicara toda sua vida à religiosidade, não escaparia dessa realidade. Aos
51 anos de idade ele foi eleito para o cargo máximo da Igreja Católica,
sucedendo o Papa Gelásio I. Anastácio II logo recebeu acusações e entrou no
jogo de tramas pelo poder que pairava sobre a instituição religiosa. Quando o Papa
acolheu o diácono Fotino de Tessalônica em Roma ambos foram acusados de
heresia. Os dois foram acusados de defender que o Espírito Santo não precedia o
Pai e de que o Pai era maior que o Filho. Essa situação causou enorme tormenta
ao seu papado, uma acusação que teve de superar rapidamente, ainda que
paliativamente, para que não perdesse seu posto. Mas o que ocorreu de fato foi
que o Papa Anastácio II demonstrou sua afeição por escândalos, pois outra
atitude sua, logo em seguida, causaria rumores de descontentamento. O Papa
tentou acabar com a excomunhão de Acácio, Bispo de Constantinopla, ao mesmo
tempo em que negociava com Anastácio I, Imperador do Oriente, para restaurar a
unidade da Igreja. A situação era, na verdade, muito confusa. Anastácio I era
favorável ao monofisismo, uma doutrina cristã considerada herética pela Igreja
Católica, e o Papa não deixava também de discordar das teorias de Acácio que o
levaram à excomunhão. Ou seja, o Papa não demonstrava coerência e tampouco
firmeza para conduzir seu pontificado e os caminhos da Igreja Católica. E isso
não foi tudo, ainda interferiu na conversão de Clóvis I, Rei dos Francos, e de
seu povo, demonstrando, mais uma vez, incapacidade para as responsabilidades
que possuía. Por todos esses aspectos, o Papa Anastácio II não era querido pelo
povo e nem mesmo respeitado por seus pares. Durante seu curto papado de quase
dois anos, se intrometeu em questões com as quais não sabia lidar. Suas ações
erradas e mesmo inocentes demonstraram toda sua fraqueza como líder para
solucionar as questões da Igreja Católica, como o cisma com o Oriente. Quando
faleceu aos 53 anos de idade, no dia 16 de novembro de 498, sua morte foi
considerada uma punição divina.
51º
- São Símaco - 498 - 514
Papa São
Símaco, Sardenha, data de nascimento desconhecida - Roma, 19 de julho de 514.
Foi Papa de 22 de novembro de 498 até a data de sua morte. Símaco é venerado
como um Santo na Igreja Católica. Ele era nativo de Sardenha e seu pai era
chamado Fortunato. Símaco foi batizado em Roma e logo se tornou parte do clero
de Roma, sendo ordenado diácono. Imediatamente após a morte do Papa Anastácio
II, Símaco foi eleito seu sucessor pela maioria do clero romano em 22 de
Novembro de 498. A eleição foi aprovada por uma parte do senado romano e ele
foi consagrado Papa.
Posteriormente
uma minoria do clero e do senado, apoiados pelo imperador bizantino Anastácio I
Dicoro, reuniram-se na Basílica de Santa Maria Maior e elegeu Lourenço como
antipapa. Ambas as partes concordaram que os dois candidatos deviam comparecer
à Ravena para que o rei Teodorico, o governante da Itália, decidisse qual de
ambos era legítimo, e respeitassem sua decisão. Teodorico se pronunciou a favor
de Símaco, baseando-se no fato de que ele foi eleito primeiro e pela maioria do
clero, Lourenço se submeteu à decisão. Em um sínodo realizado em Roma, à 1 de
Março de 499, Símaco foi universalmente reconhecido, e transferiu Lourenço para
a Diocese de Nocera na Campânia. No entanto, o partido do imperador bizantino
Anastásio, em 501, apelou para Teodorico contra o Papa, acusando-o de heresia
em questões relacionadas à celebração da Páscoa. Teodorico convocou o Papa
Símaco em Rimini, lá Símaco refutou o conteúdo da acusação e, se recusou a
reconhecer o rei como seu juiz em questões de ortodoxia, retornando para casa.
Seus adversários o acusaram de simonia e solicitaram novamente que o rei
convocasse um sínodo para investigar as denúncias, nomeando um visitante para
ir à Roma. Símaco concordou com a convocação de um sínodo, mas ele e seus
adeptos protestaram contra o envio de um visitante. Teodorico no entanto,
enviou como visitante o Bispo Pedro de Uso, para Roma e, contrariamente às
ordens do rei, tomou partido dos adeptos de Lourenço, de modo que Teodorico posteriormente
o demitiu. Em 502, o sínodo reuniu-se na Basílica de Júlio (Santa Maria in
Trastevere). O Papa declarou que o sínodo foi convocado com o seu consentimento
e que ele estava pronto para responder as acusações, antes disso, o visitante
foi removido e o Papa foi restabelecido como o administrador da Igreja. A
maioria dos Bispos concordaram com essa decisão e enviaram uma embaixada ao rei
exigindo a execução destas condições. Teodorico no entanto, se recusou, e
exigiu, em primeiro lugar, uma investigação das acusações contra o Papa. A
segunda sessão do sínodo realizou-se em 1 de Setembro de 502, no Basílica
Sessoriana (Santa Cruz em Jerusalém). Quando Símaco se dirigiu ao local para se
defender ele foi atacado por seus adversários e maltratado, escapando com
grande dificuldade, voltou a Basílica de São Pedro; diversos padres que estavam
com ele foram mortos ou gravemente feridos. Os godos enviados por Teodorico
prometeram-lhe uma escolta de confiança, mas o Papa agora, se recusou a
comparecer perante a sínodo, embora tenha sido convidado três vezes.
Consequentemente, os Bispos declararam na terceira sessão, realizada em meados
de setembro, que eles não poderiam julgar o Papa, porque não havia precedentes
que mostrassem que um Papa havia sido submetido ao julgamento de outros Bispos.
Eles convidaram o clero de Lourenço para se apresentar ao Papa, e solicitaram
ao rei permitir que os Bispos retornassem às suas dioceses. Porém os
partidistas de Lourenço exigiram a convocação de uma quarta sessão para por fim
a questão definitivamente, que se reuniu em 23 de Outubro de 502; nesta sessão,
foi reconhecido que só Deus pode julgar o Papa, que Símaco tinha o direito ao
pleno exercício de seu episcopado; e quem não o obedecesse devia ser punido. A
decisão foi assinada por setenta e cinco Bispos. Muitos bispos voltaram para
suas dioceses, porém alguns, se reuniram com outros padres na Basílica de São
Pedro para uma quinta sessão sob a presidência de Símaco em 6 de Novembro de
502 sobre as propriedades da Igreja. Símaco também estabeleceu que ficaria
proibido procurar votos para o futuro pontífice e que na falta de regulamentar
a sucessão, seria eleito quem tivesse os votos de todo o clero, ou da maioria.
Estas medidas foram fundamentais para deixar a disputa sucessória apenas para o
clero e acabar com tumultos. Teodorico, não satisfeito com a decisão do sínodo,
embora a maioria do episcopado italiano apoiava o legítimo Papa, ordenou que
Lourenço fosse novamente para Roma. Ele residia no Palácio de Latrão, sob controle
de seus adeptos, enquanto Símaco residia próximo a Basílica de São Pedro. O
cisma continuou durante quatro anos, durante os quais ambas as partes,
disputaram ferozmente em Roma. Posteriormente Teodorico ficou contra o partido
de Lourenço, devido a seu apoio a Constantinopla. Ele ordenou que os senadores
reconhecessem Símaco como Papa. Lourenço foi obrigado a sair de Roma, e
retirou-se para uma fazenda pertencente ao senador Festo, seu protetor. Apenas
uma pequena parte do clero ainda apoiava Lourenço e se recusou a reconhecer
Símaco como Papa, posteriormente esta facção reconciliou-se com o Papa Hormisda,
sucessor de Símaco.
Símaco
zelosamente defendeu os partidários da ortodoxia durante os distúrbios do cisma
acaciano. Ele defendeu, porém sem sucesso, a reconciliação entre católicos e
monofisistas em uma carta ao Imperador Anastácio I. Posteriormente, muitos Bispos
orientais perseguidos se dirigiram ao Papa com uma confissão de fé. Em uma
carta datada de 8 de Outubro de 512, dirigida ao Bispos da Ilíria, o Papa
alertou o clero de que sua província que não devia entrar em comunhão com
hereges. Logo após o início de seu pontificado, Símaco se interpôs na disputa
entre os Arcebispos de Arles e Vienne quanto aos limites das suas respectivas jurisdições.
Ele anulou o decreto emitido pelo Papa Anastácio II em favor do Arcebispo de
Vienne e em 6 de Novembro de 513 confirmou os direitos do Arcebispo
metropolitano Cesário de Arles, como haviam sido definidos pelo Papa Leão I.
Além disso, ele concedeu a Cesário o privilégio de usar o pálio. Numa carta de
11 de Junho de 514, nomeou Cesário para representar os interesses da Igreja
tanto na Gália quanto na Hispânia e para convocar sínodos. Na cidade de Roma,
Símaco construiu a Basílica de Santa Inês na Via Aurélia, adornou a Basílica de
São Pedro, e reconstruiu a Basílica dos Santos. Reformou as catacumbas de
Jordani na Via Salária. Ele também construiu asilos para os pobres perto das
três igrejas de São Pedro, São Paulo, e outros fora das muralhas da cidade. O Papa
contribuiu com grandes somas para o apoio dos Bispos na África que foram
perseguidos pelos vândalos seguidores do arianismo. Libertou todos os escravos
de Roma, também ajudou os moradores das províncias da Itália que sofreram com a
invasão dos bárbaros. Após sua morte, ele foi enterrado na Basílica de São
Pedro.
51
. 1 - São Bento
São
Bento de Núrsia, nascido Benedito da Nórcia (Nórcia, Reino Ostrogótico, c. 480
– Abadia de Monte Cassino, 21 de março de 547) foi um monge, ao qual é
atribuída a organização das atividades da vida monástica. A Ordem de São Bento
ou Ordem dos Beneditinos, uma das maiores ordens monásticas do mundo, recebe
esse nome em homenagem a ele, bem como por seguir a regra proposta por ele.
Embora não possa ser declarado fundador da Ordem dos Beneditinos, ele
participou da fundação de mosteiros que adotaram essa denominação. Foi o
criador da Regra de São Bento, um dos mais importantes e utilizados
regulamentos de vida monástica, inspiração de muitas outras comunidades
religiosas. Era irmão gêmeo de Santa Escolástica. O Papa Paulo VI designou-o Patrono
da Europa em 1964, sendo também Patrono da Alemanha. É venerado não apenas por
católicos, como também por ortodoxos e anglicanos. Fundou a Abadia de Monte
Cassino, na Itália, destruída durante a Segunda Guerra Mundial e posteriormente
restaurada. O calendário católico-romano comemora-o a 11 de julho, data em que
se trasladaram suas relíquias para a Abadia de Saint-Benoît-sur-Loire. A fonte
de todos os acontecimentos da vida de São Bento são os Diálogos de São Gregório
Magno, redigidos por volta de 593, que se baseou em fatos narrados por monges
que conheceram pessoalmente São Bento. Segundo o Papa Gregório I, São Bento foi
filho de uma família nobre romana da região de Nórcia (próximo à cidade
italiana de Espoleto), onde realizou seus primeiros estudos. Mais tarde, foi
enviado a Roma para estudar retórica e filosofia, mas, tendo-se decepcionado
com a decadência moral da cidade, abandona logo a capital e retira-se para
Enfide (atual Affile), em 500. Ajudado por um abade da região chamado romano,
instalou-se em uma gruta de difícil acesso, a fim de viver como eremita. Depois
de três anos nesse lugar, dedicando-se à oração e ao sacrifício, foi descoberto
por alguns pastores, que divulgaram a fama de santidade. A partir de então, foi
visitado constantemente por pessoas que buscavam conselhos e direção
espiritual. Foi então eleito abade de um mosteiro em Vicovaro, no centro da
península itálica. Por causa do regime de vida exigente, os monges tentaram
envenená-lo, mas, no momento em que dava a bênção sobre o alimento, saiu da
taça que continha o vinho envenenado uma serpente e o cálice se fez em pedaços.
Com isso, São Bento resolve deixar a comunidade retornando à vida solitária. Em
503, recebeu grande quantidade de discípulos e fundou doze pequenos mosteiros. Em
529, por causa da inveja do Sacerdote Florêncio, tem de se mudar para Monte
Cassino, onde fundou o mosteiro que viria a ser o fundamento da expansão da
Ordem Beneditina. É nesse episódio que Florêncio lhe enviou de presente um pão
envenenado, mas Bento deu o pão a um corvo que todos os dias vinha comer de
suas mãos e ordenou à ave que o levasse para longe, onde não pudesse ser
encontrado. Durante a saída de Bento para Monte Cassino, Florêncio, sentindo-se
vitorioso, saiu ao terraço de sua casa para ver a partida do monge. Entretanto,
o terraço ruiu e Florêncio morreu. Um dos discípulos de Bento, Mauro, foi pedir
ao mestre que retornasse, pois o inimigo havia morrido, mas Bento chorou pela
morte de seu inimigo e também pela alegria de seu discípulo, a quem impôs uma
penitência por regozijar-se pela morte do Sacerdote. Em 534, começou a escrever
a Regula Monasteriorum (Regra dos Mosteiros). Morre em 21 de março de 547, tendo
antes anunciado a alguns monges que iria morrer e seis dias antes mandado abrir
sua sepultura. Sua irmã gêmea Escolástica havia falecido em 10 de fevereiro do
mesmo ano. As representações de São Bento geralmente mostram, junto com o Santo,
o livro da Regra, um cálice quebrado e um corvo com um pão na boca, em memória
ao pão envenenado que recebeu do Sacerdote invejoso. As relíquias de São Bento
estão conservadas na cripta da Abadia de Saint-Benoît-sur-Loire (Fleury),
próximo a Orleães e Germigny-des-Prés, no centro da França. De acordo com a
tradição, Bento de Núrsia foi santificado por ter vencido duas ciladas armadas
pelo Diabo, nas quais lhe é oferecido um cálice de vinho envenenado e um pedaço
de pão, também envenenado. Além disso, em muitas vezes fora tentado
efetivamente pelo Diabo, além de ser ofendido e insultado de tal maneira que os
irmãos de hábito que estavam ao seu redor podiam escutar as ofensas que ele
recebia. O Santo Varão, como também é chamado, vencia o tentador utilizando-se
do sinal da cruz e da oração contida na Cruz Medalha que fora esculpida nas
paredes de um mosteiro.
A Regra
de São Bento: A Regula Monasteriorum, também denominada Regula Monachorum, é
composta por um prólogo e 73 capítulos. É possível que ela não seja
inteiramente composta por Bento, mas criada por ele valendo-se de uma regra
mais antiga, Regula Magistri, composta por autor desconhecido, na mesma região
da Itália, trinta anos antes da composição da Regra de São Bento. Dom Basilius
Steidle propôs as seguintes divisões temáticas para Regra de São Bentoː Estrutura
fundamental do mosteiro, A arte espiritual, Oração comum, Organização interna
do mosteiro, O mosteiro e suas relações com o mundo, A renovação da comunidade
monástica, Porta do Mosteiro e Clausura, Acréscimos e complementos. Bento de
Aniane retomou a regra no século IX, antes das invasões normandas. Ele a
estudou e codificou, dando origem a sua expansão por toda Europa carolíngia,
ainda que tenha sido adaptada diversas vezes, conforme diversos costumes.
Posteriormente, através da Ordem de Cluny e da centralização de todos os
mosteiros que utilizavam a regra, ela foi adquirindo grande importância na vida
religiosa europeia durante a Idade Média. No século XI, surgiu a reforma da Ordem
de Cister, que buscava recuperar um regime beneditino mais de acordo com a
regra primitiva. Outras reformas (como a camaldulense, a olivetana ou a
silvestriana), buscaram também dar ênfase a diferentes aspectos da Regra de São
Bento. Apesar dos diferentes momentos históricos, nos quais a disciplina, as
perseguições ou as agitações políticas causaram uma certa decadência da prática
da Regra de São Bento, e mesmo da população monástica, os mosteiros beneditinos
conseguiram manter, durante todos os tempos, um grande número de religiosos e
religiosas. Atualmente, perto de 700 mosteiros masculinos e 900 mosteiros e
casas religiosas femininas, espalhados pelos cinco continentes, seguem a Regra
de São Bento. Inclusive algumas comunidades de confissões luterana, anglicana e
metodista.
A Cruz-Medalha de São
Bento
A origem
da Cruz-Medalha de São Bento é incerta, sabe-se que ela foi redescoberta em
1647, em Nattremberg, na Baviera, por ocasião da condenação de algumas bruxas,
que afirmaram não conseguir praticar qualquer tipo de feitiçaria ou encanto
contra lugares em que houvesse a imagem da Cruz, em especial, a abadia de São
Miguel em Metten. Intrigados com o fato, as autoridades foram averiguar o que
existia no mosteiro. Ao entrarem em uma das dependências, observaram entalhadas
nas paredes imagens da cruz tal como estão representadas nas medalhas
utilizadas hoje. Na biblioteca dessa mesma abadia, encontraram um manuscrito do
ano de 1415, o qual continha, além de textos, ilustrações, sendo uma delas a de
São Bento, com uma cruz e uma flâmula, com os versos da medalha: Crux sacra sit
mihi lux, non draco sit mihi dux. Vade retro satana, nunquam suade mihi vana.
Sunt mala quae libas, ipse venena bibas. Por esse motivo, estima-se que a
origem da imagem da medalha situa-se no século XV.
A
medalha, com algumas variações, possui na frente a imagem de São Bento,
vestindo o traje monástico - chamado cógula - trazendo na mão direita uma cruz
e na mão esquerda uma flâmula ou livro aberto, que representa a Regra. No
verso, há uma imagem da cruz. Ambas as faces trazem inscrições em latim, seja
apenas letras ou em palavras, a saber:
Na frente da medalha: Eius in obitu nostro praesentia
muniamur' = "Sejamos protegidos pela sua presença na hora da nossa
morte".
No verso: C S P B: Crux Sancti Patris
Benedicti - Cruz do Santo Pai Bento.
C S S M L: Crux Sacra Sit Mihi Lux - Que a Cruz sagrada seja
a minha luz.
N D S M D: Non Draco Sit Mihi Dux - Não seja o Dragão o meu
guia.
V R S: Vade retro, satana! - Retira-te, Satanás!
N S M V: Nunquam Suade Mihi Vana - Nunca me aconselhes coisas
vãs,
S M Q L: Sunt Mala Quae Libas - É mau o que me ofereces:
I V B: Ipse Venena Bibas - Bebe tu mesmo os teus venenos.
Essa
oração, acrescida da jaculatória "Rogai por nós bem aventurado São Bento,
para que sejamos dignos das promessas de Cristo", se tornou uma fórmula de
oração a São Bento. Em 1742, o Papa Bento XIV aprovou a medalha, concedendo
indulgências a quem a usar e estabelecendo a oração do verso da medalha como
uma forma de exorcismo, que se tornou conhecida como Vade retro Satana.
Atualmente existe uma forma comum da medalha, conhecida como Medalha do
Jubileu, cunhada em 1880 por ocasião do XIV Centenário do nascimento de São
Bento, pelos monges de Beuron para a Abadia de Monte Cassino. Essa medalha
acrescenta a palavra pax - paz - no alto da cruz e aos pés de São Bento os
dizeres Ex S.M. Casino MDCCCLXXX - Do Santo Monte Casino - 1880.
52º
- São Hormisdas - 514 - 523
Papa da
Igreja Cristã Romana, nascido em Frosinone, Itália, eleito em 20 de setembro de
514, como sucessor de São Símaco de quem fora diácono, cujo pontificado ocorreu
a reconciliação entre a Igreja do Oriente e a do Ocidente, sem dúvida, seu
grande feito. Eleito Papa cuidou de enfrentar a grave situação em que estava
envolvida a Igreja de sua época, o cisma laurenciano, herdado de seu antecessor
e provocado pelo antipapa Lourenço (498-515). Após a retratação dos seguidores
de Lourenço, reintegrou-os em sua função e cuidou, em seguida, da conciliação
do cisma mais grave, o acaciano, criado por Acácio, patriarca de Constantinopla,
que separava a Igreja do Oriente de Roma, cujos seguidores aceitavam os
concílios de Nicéia e de Constantinopla, mas se negavam ao de Calcedônia. As negociações
entre o Papa e o Imperador do Oriente, Anastácio, fracassaram; e um acordo só
foi possível com o imperador sucessor, Justino, e o Patriarca João, que aceitou
e subscreveu a Fórmula de fé de Hormisdas ou Formula Hormisdae (519).
Reorganizou a Igreja da Espanha após a invasão dos visigodos e estabeleceu que
os cargos de Bispo não podiam ser comprados com privilégios ou donativos.
Morreu em 6 de agosto de 523, em Roma. Casado, antes de ser ordenado
presbítero, seu filho Silvério seria eleito Papa. Foi no seu Pontificado que
São Bento fundou a Ordem dos Beneditinos e construiu a célebre abadia de Monte
Casino, destruída por um bombardeio em 1944.
53º
- São João I - 523 - 526
João
nasceu em Túsculo, uma província da Itália. Foi eleito sucessor do Papa
Hormisda, em 523, e costuma ser identificado como João Diácono, autor da
epístola "Ad senartun", importante para a história da liturgia
batismal. É reconhecido também pela autoria de "A fé católica",
transmitida pelos antigos, entre as obras do filósofo e mártir São Severino
Boécio, cujo trabalho exerceu grande influência sobre São Tomás de Aquino.
Vejamos qual foi a situação herdada pelo Papa João I. O Papa Hormisda e o Imperador
Justino tinham feito cessar o cisma entre Roma e Constantinopla, que se
iniciara em 484, com o então imperador Zenon, por meio do que parecia
impossível: um acordo entre católicos e arianos. Com esse esquema obtivera bons
resultados políticos, pois os godos eram arianos. Porém, no final de 524, o Imperador
Justino publicou um decreto ordenando o fechamento das igrejas arianas de
Constantinopla e a exclusão dos arianos de toda a função civil e militar. Roma
era, então, governada pelo imperador Teodorico, o Grande, o rei dos bárbaros
arianos que tinham invadido a Itália. Ele obrigou o Papa João I a viajar a
Constantinopla para solicitar ao imperador Justino a revogação daquele decreto.
Apesar de o imperador Justino ter-se ajoelhado perante o primeiro sumo
pontífice a pisar em Constantinopla, ele não conseguiu demovê-lo da perseguição
aos arianos. A solicitação foi atendida apenas em parte, pois o Imperador
concordou em devolver as igrejas confiscadas aos arianos, mas manteve o
impedimento de os arianos convertidos ao catolicismo poderem retornar ao
arianismo. Com o fracasso de sua missão, o Papa João I despertou a ira do
imperador Teodorico. Assim, quando colocou os pés em Roma, foi detido e
aprisionado em Ravena, onde morreu em 18 de maio de 526. Foi então declarado
mártir da Igreja.
ANNO DOMINI – NO ANO DO SENHOR
Dionysius Exiguus ou Dionísio
Exíguo, o Menor, o Pequeno ou ainda o Humilde, Monge, matemático, astrônomo e
historiador grego nascido na Cítia Menor, hoje a região de Dobruja, Romênia,
que propôs em 525 o denominado Calendário Cristão para pôr fim à desordem dos
diversos sistemas de contagem cronológica então empregados. Pelos seus altos
conhecimentos em matemática e em astronomia, foi convidado pela Santa Sé
católica e passou a viver em Roma a partir dos seus 30 anos, tornando-se um dos
sábios da Cúria Vaticana. Traduziu do grego para o latim 401 cânones
eclesiásticos, incluindo os apostólicos e os decretos do Concílio de Nicéia, do
Primeiro Concílio de Constantinopla e dos Concílios de Calcedónia e de Sardes.
Também traduziu para latim uma coleção de decretos Apostólicos papais
referentes aos pontificados de origem grega, de Sirício a Anastácio II, de
extrema importância para a estruturação doutrinária das igrejas ocidentais. Foi
convidado pelo Papa João para compilar a tabela para as futuras datas da
Páscoa. Naquele tempo a data era calculada com base no Calendário juliano e a
contagem era feita a partir do início do reino do Imperador romano Diocleciano
um feroz perseguidor dos cristãos. Por causa disso o monge procurou não
continuar reverenciando a memória do terrível perseguidor e, assim, propôs uma
contagem dos anos a partir do nascimento de Jesus Cristo, e apresentou o seu
Liber de Paschate em 525, introduzindo a contagem: Antes de Cristo e Depois de
Cristo. Criou, então, um notável conjunto de tabelas para calcular a data da
Páscoa e introduziu o conceito de Anno Domini e a contagem dos anos a partir do
nascimento de Cristo. Assim o Calendário cristão tomava como base o calendário
juliano e tendo o nascimento de Jesus Cristo como ano 1 do século I e os
períodos e acontecimentos anteriores a isso passaram a ser datados com a sigla
a. C. e d. C.
54º
- São Félix IV - 526 - 530
Papa da
Igreja Cristã Romana, nascido em Sâmnio, Benevento, no sul da Itália, nomeado
arbitrariamente pelo rei godo Teodorico como sucessor de São João I, que no
entanto, demonstrou tal lealdade à Igreja que o rei ostrogodo o repudiou.
Também chamado de Félix IV na lista de Papas que inclui ilegítimos, foi
designado para o trono pontifício por Teodorico, mas teve sua consagração
ratificada por Bispos. Teodorico havia prometido aos hereges arianos todas as
igrejas católicas de Ravena, porém o rei godo faleceu repentinamente e
Amalasunta, a rainha regente, reinou mantendo boas relações com Roma. Enquanto
desfrutava de prestígio na corte dos godos, conseguiu transformar dois templos
pagãos adjacentes na igreja de S. Cosme e S. Damião. Durante seu pontificado se
difundiu na Itália o monacato, ou seja, a vida conventual como monge ou monja,
e conseguiu que os cristãos tivessem liberdade de culto. Também foi durante seu
pontificado que São Bento de Núrsia construiu a famosa abadia em Monte Cassino
em 528. Da Ordem Beneditina viriam mais de 20 Papas. Condenou o
semipelagianismo em uma carta a São Cesáreo de Arlés, que o Concílio de Orange
(529) converteu em cânones. O pelagianismo ou doutrina de Pelágio (séc. V),
heresiarca inglês, negava o pecado original e a corrupção da natureza humana e,
consequentemente, a necessidade do batismo. A beira da morte, São Félix pediu ao
clero que elegesse o Arquediácono Bonifácio para sucedê-lo, tornando-se na
tradição pontifícia o primeiro a designar o próprio sucessor. O Papa veio a
falecer no dia 12 de setembro de 530.
55º
- Bonifácio II - 530 – 532
Eleito
em 17 de setembro de 530; morreu em outubro de 532. Ao chamá-lo de filho de
Sigisbaldo, o Liber Pontificalis faz a primeira menção da ancestralidade
germânica do Papa. Bonifácio serviu a Igreja Romana desde a juventude. Durante
o reinado do Papa Felix IV, ele foi Arquidiácono e personagem de considerável
influência junto às autoridades eclesiásticas e civis. Sua elevação ao papado é
notável, pois oferece um exemplo inquestionável da nomeação de um Papa por seu
predecessor, mesmo sem a formalidade de uma eleição. Félix IV, tendo apreensão
pela morte e temendo uma disputa pelo papado entre facções romanas e góticas,
reuniu em torno dele vários de seus clérigos e vários senadores romanos e patrícios
que por acaso estavam por perto. Na presença deles, ele solenemente conferiu ao
seu antigo Arquidiácono o pálio da soberania papal, proclamando-o seu sucessor
e ameaçando com excomunhão aqueles que se recusavam a reconhecer e obedecer a
Bonifácio como Papa validamente escolhido. Na morte de Felix, Bonifácio assumiu
a sucessão, mas quase todos os sacerdotes romanos, sessenta de talvez cerca de
setenta, recusaram-se a aceitá-lo e elegeram Dioscoro. Eles temiam a influência
indevida nos assuntos papais no rei ostrogodo Atalarico, cujo avô, Teodorico I,
ajudara a eleger o Papa Felix IV, uma circunstância que tornava mais odiosa a
nomeação de Bonifácio. Ambos os Papas foram consagrados em 22 de setembro de
530, Bonifácio na Basílica de Júlio e Dióscoro em Latrão. A Igreja Romana
estava assim envolvida no sétimo cisma antipapal. Felizmente durou apenas vinte
e dois dias, pois Dioscoro morreu em 14 de outubro, deixando Bonifácio de
posse. Ele logo convocou um sínodo romano e apresentou um decreto anatematizando
seu último rival, ao qual ele garantiu as assinaturas dos Sacerdotes que haviam
sido partidários de Dióscoro (dezembro de 530). Cada um deles lamentou sua
participação na eleição irregular e prometeu obediência futura. Bonifácio
reconciliou muitos por sua administração suave e conciliatória; mas algum
ressentimento permaneceu, pois ele parece não ter tido oferecido uma eleição
formal por aqueles que, apesar de sua submissão, impugnaram validamente sua nomeação;
e cinco anos depois um Papa da escolha deles solenemente queimou o anátema
contra Dióscoro. Em um segundo sínodo, realizado em São Pedro (531), Bonifácio
apresentou uma constituição atribuindo a si o direito de nomear seu sucessor. O
clero romano assinou e prometeu obediência. Bonifácio propôs como sua escolha o
diácono Virgílio e foi ratificado por sacerdotes e povo. Esta promulgação
provocou um ressentimento amargo e até mesmo uma inimizade imperial, pois no
terceiro sínodo em 631, foi revogada. Bonifácio queimou a constituição perante
o clero e o senado e anulou a nomeação de Virgílio. O reinado de Bonifácio foi
marcado por seu interesse ativo em diversos assuntos da Igreja Ocidental e
Oriental. No início de seu pontificado, ele confirmou as atas do Segundo
Concílio de Orange, um dos mais importantes do século VI, que efetivamente
acabou com as controvérsias semipelagianas. O seu presidente, Cesário, Arcebispo
de Arles, amigo íntimo de Bonifácio, enviara, antes da sucessão deste último,
um Sacerdote Armênio a Roma para pedir a Bonifácio que assegurasse a
confirmação do concílio pelo Papa. Sendo ele mesmo Papa quando o mensageiro
chegou, Bonifácio enviou uma carta de confirmação a Cesario (25 de janeiro de
531), na qual ele condenava certas doutrinas semipelagianas. Ele recebeu um
apelo dos Bispos africanos, que estavam trabalhando na reorganização de sua
igreja após a devastação dos vândalos, pedindo-lhe para confirmar em direitos
primais ao Arcebispo de Cartago, que este último poderia ser mais capaz de
lucrar com a ajuda da Sé Romana. No Oriente, ele afirmou os direitos do Papa à
jurisdição em Ilírico. Em 531, Epifânio, Patriarca de Constantinopla, declarou
irregular a eleição de Estêvão para o Arcebispado de Larissa, na Tessália.
Apesar das severas pressões tomadas em Constantinopla para frustrar seu
propósito, Estêvão apelou a Roma, alegando que Epifânio não era competente para
decidir o caso, mantendo seu ponto em termos que revelam uma clara concepção da
Primazia Romana. Bonifácio convocou um quarto sínodo romano de 7 a 9 de
dezembro de 531, no qual foram apresentados cerca de vinte e cinco documentos
em apoio à reivindicação de Roma de jurisdição na Ilíria. O resultado do sínodo
não é conhecido. Bonifácio foi estimado por sua caridade, particularmente em
relação aos sofredores pobres de Roma durante um ano de fome. Ele foi enterrado
com São Pedro, em 17 de outubro de 532, onde um fragmento de seu epitáfio ainda
pode ser visto.
56º
- João II - 533 - 535
No dia 2
de janeiro de 533, foi eleito ao pontificado “um candidato de consenso”,
Mercúrio, um velho sacerdote da Basílica de São Clemente em Latrão; visto que
se chamava Mercúrio, ou seja, o nome de uma divindade pagã, mudou seu nome para
João, assumindo o nome do seu predecessor, Papa João I. Foi, de fato, o primeiro
Papa a mudar o nome, que se tornou costume a partir de Gregório V (996-999). Papa
João II tinha bons relacionamentos tanto com o ostrogodo rei da Itália,
Atalarico (526-534), quanto com o imperador do Oriente Justiniano (527-565). E
é exatamente à relação entre o Papa João II e o imperador Justiniano que está
ligado o episódio mais significativo deste pontificado. Um decreto de
Justiniano reconhecia a doutrina dos primeiros quatro concílios universais: o
primeiro Concílio de Niceia (325), o primeiro Concílio de Constantinopla (381),
o Concílio de Éfeso (431) e o Concílio da Calcedônia (451). Mas, o decreto
incluía uma fórmula dogmática suscetível a interpretações, que, por exemplo, o
Papa Hormisda havia recusado: “Um da Trindade sofreu na carne”. Para Justiniano
o reconhecimento pontifício da fórmula interessava particularmente para
conquistar para si, para a Igreja, mas sobretudo para a unidade do Império, os
seguidores de uma doutrina muito difundida no Oriente, o monofisismo. Tal
doutrina se opunha ao Concílio da Calcedônia, afirmando que Cristo tinha apenas
uma natureza, enquanto que para o concílio havia duas naturezas em Cristo. Os
monges orientais Acêmetes – do grego akoìmetos, insones – de Constantinopla,
grandes apoiadores da ortodoxia calcedonesa recorreram ao Papa contra a fórmula
dogmática. João II tentou convencê-los a abandonarem a própria posição, mas,
diante de sua recusa, os excomungou. O Papa escreveu ao imperador declarando
ortodoxo o seu decreto. E Justiniano ficou muito feliz, inserindo no próprio Codex
tanto a sua carta como a resposta do Papa. João II morreu no dia 8 de maio de
535.
57º
- Santo Agapito I - 535 - 536
O Bispo
eleito para suceder o Pontífice João II, na cidade de Roma, foi Agapito I, que
se consagrou no dia 13 de maio de 535. O seu pontificado durou apenas onze
meses e dezoito dias. Nesse tão curto período do seu governo, o Papa Agapito I
elevou as finanças da Igreja; tomou decisões doutrinais importantes para a
correta compreensão dos fundamentos do cristianismo e lutou com energia pela
defesa da fé e dos bons costumes. Ele mandou queimar as bulas de Bonifácio II,
condenatórias das doutrinas de Dióscoro, e negou aos hereges re-convertidos que
conservassem seus cargos e benefícios, como pretendia o imperador Justiniano. Enfim,
foi um Papa zeloso e defensor da tradição católica. Também proibiu que os Bispos
das Gálias, atuais França e Espanha, vendessem os bens de suas igrejas, até
mesmo em caso de extrema necessidade. Excomungou Antimo, o Patriarca de Constantinopla,
que havia alcançado o Patriarcado graças às intrigas da imperatriz Teodora, e
nomeou em seu lugar Mena, um Bispo católico, homem de fé e saber. Como revelou
o próprio Papa Agapito I, numa carta a Pedro, Bispo de Jerusalém; era a
primeira vez, desde os tempos apostólicos, que uma Igreja Oriental recebia como
Patriarca um Bispo consagrado pelo Papa. Fundou, em Roma, uma academia de Belas
Letras e várias escolas para adultos e crianças pobres, e distinguiu-se por sua
inesgotável caridade. Por fim, o Papa Agapito I viajou para Constantinopla,
capital do Império Romano do Oriente, na qualidade de embaixador do rei, na
esperança, logo tornada desilusão, de fazer cessar a desastrosa guerra
greco-gótica da Itália, estourada em 535. Porém quase foi condenado ao exílio pelo
imperador Justiniano, decidindo voltar para Roma. Ocorreu, entretanto, que o Papa
Agapito I foi acometido por uma grave enfermidade, morrendo logo em seguida, no
dia 22 de abril de 536. Seu funeral foi tal como nunca se vira em
Constantinopla, tanto para um Bispo quanto para um imperador. O corpo de Santo
Agapito I, Papa e confessor, foi transladado para o Vaticano e enterrado no dia
17 de setembro do mesmo ano, no pátio da catedral de São Pedro, em Roma. A
santidade do Papa Agapito I sempre foi muito lembrada pelos escritos de São
Gregório Magno. Ele que é reverenciado pela Igreja no dia 28 de abril, como
consta do Martirológio Romano.
58º
- São Silvério - 536 - 537
Silvério
nasceu em Frosinone, na Campânia, Itália. Era filho do Papa Hormisdas, que fora
casado antes de entrar para o ministério da Igreja. Entretanto, ao contrário do
que se encontra em alguns escritos, ele não foi sucessor do seu próprio pai.
Antes de Silvério assumir, e depois do seu pai, outros ocuparam o trono de Pedro.
Em períodos variados, não ultrapassando dois anos cada um; foram os Papas: João
I, Félix III, Bonifácio II, o antipapa Dióscoro da Alexandria, João II e
Agapito I. Embora fosse apenas subdiácono quando assumiu o trono de Pedro, ele
foi um dos mais valentes defensores do cristianismo, pois enfrentou a
imperatriz Teodora.
O
conflito com a imperatriz começou quando ela enviou uma carta a ele ordenando
que aceitasse, em Roma, Bispos heréticos, entre eles Antimo. Respondendo com
veemência que não obedeceria de forma alguma, foi preso. Tiraram-lhe as vestes
Papais, e, vestido como um simples monge, foi deportado para Patara, na Ásia. Enquanto
isso, assumia o governo da Igreja o antipapa Virgílio, que foi colocado em seu
lugar porque aceitou a imposição da imperatriz de receber em Roma os tais Bispos
heréticos recusados por Silvério. Esse, por sua vez, pouco depois foi enviado a
Lícia. Mas, como era um religioso muito popular, foi recebido com honras
inesperadas pelos monarcas romanos da região. Revoltado com a deposição de
Silvério, o Bispo de Lícia resolveu falar diretamente com o imperador
Justiniano. Foi nesse encontro que proferiu as palavras que ficariam gravadas
na história e seriam repetidas pelos séculos seguintes: "Existem muitos
reis neste mundo, mas apenas um Papa em todo o universo". Tocado pelas
palavras do religioso, o imperador determinou a volta do Papa Silvério a Roma.
Mas Teodora continuou com suas armações e, pouco tempo depois, ele era enviado
à ilha de Palmaria, Ponza, onde sofreu um exílio mais rigoroso que o primeiro. Novamente,
recebeu ordem de Justiniano para voltar a Roma. Contudo o Papa preferiu
terminar no cisma que surgira, abdicando no dia 11 de novembro de 537. Consumido
pelas chagas e pela fome, morreu pouco depois, no dia 2 de dezembro do mesmo
ano. Seu corpo, ao contrário dos outros Papas que morreram no exílio, não
retornou para Roma, permaneceu naquela ilha, onde sua sepultura se tornou local
de muitas graças e meta de peregrinação. O Santo Papa Silvério é venerado no
dias de sua morte.
59º
– Vigílio - 537 - 555
Membro
duma ilustre família romana, sendo o seu pai, o oficial João, referido no Livro
dos Pontífices como cônsul, tendo recebido o título do imperador. Reparato,
irmão de Vigílio, era senador. Vigílio entrou ao serviço da Igreja de Roma em
531 como diácono, ano em que a Igreja concordou com um decreto, habilitar o Papa
a escolher o seu sucessor. Vigílio foi escolhido por Bonifácio II como seu
sucessor. Mas a oposição a este procedimento obrigou Bonifácio, no ano seguinte
a retirar a sua designação e queimar o decreto. O segundo sucessor de
Bonifácio, o Papa Agapito I (535–536), nomeou Vigílio como representante papal
em Constantinopla. Nesta cidade a imperatriz Teodora tentou conquistá-lo como
seu aliado para se vingar da deposição, por Agapito I, do Patriarca
constantinopolitano que defendia o monofisismo. Vigílio parece ter concordado
com os planos da imperatriz, que prometera fazer dele Papa e uma grande soma de
dinheiro. Após a morte de Agapito, a 22 de Abril de 536, Vigílio regressou a
Roma com cartas da corte imperial e com o dinheiro. Entretanto em Roma,
Silvério tinha sido eleito Papa, pela influência do rei ostrogótico Teodato.
Pouco depois, o general bizantino Belisário entra em Roma e Vigílio, ao voltar,
entrega-lhe as cartas que trouxera de Constantinopla. Belisário acaba por depor
Silvério, e exilado, tenta voltar a Roma, mas é novamente exilado e acaba por
morrer na ilha de Ponza, após o que Vigílio foi reconhecido como Papa por todo
o clero romano. Mas com Vigílio os planos de Teodora saíram frustrados, pois
ele manteve a posição do papado contra o monofisismo. De acordo com o Livro dos
Pontífices, a 20 de Novembro, enquanto o Papa celebrava missa em honra de Santa
Cecília na igreja que leva o nome desta santa em Trastevere, antes da missa
acabar, Vigílio foi intimado por oficiais imperiais a viajar imediatamente para
Constantinopla. O Papa foi levado para um barco ancorado no Tibre, enquanto a
população o amaldiçoava e atirava pedras contra o barco. Roma estava outra vez
cercada pelos ostrogodos chefiados por Tótila e a população vivia na maior das
misérias. Vigílio tentou enviar navios carregados de trigo a Roma, mas foram
capturados pelo inimigo. O Papa teria deixado Roma provavelmente a 22 de
novembro de 545. Permaneceu longo tempo na Sicília e só chega a Constantinopla
em Janeiro de 547. O seu pontificado foi agitado pela luta dos Três Capítulos.
O imperador Justiniano (r. 527–565) chamou-o a Constantinopla, pressionando-o a
ordenar os Três Capítulos (mais tarde suspensos pela reação no ocidente).
Justiniano convocou um sínodo em 553 contra a vontade do Papa. Perante o seu
protesto, Vigílio é exilado. Depois de oito anos na capital imperial, o Papa
conseguiu um entendimento com o imperador e começou a viagem de regresso a Roma
na primavera de 555. Morreu em Siracusa, na Sicília, sendo o seu corpo levado
para Roma e enterrado na Basílica de S. Silvestre sobre a Catacumba de
Priscila, na Via Salária. O Império Bizantino, que na verdade era uma divisão
do Império Romano do Oriente, toma posse da Itália com sua força governamental
autoritária, prejudicando grandemente o bom andamento do cristianismo do
Ocidente.
60º
– Pelágio - 556 - 561
Foi
eleito em 16 de Abril de 556 e morreu em 4 de Março de 561. Nascido em Roma,
cerca do ano 500, era filho do governador de um distrito de Roma. A primeira
referência que temos de Pelágio é de 536, quando se encontrava em
Constantinopla - provavelmente para o sínodo contra Severo de Antioquia e seus
aliados - na companhia do Papa Agapito I, que o nomeou Núncio apostólico da
Igreja de Roma naquela cidade. E tudo leva a crer que conseguiu ter uma grande
influência sobre o imperador. Em 543, depois de ter conseguido a condenação do
Origenismo, regressa a Roma. Em novembro de 545, quando o Papa Vigílio foi
obrigado pelo imperador ir a Constantinopla, deixou Pelágio em Roma como seu
representante. Eram tempos difíceis na Itália e particularmente para a cidade
de Roma, cercada por Tótila, rei dos ostrogodos. Pelágio distribuiu a sua
fortuna privada em benefício das vítimas da fome e esforçou-se para conseguir
uma trégua junto do rei. Embora tenha falhado, conseguiu que Tótila poupasse a
vida dos romanos quando tomou a cidade em dezembro de 546. Tótila se admirou
com Pelágio que o enviou a Constantinopla com o fim de conseguir a paz com
Justiniano, mas o imperador mandou-o de volta, dizendo que era Belisário quem
detinha o comando em Itália e, portanto, quem decidia sobre questões de guerra
e paz. Em 551, Pelágio está em Constantinopla para apoiar o Papa Vigílio,
infamemente tratado pelo imperador por causa da Controvérsia dos Três Capítulos.
Mas acaba por se afastar do Papa, uma atitude que os seus opositores viram como
uma tentativa de voltar a cair nas boas graças do imperador, pouco antes de
abandonar Constantinopla, com Vigilio, em 555. Alguns opositores de Pelágio consideram-no
responsável pela morte de Vigílio, mas só a 16 de Abril de 556, quase um ano
depois, Pelágio é eleito seu sucessor. Isto porque parece ter tido dificuldades
em encontrar Bispos que o consagrassem. Oposto ao origenismo, foi designado Papa
por imposição do imperador Justiniano I (nessa época, a Itália era uma
província do Império Bizantino) após aceitar a condenação dos Tres Capítulos,
que havia defendido nos tempos do Papa Vigílio. Por este motivo teve que
superar uma forte oposição do clero romano, que duvidava da sua ortodoxia. Mandou
construir a Basílica dos Doze Santos Apóstolos em Roma, distribuiu seus bens
entre os pobres, quando Roma foi assolada pela fome, mostrando-se muito caridoso.
Morreu em 4 de Março de 561 e foi sepultado na Basílica de S. Pedro.
61º
- João III - 561 - 574
Não se
sabe a data de seu nascimento, mas ele morreu em 13 de julho de 574 em Roma,
Itália, e sepultado na Basílica de São Pedro. Era romano de nascimento, e
tornara-se Papa em julho de 561. Foi durante o seu pontificado que os Lombardos
invadiram a Itália por repetidas vezes. Mudou o seu nome Catelino para João. Papa
italiano, pertencia a uma importante família romana e era filho do procurador
Anastásio, com nome de batismo Catelinus. Foi Papa de 17 de julho de 561 a 13
de julho de 574. Fez com que a igreja de Nápoles se submetesse ao poder de
Roma, assim como o restabelecimento das relações com as igrejas de África, que
se tinham afastado depois da excomunhão do Papa Vigílio. Organizou o
monaquismo, existente no Ocidente desde o século IV, tendo São Bento de Núrsia
compilado as normas de vivência destas comunidades numa regra. Para a
organização destas comunidades tinham-se traduzido também os Ditos dos Anciãos
e a Exposição do Heptateuco. A aproximação dos lombardos fez com que o Papa
rogasse ao rei Narsés que estabelecesse a sua residência em Roma, para melhor
proteger a cidade. Contudo, o povo de Roma não aceitou de bom grado a medida e
o Papa teve de se mudar da Basílica de São João de Latrão para a basílica dos
Santos Tiburtino e Valeriano, com o intuito de acalmar a fúria popular e melhor
se defender em caso de perigo. Embora seu pontificado tenha durado cerca de 13
anos, todos os registros do seu pontificado foram destruídos pelos longobardos,
que invadiram Roma. Fugiu dos violentos invasores para as catacumbas de Praetextatus
onde ele permaneceu durante muitos meses e salvou a Itália da barbárie,
chamando junto a ele todos os italianos, a fim de que se defendessem contra a
crueldade dos invasores, período em que por causa das invasões longobardas, a
Sé Apostólica ficou sem Papa durante 11 meses, com Roma sitiada e a fome e a
desolação assolando-a.
62º
- Bento I - 575 - 579
Papa
Bento I, foi Papa da Igreja Católica de 2 de junho de 575 a 30 de julho de 579.
Eleito Papa após quase um ano de vacância devido à ocupação de Roma pelos
Lombardos. Bento I tentou restabelecer a ordem na Itália e na França,
conturbadas pelas invasões bárbaras e ensanguentadas por discórdias internas. Em
seu tempo a guerra trouxe a praga da fome, houve tão grande miséria, que muitas
fortalezas se renderam aos implacáveis bárbaros, só para haverem um pouco de
alimento. Deus teve pena de tanta calamidade e o Imperador Justino II fez
mandar do Egito muitos navios carregados de trigo. No campo religiosos
confirmou o V Concílio Constantinoplano de 533, como consta de uma carta de
Gregório, por ele nomeado Arcediago e que foi mais tarde o Papa Gregório Magno.
Nessas aflições morreu o venerado pontífice, que foi sepultado na sacristia da
Basílica de São Pedro. Sua fé superou os temores e foi um pilar de inspiração
aos fiéis cristãos no meio de provações.
63º
- Pelágio II - 579 - 590
Papa da
Igreja Cristã Romana, nascido em Roma, eleito Pontífice em 26 de novembro de
579, como sucessor de Benedito I, e que reinou nos anos imediatamente
posteriores à invasão Longobarda. De origem gótica, diante da insegurança que a
Santa Sé sentia frente aos novos dominadores da península, buscou apoio tanto
no Reino Franco (580) como à Constantinopla (584), por meio do diácono
Gregório. E tinha razão: em seu pontificado, os lombardos destruíram a abadia
de Monte Cassino e, em Roma, foram construídos os alicerces de San Lorenzo
fuori le Mura. Sem a ajuda bizantina, juntou-se aos francos e mandou trazer do
norte da Itália os hereges de volta a Roma. Além do desagradável assédio lombardo,
também não conseguiu resultados concretos, para pôr fim ao cisma de Aquiléia
que se iniciara durante o pontificado de Pelágio I a mais de 25 anos. Com a
ajuda de Gregório, lançou o celibato entre o clero e ordenou que cada dia os Sacerdotes
rezassem o Ofício Divino. Transformou sua casa num hospital e adornou a
Basílica de São Pedro com o próprio dinheiro. Vítima de uma epidemia, morreu em
Roma, sepultado na Basílica de São Pedro.
64º
- São Gregório I - 590 - 604
Nascido
em Roma no ano 540, Gregório era proveniente de uma família tradicional
aristocrática da cidade. Seu pai chamava-se Gordiaus e sua mãe chamava-se Santa
Sílvia. Quando jovem, Gregório chegou a investir na carreira política e ocupou,
inclusive, o cargo de prefeito de Roma. Após seu cargo político-administrativo,
Gregório foi influenciado pelos escritos e a personalidade de São Bento.
Resolveu então, assumir a vida religiosa e ingressou em um mosteiro por volta
de 575. Como homem religioso, foi tão dedicado que converteu sua casa no
mosteiro de Santo André, além de fundar outros seis nas terras que sua família
possuía na Sicília. Antes de tornar-se Papa, Gregório foi apocrisiário em
Constantinopla, um cargo religioso que equivale atualmente ao de embaixador ou
núncio apostólico. Outros religiosos que desenvolveram a mesma função em
Constantinopla também chegariam ao Supremo Pontificado, como foi o caso dos Papas
Sabiniano, Bonifácio III e Martinho I. Com a morte do Papa Pelágio II, o
Conclave se reuniu e elegeu Gregório para ser o novo líder da Igreja, no dia 3
de setembro de 590. O Papa Gregório I foi o responsável por enviar os primeiros
missionários com a missão de converter os anglo-saxões ao cristianismo. Um
grupo de quarenta monges beneditinos se dirigiu às Ilhas Britânicas em uma
missão que recebeu o nome de Missão Gregoriana. Seu nome também ficou
popularmente reconhecido por difundir um tipo de música que se identificou
muito com a Igreja, o canto gregoriano. Gregório I foi muito ativo como Supremo
Pontífice e produziu uma extensa obra escrita, contando com sermões e
comentários sobre a Bíblia. Um de seus atos mais famosos foi a compilação dos
sete pecados capitais, fazendo sua adaptação para o Ocidente. Politicamente,
Gregório enfrentou um problema com o Patriarca de Constantinopla que se
declarava acima de todos os Bispos do mundo. O Papa respondeu se intitulando
Servo dos Servos de Deus, o qual é utilizado pelos Papas até hoje. Sua
determinação em defender a Igreja rendeu-lhe um tratamento de respeito: Magno.
É considerado também Doutor da Igreja e Santo. Faleceu no dia 12 de março de
604, aos 64 anos de idade.
65º
– Sabiniano - 604 - 606
Nascido
no ano 530, Sabiniano natural de Blera. Foi um dedicado religioso durante toda
sua vida. Sua dedicação foi naturalmente reconhecida por seus superiores na
escala hierárquica da Igreja. De tal maneira, que o Papa Gregório I o nomeou para
diversos cargos importantes. Apesar de sua dedicação à vida religiosa e de se
destacar nas tarefas da Igreja, Sabiniano não obteve o mesmo sucesso em
Constantinopla. O próprio Papa Gregório I o escolheu para desempenhar a função
de Núncio Apostólico na cidade, só que, nesta situação, ele não foi suficientemente
astuto para lidar com os bizantinos e, assim, não correspondeu às expectativas
do Papa, que depositara confiança nele para intermediar questões no Oriente. Ainda
com o insucesso em Constantinopla, Sabiniano voltou para Roma, após quatro anos
entre os bizantinos, com respaldo para ocupar o mais importante cargo da Igreja
Católica. O Papa Gregório I faleceu e, seis meses depois, ocorreu a eleição de
seu sucessor. No dia 13 de setembro de 604, um conclave escolheu Sabiniano, que
ainda teve que esperar alguns meses pela confirmação Imperial e a posse. Toda
essa demora para eleger e empossar o novo Papa já demonstrava o nível de
dificuldade que seu papado teria de enfrentar. De fato, as dificuldades foram
muitas. A começar pela ameaça dos Lombardos e pela fome. Os Lombardos, um dos
chamados povos bárbaros, eram uma ameaça constante de invasão de Roma e ao
cristianismo. Mas, passado o período mais intenso dessa ameaça, a Igreja
dedicou-se a outras questões. A Igreja passou a vender os cereais de seu
celeiro por preços muito mais altos do que os comumente praticados e também
deixou de distribuí-los gratuitamente, como fazia Gregório I. Essa situação
rendeu ao Papa Sabiniano a fama de avarento. Sabiniano também tentou
desacreditar Gregório I, motivado por ciúmes que tinha pelo prestígio de seu
antecessor que o acusou de fracassar em Constantinopla. Sua atitude só aumentou
a antipatia do povo pelo Papa Sabiniano. Seu papado não tinha recursos
financeiros suficientes, não podia distribuir comida como seu antecessor e
pouco podia fazer para combater a grande fome que atingiu a cidade romana em
605. Alguns dizem que foi um Papa tomado pelo ódio e que fracassou rapidamente.
O Papa Sabiniano é o responsável por tornar obrigatório o uso dos sinos nas
igrejas para convocar os fiéis para as missas e para celebrações importantes.
Ele também decretou que as igrejas deveriam manter as luzes sempre acesas.
Sabiniano, contudo, teve um papado muito curto, faleceu no dia 22 de fevereiro
de 606.
66º
- Bonifácio III - 607
Nascido
em Roma no ano 540, Bonifácio era filho de João Cataadioce, um romano com
ascendência grega. Ele se dedicou à vida religiosa desde cedo e foi ordenado
diácono, função que manteve durante muitos anos. Sua atuação religiosa,
contudo, só se tornou realmente significativa quando foi enviado pelo Papa
Gregório I a Constantinopla para servir como legado, em 603. Sua atuação parece
ter impressionado não só o Papa, mas também o Imperador Focas, que reconheceu
sua prudência para solução de questões diversas. Três anos mais tarde, seu nome
já havia repercutido pelos seus feitos e Bonifácio foi indicado como sucessor
do Papa Sabiniano. Mesmo ainda em Constantinopla, ele foi eleito no dia 19 de
fevereiro de 607. O Papa Bonifácio III enfrentou grandes dificuldades para
voltar a Roma. O regresso demorou tanto que criou-se um debate sobre as razões
da demora e a viabilidade para exercer seu cargo em Constantinopla. Alguns
pesquisadores argumentam que o Papa Bonifácio III se recusou a assumir o cargo
até que ficasse comprovado que sua eleição havia sido justa e livre. Seu
interesse por eleições livres de interferências externas era latente, como
comprovaram suas principais ações como Papa. Após assumir o cargo, o Papa
Bonifácio III convocou um concílio em Roma no qual proibiu que fosse discutida
a sucessão de um Papa que ainda estivesse vivo, sob pena de excomunhão. Ele
também determinou que as medidas para eleger o sucessor só poderiam ser tomadas
três dias depois do enterro do Papa falecido. Ambas as iniciativas causaram
grande impacto na eleição papal. Mas, além disso, suas relações próximas com o
Imperador Focas foram fundamentais para que se restaurasse a ideia de que o Apóstolo
Pedro deveria ser a cabeça de todas as Igrejas. Esta medida simbólica garantia
ao Bispo de Roma o título de Bispo Universal, superando outros religiosos que
reclamavam essa identificação. Devido às importantes medidas do Papa Bonifácio
III, alguns pesquisadores argumentavam que ele teria sido o efetivo fundador da
Igreja Católica. Mas hoje entende-se que suas ações apenas reforçavam as
medidas anteriores de Justiniano, o qual deu reconhecimento legal à primazia do
pontificado romano. Liderou a Igreja por menos de um ano, pois faleceu no dia
12 de novembro de 507. Suas ações, contudo, deixaram um grande legado para a
instituição religiosa e certamente contribuíram para que a Igreja Católica
ocupasse o lugar do fragmentado Império Romano como principal detentora do
poder político na Idade Média.
67º
- São Bonifácio IV - 608 - 615
Papa
Bonifácio IV, O.S.B (Valeria, 550 — Roma, 8 de maio de 615) foi um monge
beneditino eleito em 25 de Agosto de 608. No pontificado do Papa Gregório I,
Bonifácio era diácono da Igreja de Roma e ocupava o cargo de dispensator, isto
é, era o encarregado da administração do patrimônio. O pontificado de Bonifácio
foi marcado por muito sofrimento em Roma, devido à fome, pestilência e
inundações. Converteu o Panteão de templo pagão em igreja dedicada à Virgem
Maria e a Todos os Santos e Mártires, salvando-o da destruição. Instituiu a
festa de Todos os Santos em 1 de Novembro. Morreu em 8 de Maio de 615. O Pontífice
morreu em retiro monástico (tinha convertido a sua casa num mosteiro) e foi
sepultado no pórtico de S. Pedro. Posteriormente os seus restos mortais foram
movidos por três vezes, no século XI ou XII, no século XIII e finalmente de
volta à Basílica de S. Pedro, em 21 de outubro de 1603. Bonifácio IV é venerado
como Santo em 8 de maio.
Nesta mesma época surgiu a religião de Lúcifer. O Islamismo é
uma corrente política e ideológica usando como base as revelações de Lúcifer
quando apareceu à Maomé ditando o Alcorão. Lúcifer se apresentou diante de
Maomé no ano de 610, em Meca no Monte Hira, como um anjo de luz, dizendo - mentindo obviamente -, que se chamava Gabriel.
Os versos satânicos deste livro nega a Trindade Divina, nega a Divindade de
Jesus Cristo, e inúmeras passagens Bíblica, além de aprovar a poligamia. Se
auto intitula dona da verdade absoluta. Esta seita constituiu um verdadeiro
exército de muçulmanos, que perseguiam e matavam cristãos, caso estes não se
convertessem ao Islã. Foi esta fúria ideológica em Jerusalém e na Palestina, o
motivo pelo qual Deus teve que intervir, transladando com seus Anjos
Celestiais, a Casa de Maria Santíssima e de Jesus que estava em Nazaré, para Loreto,
Itália, para não ser destruída pelos furiosos islâmicos.
68º
- Adeodato I - 615 - 618
Adeodato
I (Roma, 570 — 8 de novembro de 618), também chamado Deodato I, foi Papa de 19
de outubro de 615 até sua morte, em 618. Ele foi o primeiro Sacerdote a ser
eleito Papa desde João II, em 533. Sua festa é celebrada no dia 8 de novembro. Ele
nasceu em Roma e era filho de um subdiácono. Serviu como padre por 40 anos
antes de sua eleição e foi o primeiro padre a ser eleito Papa desde João II em
533. Adeodato representou a segunda onda de antigregorianos ao papado, a
primeiro sendo o de Sabinian. Ele também reverteu a prática de seu antecessor
Bonifácio IV de encher as fileiras administrativas Papais com monges, remontando
com o clero às posições originais com cerca de 14 sacerdotes, as primeiras
ordenações em Roma desde o Papa Gregório. Segundo a tradição, ele foi o
primeiro Papa a utilizar selos de chumbo em documentos Papais, que por sua vez vieram
a ser chamado de "bulas Papais". Uma bula datada de seu reinado ainda
está preservada, nele observa-se o detalhe do Bom Pastor que no meio de suas
ovelhas, com as letras Alfa e Omega abaixo, enquanto o verso contém a
inscrição: Deusdedit papae. Em agosto de 618, um terremoto atingiu Roma, e mais
tarde um surto de lepra, Adeodato liderou esforços para cuidar de pobres e
doentes. Ele morreu em 8 de novembro de 618. Houve uma vaga de um ano, um mês e
16 dias antes de seu sucessor Papal ser consagrado. Sua festa ocorre em 8 de
novembro. Ele também é um Santo da Igreja Ortodoxa como um dos "Papas ortodoxos
de Roma" pré-cisma.
69º
- Bonifácio V - 619 - c.625
Papa da
Igreja Cristã Romana, nascido em Nápoles, mas não se conhece a data de seu
nascimento, sucessor de Adeodato I, cujo governo caracterizou-se por contínuas
lutas pela coroa da Itália. De origem napolitana, foi eleito em circunstâncias
extremamente críticas e só assumiu o trono pontifício muitos meses depois da
morte do antecessor, porque Roma estava preocupada em defender-se do exarca
Eleutério, título do delegado dos imperadores de Bizâncio na Itália ou na
África. Interessou-se particularmente pela Igreja anglo-saxônica, segundo
testemunham alguns escritos seus, como uma carta à Justo, Bispo de Rochester e
Canterbury, e outra à Etelberga, rainha de Kent. Promulgou algumas normas
litúrgicas e canônicas e instituiu a imunidade do asilo, para as pessoas
perseguidas que buscassem refúgio na Igreja. Também durante seu pontificado, no
oriente o infeliz Maomé iniciou seus sermões, e assim, na era cristã, foi a
primeira vez que apareceu uma outra grande religião, a muçulmana, que se
espalharia pelo mundo inteiro. Pelo Liber pontificalis e pelas inscrições na
sua tumba, era um homem de muitos adjetivos magnânimos como plácido, humilde,
doce, misericordioso, sábio, casto, sincero e justo. Morreu em 25 de outubro,
em Roma.
70º
- Honório I - 625 - 638
Papa
Honório I nasceu em Capua. Eleito em 27 de outubro de 625, tinha sido discípulo
de S. Gregório Magno. Durante o seu pontificado impulsou a evangelização da
Inglaterra, procurando a integração dos monotelitas na Igreja — heresia que
negava uma vontade humana em Cristo, mantendo somente a divina — a qual ele não
combateu, inclusive aprovando a Ecthesis de Sérgio I de Constantinopla. Isso
fê-lo ser condenado por heresia pelo Papa Leão II em 682. De fato Honório se
mostrou incapaz de estar no mais alto comando da Igreja, ao invés de defender a
fé tradicional, aceitou de bom grado a heresia. Instituiu a Festa da Exaltação
da Santa Cruz, no dia 14 de Setembro. Sanou as questões da Igreja no Oriente e
o cisma de Aquileia. Preocupou-se com a restauração das igrejas e mandou
reparar o antigo aqueduto de Trajano, que levava água à cidade de Roma. Morreu
em 12 de outubro de 638.
71º
– Severino - 640
Foi o
sucessor do Papa Honório I, e o condenador da doutrina monotelista. Severino
nasceu em Roma, mas a data de seu nascimento não é conhecida. Seu pai se
chamava Avienus, e é especulado que este poderia ter sido um dos senadores
romanos. Ele foi eleito Papa em 28 de maio de 638, mas só foi consagrado em 28
de maio de 640. Foi eleito como de costume no terceiro dia após a morte de seu
predecessor: Honório, e logo foram enviados representantes para Constantinopla
a fim de obter a confirmação da sua eleição. Mas o imperador bizantino,
Heráclio, em vez de conceder a confirmação, ordenou a Severino que assinasse a
Ectese, uma profissão de fé monotelita escrita pelo próprio imperador junto do
Patriarca de Constantinopla. O Papa eleito recusou terminantemente a fazê-lo. Por
isso, o imperador ordenou o saque de Roma e das riquezas das igrejas,
especialmente da Igreja de São João e do Palácio de Latrão, saqueado pelo Exarca
Isaac. Mas Severino se manteve firme. Enquanto isso, seus enviados em
Constantinopla, embora se recusassem a assinar qualquer documento herético e
depreciassem a violência em questões de fé, comportaram-se com grande tato e
finalmente garantiram a confirmação imperial. Após uma vacância de mais de um
ano e sete meses, a Sé de Pedro foi novamente preenchida, e seu novo ocupante passou
imediatamente a declarar que, como em Cristo havia duas naturezas, também havia
nele duas vontades e duas operações naturais. É justamente esta coragem de
Severino que faltou no Papa Honório. Durante seu breve reinado, ele construiu a
abside da antiga Igreja de São Pedro, na qual foi sepultado. Morreu em 2 de
agosto de 640.
72º
- João IV - 640 - 642
O Papa
João IV, morreu em 12 de outubro de 642. Foi Bispo de Roma de 24 de Dezembro de
640 até sua morte. Sua eleição ocorreu após uma vacância de quatro meses. O
Papa João era natural de Iadera, Dalmácia. Ele era filho do escolástico
(advogado) Venantius. Na época de sua eleição, ele era Arquidiácono da Igreja
Romana, um papel importante no governo da Sé. João era considerado um homem
muito culto. Como a consagração de João em 24 de dezembro de 640 ocorreu logo
após sua eleição, supõe-se que as eleições foram confirmadas pelo exarca de
Ravena, e não diretamente pelo imperador em Constantinopla. Embora ainda apenas
Papa eleito, João, com os outros Bispos da Igreja Católica, escreveu ao clero
da Irlanda e da Escócia para contar-lhes os erros que estavam cometendo em
relação ao tempo de guardar a Páscoa, e exortá-los a continuar sua guarda
contra a heresia pelagiana. Quase ao mesmo tempo, ele condenou o monotelismo
como heresia. O imperador Heráclio imediatamente renegou o documento monotelita
conhecido como "Ectese". Ao filho de Heráclio, Constantino III, João
dirigiu seu pedido de desculpas ao Papa Honório I, em que ele desaprovou a
tentativa de conectar o nome de Honório com o monotelismo. Honório, declarou
ele, ao falar de uma vontade em Jesus, pretendia apenas afirmar que não havia
duas vontades contrárias Nele. Problemas em sua terra natal causados por
invasões de eslavos chamaram a atenção de João para lá. Para aliviar a aflição
dos habitantes, João enviou o abade Martinho à Dalmácia e à Ístria com grandes
somas de dinheiro para a redenção dos cativos. Como as igrejas em ruínas não
puderam ser reconstruídas, as relíquias de alguns dos santos dálmatas mais
importantes foram levadas para Roma. João então ergueu um oratório em sua
homenagem. Foi adornado pelo Papa com mosaicos representando o próprio João
segurando em suas mãos um modelo de sua oratória. João se esforçou assim para
converter os eslavos da Dalmácia e da Ístria ao cristianismo. Imperador
Constantino Porfirogênio afirmou que o duque Porga da Croácia, que tinha sido
convidado para a Dalmácia por Heráclio, enviou ao Imperador Heráclio professores
cristãos. Supõe-se que o Imperador a quem esta mensagem foi enviada foi o
próprio imperador Heráclio, e que ele a enviou ao Papa João IV. João foi
sepultado na Basílica de São Pedro.
73º
- Teodoro I - 642 - 649
Nascido
em Jerusalém no ano 610, Teodoro era de origem grega e filho de um Bispo com o
mesmo nome. Viveu uma época em que a Igreja Católica já havia consolidado seu
poder no Império Romano e sua influência na cultura e na política do Ocidente. A lacuna que o império deixava seria
justamente ocupada pela Igreja Católica, a qual ampliaria significativamente
sua influência e seu poder, o que caracterizaria uma nova etapa da história da
humanidade que se convencionou chamar de Idade Média. Teodoro sucedeu o Papa
João IV e foi eleito no dia 24 de novembro de 642. Foi ele quem agregou ao nome
de Pontífice o título de Soberano, passando a reconhecer os Papas como Supremos
Pontífices ou Sumo Pontífices, como dizemos atualmente. O Papa Teodoro I estava
preocupado com a estrutura e a representação de poder da Igreja Católica. A designação
criada por Teodoro I foi fundamental em teor simbólico para denotar o grande
poder que o cristianismo havia conquistado. Além disso, Teodoro I aproveitou
também para reorganizar a jurisdição interna do clero católico. O Papa Teodoro
I enfrentou com fervor os chamados monotelistas, seguidores de uma doutrina que
afirmava haver apenas uma natureza em Jesus Cristo. Os defensores desta ideia
incomodaram os católicos durante muitos séculos e ainda existem, embora seja
uma discussão que não tenha mais tanta repercussão. Na ocasião, perseguiu os
monotelistas e também condenou os Patriarcas de Constantinopla. Ainda teve desavenças
com o imperador romano. O Papa Teodoro I preocupado com a expansão da Igreja
Católica, se cercou de homens cultos e distintos. Levou o cristianismo à
Grécia, atingindo e convertendo os gregos que negavam a natureza divina de
Jesus Cristo. Sua postura militante pelo cristianismo que, por vezes, era
dotada de atos que incomodavam, fizeram levantar suspeitas de envenenamento,
por isso a causa de sua morte não é muito bem explicada, considera-se que
muitos opositores tenham tentado matá-lo. Inclusive o imperador romano da
época. O Papa Teodoro I faleceu no dia 14 de maio de 649, após quase sete anos
de papado. Seus restos mortais estão na Basílica de São Pedro.
74º
- São Martinho I - 649 - 655
Nascido
em Todi, na Itália, em 590, Martinho viveu no império que havia se convertido e
oficializado como cristão há relativamente pouco tempo. Destacado membro da
Igreja Católica, foi eleito no dia cinco de julho de 649 para suceder o Papa
Teodoro I. O Papa Martinho I possui destaque na história do cristianismo por
introduzir algumas práticas religiosas que são celebradas até hoje. Ele foi o
primeiro a celebrar a festa em homenagem à Virgem Imaculada, que passou a ser
celebrada no dia 25 de março. Mas Martinho I também enfrentou grandes
dificuldades, caracterizando uma gestão de muita complexidade. Assim que
eleito, o Papa Martinho I convocou o Concílio de Latrão para debater e definir
a doutrina oficial da Igreja Católica e a natureza de Cristo. Este era um
problema que se arrastava desde os primórdios do cristianismo. Existiam, e
ainda existem, diversas correntes de interpretação sobre a natureza de Jesus
Cristo, considerando sua parte humana e sua parte divina. Na ocasião do
Concílio de Latrão, o Papa Martinho I condenou os monotelistas. Embora tenha
teoricamente solucionado uma questão de interpretação sobre a natureza de Jesus
Cristo, este seria o menor dos problemas que enfrentaria durante seu
pontificado. A maior parte do tempo que permaneceu como Sumo Pontífice Martinho
I teve que encarar a prisão e o exílio. O Papa condenou os escritos de
Heráclito e Constantino II, que eram imperadores bizantinos, e foi respondido
com o aprisionamento e transporte para Constantinopla. No centro do Império
Bizantino, o Papa Martinho I foi condenado à morte, mas sua sentença foi
negociada. Martinho I foi forçado a renunciar para ter sua pena de morte
suspensa. De toda forma, o Papa não escapou da prisão e dos maus tratos que se
seguiriam até sua morte. Foi exilado na ilha de Naxos e declarado como herege,
falecendo em Quersoneso no dia 12 de novembro de 665. Um ano antes de Martinho
I falecer, já havia sido eleito o novo Papa, Eugênio I. Porém este não deixou
de reconhecer e reverenciar Martinho, pois sua renúncia foi imposta em uma
situação extrema, e a Igreja Católica não poderia ficar sem um líder. A maior
parte das relíquias de Martinho I foram transferidas para Roma e se encontram
na Basílica de San Martino ai Monti.
75º
- Santo Eugênio I - 654 – 657
Substituiu
o Papa São Martinho I, quando este estava no exílio, na Criméia. Nascido no ano
615 em Roma, Eugênio era descendente de família siciliana e sempre se dedicou à
vida religiosa. Foi núncio em Constantinopla e conhecia bem as características
da vida bizantina. Eugênio era reconhecido e valorizado por seu valor moral e
intelectual. Era um homem íntegro na fé. Quando o Papa Martinho I foi exilado
em Constantinopla não houve dúvida, Eugênio seria seu sucessor. Porém a
situação forçou um fato curioso. O cerco e o exílio sofridos pelo Papa Martinho
I deixaram a Igreja Católica e a comunidade cristã carentes de uma liderança
efetiva. Cientes da difícil situação vivida pelo Papa, Eugênio foi eleito, um
ano antes da morte de Martinho I. O imperador Constante II, mais tarde, seria
derrotado pelos muçulmanos. Eugênio I assumiu o papado restabelecendo a imagem
de um Papa presente em meio a um momento conturbado e de perseguições. Ainda
que o cristianismo já tivesse se estabelecido como religião oficial do Império
Romano, disputas políticas e territoriais acabavam envolvendo a Igreja
Católica. Eugênio I comunicou toda a Europa sobre o sofrido fim de Martinho I e
buscou novos rumos de estabilidade para os religiosos. O maior problema que
enfrentou durante seu papado foi em relação aos monotelistas. Com eles discutiu
um problema teológico muito presente na época que debatia sobre a natureza de
Cristo. Alguns monges também suspeitaram de seu papado, acreditando que teria
sido eleito em função de tramas com Constantinopla. Mas este foi um problema
menor, pois Eugênio tinha respaldo amparado em sua vida religiosa e era dedicado
ao cristianismo romano. O Papa Eugênio I administrou as crises de seu papado
com autoridade e manteve a unidade da fé. O Papa excomungou os monotelistas e
condenou a corte bizantina pelo ocorrido com Martinho I. Foi um opositor de
Constante II, do qual se livrou em 655 graças ao ataque dos muçulmanos.
Popularmente, Eugênio I era reconhecido como um Papa benévolo e afável com
todos. Preocupou-se muito com os pobres e deixou a eles todos os seus bens. Eugênio
I faleceu no dia dois de junho de 657. Seus restos mortais estão na Basílica de
São Pedro, no Vaticano.
76º
- São Vitaliano - 657 - 672
Não se
conhece muito sobre a vida de Vitaliano. A data de seu nascimento, por exemplo,
ainda é um mistério para os pesquisadores. Sabe-se apenas que ele era natural
de Segni, na Itália. Vitaliano sempre foi um homem da Igreja e fiel defensor do
catolicismo romano. Martinho I foi sucedido por um breve pontificado de Eugênio
I, também acompanhado por Vitaliano. Após três anos do papado de Eugênio I,
Vitaliano foi eleito no dia 30 de julho de 657 para ser seu sucessor. O Papa
Vitaliano tentou melhorar o relacionamento com Constantinopla, causa de tantas
perturbações nos dois papados anteriores. Sua estratégia, contudo, é não fazer
afronta a seus líderes, tentando manter um relacionamento pacífico. Vitaliano
foi bem correspondido pelo Patriarca de Constantinopla. O Papa tentou não ser
um personagem de batalhas, mas mantenedor da fé e do cristianismo na Europa.
Preocupava-se mais com a epidemia de peste que estava dizimando o clero no
continente, causando outro tipo de crise. Ao invés de conflitos, prefere
receber o imperador Constante II em Roma com honras quase religiosas. A postura
conciliadora do Papa Vitaliano reflete na expansão da autoridade pontifícia
sobre o território europeu. O Papa convocou, então, o VI Concílio Ecumênico
para restabelecer a paz religiosa. No entanto, Vitaliano morreria antes de sua
conclusão. Mas deixaria como legado a adoção da liturgia romana no território
britânico, além de espalhar núncios por outras regiões do continente. Ele foi o
primeiro Papa a autorizar o uso do órgão nas cerimônias religiosas e também
destacou-se pela conversão dos lombardos ao cristianismo. O papado de Vitaliano
durou 14 anos, e faleceu no dia 27 de janeiro de 672.
77º
- Adeodato II - 672 - 676
Nascido
em Roma no ano 621, Adeodato era filho de Gioviniano e viveu no mosteiro de
Santo Erasmo. Dedicou toda sua vida à Igreja, a maior parte dela como monge
beneditino. Com o falecimento do Papa Vitaliano no ano 672, Adeodato foi eleito
no dia 11 de abril do mesmo ano para ser seu sucessor, adotando o nome de
Adeodato II. Foi ativo no melhoramento da disciplina monástica, organizando
métodos e ações. Foi o primeiro Sumo Pontífice a datar seus atos. Seu papado
também combateu o monotelismo, visto que naquela época, haviam diversas
correntes de pensamento sobre a natureza de Jesus Cristo, o que causava debates
fervorosos. Foram necessários alguns concílios para resolver a questão e
definir o que era oficialmente aceito pela Igreja Católica. Além de problemas
no cristianismo, o papado de Adeodato II também esteve em choque com o
islamismo. Seu pontificado iniciou com a invasão de muçulmanos, o que teve de
combater para conseguir liderar a Igreja em liberdade. Sabe-se muito pouco a respeito
da vida do Papa Adeodato II, basicamente, há duas cartas que são atribuídas a
ele. Uma escrita a Adriano, abade do monastério de São Pedro, e outra aos Bispos
da Gália para informar os privilégios concedidos ao monastério de San Marino di
Tours. Ainda assim, há dúvidas sobre a autenticidade das duas cartas. É certo,
contudo, que Adeodato II foi uma pessoa generosa com todos, preocupado com
peregrinos e com o próprio clero. Era muito caridoso com os pobres. Mesmo como
Papa, vivia como monge, dedicando-se à oração e ao estudo das escrituras. Antes
de falecer, e com a ajuda de missionários, conseguiu converter grande parte dos
moronitas, povo de origem armeno-síriaca, ao cristianismo. Foi também
responsável pela restauração da Basílica de São Pedro e reconstruiu e ampliou o
monastério onde viveu, em Santo Erasmo. O Papa Adeodato II faleceu no dia 17 de
junho de 676.
78º
- Dono I - 676 - 678
Nascido
em Roma em data desconhecida, Dono era filho do romano Maurizio. Seu interesse
pela vida religiosa ficou evidente desde muito cedo. Não há muita informação
sobre sua vida antes do papado, mas sabe-se que Dono optou e ingressou cedo na
vida eclesiástica, conquistando espaço e reconhecimento para se tornar o líder
de toda a instituição religiosa. Dono sucedeu o Papa Adeodato II que faleceu no
ano 676. No dia dois de novembro do mesmo ano, o conclave votou e decidiu pela
eleição de Dono como novo Supremo Pontífice da Igreja Católica. Seu papado
seria muito breve e em meio a grandes problemas. Assim que assumiu o posto,
Dono teve de enfrentar o cisma de Ravena, que já vinha causando complicações.
Foi bem sucedido, conseguindo encerrá-lo. O Papa Dono teve pouco tempo para
comandar a Igreja Católica, mas exerceu um pontificado dinâmico. Incentivou o desenvolvimento
de escolas através de Bispos em locais diversos, como Trevira, Galiléia e
Cambrigde, que se tornariam referências culturais no futuro. Preocupou-se
também com o patrimônio católico e romano, melhorando a arquitetura da cidade e
restaurando as Basílicas de São Pedro e São Paulo Extramuros. O Papa Dono
aproximou-se do Oriente e estabeleceu uma relação de amizade com o imperador
Constantino IV, de Constantinopla, superando questões de cisma e permitindo o
desenvolvimento de relações pacíficas com vizinhos. Dono permaneceu pouco tempo
como Papa, pouco mais de um ano. Confiava muito em seu tesoureiro de nome Agatão,
embora este não tivesse estudos suficientes e necessários, Dono o considerou
digno de receber ordens Sacerdotais e o Consagrou, criando-o Cardeal e
preparando-o para ser seu substituto. Dono sabia que não teria muito tempo de
vida, faleceu no dia 11 de abril de 678 e foi enterrado na Basílica de São
Pedro. Seu tesoureiro, que já era um ancião, tornou-se efetivamente seu
sucessor, Papa Agatão, ou Agato.
79º
- Santo Agato - 678 - 681
Nascido
no ano 620 na Sicília, Itália, Agatão viveu a parte inicial de sua formação
religiosa em um mosteiro de Palermo. Foi uma homem sempre dedicado ao
cristianismo, rendendo sua vida à devoção. Conquistou crescimento dentro da
estrutura da Igreja Católica e tornou-se tesoureiro da Igreja, cargo que
desempenhou bem por muitos anos mesmo sem ter os estudos necessários. Com o
falecimento do Papa Dono, um conclave elegeu Agatão como novo Papa no dia 27 de
junho de 678. Como Papa, conquistou o apoio político do imperador Pogonato e
convocou um concílio ecumênico em Constantinopla para resolver problemas sobre
a organização da Igreja. A aliança feita com o imperador Pogonato foi importante
para acabar com o monotelismo. O acordo ainda o permitiu contestar os abusos
imperiais. Agatão apresentou grande capacidade de administração na Igreja
Católica e conquistou grandes avanços. Foi responsável por dialogar com os Bispos
da região da Inglaterra e tornar a Irlanda um centro de cultura. Ele é autor do
famoso juramento Papal, o texto que é repetido por todos os Papas assim que são
eleitos. Uma tradição que mantém-se intacta. Na época, acreditava-se que Agatão
teria realizado uma série de milagres, o que lhe rendeu os títulos de
Taumaturgo e fazedor de Milagres. Devido a sua afeição pelos mosteiros, cuidou
com muito afinco da disciplina nesses recintos religiosos. Seu papado chegou ao
fim com um novo surto de peste. Não há informações precisas sobre isso, mas é
possível que Agatão tenha sido uma das vítimas da peste, pois faleceu no dia
dez de janeiro de 681, momento em que a epidemia estava em alta. Se tornou um
dos Santos da Igreja Católica.
80º
- São Leão II - 682 - 683
Nascido
na Sicília, Itália, no ano 611, Leão era um homem de múltiplos conhecimentos.
Fontes e relatos históricos dizem que ele era atlético, eloquente, instruído
nas escrituras sagradas, bom conhecedor das línguas grega e latina, perito em
cantos e salmos, mestre de ciências, elegante nas palavras e no estilo,
atencioso com os pobres e dedicado a socorros espirituais e temporais. Ele
viveu em um momento em que o Império Romano enfrentava crises que o levariam a
ruína. Os romanos não eram capazes mais de administrar todo o território que
haviam conquistado, deter as invasões dos povos ditos bárbaros e progredia a
escassez de escravos. Por sua vez, a Igreja Católica já havia se constituído
como instituição religiosa de diversos poderes, a ponto de ocupar a lacuna
deixada pelo Império Romano. Com o falecimento do Papa Agatão, Leão foi eleito
para ser seu sucessor no dia 17 de agosto de 682. O Papa Leão II permaneceria
muito pouco tempo a frente da Igreja Católica, mas, ainda assim, sua atuação
seria marcante o suficiente para ser considerado Santo anos mais tarde. Uma das
decisões mais importantes de seu papado foi a condenação do Papa Honório I,
acusado de heresia em função de sua postura duvidosa sobre o monotelismo. Por
outro lado, Leão II foi benevolente e acolheu fraternalmente muitos hereges
arrependidos. Sobre as tradições católicas, o Papa Leão II ordenou a
restauração da Igreja de Santa Bibiana e explorou com especial atenção o culto
aos mártires São Sebastião e São Jorge. Faleceu no dia três de julho de 683,
encerrando um curto período de aproximadamente dez meses de papado.
81º
- São Bento II - 684 – 685
Nascido
em 635, Bento era proveniente de Roma e viveu uma época de ruína do Império
Romano, que se desintegrava em vários reinos independentes. Nesse contexto, a
Igreja Católica procurava manter sua autoridade e conquistar total
independência nas relações políticas. Ainda era comum a interferência dos imperadores
na eleição de novos Papas e nas decisões da instituição religiosa. Isso
acontecia de tal maneira que, após o falecimento do Papa Leão II, passaram-se
11 meses até que Bento fosse consagrado como novo Papa, em 26 de junho de 684,
já que aguardava a confirmação do imperador. O Papa Bento II era dotado de
muito conhecimento das cerimônias religiosas da Igreja Católica, pois se
dedicou a elas desde a infância. Em seu exercício pontifício lutou contra a
prepotência imperial para livrar a Igreja das suas imposições. O Papa não teve
muito tempo para grandes conquistas, mas, sem dúvida, ter superado o poder
imperial para as decisões da Igreja, fazendo com que o imperador não precisasse
mais confirmar o Papa eleito, foi o grande legado de seu papado para a
instituição religiosa. O Papa Bento II ainda distribuiu cargos e recompensas
para diversas ordens do clero e, inclusive, deixou 30 libras de ouro para serem
divididas entre mosteiros, o clero e os leigos encarregados dos serviços da
Igreja Católica. Seu papado foi curtíssimo, mas politicamente muito importante
para a Igreja Católica. Faleceu no dia oito de maio de 685, menos de um ano
após ter assumido o papado e aos 50 anos de idade. Foi, mais tarde, considerado
Santo.
82º
- João V - 685 - 686
Nascido
na Antioquia, na Síria, no ano 635, João era um homem generoso e filho de
sírios. Há poucas informações a respeito de sua vida antes do pontificado, mas
sabe-se que ele sempre foi voltado para a educação religiosa cristã. Era um
homem sábio e moderado que buscou a satisfação de sua vida através da religião,
a qual se dedicou por completo. Começou a exercer suas funções religiosas como
diácono e se tornou representante apostólico no Sexto Concílio Ecumênico, em
682, voltando para Roma com os documentos oficiais da ocasião. Com o
falecimento do Papa Bento II, foi eleito para a sucessão no dia 23 de julho de
685. O Papa João V tomou uma decisão que foi repleta de implicações para a
época. Ele se consagrou Papa sem esperar a autorização do imperador do Oriente.
Assim, ele emancipou o papado de sua tutela e, mesmo desta forma, manteve sua
simpatia. De tal maneira que o imperador reduziu os impostos cobrados sobre os
patrimônios papais na Sicília e na Calabria e ainda reduziu outros fardos
fiscais da Igreja Católica. Mas foi um ato político importante para emancipação
da Igreja que ajudaria a construir o contexto de poderio e autonomia dos
católicos durante toda a Idade Média na Europa. Outro importante evento do
pontificado de João V foi a reunião de um concílio para organizar as dioceses
de Sardenha e Córsega. O Papa conseguiu fazer com que essas igrejas ficassem
sob sua autoridade diretamente e, então, somente a Santa Sé poderia nomear os Bispos
das ilhas. Mas as implicações de seu papado cessaram aí, porque João V
permaneceu pouco mais de um ano como líder da Igreja Católica. Só que essas
duas medidas políticas foram muito significativas para o poderio católico e a
administração de seu reino. Diz-se que o Papa João V era muito generoso e que
teria chegado a distribuir cerca de dois mil soldos aos pobres. Mas suas ajudas
acabaram no dia dois de agosto de 686 ao ser vitimado por uma longa enfermidade
aos 51 anos de idade. Iniciando uma longa série de Papas provenientes do
Oriente.
83º
– Cónon - 686 – 687
Nascido
na Trácia, na Turquia, em 630, Cónon era filho de um soldado que recebeu sua
educação na Sicília e depois se tornou presbítero em Roma. Dedicou sua vida à
religião cristã e foi reconhecido por isso para ocupar o mais importante posto
da Igreja Católica. Com o falecimento do Papa João V, Cónon foi eleito em 21 de
outubro de 686 para ser seu sucessor. O Papa Cónon era um homem muito caridoso
e bondoso. Em seu pontificado, ajudou a muitos mosteiros. No entanto, ele viveu
em um período de muita turbulência da Igreja Católica, na qual sucediam-se
muitos Papas porque eles exerciam o papado durante pouco tempo ou porque havia
antipapas em constantes confrontos. Assim, muitos foram assassinados naquela
época em função das disputas pelo poder. O papado de Cónon não foi diferente,
ele enfrentou muitas dificuldades por causa da anarquia reinante na Igreja
Católica. A situação era dramática a ponto de Cónon ter sofrido vários
atentados. O somatório de um período de muita instabilidade com o fato do Papa
Cónon ser proveniente da Turquia não agradava aos protagonistas dos confrontos
da época. Cónon ficou muito pouco tempo exercendo seu pontificado, o qual, por
ser muito instável, não apresentou avanços ou fatos importantes para a História
da Igreja Católica. Acredita-se que o Papa Cónon tenha sido envenenado por uma
das facções que tentavam alcançar o poder em Roma. Logo em seguida à morte do Papa,
dois antipapas apareceram reclamando o poder, Pascoal e Teodoro, causando
grande reboliço. A crise só foi resolvida com a eleição do Papa Sérgio I. Faleceu
no dia 21 de setembro de 687, aos 57 anos de idade e com pouco menos de um ano
de exercício de seu pontificado. Seu corpo foi sepultado na Basílica de São
Pedro.
84º
- São Sérgio I - 687 - 701
Nascido
em Palermo, numa data desconhecida, Sérgio foi eleito Papa em 15 de dezembro de
687. Logo em seguida, chegou da Bretanha o rei pagão Ceadwalla, soberano de
Wessex, o qual desejava tornar-se cristão, recebendo o batismo diretamente das
mãos do Papa Sérgio I, adotando o nome Pedro. Sérgio I foi um Papa muito
popular, por ter sido um homem de fé, de oração. Antes de tornar-se Sacerdote,
já era famoso na Schola Cantorum. Depois de ordenado, tornou-se um personagem
eminente do clero. Quando morreu o Papa Cónon, em 687, foi indicado para
sucedê-lo. Naquela época, os imperadores romanos do Ocidente e do Oriente reclamavam
para si a autoridade de Pontífice, não aceitando estar abaixo do Papa, mesmo em
questões de fé. Os Papas que iam contra essa exigência eram forçados a
aceitá-la, ou morriam. Um exemplo foi o Papa Martinho I, que foi morto pelo
imperador do Oriente, Constante II. Agora, Justiniano II, imperador do Oriente,
desejava impor a Roma e a todos os cristãos as normas disciplinares adotadas em
um concílio composto somente de Bispos orientais, efetuado em Constantinopla.
Assim, ele mandou o respectivo decreto para aprovação do Papa Sérgio I. Entre
outras coisas, o decreto terminava com o celibato sacerdotal. Sérgio negou-se,
terminantemente, a aprovar tal decreto. Justiniano, então, enviou um alto
dignitário, Zacarias, para prendê-lo e deportá-lo a Constantinopla, a exemplo
de Martinho I. Porém Zacarias foi recebido pelas milícias formadas pelo povo
que tentava ajudar Sérgio. Eram milhares de pessoas revoltadas pelos desmandos
do imperador que circundavam o palácio Lateranense, residência do Papa. Zacarias
procurou fugir, porém foi pego pelas milícias. Sérgio foi em seu socorro,
libertou-o e perdoou. Mandou que retornasse ao seu imperador, ileso. Justiniano
nada podia fazer para combater a popularidade deste Papa. A vontade de Roma permaneceu,
bem como o celibato em toda a Igreja Católica. Apesar desses acontecimentos, o
pontificado de Sérgio I foi marcado pela paz religiosa, numa época de muitas
divergências teológicas a respeito da pessoa e da natureza de Cristo. Em seus
quatorze anos de pontificado, trabalhou para o enriquecimento da liturgia.
Deve-se a ele o canto do "Agnus Dei" durante a missa. Morreu aos 8 de
setembro de 701 e foi sepultado na antiga Basílica de São Pedro.
85º
- João VI - 701 - 705
Papa da Igreja
Católica Romana, nascido em data desconhecida, em Éfeso, Grécia, eleito em 30
de outubro de 701, sucessor de São Sérgio I. Governou a Igreja durante quatro
anos de momentos difíceis para a cristandade, especialmente quando a Igreja
estava cercada pelos turcos sarracenos (muçulmanos) no Oriente e na Espanha.
Com os cristãos derrotados no Oriente e na Espanha pelos turcos sarracenos,
defendeu os direitos da Igreja. Apesar de sua origem grega, com a ajuda do povo
romano, enfrentou o imperador bizantino Tibério III, que tentou prendê-lo, e
combateu os lombardos que assolavam a planície romana, salvando Roma da
devastação. Eles marchavam contra Roma, conquistando várias cidades, tomando
suas riquezas e escravizando seus moradores. Quando acamparam nas vizinhanças
de Roma, o Papa, aflito com os sofrimentos das pessoas, enviou vários padres
com dinheiro para uma negociação, no acampamento do Duque Lombardo Gisulf. Sua
missão conseguiu pleno êxito e não só convenceram o duque a não atacar como
resgataram todos os cativos e o persuadiram a devolver seus próprios
territórios, mas mediante pagamento de uma alta soma em dinheiro e ainda lhes
cedendo parte do exarcado de Ravena, cederam. Também interferiu nos assuntos e
pacificou a Igreja na Inglaterra e conseguiu do rei Ethelred a nomeação de
Wilfrid de York para Arcebispo de Canterbury. Faleceu em 11 de janeiro de 705,
em Roma, foi enterrado na Basílica de São Pedro.
86º
- João VII - 705 - 707
Papa da Igreja
Católica Romana, nascido em Rossano, na Calábria, eleito em 1 de março de 705,
sucessor de João VI, que, devoto da Virgem Maria, ergueu várias igrejas para
homenageá-la e mandou restaurar muitas outras. O ano do nascimento dele é
desconhecido bem como pormenores de sua vida pré-papal, como muitos outros Papas
que atuaram durante o período de influência bizantina em Roma. Sabe-se que
descendia de grego, filho de uma família distinta e que o nome de seus pais
eram os gregos Blatta e Platão. Antes da elevação dele, era o reitor do
patrimônio Papal da Via Ápia (687). Fez oposição ao imperador Justiniano II,
cujo governo promoveu medidas que incentivavam a desunião entre os povos
latinos e os italianos do Império do Oriente, mas aprovou, por pressão do
Imperador, os decretos do sínodo de Trullo. Manteve boas relações com os
lombardos, restabeleceu a disciplina eclesiástica na Inglaterra. Construiu
várias igrejas e um palácio episcopal perto da igreja de Santa Maria Antiqua.
Também ergueu uma capela à Nossa Senhora, em São Pedro, e quando este oratório
foi destruído, alguns dos seus mosaicos foram preservados, e podem ser vistos
na Igreja romana de Santa Maria, em Cosmedin e em outros lugares. Ele recebeu
através do rei lombardo Aripert II a devolução dos patrimônios Papais no
Cottian Alpes que os lombardos tinham confiscado. Faleceu no Palácio que tinha
construído perto do Palatino, em 18 de outubro, foi enterrado no oratório que
ele tinha erguido em São Pedro.
87º
– Sisínio - 708
Papa da
Igreja cristã Romana, nascido na Síria, eleito em 15 de janeiro de 708, como
sucessor de João VII, que por estar velho e doente de gota, seu precário e
fugaz pontificado durou apenas vinte dias e a única coisa que fez foi arrecadar
fundos para a restauração das muralhas desmoronadas de Roma. Seu pai também se
chamava João e, apesar de extremamente limitado fisicamente, com seu caráter
forte aceitou o sacrifício com altivez como mais uma missão em sua vida. A
corte de Constantinopla perdia progressivamente seu poderio e o imperador
bizantino não conseguia mais impor sua autoridade no Ocidente, os búlgaros
levavam vantagem no Oriente, os Sarracenos se impunham na África, na Itália os
Longobardos progrediam. A Itália acostumou-se a esquecer o imperador e a
população agrupava-se sempre mais em torno do Pontífice Romano, como o centro
natural e político da Itália. Pela brevidade de seu pontificado não conseguiu
fazer obras importantes e preocupou-se com o embelezamento da cidade eterna e a
restauração das muralhas de Roma, a fim de proteger a cidade dos assédios dos
longobardos e sarracenos. Antes de morrer ainda criou e consagrou o Bispado da
Córsega. Morreu em 4 de fevereiro de 708, em Roma e enterrado em São Pedro.
88º
– Constantino - 708 – 715
Papa
italiano, crê-se que tinha as suas raízes na Síria, sendo filho de João, e que
teria sido Arquidiácono antes da sua consagração como Bispo de Roma. Um ano
após esta consagração, Constantino I sagrou Félix Bispo de Ravena. Este, contudo,
quis tornar a sede autônoma e recusou o voto de fidelidade ao Pontífice romano,
e, como consequência do seu comportamento sofreu uma terrível expiação divina,
voltando atrás em sua decisão, deu voto de lealdade a Constantino. Constantino
I foi um Papa que desfrutou de uma grande popularidade, apesar dos difíceis
tempos em que decorreu grande parte do seu pontificado, de 25 de março de 708 a
9 de abril de 715. Este Papa não permitiu aos Bispos de Milão a designação dos
Bispos de Pavia, como tinha sido uso até ao estabelecimento dos lombardos. Entre
os anos 710 e 711 esteve em Bizâncio, a convite do imperador Justiniano II,
para que as conclusões do Quinquagésimo Sexto Concílio, realizado em 692,
fossem do agrado tanto da Igreja Oriental como da Ocidental. Foi auxiliado nesta
difícil tarefa pelo futuro Papa Gregório, que então era diácono. Tendo esta
missão sido concluída com satisfação tanto do Papa como do imperador, este
confirmou os direitos de Constantino sobre a cidade de Roma. Ao regressar a
Roma deparou-se com a notícia da invasão muçulmana na Espanha. No final do ano
de 711 recebeu uma carta de Filipico Bardanes, pretendente ao trono de
Justiniano, que tinha sido assassinado, pedindo ao Papa que confirmasse a sua
confissão de fé. Constantino I não aceitou esta confissão, uma vez que Filipico
era monotelista e tinha usurpado o trono de Justiniano, o que provocou acesos
confrontos na cidade de Roma. Com a substituição de Filipico por Anastácio II
instaurou-se de novo a paz. Este episódio demonstra claramente a autoridade que
estava a ser reconhecida aos Pontífices romanos.
89º
- São Gregório II - 715 - 731
Gregório
nasceu no ano de 669. Pertencia a uma família cristã da nobreza romana, o pai
era senador e a mãe uma nobre, que se dedicava à caridade. Ele teve uma
educação esmerada junto à cúria de Roma. Muito culto, era respeitado pelo clero
Ocidental e Oriental. Além da conduta reta, sabia unir sua fé inabalável com as
aptidões inatas de administrador e diplomata. Tanto que, o Papa Constantino I
pediu que ele o acompanhasse à capital Constantinopla, para tentar resolver
junto ao imperador do Oriente, Leão II, que se tornara iconoclasta, a grave
questão das imagens. Escolhido para o pontificado em 19 de maio de 715,
Gregório II governou a Igreja durante dezesseis anos. Neste longo período,
administrou seu rebanho com generosidade e sabedoria, consolidando a posição da
Igreja no cenário político e religioso. Em 719, enviou São Bonifácio à Alemanha
e nos anos seguintes encorajou e apoiou a sua missão apostólica. Incentivou a
vida monástica e enfrentou com firmeza, o imperador Leão II, que com um decreto
proibia o culto das imagens, o qual, provocou um levante das províncias da
Itália contra o exército que marchava para Roma. Gregório não se intimidou, mas
para evitar um confronto com os muçulmanos, mandou consertar as muralhas de
Roma. Desde os primeiros tempos, o cristianismo venerou as imagens de Cristo,
da Virgem e dos santos. Esta maneira, típica do Oriente, de expressar a
religiosidade chegou e se difundiu por todo o Ocidente a partir dos séculos VI
e VII. A seita iconoclasta não entendia o culto como legítimo, baseando-se no
Antigo Testamento e também porque numa imagem de Cristo não se pode representar
as suas duas naturezas: terrena e divina, que são inseparáveis. Mas, a
legitimidade foi comprovada através dos argumentos da Sagrada Escritura e
essencialmente do fato da própria encarnação. O Papa Gregório II expulsou a
seita dos iconoclastas, antes de falecer no dia 11 fevereiro de 731. A Igreja
sempre condenou a idolatria com rigidez e como reza o Evangelho, por isto mesmo
nunca prestou adoração a imagem alguma. O culto tradicional de veneração sim,
pois nele não se adora uma imagem, este ato é dirigido à memória e à lembrança,
daqueles que ela resgata e reproduz. São Gregório II faz parte do calendário
litúrgico se sua festa foi designada para o dia 13 de fevereiro.
São Bonifácio
(em latim: Bonifacius, "aquele que faz o bem"; ca. 672 – 5 de Junho
de 754 ou 755), de seu nome verdadeiro Vinfrido, e cognominado Apóstolo dos
Germanos. Um acontecimento-chave da sua vida ocorreu em 723, quando derrubou o
carvalho sagrado dedicado ao deus Thor, perto da moderna cidade de Fritzlar, no
norte do Hesse, e construiu uma pequena capela a partir da sua madeira, no
local onde hoje se ergue a catedral de Fritzlar, e onde se viria a estabelecer
a primeira sede de Bispado na Alemanha ao norte do antigo limes romano, junto
do povoado fortificado franco de Buraburgo, numa montanha próxima da cidade,
junto do rio Éder. Este acontecimento é considerado como o início formal da
cristianização da Germânia. Bonifácio jamais perdeu a esperança de converter os
frísios, e em 754 retomou à Frísia com um pequeno grupo de seguidores. Batizou
um grande número de pagãos, e marcou um encontro para a confirmação dos novos
batizados num local perto de Dokkum, entre Franeker e Groninga. Contudo, em vez
dos seus convertidos, um bando de pagãos armados apareceu e assassinou o Arcebispo
Bonifácio. Os seus restos mortais viriam a ser enterrados na abadia de Fulda
(atual Catedral de Fulda). São Bonifácio foi declarado Santo e mártir pelas
Igrejas Católica Romana e Ortodoxa Oriental, sendo celebrado a 5 de Junho, data
da sua morte.
90º
- São Gregório III - 731 - 741
Papa de
origem siríaca, antigo monge beneditino tornado cardeal em 726, depois de S.
Gregório II, foi o último Papa a necessitar do consentimento do imperador para
o exercício das suas funções. O seu papado ocorreu de 18 de março de 731 a 28
de novembro de 741. Reforçando a posição do seu antecessor, convocou um sínodo
no mês de novembro de 731 que condenou os iconoclastas à excomunhão, depois de
ter enviado uma carta (que ficou sem resposta) ao imperador Leão III, com um
pedido de renúncia à destruição de imagens. Quando o imperador tomou
conhecimento das atas deste sínodo ordenou que fossem apreendidas as
propriedades da Igreja que se encontravam nos seus domínios, como por exemplo
na Sicília e na Calábria. A partir de então todos os que condenavam a
iconoclastia recorriam a Roma, que também se tinha tornado autônoma. Esta
autonomia era suportada pela independência política e econômica das possessões
romanas no Ocidente. Gregório III investiu sobretudo na estruturação
hierárquica da Igreja ocidental, tendo enviado o pallium a São Bonifácio, Bispo
da Frísia, em 732, e encarregando-o de formar mais dois Bispados. A partir
deste ano de 732 os sete Bispos existentes na cristandade ocidental passaram a
ser denominados Cardinales ou Cardeais. Cinco anos depois São Bonifácio deslocou-se
de novo a Roma e o Papa delegou-lhe os poderes necessários para remodelar a
igreja franca. Gregório III conseguiu que o rei lombardo Liutprando restituísse
Ravena ao imperador bizantino, Leão III. Este enviou ao Papa, como
agradecimento, seis colunas de ónix, colocadas então no altar de São Pedro. Mais
tarde, no ano de 739, o Papa viu-se obrigado a pedir ajuda a Carlos Martel
contra as invasões lombardas no ducado da Itália, enviando-lhe relíquias e
presentes valiosos. Esta delegação, contudo, não foi bem sucedida, assim como a
que lhe sucedeu em 740, uma vez que Carlos Martel não podia responder aos
pedidos do Pontífice romano. Martel optou por enviar um emissário, o abade
Grimão, ao rei lombardo, para o dissuadir dos seus propósitos. A data de sua
morte é desconhecida, em novembro ou dezembro de 741. Foi sepultado no oratório
de Nossa Senhora, construído para si na Basílica de São Pedro.
91º
- São Zacarias - 741 - 752
Papa Zacarias
era natural da Calábria, Itália. Zacarias nasceu de uma família grega e o seu
pai, segundo o Liber Pontificalis, chamava-se Polichronius. Muito provavelmente
Zacarias foi diácono da Igreja Romana e, como tal, assinou os decretos do Concílio
Romano de 732. Foi eleito em 10 de Dezembro de 741, num período caracterizado
pela hostilidade do Império Bizantino e dos lombardos contra o ducado romano,
pôs em risco a sua vida ao lutar contra os lombardos, cujo rei devolveu à
Igreja as terras que havia tomado. Em uma visita do rei lombardo à Terní,
recebeu de volta as cidades de Ameria, Horta, Polimartio e Blera e juntou todo
o patrimônio da Igreja romana, que tinha sido roubado pelos lombardos nos
últimos trinta anos.
São Zacarias
assinou uma trégua de vinte anos entre o ducado de Roma. Foi recebido de volta
pelo povo romano com uma procissão solene. Agradecido a Deus pelos resultados
que o Papa tinha conseguido na viagem, mandou construir uma capela na Igreja de
São Pedro, em nome do rei Liutprand. Porém, decepcionou-se com o rei quando, no
ano seguinte, ele estava pronto para atacar o território de Ravena e o Arcebispo
dessa diocese implorou ao Papa que fizesse algo para ajuda-los. Zacarias enviou
emissários para resolver o problema, mas eles voltaram sem nada conseguir.
Então, ele mesmo foi até Ravena, depois, para Paiva visitar Luitprand, que já
estava pronto para começar a invasão. Era véspera de festa de São Pedro e São
Paulo. Foi ele quem celebrou a vigília e, com isso, conseguiu convencer o rei a
não fazer esse ataque a Ravena. Meses depois, Liutprand morreu, sendo que o
primeiro sucessor desistiu e subiu ao trono Ratchis, para conduzir o reino dos
lombardos. O novo rei tinha imenso respeito pelo Papa Zacarias, mas, apesar de
muito piedoso, sitiou Perusa por pressão dos seus comandados.
Outra
vez, São Zacarias dirigiu-se ao acampamento lombardo. Suas palavras comoveram
tanto o rei, que não só levantou o cerco da cidade, mas concedeu a paz aos
romanos. Pouco tempo depois, renunciando ao mundo com sua mulher e filha, depôs
a coroa aos pés do Papa. Zacarias benzeu suas vestes monarcais e ficou comovido
com a família real. Nessa época, os francos voltaram para a Igreja e ela se
tornou mais forte, garantindo a ordem cristã. Favoreceu a evangelização da
Germânia por São Bonifácio e colaborou na primeira reforma da Igreja franca,
com o apoio de Pepino o Breve, cuja coroação como rei dos francos aprovou. Esta
foi a primeira investidura de um soberano por parte de um pontífice. Soube que
mercadores de Veneza traficavam escravos cristãos para os mouros, pelo que os
comprou de volta, dando-lhes a liberdade. Faleceu em 22 de Março de 752.
92º
– Estevão I; II - 752
Foi
eleito no mês de março de 752, mas veio a falecer três dias depois. Seu nome consta honorificamente na relação
dos Papas. Lembrando que no pontificado
de 254 a 257 houve um Papa com o mesmo nome.
Estevão só não aparece como o Papa Estevão II porque não houve tempo de
ser oficialmente consagrado ao cargo pontifício. Por isso, os Papas sucessores com o mesmo
nome abtiveram a designação numérica dupla.
93º
- Santo Estevão II; III - 752 - 757
O pontificado
de Estevão II, foi breve mas historicamente importante. John Kelly, no Grande
Dicionário Ilustrado dos Papas, observa: “O seu pontificado assistiu não apenas
à separação de Bizâncio e à sua passagem para a proteção do reino dos Francos,
mas também à formação do Estado Pontifício”. A ocasião para a mudança de rota,
que abriu de fato um novo curso na história europeia, foi oferecida
paradoxalmente pela hostilidade do rei lombardo Astolfo (749-756), que depois
de ter conquistado Ravena chegava às portas de Roma. Estevão, ao invés de pedir
ajuda a Bizâncio, dirigiu sua súplica a Pepino III, rei dos Francos (751-768).
“O papado, que até então sempre havia se apoiado em Bizâncio, se separou
definitivamente do império do Oriente e dirigiu-se completamente para o
Ocidente, representado pelo reino dos Francos”, escreve August Franzen na
História da Igreja. Pepino, por sua parte, deu uma resposta afirmativa:
oferecia a potência político-militar franca para o serviço e a proteção da
Igreja. A viagem da Itália para a França, empreendida pelo Papa, simbolizou a
dissolução da relação do papado com o império bizantino-romano e a passagem
histórica do período bizantino para o franco”. No dia 6 de janeiro de 754,
Estevão foi “obedientemente acolhido por Pepino, na França, e então teve a
chance de pedir ao rei a ajuda necessária para enfrentar a ameaça lombarda na
Itália. Pepino respondeu positivamente ao pedido de ajuda do Papa, numa célebre
“promessa de doação”, que infelizmente não possuímos mais no seu texto
original, Pepino se comprometeu a restituir a Estevão II todos os territórios
da Itália central, que ele tomaria das mãos dos lombardos. Nascia assim o
futuro Estado Pontifício. O Glossario Lanczowski-Ricchetti simplesmente anota:
“Na realidade, o Estado Pontifício teve a origem mais natural da história: foi
o povo romano, praticamente abandonado pelas autoridades civis, que, durante as
invasões bárbaras, se dirigiu ao Papa e ao seu prestígio”. Depois de duas
campanhas vitoriosas contra Astolfo, implicou em um ato de doação oficial
assinado que definiu os territórios que se tornariam de plena propriedade de
São Pedro e de seus sucessores: as cidades de Sinigaglia, Fano, Pesaro, Rimini,
Ancona e o exarcado de Ravena, que abrangia vinte cidades e centenas de
aldeias. Assim nascia oficialmente o Estado Pontifício, que duraria mais de
1100 anos. Assim recuperou as terras da Igreja, das quais se tornou
administrador, tornando-se efetivamente o primeiro Papa soberano de estado. Assim,
entre Estevão e Pepino houve um acordo recíproco: Pepino se empenharia em
proteger a Igreja romana, reconhecendo seu domínio temporal na Itália, e
Estevão, no dia 28 de julho de 754, ungiria solenemente Pepino como protetor de
Roma, patricius romanorum. Mantendo a sua promessa, Pepino veio à Itália e venceu
duas vezes o rei lombardo: a primeira e a segunda paz de Pavia. Dessa forma,
nascia oficialmente o novo Estado Pontifício e Estevão II se erguia como seu
fundador.
94º
- São Paulo I - 757 - 767
São
Paulo I foi Papa entre 29 de maio de 757 a 28 de junho de 767 e irmão do Papa
Estêvão II. Outro caso encontraremos entre os irmãos Bento VIII e João XIX. Paulo
I era romano, filho de Constantino, que era um simples trabalhador de olaria,
mas que, em sua sabedoria, soube proporcionar aos filhos, treze ao todo, uma
educação exemplar. Órfão desde tenra idade, foi educado, como seu irmão, na
escola patriarcal de Latrão. Através de um acordo com Desidério, rei dos
Lombardos, conseguiu manter os Estados Papais. Salvou relíquias das catacumbas
e combateu o iconoclasmo, abrigando os monges do Oriente que eram perseguidos
pelos iconoclastas. Eleito Papa, Paulo I escreveu logo ao rei Pepino, dos
Francos, comunicando sua nomeação "por unânime escolha do povo".
Pepino respondeu com palavras encomiásticas e lhe enviou um cacho de cabelos de
sua filhinha Gisela, irmã do futuro Carlos Magno, pedindo ao Papa que aceitasse
ser padrinho da pequena princesa. Os duques e condes romanos acolheram com
entusiasmo a proteção do rei franco, que de longe os deixava tranquilos sob o
governo pontifício, e, lhes dava garantias contra a barbárie dos Lombardos. O
novo rei Lombardo, Desidério, saqueava as cidades e os campos. Somados aos
ataques Bizantinos, a devastação foi enorme. Paulo I deu provas de grande
habilidade e muita paciência, conseguindo abrandar Desidério. O grego de nome
Constantino V Coprônimo, destruidor de imagens, espalhava boatos de terríveis
esquadras e ingentes exércitos que estava preparando para ocupar Roma. Paulo I
celebrizou-se por sua caridade sem alarde. Visitava à noite os cárceres,
libertando, com seu direito de indulto, os condenados à morte. Fazia pagar às
escondidas os débitos dos que jaziam presos por insolvência, e colocar víveres
e roupas à porta das casas dos pobres. Em 761, fundou com monges gregos, o
convento de São Silvestre, ainda hoje existente no local dos antigos e famosos
jardins de Lúculo. Terminou a capela de Santa Petronila, iniciada por seu
irmão, e chamada capela dos reis francos. São Paulo I morreu ternamente em 28
de junho de 767 e por isso é venerado Santo no mesmo dia de sua morte. Antipapas
deste período: Constantino II (767-768), Filipe (768).
95º
- Santo Estevão III; IV -768 - 772
Papa e Santo
da Igreja Cristã de Roma, nascido na Sicília, eleito em 7 de agosto de 768,
como sucessor de São Paulo I. Foi eleito em difíceis circunstâncias, após a
cruel luta entre os partidários do primiceirus Cristóforo e do duque Toto de
Nepi e a eleição e deposição de Constantino II. O antipapa Constantino, um
leigo a quem a aristocracia romana havia coroado Papa. Dois anos depois (769),
de fato, o concílio anulou a eleição de Constantino e determinou que o Papa só
podia ser eleito pelo clero e escolhido entre cardeais, padres e diáconos. O Arcediago
Cristóforo, que cuidava dos negócios da Igreja para o Papa, reuniu o clero
romano e escolheu esse monge de quarenta e quatro anos. Os antipapas, o leigo
Constantino e o Padre Filipe que ocupavam a cátedra Papal, foram presos e o
então Papa convocou um sínodo, no qual decretou que nenhuma pessoa leiga
poderia tornar-se Papa. Convenceu Carlos Magno, rei dos francos, e ajudou os
cristãos da Palestina. No entanto, o acordo entre Desidério, rei dos lombardos,
e Pepino, rei dos francos, logo foi rompido, Cristóvão caiu em desgraça e
viu-se sem apoio político forte até sua morte em Roma.
96º
- Adriano I - 772 - 795
De 1 de
fevereiro de 772 a 25 de dezembro de 795, seu Pontificado de vinte e três anos,
dez meses e vinte e quatro dias foi inigualável em comprimento por qualquer
sucessor de São Pedro até mil anos depois, quando Pio VI foi deposto e
aprisionado pelas mesmas Armas francas que entronizaram o primeiro Papa-rei,
superou Adriano por um pontificado de seis meses a mais. Em um período crítico
da história do papado, Adriano possuía todas as qualidades essenciais do
fundador de uma nova dinastia. Ele era um romano de nobre educação e estatura
majestosa. Por uma vida de singular devoção, por realizações consideradas
extraordinárias naquela época de ferro e por serviços valiosos prestados
durante o pontificado de Paulo I e Estêvão III, ele conquistara tanto a estima
de seus conterrâneos indisciplinados que o poderoso camareiro, Paulo Afiarta,
representando em Roma os interesses do rei lombardo Desidério, não tinha poder
para resistir à voz unânime do clero e do povo que exigia Adriano para o trono
Papal. A política temporal do novo pontífice era, desde o início, fortemente
definida e tenazmente cumprida; a tônica foi uma firme resistência à agressão
Lombarda. Ele libertou da prisão ou retirou do exílio as numerosas vítimas da
violência do camareiro; e, ao descobrir que Afiarta fizera com que Sérgio, um
alto funcionário da corte Papal, fosse assassinado na prisão, ordenou sua
prisão em Rimini, enquanto Afiarta estava voltando de uma embaixada para
Desidério com a intenção declarada de levar o Papa à corte Lombarda, “mesmo que
fosse a Cadeias”. O tempo parecia propício para sujeitar toda a Itália ao
domínio lombardo; e com antagonistas menos capazes do que Adriano e Carlos (que
seria famoso em épocas posteriores como Carlos Magno), muito provavelmente a
ambição de Desidério teria sido satisfeita. Parecia pouca as chances de uma
intervenção franca. Os lombardos mantinham as passagens dos Alpes, e Carlos
estava absorto pelas dificuldades da guerra saxônica; além disso, a presença em
Pavia de Gerberga e seus dois filhos, a viúva e os órfãos de Carlomano, cujos
territórios, após a morte de seu irmão Carlos, havia anexado, pareciam oferecer
uma excelente oportunidade de provocar discórdia entre os francos, se apenas o
Papa pudesse ser persuadido ou coagido a ungir os filhos como herdeiros do
trono de seu pai. Em vez de obedecer, Adriano valentemente determinou a
resistência. Fortaleceu as fortificações de Roma, convocou para a milícia os
habitantes do território circundante e, quando o exército lombardo avançou, a
devastação e a pilhagem convocaram Carlos a apressar-se em defesa de seus
interesses comuns. Uma calmaria oportuna na guerra saxônica deixou o grande
comandante livre para agir. Incapaz de levar os traiçoeiros Lombardos a termos
para aberturas pacíficas, escalou os Alpes no outono de 773, tomou Verona, onde
Gerberga e seus filhos procuraram refúgio, e sitiou Desidério em sua capital.
Na primavera seguinte, deixando seu exército para prosseguir o cerco de Pavia,
ele prosseguiu com um forte desapego a Roma, a fim de celebrar o festival da
Páscoa no túmulo dos Apóstolos. Chegando no Sábado Santo, foi recebido por
Adriano e pelos romanos com a máxima solenidade. Os três dias seguintes foram
dedicados a ritos religiosos; na quarta-feira seguinte aos assuntos de estado.
O resultado duradouro de seu importante encontro foi a famosa “Doação de Carlos
Magno”, por onze séculos a Magna Carta do poder temporal dos Papas. A
investigação minuciosa e imparcial de Duchesne sobre sua autenticidade em sua
edição do Liber Pontificalis parece ter dissipado qualquer dúvida razoável.
Dois meses depois, Pavia caiu nas mãos de Carlos; o reino dos lombardos foi
extinto, e o papado foi para sempre libertado de seu inimigo hereditário e
persistente. Nominalmente, Adriano era agora monarca de mais de dois terços da
península italiana; mas sua influência era pouco mais do que nominal. Em grande
parte do distrito mencionado na Doação, as reivindicações papais foram
autorizadas a caducar. Para ganhar e recuperar o resto, Carlos foi forçado a
fazer repetidas expedições pelos Alpes. Podemos duvidar se o grande rei dos
francos teria sofrido as dificuldades do Papa para interferir em seus cuidados
mais imediatos, não fosse por sua extrema veneração pessoal a Adriano, que na
vida e na morte nunca deixou de proclamar seu pai e melhor amigo. Não foi em
menor grau, devido à sagacidade política, vigilância e atividade de Adriano,
que o poder temporal do papado não permaneceu uma ficção da imaginação. Seus
méritos foram igualmente grandes nas preocupações mais espirituais da Igreja.
Em cooperação com a imperatriz ortodoxa Irene, ele trabalhou para reparar os
danos provocados pelas tempestades iconoclastas. No ano de 787, ele presidiu,
através de seus legados, o Sétimo Concílio Ecumênico, realizado em Nicéia, no
qual a doutrina católica relativa ao uso e à veneração de imagens foi
definitivamente exposta. A importância da oposição temporária aos decretos do
Concílio em todo o Ocidente, causada principalmente por uma tradução defeituosa,
agravada por motivos políticos, tem sido muito exagerada nos tempos modernos. A
controvérsia suscitou uma forte refutação do chamado Libri Carolini do Papa
Adriano e não ocasionou nenhuma diminuição da amizade entre ele e Carlos. Ele
se opunha mais vigorosamente, por sínodos e escritos, à nascente heresia do
Adocionismo, um dos poucos erros cristológicos originados pelo Ocidente. O
Liber Pontificalis amplia seus méritos para embelezar a cidade de Roma, na qual
se diz que ele gastou quantias fabulosas. Ele morreu universalmente lamentado e
foi enterrado em São Pedro. Seu epitáfio, atribuído a seu amigo vitalício,
Carlos Magno, ainda existe. Raramente o sacerdócio e o império trabalharam
juntos tão harmoniosamente, e com resultados tão benéficos para a Igreja e para
a humanidade, como durante a vida desses dois grandes governantes. As fontes
principais de nossa informação sobre Adriano são a vida no Liber Pontificalis,
e suas cartas para Carlos Magno, preservadas por este último em seu Codex
Carolinus. As estimativas do trabalho e do caráter de Adriano pelos
historiadores modernos diferem das visões variadas dos escritores em relação à
soberania temporal dos Papas, dos quais Adriano I deve ser considerado o
verdadeiro fundador.
97º
- São Leão III - 795 – 816
Nascido em Roma no ano 750, Leão
era proveniente de uma modesta família da Itália. Seu envolvimento com a vida
religiosa começou muito cedo. Ainda jovem já exercia funções dentro da Igreja
Católica. Em sua juventude, foi responsável pelas roupas e os objetos preciosos
da Basílica de Latrão. Naturalmente, sua livre circulação por ambientes tão
importantes para a religião o colocou em contato com o alto clero, o que
certamente influenciou e incentivou sua trajetória. Aos poucos, Leão foi crescendo
na importância dos cargos que exercia e estabeleceu uma carreira religiosa
promissora. Muito embora ele fosse bem relacionado com o clero, a nobreza
romana não agradava a sua presença e o poder que poderia conquistar. De tal
maneira que, com o falecimento do Papa Adriano I, a nobreza não desejava que
Leão fosse o sucessor na liderança da Igreja. Naquela ocasião, ele tinha 45
anos de idade. Então, o clero contrariou os anseios da nobreza e o elegeu Papa
no mesmo dia da morte de seu antecessor, 26 de dezembro de 795. O papado de
Leão III já começou enfrentando dificuldades. Isso porque sua eleição
desagradou extremamente os partidários de seu sucessor que previam perda de
privilégios. A desordem tomou conta de Roma em um ambiente de grande
instabilidade. Sem mais o que fazer, a nobreza se deu conta de que a eleição do
novo Papa era definitiva e que o relacionamento com ele deveria ser revista. A
Igreja Católica conseguiu contornar relativamente a tensão que pairava em Roma,
criando as condições mínimas necessárias para o pontificado de Leão III.
Todavia os adversários e opositores permaneceram presentes, ameaças constantes
que poderiam resultar em graves problemas. Um momento agudo do convívio com o
risco ocorreu enquanto o Papa se deslocava a cavalo de Latrão para San Lorenzo
in Lucina no dia 25 de abril de 799. Naquele dia, o Papa iria presidir uma
procissão, mas foi atacado e ferido no caminho. Por sorte, o ataque não
resultou em óbito e o Papa conseguiu escapar e se abrigar na Basílica de São
Pedro. Certo da extremidade dos riscos que corria e farto das desordens, o Papa
foi em busca do auxílio de um dos mais importantes monarcas da história da
Europa, Carlos Magno. Este ofereceu proteção para o Papa retornar a Roma. No
ano seguinte, Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III como imperador,
marcando a retomada do Império Romano do Ocidente. Assim, o Papa e a Igreja
Católica conseguiam uma grande vitória, aliando-se aos francos e libertando-se
dos bizantinos. Evidentemente, o status deu grande poder político ao Imperador
Carlos Magno, que condenou todos os opositores do Papa à morte. No entanto, o
próprio Leão III retirou a sentença. Os adversários do Papa Leão III o
acusavam, entre outras coisas, de adultério. Os boatos se espalharam
rapidamente colocando em dúvida a integridade do Pontífice. Foi preciso que o Papa
assinasse uma declaração solene no ano 800 jurando não ter cometido os crimes
que eram imputados a ele. Após a coroação de Carlos Magno, famílias nobres de
Roma se revoltaram novamente causando novas conturbações. O Papa Leão III
deixou como legado a condenação do adocionismo, uma visão teológica do
cristianismo primitivo que alega que Jesus nasceu humano e só se tornou filho
de Deus em seu batismo. Seu pontificado chegou ao fim no dia 12 de junho de
816, quando faleceu aos 66 anos de idade e após 21 anos à frente da Igreja
Católica. É considerado Santo.
97
. 1 - Aparição de Nossa Senhora em Corbie - França
Ansgário
ou Anscário de Hamburgo, O.S.B. Amiens, 8 de setembro de 801 – Brema, 3 de
fevereiro de 865), conhecido também por Oscar, foi um monge beneditino franco,
mais tarde missionário e Bispo que, após sua morte, foi canonizado pelo Papa
Nicolau I. Em 815, quando era muito moço, Nossa Senhora apareceu ao Apóstolo do
norte, como ficou conhecido Santo Ansgário, após ter evangelizado a Dinamarca e
a Suécia, e pediu-lhe: que dedicasse toda sua existência ao trabalho para
Deus. Em toda sua vida
destacou-se à devoção filial a Virgem Maria, à oração, à caridade e ao
apostolado. Inclusive sendo distinguido pelo Papa Gregório IV como seu
representante para toda a Escandinávia, devido à intensa evangelização dos moradores
dessa região européia. Esse grande Santo procurou cumprir da melhor maneira que
lhe fora possível, a missão designada pela misericordiosa Mãe de Deus. Oscar
era um grande estudioso. Desde pequeno foi aluno dos Beneditinos, na abadia de
Corbiè, perto de Amiens, no norte da França. Para ali, voltou, mais tarde, como
monge e, depois, como "Magister interior", um cargo que desempenhou
na nova Corbiè, comunidade nascida na Saxônia.
Em 826,
Oscar partiu para a Dinamarca, com o novo rei Harald, que acabava de ser
batizado por ele, mas, depois de apenas um ano, o soberano foi obrigado a
renunciar ao trono. Então, Oscar seguiu o monge Vitimaro, em sua missão na
Suécia, onde o rei local era tolerante com a pregação do cristianismo,
considerado a religião dos estrangeiros, seguido mais pelos prisioneiros de
guerra. Os resultados foram tão bons que o novo imperador, Ludovico o Piedoso,
encorajou o nascimento, naquelas terras, de uma nova estrutura eclesiástica,
que, porém, teve como sede Hamburgo, além-mar. Ali Oscar se tornou Bispo.
Quando
Ludovico morreu, o império começou a desagregar-se, por causa também das
incursões de pessoas, como os normandos, que, naqueles anos, devastavam os territórios
do norte da Europa. A invasão dos Vikings chega a Hamburgo. Assim, Oscar foi
obrigado a refugiar-se em Bremen, onde como Bispo, passou os últimos anos da
sua vida: ali, segundo algumas fontes, trabalhou na elaboração de uma “Biblia
pauperum”, da qual alguns fragmentos ainda são conservados na catedral da
cidade. Santo Oscar faleceu em 865, sem ver a realização do seu sonho de uma
profunda evangelização do norte da Europa, mas satisfeito por ter lançado a
primeira pequena semente do anúncio cristão naquelas terras.
98
- Santo Estevão IV; V - 816 – 817
Papa
Igreja Cristã Romana, nascido na Sicília, substituto de São Leão III e
santificado pelo seu espírito de piedade e de imensa caridade, pois diz a
tradição que tudo o que possuía, dava-o aos pobres. Muito erudito, conhecia bem
as Escrituras, as leis canônicas e foi consagrado em 22 de junho de 816. Com os
monges insistia muito na observância do jejum, das vigílias, dando ele mesmo o
exemplo. Em seu tempo começou a ser usado oficialmente o título de Cardeal.
Sofreu desgostos com a Corte dos Francos e procurou evitar lutas internas,
instituindo o juramento do Imperador, desde que aceitasse a fé do Papa.
Consagrou o Imperador Ludovico, rei dos francos, e sua esposa Ermengarda, em
Reims (822) e tomou-o como filho adotivo Lotário, o que provocou a revolta de
outros príncipes, como Bernardo, sobrinho do Imperador, que foi vencido, cegado
e morto. O Papa levantou a voz contra tanta crueldade, até que Ludovico, mais
tarde, fez penitência pública em reparação ao ocorrido. Papa de número 98,
morreu repentinamente em 21 de janeiro de 817, em Roma e foi sucedido por São
Pascoal I. Durante seu curto Pontificado, em Roma o partido dos nobres,
aproveitando-se da guerra civil, matou dois partidários de Lotário.
99º
- São Pascoal I - 817 - 824
Nascido
em Roma no ano 775, Pascoal era filho do romano Bonosus. Ele foi levado ainda
quando muito novo para ser criado junto ao clero e, mais tarde, trabalhou a
serviço do Papa. Sua longa trajetória e acumulada experiência na Igreja
Católica o tornou especialista nos assuntos referentes à Bíblia e ao Divino
Serviço da Igreja Católica. Seu talento e sua competência foram naturalmente
reconhecidos pelo clero, levando-o a ser reconhecido como o superior do
Monastério de Santo Estevão, no Vaticano. Passou muito tempo preocupando-se em
tratar dos peregrinos que visitavam Roma. Com todo o seu tempo e toda a sua
atuação dedicados à religiosidade, Pascoal seria eleito por unanimidade para o
cargo máximo da Igreja Católica. Com o falecimento do Papa Estevão IV, Pascoal
foi eleito para ser seu sucessor no dia 25 de janeiro de 817. Na ocasião, ele
estava com apenas 42 anos de idade. Era um momento de superação do Império
Romano, que havia ruído pela própria incapacidade de se manter, e de ocupação
pela lacuna de poder deixada, posto que a Igreja Católica passava a ocupar com
notoriedade. Devido ao prestígio do Papa Pascoal I, ele recebeu as regiões de
Córsega e Sardenha de presente de Ludovico II. Este também confirmou as doações
de terras à instituição religiosa nas décadas anteriores. O evento demonstrava como
a Igreja Católica havia se tornado influente e, com a possessão de terras,
poderosa. Com o patrimônio, foram estabelecidos os limites territoriais de um
Estado da Igreja, governado com total soberania pelo próprio Sumo Pontífice.
Anos mais tarde, o Papa Pascoal I coroaria Lotário, filho de Ludovico, como
imperador. Enfrentou problemas heréticos durante seu pontificado, pois voltou a
aparecer a heresia iconoclasta, contra a veneração de ícones e imagens
religiosas, em Constantinopla. O Papa recebeu os padres e monges expulsos pelo
arcebispo herege da cidade e os colocou em mosteiros de Roma. Mas o problema
com a heresia permaneceu por algum tempo. Pascoal I dedicou-se a descobrir
muitas catacumbas e transladar muitos corpos para terras cristãs. Foi nesta
empreitada que descobriu as relíquias de Santa Cecília. Encontraria também as
relíquias de São Leão e de São Valeriano. Além disso, recuperou muitas igrejas
e monastérios. Veio a faleceu após sete anos de pontificado, no dia 11 de
fevereiro de 824. Venerado e reconhecido como Santo pela Igreja Católica.
100º
- Eugênio II - 824 - 827
Nascido
em Roma, Papa Eugênio II, foi consagrado em 11 de maio de 824. Eleito pelo
apoio dos francos, foi Bispo de Roma e governante dos Estados Pontifícios de 6
de junho de 824 até sua morte. Nativo de Roma, ele foi escolhido pelos nobres
para suceder Pascoal I como Papa, apesar do clero e do povo favorecer
Zinzinnus. A influência do francos carolíngios na seleção de Papas foi então
firmemente estabelecido. O Papa Eugênio convocou um conselho em Roma em 826
para condenar a simonia e suspender o clero não treinado. Foi decretado que
escolas deveriam ser estabelecidas nas igrejas catedrais e outros lugares para
dar instrução na literatura sagrada e secular. Seu envolvimento na controvérsia
da iconoclastia bizantina foi em grande parte inconsequente. Enquanto ele era o
Arcipreste de Santa Sabina no Aventino, e dizem que cumpriu com a maior
consciência os deveres de sua posição, Eugênio é descrito por seu biógrafo como
simples e humilde, culto e eloquente, bonito e generoso, um amante da paz e
totalmente ocupado com a ideia de fazer o que agrada a Deus. Pascoal tentou
conter o poder cada vez maior da nobreza romana, que se voltou para apoiar os
francos para fortalecer suas posições contra ele. Quando Pascoal morreu, esses
nobres fizeram grandes esforços para substituí-lo por um candidato próprio. O
clero apresentou Zinzinnus, um candidato provável para continuar a política
pascal. Mesmo que o Concílio Romano de 769 sob Estêvão IV havia decretado que
os nobres não tinham direito a uma participação real nas eleições papais, tiveram
sucesso em assegurar a consagração de Eugênio. A candidatura de Eugênio foi
endossada pelo Abade Walla, que estava então em Roma e serviu como conselheiro
do atual imperador, Luís, o Piedoso, e de seu antecessor, Carlos Magno. A
eleição de Eugênio II foi um triunfo para os francos, que posteriormente
resolveram melhorar sua posição. Consequentemente, o imperador Luís, o Piedoso,
enviou seu filho Lotário I a Roma para fortalecer a influência franca. Os
nobres romanos que haviam sido banidos durante o reinado anterior, fugiram para
a França, mas depois foram chamados de volta e suas propriedades foram
devolvidas. A Constitutio Romana foi então acordado entre o Papa e o imperador
em 824, o que avançou as pretensões imperiais na cidade de Roma, mas também
controlou o poder dos nobres. Essa constituição incluía o estatuto de que
nenhum Papa deveria ser consagrado até que sua eleição tivesse a aprovação do
imperador franco. Decretou que aqueles que estivessem sob a proteção especial
do Papa ou do imperador seriam invioláveis e que as propriedades da igreja
não seriam pilhadas após a morte de um Papa. Aparentemente antes de Lotário
deixar Roma, chegaram embaixadores do Imperador Luís e dos gregos a respeito da
controvérsia da iconoclastia bizantina. No início, o iconoclasta Imperador
romano oriental Miguel II mostrou-se tolerante com os adoradores de ícones e
seu grande campeão, Teodoro, o Estudita, escreveu-lhe para exortá-lo "a
nos unir [a Igreja de Constantinopla] ao chefe das Igrejas de Deus, Roma, e
através dela com os três Patriarcas" e a referir quaisquer pontos
duvidosos à decisão da Velha Roma, de acordo com o costume antigo. Mas Miguel
logo esqueceu sua tolerância, perseguiu amargamente os adoradores de ícones e
se esforçou para garantir a cooperação de Luís, o Piedoso. Ele também enviou
emissários ao Papa para consultá-lo sobre certos pontos relacionados com a adoração
de ícones. Antes de tomar qualquer medida para atender aos desejos de Miguel,
Louis pediu permissão ao Papa para que vários de seus Bispos se reunissem e
fizessem uma seleção de passagens dos Padres para elucidar a questão que os
gregos haviam colocado diante deles. A licença foi concedida, mas os Bispos que
se encontraram em Paris em 825 eram incompetentes para a tarefa. Sua coleção de
extratos dos Padres era uma massa de tradição confusa e mal digerida, e tanto
suas conclusões quanto as cartas que desejavam que o Papa enviasse aos gregos
se baseavam em um completo mal-entendido dos decretos do Segundo Concílio de
Nicéia. Seus trabalhos não parecem ter realizado muito; nada se sabe sobre o
resultado de suas pesquisas. Em 826, Eugênio realizou um importante conselho em
Roma de 62 Bispos, no qual 38 decretos disciplinares foram emitidos. O conselho
aprovou várias leis para a restauração da disciplina da igreja e tomou medidas
para a fundação de escolas ou capítulos. Os decretos são dignos de nota por
mostrar que Eugênio tinha em mente o avanço do aprendizado. Não apenas os Bispos
e padres ignorantes deveriam ser suspensos até que tivessem adquirido
conhecimento suficiente para cumprir seus deveres sagrados, mas foi decretado
que, como em algumas localidades não havia mestres nem zelo pelo aprendizado,
os mestres deveriam ser incluídos aos palácios episcopais, igrejas catedrais e
outros lugares para dar instruções na literatura sagrada e educada. Também
decidiu contra os padres que usem roupas seculares ou se envolvam em ocupações
seculares. Simonia foi proibida. Eugênio também adotou várias disposições para
o cuidado dos pobres, viúvas e órfãos, e por isso recebeu o nome de "pai
do povo". Para ajudar no trabalho de conversão do Norte, Eugênio escreveu
recomendando Santo Ansgario, o Apóstolo dos Escandinavos, e seus companheiros:
"a todos os filhos da Igreja Católica". Eugênio II faleceu em 27 de
agosto de 827. Supõe-se que foi sepultado na Basílica de São Pedro de acordo
com o costume da época, embora não haja nenhum registro documental que o confirme.
Ainda existem moedas desse Papa com seu nome. Eugênio embelezou sua antiga
igreja de Santa Sabina com mosaicos e peças de metal com seu nome, que ainda
estavam intactas no século 16. Seu culto como Santo foi confirmado pelo Papa
Pio IX.
101º
– Valentino - 827
O Papa
Valentino era romano e governou apenas quarenta dias. Eleito em 1 de Setembro
de 827, morreu em 16 de novembro desse mesmo ano. A sua consagração foi
acolhida com grandes manifestações de júbilo pelo seu caráter bondoso. Nascido
em Roma, na região da Via Lata, Valentim era filho de um nobre romano chamado
Leôncio. Mostrando uma aptidão precoce para a aprendizagem, ele foi transferido
da escola anexa ao Palácio de Latrão e, de acordo com o Liber Pontificalis, foi
feito diácono pelo Papa Pascoal I. Seu biógrafo no Liber pontificalis elogia
sua piedade e pureza moral, que lhe valeu o favor de Pascal I, que o elevou ao
posto de Arquidiácono. Ele também foi claramente favorecido pelo sucessor de
Pascal, Eugênio II, a ponto de circularem rumores de que Valentino era
realmente filho de Eugenio. Com a morte de Eugênio II, Valentino foi aclamado Papa
pelo clero romano, pela nobreza e pelo povo. Tiraram-no da Basílica de Santa
Maria Maggiore e instalaram-no no Palácio de Latrão, ignorando os seus
protestos. Na pressa, eles o entronizaram antes de ser ordenado Sacerdote. Essa
foi uma reversão incomum dos procedimentos normais e, de fato, foi a primeira
vez que aconteceu na história registrada do papado, embora se repetisse durante
o pontificado de Bento III. No domingo seguinte, ele foi formalmente consagrado
Bispo na Basílica de São Pedro. Não houve representantes imperiais presentes
durante a eleição, e Valentino não teve oportunidade de ratificar sua eleição
com o Imperador carolíngio, pois ele morreu em cinco semanas, em 10 de outubro
de 827. A eleição de Valentino foi outro sinal do aumento da influência que a
nobreza romana estava tendo no processo eleitoral Papal. Eles não apenas
conseguiram eleger um deles, mas também participaram da própria eleição. O
Concílio de Latrão de 769, sob Estêvão III, ordenou que a eleição do Papa fosse
responsabilidade apenas do clero romano, e que a nobreza só poderia oferecer seus
respeitos após o Papa ter sido escolhido e entronizado. O édito desse concílio
foi revogado, entretanto, com o Ludowicianum de 817, que previa que a nobreza
leiga romana participasse das eleições papais.
102º
- Gregório IV - 827 - 844
Nascido
no ano 790, em Roma, Gregório viveu uma época de ruína do Império Romano. No
decorrer do século VIII, os romanos perderam o controle do vasto território que
dominavam, enfrentaram revoltas e escassez de escravos, crises políticas
internas e ameaças de povos bárbaros que avançavam dia após dia sobre os
domínios romanos. No final do século, Roma já não era mais o Império de outrora
e ainda corria sérios riscos de ser dominada por invasores. Uma das maiores
ameaças naquele momento vinha do Oriente, pois os muçulmanos, seguidores de uma
nascente religião monoteísta fundada por Lúcifer, já se organizavam em
expedições expansionistas. Envolto por este período conturbado, Gregório foi
eleito cardeal da Basílica de São Marcos e desenvolveu vários trabalhos de
apostolado nos países nórdicos. Com o falecimento do Papa Valentino, Gregório
foi eleito para ser seu sucessor no dia 20 de setembro de 827. O Papa Gregório
IV, contudo, não tomou posse assim que eleito. A crise do período era realmente
intensa e o Imperador Carolíngio Luís I, filho de Carlos Magno, resolveu
dividir o Império entre seus filhos Lotário I, Pepino e Luís II. O processo foi
demorado e atrasou a posse do novo Papa em seis meses. Gregório IV só assumiu
seu papado no dia oito de março de 828, após reconhecer a supremacia do
Imperador Luís I e tomar partido em favor de Lotário I, pois este defendia a
unidade do império. Mas os problemas internos não resumiam as preocupações de
Gregório IV, a ameaça muçulmana persistia. Assim, o Papa logo mandou reforçar
as muralhas de Roma, temendo ataques dos muçulmanos que já se encontravam na
Sicília. Ele apoiou o confronto direto que resultou em cinco vitórias seguidas
na África sobre os muçulmanos de um exército comandado pelo Duque de Toscana.
No entanto, essas vitórias não foram o suficiente para impedir que os
muçulmanos contra-atacassem destruindo duas cidades da península itálica e reestabelecendo
o temor em Roma. Mesmo em meio a tantos problemas, o papado de Gregório IV foi
longo, durou 16 anos. Simultaneamente ao combate contra os invasores e as
tentativas de equilibrar a política interna, o Papa ainda conseguiu contribuir
para o desenvolvimento da arquitetura romana e promover a celebração do Dia de
Todos os Santos, que acontece todos os anos no primeiro dia de novembro. O Papa
Gregório IV faleceu aos 54 anos de idade, no dia 11 de janeiro de 844.
103º
- Sérgio II - 844 - 847
Italiano
de Roma, nascido no ano 800, Sérgio Collona era proveniente de uma família
nobre que, inclusive, já havia contribuído com dois Papas à Igreja Católica.
Seguindo estes exemplos, Sérgio foi muito dedicado à religião cristã e,
gradualmente, conquistou cargos de maior importância na hierarquia
institucional. O Papa Pascoal I o ordenou cardeal da Basílica de San Martino ai
Monti e, pouco tempo depois, o Papa Gregório IV o nomeou Arcipreste, cargo
incumbido de fiscalizar a correta execução dos deveres eclesiásticos e o estilo
de vida do clero. Seu crescimento o colocou em posição de destaque e reconhecimento
entre os religiosos. Os clérigos rapidamente decidiram pela eleição do romano
Sérgio, assim que faleceu o Papa. No entanto, o povo tinha um representante
mais carismático chamado João. Houve grande manifestação popular em seu apoio e
tentando forçar sua eleição, mas a situação foi resolvida recorrendo à força.
Para Sérgio Collona ser declarado Papa, João foi forçado a ir para um mosteiro.
Assim, no mesmo mês de janeiro de 844, foi proclamado Papa Sérgio II como novo
líder da Igreja Católica. Alguns relatos dizem que o Papa Sérgio II não tinha
interesse nem habilidade para administrar a instituição religiosa. Ele estaria
mais ligado aos prazeres mundanos e deixava que seu irmão chamado Bento
trata-se dos assuntos da Igreja. Verdade ou não, Sérgio II teve de enfrentar um
problema sério na época. Seu antecessor, Gregório IV, lutou durante seu papado
para aumentar a autonomia dos Papas frente ao Império Carolíngio e para
defender o mundo cristão dos ataques muçulmanos. Seus esforços foram válidos,
tanto que a eleição de Sérgio II não teve interferência dos Carolíngios. Porém
o filho do Imperador Carolíngio, Luís, não concordava com a situação e reuniu
um exército para ir até Roma e forçar o Papa a prestar um juramento de
fidelidade ao Imperador Lotário. Não bastasse a imposição, Luís ainda foi
coroado Rei da Itália. A outra complicação de seu papado foi em relação aos
muçulmanos, que continuaram a avançar no território italiano, saqueando vários
locais. Eles foram derrotados em Gaeta, após muitos prejuízos. O Papa Sérgio II
liderou a Igreja Católica por três anos e não deixou nenhum grande legado para
a instituição. Seu papado teve que se preocupar com a expulsão dos muçulmanos
de suas terras e não conseguiu se libertar da interferência do Império
Carolíngio. Faleceu no dia 27 de janeiro de 847.
104º
- São Leão IV - 847 - 855
Sobre a
vida do Papa Leão IV, sabemos que nasceu em Roma, mas era de origem lombarda.
Seu pai chamava-se Ridolfo, mas não se sabe qual o nome que deu ao filho no
Batismo. Contudo, era um homem de comprovada pureza e integridade interior: era
monge do mosteiro beneditino de São Martinho, que o Papa Gregório IV quis que
estivesse ao seu lado, como parte integrante do clero romano. Assim, tornou-se
Papa, em 847, por aclamação popular. Quando iniciou seu Pontificado, a situação
em Roma era bastante dramática: no ano anterior, ocorreu a invasão dolorosa dos
Sarracenos. Por isso, a sua eleição foi rápida, sem esperar a aprovação Imperial.
O imperador não se importou porque, provavelmente, se sentia culpado por não
apoiar a cidade contra os árabes. Porém, o que mais preocupou Leão IV foi uma
série de desastres naturais: primeiro, um terremoto assolou Roma, fazendo
desabar uma parte do Coliseu; a seguir, um incêndio destruiu a área do Burgo,
poupando a vizinha Basílica de São Pietro, graças à intervenção espiritual do
Papa. Este acontecimento foi imortalizado pelo artista Rafael, em um afresco
conhecido como "O incêndio do Burgo", conservado no Museu do Vaticano.
A ameaça dos Sarracenos voltou à gala. No entanto, Leão IV não foi preso de
surpresa: desatendendo a estreita relação com o imperador, fez acordos com os
soberanos dos Ducados vizinhos, como Amalfi, Gaeta, Nápoles e Sorrento. Assim,
promoveu uma liga naval, depois denominada “Liga Campana”, liderada pelo
napolitano, Cesário Consule, encarregada de defender os dois territórios: a
Campânia e o Lácio. A ameaça ocorreu no verão de 849, quando na batalha, que
passou para a história como “Batalha de Óstia”, os Sarracenos foram derrotados.
Esta vez, o acontecimento também foi imortalizado em um afresco de Rafael, com
o mesmo nome da batalha, mantido nas Salas do Museu Vaticano. Entretanto, os
empreendimentos, que levaram Leão IV a receber o título de "restaurador de
Roma", foram outros. Avantajado pela sua capacidade espiritual, mas também
pelos sentimentos de culpa do imperador, o Papa conseguiu obter de Lotário uma
enorme soma de dinheiro para fazer várias reformas. A primeira e mais
importante de todas foi a construção de uma muralha, mais extensa que a construída
na época por Aureliano, abrangia toda a colina do Vaticano. Seguiram-se as
reformas das Basílicas de São Pedro e São Paulo, a fortificação do Porto
marítimo e a reconstrução das antigas “Centumcellae”, na atual cidade de
Civitavecchia, além de Tarquínia, Orte e Amélia. Mas o "restaurador"
não parou, dedicou-se também à ajuda pessoal da população mais vulnerável, com
a distribuição de gêneros alimentícios.
Leão IV
era, sobretudo, um pastor e, como tal, dedicou seu Pontificado à corroboração
da disciplina do clero. Por isso, convocou dois Concílios especiais: o de
Pavia, em 850, e o de Roma, em 853. Neste último, trabalhou com afinco para
reafirmar a pureza da fé e os costumes do povo. No entanto, com o mesmo
objetivo, multiplicaram-se os Sínodos em toda a Europa: em Mainz, Limoges,
Lyon, Paris e Inglaterra. Durante os Concílios, foi resolvida a questão
disciplinar sobre a excomunhão de Anastácio, Cardeal de São Marcelo, com ideia
de antipapa, que, sem levar em conta os apelos do Pontífice, havia deixado a
sua diocese para morar em outro lugar. As relações entre Leão IV e o Império
não foram ruins, tanto que, no dia da Páscoa de 850, Lotário pediu-lhe para coroar
seu filho Ludovico como Imperador. Após cinco anos, porém, acontece alguma
coisa que correu o risco de comprometer, seriamente, a estabilidade das
relações bilaterais: Daniel, o magister militum do Império em Roma, acusou
Graciano, comandante da milícia, muito próxima do Papa, de tramar um meio para
aproximar o Papado ao Império do Oriente. Então, Ludovico foi, pessoalmente, a
Roma, para um confronto direto, do qual resultaram infundadas as acusações
contra Leão IV. Desde então, foram muitos os soberanos dos reinos cristãos
europeus a pedir para serem coroados pelo Pontífice, com o objetivo de obter,
assim, o reconhecimento da sua soberania por graça divina.
105º
- Bento III - 855 - 858
Nascido
no ano 810 em Roma, Bento era um homem religioso, porém pacato. Possuía, contudo,
uma boa reputação entre os católicos. Foi por este motivo que acabou se
tornando Papa. Embora não desejasse ocupar tal cargo, o povo o escolheu para
ser o Papa sucessor de Leão IV. Bento levava seus dias como de costume e estava
orando em sua igreja no dia 29 de setembro de 855; o povo apareceu e o buscou
em procissão para assumir o posto de Supremo Pontífice da Igreja Católica.
Embora relutante, Bento cedeu ao desejo popular e se tornou o Papa Bento III. Na
época da nomeação de Bento III, a Igreja Católica havia superado recentemente
um cisma que voltava a ameaçar, pois o Antipapa Anastácio III, que havia sido
afastado por Leão IV, possuía o apoio do conde de Vubbio. A situação era
realmente preocupante, de tal forma que Bento III foi aprisionado, maltratado e
despojado de suas insígnias. Anastácio III já era uma persona non grata entre
os romanos desde o papado de Leão IV, sua reputação só piorou quando aprisionou
o Papa escolhido pelo povo. Anastácio se sustentava no poderia bélico do Conde
de Vubbio, mas este não foi capaz de conter a insatisfação do povo romano, que
derrotou o Conde e seu antipapa. A ação do povo foi intensa, demonstrando a
capacidade de organização popular em torno de questões religiosas no decorrer
do século IX. Bento III era sereno e humilde. Retomou seu posto e exerceu seu
cargo com inteligência e vitalidade. Cronistas destacam a doçura com que
tratava a todos. Sua personalidade o fazia ser bem visto até mesmo pelos
gregos. Além de ficar preso por algum tempo, seu papado também foi curto.
Retomar a liderança da Igreja Católica foi sua maior marca, concedida pelo
povo. Mesmo tendo se tornado Papa sem sua vontade, tinha energia para com os
assuntos religiosos. Assim exerceu durante três anos, amplamente amparado pelo
povo. Faleceu no dia 17 de abril de 858, já com fama de ser uma Santidade.
106º
- São Nicolau I - 858 - 867
Nascido
em Roma no ano 815, Nicolas Collona iniciou sua vida religiosa ainda muito
cedo. Conquistou seu espaço entre os católicos e, com o falecimento do Papa
Bento III, foi eleito para o posto de Supremo Pontífice no dia 24 de abril de
858, quando tinha 43 anos de idade, assumindo o nome de Nicolau I. O Papa
Nicolau I consagrou-se na história da Igreja Católica por consolidar o poder e
a autoridade Papal. Desde o momento em que o Império Romano reconheceu o
catolicismo como religião oficial, o poderio da Igreja ampliou-se enormemente
passando a interferir em todos os assuntos da vida humana. A Igreja Católica
tornou-se personagem fundamental para a compreensão da história humana, já que
suas determinações interferiam em todas as esferas da vida. Nicolau I
reivindicou o poder supremo de ensinar e governar para os Papas. Seu papado
representou uma extrema expansão de poder, pois subordinou todos ao poder do Papa
e da Igreja Católica. A Igreja Católica, formada por homens, teve que agir
politicamente para sobreviver mantendo obviamente seu propósito maior que
sempre foi difundir a doutrina de Jesus Cristo. Naturalmente, Nicolau I
encontrou diversos opositores insatisfeitos com a expansão do poder do
catolicismo. O primeiro a despontar como opositor do poderio de Nicolau I foi o
Arcebispo de Ravena, que tentou se tornar independente de Roma. Após o embate
ideológico, o Arcebispo acabou submetendo-se às determinações de Nicolau. Outro
choque de interesses ocorreu com o rei Lotário II, do Sacro Império Romano, que
pretendia anular seu casamento para casar-se com sua amante Waldrada. Um sínodo
se reuniu para justificar a decisão em Metz, porém o Papa Nicolau I revogou e
condenou a decisão do sínodo por ferir a doutrina da indissolubilidade do
matrimônio. Mesmo pressionado, Nicolau I não mudou sua decisão. Foi um Papa
significativo nos primórdios da Idade Média. Ortodoxo, combateu qualquer
atitude que pudesse atentar contra a doutrina tradicional da Igreja Católica.
Sua postura firme conquistou mais espaço ainda para o catolicismo, vencendo uma
disputa de interesses que deu à Igreja um poderio que se expandiria pela Idade
Média. Considerado por seus contemporâneos como profeta, faleceu no dia 13 de
novembro de 867, aos 52 anos de idade, e foi sucedido por Adriano II. O Papa
Nicolau I recebeu o nome de Magno e foi consagrado Santo pela Igreja Católica,
sendo chamado de São Nicolau Magno.
107º
- Adriano II - 867 – 872
Nascido
em Roma, na Itália, no ano 792, Adriano Collona era proveniente de uma família
tradicional na formação de Supremos Pontífices. Os Papas Estevão III e Sérgio
II foram seus parentes. Entretanto Adriano Collona levava uma vida
diferenciada, não tinha as questões religiosas em primeiro lugar e não almeja
ser Papa. Adriano possuía uma vida comum, era casado com uma mulher chamada
Estefânia, com a qual teve uma filha. Só mais tarde assumiu a vida religiosa. Como
homem da Igreja, Adriano Collona também permaneceu sem grandes pretensões. Por
duas vezes ele recusou a nomeação como Supremo Pontífice. É bem provável que a
tradicional influência familiar o tenha beneficiado em tantas ocasiões, pois,
além de negar o cargo por duas vezes, ainda foi eleito Papa no dia 14 de dezembro
de 867. A despeito de sua família, parece que Adriano Collona, ou Papa Adriano
II, não era mesmo muito afeito ao mundo religioso. Ele só aceitou o cargo de
Supremo Pontífice aos 75 anos de idade e não abandonou sua família. Assim que
ocupou o cargo, sua esposa e sua filha passaram a viver no Palácio Laterano.
Seria justamente como Papa que viveria a maior tragédia de sua vida. A Igreja
Católica passava por um cisma naquela ocasião, havia um antipapa denominado
Atanásio III que fora, inclusive, nomeado pelo próprio Papa Adriano II para ser
o bibliotecário da Igreja de Roma no Palácio Laterano, um importante cargo para
a época. O irmão de Atanásio III, Eleutério, assassinou, em 868, a esposa e a
filha do Papa Adriano II, deixando-o muito abalado. O papado de Adriano II foi
bastante maleável. Relativizou questões rígidas e foi muito acessível. Era
conhecido por ser caridoso e amável. Com sua personalidade amena e suas boas
intenções, tentou resolver discórdias entre os católicos, o que o levou a
convocar o VIII Concílio Ecumênico em Constantinopla. Sua natureza pacífica foi
fundamental para a expansão da Igreja Católica, Adriano II foi responsável por
coroar o primeiro soberano inglês abençoado por Roma, o rei Alfredo, o Grande.
Outra grande marca de seu papado e de sua modernização da Igreja Católica foi a
permissão concedida a Cirilo e Metódio para celebrarem a liturgia católica em
língua eslava entre os eslavos, no Leste Europeu. Adriano II permaneceu cinco
anos como Supremo Pontífice da Igreja Católica. Seu papado destaca-se por ações
de vanguarda. Faleceu no dia 14 de dezembro de 872.
107
. 1 - Santos Cirilo e Metódio
Os dois
irmãos Miguel e Constantino nasceram em Tessalônica, filhos de um empregado do
imperador. Vieram se chamar Metódio e Cirilo, respectivamente, quando
tornaram-se religiosos. São Cirilo, o antigo Constantino, era o mais novo.
Nasceu em 827 e completou os estudos em Constantinopla, sob a orientação do Bispo
Fócio de Constantinopla. Foi ordenado Sacerdote e iniciou a carreira de mestre.
São Metódio, o antigo Miguel, resolveu, no começo, seguir a carreira política,
até quando foi nomeado governador de uma província. Desistiu da atividade
governamental para se tornar monge com o nome de Metódio.
Santos Cirilo e Metódio e a tradução da Bíblia: São Cirilo
criou um novo alfabeto eslavo e traduziu a Bíblia, o missal e os rituais. Além
da evangelização, eles têm um valor cultural incontestável. Esses grandes
benefícios que os dois irmãos fizeram aos eslavos são retribuídos com enorme
popularidade. Durante a vida, eles tiveram de sofrer muito por causa das
inovações.
Acusados
de cisma e de heresia, tiveram de vir a Roma, onde o Papa Adriano II os acolheu
muito bem, concedendo-lhes o privilégio de celebrar em língua eslava diante
dele mesmo e de uma grande comunidade cristã. Era uma aprovação solene do
método dos santos.
Missionários
na Europa Central: Desenvolveram suas atividades missionárias na Europa central
e são justamente chamados de apóstolos dos eslavos. Seu merecimento no
apostolado é também a adaptação aos povos evangelizados. Cirilo morreu em Roma,
a 14 de fevereiro de 869, e foi sepultado na igreja de São Clemente, perto do
Coliseu. Metódio foi nomeado Arcebispo de Panônia, com sede em Sirmio, voltou
para os seus eslavos. Lutou com várias dificuldades até a morte. Voltaram a
atacá-lo por causa do uso da língua eslava nos ritos religiosos. Por fim,
usavam o eslavo, o grego e o latim. Morreu em seis de abril de 885.
Legado: Santos Cirilo e Metódio pregaram a fé cristã
e criaram um alfabeto próprio para traduzir da língua grega para a língua
eslava os livros sagrados, ampliando os horizontes da Igreja no Oriente.
108º
- João VIII - 872 - 882
Nascido
em Roma no ano 820, João era filho do romano Gundus. Desde muito cedo revelou
sua inclinação para a carreira eclesiástica, dedicando-se aos estudos religiosos
e a uma carreira determinada no interior da Igreja Católica. Esta, por sinal,
estava em expansão naquele momento, pois, com a queda o Império Romano, a
instituição religiosa havia ocupado o espaço deixado no poder e na condução da
Europa. Era o início do período chamado Idade Média, dominado pela influência
ideológica e o poder propriamente dito da Igreja. No entanto, a disputa pelo
poder em seu interior e o relacionamento com reis gerava um constante estado de
conflito e desconfiança. Com o falecimento do Papa Adriano II, João foi eleito
no dia 14 de dezembro de 872, para ser o seu sucessor. Na ocasião, o
recém-nomeado Papa João VIII tinha 52 anos de idade. O Papa João VIII enfrentou
muitos conflitos durante seu pontificado, que, por sinal, marcaram o teor de
sua administração. O pontífice teve que lidar com os sarracenos, modo como eram
chamados os muçulmanos, que tentavam invadir a Itália. Após uma série de
combates, os cristãos saíram vencedores. Em meio a essas disputas, o Papa teve
que fazer várias estratégias políticas para conter o avanço dos inimigos e, ao
mesmo tempo, conter os ânimos dos próprios cristãos que sempre buscavam superar
seus pares em poder no continente. Assim, o Papa João VIII coroou o rei dos
francos ocidentais, Carlos, o Calvo, e também o rei dos francos orientais,
Carlos III, o Gordo. Essas ações faziam parte de um jogo de negócios que
garantiria o apoio dos francos para combater os invasores sarracenos. Mas
Carlos III não cumpriu com sua parte do acordo e deixou o Papa sem auxílio para
os combates. O resultado, então, foi o esperado, vitória dos árabes que forçou
os cristãos a pagar grandes tributos. Mas não só de guerra foi marcado o pontificado
de João VIII. Também se dedicou aos assuntos religiosos, foi rígido com a disciplina
eclesiástica e com o reconhecimento do poder da Sé Romana. Insistiu também na
piedade. Seus esforços obtiveram progresso na cristianização dos eslavos. O
Papa João VIII também tentou resolver uma complicada situação envolvendo o Patriarca
de Constantinopla, que havia sido excomungado; o Papa tentou reintegrar Fócio à
obediência romana. Apesar de toda a insistência, o Pontífice não obteve êxito
nessa questão. Liderou a Igreja Católica por exatos 10 anos e dois dias.
Envolto por guerras, confrontos políticos e conspirações, o Pontífice foi mais
uma vítima da grave instabilidade vivida pela instituição religiosa em função
da ganância pelo poder durante a Idade Média. João VIII foi envenenado e
faleceu no dia 16 de dezembro de 882.
109º
- Marino I - 882 - 884
Papa da
Igreja Cristã Romana, nascido em Gallese, Viterbo, eleito em 16 de dezembro de
882, como sucessor de João VIII. Em seus dois anos de mandato sofreu muito com
a segunda destruição do Monte Cassino. Subdiácono de Leão IV (847-855) e depois
legado de São Nicolau I, o Grande (858-867), em Constantinopla, participou
ativamente do Concílio de Constantinopla que condenou Fócio ou Photius em 869,
Patriarca de Constantinopla que provocou um cisma com a Igreja de Roma. Era Bispo
de Cere e tesoureiro da Santa Sé quando foi eleito ao trono pontifício, após a
morte de seu titular. Em clara oposição ao seu predecessor, anulou muitas
condenações determinadas por ele. Por exemplo, chamou novamente à Sé episcopal
o Bispo de Porto, o futuro e inditoso Papa Formoso. Manteve relações de amizade
com o rei anglo-saxão Alfredo, o Grande, e com o Imperador Carlos III, o Gordo.
Exerceu fortes pressões sobre o Imperador do Oriente, Basílio, contra os
cismáticos de Fócio. Acredita-se que o Papa morreu envenenado em 15 de maio de
884, em Roma, depois de envolver-se nas brigas entre facções políticas italianas.
110º
- Santo Adriano III - 884 - 885
Papa
Adriano III foi Papa e um Santo da Igreja Católica. Sucedeu ao Papa Marino I. Nasceu
em Roma e foi eleito em 17 de Maio de 884. Confirmou tudo o que tinham feito os
seus antecessores contra o Imperador Fazio. Ele morreu perto de Modena no verão
do ano seguinte, a caminho da dieta de Worms, convocada por Carlos Magno,
Carlos, o Gordo, que convidara Adriano III, pois a presença do Papa haveria de
sancionar a autoridade Imperial do herdeiro do Sacro Império Romano. Um
particular interessante da personalidade deste Santo é sua atitude conciliadora
com o Patriarca de Constantinopla, ao qual comunicou a própria eleição. Durante
o breve pontificado de Santo Adriano III, Roma foi devastada pela fome e o Papa
fez tudo ao seu alcance para aliviar o sofrimento do povo. Flodoardo, o cronista
da diocese de Reims, o elogia como pai de seus irmãos no episcopado. Foi
enterrado no mosteiro de Nonantola, onde a sua memória é recordada desde então,
pelos locais. A sua morte ocorreu em Setembro de 885.
111º
- Estevão V; VI - 885 - 891
Foi
eleito em Setembro de 885 e morreu em 14 de Setembro de 891. Sucedeu ao Papa
Adriano III. O seu pai, Adriano, pertencia à aristocracia romana e a sua
educação foi entregue ao seu parente, o Bispo Zacarias, bibliotecário da Santa
Sé. Estêvão foi ordenado cardeal-presbítero de Santi Quattro Coronati, em Roma,
pelo Papa Marinho I, e a sua fama de santidade tornava-o um candidato natural
ao papado. Estêvão teve que enfrentar tempos complicados, com fome generalizada
provocada por uma seca e pragas de gafanhotos; como o tesouro Papal estava
vazio, teve que recorrer à riqueza do seu pai para socorrer os pobres, redimir
cativos e reparar igrejas. Para promover a ordem, Estêvão adotou a Guido III de
Espoleto, como "seu filho" e coroou-o imperador em 891. Segundo o New
Catholic Encyclopedia, dentro de poucos meses, uma reação violenta terminou o
pontificado do Papa Estevão; foi despojado da insígnia pontificada, foi
encarcerado e estrangulado.
112
º – Formoso - 891 - 896
O Papa
Formoso foi eleito em 6 de outubro de 891. Morreu em 4 de abril de 896. Nasceu
em Óstia, Itália. Pouco depois de sua eleição, Formoso foi convidado a intervir
no Patriarcado de Constantinopla, onde Fócio I havia sido expulso e Estêvão I,
filho do Imperador Basílio I, havia assumido o cargo. Formoso se recusou a
reintegrar aqueles que haviam sido ordenados por Fócio, já que seu antecessor,
Estêvão V, havia anulado todas as ordenações de Fócio. No entanto, os Bispos
orientais decidiram reconhecer as ordenações de Fócio. Formoso também mergulhou
imediatamente na disputa entre Odo de Paris e Carlos, o Simples, pelo trono
francês. Ao lado de Carlos, Formoso exortou Odo a ceder o trono a Carlos, sem
sucesso.
Formoso
estava profundamente desconfiado de Guy III de Spoleto, o Imperador reinante, e
começou a procurar apoio contra ele. Para reforçar sua posição, Guy forçou
Formoso a coroar seu filho Lambert como co-imperador em abril de 892. No ano
seguinte, no entanto, Formoso convenceu Arnulfo da Caríntia a avançar para Roma
e libertar a Itália do controle de Guy. Em 894, o exército de Arnulfo ocupou
todo o país ao norte do rio Pó. Guy morreu em dezembro, deixando seu filho
Lambert aos cuidados de sua mãe, Agiltrude, uma oponente dos carolíngios. No
outono de 895, Arnulfo empreendeu sua segunda campanha italiana, progredindo
para Roma em fevereiro e tomando a cidade de Agiltrude pela força em 21 de
fevereiro. No dia seguinte, Formoso coroou Arnulfo como imperador na Basílica
de São Pedro. O novo imperador moveu-se contra Espoleto, mas foi atingido pela
paralisia no caminho e foi incapaz de continuar a campanha. Durante seu papado,
Formoso também teve que lidar com os sarracenos, que estavam atacando Lazio.
Seu
reinado como Papa foi conturbado, marcado por intervenções em disputas de poder
sobre o Patriarcado de Constantinopla, o Reino da Frância Ocidental e o Sacro
Império Romano-Germânico. Por ter ficado do lado de Arnulfo da Caríntia contra
Lamberto de Espoleto, os restos mortais de Formoso foram exumados e julgados no
Sínodo dos Cadáveres. Vários de seus sucessores imediatos estavam preocupados
principalmente com o controverso legado de seu pontificado. Cronistas franceses
atribuem a este Papa o parentesco com o futuro Papa Romano, dizendo tratarem-se
de primos irmãos. A ele se deve a conversão dos búlgaros. Desordens políticas
na França, Alemanha e Itália prejudicaram a Igreja durante o seu pontificado. Nove
meses após a sua morte, o cadáver de Formoso foi exumado da cripta Papal para
ser julgado perante o Sínodo do Cadáver, presidido por Bonifácio VI (Era o Papa
113º, que estava no poder). O Papa falecido foi acusado de excessiva ambição
pelo cargo Papal, e todos os seus atos foram declarados nulos. O cadáver foi
despido das vestes pontifícias, e os dedos da mão direita foram amputados. Foi
então enterrado em cemitério para estrangeiros, como forma de desonra. Depois,
foi novamente exumado, tendo seu corpo esquartejado e jogado no Rio Tibre. Seu
corpo fôra recuperado mais tarde, e, por fim, enterrado na Basílica de São
Pedro, com vestes Papais, junto a outros Pontífices.
113º
- Bonifácio VI - 896
Papa da
Igreja Cristã Romana, nascido em Roma, eleito em abril de 896, para suceder
Formoso, mas que por pressões políticas abriu um processo post morten contra o
seu antecessor falecido. Consta em algumas listas que havia sido despojado duas
vezes do hábito por imoralidades, antes de subir ao trono Papal, apoiado pelos
opositores do Papa Formoso em um período em que a sede pontifícia estava em
poder dos grandes feudatários da Itália. Como seu sucessor, convocou em um
gesto absurdamente incompreensível, um tribunal para julgar o Papa morto
Formoso, seguramente por causa de graves e injustas acusações
político-religiosas, inclusive de conspiração contra Roma. Porém o Papa
Bonifácio VI ocupou o lugar por somente quinze dias, morreu em 10 de novembro
vítima de gota, em Roma, e foi sucedido por Estevão VII. Este novo Papa,
comprometido com os políticos inimigos do antigo Papa e em um delírio
injustificado e irracional, prosseguiu o julgamento e nove meses após a sua
morte, mandou exumar o cadáver da cripta Papal (896) para ser julgado perante
um concílio, presidido pelo Papa Estêvão VII, acusado de excessiva ambição pelo
cargo papal, e teve todos os seus atos declarados nulos.
114º
- Estevão VI; VII - 896 - 897
Nascido
em Roma, em 850, Estevão era filho de João e viveu um momento politicamente
conturbado da Igreja Católica. Após dedicar uma vida à religião, foi eleito no
dia 22 de maio de 896 para ser o sucessor do Papa Bonifácio VI. Estevão VI
recebeu grande apoio dos duques de Espoleto para chegar ao poder e foi
pressionado a reconhecer Lamberto de Espoleto como único imperador, contrariando
decisão que o falecido Papa Formoso havia tomado. O Papa Estevão VI não só foi
muito pressionado pela família Espoleto como era também um homem muito
desequilibrado. Ele tinha seus próprios desentendimentos com o antigo Papa
Formoso e queria, a todo custo, se vingar dele por se sentir injustiçado. Em
seu papado ocorreu um dos mais bizarros eventos da história da Igreja Católica,
que ganhou o nome de Sínodo do Cadáver. Estavão VI o convocou com o apoio da
família de Lamberto e ordenou que o cadáver de nove meses do Papa Formoso fosse
exumado, vestido com vestes Papais e apoiado em um trono para ser julgado por
seus crimes. Um diácono foi encarregado de responder em nome do falecido. O
cadáver foi acusado do crime de haver aceitado ser Papa. Estevão VI foi à
loucura e fez várias acusações por achar que seu título era indevido. Quando o
Papa Formoso foi questionado, naturalmente não respondeu às acusações. Por
isso, foi julgado culpado, criminoso e despido das insígnias pontifícias. Como
punição, seus dedos da mão direita foram cortados e seu corpo foi enterrado em
um cemitério para estrangeiros. Só que, logo em seguida, Roma foi atingida por
um terremoto que destruiu a basílica Papal, numa clara intervenção divina.
Então o corpo de Formoso foi novamente desenterrado e atirado ao Rio Tibre. Seu
corpo foi resgatado por pessoas que o admiravam e sepultado com mais respeito
na igreja de Santa Inês. Mais tarde, o Papa Teodoro II o sepultou entre Papas e
sua memória foi defendida pelo Papa João IX. O papado de Estevão VI é um dos
mais macabros de todos os tempos. Sua insanidade na perseguição de um cadáver
foi o que pautou sua liderança na Igreja. O Papa Formoso foi um tormento para
Estevão VI. Após o terremoto em Roma, os admiradores do Papa condenado
consideraram que o evento foi uma punição divina pelo que estava acontecendo.
Seus antigos apoiadores, a família Espoleto, também se viraram contra o Papa,
agora que já haviam conseguido o queriam, o reconhecimento do Imperador
Lamberto. Assim, Estevão VI foi aprisionado e estrangulado até a morte. Seu
papado chegou ao fim em agosto de 897, aos 47 anos de idade. O Papa Estevão VI
cumpriu um interesse político civil que se conciliou com sua obsessão insana
contra o Papa Formoso.
115º
– Romano - 897
O Papa
Romano dirigiu os destinos da Igreja Católica durante o ano de 897. Pouco se
sabe quanto à sua biografia. Não se conhecem datas certas sobre o seu
nascimento, morte nem consagração como Papa. Sucedeu ao Papa Estêvão VI que
havia terminado os seus dias deposto e estrangulado na prisão. A sucessão não
era, pois, coisa das mais agradáveis, e o assunto era tabu. Nasceu em Gallese,
perto de Civita Castellana (Itália), filho de Constantino. Foi Cardeal de São
Pedro ad Víncula. Governou a Igreja Católica apenas quatro meses, ao fim dos
quais morreria, sob muita pressão de autoridades provinciais que a todo
instante se impunham como "preferidos do Pontífice" no que diz
respeito a assuntos de Estado. Apontamentos de catálogos antigos fazem-nos crer
que Romano condenou abertamente a conduta de seu antecessor, o Papa Estêvão VI,
no macabro julgamento do Papa Formoso; provavelmente por ser de Gallese, ou por
ter vivido nesta comunidade por algum tempo, contemporâneo e conterrâneo
portanto do Papa Marinho, que fora grande amigo de Formoso. Seu primeiro ato
como Pontífice foi, de fato, reabilitar a memória do Papa Formoso, dando-lhe um
enterro cristão, uma vez que seu anterior sepulcro fora violado. Muitas dúvidas
marcaram seu breve Pontificado. Foi deposto e encarcerado num mosteiro? Ou,
atribulado pelos turbulentos romanos, renunciou ao sólio? Teria sido
assassinado e seu corpo escondido pelos seus inimigos? Fez ascender Vitalis ao
Arcebispado e concedeu-lhe privilégios episcopais. O poeta Frodoardo, seu contemporâneo,
referiu-se a ele como um homem virtuoso. Até hoje se discute um privilégio pelo
qual teria agregado as Ilhas Maiorca e Minorca à diocese de Gerona, na Espanha.
Tal documento é considerado por vários historiadores como apócrifo, nascido da
confusão de "Pontífice romano" com "Papa Romano". Uma
anotação marginal encontrada em dois códigos antigos afirma que Romano se
tornou monge. Tal afirmação é discutida quanto ao que pode subentender. O termo
poderia significar, por exemplo, que tinha sido destituído pelos mesmos
partidários germânicos que podem ter influenciado a sua eleição. Alega-se
também que pode ter sido envenenado em novembro do mesmo ano, de modo a não
atender aos apelos do povo de Roma para que voltasse a ocupar o trono
pontifício. Mistérios que só poderão ser revelados por Deus no último dia.
116º
- Teodoro II - 897
O Papa
Teodoro II, foi Bispo de Roma e governante dos Estados Papais por vinte dias em
dezembro de 897. Seu curto reinado ocorreu durante um período de conflitos
partidários na Igreja Católica, que estava enredada de violência e desordem na Itália.
Seu principal ato como Papa foi anular o recente Sínodo do Cadáver,
restabelecendo os atos e ordenações do Papa Formoso, que haviam sido anulados
pelo Papa Estevão VI. Ele também recuperou o corpo de Formoso do rio Tibre e
enterrou-o com honra. Morreu no cargo no final de dezembro de 897. Pouco se
sabe sobre os antecedentes de Teodoro; ele é descrito como nascido romano e
filho de Fócio. Seu irmão Teodósio (ou Teósio) também foi Bispo.Teodoro foi
ordenado Sacerdote pelo Papa Estêvão V. As datas exatas do reinado de Teodoro
II são desconhecidas, mas as fontes modernas geralmente concordam que ele foi Papa
por vinte dias durante dezembro de 897. Como Romano, Teodoro era um defensor de
Formoso. Alguns historiadores acreditam que Romano foi deposto porque ele não
agiu para restaurar a honra de Formoso com bastante rapidez, embora outros
sugeriam que ele foi removido pelos apoiadores de Estevão VI. Em ambos os
casos, Teodoro imediatamente se lançou na tarefa de desfazer o Sínodo do
Cadáver. Ele chamou seu próprio sínodo, que anulou as decisões estabelecidas
por Estevão VI. Ao fazer isso, ele restaurou os atos e ordenações de Formoso,
incluindo a restauração de um grande número de clérigos e Bispos em seus
cargos. Teodoro também ordenou que o corpo de Formoso fosse recuperado do
ancoradouro conhecido como Porto, onde havia sido enterrado secretamente e
restaurado no túmulo original na Basílica de São Pedro. Como Romano, antes
dele, Teodoro concedeu um privilégio à Sé de Grado. Tinha uma moeda cunhada, com o nome de
Lamberto no anverso, e "Scs. Petrus" e "Thedr", no reverso)
Flodoardo projetou Teodoro sob uma visão positiva, descrevendo-o como
"amado pelo clero, um amigo da paz, temperado, casto, afável e um grande
amante dos pobres". Ele morreu no cargo, apesar da causa de sua morte ser
desconhecida. Teodoro foi enterrado na Basílica de São Pedro, mas seu túmulo
foi destruído durante a demolição da antiga Basílica no século XVII. Após a
morte de Teodoro, João IX e Sérgio III alegaram ter sido eleitos Papas; este
foi excomungado e expulso da cidade, embora mais tarde tenha se tornado Papa em
904. João IX realizou sínodos que reafirmavam o de Teodoro II, e proibiu ainda
mais o julgamento de pessoas após sua morte. Por sua vez, Sérgio III mais tarde
anulou os sínodos de Teodoro II e João IX e restabeleceu a validade do Sínodo
de Cadáver.
117º
- João IX - 898 - 900
Papa da Igreja
Católica Romana, nascido em Tívoli, eleito com o apoio do imperador germânico
Lamberto de Spoleto, em janeiro de 898, como sucessor de Teodoro II (897), o
último Papa monge beneditino. Eleito Papa em um período conflituoso, reconheceu
a validade da eleição do Papa Formoso e convocou vários sínodos para restaurar
a paz na Igreja. No polêmico, político e irracional episódio do Papa Formoso, o
povo de Roma revoltou-se com o tratamento dado ao seu cadáver e conseguiu que o
Papa Estêvão VII fosse deposto e encarcerado e depois morto estrangulado na
prisão. Foi sucedido por Romano e depois por Teodoro II, que anulou o resultado
do Synodus Horrenda, como ficou conhecido o episódio, e tornou oficiais
novamente todos os atos Papais de Formoso. O Papa de Tivoli procurou colocar
uma pedra sobre este episódio bizarro e, além de queimar todos os documentos do
Synodus Horrenda, proibiu que voltassem a colocar pessoas mortas em julgamento.
Durante seu pontificado, acabou com as pilhagens que ocorriam nos palácios dos
Bispos e do Papa, especialmente após a morte destes e restabeleceu a supremacia
da Igreja sobre todos os territórios e sobre Roma. Para evitar novas lutas,
repôs a intervenção imperial sobre a consagração dos Pontífices. Agiu para
afirmar a autoridade direta da Santa Sé sobre os países eslavos. Faleceu em
janeiro, em Roma.
118º
- Bento IV - 900 - 903
Bento
IV, natural de Roma, mas cuja data de nascimento é ignorada, foi escolhido em 1
de fevereiro de 900, como sucessor de João IX. Apesar de bem intencionado,
lutou infrutiferamente contra a corrupção e degradação dos costumes do seu
tempo, pontificando em meio a uma corrupção generalizada, ódios, intrigas e
injustiças. Filho de um homem chamado Mamalus, teve condições financeiras de
receber uma boa educação e se dedicar a carreira eclesiástica. Foi eleito Papa
diante de uma conjuntura totalmente desfavorável. Soube conservar a integridade
da Santa Sé e buscou o caminho da justiça. Durante seu pontificado teve que
enfrentar situações que requeriam capacidades que ele não possuía. Os húngaros
invadiram o norte da Itália e os sarracenos, depois de cruzarem toda a Europa,
invadiram o sul da península. Sem socorro militar o Papa e Roma ficaram
praticamente indefesos. Em meio a corrupção generalizada, conservou a
integridade da Santa Sé e consagrou Ludovico de Borgonha imperador de Roma. Morreu
em julho, na cidade de Roma.
119º
- Leão V - 903
Papa
Leão V, foi consagrado em agosto de 903, sucessor de Bento IV. Era da
"campanha romana", isto é das planícies adjacentes a Roma. Julga-se,
que tenha nascido em Priapo, perto de Ardea. Filho de um humilde pastor. Alguns
cronistas de documentos mais antigos alegam entre outras considerações, que
teve esmerada educação devido à intervenção materna e de sua família. Segundo
um catálogo antigo era ele "padre forasteiro": não pertencia, pois, a
nenhuma das igrejas cardinalícias da cidade eterna. Não há informações em
documentos da Igreja Católica que deem informações mais precisas sobre a que
ordem pertencia ou que forneçam dados mais seguros sobre a sua origem concreta.
O fato, todavia, de não pertencer a nenhuma das principais igrejas de Roma,
leva a crer que seria homem de valor, elevado no conceito moral, e que teria
sido escolhido para conciliar divergências. As facções em Roma estavam em
ebulição. Leão V governou a Igreja menos de dois meses. Um dos partidos, não
satisfeito com a escolha de Leão, insurgiu-se, tumultuou pelas ruas da cidade,
e, nessa desordem, o Pontífice foi preso, arrastado a uma prisão e morto
misteriosamente. Estas são notícias dadas por alguns contemporâneos e
repetidas, dois séculos mais tarde, por Sigeberto de Gembloux. O cronista
Flodoardo, grande biógrafo europeu, costuma atribuir, junto de outros cronistas
e historiadores ingleses e franceses de seu tempo, que certos eventos de
insurreição popular e insatisfação política com Leão V foram fruto das tensões
promovidas pelo capelão de nome Cristóvão. Curiosamente esse mesmo capelão
sucederia ao Papa Leão, visto que desde longa data Cristóvão ambicionava o
trono pontifício. Esse homem, movido por grande ambição, alimentou o interesse
dos insurretos em depor o Pontífice com promessas difíceis de cumprir, e que
macularam a sua reputação por toda a posteridade. Os tempos eram particularmente
difíceis, tão bárbaros que subsiste como provável o fim trágico deste Papa,
terminando seus dias como o de muitos príncipes: assassinado. Em seu breve e
agitado pontificado não foi, pois, anotado qualquer fato de relevo ou
importância em Roma.
120º
- Sérgio III - 904 - 911
Papa da
Igreja cristã Romana, nascido em Roma, eleito como sucessor de Leão V, radical
adversário do Papa Formoso e suspeito da morte do Papa Teodoro II e que
governou durante um período de grande degeneração moral. Aristocrata da família
dos condes de Túsculo, uma antiga cidade da hoje Região do Lázio, ao sul de
Roma, próxima do vulcão de Alban, que seria destruída pelos romanos (1191), foi
eleito pelo partido aristocrata, enquanto o popular elegia João IX (898-900). Consagrado
em 903, foi expulso de Roma pelas tropas de Lamberto de Spoleto e obrigado a
refugiar-se junto a Adalberto, marquês da Toscana. Voltou à Roma em 904, com o
apoio de Alberico I, senhor de Camerino e Spoleto, e se livrou de Leão V, que
sucedera João IX. Depois de subir de fato ao trono pontifício, deu continuidade
à política antiformosiana que caracterizaria toda a sua ação, anulou todas as
disposições emanadas pelos predecessores e, para ter o apoio de um poderoso,
apoiou o rei da Itália, Berengário I, na conquista do título Imperial. De sua
presumível relação com Marócia, patrícia e senatriz romana, corrupta e cortesã
da alta classe, da nobre família de Teofilato, teria nascido o futuro papa João
XI (931-935). Mandou reconstruir a Basílica de São João de Latrão, destruída
por um incêndio e reivindicou e defendeu os direitos da Igreja contra os
senhores feudais.
121º
- Anastácio III - 911 - 913
Papa da
Igreja cristã Romana, nascido em Roma, que eleito Papa como sucessor de Sérgio
III, em seus dois anos de pontificado, não pôde fazer muito por causa das lutas
internas. Determinou a divisão eclesiástica da Alemanha, apesar das fortes pressões
de Berengário I, rei da Itália. Apesar de considerado por seus contemporâneos
como homem culto e generoso, foi assassinado em Roma, asfixiado por Sagarius,
amante de Marócia, patrícia romana, conhecida universalmente por sua
libertinagem e seus crimes, manchada por uma longa série de adultérios e uniões
incestuosas, recebeu dos príncipes italianos, como preço de sua devassidão, a
propriedade do Castelo de Santângelo e o governo da cidade de Roma com o título
de Senatrix e Patricia romana. O assassinato foi tramado por ela e pelo próprio
clero, que temia a simpatia do Papa às causas estrangeira.
122º
– Lando - 913 - 914
Papa da
Igreja cristã Romana, nascido em Fornovo, na Sabina, eleito em junho de 913,
como sucessor de Anastácio III, foi Papa consagrado por cerca de 6 meses, de
agosto (913) a fevereiro (914) em meio a um mar de intrigas de uma das várias
facções romanas. Sabe-se muito pouco a respeito de seu pontificado e o que se
apresenta é impreciso, apenas podendo se concluir que era um homem meritório
por ser nato da Sabina e ter chegado ao papado. Papa em um tempo em que o poder
em Roma estava nas mãos dos marqueses de Túsculo ou Tusculum, uma antiga cidade
da hoje Região do Lázio, ao sul de Roma, próxima do vulcão de Alban, que seria
destruída pelos romanos em 1191, que também mandavam e desmandavam na Santa Sé,
e dividido entre as má afamadas Marócia, patrícia romana, e de sua irmã
Teodora, parece ter sido um protegido desta última, mãe de Teofilato, futuro Papa.
Subiu ao trono de São Pedro por intriga de uma das várias facções e morreu
misteriosamente em Roma, depois de ter conseguido estabelecer a paz no meio de
tantas lutas internas.
123º
- João X - 914 - 928
Papa da
Igreja Católica Romana, nascido em Tossignano di Imola, Bolonha, foi eleito em
março de 914, sucessor de Lando, em uma eleição marcadamente influenciada por
Teodora, irmã e rival da senhora senatriz Marócia, então casada com Alberico I,
conde de Túsculo, um casal de devassos que dominava Roma. Eleito, só conseguiu
assumir o trono de São Pedro após uma série de tramóias que ele mesmo
desaprovou, fomentadas pelas intrigas romanas criadas pelas influentes
famílias. No trono de São Pedro foi um Papa enérgico e independente, lutou
contra os maometanos, que há cerca de três décadas assolavam o sul da Itália,
destruindo os grandes mosteiros de Subiaco e de Farfa, assaltando e
aprisionando peregrinos, levando-os para Roma, para vendê-los como escravos. Coroou
Berengário Imperador em Roma (915), armou uma poderosa liga entre os duques e,
auxiliado pela esquadra bizantina, derrotou os maometanos perto de Garillano, e
expulsou-os para sempre. Apesar das incessantes revoluções que ocorreram em seu
pontificado, fez muito pela conversão dos Bárbaros, da reconstrução de
mosteiros e da pureza da fé. Por não querer participar de tramas desonestas, viu
seu irmão Pedro, comandante pontifício, ser trucidado pelas tropas do borgonhês
Guido de Túscia, duque de Toscana e segundo marido da dissoluta e violenta
Marócia, após atacarem Roma. O pontífice foi deposto, aprisionado e assassinado
no cárcere, por capangas de Marócia. Faleceu em 26 de maio, em Roma, e foi
sucedido por Leão VI, sobrinho de Marócia e colocado por ela no trono Papal, um
simples leigo, que foi expulso como intruso pelo povo romano poucos meses
depois.
124º
- Leão VI - 928
Papa
Igreja cristã Romana, nascido em Roma, eleito em 28 de maio de 928, por vontade
da poderosa senadora Marócia, por vontade do pai dela, Teofilato para
substituir João X, que durante os sete meses de pontificado procurou apaziguar
as lutas entre as famílias nobres romanas, fazendo todo o possível para levar a
paz a Roma. Foi Primeiro-Ministro do Papa João VIII e depois Cardeal. A
poderosa senadora Marozia, matriarca da família de Crescentii romana, depôs e
prendeu o Papa João X e organizou sua eleição canonicamente para o trono de São
Pedro. O seu pontificado esteve dominado pela poderosa senatriz romana e seu
maior ato político foi regulamentar a jurisdição da hierarquia na Dalmácia. Fez
todo o possível para pacificar Roma e lutou contra os sarracenos e os ferozes
húngaros. Apesar de um pontificado violento, levou uma vida razoavelmente
modesta e reclusa e fez ressurgir as artes, o comércio e a indústria. Não
governou mais que sete meses e foi morto a mando de Marócia, em dezembro de 928,
em Roma, e foi sucedido por Estêvão VIII, que governou por dois anos, mas
também morreu repentinamente. Os maridos dessa corrompida, perigosa e violenta
mulher não tinham vida muito longa e como os Papas, eles se sucediam uns aos
outros com rapidez incrível, justificando todas as suspeitas. Não confundir com
Leão VI, o Sábio, co-Imperador (870-886) e Imperador bizantino (886-912)
nascido em Constantinopla.
125º
- Estevão VII; VIII - 929 - 931
Papa
Igreja cristã Romana, nascido em Roma, escolhido em 3 de janeiro de 929, como
sucessor de Leão VI, graças às intrigas dos condes de Túscolo, enquanto em Roma
governava Marócia, marquesa de Túscia. Marócia tinha colocado no trono Papal um
de seus sobrinhos, e embora eleito canonicamente, Leão VI que era um simples
leigo, foi expulso como intruso pelo povo romano sete meses depois e morreu
subitamente, possivelmente envenenado pela própria Marócia. Essa poderosa
mulher era uma política romana, corrupta, e mãe dos Papas Sérgio III e João XI.
O novo Papa, substituto de Leão VI, governou por dois anos e favoreceu os
mosteiros de S. Vicente, em Volturno, e aos dois conventos na Gália. Seu
pontificado também coincidiu com o crescimento desproporcional da fortuna de
Marócia, agora esposa de Hugo, rei da Itália. Sua morte repentina, em Roma em
931, também deixou suspeitas de envenenamento promovido pela libertina política.
Foi sucedido por João XI, um filho da senatriz com o marquês Alberico de
Túsculum, e com aproximadamente 20 anos de idade e que também se revelaria
extremamente irresponsável no cargo.
126º
- João XI - 931 - 935
Era
filho do primeiro casamento de Marózia com Alberico I de Espoleto. Através de
intrigas da mãe, que governava Roma, foi eleito Papa em Março de 931, ficando
completamente sob a influência da Senatrix e Patricia romana. Para fortalecer o
seu poder, Marózia casou com o cunhado Hugo, rei da Provença e Itália, levando
a um governo tirânico em Roma. Uma forte oposição apareceu entre os nobres,
liderados por Alberico II, filho mais novo de Marózia. Esta foi presa e o
marido fugiu. Alberico tornou-se o novo governante de Roma, dando ao Papa
apenas o poder de exercer os seus deveres espirituais. Todas as outras
jurisdições inerentes ao cargo pontifício foram exercidas por Alberico. João XI
refugiou-se nos monges de Cluny e, em agradecimento concedeu à Congregação
vários privilégios, tornando-a mais tarde um poderoso agente da reforma da
Igreja.
127º
- Leão VII - 936 - 939
Papa
Leão VII (Roma, 895 - Roma, 13 de julho de 939), romano e provavelmente Monge
Beneditino, era abade de São Sixto quando foi eleito Papa a 3 de Janeiro de
936, por influência de Alberico II, príncipe e senador de Roma. Hugo,
ostentando o título de rei de Itália (Lombardia) disputava o poder com
Alberico, pelo que cercou Roma. Leão sabendo que o abade de Cluny, Odon, tinha
certa influência sobre os dois, aconselhou-o a dirimir a disputa. Para tanto
bastou o casamento entre Alberico e Alda, filha de Hugo, o que levou a um interregno
entre os beligerantes. As bulas Papais consistiram na sua maior parte em
garantir privilégios a vários mosteiros, especialmente aos da Ordem de Cluny.
Escreveu aos Bispos da França e da Alemanha dando diretrizes para empreender
uma reforma monástica. Não permitiu ao Arcebispo Frederico de Mainz (Alemanha)
batizar judeus à força, mas autorizou a expulsão das cidades, daqueles que recusavam
abraçar o cristianismo. Tentou estabelecer o celibato sacerdotal e lutou contra
o fenômeno dos bruxos e adivinhos. Mandou reedificar o antigo Cenóbio, perto da
Igreja de São Paulo, fora das muralhas de Roma. A sua morte ocorreu em 13 de
Julho de 939, após um ataque cardíaco. Morreu em julho 939, e enterrado na
Basílica de São Pedro.
128º
- Estevão VIII; IX - 939 - 942
Papa
Estêvão VIII, Romano, eleito em 14 de Julho de 939. Tratou de inculcar os
princípios cristãos do Evangelho aos poderosos do Oriente e do Ocidente. Apoiou
a dinastia carolíngia em declínio e pela ameaça de excomunhão, forçou os nobres
francos a jurarem fidelidade a Luis IV d'Outre-Mer. Sofreu a tirania de
Alberico II de Espoleto, príncipe de Roma, que o manteve confinado no Palácio
de Latrão. Faleceu em Outubro de 942.
129º
- Marino II - 942 - 946
Marinho
II, ou Marino II, foi elevado ao papado graças à intervenção de Alberico II de
Spoleto, tendo focado a sua atividade em aspectos administrativos do Papado. Marino
nasceu em Roma e, antes de se tornar Papa, foi vinculado à Igreja de São
Cyriacus nas Termas de Diocleciano. Diz-se que ele encontrou Ulrico de
Augsburgo em sua visita a Roma em 909, e previu a eventual nomeação de Ulrico
como Bispo de Augsburgo. Marino foi elevado ao papado em 30 de outubro de 942.
Esse período é conhecido como Saeculum obscurum devido ao poder de Alberico e
seus parentes sobre os Papas. Marino concentrou-se nos aspectos administrativos
do papado e procurou reformar o clero secular e regular. Ele estendeu a
nomeação do Arcebispo Frederico de Mainz como vigário Papal e missus dominicus por
toda a Alemanha e França. Marino mais tarde interveio quando o Bispo de Cápua
apreendeu sem autorização uma igreja que havia sido dada ao local a Monges
beneditinos. Na verdade, ao longo de seu pontificado, Marino favoreceu vários
mosteiros, emitindo uma série de bulas em seu favor. Marino ocupou o Palácio
construído pelo Papa João VII no topo do Monte Palatino nas ruínas da Domus
Gaiana. Morreu em maio de 946.
130º
- Agapito II - 946 - 955
Homem
prudente e enérgico, que governou com sabedoria por dez anos. Com este Papa,
Roma retomou a iniciativa de tratar firmemente com países e soberanos. Em 950
morria em Turim o jovem rei Lotário, filho de Hugo de Provença, dizem os
cronistas florentinos, que de febres, dizem os seus contemporâneos mais
próximos, que de veneno por obra de Berengário II, marquês de Ivréa. O certo é
que Berengário apoderou-se depressa da coroa lombarda e pretendeu que seu filho
Adalberto se casasse com Adelaida, rainha viúva de Lotário. Uniria assim, num
reino único, o sul da França e o norte da Itália, e ocupada Roma,
proclamar-se-ia Imperador. Opôs-se, porém, a jovem viúva Adelaida. Foi então
aprisionada numa torre do "Lago de Guarda", de onde fugiu com a ajuda
do Bispo de Reggio e foi abrigar-se no forte Castelo do Conde Azzo de Canossa.
De lá foi invocado auxílio do jovem rei germânico Oto I, o qual, com forte
exército, desceu à Itália, libertou e desposou Adelaide e foi aclamado rei da
Lombardia em 951. Não ousou, entretanto, ir receber a coroa imperial em Roma,
onde o Papa recusou recebê-lo e onde Alberico, lembrando antigo orgulho romano,
rejeitava um Imperador "bárbaro". Alberico morreu em 954. Impôs ordem
e deu paz ao povo; respeitou a autoridade do Papa, fazendo, porém, cunhar
moedas com sua efígie junto à do Pontífice. Cometeu afinal um ato imperdoável:
sentindo que ia morrer mandou que o transportassem à Basílica de São Pedro e lá
obteve de todos o juramento de que elegeriam Papa seu filho Otaviano, após sua
morte. Assim, depois de uma vida gloriosa, traiu-se o filho de Marózia. Agapito
II morreu em agosto de 956. O cronista florentino Guy de Passapant teria-lhe
dito instantes antes do momento fatal: devia ter vivido muito mais, para o bem
de Roma e da Igreja.
131º
- João XII - 955 - 963
João XII
(Roma, c. 937 – Roma, 14 de maio de 964), nascido Otaviano. Era inexperiente
como governante, entretanto era audacioso. Ele foi responsável por reivindicar
os direitos temporais da Igreja e por criar os Bispos-Condes, além de
reconstruir o Sacro Império. Mas, apesar de toda a sua audácia, não demorou
para que sua fama negativa repercutisse. Rapidamente foi considerado preguiçoso
e infantil e recebeu as mais severas críticas de Sacerdotes e de outras
autoridades religiosas. Sua fama estava muito longe de ser agradável ou
respeitada. Alguns o descreviam como libertino, criminoso e sanguinário. Há
relatos de líderes católicos que alegam que João XII invocava demônios e que
gostava de jogos de azar e cometia atrocidades com frieza, como assassinar e
mutilar pessoas e incendiar casas. João XII teria transformado o Palácio Papal
em um bordel e tido relações com viúvas, com sua própria sobrinha e com a
namorada de seu pai. A vida de Otaviano era completamente desregrada e
promíscua. O Papa João XII, contudo, foi quem coroou o imperador Oto I, na
Alemanha, e criou uma aliança que deixaria um legado para a Igreja Católica e
sua influência na sociedade. Nenhum Papa poderia ser coroado sem a presença do
imperador ou de seus enviados. Ironicamente, o mesmo Imperador que o coroou foi
quem liderou o movimento de deposição do Papa. João XII foi considerado
inadequado para ser Papa por levar uma vida muito imoral e deposto pelo imperador
Oto I depois de nove anos como Papa. O imperador germânico o substituiu por
Leão VIII. No entanto, seu sucessor foi assassinado rapidamente. Otaviano de
Túsculo manteve sua vida libertina após ser afastado do cargo e, como
consequência, faleceu vítima de um derrame quando, supostamente, estava na cama
com uma mulher casada. É famoso por ser um dos piores Papas da história da
Igreja Católica.
132º
- Leão VIII - 963 – 964
Nascido
em Roma, eleito como um antipapa por Otão I, depois de várias disputas com o
predecessor João XII e com seu sucessor Bento V. Era leigo ao ser escolhido num
concílio em Roma em 6 de dezembro de 963. Seu papado se deu numa época em que o
novo imperador alemão estava ansioso para se apoderar da Itália e do papado. Em
Roma, o Papa João XII, aceitou uma aliança com Oto I em que no futuro nenhum Papa
seria consagrado sem a presença dos enviados do imperador. Porém quando Otão
saiu da cidade, João uniu-se aos nacionalistas feudais, para expulsar os
alemães da Itália. O imperador, revoltado, retornou a Roma e depôs João XII,
sob a acusação de vários crimes e colocou Leão VIII como seu sucessor no trono
de São Pedro em 6 de Dezembro de 963, governando como um antipapa, pois João
XII, apesar do mau caráter, ainda estava vivo. Mas também ele não caiu nas
graças dos romanos por ter servido de instrumento aos interesses do imperador
germânico. Leão acabou deposto no início do ano seguinte, durante um sínodo em
964, permitindo que João reassumisse o trono e ele agora mostrou-se reconhecido
ao Imperador. Por exemplo, por decreto promulgado em concílio, concedeu-lhe e a
seus sucessores, o direito de nomear o Papa, Bispos e Arcebispos, punindo com a
excomunhão quem se opusesse a esse decreto. Em outra medida, proibiu aos leigos
de entrarem no presbitério durante as funções solenes. Com a súbita morte de
João, Leão VIII poderoso antipapa governou a Igreja ainda mais um ano,
totalizando dois anos de pontificado, até ser deposto por forças franco-suíças
leais ao legítimo Papa que os italianos haviam eleito, Bento V, em 964, homem
virtuoso e de reconhecida capacidade para o cargo. O imperador voltou a Roma,
invadiu a cidade, mandou Bento V para o exílio e recolocou Leão VIII no trono
em Julho de 964, mas ele morreu no ano seguinte. O imperador reconheceu a
autoridade pontifícia de Bento V, sob pressão dos francos e romanos, porém o
restante do pontificado deste não duraria mais que poucos dias.
133º
- Bento V - 964 - 965
Natural
de Roma, foi escolhido em 22 de Maio de 964, durante a desordem do pontificado
de João XII. Foi exilado em Hamburgo, por Otão I, que forçou-o a renunciar em
favor de Leão VIII, em 23 de Junho de 964. Com a morte do Papa Leão VIII, o
imperador Otão I, sob pressão dos francos e romanos, reconheceu-lhe a
investidura. Morreu em Hamburgo, antes de regressar a Roma com fama de
santidade, a 4 de Julho de 965. Otão III mandou transladar seus restos mortais
para a Cidade Eterna, onde jazem na Cripta Vaticana.
134º
- João XIII - 965 - 972
O Papa João XIII exerceu o papado de 1
de outubro de 965 a 6 de setembro de 972, por exatos 6 anos, 11 meses e 5 dias.
Nasceu em Roma. Foi imposto pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico e,
por isso, não era bem aceito pelos romanos. A data do seu nascimento é
desconhecida. Depois da morte do Papa João XII, em 964, Grammaticus Benedictus
foi eleito seu sucessor com o nome de Bento V. Mas o imperador Otão I trouxe de
volta a Roma o antipapa Leão VIII, nomeado por ele em 963, depois de ter banido
a Bento para Hamburgo. Leão morreu em março de 965, pelo que os romanos pediram
a Otão que enviasse de volta Bento. Mas Otão recusou e Bento morreu pouco
depois, em julho de 965. Na presença dos enviados imperiais, João, Bispo de
Narni, foi eleito Papa e consagrado a 1 de Outubro de 965 como João XIII.
Pertencia à família de Teodora, que pelo seu casamento com o senador e conde de
Túsculo, Teofilato I, teve, além de Marózia, outra filha conhecida por Teodora,
a Jovem, que se casou com o cônsul João. Este João entrou posteriormente na
carreira eclesiástica e tornou-se Bispo. Da união com Teodora teve duas filhas
e três filhos, entre eles João que, ainda jovem, se tornou Sacerdote e mais
tarde Bispo de Narni. Foi neste descendente da nobreza romana que caiu a
escolha dos eleitores. Mas alguns nobres eram hostis ao novo Papa, por ser o
candidato Imperial e, quando o Papa tentou reprimi-los, eles contra-atacaram e,
em dezembro de 965 conseguiram capturá-lo e aprisioná-lo, primeiro no Castelo
de Santo Ângelo e depois numa fortaleza na Campânia. João, no entanto, conseguiu
escapar e encontrou proteção no príncipe Pandulfo I de Cápua, príncipe de
Benevento. Em Roma mantinha-se a oposição ao novo Papa, mas quando, em 966, o
imperador Otão realizou uma expedição a Itália, os romanos, aterrorizados,
permitiram que João XIII regressa-se à cidade em 14 de novembro. O Papa não
perdeu tempo em castigar os conspiradores, alguns dos quais foram enforcados e
os outros expulsos. João XIII aliou-se intimamente com o Imperador. Em Abril de
967, viajou com Otão até Ravena, onde num sínodo, confirmou a elevação de
Magdeburgo à dignidade metropolitana, resolveu várias disputas sobre os
privilégios concedidos a igrejas e conventos e, restaurou Ravena como parte do
território dos Estados Pontifícios. As relações entre João e o Imperador
continuaram cordiais e no dia de Natal de 967, João coroou Otão II, de treze
anos, como imperador em conjunto com o seu pai. João também participou nas
negociações para o casamento de Otão II com a princesa bizantina Teofânia
Escleraina. O casamento teve lugar em Roma e foi abençoado pelo próprio Papa a
14 de abril de 972. O Papa João XIII trabalhou intensamente nos assuntos da
Igreja. No início do seu pontificado elevou Cápua ao estatuto de metropolitana,
em sinal de gratidão pela ajuda prestada pelo príncipe Pandulfo. Em 969
Benevento recebeu a mesma dignidade. Confirmou decretos de sínodos realizados
na Inglaterra e França. Concedeu muitos privilégios a igrejas e conventos,
principalmente da Ordem de Cluny e decidiu várias questões de direito
eclesiástico de vários países que a ele apelaram.
135º
- Bento VI - 973 - 974
Papa Bento
VI, nascido Ricobaldi de Ferrara (Data de nascimento desconhecida - morto em
junho de 974). Foi Papa de 19 de Janeiro de 973 até a data de sua morte.
Romano, teve sua eleição confirmada pelo Imperador em 19 de janeiro de 973. Pouco
se sabe do seu Pontificado, exceto que confirmou os privilégios de várias
igrejas e mosteiros. O mais importante foi mesmo o seu fim trágico. Seu breve
pontificado veio no contexto político da fundação do Sacro Império Romano,
durante a transição entre os reinados de imperadores alemães Oto I e Oto II e
da luta pelo poder de famílias aristocráticas, como o Crescentii e Tusculani na
região de Roma. E por isso a necessidade de esperar pela ratificação do
Imperador Otão atrasou sua consagração até 19 de Janeiro de 973. Bento VI
nasceu em Roma, foi Cardeal-diácono de São Teodoro, filho de Hildebrand. Ele
foi eleito e instalado como Papa sob a proteção de Oto I, cujo domínio nos
assuntos romanos e eclesiais foi resistido pela aristocracia local. Registro de
seu pontificado como Papa é escassa, embora ele é conhecido por ter privilégios
confirmados assumidas por alguns mosteiros e igrejas. Após a morte de Oto I, um
movimento antialemão conquistou Roma, depois de um duro assédio do Castelo
Sant'Angelo contra o Papado, Bento foi preso no Castelo, na época um reduto da
Crescentii. Crescentius I, irmão do Papa João XIII e o Cardeal-diácono Franco
Ferrucci, que iria posteriormente tornar-se Bonifácio VII, um antipapa,
prenderam o Papa Bento VI. Foi quando Oto II enviou um representante imperial,
Conde Sicco, para garantir a sua libertação, no entanto Bento, depois de dois
meses aprisionado foi assassinado estrangulado. Converteu ao cristianismo o
povo húngaro, e veio a falecer em junho de 974.
136º
- Bento VII - 974 - 983
Bento
VII (Roma 930 - 10 de julho de 983), Conde de Túsculo e Bispo de Sutri, foi
eleito em outubro de 974. Sucedeu Bento VI que tinha sido assassinado numa
revolta provocada por Crescentius I, um nobre romano, e que logo guindou ao
trono Francone, que se intitulou "Bonifácio VII" – alguns especulam
que ele esteve envolvido com o assassinato, pois era financiado pelo Conde
Crescentius e adversário de Otão II, imperador do Sacro Império
Romano-Germânico. Benedito VII foi escolhido por Otão II, tornando-se Papa
quando o Conde Sicco, um representante de Otão vetou a eleição de Bonifácio, em
974, e numa operação militar expulsou-o de Roma. O antipapa fugiu com alguns
partidários para Constantinopla levando parte do tesouro Papal. Na capital
imperial, Bonifácio conseguiu o apoio de Basílio II Bulgaróctono, o Imperador
bizantino, que derrubou dois Patriarcas por apoiarem Bento na disputa (Basílio
I e Antônio III Estudita). Quatro anos mais tarde Bonifácio retornou usurpando
o trono de Bento VII, que foi aprisionado no Castelo de Santo Ângelo e precisou
novamente da ajuda de Otão para reassumir o trono Papal. Otão outorgou-lhe
privilégios para a Mogúncia e Tréveris, nomeou um Bispo para Praga e fechou o Episcopado
de Mersebourg. Combateu os abusos e a ignorância que reinavam na Itália e no
mundo cristão e também firmemente a simonia, ou seja, o tráfico de objetos
sagrados: sacramentos, dignidades, benefícios eclesiásticos. Em 981 redigiu uma
encíclica. Colaborou nas reformas da Igreja em conjunto com as ordens
monásticas, fundou um monastério no Monte Aventino. O restante de seu Pontificado
até a sua morte em 983 foi pacífico. Enviou ajuda à Cartago, quando houve fome
naquela cidade. Morreu em 10 de julho de 983, em Roma, e foi sucedido por João
XIV, que era Bispo de Pávia também apontado por Otão II.
137º
- João XIV - 983 - 984
O Papa
João XIV, nascido Pedro Canepanova foi o Pontífice romano nos anos agitados de
seu tempo. Nasceu em Pavia e, antes da elevação à dignidade Papal, era
Chanceler do Império de Oto II, bem como Bispo de Pavia. As influências do Imperador
foram decisivas na eleição de João XIV. Mudou o seu nome para João XIV já que o
seu nome original, Pedro, deveria, na sua opinião, ser reservado apenas para o
fundador do Papado - tradicionalmente, São Pedro. Oto morreu pouco depois da
sua eleição, a 7 de Dezembro de 983, com 28 anos de idade, vítima de peste bubônica,
deixando como herdeiro Oto III, apenas com três anos de idade. Foi o próprio
João XIV que lhe deu a extrema unção, em presença dos Cardeais e Bispos. A
morte de Oto trouxe consigo um período de confusão política e lutas por todo o
império, com duques germânicos a pretender usurpar o trono. Os nobres de Roma
aproveitaram o clima de insurreição e revoltaram-se contra o Pontífice, sob o
pretexto de que este não era romano. Bonifácio VII, antipapa aproveitou o
contexto e, voltando do exílio em Constantinopla, prendeu o seu rival no
Castelo de Santo Ângelo. João XIV viria, depois, a morrer envenenado na prisão
em 20 de agosto.
138º
- João XV - 985 - 996
João XV,
nascido Giovanni di Gallina Alba (Roma, c. 950 — Roma, 1 de abril de 996), foi
Papa da Igreja Católica de agosto de 985 até sua morte. Nos últimos dias,
obscuros e tristes, do antipapa Bonifácio, fora indicado para Pontífice um
monge João, filho de Roberto. Não foi reconhecido, nem consagrado. Após quatro
meses acordaram os partidos e o Clero na escolha do Sacerdote João Leão. Daí a
dúvida dos autores (João XV e XVI), cuja maioria, porém, chama a este de João
XV, não contando o primeiro. Foi consagrado em setembro de 985. Era erudito e
piedoso. Procurou defender os direitos da Igreja. Seu epitáfio em São Pedro
chama-lhe: "invencível ao temor e ao lucro, egrégio doutor". O
imperador Oto III era muito jovem e estava longe. Então Crescêncio Nomentano,
senador em Roma, tornou-se ditador. João XV solicitou auxílio à imperatriz regente
Teofania, que veio a Roma em 989 e governou em Ravena com o estranho título de
"Imperador". Ela celebrou o Natal em Roma; uma grande benfeitora dos
pobres e dirigida espiritual de São Adalberto, mas morreu na Alemanha em 991. A
regência passou a santa Adelaide, avó de Oto III. Rebelou-se Crescêncio, que obrigou
o Papa a fugir de Roma em 995; mas quando soube que Oto marchava contra a
cidade com gigantesco exército, o povo, sempre volúvel, chamou o Pontífice de
volta e preparou grandiosas festas ao soberano. João morreu em abril de 996.
Fora fraco no governo civil da cidade, mas forte, vigoroso no trato da Igreja.
Conseguiu promover a paz entre Etelredo, rei da Inglaterra, e Ricardo, duque da
Normandia (991). Num sínodo, realizado em Roma, canonizou São Ulrico, Bispo de
Augusta, primeiro exemplo de canonização feita por um Papa. Por meio de missões
aproximou os povos da Polônia ao Cristianismo. Defendeu com energia os Bispos
franceses contra o rei Hugo Capeto.
139º
- Gregório V - 996 - 999
Gregório
V, nascido Bruno da Caríntia. Governou a Igreja com energia, cercado de
inúmeros inimigos. A confusão provocada em Roma por Crescêncio II e seus
partidários impediu ao clero a eleição de um novo Papa em 996. Foi então
enviada uma comissão ao Imperador Otão III, pedindo-lhe como "defensor da
Igreja", uma intervenção. Otão III indicou Bruno, filho do Duque da
Caríntia, que, após eleito, tomou o nome de Gregório V. Os dois eram primos. Embora
muito jovem, Bruno era culto, severo e resoluto. Acompanhou-o luzida comitiva
de Arcebispos e Príncipes e os romanos confirmaram com júbilo a escolha. Um dos
objetivos de Gregório era a universalidade da Sé Apostólica de Roma. Em 21 de
maio de 996, em Roma, coroou o imperador Otão. Os dois jovens, Otão com 16 e
Gregório V com 25 anos, idealizaram um programa para a Igreja e para o Império
em um sínodo que se seguiu à coroação. Foram anistiados os chefes de passadas
rebeliões, ato de bondade pago com grande gratidão. Crescêncio tramou contra o
Papa, que insistia em moralizar a cidade. A nobreza dissoluta aprovou a revolta
contra o rigoroso Papa alemão. Crescêncio II obrigou Gregório a fugir, alçou o
antipapa Filagato de Piacenza com o nome de João XVI e entregou Roma ao
imperador grego. Otão III voltou com grande pompa e enorme exército em 998,
depondo Filagato e humilhando Crescêncio publicamente antes de executá-lo. São
Nilo de Rossano repreendeu Otão e Gregório pelas torturas e execuções e quis
fazer do antipapa um monge, mas os próprios soldados do rebelde mutilaram-no na
fuga desastrada que empreendeu. Gregório V defendeu o Arcebispo Arnolfo contra
o mal casado rei Roberto II de França. Os mais ilustres homens de ciência do
tempo gozaram da amizade sincera de Gregório V, do qual se recorda que, em
Roma, pregava sempre em três línguas. Gregório morreu em 16 de fevereiro de 999
com apenas 27 anos, suspeita-se que de envenenamento pelos partidários de
Crescêncio.
140º
- Silvestre II - 999 - 1003
Silvestre
II, O.S.B. (ca. 950 — 12 de maio de 1003), nome de batismo Gerbert d'Aurillac,
foi Papa de 2 de Abril de 999 até sua morte, sucedeu Gregório V. Como monge
beneditino, Gerbert, nasceu em Auvérnia, França, de origens obscuras, mas
certamente humildes, foi educado e encaminhado aos estudos teológicos no
mosteiro de Saint-Géraud de Aurillac, no Auvérnia; acompanhando o Duque da
Espanha, Borel, estabeleceu-se na Península Ibérica, onde pôde aprofundar,
também graças aos contatos com a ciência árabe, a própria cultura no campo
filosófico e matemático. Foi um dos primeiros divulgadores dos numerais
indo-arábicos na Europa cristã. Lecionou por alguns anos em Roma, depois em
Reims (972), onde por uma década desenvolveu a parte mais produtiva e
interessante de sua obra didática e cultural. Atendendo a um pedido do Imperador
Oto II, dirigiu por um breve período a abadia de São Columbano em Bobbio e
depois voltou a Reims em 983, onde, como conselheiro do Arcebispo Adalberon,
deteve o controle da política francesa, favorecendo a ascensão ao trono de Hugo
Capeto. À morte de Adalberon em 989, seguiu-se um período agitado para Gerbert
que, indicado para a sucessão deste, viu-se preterido por Arnulfo por desejo do
próprio rei Hugo. Com a deposição de Arnulfo, Gerbert foi nomeado para
substituí-lo em 991, mas foi deposto em 995, uma vez que sua nomeação havia
sido considerada ilegal. Refugiou-se então na Alemanha, protegido pelo Imperador
Oto III, que, vinte anos antes, havia sido seu discípulo em Roma. Oto levou-o
consigo, como conselheiro à Itália, onde fez com que fosse nomeado
primeiramente Arcebispo de Ravena (998), e depois, com a morte de Gregório V, favoreceu
sua eleição ao papado em 999. Como Papa Silvestre II, Gerbert considerou que
chegara finalmente o momento de dar livre vazão aos projetos reformadores aos
quais a sua cultura e a sua formação clunicense naturalmente o impeliam, mas o
estreito vínculo com o Imperador induziu-o a expressar tal reforma na aliança
império universal-cristandade, que encontrava sua fórmula na Renovatio imperii,
ou seja, na convivência pacífica e na colaboração entre Império e Papado. Os
ideais do Papa francês e do imperador alemão, contudo, não eram compartilhados
pela população romana; ambos foram expulsos da cidade em fevereiro de 1001. O Papa
pôde voltar a Roma alguns meses depois, mas, nos dois últimos anos de vida e de
reinado, toda sua vontade reformadora desaparecera; suas últimas esperanças
foram destruídas com a morte de Oto em 1002. Segundo o historiador Thomas E.
Woods Júnior “o primeiro relógio de que se tem notícia foi construído pelo
futuro Papa Silvestre II para a cidade germânica de Magdeburgo, por volta do
ano 996. Posteriormente, outros monges foram aperfeiçoando essa técnica”.
141º
- João XVII - 1003
Giovanni
Sicco, feito Papa, adotou o nome de Papa João XVII, foi eleito em 16 de Maio de
1003 e morreu em 6 de Novembro de 1003. Não havia em Roma nenhuma autoridade
que fizesse frente aos nobres. Assim, a facção de Crescêncio II ganhou
novamente vantagem. João Crescêncio, filho do patrício derrotado e morto por
Otão III, aproveitou para tomar o poder. Os três Papas que se seguiram,
devem-lhe a sua eleição. João XVII, antes de tomar ordens, tinha sido casado e
era pai de três filhos, que também eram eclesiásticos. Do seu Pontificado de
poucos meses nada se sabe.
142º
- João XVIII - 1003 - 1009
O Papa João
XVIII, foi Bispo de Roma e governante nominal dos Estados Pontifícios de 25 de
dezembro de 1003, até sua abdicação em julho de 1009. Ele exerceu pouco poder
temporal, governando durante a luta entre João Crescêncio e o Imperador
Henrique II pelo controle de Roma. Nascido Giovanni Fasano di Roma, foi eleito
sucessor do Papa João XVII, cujo pontificado durou poucos meses. João nasceu na
família Fasano em Roma. Seu pai era um Sacerdote. João deve sua eleição à
influência e poder do clã Crescêncio. Durante todo o seu Pontificado, ele foi
supostamente subordinado ao chefe dos Crescêncios, que controlava Roma, o
patricius (um líder militar aristocrático) João Crescêncio III. Este período
foi interrompido por contínuos conflitos entre o Imperador otoniano Henrique II
e o Arduíno de Ivrea, que reivindicou o Reino da Itália em 1002 após a morte do
Imperador Otto III. Roma foi assolada por surtos de peste e os sarracenos
operavam livremente a partir do emirado da Sicília devastando as costas do
Tirreno. Como Papa, João XVIII ocupou seu tempo principalmente com detalhes da
administração eclesiástica. Ele autorizou uma nova Diocese de Bamberg para
servir de base para a atividade missionária entre os eslavos, uma preocupação
de Henrique II. Ele também julgou o exagero dos Bispos de Sens e de Orléans em
relação aos privilégios do abade de Fleury. João teve sucesso em criar, pelo
menos temporariamente, uma reaproximação entre as igrejas oriental e ocidental.
Seu nome podia ser encontrado em dípticos orientais e ele era orado em missas
em Constantinopla. João XVII abdicou em julho de 1009 e, de acordo com um
catálogo de Papas, retirou-se para um mosteiro, onde morreu pouco depois, em
junho ou julho de 1009.
143º
- Sérgio IV - 1009 - 1012
Papa
Sérgio IV (nascido Pietro Buccaporci: Roma, 970 — Roma, 12 de Maio de 1012).
Foi Bispo de Roma e governante nominal dos Estados Papais de 31 de Julho de
1009 até sua morte. Seu poder temporal foi eclipsado pelo patrício João
Crescêncio. Nasceu em Roma no bairro "Pina", em data desconhecida,
filho de Pedro, o Sapateiro e de Estéfânia. Ele se chamava Pietro Martino
Buccaporci, que não era seu nome de nascimento, nem o nome de sua família, mas
aparentemente um apelido dado a ele por causa de seus hábitos pessoais. Em
1004, ele se tornou Bispo de Albano. Foi eleito Papa após a abdicação de João
XVIII em 1009, e adotou o nome de Sérgio IV. O poder de Sérgio IV era pouco
influente e muitas vezes ofuscado pelo patrício, João Crescêncio, governante da
cidade de Roma na época. Com a ajuda de Crescêncio, Sérgio resistiu às
tentativas do Imperador Otão III de estabelecer o controle sobre Roma. Sérgio
IV agiu para aliviar a fome na cidade e isentou vários mosteiros do governo
episcopal. Uma bula Papal pedindo que os muçulmanos sejam expulsos da Terra
Santa depois que a Igreja do Santo Sepulcro foi destruída em 1009 pelo califa
fatímida al-Hakim bi-Amr Allah foi atribuída a Sérgio IV. Sérgio morreu em 12
de maio de 1012 e foi sepultado na Basílica de São João de Latrão. Embora não
fosse canonizado, Sérgio às vezes é venerado como Santo pelos beneditinos dos
quais era membro. Suspeitou-se que ele foi assassinado, pois morreu uma semana
depois de Crescêncio, considerado por muitos como seu patrono.
144º
- Bento VIII - 1012 - 1024
Papa
Bento VIII (Túsculo, 980 – Roma, 9 de abril de 1024) reinou de 18 de maio de
1012 até sua morte. Era descendente de Alberico I, Conde de Túsculo que teve
importante participação na eleição do Papa João X. Frente às dificuldades para eleger-se,
pediu ajuda a Henrique II, que se fez coroar em Roma. Conseguiu afastar de Roma
o inoportuno Crescêncio. Derrotou os muçulmanos que estavam atacando o litoral
da Itália. Tornou obrigatório o celibato dos padres. Tentou controlar, através
de leis, a simonia e o dolo. Um notável sucesso de Bento foi exatamente ter
restabelecido boas relações com a casa real alemã: ele se dava conta do quão
importante era a cooperação entre o Papado e a Coroa germânica. Assim, em
fevereiro de 1014, Henrique II foi coroado Imperador em São Pedro; antes da
coroação, ele jurou ser fiel protetor da Igreja. No Sínodo que se seguiu à
coroação, Bento acolheu o pedido de Henrique de que o símbolo de fé fosse
cantado durante a missa segundo o uso nórdico. O Papa e o Imperador, depois, em
Ravena, dirigiram um sínodo reformador que estabeleceu as idades mínimas para
poder receber as ordens sacras, e criou leis contra a simonia. Em seguida, sempre
de comum acordo, o Papa e o Imperador promulgaram cânones que proibiam o
matrimônio e o concubinato a todos os clérigos, designando aos filhos de tais
uniões o papel de servos da gleba.
145º
- João XIX - 1024 - 1032
Papa da
Igreja Católica Romana nascido em Túscolo, eleito em maio de 1024 como sucessor
do seu irmão Benedito VIII, o primeiro Papa a receber donativos para a Igreja
pela concessão de indulgências. Filho mais jovem do violento Gregório de
Tuscolo, Conti di Tusculum e tirano de Roma, substituto do patrício romano
Crescêncio na liderança de Roma e inimigo radicalmente avesso a toda influência
estrangeira. Ele logo se tornou todo poderoso com a morte de Oto III, que tinha
apenas 22 anos. Com predomínio dos tusculanos na eleição Pontifícia, foi a
segunda indicação consecutiva da série de Papas da corte de Túsculo. Embora
fosse um leigo e muito jovem, foi eleito sem nunca ter sido ordenado, mas
recebeu todas as ordens e foi consagrado para poder ser então indicado para
eleição. Recebeu ajuda dos monges de Cluny, para reformar as disciplinas
eclesiásticas e monásticas em toda a Europa. Na política coroou em Roma, o
Imperador germânico Conrado II e não atendeu às exigências da corte de
Bizâncio. Protegeu Guido d’Arezzo, o inventor das sete notas musicais, cujos
nomes foram tirados das primeiras sílabas de um canto a São João Batista.
Acabou falecendo na cidade das sete colinas, Roma.
Guido
d'Arezzo (992 - 1050) foi um monge italiano e regente do coro da Catedral de
Arezzo (Toscana), província de seu nascimento. Foi o criador das notas musicais
com os nomes que conhecemos hoje: dó, ré, mi, fá, sol, lá e si (antes, ut, re,
mi, fa, sol, la e san), e é por ele que os países de origem ibérica têm uma
fala das notas musicais diferente dos povos Anglo-Saxônicos. O sistema de Guido
d'Arezzo sofreu algumas pequenas transformações no decorrer do tempo: a nota Ut
passou a ser chamada de Do, para facilitar o canto com a terminação da sílaba
em vogal, derivando-se provavelmente da proposta lançada por Giovanni Doni,
nome de um musicólogo italiano, que escolheu a primeira sílaba do seu sobrenome
(afirmando ser, na verdade, a primeira sílaba do nome Dominus) para essa nova
denominação. E foi criada, posteriormente, a nota Si (por esse nome ser as
iniciais do nome de São João, no hino a São João Batista em latim: Sancte
Ioannes), novamente facilitando o canto com a terminação de uma vogal
146º
- Bento IX - 1032 – 1044
Nascido
em Túsculo, na Itália, entre os anos 1012 e 1020, o que ainda não foi
precisamente determinado pelos pesquisadores, Theophylactus III era filho de
Albérico III, o Conde de Túsculo, e membro de uma família com importante
linhagem religiosa e representatividade para os católicos. Era sobrinho dos Papas
Bento VIII e João XIX. O poder político que sua família possuía no mundo
cristão e fora dele era grande o suficiente para fazer de Theophylactus um caso
singular na história da Igreja Católica. Por influência de Albérico III, Theophylactus
tornou-se Papa muitíssimo jovem, quando tinha entre 18 e 20 anos de idade. No
entanto, tudo indica que seu Papado precoce não era reflexo de uma vida de
devoção ou de destaque religioso. Muito pelo contrário, Theophylactus não tinha
qualquer qualificação para o cargo. Sua fama como Papa é tão negativa que até a
Enciclopédia Católica, publicada pelo Vaticano, o chama de desgraça na Cadeira
de Pedro. Theophylactus sucedeu o Papa João XIX, herdando, na verdade, o posto
de Sumo Pontífice de seu tio graças ao poder e à riqueza da família. Adotando o
nome Bento IX, o Papa rapidamente construiu uma imagem cruel e imoral. O jovem
Papa era responsável por estupros, assassinatos, orgias, bestialidades e outras
atitudes incoerentes com sua posição. Ele chegou ao cargo máximo da Igreja
Católica em outubro de 1032 e, após ter sua fama disseminada, foi forçado a
sair de Roma em 1036. Porém retornou pouco tempo depois com a ajuda do
imperador Conrado II. A oposição o forçou a abandonar a cidade novamente em
1044 e ainda escolheu um novo Papa, Silvestre III. Bento IX foi sucedido por
Silvestre III ao ser afastado do posto em janeiro de 1045. Mas rapidamente reuniu
forças para retornar como Papa em abril daquele ano. Seu segundo papado duraria
pouco tempo. Tudo indica que por foi por consequência de álcool que o Papa
Bento IX abdicou de seu papado em troca de matrimônio. O que o levou a vender
seu papado a seu padrinho, o Sacerdote João Gratian, que seria nomeado Papa
Gregório VI, seu segundo sucessor. Mas rapidamente Bento IX se arrependeu e
retornou a Roma para ocupar seu lugar. Silvestre III, que ainda se nomeava Papa,
e Bento IX foram declarados depostos pelo rei germânico Henrique III. Um novo Papa,
Clemente II, foi, então, coroado como sucessor. Só que este faleceu em outubro
de 1047, abrindo espaço para que Bento IX se apoderasse do Palácio de Latrão.
Assim começava seu terceiro papado. Mais uma vez, ele ficaria pouco tempo à
frente da Igreja Católica, porque enfrentava forte oposição. Tropas germânicas
o expulsaram em julho de 1048, deixando vaga a cadeira Papal. Para o seu lugar
foi eleito o Papa Dâmaso II, que foi oficialmente reconhecido por todos. Bento
IX foi nomeado para atender aos interesses das classes campestres de Roma.
Todavia, nada sabia sobre as funções e obrigações de um Papa. Além de ser um
dos Papas mais jovens da história, seu papado tem outros destaques atípicos.
Foi o único homem a ser Papa mais de uma vez: três vezes, o único a vender seu
papado e o primeiro a renunciar ao cargo. Bento IX foi excomungado em 1049 e,
depois disso, pouco se sabe sobre sua vida. Acredita-se que ele tenha desistido
de tentar retomar a cadeira papal e que tenha sido até perdoado pelo Papa Leão
IX. Theophylactus viveu, pelo menos, até a década de 1080, quando faleceu
provavelmente em 1085 e foi sepultado na abadia de Grottaferrata. É um dos Papas
mais detestados pelos católicos.
147º
- Silvestre III - 1045
Papa
Silvestre III, nascido João dos Crescêncios (em italiano: Giovanni dei
Crescenzi; Roma, 1000 — 1062) foi Papa de 20 de janeiro de 1045 a 10 de
fevereiro de 1045, após a expulsão do libertino Papa Bento IX em Setembro de
1044. Antes de subir ao Trono de São Pedro, ele era Bispo de Sabina, cargo a
que voltou após acusações de suborno na sua eleição e excomunhão pelo rival
Bento IX.
148º
- Bento IX - 1045
Eleito Papa pela segunda vez.
149º
- Gregório VI - 1045 - 1046
Papa
Gregório VI, nascido Giovanni Gratian Pierleoni, foi Papa de 1 de maio de 1045
a 20 de dezembro de 1046. Desde o primeiro momento trabalhou na reforma dos
costumes e no restabelecimento da ordem. Em 1045 Bento IX ocupou a cadeira de
S. Pedro, mas ansioso por abandonar o cargo que lhe tinha sido imposto pela
família e poder casar, pediu a opinião do seu padrinho, João Graciano,
Arcipreste de S. João "ad portam Latinam", um homem com grande
reputação, de como poderia renunciar ao papado. Quando João o convenceu de que
poderia abandonar o pontificado, Bento propôs-se entregá-lo ao padrinho em
troca de uma grande soma de dinheiro. Desejoso de ver a Santa Sé livre de um Pontífice
tão indigno, João Graciano pagou e foi reconhecido como Papa com o nome de
Gregório VI, mas isto não trouxe paz à Igreja. Quando Bento IX deixou a cidade,
depois de vender o papado, já havia um outro aspirante à cadeira de S. Pedro,
João, Bispo de Sabina, que foi elevado ao papado por uma facção da nobreza e
tomou o nome de Silvestre III. Para agravar as coisas, Bento IX voltou a Roma e
forçou João a voltar para a sua Sé de Sabina, mas este nunca desistiu das suas
pretensões e o seu partido continuava a controlar parte de Roma. Aparentemente
Bento não tinha conseguido a noiva que pretendia e não perdeu tempo em
reconquistar o Trono Pontifício e em controlar parte da cidade. Colocado
perante um panorama de cofres vazios e um clero que tinha perdido o sentido de
justiça, Gregório viu-se com uma tarefa quase impossível. No entanto, com a
ajuda de Hildebrando, que viria a ser o Papa Gregório VII, ele tentou organizar
a vida civil e religiosa. Mas as facções antagonistas eram demasiado poderosas
e a confusão aumentou. Convencidos que nada se resolveria sem uma intervenção
exterior, um grupo de clérigos apelou ao imperador Henrique III que viesse em
socorro da situação. Henrique não hesitou e chegou a Itália no Outono de 1046.
Seguro da sua inocência, Gregório dirigiu-se ao seu encontro. Foi recebido pelo
Imperador com todas as honras e, atendendo ao pedido Imperial, convocou um
concílio a realizar-se em Sutri. Dos dois outros Papas apenas Silvestre se
apresentou no Sínodo, inaugurado a 20 de dezembro de 1046. Tanto a sua
reivindicação ao papado, como a de Bento IX foram rejeitadas. Silvestre foi
condenado a passar o resto dos seus dias num mosteiro. Mas o caso de Gregório
era diferente. Os Bispos reunidos no Sínodo consideravam que o modo com que ele
obtivera o pontificado era, claramente, um caso de simonia e intimaram-no a
renunciar. Sem mais possibilidades de escolha, foi isso que Gregório fez. Em
seu lugar foi eleito o Bispo de Bainberg com o nome de Clemente II. Gregório,
acompanhado por Hildebrando, seguiu com o Imperador para a Alemanha, onde
morreu pouco depois, em Maio de 1047. Instituiu o primeiro exército Pontifício
para libertar e defender os territórios da Igreja Católica. Obrigado a abdicar,
retirou-se como monge em Cluny, tendo a assistência de Hildebrando de Sovana, o
futuro Papa Gregório VII.
150º
- Clemente II - 1046 – 1047
Nascido
na Saxônia, Alemanha, no ano 1000, Suidgero de Morsleben nasceu em um momento
de grande temor da sociedade medieval europeia. Acreditava-se amplamente que o
fim do mundo ocorreria naquele ano. É um momento dotado de muitas crenças e
lendas envolvendo o fim do mundo, que, obviamente, não se consumou. Superadas
as incertezas do ano mil, a Igreja aproveitou-se do temor reinante para
aumentar seu poderio e influência sócio-cultural. Suidgero cresceu nesse
contexto como homem dedicado à fé. Foi gradativamente crescendo na hierarquia
católica e desenvolveu importante papel como Bispo de Bamberg, na Alemanha.
Havia uma situação atípica envolvendo os líderes da Igreja, forçados a renunciar
por grupos opositores acusando-os de simonia e métodos ilegais para chegar ao
posto Papal. Os Papas não tinham como se defender, em função da força da
oposição, e abdicavam. Para o lugar do Papa anterior foi escolhido Suidgero de
Morsleben, com o nome de Papa Clemente II. A simonia não era um problema
restrito ao Papa Gregório VI naquela época, pelo contrário, era um problema
generalizado e que se tornou público com a abdicação do Papa. Algo deveria ser
feito e Clemente II se propôs a fazê-lo no ano seguinte, em 1047, o Papa reuniu
um concílio em Sutri para combater o hábito inadequado. No entanto, não se
estipulava grandes punições aos pecadores, o que não colocou fim ao problema
disseminado no meio cristão. O Papa Clemente II encontrou um ambiente muito
tomado por intensas disputas políticas. Seu antecessor fora deposto por pressão
da oposição e havia o grave risco de um cisma na época, pois outros religiosos
reclamavam o título de Papa. O novo Papa preocupava-se com o poder que os
Bispos-Condes haviam adquirido, o que causava muitos conflitos e gerava tensão
por novos a todo momento. O próprio Suidgero de Morsleben recebeu muita
resistência para nomeação como Sumo Pontífice, que só foi concretizada pela vontade
do rei da Alemanha e pela superação do principal opositor, o Bispo Ariberto de
Milão. Em meio a tanta hostilidade, Suidgero foi aceito pelo clero e pelo povo,
pois reunia os desejos de pacificação das disputas políticas extremadas. Como Papa,
Clemente II deixou como legado para o ritual católico a deliberação de que toda
eleição Papal deveria ter origem em uma designação imperial. Retribuindo o
apoio do rei alemão, coroou Henrique III como patrício dos romanos, dando a ele
peso decisivo na eleição Papal. Clemente II fez algumas viagens à Alemanha e,
em uma delas, faleceu. O Papa Clemente II permaneceu menos de um ano como líder
da Igreja Católica. Faleceu no dia nove de outubro de 1047, aos 47 anos de
idade, de morte dita natural. Seu corpo foi sepultado em Bamberg, onde era Bispo.
151º
- Bento IX - 1047 – 1048
Consagrado
Papa pela terceira vez, assume o Pontificado.
152º
- Dâmaso II – 1048
Nascido
na Baviera, Alemanha, no ano 1000, Poppo von Brixen foi destacado líder religioso
de sua terra natal, onde exercia a função de Bispo. Sabe-se muito pouco sobre
sua história de vida e sobre sua formação eclesiástica, mas acredita-se que
tenha sido proveniente de família nobre europeia. Na época em que viveu, os Imperadores
eram muito influentes na escolha dos Papas. Foi o que aconteceu quando o Papa
Bento IX renunciou. Para ocupar o posto religioso vago causado pela renúncia do
Papa Bento IX, o Imperador germânico Henrique III rapidamente indicou Poppo von
Brixen para ser o sucessor. Tudo leva a crer que o Bispo tinha bom
relacionamento e afinidade com a nobreza germânica, já que se tratava de uma
escolha muito significativa. Poppo von Brixen se tornou oficialmente Papa no
dia 17 de julho de 1048. O Papa anterior havia renunciado ao cargo com o
intuito de reparar seus defeitos, passando a realizar penitência voluntária em
um mosteiro alemão no qual ficaria até sua morte. O Papa Dâmaso II é mais um
personagem de um tempo repleto de curiosidades. Ele foi o segundo pontífice
germânico nomeado pelo imperador Henrique III e o terceiro Papa germânico. Seu
papado, contudo, foi um dos mais curtos da história, durou apenas 23 dias.
Assim como seu antecessor, o Papa Dâmaso também renunciou ao cargo com o
intuito de se purificar, no dia nove de agosto de 1048. Ele retirou-se para a
Palestina para viver em penitência, mas acabou sendo vitimado pela malária. O Papa
sequer teve tempo para qualquer ato marcante para a Igreja Católica ou para
deixar qualquer legado. Não se sabe ao certo o motivo da renúncia dos dois Papas,
mas sabe-se que a pressão e a interferência do imperador Henrique III era
grande. O que se pode constatar pela própria nomeação de Poppo von Brixen e
também de seu sucessor. Com a renúncia de Dâmaso II, Henrique III escolheu seu
primo, Bruno de Egisheim e Dagsburgo, que era homem de muita confiança também
do Imperador, para se tornar o Papa Leão IX. O papado de Dâmaso encerrou um
período turbulento para a Igreja Católica que é chamado por muitos de idade das
trevas da instituição, em função dos breves papados, das disputas políticas e
da grande interferência dos imperadores na escolha dos líderes religiosos. Esta
fase seria seguida por uma época de grande dominação social, econômica e
cultural da Igreja Católica, detentora do poder e influente no destino da
humanidade durante a Idade Média.
153º
- São Leão IX - 1049 - 1054
Papa
Leão IX, nascido Bruno de Eguisheim-Dagsbourg (Eguisheim, Alsácia, 21 de junho
de 1002– 19 de abril de 1054, Roma), foi Papa de 12 de fevereiro de 1049 até a
data de sua morte. Foi principalmente um Papa viajante, trabalhando pela paz na
Europa. É Santo da Igreja Católica, nasceu em Eguisheim, na Alsácia, com o nome
de Bruno de Eguisheim-Dagsbourg. No entanto, certas pessoas afirmam que ele
nasceu em Dabo, outras em Walscheid, ambas na Moselle. Depois de estudar em
Toul, tornou-se Cônego de Saint-Étienne em 1017 e Bispo desta cidade em 1026. Torna-se
Papa em 1049, e neste mesmo ano proíbe o casamento de Guilherme o Bastardo e de
Matilde de Flandres. Apesar disso, o casamento acaba por ser realizado. Leão IX
foi um reformador, tendo-se inscrito na reforma dita “Gregoriana”. Convoca
durante seu Pontificado 12 Concílios. Suas principais lutas foram contra: a
taxa eclesiástica (a simonia); o casamento bem como o concubinato dos padres (o
nicolaísmo); os Bispos não deveriam ser príncipes do Império, mas simples
teólogos; o retorno dos valores do cristianismo primitivo. De junho de 1053 a
março de 1054 ele foi mantido prisioneiro em Benevento, numa prisão honorável;
ele não sobreviveu muito tempo após seu retorno a Roma, onde morreu em 19 de
abril de 1054. O dia de São Leão é festejado em 19 de abril, dia do aniversário
da sua morte. Seu corpo repousa na Basílica de São Pedro. Antes de sua morte,
Leão IX enviou um legado Papal, o Cardeal Humberto de Silva Cândida, a Constantinopla,
para negociar com o Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário (1043-1059),
em resposta a suas ações sobre a Igreja no sul da Itália. Humberto rapidamente
parou as negociações, e excomungou e depôs o Patriarca em nome do Papa. Este
ato, embora juridicamente inválido devido à morte do Papa da época, foi
respondido pelo próprio Patriarca Miguel com a excomunhão contra o Humberto e
seus associados e é popularmente considerado a separação oficial entre as
Igrejas orientais e ocidentais, no que é chamado de Grande Cisma do Oriente.
CISMA
DO ORIENTE
A
ruptura entre bizantinos e ocidentais, que tomou sua forma definitiva no século
XI, não é senão o último episódio de uma longa história ou da história das
diferenças de duas mentalidades: a grega e a latina. Sobre a união na fé e no
amor de Cristo, que estreitavam orientais e ocidentais, prevaleceu,
infelizmente, a desunião humana natural.
1. Há uma diversidade fundamental,
que se manifestava de maneiras diversas:
a) O
gênio. Os gregos eram intelectuais, cultores da filosofia, das letras e das
artes. A elaboração das grandes verdades da fé a respeito da SS. Trindade e de
Jesus Cristo deu-se no Oriente (até o Concílio de Constantinopla III, 680/1).
Por isto tendiam a desprezar os romanos e, mais ainda, os bárbaros invasores,
como rudes e incultos. – Os latinos eram mais amigos da prática, da disciplina,
do Direito; por isto tinham os gregos na conta de frívolos, inconstantes e
tagarelas (cf. At 17,21); dizia-se no Ocidente: “Graeca fides, nulla fides”,
isto é, “palavra de grego, palavra nula”. Essa diversa índole suscitou, a
partir do século V, um antagonismo crescente entre orientais e ocidentais.
b) A
língua. Os primeiros documentos da Roma cristã eram redigidos em grego. Depois
do século IV, porém, esta língua desaparece do Ocidente, dando lugar ao latim
(= dialeto do Lácio ou da região de Roma). O latim era desprezado e desconhecido
no Oriente, especialmente após o Imperador Justiniano. É de notar, por exemplo,
que o arquidiácono latino Gregório (depois Papa), certamente homem de valor
intelectual passou cinco anos na corte de Constantinopla como legado papal, sem
aprender o grego; julgava que isto não valia a pena (fim do século VI). – Ora a
ignorância mútua de línguas muito contribuiu para que as comunicações entre
Oriente e Ocidente se tornassem mais raras e sujeitas a mal-entendidos; era
preciso recorrer a intérpretes, que nem sempre eram fiéis (tenham-se em vista
as atas do Concílio Niceno II referentes às imagens).
c)
Liturgia e disciplina. Havia tradições diferentes no Oriente e no Ocidente, no
tocante, por exemplo, ao calendário de Páscoa, aos dias de jejum (os latinos
jejuavam no sábado; os gregos, não), à matéria da Eucaristia (pão sem fermento
ou ázimo no Ocidente; pão fermentado no Oriente), ao celibato do clero, ao uso
da barba (muito caro aos orientais) Essas tradições, por não afetarem as
verdades da fé, eram perfeitamente aceitáveis; haveriam, porém de tornar-se
motivo de debates em tempos de controvérsia.
2. Ao lado da diversidade fundamental, levemos em
consideração a mentalidade que se foi formando em Bizâncio ou o “bizantinismo”.
Em 330 Constantino transferiu a capital de
Roma para Bizâncio, que ele quis chamar “a nova Roma”. Esta fora até então uma
localidade insignificante, que muito sofrera por parte dos Imperadores Romanos.
Do ponto de vista eclesiástico, Bizâncio também carecia de significado; a sua
comunidade cristã não fora fundada por algum dos Apóstolos (como as de
Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Roma…); o primeiro bispo que se conhece,
Metrófanes, é do início do século IV (315-325) e Sufragâneo do metropolita de
Heracléia. Compreende-se então que, o prestígio que Bizâncio não possuía por
suas tradições, os bizantinos o quisessem obter por suas reivindicações. De
modo geral, ia-se tornando difícil aos bizantinos reconhecer a autoridade
religiosa de Roma, já que todo o esplendor da corte imperial se havia
transferido para Constantinopla. Acresce que os Imperadores bizantinos,
herdeiros do conceito pagão de Pontifex Maximus (Pontífice Máximo no plano
religioso), se ingeriam demasiadamente em questões eclesiásticas, procurando
manter a Igreja oriental sob o seu controle. Os monarcas, nas controvérsias
teológicas, muitas vezes favoreciam as doutrinas heréticas, contrapondo-se
assim a Roma e ao seu bispo, que difundiam a reta fé. Os Patriarcas de
Constantinopla, por sua vez, muito dependentes do Imperador, procuravam a
preeminência sobre as demais sedes episcopais do Oriente e queriam rivalizar
com o Patriarca de Roma, sucessor de Pedro, aderindo à heresia e provocando
cismas: dos 58 bispos de Constantinopla desde Metrófanes até Fócio (858), um
dos vanguardeiros da ruptura, 21 foram partidários da heresia; do Concílio de
Nicéia I (325) até a ascensão de Fócio (858), a sede de Bizâncio passou mais de
200 anos em ruptura com Roma. Registraram-se mesmo atos de violência cometidos
por imperadores contra alguns Papas: Justino I mandou buscar à força o Papa
Vigílio em Roma e quis obrigá-lo a subscrever normas religiosas baixadas pelo
monarca (cerca de 550); Constante II procedeu de forma análoga contra o Papa
Martinho I, que em Roma (649) se opusera à heresia monotelita, favorecida pelo
Imperador; Justiniano II mandou prender em Roma o Papa Sérgio I, que não queria
reconhecer inovações promulgadas pelo Concílio Trulano II (692); Leão III,
iconoclasta, em 731 subtraiu a Roma a jurisdição sobre a Ilíria e sobre parte
do “Patrimônio de S. Pedro” (Itália meridional).
3. O
distanciamento entre orientais e ocidentais ainda foi acentuado pela criação do
“Sacro Império Romano da Nação dos Francos”, cujo primeiro Imperador Carlos
Magno recebeu a coroa, em 800, das mãos do Papa Leão III. – O descaso ou a
hostilidade dos bizantinos associados à opressão dos lombardos no Norte da
Itália, dera motivo a que os Papas se voltassem aos poucos, com olhar
simpático, para o povo recém-convertido dos francos, pedindo-lhes o auxílio
necessário para instaurar nova ordem de coisas no Ocidente. A entrega da coroa
imperial a Carlos Magno visava a prestigiar os francos nessa sua missão. Como
se compreende, em Bizâncio tal ato foi mal acolhido, os orientais julgavam que
só podia haver um Império cristão, como só pode haver um Deus; o Imperador
reinava em nome de Cristo e era como que o representante visível da unidade da
Igreja; daí grande surpresa e escândalo quando souberam que o bispo de Roma sagrara
em 800 um “bárbaro” para governar um segundo Império cristão! Apesar de tudo,
deve-se dizer que até o século IX o primado de Roma ainda era satisfatoriamente
reconhecido pelos orientais. A tensão de ânimos se manifestou em termos novos e
funestos sob a chefia dos Patriarcas Fócio (? 897) e Miguel Cerulário (?1059). Em
858 foi ilegitimamente deposto por adversários políticos o Patriarca Inácio de
Constantinopla. Em seu lugar, subiu à cátedra episcopal um comandante da guarda
imperial, Fócio, que o Imperador favorecia. O novo prelado recebeu em cinco
dias todas as ordens sacras e foi empossado, sem que a Sé estivesse vaga (pois
Inácio não renunciara). Não conseguindo impor-se ao bispo de Roma, que em 863 o
declarou destituído das funções pastorais, Fócio, ainda apoiado pelo Imperador,
abriu violenta campanha contra os cristãos ocidentais. A situação se tornou
mais tensa pelo fato de que O Papa Nicolau I enviou missionários latinos à
Bulgária, cujo rei Bóris, recém-batizado, hesitava entre a obediência a Roma e
a obediência a Constantinopla. A entrada dos latinos em território tão próximo
das fronteiras gregas irritou os bizantinos; a cólera chegou ao auge quando
estes souberam que legados de Roma estavam a caminho de Constantinopla, onde
deveriam informar o Imperador de que a Bulgária se tornara decididamente
latina. Presos antes de penetrarem em território imperial, os legados do Papa
foram expulsos (866); Fócio enviou uma carta aos bispos do Oriente condenando a
conduta dos “ocidentais bárbaros”: além da evangelização da Bulgária,
censurava-os por praticarem o jejum no sábado, celebrarem a Eucaristia com pão
ázimo e, principalmente, por terem acrescentado o Filioque ao Símbolo da Fé.
Como sabemos, o credo niceno-constantinopolitano professava: “Creio no Espírito
Santo, que procede do Pai… Todavia a partir de fins do século VI, a Igreja na
Espanha propagou a fórmula: …que procede do Pai e do Filho (Filioque)”. Na
França este acréscimo foi sendo aceito; Carlos Magno patrocinou-o. Os monges
francos o cantavam no Monte das Oliveiras em Jerusalém, ainda que por isto
fossem duramente atacados pelos gregos e acusados de heresia (808). 0 Papa Leão
III (795-816), em atenção aos gregos, desaprovou o uso dos latinos e aconselhou
os francos a deixar de o fazer; mas não foi atendido. – Ora Fócio levantou com
veemência contra os ocidentais a acusação de terem alterado o Credo. Por
conseguinte, um Concílio reunido em Constantinopla em 867 depôs Nicolau I, que
morreu naquele mesmo ano, dez dias depois que o Patriarca Fócio fora destituído
por uma revolução palaciana. Inácio foi recolocado na sé patriarcal. Em 869/70
celebrou-se o oitavo Concílio Ecumênico em Constantinopla, sob a direção de
três legados papais; foi excomungado Fócio e a comunhão com Roma foi
restabelecida. Mas de novo em 879 Fócio assumiu a sé de Constantinopla; reuniu
um sínodo nesta cidade em 879/80, que rejeitou o de 869/70 e hostilizou os
latinos (os gregos consideram este o oitavo Concílio Ecumênico). Fócio morreu
num mosteiro em 897 ou 898. Os Patriarcas seguintes restauraram e confirmaram a
união com Roma, a qual, porém, estava gravemente abalada após tantas
discórdias. O século X foi marcado pela criação do Sacro Império Romano da
Nação Germânica com a dinastia dos Otos (962) – o que muito irritou os bizantinos,
que viam nesse fato a renovação do gesto de 800 (coroação de Carlos Magno
Imperador). As relações com Roma eram frias; bastaria um pequeno incidente para
reavivar as acusações feitas no passado. Isto, de fato, aconteceu em 1014: o
Papa Bento VIII introduziu o Filioque no canto da Igreja Romana a pedido do
Imperador Henrique II. O Patriarca bizantino Sérgio II reagiu propagando os
escritos de Fócio sobre o assunto. Em 1043 tornou-se Patriarca de
Constantinopla Miguel Cerulário, homem ambicioso, que deu livre curso à paixão
antiromana; em 1053 mandou fechar as igrejas dos latinos em Constantinopla e
confiscou os mosteiros destes; acusava-os principalmente de usar pão ázimo na
Eucaristia; um dos funcionários imperiais parece ter calcado aos pés as hóstias
dos “azimitas” como não consagradas. Estes fatos causaram grande agitação no
Ocidente; o Cardeal Humberto da Silva Candida, erudito e talentoso, escreveu um
“Diálogo”, em que refutava as objeções dos gregos e os acusava de Macedonismo
(por não aceitarem o Filioque). Todavia o Imperador bizantino Constantino IX
desejava boas relações com o Papa Leão IX para que este o ajudasse a combater
os normandos, que devastavam as possessões bizantinas na Itália Meridional; em
resposta a uma carta do Imperador, Leão IX enviou uma legação a Constantinopla
em 1054, composta pelo Cardeal Humberto da Silva Candida e por dois outros
prelados. O Imperador mandou queimar um libelo acusatório anti-romano para
favorecer o diálogo. Mas Miguel Cerulário se mostrou intransigente; chegou a
proibir os Ocidentais de celebrar Missa em Constantinopla. A vista disto, os
legados romanos reagiram com o recurso extremo: aos 16/07/1054, em presença do
clero e do povo depositaram sobre o altar-mor da basílica de Santa Sofia em
Constantinopla uma Bula de excomunhão contra Cerulário e seus seguidores;
despediram-se do Imperador e tomaram o caminho de volta para Roma. – Os legados
papais julgavam que, diante deste gesto, o Patriarca retrocederia. Em vão,
porém. Miguel Cerulário excitou tumulto em Constantinopla contra o Imperador
acusado de cumplicidade com os romanos; Constantino IX reagiu violentamente.
Num Sínodo o Patriarca pronunciou o anátema sobre o Papa e seus legados e
promulgou um manifesto que convidava os demais bispos do Oriente a se associarem. Na verdade, o proceder de Cerulário foi em breve imitado pelos
outros bispos orientais e pelos povos evangelizados por Bizâncio (servos,
búlgaros, romenos, russos), acarretando a grande divisão que até hoje perdura
apesar das tentativas de reatamento que se deram nos séculos XIII e XV. Quanto
a Cerulário, levou sua paixão ao ponto de reivindicar para si as, insígnias
imperiais; por isto em 1057 foi exilado pelo Imperador Isaac I e morreu no
desterro em 1059. Em nossos dias verifica-se que a cisão não se fundamenta
apenas em motivos teológicos, mas também em razões de rivalidade cultural e
política acobertadas por pretextos religiosos. A profissão do Filioque decorre
de um estudo mais preciso do dogma trinitário, plenamente consentâneo com as
verdades da fé; não é necessário que os orientais o introduzam no seu canto
litúrgico. A excomunhão mútua de Roma a Constantinopla foi cancelada após o
Concílio do Vaticano II e o caminho está aberto para bom entendimento entre
orientais a latinos. Aqueles têm o título de ortodoxos, porque ficaram fiéis à
reta doutrina durante as controvérsias cristológicas dos séculos V-VII. A Santa
Igreja, representada pelo sucessor de Pedro em Roma e pelos fiéis que estão em
comunhão com ele, continua a ser, mesmo após a separação de Bizâncio, a
depositaria junto à qual os homens encontram incontaminados os meios
necessários à sua santificação.
154º
- Vitor II - 1055 – 1057
Vítor II
(Gebhard de Hischberg) foi Papa entre 13 de Abril de 1055 e 28 de Julho de
1057. Era Bispo de Eichstädt. Após a morte de Leão IX, o Cardeal-Subdiácono
Hildebrando (futuro Papa Gregório VII), encabeçou uma delegação junto do Imperador
Henrique III, para que este nomeasse rapidamente um sucessor. Gebhard era o
candidato do Imperador, mas rejeitou um primeiro convite e só aceitou o
Pontificado quando o Imperador lhe garantiu a restituição de todos os bens que
haviam sido tomados da Santa Sé. Foi consagrado a 13 de abril de 1055 com o
nome de Vitor II. Foi um digno sucessor do Papa Leão IX na luta conta a simonia
e o concubinato clerical. Mas como tinha o apoio firme do imperador, conseguiu
sucesso onde Leão tinha falhado. A 3 de junho de 1055, realizou-se em Florença,
com a presença do Imperador e de 120 Bispos, um sínodo onde os decretos contra
a simonia e a incontinência foram confirmados e vários Bispos suspeitos foram
depostos. Antes do Imperador regressar à Alemanha, transferiu para o Papa os
ducados de Espoleto e Camerino. No início de 1056 Vitor II enviou Hildebrando
de volta a França para retomar o seu trabalho contra a simonia e o concubinato,
que tinha iniciado com Leão IX. Acompanhou Henrique III a Botfeld, onde o
imperador faleceu a 5 de outubro de 1056. Antes de morrer o Imperador tinha-se
confiado o seu sucessor, de seis anos, Henrique IV, e entregue ao Papa a
regência do reino. A 28 de outubro, depois do funeral do Imperador, Vitor II
garantiu a sucessão imperial a Henrique IV, entronizando-o solenemente em
Aachen. Deixando a regência da Alemanha nas mãos de Agnes, mãe de Henrique IV,
Vitor voltou a Roma em fevereiro de 1057. Acaba por morrer em Arezzo a 28 de
Julho. Os seus restos mortais seguiram para a Catedral de Eichstätt, mas pelo
caminho foram roubados por cidadãos de Ravena e enterrados na igreja de Santa Rotonda,
onde se encontra sepultado Teodorico, o Grande. No ano em que morreu convocou o
sínodo de Latrão, que foi depois transferido para a Toscânia. Morreu em Arezzo,
vítima de malária. Foi o último Papa alemão até a eleição de Bento XVI em 2005.
155º
- Estevão IX; X - 1057 - 1058
Papa
Estêvão IX (Frederico de Lorena) foi um monge beneditino, eleito Pontífice no
dia 2 de Agosto de 1057 e faleceu no dia 29 de Março de 1058. O futuro Papa
Estêvão IX era filho do duque Godofredo III da Baixa Lorena. Tornou-se
bibliotecário da Santa Sé ao ser nomeado pelo seu primo, o Papa Leão IX, cerca
de 1051. Acompanhou Leão IX nas suas viagens apostólicas pela Europa e fez
parte da embaixada enviada em 1054 a Constantinopla, que deflagrou a separação
das Igrejas oriental e ocidental. No seu regresso, foi obrigado a tornar-se
monge em Monte Cassino para escapar do Imperador Henrique III (o seu irmão
rebelara-se contra o Imperador). O Papa Vitor II fez dele abade e Cardeal-presbítero.
Como Papa continuou a reforma iniciada por Leão IX. Promoveu a Cardeais dois
ativos membros dessa reforma, Pedro Damião e o monge Humberto, que participara
com ele na viagem a Constantinopla. Quanto a Hildebrando (futuro Papa Gregório
VII), enviou-o primeiro a Milão, para moralizar o clero local e depois à Alemanha,
para induzir a regente: Imperatriz-mãe Agnes, a aceitar a sua eleição, da qual
não tinha participado. Tinha combinado com Hildebrando a ida deste a França,
começado negociações com a Igreja grega e tentava deter a invasão dos
normandos, quando adoeceu gravemente. Antes de morrer, pediu aos Cardeais que
não elegessem o seu sucessor antes do retorno de Hildebrando. Foi sepultado na
igreja de Santa Reparata em Florença.
156º
- Nicolau II - 1059 - 1061
Papa
Nicolau II nascido Geraldo de Borgonha (França, 1010 — Roma, 27 de Julho de
1061) foi Papa de 24 de janeiro de 1059 até à data da sua morte. Proibiu a
concessão de cargos eclesiásticos através de simonia. Em 1046 era Bispo de
Florença. Logo que a notícia da morte do Papa Estêvão IX, em Florença, chegou a
Roma (4 de abril de 1058), imediatamente o partido Tusculano nomeou um sucessor
na pessoa de João Minicius, Bispo de Velletri, com o nome de antipapa Bento X.
A sua eleição, além de contrária aos desejos de Estêvão IX, que pretendia que a
escolha do seu sucessor devia esperar pelo retorno de Hildebrando (futuro Papa
Gregório VII), estava marcada pela violência e pela corrupção. Vários Cardeais
protestaram e foram obrigados a fugir de Roma. Hildebrando, que voltava da sua
missão, ao saber destes acontecimentos, interrompeu a sua viagem em Florência
e, depois de acordar com o Duque Godofredo de Lorena-Toscânia a elevação do Bispo
Gerard (Nicolau II) ao papado, conseguiu apoio em parte da população romana
para o seu candidato. Uma embaixada enviada à corte da imperatriz Inês da
Aquitânia, conseguiu também o apoio desta. A convite de Hildebrando, os Cardeais
reuniram-se em Siena em dezembro de 1058 e elegeram Gerard como Papa Nicolau
II. A caminho de Roma, o Papa realizou um sínodo em Sutri, onde pronunciou a
deposição de Bento X. Este acabou expulso de Roma, em janeiro de 1059 e a
consagração de Nicolau II teve lugar a 24 de janeiro desse mesmo ano. Era um
homem culto, duro e com conselheiros capazes, mas tinha sobre ele a ameaça de
Bento X e dos seus apoiantes. Nicolau deu poderes a Hildebrando para
estabelecer negociações com os normandos, que ocupavam o sul de Itália. O
enviado Papal reconheceu Ricardo de Aversa como Príncipe de Cápua e, em troca,
recebeu tropas normandas que permitiram ao papado fazer frente às hostilidades
de Bento na Campânia. Esta investida não foi decisiva para derrotar a oposição,
mas permitiu a Nicolau realizar, no início de 1059, uma visita pastoral a
Espoleto, Farfa e Osimo. Durante esta viagem ele elevou o abade Demétrio de
Monte Cassino à categoria de Cardeal e designou-o ao legado Papal na Campânia,
Benevento, Apúlia e Calábria. Logo no início do seu pontificado Nicolau II tinha
enviado Pedro Damião e o Bispo Anselmo de Lucca como seus legados a Milão, onde
o clero, deu origem a uma reforma conhecida como Pataria. Um sínodo presidido
por estes mensageiros do Papa, apesar de uma revolta que colocou as suas vidas
em perigo, conseguiu do Arcebispo Guido e do clero de Milão um solene repúdio
da simonia e concubinato. Uma das necessidades mais prementes na época era a
reforma das eleições Papais. Tinham que ser libertadas da influência nefasta
das facções romanas e do controle secular do Imperador. Para esse fim, Nicolau
II realizou, na Páscoa de 1059, um sínodo em Latrão, com a participação de
cento e treze Bispos. Resumidamente: com a morte de um Papa, os Cardeais-Bispos
devem escolher entre si um candidato e, depois de terem concordado com um nome,
eles e os outros Cardeais devem proceder à eleição. O restante do clero e
leigos têm o direito de aclamar a sua escolha. (Bula pontifícia In nomine
Domini). Nos finais de Junho de 1059, Nicolau partiu para Monte Cassino e dai
para Melfi, capital da Apúlia normanda, onde realizou um sínodo e concluiu a
aliança com o Duque Roberto de Altavila, que foi investido com a soberania de
Apúlia, Calábria e Sicília, caso a reconquistasse dos sarracenos; ele
comprometeu-se, em contrapartida, em pagar um tributo anual, ser vassalo do Papa
e proteger a Santa Sé. Um acordo semelhante foi feito com o Príncipe Ricardo de
Cápua. Nicolau regressou a Roma com um exército normando, reconquistou algumas
terras e forçou Bento X a capitular em Galeria, no Outono de 1059. Faleceu a 27
de Julho de 1061 e foi sepultado na igreja de Santa Reparata, em Florença.
156
. 1 - Aparição de Nossa Senhora de Walsingham à Richeldis de Faverches - Inglaterra
O
Santuário Nacional de Nossa Senhora, para os ingleses, é o Santuário de
Walsingham, o ponto central da veneração de Maria Santíssima na ilha; a sua
história está intimamente ligada à história da Igreja Católica na Inglaterra. O
que deu origem ao título e à veneração de Nossa Senhora de Walsingham, numa
visão que teve Richeldis de Faverches. A esta senhora apareceu a Mãe de Deus
conduzindo-a em espírito à sua casinha de Nazaré, perto da qual lhe recomendou
que tomasse medidas exatas de sua casa, para que pudesse ser edificada em
Walsingham uma casa semelhante; mas só depois que a aparição se repetiu três
vezes, começou Richeldis alegremente a dar cumprimento ao desejo de Nossa
Senhora. O filho de Richeldis, Geoffrey de Faverches, deixou como seu
substituto, antes de sua peregrinação à Terra Santa, o Capelão Edvoy, dando-lhe
a incumbência de erigir um convento em suas terras, e confiar a "Santa
Casa" à proteção de uma Ordem religiosa. A essa Ordem seria também
conferido o padroado da igreja de Todos os Santos. Estas incumbências foram
ratificadas por Richard de Clare, duque de Gloucester, sucessor de Geoffrey. Quando
Richeldis tratou de começar a construção da "Santa Casa", viu certa
manhã, com espanto, olhando para um prado, dois pedaços planos do terreno
misteriosamente não atingidos pelo orvalho, e esses dois planos correspondiam
exatamente às dimensões dos alicerces da casa de Nazaré, que Richeldis havia
medido na sua visão; porém, quando ela fazia começar a construção num daqueles lugares assinalados,
o qual ficava na proximidade de duas fontes, sobrevieram singulares acontecimentos,
que estorvavam ou retardavam os trabalhos iniciados. Tudo falhava, e ninguém
acreditava que a capela fosse algum dia acabada. Mas Richeldis voltou-se aflita
para a Mãe de Deus, pedindo-lhe auxílio e proteção para a sua obra, e eis que,
na madrugada de uma noite de oração fervorosa e confiante, seu pedido é
satisfeito de modo maravilhoso: Richeldis encontra o Santuário (a "Santa
Casa") muito bem construído a 200 pés de distância do lugar que tinham
começado a construí-lo. A este grande milagre uniram-se muitas curas
maravilhosas e o livramento dos mais variados perigos e necessidades. A fama de
Walsingham como lugar de graças extraordinárias espalhou-se rapidamente, e
começaram a afluir peregrinos de toda a parte. Ao longo das estradas por onde
passavam as peregrinações foram erigidas de espaço a espaço capelas e outros
lugares de oração. Duas capelas ainda existem: uma fica em King´s Lynn e é
denominada Capela de Nossa Senhora da Colina Vermelha; a outra, situada em
Houghton-in-the-Dale, é dedicada a Santa Catarina de Alexandria e conhecida por
"Capelinha dos chinelos", porque aí tiravam os peregrinos os sapatos,
continuando o trajeto descalços. Já muito antes da extinção deste lugar de
culto católico por ordem do Cromwell, no ano de 1538, já muito antes tinha
começado o calvário de Walsingham, depois de ter o culto católico florescido
durante três séculos naquele lugar bendito. Mais ou menos trezentos anos depois da
destruição da imagem milagrosa de Walsingham, começou o movimento de Oxford,
que visava o florescimento da fé católica na Ilha, e, com esse movimento, foi
pouco a pouco renascendo a veneração da SS. Virgem Maria; com este fim
uniram-se os veneradores de Nossa Senhora em 1848; em 1880 nasceu a Confraria
das Filhas de Maria, em 1904 a Liga de Nossa Senhora, e nos anos seguintes
muitas outras organizações semelhantes. Em 1921 resolveram mandar fazer uma
cópia da antiga imagem, e, como a antiga capela estava ainda como a tinham
deixado depois da pilhagem, colocaram a imagem na igreja paroquial. E assim
começou a aumentar a devoção a Nossa Senhora, começando também dentro em pouco
as romarias a serem organizadas regularmente. Poucos anos depois foi necessário
aumentar a igreja, e por isso resolveram reconstruir a "Santa Casa"
segundo o modelo e o tamanho da primitiva, encerrando-a, porém, numa construção
maior. A obra teve início em 1931, e em 1937 foi consagrada à igreja, que foi
anexada ao antigo edifício.
157º
- Alexandre II - 1061 - 1073
Nascido
em Milão, na Itália, em 1015, Anselmo de Baggio dedicou-se sempre à vida
religiosa demonstrando habilidade para administrar as questões da Igreja. Sua
competência foi reconhecida após o falecimento do Papa Nicolau II, na ocasião
em que foi preciso escolher seu sucessor. Anselmo foi eleito no dia primeiro de
outubro de 1061 e assumiu o nome de Alexandre II. O Papa Alexandre II era mais
habilidoso que seu antecessor para lidar com as questões políticas de seu
tempo. Ele apoiou a libertação das terras cristãs do domínio muçulmano. Já era
um estímulo que os nobres recebiam para, no final do mesmo século, se unirem na
Primeira Cruzada. Naquela ocasião, os islâmicos já haviam se expandido e
ocupado territórios sagrados para os cristãos. O Papa teve influência também na
Batalha de Hastings, um conflito entre tropas inglesas e normandas. Alexandre
II declarou seu apoio ao duque Guilherme da Normandia contra Haroldo II da
Inglaterra. No entanto, o inglês foi o vencedor do conflito. Alexandre II
enfrentou um grave problema de poder quando os alemães elegeram o Bispo de
Parma, Cadalo, como antipapa Honório II. O desentendimento aconteceu ainda no
início do papado de Alexandre II, que não havia sido reconhecido pelos alemães.
Criou-se uma tensão na qual Papa e antipapa se excomungaram e se enfrentaram em
conflitos. As tropas de Honório II venceram as de Alexandre II, levando à
instalação do antipapa em Roma. O Duque de Lorena interveio na situação e fez
com que os dois Papas se retirassem para suas dioceses até ser dado o veredito
final. Então, em 1064, o Concílio de Mântua reconheceu Alexandre II como
legítimo e único Papa, o que permitiu sua estabilização no poder. Alexandre II
foi um Papa reformador e apoiou o movimento contra a decadência e a corrupção eclesiástica
chamado de pataria. Lutando contra a simonia, Alexandre II atacou os Bispos
germânicos obrigando o Bispo de Constança a renunciar. O Papa foi obrigado a
excomungar cinco de seus conselheiros também por simonia. Em geral, seu papado
de 12 anos foi eficiente e mais dedicado a questões políticas do que religiosas.
Faleceu no dia 12 de abril de 1073, aos 58 anos de idade.
158º
- São Gregório VII - 1073 - 1085
O Papa
São Gregório VII, nascido Hildebrando, (Sovana, Itália, c. 1020/1025 – Salerno,
25 de maio de 1085) foi Papa da Igreja Católica de 22 de abril de 1073 até a
sua morte, tendo sido um dos mais influentes e decisivos Pontífices a se sentar
no trono Papal ao longo da história. Nascido na Toscana italiana no seio de uma
família de baixa condição social. Segundo o Liber Pontificalis, Gregório
figurava entre os “nascidos toscanos, junto à cidadela de Rovacum, de um pai
chamado Bonizo”, informação corroborada pelo biógrafo Papal. Gregório cresceu
no ambiente da Igreja romana ao ser confiado a seu tio, abade do mosteiro de
Santa Maria em Aventino, onde fez os votos monásticos beneditino. Em 1045
Hildebrando foi nomeado secretário do Papa Gregório VI, cargo que ocuparia até
1046 quando acompanhou esse Papa no seu desterro em Colónia depois de ser
deposto num concílio, celebrado em Sutri, e acusado de simonia na sua eleição. Em
1046 morre Gregório VI, e Hildebrando ingressou como monge no mosteiro de Cluny
onde adquiriu as ideias reformistas que regeram o resto da sua vida e que o
fariam encabeçar a chamada Reforma Gregoriana. Até 1049 não regressou a Roma,
mas é então chamado pelo Papa Leão IX para atuar como legado pontifício, o que
lhe permitiu conhecer os centros de poder da Europa. Atuando como legado estava
em 1056 na corte alemã, para informar da eleição como Papa de Vítor II quando
este faleceu e se escolheu como seu sucessor o antipapa Bento X. Hildebrando
opôs-se a esta eleição e conseguiu que se elegesse Papa Nicolau II. Em 1059 é
nomeado por Nicolau II, Arquidiácono e administrador efetivo dos bens da
Igreja, cargo que o levou a alcançar tal poder que se chegou a dizer que dava
de comer a Nicolau "como a um asno no estábulo".
A sua
eleição é considerada fora do padrão habitual. Não era Sacerdote quando foi
eleito Papa, por aclamação popular, em 22 de Abril de 1073. Sendo uma
transgressão da legalidade estabelecida em 1059 pelo concílio de Melfi que
decretou que na eleição Papal só podia intervir o Colégio Cardinalício, nunca o
povo romano. Não obstante, obteve a consagração episcopal em 30 de junho de
1073. Muito combativo em favor dos direitos da Igreja, enfrentou o imperador
Henrique IV do Sacro Império Romano, em defesa da superioridade do Poder
Espiritual sobre o Poder Temporal. Ao longo do século XX, os historiadores
vincularam seu nome a um vasto programa de reforma da cristandade, movimento
que ficaria conhecido como reforma gregoriana. Foi monge na Abadia de Cluny,
considerada a alma da Idade Média. A pedido da Condessa Matilde, perdoou
Henrique IV que, entretanto, voltou a rebelar-se contra a Santa Sé. Devido ao
seu carácter combativo granjeou inimigos que o exilaram. Ao morrer, fora de
Roma, disse a frase que se tornaria famosa: "Amei a justiça e odiei a
iniquidade, por isso morro no exílio".
Política interna e reformas: Teve sua
vida e obra conduzidas pela convicção da Igreja como obra divina e encarregada
de abraçar toda a humanidade, para a qual a vontade de Deus é a lei única, e
que, na faculdade de instituição divina, a Igreja coloca-se sobre todas as
estruturas humanas, em particular sobre o estado secular. A superioridade da
Igreja era para Gregório VII um fato indiscutível. Em 1075, Gregório VII
publica o Dictatus Papae, que são 27 proposições onde expressa as suas ideias
sobre o papel do Pontífice na sua relação com os poderes temporais,
especialmente com os imperadores do Sacro Império. Estas ideias poderão
resumir-se em três pontos principais: O Papa é senhor absoluto da Igreja,
estando acima dos fiéis, dos clérigos e dos Bispos, e acima das Igrejas locais,
regionais e nacionais, e acima dos concílios; O Papa é senhor único e supremo
do mundo, todos lhe devem submissão em questões religiosas, incluindo os
Príncipes, Reis e Imperadores. Gregório centralizava em Roma todas as querelas
importantes para intermediação, coincidindo naturalmente numa diminuição do
poder dos Bispos locais, o que motivou algumas lutas contra as esferas mais
altas do clero. Recentemente, esta caracterização do governo gregoriano com
marco da centralização política e administrativa da Igreja medieval foi
colocada em xeque. Esta batalha pelos fundamentos da supremacia Papal tem o seu
apogeu na obrigatoriedade do celibato do clero e no ataque à simonia. Gregório
VII não introduziu o celibato mas conduziu a batalha por tal com maior energia
do que os seus antecessores. Em 1074 publicou uma encíclica dispensando da
obediência aos Bispos que permitiam o casamento dos Sacerdotes. No ano
seguinte, sob fortes protestos e resistência, encoraja medidas contra estes, privando-os
dos rendimentos. O seu pontificado decorreu até 25 de maio de 1085, dia em que
morreu em Salerno, abandonado pelos romanos e pela maior parte dos seus
apoiantes.
159º
- Vitor III - 1086 - 1087
Papa
Igreja cristã Romana, nascido em Monte Cassino, Benevento, eleito em 24 de maio
de 1086 como sucessor e por desejo de São Gregório VII. Descendente de uma
família de Duques lombarda, Lombardos de Benevento, desde cedo mostrou-se
inclinado a seguir a careira eclesiástica, apesar dos protestos dos parentes. Após
a morte do pai em uma batalha contra os normandos em 1047, ele teve de fugir de
um casamento arranjado e, na eventualidade de uma segunda tentativa de forçá-lo
a se casar, conseguiu permissão para entrar para o monastério de Santa Sofia,
em Benevento, onde recebeu o nome de Desiderius, tornando-se monge beneditino. Depois
serviu no monastério da ilha de Tremite, no Adriático e fez retiros espirituais
em Majella, Abruzzi (1053). Foi nomeado por Leão IX para trabalhar em Benevento
e negociar a paz com os Normandos, após a batalha fatal de Civitate. Depois
serviu a Vítor II, em Florença e mudou-se para o monastério de Monte Cassino
(1055) e foi nomeado Cardeal (1059). Ao assumir o Trono de São Pedro, diante
dos problemas com Henrique IV e seu antipapa Clemente III, e notando que não
possuía condições físicas e pessoais para exercer o cargo, retirou-se para o
mosteiro de Monte Cassino, quatro dias após a eleição. Proclamado pela segunda
vez, foi conduzido a Roma à força e, consagrado, excomungou o antipapa Clemente
III. Exerceu o mandato de Papa de aproximadamente 1 ano e 4 meses e morreu em
16 de setembro de 1087, em Monte Cassino.
160º
- Urbano II – 1088 - 1099
Papa da Igreja
cristã Romana nascido em Ckâtillon-Sur-Mane, na província de Champagne, França,
escolhido como sucessor de Victor III, cuja atividade eclesiástica foi
caracterizada pela promoção de importantes reformas na Igreja Católica Romana,
pelo planejamento e criação da Primeira Cruzada durante o sínodo de
Clermont-Ferrand em 1095. De uma família nobre estudou em Reims, onde se tornou
clérigo e posteriormente entrou para a Ordem Beneditina e tornou-se prior no
grande mosteiro de Cluny. Requisitado à Roma pelo Papa Gregório VII, foi
nomeado Cardeal Bispo de Óstia e foi delegado para a Alemanha (1084), período
em que envolveu-se na intensa disputa político-religiosa entre o Papa e o Imperador
Henrique IV, que chegou a eleger um antipapa, Clemente III de Ravenna. Com a
morte de São Gregório VII, e do seu substituto Vítor III, foi escolhido em
Terracina, Sumo Pontífice em 1088 com o nome de Urbano II. Manteve o isolamento
do antipapa e seus seguidores e também do imperador Henrique IV e apoiou
Conrado, o filho rebelde do Imperador, que juntamente com Matilde da Toscana e
Guelfo V da casa da Baviera. Com suas tropas derrotou o antipapa e fez sua
entrada triunfal na Basílica de São Pedro, o que lhe deu muito prestígio junto
aos Príncipes e reis ibéricos e reconciliou-se com o rei da França, Felipe I
(1095). Convocou os Bispos para um concílio (1095), invalidou as ordenações
realizadas por eclesiásticos simoníacos e iniciou um trabalho para reunir as
duas Igrejas, a ortodoxa e a católica, estabelecendo contatos com o Patriarcado
e a corte do Imperador bizantino, Alexus I. Convocou um sínodo em Clermont
(1095) e com o apoio dos nobres definiu a criação de um exército, composto de
cavaleiros e homens a pé que deveria dirigir-se à Jerusalém, para salvá-la e
auxiliar as igrejas da Ásia contra os muçulmanos, a Primeira Cruzada.
Promulgando que as pessoas que participassem desta cruzada receberiam a
indulgência plenária, tendo todos os seus pecados e suas consequências
excluídas, designou Ademar, Bispo de Le Puy (1096), para organizar uma cruzada
para libertação da cidade onde Cristo havia pregado e sofrido seu martírio. Os
exércitos da nobreza e o povo comum procedente da França, do sul da Itália e
das regiões da Lorena, Borgonha e Flandres participaram dessa Cruzada. Os
cruzados se agrupariam em Constantinopla e, partindo de lá, realizariam uma
campanha contra os muçulmanos da Síria e Palestina, sendo Jerusalém seu
objetivo principal. Os cristãos tomaram Jerusalém em 1099 e elegeram um de seus
chefes, Godofredo de Bouillon, duque da Baixa Lorena, como governante da
cidade. No entanto o Papa faleceu em Roma, poucos dias após a tomada de
Jerusalém em 26 de julho de 1099, sem receber a notícia da vitória dos
cruzados. A maioria dos cruzados regressou à Europa, permanecendo uma pequena
tropa de reserva da força original para organizar e estabelecer o governo e o
controle latino sobre os territórios conquistados. Dos quatro estados que
surgiram, o maior e mais poderoso foi o reino latino de Jerusalém. As
conquistas da primeira Cruzada se deveram em grande parte ao isolamento e à
fraqueza relativa dos muçulmanos. Contudo, a geração posterior a essa Cruzada
contemplou o início da reunificação muçulmana no Oriente sob a liderança de
Imad al-Din Zangi. Sob seu comando, as tropas muçulmanas empreenderam uma reação
militar e obtiveram sua primeira grande vitória contra os latinos quando
tomaram a cidade de Edessa (1144). Depois disso, os muçulmanos foram avançando
e dominando sistematicamente os estados cruzados na região. A resposta da
Igreja de Roma aos avanços muçulmanos foi proclamar a segunda Cruzada (1145)
quando era Papa o Beato Eugênio III. Morreu em Roma, e foi sucedido por Pascoal
II. Foi sepultado na cripta da Basílica de São Pedro, perto da tumba de
Adriano, e é venerado pela Igreja Católica, como beato.
160
. 1 - Santo Anselmo de Cantuária
Anselmo
de Cantuária, conhecido também como Anselmo de Aosta por conta de sua cidade
natal e Anselmo de Bec por causa da localização de seu mosteiro, foi um monge
beneditino, filósofo e prelado da Igreja que foi Arcebispo de Cantuária entre
1093 e 1109. Chamado de fundador do escolasticismo, Anselmo exerceu enorme
influência sobre a teologia ocidental e é famoso principalmente por ter criado
o argumento ontológico para a existência de Deus e a visão da satisfação sobre
a teoria da expiação. Entrou para a Ordem de São Bento na Abadia de Bec aos
vinte e sete anos e tornou-se abade em 1079. Tornou-se Arcebispo de Cantuária
durante o reinado de Guilherme II da Inglaterra. Foi exilado por duas vezes,
entre 1097 e 1100 e novamente entre 1105 e 1107 por Henrique I por causa da
controvérsia das investiduras, o mais importante conflito entre a Igreja
Católica e os estados medievais durante a Idade Média. Anselmo foi proclamado
Doutor da Igreja numa bula Papal de Clemente XI em 1720. Ele é venerado como Santo
e comemorado em 21 de abril. Anselmo nasceu em Aosta, parte do Reino de Arles,
por volta de 1033. Sua família tinha fortes relações com a poderosa Casa de
Saboia e era muito rica. Seu pai, Gundulfo, era lombardo de nascimento. Sua
mãe, Ermemberga, que foi descrita como prudente e virtuosa, veio duma antiga
família burgúndia. Aos quinze anos, Anselmo desejava entrar para um mosteiro,
mas não conseguiu o consentimento do pai e acabou sendo recusado pelo abade. O
desapontamento aparentemente provocou-lhe uma doença psicossomática. Depois de
se recuperar, Anselmo desistiu de estudar e passou a viver despreocupadamente;
neste período, sua mãe morreu. Aos vinte e três, Anselmo saiu de casa, cruzou
os Alpes e viajou por toda a Borgonha e a França. Atraído pela fama de seu conterrâneo
Lanfranco (que era o Prior da beneditina Abadia de Bec), chegou à Normandia em
1059. No ano seguinte, depois de algum tempo em Avranches, Anselmo finalmente
entrou para a abadia como noviço aos vinte e sete. Ao fazê-lo, submeteu-se à
"Regra de São Bento", um evento que reformularia todo o seu pensamento
na década seguinte. Em 1063, Lanfranco foi nomeado abade de Caen e Anselmo foi
eleito Prior em Bec, um cargo que manteve por quinze anos antes de tornar-se
abade depois da morte de Herluin, o fundador da abadia, em 1078. Foi consagrado
abade em 22 de fevereiro de 1079 pelo Bispo de Évreux, o que foi acelerado por
que, na época, a Arquidiocese de Ruão (a quem se subordinava Bec) estava vaga.
Se Anselmo tivesse que ser consagrado pelo Arcebispo de Ruão, teria sido
pressionado a jurar obediência, o que comprometeria a independência de Bec. Sob
o comando de Anselmo, Bec tornou-se o principal centro de ensino na Europa,
atraindo estudantes de toda a França, Itália e outras regiões. Foi durante esta
época que escreveu suas primeiras obras filosóficas, o "Monológio"
(1076) e o "Proslógio" (1077–8). A elas se seguiram "Os Diálogos
sobre a Verdade", "Livre Arbítrio" e "A Queda do Diabo".
Neste período, Anselmo também lutou para manter a independência da abadia tanto
dos poderes seculares quanto do Arcebispo. Posteriormente, Anselmo teve que
lutar ainda contra Roberto de Beaumont, Conde (earl) de Leicester. Anselmo
ocasionalmente visitava a Inglaterra para supervisionar as propriedades da
abadia lá e também para visitar Lanfranco que, a partir de 1070, havia sido nomeado
Arcebispo de Cantuária, de quem era considerado o sucessor natural. Com a morte
dele em 1089, porém, Guilherme II da Inglaterra tomou as propriedades e as rendas
da sé e não nomeou um novo Arcebispo. Em 1092, a convite de Hugo de Avranches,
1º Conde (earl) de Chester, Anselmo cruzou o Canal da Mancha. Na Inglaterra,
permaneceu envolvido em assuntos da abadia por quase quatro meses e então foi
proibido de voltar a Bec pelo rei. Guilherme ficou seriamente doente de forma
súbita em Alveston no ano seguinte e, movido por um desejo de compensar por
seus atos pecaminosos que acreditava serem a causa de sua doença, permitiu que
Anselmo fosse nomeado para a sé de Cantuária em 6 de março de 1093. Nos meses
seguintes, Anselmo tentou recusar o posto alegando estar velho e doente. Em 24
de agosto, apresentou a Guilherme as condições nas quais estaria pronto a
aceitar o posto. Elas eram parte de uma agenda de reformas gregorianas:
Guilherme deveria devolver as terras da sé que havia tomado; deveria aceitar a
preeminência dos conselhos espirituais de Anselmo e deveria reconhecer Urbano
II como Papa (e não Clemente III, o antipapa). As recusas de Anselmo ajudaram a
melhorar sua posição na barganha enquanto os termos eram discutidos com o rei,
que estava profundamente relutante em aceitar as condições impostas por ele.
Guilherme cederia apenas à primeira. Alguns dias depois, Guilherme tentou
voltar atrás até mesmo nisso e suspendeu a investidura de Anselmo, mas,
pressionado pela população, foi obrigado a seguir adiante com a nomeação. No
fim, Anselmo e Guilherme concordaram que a devolução das terras de Cantuária seria
a única condição aceita. Finalmente os Bispos ingleses colocaram-lhe nas mãos o
báculo e o levaram para igreja para ser investido. Anselmo em seguida prestou
homenagem a Guilherme e, em 25 de setembro de 1093, recebeu de volta as terras
de sua nova sé. Ele foi entronado no mesmo dia depois de receber a dispensa de
suas obrigações na Normandia. Por fim, foi consagrado Arcebispo de Cantuária em
4 de dezembro. Tem se discutido sobre se a relutância de Anselmo em assumir a
sé teria sido ou não sincera. Estudiosos como Southern defendem que sua
preferência teria sido permanecer em Bec. Porém, a relutância em aceitar postos
importantes era um costume medieval. Vaughn afirma que Anselmo não poderia ter
expressado um desejo pela posição sem correr o risco de ser visto como um
carreirista ambicioso. Ela afirma ainda que Anselmo percebeu a situação
política e os objetivos de Guilherme e agiu no exato momento que lhe daria a
melhor condição de negociar pelos interesses de sua futura sé e do movimento
reformista. Por outro lado, a vida de eremita era uma das opções que Anselmo
considerou antes de aceitar o conselho do Arcebispo de Ruão e entrar para o
mosteiro. William Kent acreditava que não havia razão para suspeitar da
sinceridade de sua resistência. Naturalmente atraído pela vida contemplativa,
Anselmo não tinha atração alguma por este tipo de cargo mesmo em períodos de
paz e, assim, teria ainda menos em tempos conturbados. Anselmo sabia bem o que
o esperava na função. Anselmo continuou a combater por suas reformas e pelos
interesses de Cantuária. Sua visão sobre a Igreja era de uma Igreja universal,
com sua própria autoridade interna, capaz de conter a visão de Guilherme de
controle real sobre o estado e sobre a Igreja. Por isso, tem sido descrito ora
como um monge contemplativo ora como um homem politicamente engajado,
determinado a defender os privilégios da sé episcopal de Cantuária. Um dos
primeiros conflitos com Guilherme irrompeu já no seu primeiro mês. O rei
preparava-se para combater seu irmão mais velho, Roberto II Curthose, duque da
Normandia, e precisava de dinheiro. Anselmo estava entre os nobres de quem se
esperava ajuda e ele ofereceu £500, mas Guilherme recusou exigindo mais.
Posteriormente, um grupo de Bispos convenceu Guilherme a aceitar a quantia
original e foram até Anselmo, que afirmou ter doado o dinheiro aos pobres.
Neste episódio, Anselmo foi cuidadoso e conseguiu evitar tanto acusações de
simonia quanto mostrar-se um líder generoso.
As leis
da igreja determinavam que os Bispos metropolitanos não poderia ser consagrados
sem que antes recebessem o pálio das mãos do Papa. Anselmo, portanto, insistiu
em ir à Roma para receber o seu, mas Guilherme não autorizou. O antipapa
Clemente III estava lutando contra Urbano II, que havia sido reconhecido pela
França e pela Normandia. Não parece que Guilherme fosse partidário de Clemente,
mas claramente desejava fortalecer seus próprios interesses colocando-se na
posição de decidir entre os dois rivais. Assim, quando Anselmo pediu permissão
para ir ver o Papa, o rei afirmou que ninguém na Inglaterra deveria reconhecer
nenhum dos dois Papas antes que ele, o rei, se decidisse. Em 25 de fevereiro de
1095, os Bispos e nobres da Inglaterra realizaram um concílio no castelo de
Rockingham para discutir o tema no qual os Bispos se alinharam ao rei, com
Guilherme de Saint-Calais, o Bispo de Durham, chegando ao ponto de recomendar
ao rei que depusesse Anselmo. Os nobres, por outro lado, escolheram a posição
de Anselmo e a conferência terminou num impasse. Logo depois, Guilherme enviou
mensageiros em segredo para Roma. Eles convenceram Urbano a enviar um legado
(Gualtério de Albano) até o rei levando consigo o Pálio Arcebispal e os dois
imediatamente deram início às negociações secretas. Guilherme concordou em
reconhecer Urbano como Papa e assegurou para si o direito de autorizar que membros
do clero recebessem cartas Papais e as obedecessem; Gualtério, negociando em
nome de Urbano, concedeu que Urbano não enviaria legados à Inglaterra sem que
eles fossem antes convidados pelo rei. O maior desejo de Guilherme era que
Anselmo fosse deposto e outro recebesse o pálio, ao que Gualtério respondeu que
"...há boas razões para que se espere um bom resultado de acordo com os
desejos do rei". Guilherme então reconheceu publicamente Urbano, mas
Gualtério se recusou a depor Anselmo. Enfurecido, Guilherme tentou extorquir
dinheiro de Anselmo em troca do pálio, também sem sucesso. Depois, tentou
entregar-lhe o pálio pessoalmente, o que também não lhe foi permitido.
Finalmente, o rei cedeu e Anselmo recebeu o pálio no altar de Cantuária em 10
de junho de 1095. No decorrer dos dois anos seguintes, não se conhece nenhuma
disputa aberta entre Anselmo e Guilherme. Porém, o rei bloqueou todos os
esforços do Arcebispo em suas reformas. A tensão finalmente explodiu em 1097,
depois que Guilherme esmagou uma revolta galesa. Ele acusou Anselmo de ter lhe
fornecido um número insuficiente de cavaleiros para a campanha e tentou
multá-lo. Anselmo decidiu seguir para Roma para se aconselhar com o Papa, pois
Guilherme se recusava a cumprir sua promessa de ajudar na reforma da igreja,
mas o rei não lhe permitiu. As negociações terminaram com Guilherme declarando
que se Anselmo partisse, tomaria de volta a sé de Cantuária e jamais o
receberia de volta como Arcebispo. Por outro lado, se Anselmo resolvesse ficar,
seria multado e teria que jurar que jamais apelaria novamente a Roma:
"Anselmo recebeu a opções de se exilar ou de se submeter
completamente".
Primeiro exílio
Exilado,
Anselmo partiu para Roma em outubro de 1097. Guilherme imediatamente se
apoderou das receitas da sé e as manteve até morrer, embora Anselmo tenha
permanecido titular da sé. Ele escolheu o exílio para defender sua visão da
Igreja universal, sublinhando os pecados de Guilherme em relação a ela. Embora
ele tenha de fato prestado homenagem a Guilherme, Anselmo a desqualificou
frente ao seu dever para com Deus e o Papa. Ele foi recebido com grandes honras
por Urbano durante o cerco de Cápua, durante o qual foi muito elogiado pelas
tropas sarracenas de Rogério I da Sicília (r. 1071–1101). Num grande concílio
provincial realizado em Bari em 1098, que contou com a presença de 183 Bispos,
Anselmo recebeu a incumbência de defender a cláusula Filioque e o uso do pão
ázimo durante a Eucaristia contra representantes da Igreja Ortodoxa. Em 1099,
Urbano renovou a proibição da investidura secular do clero e do clero prestar
homenagem a poderes seculares. No mesmo ano Anselmo se mudou para Lyon. A
vitória de Anselmo marcou o sucesso da Igreja Católica contra os monarcas
ingleses na Questão das Investiduras. Guilherme foi morto em 2 de agosto de
1100. Seu sucessor, Henrique I, convidou Anselmo de volta, escrevendo que se
comprometia a ouvir os conselhos do Arcebispo. Henrique cortejava Anselmo por
que precisava de seu apoio para se consolidar no trono, uma vez que o Arcebispo
poderia a qualquer momento declarar seu apoio ao irmão mais velho de Henrique.
Quando Anselmo retornou, Henrique exigiu que ele lhe prestasse homenagem em
relação às propriedades de Cantuária e recebesse dele sua investidura em seu
posto de Arcebispo. Como o papado havia recentemente proibido o clero de fazer
as duas coisas, a relação de Anselmo com Henrique já começou em conflito. O rei
se recusou a desistir do privilégio desfrutado por seus predecessores e propôs
que o tema fosse levado ao Papa. Duas embaixadas foram enviadas ao Papa Pascoal
II sobre a legitimidade da investidura de Henrique; ambas receberam a
confirmação da ordem Papal anterior. Neste ínterim, Anselmo ajudou Henrique,
que estava ameaçado pela invasão de seu irmão, Roberto Curthose, e Anselmo
publicamente apoiou-o, convencendo os barões ainda indecisos e ameaçando
Curthose com a excomunhão. Na festa de São Miguel de 1102, Anselmo realizou um
concílio em Londres no qual ele proibiu o casamento e o concubinato aos membros
das ordens sagradas (além de condenar a simonia e reformando os regulamentos de
sobriedade e vestuário do clero). Ele estava entre os primeiros a opinar
publicamente contra o tráfico de escravos em 1102, num concílio na igreja de
São Pedro em Westminster, e conseguiu aprovar uma resolução contra a prática de
vender homens como gado. Por outro lado, Henrique concedeu a Anselmo autoridade
sobre toda a Igreja na Inglaterra e concordou em obedecer o Papa. Porém, como
Pascoal havia reafirmado as regras sobre a investidura e as homenagens
seculares, Henrique se voltou novamente contra Anselmo. Em 1103, o próprio Arcebispo
e um enviado real, Guilherme Warelwast, partiram novamente para Roma. Furioso,
Pascoal excomungou os Bispos investidos por Henrique.
Segundo exílio
Anselmo
se refugiou em Lyon depois disso e aguardou os próximos passos de Pascoal. Em
26 de março de 1105, o Papa excomungou o principal conselheiro de Henrique,
Roberto de Meulan, por ter convencido Henrique a continuar com as investiduras
seculares, os prelados investidos por Henrique e outros conselheiros, ameaçando
o próprio rei com o mesmo destino. Em abril, Anselmo ameaçou excomungá-lo
pessoalmente, provavelmente para forçar a mão de Henrique nas negociações. Como
resposta, o rei arranjou um encontro com Anselmo e eles conseguiram chegar numa
solução de compromisso em Laigle em 22 de julho de 1105. Parte do acordo era
que as excomunhões de Roberto e de seus associados fossem revogadas (dado que
eles agora aconselharam o rei a obedecer o Papa); Anselmo fê-lo por sua própria
autoridade, um ato que depois teve que explicar a Pascoal. Outras condições do
acordo foram que Henrique deveria abandonar a investidura secular se Anselmo
obtivesse de Pascoal permissão para que clérigos prestassem homenagem aos seus
nobres; que as receitas da sé de Cantuária fossem devolvidas a Anselmo; e que os
Sacerdotes fossem proibidos de casar. Anselmo então insistiu em ter o acordo de
Laigle sancionado por Pascoal antes de aceitar voltar para a Inglaterra. Por carta,
Anselmo também pediu ao Papa que aceitasse o compromisso de prestar homenagem
ao rei, pois seria um pequeno preço a pagar por uma vitória maior, o fim do
conflito sobre as investiduras seculares. Em 23 de março de 1106, Pascoal
escreveu a Anselmo aceitando a solução, embora ambos vissem o acordo como um
compromisso temporário e pretendiam continuar pressionando pelas reformas
gregorianas, incluindo o fim das homenagens.
Mesmo
depois disso, Anselmo continuou se recusando a voltar para a Inglaterra.
Henrique viajou para Bec e encontrou-se com ele em 15 de agosto de 1106. Lá, o
rei fez mais algumas concessões, restaurando a Anselmo todas as igrejas que
havia tomado. Ele prometeu ainda que nada mais seria tomado das igrejas, que
prelados que haviam pago seu controverso imposto (que havia começado como um
imposto sobre clérigos casados) seriam isentados de impostos por três anos e,
finalmente, que tudo o que havia sido levado de Cantuária durante o exílio de
Anselmo seria devolvido. Anselmo finalmente aceitou voltar depois de reforçar
ainda mais a posição da igreja frente à do rei. Já em 1107, a longa disputa
sobre as investiduras estava finalmente resolvida. A Concordata de Londres
anunciou os compromissos de Anselmo e Henrique em Bec. Os dois anos finais da
vida de Anselmo foram tranquilos e dedicados às suas funções em Cantuária. Como
Arcebispo, viveu à altura de seus ideais monásticos, que incluíam zelo,
prudência e instrução adequada ao seu rebanho, além de oração e contemplação.
Anselmo morreu na Quarta-Feira Santa, 21 de abril de 1109, em Cantuária, e foi
enterrado na Catedral de Cantuária.
Visão
do Inferno
Jazem
nas trevas exteriores. Pois, lembrai-vos, o fogo do inferno não emite nenhuma
luz. Assim como, ao comando de Deus, o fogo da fornalha babilônica perdeu o seu
calor mas não perdeu a sua luz, assim, ao comando de Deus, o fogo no inferno,
conquanto retenha a intensidade do seu calor, arde eternamente nas trevas.
É uma
tempestade que nunca mais acaba de trevas, de negras chamas e de negra fumaça
de enxofre a arder, por entre as quais os corpos estão amontoados uns sobre os
outros sem uma nesga de ar. De todas as pragas com que a terra dos faraós foi
flagelada, uma praga só, a da treva, foi chamada de horrível. Qual o nome,
então, que devemos dar às trevas do inferno, que hão de durar não por três dias
apenas, mas por toda a eternidade?
O horror
desta estreita e negra prisão é aumentado por seu tremendo cheiro ativo. Toda a
imundície do mundo, todos os monturos e escórias do mundo, nos é dito, correrão
para lá como para um vasto e fumegante esgoto quando a terrível conflagração do
último dia houver purgado o mundo. O enxofre, também, que arde lá em tão
prodigiosa quantidade, enche todo o inferno com o seu intolerável fedor; e os
corpos dos danados, eles próprios, exalam um cheiro tão pestilento que, como
diz São Boa-ventura, só um deles bastaria para infeccionar todo o mundo.
O
próprio ar deste mundo, esse elemento puro, torna-se fétido e irrespirável
quando fica fechado longo tempo. Considerai, então, qual deva ser o fétido do
ar do inferno. Imaginai um cadáver fétido e pútrido que tenha jazido a
decompor-se e a apodrecer na sepultura, uma matéria gosmenta de corrupção
líquida. Imaginai tal cadáver preso das chamas, devorado pelo fogo do enxofre a
arder e a emitir densos e horrendos fumos de nauseante decomposição repugnante.
E a seguir imaginai esse fedor malsão multiplicado um milhão e mais outro
milhão de milhões sobre milhões de carcaças fétidas comprimidas juntas na treva
fumarenta, uma enorme fogueira de podridão humana. Imaginai tudo isso e tereis
uma certa idéia do horror do cheiro do inferno.
Mas tal
fedentina não é, horrível pensamento é este, o maior tormento físico ao qual os
danados estão sujeitos. O tormento do fogo é o maior tormento ao qual o demo
tem sempre sujeitado suas criaturas. Colocai o vosso dedo por um momento na
chama duma vela e sentireis a dor do fogo. Mas o nosso fogo terreno foi criado
por Deus para benefício do homem, para manter nele a centelha de vida e para
ajudá-lo nas artes úteis, ao passo que o fogo do inferno é duma outra qualidade
e foi criado por Deus para torturar e punir o pecador sem arrependimento.
O nosso
fogo terrestre, outrossim, se consome mais ou menos rapidamente, conforme o
objeto que ele ataca for mais ou menos combustível, a ponto de a ingenuidade
humana ter-se sempre entregado a inventar preparações químicas para garantir ou
frustrar a sua ação. Mas o sulfuroso breu que arde no inferno é uma substância
que foi especialmente designada para arder para sempre e ininterruptamente com
indizível fúria. Além disso, o nosso fogo terrestre destrói ao mesmo tempo que
arde, de maneira que quanto mais intenso ele for mais curta será a sua duração;
já o fogo do inferno tem esta propriedade de preservar aquilo que ele queima e,
embora se enfureça com incrível ferocidade, ele se enfurece para sempre.
O nosso
fogo terrestre, ainda, não importa que intensidade ou tamanho possa ter, é
sempre duma extensão limitada; mas o lago de fogo do inferno é ilimitado, não
tem praias nem fundo. E está documentado que o próprio demônio, ao lhe ser
feita a pergunta por um soldado, foi obrigado a confessar que se uma montanha
inteira fosse jogada dentro do oceano ardente do inferno seria queimada num
instante como um pedaço de cera. E esse terrível fogo não aflige os danados
somente por fora, pois cada alma perdida se transforma num inferno dentro de si
mesma, o fogo sem limites se enraivecendo mesmo em sua essência. Oh! Quão
terrível é a sorte desses desgraçados seres! O sangue ferve e referve nas
veias; os cérebros ficam fervendo nos crânios; o coração no peito flamejando e
ardendo; os intestinos, uma massa vermelha e quente de polpa a arder; os olhos,
coisa tão tenra, flamejando como bolas fundidas.
Ainda
assim, quanto vos falei da força, da qualidade e da ilimitação desse fogo é
como se fosse nada quando comparado com a sua intensidade, uma intensidade que
é justamente tida como sendo o instrumento escolhido pelo desígnio divino para
punição da alma assim como do corpo igualmente. Trata-se dum fogo que procede
diretamente da ira de Deus, trabalhando não por sua própria atividade, mas como
um instrumento da vingança divina. Assim como as águas do batismo limpam tanto
a alma como o corpo, assim o fogo da punição tortura o espírito junto com a
carne.
Todos os
sentidos da carne são torturados; e todas as faculdades da alma outro tanto: os
olhos com impenetráveis trevas; o nariz com fétidos nauseantes; os ouvidos com
berros, uivos e execrações; o paladar com matéria sórdida, corrupção leprosa,
sujeiras sufocantes inomináveis; o tato com aguilhões e chuços em brasa e
cruéis línguas de chamas. E através dos vários tormentos dos sentidos a alma
imortal é torturada eternamente, na sua essência mesma, no meio de léguas e
léguas de ardentes fogos acesos nos abismos pela majestade ofendida de Deus
Onipotente e soprados numa perene e sempre crescente fúria pelo sopro da raiva
da Divindade.
Considerai,
finalmente, que o tormento dessa prisão infernal é acrescido pela companhia dos
condenados mesmos. A má companhia, sobre a terra, é tão nociva que as plantas,
como que por instinto, apartam-se da companhia seja do que for que lhes seja
mortal ou funesto. No inferno, todas as leis estão trocadas lá não há nenhum
pensamento de família, de pátria, de laços, de relações. O danado goela e grita
um com o outro, sua tortura e raiva se intensificando pela presença dos seres
torturados e se enfurecendo como ele.
Todo o
senso de humanidade é esquecido. Os lamentos dos pecadores a sofrerem enchem os
mais recuados cantos do vasto abismo. As bocas dos danados estão cheias de
blasfêmias contra Deus e de ódio por seus companheiros de suplício e de
maldições, contra as almas que foram seus companheiros no pecado. Era costume,
nos antigos tempos, punir o parricida, o homem que havia erguido sua mão
assassina contra o pai, arremessando nas profundezas do mar num saco dentro do
qual também eram colocados um galo, um burro e uma serpente.
A intenção desses legisladores, que
inventaram tal lei, a qual parece cruel nos nossos tempos, era punir o
criminoso pela companhia de animais malignos e abomináveis. Mas que é a fúria
dessas bestas estúpidas comparada com a fúria da execração que rompe dos lábios
tostados e das gargantas inflamadas dos danados no inferno, quando eles
contemplam em seus companheiros em miséria aqueles mesmos que os ajudaram e
incitaram no pecado, aqueles cujas palavras semearam as primeiras sementes do
mal em pensamento e em ação em seus espíritos, aqueles cujas sugestões
insensatas os conduziram ao pecado, aqueles cujos olhos os tentaram e os
desviaram do caminho da virtude? Voltam-se contra tais cúmplices e os xingam e
amaldiçoam. Não terão, todavia, socorro nem ajuda; agora é tarde demais para o
arrependimento.
Por
último de tudo, considerai o tremendo tormento daquelas almas condenadas, as
que tentaram e as que foram tentadas, agora juntas, e ainda por cima, na
companhia dos demônios. Esses demônios afligirão os danados de duas maneiras:
com a sua presença e com as suas admoestações. Não podemos ter uma ideia de
quão terríveis são esses demônios. Santa Catarina de Siena uma vez viu um
demônio e escreveu que preferia caminhar até o fim de sua vida por um caminho
de carvões em brasa a ter que olhar de novo um único instante para tão
horroroso monstro.
Tais
demônios, que outrora foram formosos anjos, tornaram-se tão repelentes e feios
quanto antes tinham de lindos. Escarnecem e riem das almas perdidas que
arrastaram para a ruína. É com eles que são feitas, no inferno, as vozes da
consciência. Por que pecaste? Por que deste ouvido às tentações dos amigos? Por
que abandonaste tuas práticas piedosas e tuas boas ações? Por que não evitaste
as ocasiões de pecado? Por que não deixaste aquele mau companheiro? Por que não
desististe daquele mau hábito, aquele hábito impuro? Por que não ouviste os
conselhos do teu confessor? Por que, mesmo depois de haveres tombado a
primeira, ou a segunda, ou a terceira, ou a quarta ou a centésima vez, não te
arrependeste dos teus maus passos e não voltaste para Deus, que esperava apenas
pelo teu arrependimento para te absolver dos teus pecados? Agora o tempo para o
arrependimento se foi. Tempo existe, tempo existiu, mas tempo não existirá
mais!
Tempo
houve para pecar às escondidas, para se satisfazer na preguiça e no orgulho,
para ambicionar o ilícito, para ceder às instigações da tua baixa natureza,
para viver como as bestas do campo, ou antes, pior do que as bestas do campo,
porque elas, ao menos, não são senão brutos e não possuem uma razão que as
guie; tempo houve, mas tempo não haverá mais. Deus te falou por intermédio de
tantas vozes, mas não quiseste ouvir. Não quiseste esmagar esse orgulho e esse
ódio do teu coração, não quiseste devolver aquelas ações mal adquiridas, não
quiseste obedecer aos preceitos da tua Santa Igreja nem cumprir teus deveres
religiosos, não quiseste abandonar aqueles péssimos companheiros, não quiseste
evitar aquelas perigosas tentações. Tal é a linguagem desses demoníacos
atormentadores, palavras de sarcasmo e de reprovação, de ódio e de aversão. De
aversão, sim! Pois mesmo eles, os demônios propriamente, quando pecaram,
pecaram por meio dum pecado que era compatível com tão angélicas naturezas: foi
uma rebelião do intelecto; e eles, estes mesmos, têm que se afastar, revoltados
e com nojo de terem de contemplar aqueles pecados indizíveis com os quais o
homem degradado ultraja e profana o templo do Espírito Santo, e se ultraja e
avilta a si mesmo.
161º
- Pascoal II - 1099 - 1118
Papa da Igreja
cristã Romana, nascido em Bieda, Ravena, eleito em 14 de agosto de 1099 como sucessor
de Urbano II. Com um Pontificado de dezoito anos foi uma das fases mais
violentas da luta pelas investiduras. Monge cisterciense, foi nomeado Cardeal
em 1080 por Gregório VII. Consagrado no trono, sua ação contra o rei da
Alemanha, Henrique V, e contra os antipapas nomeados por este, foi quase sem
tréguas, embora não tenha conseguido obter resultados decisivos. Henrique V era
filho do imperador Henrique IV a quem destituiu e tornou-se o Imperador, e
acirrou a disputa com o Papa para se afirmarem como poder maior no mundo
ocidental. O Papa convenceu dois antipapas a submissão e os enviou a um
mosteiro para se penitenciarem, enquanto que o terceiro desapareceu por falta de
seguidores. Conseguiu que o Imperador Henrique V fosse a Roma (1110) para ser
coroado pelo Papa, após abdicar do direito de investidura. Com o rei da França,
Luís, o Gordo, e com o rei da Inglaterra, Henrique I, mesmo depois de algumas
divergências, ele conseguiu por fim regulamentar a espinhosa questão das
investiduras. Realizou, embora sem êxito, negociações com o Imperador do
Oriente, Aleixo Comneno, para uma reaproximação das Igrejas grega e romana.
Construiu a igreja de Santa Maria do Povo, em Roma, e instituiu a ordem dos Cavaleiros
Templários. Lutou contra as investiduras e animou as cruzadas, enquanto
prelados e nobres dificultaram seu trabalho de reforma. O Papa de número 161,
morreu em meio a protestos de Cardeais e padres que perdiam suas propriedades,
exilado pelo Imperador, em 21 de janeiro de 1118, em Roma.
Os
Templários, ou Ordem do Templo, foi uma ordem religiosa e militar medieval.
Fundada em 1118 por Hugo Payens e Godofredo de Saint-Omer, foi reconhecida pela
Igreja Católica em 1128, no Concílio de Troyes. O objetivo da Ordem era
proteger os peregrinos cristãos que partiam da Europa rumo a Jerusalém no
contexto das Cruzadas. Mais tarde, ela passou a participar de batalhas e
construiu uma rede de ajuda financeira aos reis europeus, senhores feudais e
peregrinos.
162º
- Gelásio II - 1118 - 1119
Papa da Igreja
cristã Romana nascido em Gaeta, monge da Ordem de São Bento, de Monte Cassino,
foi eleito secretamente pelos Cardeais, num mosteiro beneditino em Roma, em 16
de março de 1118 como sucessor de Pascoal II, e teve um Pontificado breve e
atormentado. Eleito foi agredido pelo rebelde Frangipane, na Basílica de São
João de Latrão, pisoteado, acorrentado e arrastado até o Castelo mais próximo,
onde foi encarcerado. Libertado por alguns marinheiros genoveses, refugiou-se
em Gaeta e, vestido de peregrino, conseguiu regressar à Roma, onde foi
carregado ao Palácio de Latrão e elevado ao Trono Pontifício, mesmo não sendo
ordenado Sacerdote e Bispo. Em Roma, teve que enfrentar o tirânico e opressor
imperador Henrique IV, filho indigno do sábio e moderado Henrique III. O
imperador ainda possuía o direito exorbitante de escolher o Romano Pontífice e
contrariado invadiu Roma, destronou o Papa legítimo, e declarou nula a sua
eleição e empossou em seu posto um religioso de sua confiança, Burdino, Arcebispo
da Braga, como um antipapa, com o nome de Gregório VIII. Henrique IV pretendia
o direito exclusivo de nomear abades, Bispos e Papas, mas os antipapas que
indicou para Roma, foram considerados como anticristos pela cristandade e só
obedecia aos legítimos sucessores de Gregório VII (1073-1085), o que levou o Imperador
germânico a perder sua influência com o tempo. Depois destes eventos o Papa
convocou um sínodo e excomungou a ambos (1118), mas depois de muitas
atribulações, teve que refugiar-se no Mosteiro de Cluny, onde permaneceu até
seu falecimento, em 29 de janeiro de 1119. A Igreja Católica o festeja como Santo
no dia 29 de janeiro.
163º
- Calixto II - 1119 - 1124
Papa da Igreja
cristã Romana nascido na Borgonha, eleito para sucessão de Gelásio II,
restituiu poder e prestígio à Igreja romana. Filho do Conde de Borgonha,
nomeado Arcebispo de Viena, no Delfinado, durante a querela das investiduras
voltou-se contra o imperador Henrique V e presidiu o Concílio de Vienne no ano
de 1112, que excomungou o Imperador. Foi eleito Papa em 1119 embora não
pertencesse ao colégio cardinalício. Eliminado o antipapa Gregório VIII,
indicado em 1120, por Henrique V, o Papa retomou as negociações para chegar a
um acordo com o Imperador. A Concordata de Worms (1122) sancionou o acordo que
pôs fim à longa luta entre Império e Papado. Esse acordo consistiu de um
compromisso firmado pelo Papa e o Imperador Henrique V, mediante o qual se
regulamentou a questão da querela das investiduras de acordo com as doutrinas
já formuladas pelo canonista Ivo de Chartres. Este separava nitidamente os dois
tipos de investidura: a eclesiástica, que concedia a função espiritual ao Bispo
eleito pelo clero local, com a consignação do anel e do pastoral por parte do Papa
ou de um enviado deste; e a laica, feita com a espada e o cetro, em que o
Imperador conferia ao Bispo os poderes de Condes, ou seja, um governo de
caráter temporal com os respectivos benefícios. Convocou o I Concílio
Lateranense, reconhecido como o IX ecumênico (1123), para ratificar a
concordata de Worms de 1122, que pôs fim à querela das investiduras. Com a
presença de cerca de 300 Bispos, a aprovação da concordata foi acompanhada pela
promulgação de 25 cânones, que reiteravam deliberações canônicas anteriores ou
se inspiravam na reforma gregoriana, especialmente cânones contra a simonia e a
clerogamia. Também durante o concílio, em 27 de março, Conrado, Bispo de
Constança, foi canonizado pelo Papa. Veio a falecer em Roma.
164º
- Honório II - 1124 - 1130
Papa da Igreja
cristã Romana nascido em Fagnano, Ímola, eleito em 21 de dezembro de 1124 como
sucessor de Calisto II, cujo Pontificado foi marcado pela consolidação da
autoridade do Papa perante as Igrejas da Inglaterra, na qual os Bispos tiveram
de se curvar à vontade da cúria romana, e da França, onde os conflitos entre a
Coroa e o Episcopado resolveram-se com a intervenção Papal em favor do Episcopado.
Descendente de uma família pobre, como eclesiástico ocupou as mais elevadas funções
da hierarquia durante os Pontificados de Pascoal II e de Calisto II. Cardeal, Bispo
de Óstia, signatário da concordata de Worms entre a Igreja e o Império e membro
influente do nono concílio de Latrão (1123). Eleito Papa com o apoio da família
Frangipane, após a morte em 1125 do Imperador Henrique V, apoiou Lotário de
Suplimburgo contra Conrado de Hohenstaufen, para herdeiro do Império, obtendo a
submissão de Conrado (1126) sob ameaça de excomunhão. Restabeleceu relações com
quase todas as cortes europeias, para lutar contra os maometanos, porém teve
muitas dificuldades para se impor no sul da Itália e em Roma, principalmente no
Ducado da Puglia, onde Guilherme deixou (1127) a coroa para Rogério II, futuro
rei da Sicília, contra a vontade do Pontífice. Também em Roma, os últimos meses
de seu Pontificado foram extremamente conturbados pelo acirramento das lutas
entre os Frangipane, seus aliados, e os Pierleoni. Acuado o Papa refugiou-se no
convento de S. Gregorio al Celio, onde morreu em 13 de fevereiro de 1130. Foi
durante seu pontificado que surgiram na Itália as seitas dos Guelfos,
partidários do Papa, e a dos Gibelinos, partidários do Imperador.
165º
- Inocênio II - 1130 – 1143
O Papa
Inocêncio II, nascido Gregorio de Papareschi, foi Papa de 14 de fevereiro de 1130
até 24 de setembro de 1143. Sofreu uma forte oposição do Anacleto II e um grande apoio de São Bernardo
de Claraval. Instituiu o celibato, combateu a usura, a simonia, os falsos
pontífices, e também os falsos sacramentos e as falsas penitências. Inocêncio
II, no II Concílio de Latrão, em 1139, determinou: "Cânon 18 - Condenamos,
ademais, aquela detestável e ignominiosa rapacidade insaciável dos prestamistas
- (usurários, emprestadores) - repudiada pelas leis humanas e divinas, por meio
das Escrituras no Antigo e no Novo Testamento, e separamos de todo consolo da
Igreja, mandando que nenhum Arcebispo, nenhum Bispo, ou Abade de qualquer
ordem, quem quer que seja na ordem ou no clero, se atreva a receber aos
usurários, senão com suma cautela, antes bem, em toda a sua vida sejam estes
considerados como infames, e se não se arrependem, sejam privados de sepultura
eclesiástica" (Inocêncio II, II Concílio de Latrão, cânon 18, Denzinger,
365).
Inocêncio II e as
profecias de São Malaquias
O homem
que se tornou são Malaquias nasceu no ano de 1094, em Armagh, na Irlanda. Seu
nome de batismo era Maelmhaedhoc O'Morgan; que depois foi latinizado para
Malaquias. Estava ainda em plena adolescência quando se tornou o Ábade de
Armagh. Todos os que o conheciam ficavam surpreendidos pela sua devoção a Deus
e pela sua forte presença. Ele era alto, grande, magro e luminoso; mas, o mais
importante - ele era sábio além de seus anos. Isso estava claro. Em 1119 ele
foi ordenado padre. Mas só em sua primeira viagem a Roma, aos 45 anos em 1139,
que suas visões começaram. No princípio, ele ficou muito atormentado pelas
imagens que via. Sua maior preocupação foi a visão da destruição da Santa
Igreja. Ele rezou e se fortaleceu, sem nunca ter questionado o testamento de
Deus. Lhe foi dito que não revelasse o conteúdo de suas visões abertamente. Ao
invés, ele escreveu lemas curtos ou sátiras que descreviam cada Papa, até o
último deles, de forma que eles serviriam como um esboço do tempo até o fim desta
Era. Antes do outono de 1140, todas as suas profecias haviam sido transcritas
para o papel. Malaquias confiou as visões encadernadas ao então Papa Inocêncio
II. No princípio ele não levou Malaquias a sério. Foi então que o próprio Papa
Inocêncio II recebeu uma visão e uma advertência dura de Deus. Dali em diante,
o Papa levou fé em tudo aquilo Malaquias lhe falou. Inocêncio II trancafiou os
lemas na Igreja onde lá permaneceram, não lidos, por quase 400 anos. Malaquias
passou o resto de sua vida servindo a Deus, curando e alimentando os famintos.
Ele recebeu visões até o fim de sua vida - predizendo, com 19 dias de
antecedência, a própria morte com exatidão de data e hora. Morreu nos braços de
São Bernardo, em Claraval, França. Agora que estamos no final dos tempos,
sabemos que São Malaquias também acertou quanto ao último Papa legítimo da
Igreja, o Papa Bento XVI, e o “Pedro o Romano”, se refere a devolução da Chave
da Santa Sé para Pedro Apóstolo. O antipapa Francisco é aquele que irá trazer a
Abominação para a Desolação no Lugar Santo: na Cadeira de Pedro.
Em 29 de
março de 1139, na bula "Omne datum optimum", Inocêncio estabeleceu
privilégios para a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de
Salomão, conhecida mais popularmente como Ordem dos Cavaleiros Templários. O
principal desses privilégios foi a isenção da jurisdição Episcopal, assim a
Ordem tinha os seus próprios padres, os seus capelães, garantindo a assistência
religiosa e o culto litúrgico, e que não dependiam dos Bispos da região em que
estivessem. Em 1142, o senado romano sublevou-se contra o Pontífice. Em ato
instigado por Arnaldo de Brescia, o senado toma o poder civil dos Papas, tendo
como objetivo elevar a municipalidade ao status de comuna ou república, a
exemplo de outras cidades do norte de Itália, desencadeando distúrbios que se
estenderam por quarenta e quatro anos.
166º
- Celestino II - 1143 - 1144
Papa
Celestino II, nascido Guido Guelfucci, Guido Ghefucci ou Guido di Castello; 8
de março de 1144. Foi eleito em 26 de
setembro e de 1143, consagrado a 3 de outubro do mesmo ano, e morreu em 8 de
março de 1144. Guido di Castello, um possível filho do nobre Niccolo di
Castello, nasceu em Città di Castello, na região da Umbria, província de
Perugia. Guido havia estudado com Pedro Abelardo, e se tornou um mestre
distinto nas escolas. Eventualmente Guido começou sua carreira em Roma como um
subdiácono e um apostolo escritor para o Papa Calixto II. Ele foi criado
Cardeal-diácono de Santa Maria em Via Lata pelo Papa Honório II em 1127; como
tal, ele assinou as bulas Papais emitidas entre 03 de abril de 1130 e 21 de
Dezembro 1133. Era conhecido pelo apelido carinhoso de "trabalhador de
Deus" e sempre que empreendia uma viagem pastoral pela província romana,
os populares diziam "lá vai a águia sobrevoar seu planalto em volta de seu
ninho". Parece até ter tido ótimas relações com São Bernardo de Claraval e
suas ideias, pois é sabido com ajuda dele resolveu diversos desacordos internos
da Igreja, mas isso não invalidou de ter sido severamente repreendido por ele,
pelo abade cirterciense, de ter sido durante algum tempo discípulo e provável
seguidor do teólogo Abelardo. Editou uma coleção de ordenações que mais tarde
seriam úteis para classificar os Pontífices que foram seus antecessores e os
seus póstumos. Pode-se dizer que se não fosse Pontífice, Celestino II deveria
ter sido um excelente catalogador de biblioteca das Universidades que estavam
tão na moda na época.
167º
- Lúcio II - 1144 - 1145
Nascido
na Bolonha, Itália, no ano 1095, Gherardo de Caccianemici foi um homem dedicado
à vida religiosa desde cedo. Certo de sua aptidão, tornou-se padre em sua
cidade natal, de onde iniciaria uma escalada hierárquica na Igreja Católica que
o levaria a posições de destaque. Os méritos de seu empenho foram reconhecidos,
levando Gherardo a ser nomeado como Cardeal da Basílica de Santa Cruz de
Jerusalém. Entre os membros mais importantes do alto clero, ele desenvolveria
funções de destaque diretamente a serviço dos Papas. Durante os Pontificados de
Honório II e de Inocêncio II, Gherardo desempenhou os cargos de tesoureiro da
Igreja e de representante Papal na Alemanha. A relevância de suas funções, por
si só, já demonstram o grau de influência que possuía. Não é difícil de
compreender que após a morte do Papa Celestino II, Gherardo tenha sido eleito,
em 12 de março de 1144, para ser o seu sucessor. O Papa Lúcio II assumiu o
comando da Igreja Católica em meio a um movimento revolucionário que abalava
Roma. Naquela ocasião, havia uma república estabelecida que tentava privar o Papa
dos poderes temporais que havia conquistado ao longo dos séculos. Era um
péssimo momento para a Igreja Católica, que, acostumada com o crescente
poderio, se via em meio a contestações que procuravam limitar sua influência e
atuação na sociedade. Lúcio II foi obrigado a articular da maneira que fosse
possível para tentar reverter ou, ao menos, relativizar a situação. No mesmo
ano em que tomou posse, o Papa se encontrou com Rogério II da Sicília para
deixar claro seus deveres com a Santa Sé. No entanto, Rogério estava do lado do
movimento revolucionário republicano e tentou também impor sanções ao Sumo
Pontífice. Só que este não estava disposto a aceitá-las, como seria de se esperar,
e manteve firme a posição de independência da Igreja. Rogério então revidou
enviando seu general Roberto de Selby para forçar o Papa a aceitar suas
condições. O cenário era completamente desfavorável à Igreja Católica. Os
nobres de várias regiões de Roma estavam unidos em prol da diminuição dos
poderes da Igreja e sua submissão aos interesses temporais. O Senado Romano já
havia esvaziado o Papa de poderes durante o pontificado de Inocêncio II e,
mesmo após ser dissolvido por Lúcio II, estava de volta. Por sinal, a ação do Papa
serviu para incendiar mais ainda a situação. Em um momento no qual todos se
viravam contra a Igreja, uma ação como essa de dissolver o Senado estimulou
mais ainda a oposição insatisfeita com o poderio do clero. Ameaçado e em desespero,
o Papa Lúcio II pediu o auxílio do Imperador Conrado III contra o Senado, o que
também foi um fracasso, pois o Imperador se recusou. Havia ainda outro
adversário político que causava desequilíbrios às tentativas do Papa. Giordano
Pierleoni era irmão do Antipapa Anacleto II, cujo cisma se encerrou no papado
de Inocêncio II. Giordano era influente e conseguia estimular a oposição ao Papa.
Quando Lúcio II finalmente conseguiu reunir um pequeno exército para
enfrentá-lo, foi derrotado novamente. Mas desta vez a derrota custaria muito
caro, já que, durante os combates, o Papa Lúcio II seria ferido seriamente por
uma pedrada que deixariam ferimentos graves, resultando em seu falecimento
alguns dias depois. O Papa Lúcio II teve um Pontificado muito turbulento e um
fim humilhante para um líder da Igreja. Incapaz de controlar a situação, ele
permaneceu menos de um ano como líder cristão e faleceu no dia 15 de fevereiro
de 1145, aos 50 anos de idade.
168º
- Eugênio III - 1145 - 1153
O Beato Eugênio
III OCist, foi Papa de 15 de fevereiro de 1145 até 8 de julho de 1153. Nascido
em Montemagno, próximo de Pisa, Itália, no seio de uma rica família cristã,
pertencente à nobreza italiana, com o nome de Pier Bernardo Pignatelli, o
futuro Papa Eugênio III foi ordenado Sacerdote na cidade de Pisa. Segundo os
registos da época, era inteligente, mas reservado e muito ponderado. Em 1135, ingressou
na Ordem Cisterciense. Foi designado pelo seu superior para abrir outro
mosteiro da Ordem na cidade de Farfa, diocese de Viterbo, onde foi nomeado
abade pelo Papa Inocêncio II. Em 1145, Bernardo Pignatelli foi eleito Papa e
adotou o nome de Eugênio III. O Papa teve que enfrentar a difícil situação
política na Itália, provocada por Arnaldo de Bréscia – o grande opositor do
poder temporal dos Papas - que exigia a eleição de um Papa que favorecesse as
suas ambições políticas, fazendo pressão junto do Colégio Cardinalício. O abade
Bernardo não era Cardeal e foi eleito pelo Colégio Cardinalício, justamente
para contrarrestar as exigências políticas de Arnaldo. Contudo, horas após a
sua eleição, partiu de Roma para ser coroado no seu mosteiro de Farfa, em
Viterbo, onde os seus Cardeais também foram residir. Mas a população romana
desejava a volta do Pontífice, que pouco depois, retornou a Roma. Em 1146,
Arnaldo de Bréscia exigiu do Papa a entrega da cidade de Tívoli. Não
concordando, Eugênio III mudou-se para Siena e, mais tarde, foi estabelecer-se,
durante três anos, na França. Tendo tomado conhecimento da queda da cidade de
Edessa, a capital do Condado de Edessa, nas mãos dos turcos, em Dezembro de
1145, Eugênio III escreveu uma carta a Rei Luís VII de França, convidando-o a
fazer parte de uma cruzada. Em uma grande dieta ocorrida na cidade de Espira,
na Alemanha, em 1146, o Imperador Conrado III, e muitos dos seus nobres, foram
convencidos pela eloquência do Papa Eugênio III a dedicar-se a uma cruzada. Defendeu
a Igreja contra os invasores turcos e iniciou a construção do Palácio
Pontifício. Morreu no dia 8 de julho de 1153, depois de governar a Igreja
durante oito anos e cinco meses, num período histórico muito complicado e
violento. O Papa Eugênio III foi beatificado em 1872 pelo Papa Pio IX.
168.1
– Santa Hildegarda de Bingen
Hildegarda de Bingen (Bermersheim
vor der Höhe, verão de 1098 — Mosteiro de Rupertsberg, 17 de setembro de 1179),
apelidada Sibila do Reno, foi uma monja beneditina, mística, escritora
(misticismo, teologia, ciência natural, poesia, dramaturgia, hagiografia,
linguística, cartas), pregadora, compositora e médica informal alemã. Foi
mestra do Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na Alemanha. É uma Santa
e doutora da Igreja Católica.
Personalidade muito citada mas
de fato pouco conhecida pelo grande público moderno, rompendo as barreiras dos
preconceitos contra as mulheres que existiam em seu tempo, se tornou respeitada
como uma autoridade em assuntos teológicos, louvada por seus contemporâneos em
altos termos. Hoje é considerada uma das figuras mais singulares e importantes
do século XII europeu, e suas conquistas têm poucos paralelos mesmo entre os
homens mais ilustres e eruditos de sua geração. Seus vários e extensos escritos
mostram que ela possuía uma concepção mística e integrada do universo, ainda
que essa concepção não excluísse o realismo e encontrasse no mundo muitos
problemas. A solução para eles, de acordo com suas ideias, devia advir de uma
união cooperativa e harmoniosa entre corpo e espírito, entre natureza, vontade
humana e graça divina. Mas não tentou inaugurar uma nova corrente de pensamento
religioso; sempre permaneceu fiel à ortodoxia do Catolicismo, e combateu as
heresias e a corrupção do clero. Quis acima de tudo desvelar para seus
semelhantes os mistérios da religião, do cosmos, do homem e da natureza. Para
ela o universo era a resposta para as dúvidas da humanidade, e a humanidade era
a resposta para o enigma do universo. Mas, como escreveu, se a humanidade não
fizesse a pergunta, o Espírito Santo não poderia respondê-la. Foi a primeira de
uma longa série de mulheres influentes tanto na religião como na política, e um
representante típico da aristocracia cultural beneditina. Orgulhosa de
pertencer a uma elite social e espiritual, mostrou-se no entanto humilde e
submissa a Deus.
Além de mística, teóloga e
pregadora, foi poetisa e compositora talentosa, deixando obra de vulto e
original. Também fez muitas observações da natureza, com uma objetividade
científica até então desconhecida, especialmente sobre as plantas medicinais,
compilando-as em tratados onde abordou ainda vários temas ligados à medicina e
ofereceu métodos de tratamento para várias doenças. Seus primeiros biógrafos a
mencionaram como Santa e lhe atribuíram alguns milagres, em vida e logo após a
sua morte. Abriu-se um processo de canonização, mas sua causa parou na
beatificação. Entretanto, em 1584 o Papa Gregório XIII autorizou a inclusão do
seu nome no Martirológio Romano como Santa. Seu dia é festejado em muitas
dioceses alemãs. O Papa Bento XVI reafirmou oficialmente sua santidade e a
proclamou Doutora da Igreja através de carta apostólica de 7 de outubro de
2012. Depois de um longo período de obscuridade, sua vida e obra vêm recebendo
atenção crescente desde a segunda metade do século XX; seus escritos começaram
a ser traduzidos para várias línguas, muitos livros e ensaios já lhe foram
dedicados, e foram feitas diversas gravações com sua música.
Hildegarda de Bingen nasceu em
uma família da pequena nobreza de Bermersheim, que estava a serviço dos condes de
Sponheim, e que produziu diversas personalidades religiosas e culturais, entre
elas dois de seus irmãos, Hugo, mestre do coro da Catedral de Mogúncia e mentor
do Bispo de Liège, e Roricus, que se tornou cônego da abadia beneditina de
Tholey. O nome da família não foi transmitido com segurança à posteridade, mas
é possível que fosse Von Stein, a partir de algumas indicações nos documentos
primitivos. Hildegarda foi a décima filha de Hildebert e Mechtild, e por esse
motivo teria sido oferecida como dízimo à Igreja, mas é possível que o fato de
ela desde tenra infância experimentar visões, combinado à sua saúde precária,
teriam sido os motivos principais para destiná-la à vida religiosa. Segundo a
Vita Sanctae Hildegardis, a mais importante biografia antiga sobre ela, aos
três anos de idade ela teve sua primeira experiência espiritual, quando viu uma
luz de brilho deslumbrante que fez sua alma tremer, e nos anos seguintes essas
visões se repetiram com frequência. Hildegarda relatou algumas delas para as
pessoas de sua família, mas, intimidada com a reação de surpresa e desconfiança
que causavam, logo cessou de mencioná-las.
Com oito anos foi confiada aos
cuidados de Jutta, filha do conde de Sponheim, e que era a mestra de um pequeno
grupo de monjas enclausuradas de um eremitério anexo ao Mosteiro de
Disibodenberg, que as supervisionava. Jutta introduziu Hildegarda no modo de
vida dos Beneditinos e deu-lhe as primeiras letras através da leitura das
Escrituras. Possivelmente também lhe ministrou elementos de música. Em sua
época os mosteiros beneditinos eram uma das melhores opções para os membros da
aristocracia germânica que desejavam se dedicar à religião; estavam entre os
mais importantes centros de cultura da Europa medieval, e podiam prover uma
educação esmerada para os filhos da nobreza. Mas parece que, no seu caso, a
julgarmos por suas repetidas declarações anos mais tarde, essa educação inicial
foi apenas rudimentar. Suas experiências visionárias continuavam, mas ela mesma
ainda não sabia definir sua origem. Dizia que via e ouvia as coisas "em
sua alma", chegava a ter sensações táteis e olfativas, e ao mesmo tempo
continuava alerta para com o que se passava no mundo físico, e em plena posse
de suas faculdades mentais e corpóreas, mas também disse que elas a exauriam, a
ponto de deixá-la constantemente doente.
Em 1114 fez seus votos
definitivos e ingressou na Ordem, mas a reconstituição de sua vida nesse
eremitério é muito difícil; não há relatos descritivos, salvo breves alusões. A
partir de crônicas deixadas sobre outras comunidades semelhantes de seu tempo,
é provável que seu eremitério tenha seguido em linhas gerais, mas com maior
pobreza, a rotina dos monges beneditinos que o supervisionava, passando a maior
parte do dia em orações ou trabalhos manuais. O contato com o mundo profano era
rigorosamente vedado, e ao que tudo indica não podiam sequer sair para
exercitar-se. Em todos os assuntos devem ter dependido dos monges vizinhos, mas
não há como saber em que medida Hildegarda se beneficiou da rica vida cultural
de que desfrutavam os integrantes masculinos da Ordem. Entretanto, mesmo em
todos os outros momentos isoladas do mundo, parece garantido que as missas eram
assistidas pelas monjas na igreja dos monges, pois não possuíam uma própria, e
pelo menos no que diz respeito à vivência musical e ao aprendizado do latim, da
retórica sacra e da doutrina católica, essa frequência deve ter sido de grande
importância para a futura carreira de Hildegarda. Logo a fama de virtude de sua
mestra, que veio a ser santificada, e a dela própria, começaram a atrair outras
monjas, o pequeno eremitério, que inicialmente possuía apenas uma porta e uma
janela, foi gradualmente ampliado e se tornou quase um mosteiro autônomo, e o
rigor de sua clausura parece ter sido suavizado. É possível que tenha se
envolvido então com o cuidado de doentes e gestantes e incrementado suas
práticas musicais. Segundo o que disse anos depois, sua saúde melhorou, ela se
sentia mais confiante e sua habilidade clarividente se desenvolveu, passando a
ser capaz de prever o futuro.
Até a ocasião da morte de Jutta,
em 1136, quando foi eleita mestra das monjas de Disibodenberg, as fontes
primitivas não dão dados relevantes; ela mesma afirmou em um de seus escritos que
sua juventude fora de pouco interesse salvo pelas visões que tinha. Mas em 1141
teve uma visão que abriu-lhe o entendimento para o significado profundo do
texto das Escrituras. Numa de suas notas autobiográficas, disse:
"E sucedeu no 1141º ano da
encarnação de Jesus Cristo, Filho de Deus, quando eu tinha quarenta e dois anos
e sete meses, que os céus se abriram e uma luz ofuscante de excepcional fulgor
fluiu para dentro de meu cérebro. E então ela incendiou todo o meu coração e
peito como uma chama, não queimando, mas aquecendo… e subitamente entendi o
significado das exposições dos livros, ou seja, dos Salmos, dos Evangelhos e
dos outros livros católicos do Velho e Novo Testamentos".
Ao mesmo tempo uma voz lhe
ordenou: "Oh
mulher frágil, cinza de cinza e corrupção de corrupção, proclama e escreve o
que vês e ouves". Para que não restassem dúvidas,
a ordem lhe foi repetida por três vezes. Mas não pôde colocar em prática de
imediato o mandado divino. Imaginava-se indigna e isso a atormentava, e temendo
o que os outros iriam dizer dela se aparecesse como profeta, entrou em uma
crise interior, e adoeceu. Por incentivo do monge Volmar, que provavelmente
deu-lhe uma educação complementar mais sólida e ajudou-a na correção do seu
latim ainda precário, transcreveu alguma coisa em segredo, os primeiros esboços
de seu Liber scivias Domini, mas somente em 1147, ainda hesitante, procurou
Bernardo de Claraval, já famoso, em busca de orientação. Escreveu-lhe uma carta
onde expunha suas dúvidas e receios, e pedia uma confirmação para seu dom, mas
a resposta do celebrado religioso foi circunspecta e evasiva. Não quis assumir
a responsabilidade por seus atos, mas encorajou-a a confiar no seu próprio
julgamento e através dele atender ao chamado que recebera. Mas logo passou a
apoiá-la mais efetivamente, persuadindo o Papa Eugênio III a ler alguns de seus
escritos iniciais diante do sínodo reunido em Trier em 1147-1148. O Papa enviou
uma comissão de clérigos para verificar a autenticidade do que tinha em mãos
como sendo dela, e, confirmada a autoria, o Papa enviou-lhe uma carta louvando
seu amor a Deus e sua reputação honrada, aprovando suas visões, o que lhe deu o
impulso decisivo para assumir publicamente seu dom profético como uma missão evangelizadora
e passasse a lançar ao papel resolutamente e em detalhe o que lhe era revelado.
Escrevia em latim, o que de imediato excluía um público popular, e o próprio
conteúdo de seus escritos também os direcionava para a elite. Torna-se
surpreendente a sua produção quando se lembra que em seu tempo as mulheres em
geral tinham pouquíssimo espaço na vida cultural, civil e religiosa, havia
muitos preconceitos contra elas a respeito de sua moralidade e de suas
capacidades físicas e intelectuais, e não tinham nenhuma autoridade. Ao mesmo
tempo, ela própria se sentia pouco qualificada, alegando ter recebido uma
educação pobre e que, comparada com a refinada cultura nas artes liberais que
muitos monges recebiam, fazia dela, aos olhos de seus contemporâneos, uma semi-analfabeta.
Mas imediatamente depois da aprovação papal, tornou-se uma celebridade em toda
a Europa.
Em 1148, obedecendo uma ordem
recebida em uma visão, deixou Disibodenberg junto com outras monjas a fim de
revitalizar o antigo Mosteiro de Rupertsberg, então arruinado. Era localizado
numa região erma, e lá continuou seu trabalho religioso e assistencial, bem
como seus escritos. A mudança encontrou resistência no clero e nos monges de
Disibodenberg, e inclusive entre suas monjas, mas finalmente, em torno de 1150,
o prédio estava restaurado, e o grupo, instalado. Sua primeira obra, o Liber
scivias Domini (Livro do conhecimento dos caminhos do Senhor), foi concluída
ali em 1151, contendo uma coleção de relatos sobre suas visões até então. Esse
período inicial em Rupertsberg foi marcado por várias dificuldades, lutando por
verbas para o sustento da comunidade e pela regularização de seu estatuto
jurídico, e enfrentando a deserção de várias monjas, perdendo inclusive a sua
assistente e discípula favorita, Richardis von Stade, que foi indicada
superiora de outro mosteiro. Por outro lado, foi favorecida pelas boas relações
de sua família com a nobreza local e com o alto clero. Ela mesma já era famosa
e se correspondia com várias personalidades importantes, e ganhou a amizade e a
proteção de Frederico II, até que as diferenças dele com o Papa fizeram essa
amizade esfriar. Também desta fase datam suas primeiras composições musicais e
poéticas conhecidas, bem como suas primeiras observações científicas da
natureza e textos médicos. A partir de 1158 iniciou sua próxima obra
importante, o Liber vitae meritorum (Livro dos méritos da vida), onde examinou
os vícios e as virtudes da vida humana, mas esteve doente ao longo de quase
todo o período em que o escreveu.
A partir de 1160, sempre por
força de comandos divinos que lhe impunham doenças até que ela anuísse ao
chamado, o que fazia nem sempre de boa vontade ou imediatamente, por temor da
rejeição das pessoas, empreendeu diversas viagens pela Alemanha e França a fim
de pregar, um privilégio nunca outorgado a mulheres, indo primeiro a Mogúncia,
Würzburg, Ebrach e Bamberg. Depois viajou para a Lorena, passando por Trier e
Metz. No ano seguinte visitou Colônia e outras cidades, indo até o Ruhr. Em
1163 terminou o Liber vitae e imediatamente iniciou sua obra teológica mais
notável, o Liber divinorum operum (Livro das obras divinas), um comentário
sobre o prólogo do Evangelho de São João e sobre o livro do Gênesis,
aprofundando os temas já tratados no Scivias. A escrita dessa obra sofreu
várias interrupções, e só foi terminada em 1174, pouco antes de sua morte. Em
1165 suas tarefas duplicaram com a fundação de um novo mosteiro em Eibingen,
para acomodar o crescente número de monjas sob seus cuidados. Visitava-o duas
vezes por semana, e nesse período seus biógrafos dizem que fez suas primeiras
curas milagoras e exorcismos.
Em torno de 1170, já idosa, uma
visão ordenou que ela fizesse uma última viagem, agora para Maulbronn, Hirsau,
Zwiefalten e outras cidades. De início relutou, como costumava fazer, mas então
foi atacada por uma hoste de espíritos malignos que se compraziam em humilhá-la
e infligir-lhe intensas dores físicas. Quando finalmente aceitou a incumbência,
foi recompensada com a visão de um homem de aparência extraordinariamente
formosa e de bondade amantíssima:
"Ao vê-lo senti todo meu
ser infuso de um perfume balsâmico. Então exultei com alegria imensa, e desejei
permanecer na sua contemplação para sempre. E ele ordenou que os que me
afligiam partissem e me deixassem em paz, dizendo: 'Vão,
não quero que a atormentem mais!', e eles,
partindo, gritaram: 'Ah, sempre que viemos aqui saímos confundidos!'
Imediatamente, às palavras do homem, a doença que me afligia, como água
empurrada pelo vento, se foi, e eu recuperei as forças".
Suas pregações eram audaciosas e
veementes, denunciando os vícios do clero e combatendo as heresias, em
particular a dos cátaros, que naquela altura estavam penetrando rapidamente na
Germânia, fazendo muitos seguidores. Esses périplos exigiam muito de sua saúde,
e seus anos finais foram perturbados por uma série de moléstias. Algumas lhe
causavam grandes sofrimentos, mas seus dotes intelectuais e espirituais
pareciam crescer à medida que o corpo fraquejava. Permaneceu sempre em
atividade, escrevendo, debatendo com outros religiosos e atendendo à crescente
multidão de pessoas que vinham em busca de seu conselho e dos remédios que
preparava. Nesse período escreveu as biografias de São Rupert e São Disibod, um
comentário sobre a Regra Beneditina, e outras peças menores. Além de seus
problemas de saúde e os administrativos, perdeu em 1173 seu colaborador de
longa data, o monge Volmar, e custou a encontrar um substituto. Teve de apelar
para o Papa Alexandre III, e após longas negociações foi-lhe enviado o monge
Gottfried em fins de 1174 ou no início de 1175, que começou a servir de seu
assistente e iniciou a compor uma biografia sobre Hildegarda, mas faleceu em
1176 sem terminá-la. Foi então substituído pelo monge Guibert de Gembloux, que
também se dedicou a escrever sobre sua vida, e igualmente não terminou o
trabalho, abordando apenas seus anos iniciais, o que foi uma lástima dado o
vulto do fragmento que sobreviveu.
No último ano de sua vida
enfrentou uma outra crise, agora a do interdito que o clero de Mogúncia impôs
sobre o seu mosteiro, impedindo a celebração da missa e a prática dos cânticos
sacros. O motivo foi o de ela ter permitido o enterro de um nobre alegadamente
excomungado no cemitério de seu mosteiro, mas segundo ela este nobre havia sido
absolvido in extremis e recebido a eucaristia. A despeito de ter feito apelos
às autoridades, explicando o ocorrido, o conflito só piorou e foi necessário o
concurso do arcebispo de Mogúncia, que decidiu levantar o interdito em 1179.
Mas todo o caso a desgastou profundamente, e depois de conseguir uma solução
favorável para si, perdeu as forças e desejou ser liberta do corpo para
encontrar a Cristo. Previu a iminência de sua morte e faleceu pacificamente em
17 de setembro do mesmo ano.
No Livro das Obras Divinas,
Santa Hildegarda de Bingen, a “Sibila do Reno”, interpreta a propósito do
versículo 6,8 do Livro do Apocalipse:
Ap 6:8 - “E vi
aparecer um cavalo esverdeado. Seu cavaleiro tinha por nome Morte; e o inferno
o seguia. Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para matar pela
espada, pela fome, pela peste e com as feras da terra.”
“Isto se interpreta assim: o
cavalo descrito deste modo é o tempo em que todas as coisas conformes com a lei
e cheias da justiça de Deus serão consideradas nada, como as coisas sem cor, e
então os homens dirão: “Não sabemos o que fazemos e os que nos deram estas
ordens, não sabiam o que diziam”. E assim, sem medo nem temor pelo julgamento
de Deus, desprezarão todos os bens, persuadidos pelo diabo a fazer estas
coisas.
Mas Deus em sua cólera julgará
estas obras e se vingará destruindo-as completamente, porque dará morte àqueles
que não se arrependam e os condenará ao inferno. Nesse tempo, haverá por todas
as partes da terra combates com a espada, os frutos da terra desaparecerão, e
os homens morrerão de morte súbita ou pelas mordidas das feras.
A antiga serpente se regozija
com todos estes castigos com os quais o homem se vê castigado na alma e no
corpo. Ela que perdeu a glória celeste, não quer que o homem a alcance. Na
verdade, quando percebeu que o homem ouviu seu conselho, começou a planejar
fazer guerra a Deus, dizendo: ‘Através do homem, levarei a cabo todos os meus
propósitos.
Pois, em seu ódio, inspirou
todos os homens a se odiarem com o mesmo mau sentimento, para que se matassem
uns aos outros. E disse: ‘Farei com que os homens morram, perdê-los-ei mais do
que a mim mesma, que já estou perdida, porque eu estou viva, mas eles não
estarão. E enviou seu sopro para que a sucessão dos filhos dos homens se
extinguisse, e então os homens se tomaram de paixão por outros homens,
perpetrando atos vergonhosos.
E a serpente, sentindo gozo
nisso, gritou: ‘Esta é a suprema ofensa contra quem deu o corpo ao homem, que a
forma deste desapareça, por ter evitado a relação natural com as mulheres. É,
pois, o diabo quem os persuade a se tornarem infiéis e sedutores, para se
odiarem e se matarem, convertendo-se em bandidos e ladrões, porque o pecado da
homossexualidade leva às mais vergonhosas violências e a todos os vícios.
E quando todos estes pecados
tiverem se manifestado ao mesmo tempo no povo, então a vigência da Lei de Deus
será quebrada e a Igreja será perseguida como uma viúva. E os príncipes, os
aristocratas e os ricos serão despojados de suas posses pelas pessoas de menor
condição, e serão expulsos de cidade em cidade, sua nobreza será aniquilada e
os ricos se verão reduzidos à pobreza.
Todas estas coisas acontecerão
quando a antiga serpente instilar no povo a vontade de mudar de roupas e
costumes. Os homens obedecerão a ela, acrescentando aqui um detalhe, tirando
outro em outro lugar, ansiosos de novidades e mudanças constantes. O antigo
inimigo e todos os outros espíritos malignos, que perderam sua beleza, mas não
o sopro da racionalidade, por medo de seu Criador não mostram a nenhuma
criatura mortal a forma de sua perdição tal como ela é. Mas com suas sugestões
infundem insídias entre todos os homens, a cada um de um modo diferente, porque
em todas as criaturas acham algo de sua malícia.
Entretanto, Deus iniciou uma
grande batalha contra a sua impiedade através da razão do homem que resiste aos
raciocínios diabólicos e os confunde. Esta luta durará até o fim dos tempos,
quando serão confundidos em tudo e por tudo, e o homem que os tiver vencido
obterá como recompensa a vida eterna.”
Santa Hildegarda assim relatou sua
visão do anticristo:
"... O filho da perdição...
fará morrer quem se recusar a crer nele. Ele subjugará o universo inteiro por
meios diabólicos... dará a impressão de mover-se no ar, fazer descer fogo do
céu, produzir relâmpagos, trovões e granizos, nivelar montanhas, secar rios,
fazer desaparecer o verde das florestas e devolvê-lo a seguir. Parecerá também,
à sua vontade, de tornar os homens doentes ou sãos, de exorcizar demônios, às
vezes até de ressuscitar mortos, de dar vida aos cadáveres momentaneamente...
Tudo quanto vive na Terra perecerá, pois o mundo sentirá debilitar as suas
forças..."
169º
- Anastácio IV - 1153 - 1154
Papa da Igreja
cristã Romana nascido no bairro romano de Suburra, que eleito Papa, apesar da
avançada idade, como sucessor de Eugênio III, em um período extremamente
agitado no seio da Igreja cristã, em que o povo da Cidade Eterna, liderado por
Arnaldo de Brescia, não aceitava o poder do Papa sobre a cidade. Com espírito
de bondade, conseguiu a pacificação nos domínios da Igreja. Filho de um popular
de nome Benedetto, pouco se sabe sobre seu nascimento e sua formação, mas
começou a aparecer no cenário da Igreja de Roma quando em 1130 participou
ativamente da eleição Papal e se opôs ferrenhamente contra Pietro Perloni, o
antipapa Anacleto II. Tinha sido nomeado Cardeal e Bispo de Sabina (1126),
durante o cisma provocado pela eleição de Inocêncio II (1130), apoiado pela
facção dos Frangipanes, em oposição a Anacleto II, antipapa sustentado pelos
Pierleonis, apoiou o primeiro e foi nomeado Vigário para a Itália (1130-1131),
o responsável pela gestão dos interesses do Pontífice em Roma, quando Inocêncio
foi para Siena e, depois, para França, temeroso da hostilidade do povo da
cidade. Eleito Papa, em seu breve Pontificado mostrou-se benevolente para com o
povo romano, então em agitação. Confirmou São Guilherme de Yorque, na diocese
de York, apesar da oposição da poderosa Ordem de Cister, e cedeu à vontade
Imperial na nomeação do Bispo de Magdeburgo, em uma atitude conciliadora em
relação a Frederico Barba-Ruiva, a quem prometeu coroar em troca da proteção.
Investiu na restauração do Panteão de Roma. Governou apenas um ano e meio,
vindo a morrer em 3 de dezembro, em Roma.
170º
- Adriano IV - 1154 - 1159
Papa
Adriano IV, C.R.S.A, de nome Nicolau de Breakspear ou Nicholas Breakspear;
inglês, nascido perto de Saint Albans, ca. 1100 — 1 de setembro de 1159, foi Papa
da Igreja Católica de 4 de dezembro de 1154 até a data da sua morte. Adriano IV
foi o único inglês a ocupar a cadeira Papal. Acredita-se que Nicolau nasceu na
Fazenda Breakspear na paróquia de Abbots Langley em Hertfordshire e recebeu sua
educação na Abbey School, St Albans (St Albans School). O seu pai, Roberto, era
Sacerdote na diocese de Bath, e se tornou monge em St. Albans. Nicolau viu
recusada a sua aceitação no mesmo mosteiro, tendo-lhe sido dito que teria de
amadurecer e estudar para descobrir então a sua vocação. Entendeu não ter de
esperar e foi para Paris e tornou-se Cônego Agostiniano em São Rufo, perto da
cidade de Arles. Foi eleito seu prior e em 1137 foi escolhido por unanimidade
para ser abade. Foi um abade zelosamente reformista, o que motivou queixas
contra ele, enviadas a Roma. Foi ali chamado para se explicar, ficou bem visto
pelo Papa Eugênio III, que o tornou Cardeal-Bispo de Albano. De 1152 a 1154,
Nicolau esteve na Escandinávia como delegado Papal, dirigindo os interesses do
novo Arcebispo de Trontêmio, e realizando as diligências que permitiram o reconhecimento
da Velha Upsália (mais tarde transferido para Upsália) como sede do Metropolita
sueco em 1164. Como compensação pela cedência territorial, o Arcebispo
dinamarquês de Lund foi designado delegado e Vigário perpétuo e atribuído o
título de Primaz da Dinamarca e Suécia. No seu regresso, Nicolau foi recebido
com grande honra pelo Papa Anastácio IV, e após a morte deste foi eleito Papa
em 4 de Dezembro de 1154. De imediato Adriano diligenciou a reposição da
autoridade Papal na cidade de Roma, dominada pelos partidários de Arnaldo de Bréscia
e de sua doutrina, que preconizava a mais pura pobreza clerical. Dadas as
graves consequências da agitação entre as duas facções, o Papa decidiu
excomungar a cidade de Roma, o que induziu o senado a render-se e desterrar o
referido Arnaldo de Bréscia. Este foi finalmente entregue por Frederico I da
Germânia, o Barbarossa, quando da sua coroação como Imperador, em 1155, e
finalmente morto em Roma. Adriano IV mandou o Rei Henrique II da Inglaterra
invadir a Irlanda. Adriano IV governou até à sua morte, em 1 de setembro de
1159. Defendeu com todos os meios a primazia do Papado sobre o Império,
desafiando o Imperador Frederico Barba Ruiva. Foi este Papa que deu autorização
aos templários para se instalarem no lugar de Cera que veio a dar origem ao
Castelo de Ceras e mais tarde ao Castelo de Tomar.
171º
- Alexandre III - 1159 - 1181
Alexandre
III, nascido Rolando Bandinelli (Siena, ca. 1105 - Civita Castellana, 30 de
agosto de 1181), foi Papa de 20 de setembro 1159 a 30 de agosto de 1181. Da
família Cerretani Bandinelli Paparoni, nasceu em Siena, ensinou direito canônico
na universidade de Bolonha, onde escreveu Summa Magistri Rolandi, comentários
sobre Decretum Gratiani. Em outubro de 1150 foi ordenado Deão de S. Cosme e
Damião; depois Cardeal em S. Marcos. Por esta altura escreveu as suas Sentenças
com base na Introdução a Teologia de Pedro Abelardo. Alexandre III foi o
primeiro de muitos advogados que se tornaram Papas. Infelizmente, sua eleição
provocou um cisma de vinte anos entre os que lhe eram leais e aqueles leais aos
três antipapas apoiados pelo imperador alemão, Frederico Barbarossa (ou "Barba
Ruiva"). Ele é também o Papa que impôs uma penitência ao rei inglês,
Henrique II, pelo assassinato de Tomás Becket em 1172, e convocou, em 1179, o
Terceiro Concílio de Latrão, que decretou a necessidade da maioria de dois
terços de Cardeais para a eleição Papal. Serviu como Chanceler e núncio
apostólico sob o antecessor, Adriano IV, e era Cardeal-Sacerdote quando o
elegeram Papa. Um pequeno número de Cardeais pró-imperiais (talvez sete) votou
no Cardeal Ottaviano de Monticelli, mas a maioria (é provável que 22) apoiou o
Cardeal Bandinelli. Como havia um acordo de que a eleição seria unânime,
iniciou-se uma briga violenta. Armados, os partidários do Cardeal Ottaviano
irromperam na reunião e arrancaram o manto Papal vermelho dos ombros de
Orlando; e o novo Papa teve de procurar refúgio na fortaleza do Vaticano, ao
lado da Basílica de São Pedro. Os partidários de Ottaviano conduziram-no em
triunfo à Basílica de Latrão. Alexandre III foi consagrado Bispo de Roma três
semanas mais tarde, em 20 de setembro, em Ninfa, a sudeste de Velletri, pelo
Bispo de Ostia. Ottaviano foi consagrado como Vítor IV na abadia imperial de
Farfa, a nordeste de Roma, em 4 de outubro. Em consequência disso, em fevereiro
de 1160, o Imperador reuniu, em Pavia, um sínodo de cerca de de cinquenta Bispos
alemães e italianos, que aprovou Vítor IV e excomungou Alexandre III. O Papa já
havia excomungado Vítor IV e, em 24 de março, condenou o Imperador Frederico.
Em outubro, os Bispos e os priores das ordens monásticas da maioria dos países
ocidentais reuniram-se em Toulouse na presença do rei Henrique II da Inglaterra
e do rei Luís VII da França (que já haviam se manifestado em favor de
Alexandre, no Concílio de Beauvais, em julho), ouviram argumentos a favor dos
dois pretendentes ao trono Papal, declararam seu apoio a Alexandre III e
condenaram Vítor IV. Devido à oposição imperial na Itália, o Papa mudou-se para
a França em abril de 1162, acabando por se instalar em Sens (juntamente com sua
Cúria), de 1163 a 1165. A convite do povo, voltou a Roma em novembro de 1165,
mas não pôde impedir a recoroação de Frederico e a coroação de sua mulher
Beatriz I da Borgonha como Imperatriz, em 1167, pelo antipapa Pascoal III
(eleito, depois da morte do antipapa Vítor IV em 1164, em cerimônia realizada
por dois Cardeais cismáticos, dois Bispos alemães e o prefeito de Roma). Um
terceiro antipapa, Calisto III, foi eleito em 1168 e serviu até 1178, quando se
submeteu a Alexandre III. Posteriormente, Alexandre III, mudou-se para
Benevento. Enquanto permaneceu ali, a posição política do Papa melhorou
gradativamente. Quando a liga lombarda das cidades do norte da Itália derrotou
Frederico, em Legnano, em 1176, com o apoio do Papa (o que fez com que a liga
desse à nova cidade o nome Alexandria, em homenagem a ele), o Imperador
dispôs-se a negociar. Em Veneza, ele e o Papa concordaram que seria suspensa a
excomunhão de Frederico e este, em troca, reconheceria Alexandre como Papa.
Alexandre não só impôs sansões ao rei Henrique II da Inglaterra pelo
assassinato de Tomás Becket, mas também confirmou o rei de Portugal em seu
trono e pronunciou um interdito contra o rei da Escócia e seu reino por
interferências nas nomeações eclesiásticas. De 05 a 19 de março de 1179,
Alexandre III presidiu o Terceiro Concílio de Latrão, que encerrou o cisma, de
forma definitiva. O concílio também decretou a necessidade da maioria de dois
terços de Cardeais para a eleição de um Papa; encorajou universidades e escolas
catedrais; e permitiu o castigo dos hereges (em especial dos Cathari, ou
albigenses, no sul da França). Logo depois do concílio, entretanto, a comuna
popular forçou o Papa a sair de Roma e, em setembro de 1179, um quarto
antipapa, Inocêncio III, foi empossado e logo derrotado. Alexandre passou os
dois últimos anos em diversas partes dos Estados pontifícios e morreu em 30 de
agosto de 1181, em Cività Castellana, cerca de 48 km ao norte de Roma. Seu
corpo foi levado de volta a Roma para o sepultamento na Basílica de Latrão, mas
os cidadãos o profanaram antes. Antipapas desta época: Vítor IV (1159-1164),
Pascoal III (1164-1168), Calisto III (1168-1178), Inocêncio III (1179-1180).
172º
- Lucio III - 1181 - 1185
Nascido
em Roma, na Itália, no ano 1100, Ubaldo Allucingoli dedicou toda a sua vida à
Igreja Católica e comungou do poder e da credibilidade que a instituição religiosa
possuía durante a Idade Média. Com o fim do Império Romano, a Igreja Católica
ocupou a lacuna de poder deixada pelos romanos e passou a ser a grande
influência do mundo ocidental, estabelecendo uma dominação cultural que
caracteriza a humanidade até os dias atuais. Ou seja, ser Papa era ter muitos
poderes e muitas vidas nas mãos. Com o falecimento do Papa Alexandre III,
Ubaldo Allucingoli foi eleito no dia primeiro de setembro de 1181 para ser seu
sucessor. Na ocasião, Ubaldo já estava com 81 anos de idade, mas ainda teria
fôlego para lidar com seu tumultuado Papado, adotando o nome de Lúcio III.
Havia, naquele momento, constantes tumultos em Roma e muitas acusações e
manifestações supostamente heréticas. Foi Lúcio III quem criou a Inquisição
Episcopal, no ano 1184, para reprimir os ditos hereges. Entretanto, os tumultos
em Roma forçaram o Papa a se transferir para Verona, local de onde não voltaria
mais. O Papado de Lúcio III passou por um problema diplomático com Frederico
Barba-Roxa, famoso Imperador da Alemanha. A situação foi amenizada quando o Papa
realizou o matrimônio de Henrique, filho de Frederico, com Constancia da
Sicília. A medida unificaria o Reino da Alemanha com o Reino da Sicília. Assim,
atendia a interesses e pacificava um pouco o ambiente. Mas, sem dúvida, o maior
desafio de seu Papado foi combater as supostas heresias que aumentavam
rapidamente. Uma das situações mais emblemáticas do Papado de Lúcio III
envolveu Pedro Ubaldo, um ex-banqueiro de Lyon que vivia em oração e pobreza.
Ele e seus seguidores acreditavam que a salvação dependia de uma vida em
pobreza, o que os levava a doar todos os seus bens. No entanto, esta postura
era condenada como herética pela Igreja Católica, que intensificou o combate
aos hereges. O Papa Lúcio III promulgou uma constituição para lutar contra
heresias que iria abrir caminho para o futuro tribunal da Santa Inquisição. Após
quatro anos de Papado, Lúcio III faleceu no dia 25 de novembro de 1185.
173º
- Urbano III - 1185 - 1187
O Papa
Urbano III, nascido Umberto Crivelli; Cuggiono, 1120 – Ferrara, 20 de outubro
de 1187, foi eleito em 25 de Novembro de 1185. Foi elevado Papa com a promessa
de pacificar a cidade de Roma. Crivelli nasceu em Cuggiono como filho de Guala
Crivelli e tinha quatro irmãos: Pietro, Domenico, Pastore e Guala. Estudou em
Bolonha. Em 1173, Crivelli foi feito Cardeal pelo Papa Alexandre III. Seu
título original é desconhecido, mas ele optou por ser o Cardeal-Sacerdote de
San Lorenzo in Lucina em 1182. Lúcio o nomeou Arcebispo de Milão em 1185. Lúcio
III morreu em 25 de novembro de 1185, e neste mesmo dia o Cardeal Crivelli foi
eleito. A pressa foi provavelmente devido ao medo da interferência imperial. Urbano
III assumiu vigorosamente as brigas de seu antecessor com o Sacro Imperador
Romano Frederico I Barbarossa, incluindo a disputa permanente sobre a
disposição dos territórios da condessa Matilda da Toscana. Isso foi amargurado
pela inimizade pessoal, pois no saque de Milão em 1162 o Imperador fez com que
vários parentes do Papa fossem proscritos ou mutilados. Mesmo após sua elevação
ao Papado, Urbano III continuou a ocupar o Arcebispado de Milão, e nesta
capacidade recusou-se a coroar como rei da Itália o filho de Frederico I,
Henrique, que havia se casado com Constança, herdeira do reino da Sicília. Por
esse casamento/vínculo, o Papado perdeu aquele apoio normando no qual por tanto
tempo contava em suas disputas com o Imperador. Urbano se esforçou para trazer
a paz entre a Inglaterra e a França e, em 23 de junho de 1187, seus legados por
ameaças de excomunhão impediram uma batalha campal entre os exércitos dos reis
rivais perto de Châteauroux e trouxeram uma trégua de dois anos. Enquanto
Henrique no sul cooperava com o Senado rebelde de Roma, seu pai Frederico
bloqueou as passagens dos Alpes e cortou todas as comunicações entre o Papa,
então morando em Verona, e seus adeptos alemães. Urbano III resolveu então
excomungar Frederico I, mas os veroneses protestaram contra tal procedimento
dentro de seus muros. Ele, portanto, retirou-se para Ferrara, mas morreu antes
que pudesse dar efeito às suas intenções. Ele foi sucedido por Gregório VIII.
De acordo com os cronistas Ernoul e Benedict de Peterborough, Urbano III morreu
de choque e tristeza depois que Joscius, Arcebispo de Tiro trouxe-lhe a notícia
da derrota cristã na Batalha de Hatim. Também é comumente afirmado que a morte
de Urbano foi causada pela notícia da queda de Jerusalém, mas Guilherme de
Newburgh nos assegura que o relatório do desastre de Hattin só chegou à Santa
Sé depois da eleição de Gregório VIII, por isso é pouco provável que Urbano III
tenha ouvido falar da rendição da Cidade Santa, que ocorreu em 2 de outubro.
174º
- Gregório VIII - 1187
Gregório
VIII (Benevento, 1108 — Pisa, 17 de dezembro de 1187), Papa da Igreja Católica
Romana, eleito em Ferrara a 21 de outubro de 1187. Nascido Alberto di Morra, em
Benevento, cerca de 1110, teve um dos mais curtos pontificados da história,
governando a Igreja por apenas 56 dias. Faleceu a 17 de dezembro de 1187, na
cidade de Pisa, onde se encontrava à participar nos preparativos para a
organização da Terceira Cruzada em reação ao desastre de Hatim e à conquista de
Jerusalém pelas tropas de Saladino ocorrida a 2 de outubro daquele ano. Era
monge beneditino.
175º
- Clemente III - 1187 - 1191
Clemente
III (Roma, ca. 1130 — Roma, 1191) foi Papa da Igreja Católica Romana, eleito a
19 de dezembro de 1187. Clemente III era Paolo Scolari, Cardeal-Bispo de
Palestrina, nascido em Roma cerca de 1130. Organizou a Terceira Cruzada,
congregando a maior parte dos príncipes cristãos em torno do projeto de
reconquista da Terra Santa. Governou a Igreja até o seu falecimento a 20 de
março de 1191. Clemente III foi eleito Papa para suceder Gregório VIII,
falecido dois dias antes e apenas dois meses após a eleição, numa sequência de
Pontificados curtos que levaram a que entre 1181 e 1198 tivessem passado pelo Trono
de Pedro cinco Papas. A escolha de Paolo Scolari para Pontífice, apenas dois
dias após a morte em Pisa do seu antecessor, foi bem acolhida pelo povo de
Roma. Conhecido pelo seu carácter conciliador e sendo o primeiro nascido em
Roma a ocupar o Papado desde a rebelião de Arnoldo de Brescia, a sua eleição
foi encarada como uma oportunidade de reconciliação e de pacificação que permitisse
o retorno pacífico do Papado à cidade. Após uma breve negociação, foi assinado
um tratado formal conciliando a soberania Papal com as liberdades municipais
entretanto conquistadas, e em Fevereiro de 1188 o Papa entrou na cidade de Roma
com o aplauso do povo, instalando-se sem oposição no Palácio Laterano. Ficou
assim sanado mais um episódio da recorrente contestação ao poder temporal do Papa
na cidade de Roma. Dando continuação à política dos seus imediatos
antecessores, Clemente III empenhou-se na realização da Terceira Cruzada,
contra o Islão na Terra Santa, organizando uma impressionante expedição
congregando Príncipes, nobres e soldados de toda a cristandade. Através de uma
intensa atividade diplomática, conseguiu impor uma trégua generalizada nas
lutas entre os estados cristãos, criando as condições para a organização da
almejada cruzada, concentrando os esforços bélicos da cristandade em torno do
objectivo da reconquista do Santo Sepulcro em Jerusalém. Um feito notável da
diplomacia de Clemente III, a Terceira Cruzada conseguiu congregar Filipe
Augusto de França, Frederico Barba Ruiva do Sacro Império Romano-Germânico e
Ricardo Coração de Leão de Inglaterra. O envolvimento de tão importantes
personalidades levou a que fosse denominada a Cruzada dos Reis. Clemente III
faleceu pouco antes da conquista de Acre, não assistindo aos sucessivos
desastres na Palestina, a derrota da cruzada e ao desmoronar do sonho cristão
da reconquista de Jerusalém. A morte de Guilherme II da Sicília sem sucessão
clara veio desencadear novo conflito entre o Papado e a casa de Hohenstaufen
quando Henrique VI, filho e sucessor de Barba Ruiva, reclamou o trono em nome
de sua mulher Constança de Altavila. O Papa, cuja soberania ficava ameaçada com
a incorporação do reino das duas Sicílias ao Sacro Império Romano Germânico,
opôs-se tenazmente, no que foi apoiado pela nobreza e povo, ciosos da sua
independência e temerosos da submissão à um imperador visto como estrangeiro.
Com o apoio e investidura Papal, Tancredo de Lecce, filho ilegítimo do falecido
rei, foi aclamado. Tal levou à invasão pelas tropas imperiais de Henrique VI.
No auge desta disputa, Clemente III faleceu, sendo sucedido por Celestino III. Apesar
das lutas que marcaram o seu termo, o Pontificado de Clemente III, apesar de
curto, foi caracterizado por uma forte ação diplomática, que se refletiu na
organização da Terceira Cruzada, e pelo fortalecimento da influência Papal
sobre a cidade de Roma e sobre a igreja europeia. Devem-se a Clemente III a
separação da Igreja da Escócia da sé metropolitana de York e as canonizações de
Otão de Bamberga e de Estêvão de Thiers.
176º
- Celestino III - 1191 - 1198
Papa da Igreja
cristã Romana nascido em Roma, eleito Papa em 1191, para suceder Clemente III,
e que durante todo o seu Pontificado estabeleceu relações muito tensas com o Imperador
germânico Henrique VI, que ele mesmo coroara. Discípulo e defensor de Abelardo
no Concílio de Sens (1140), posteriormente foi eleito Cardeal e juntou-se, como
legado, à corte do Imperador Frederico I Barba-Ruiva. Quando Henrique VI
conquistou a Normandia e alguns territórios pertencentes à Igreja, o Papa foi
pressionado pelo clero romano, mas se recusou a excomungá-lo. Essa atitude
valeu-lhe a hostilidade de seus colaboradores, pois, ao contrário, teve um
comportamento muito severo diante da anulação do divórcio que os Bispos haviam
concedido a Filipe Augusto da França, por causa de suas convicções em relação
ao casamento. Envolto em problemas internos decorrentes de suas próprias
decisões, sentiu-se desconfortável no Trono de São Pedro, mas os Cardeais
desaprovaram a sua tentativa de abdicar para, dessa forma, indicar um seu
sucessor. Aprovou a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, cujo fim era defender os
peregrinos da Terra Santa e defendeu a indissolubilidade do matrimônio. Morreu
em 8 de janeiro, em Roma.
A Ordem
dos Cavaleiros Teutônicos de Santa Maria de Jerusalém, conhecida apenas como
Ordem Teutónica, foi uma ordem militar cruzada vinculada à Igreja Católica por votos
religiosos pelo Papa Clemente III. Foi formada no ano de 1190, em São João de
Acre, no Reino de Jerusalém, para auxiliar os germânicos feridos nas Cruzadas. Os
seus membros usavam sobrevestes brancas com uma cruz negra e tinham por norte o
lema: Ajudar, defender, curar. Tiveram a sua sede em Acre, uma fortaleza
construída nos tempos do Reino de Jerusalém (1099-1291), durante as Cruzadas,
cujos vestígios se conservam no norte de Israel. A Ordem Teutónica, ao lado da
Ordem dos Templários e da Ordem dos Hospitalários, foi uma das mais poderosas e
influentes da Europa. A maioria dos seus membros pertencia à nobreza, inclusive
a família real prussiana. Os soberanos e a nobreza dos estados antecessores à
atual Alemanha, inclusive a família soberana do Império Alemão (1871-1918) e do
Reino da Prússia (1525-1947), os Hohenzollern, eram membros da ordem.
177º
- Inocêncio III - 1198 - 1216
O Papa
Inocêncio III, nascido Lottario dei Conti di Segni, isto é, Lotário dos Condes
de Segni ou Lotário Conti (Anagni, 1160/1161 — Perúgia, 16 de julho de 1216),
foi Papa da Igreja Católica de 22 de fevereiro de 1198 até a data da sua morte.
Lotário nasceu na família nobre dos Condes de Segni, feudo localizado nos
Estados Papais, e estudou nas mais importantes universidades de sua época:
teologia na Universidade de Paris e direito na Universidade de Bolonha. Aos
vinte e um anos tornou-se um Clérigo importante em Roma, e escreveu dois livros
notáveis: De Miseria Condicionis Humane (“Sobre a miséria da condição humana”)
e De missarum mysteriis (“Sobre o mistério da missa”). Sendo considerado jovem,
forte, erudito, inteligente e hábil foi eleito Papa em 1198, com apenas trinta
e sete ou trinta e oito anos de idade. O século XIII foi uma fase privilegiada
da história da Igreja, marcada por cinco personagens de grande vulto: o Papa
Inocêncio III (1198-1216), o rei São Luís da França (1226-70), o teólogo doutor
São Tomás de Aquino (1225-1274), e dois frades: São Francisco de Assis
(1181-1226) e São Domingos de Gusmão 1170-1234). O pontificado de Inocêncio
III, foi o mais bem sucedido da Idade Média. Lotário de Segnei era filho de
família nobre da Itália, nascido em 1161 e dotado de muito talento. Estudou em
Roma e Bolonha Teologia, Filosofia e Direito. Seu tio Clemente III nomeou-o
Cardeal-diácono em 1189. Afastou-se, porém, dos negócios públicos da Igreja
para se dedicar à reflexão; donde resultaram diversas obras, principalmente de
ascética; sobressai o seu tratado “Sobre o Sagrado Mistério do Altar”. Aos 37
anos de idade foi unanimemente eleito Papa. No dia dos funerais de seu
antecessor Celestino III, foi arrancado do seu recolhimento pelos seus
admiradores. Era o membro mais jovem do colégio Cardinalício. A eleição unânime
e tão rápida era testemunho da confiança que nele depositavam o Clero e os
fiéis. Sendo apenas diácono, e ordenado presbítero aos 21/02 e sagrado Bispo de
Roma (Papa) aos 22/02. Embora a sua idade juvenil surpreendesse a muitos,
Inocêncio revelou o entusiasmo, a energia e a capacidade de trabalho da
juventude assim como a prudência, a sabedoria, a ciência teológica e jurídica
de experimentado homem da Igreja. As circunstâncias em que assumia o governo da
Igreja, eram difíceis; a disciplina interior e a ortodoxia eram abaladas pelos
cátaros ou albigenses dualistas; os Imperadores germânicos ameaçavam a
liberdade da Igreja e o Patrimônio de São Pedro, pois desejavam cercar Roma
pelo Norte e pelo Sul (tinham um ponto de apoio na Sicília); a Terra Santa era
ocupada pelos muçulmanos. Inocêncio soube lutar com justiça e dignidade,
levando ao auge a obra concebida por Gregório VII em prol da liberdade da
Igreja. Estava convencido de que a principal condição para a liberdade da
Igreja era emancipá-la do poder imperial. Ora o Imperador Henrique VI morreu em
1198, ano da eleição do Papa; redigia um testamento que fazia grandes
concessões ao Papa, a fim de obter para seu filhinho Frederico II Rogério,
nascido em 1194, a coroa Imperial e o título de rei da Sicília. Logo após a
morte do Imperador, Constança, a Imperatriz viúva, renunciou a muitos direitos
sobre a Igreja, que Henrique e seus antecessores tinham reivindicado para si; a
Imperatriz e seu filhinho se reconheciam vassalos do Papa. Ao morrer, em
novembro de 1198, Constança pediu a Inocêncio que assumisse a tutela e a
regência sobre seu filho Frederico até a maioridade deste; Inocêncio então
seria o administrador do reino da Sicília (que pertencia aos Imperadores
germânicos); por dez anos, o Papa administrou as funções assim confiadas para o
bem do Príncipe, com sabedoria e desprendimento; o próprio Frederico, declarado
de maioridade por Inocêncio aos 14 anos em 1208, proclamou ser o Papa seu
protetor e benfeitor, embora mais tarde este monarca se revelasse pouco fiel ao
Papa e às suas diretrizes. Já estes fatos asseguravam a Inocêncio uma posição
temporal nunca vista anteriormente.
Na
Alemanha, por exemplo, o partido dos Staufen – com seu pretendente Filipe da
Suábia – e o partido dos Guelfos – com seu candidato Oto de Braunschweig
disputavam entre si o Trono Real. Solicitado para fazer a arbitragem, o Papa
preferiu deixar que os interessados se entendessem entre si. Após três anos,
porém, resolveu intervir dando razão a Oto, que se tornou o rei dos germanos;
infelizmente, porém, este monarca não cumpriu seus propósitos de respeito à
Igreja; pelo que foi excomungado em 1210. Os Príncipes alemães, então,
abandonaram Oto e aclamaram Frederico II como rei; Inocêncio deixou partir para
a Alemanha o seu antigo pupilo, que também não manteve promessas feitas ao
Pontífice a respeito dos direitos da Igreja. Na Inglaterra, de 1199 a 1216
reinou João sem Terra, senhor ambicioso. Em 1207 recusou-se a reconhecer o novo
Bispo de Cantuária, Estêvão Langton, eleito por recomendação do Papa. Já que as
admoestações ficavam sem resultado, Inocêncio lançou um interdito sobre a
Inglaterra (1208); o rei revidou com violência contra igrejas e clérigos; por
isto foi excomungado (1209) e deposto do Trono em 1212; João, por prudência,
resolveu submeter-se ao Papa; em 1213 prometeu reparar os males cometidos e
reconhecer Estêvão Langton. Mais: colocou a Inglaterra e a Irlanda sob a
proteção do Papa, na qualidade de feudos. Em consequência, foi absolvido da
excomunhão em 1213, ao passo que o interdito só foi levantado em 1214 por causa
de dificuldades na restituição dos bens usurpados. Por essa ocasião, Eclesiásticos
e leigos da Inglaterra se reuniram para proclamar uma série de reivindicações,
que restringiam o poder do rei na administração dos feudos e garantiam maior
liberdade aos cidadãos. Tal é a famosa Magna Charta Libertatum, que constava de
63 artigos e se tornou um dos primeiros modelos de Constituições democráticas. Com
a França Inocêncio teve que usar de energia, não por motivos políticos, mas
para defender a moral cristã. O rei Filipe Augusto (1180-1223) tinha esposado a
Princesa Ingeburga, que, depois do casamento, ele repudiou em favor da Condessa
Inês de Merano (alemã) já que o rei não se rendia às admoestações Pontifícias;
Inocêncio lançou o interdito sobre o reino da França (1200). Em consequência,
Filipe em 1203 reassumiu Ingeburga como esposa e rainha, mas só depois que Inês
morreu (em 1201) e após muito relutar contra o cumprimento de sua promessa. Com
os reis Pedro II da Aragônia (Espanha) e Afonso IX de Leão (Espanha) o Papa
também teve divergências por motivos matrimoniais: Pedro II queria separar-se
de sua legítima esposa, Maria de Montpellier, e Afonso IX queria casar-se com
uma sobrinha sua. Por fim, Pedro II acabou reconhecendo-se vassalo do Papa,
como João sem Terra. Ao rei Sancho I de Portugal (1185-1211) Inocêncio infligiu
a excomunhão por ter violado a liberdade da Igreja. Ainda mais: com os soberanos
da Boêmia, da Bulgária, da Sérbia, da Hungria, da Albânia, da Polônia, da
Suécia, da Dinamarca, o Pontífice teve relacionamento mais ou menos intenso,
que visava a garantir a liberdade da Igreja, a boa disciplina do Clero e dos
fiéis naqueles países; combateu os abusos tanto dos grandes como dos pequenos
com igual destemor. Até o Oriente foi objeto dos cuidados de Inocêncio. A
quarta cruzada foi essencialmente obra deste Papa; erigiu, com sede em
Constantinopla, um Império e um Patriarcado latinos no Oriente em 1204.
Digno
fecho do Pontificado de Inocêncio III foi o Concílio do Latrão IV, reunido em
três sessões aos 11, 20 e 30 de novembro de 1215. Foi o maior e mais imponente
Concílio da idade Média, frequentado por mais de 1200 prelados (412 Bispos, 800
Abades e Priores grande número de representantes de Bispos e de capítulos catedrais)
e por quase todos os Príncipes cristãos (Frederico II, Henrique imperador
latino de Constantinopla, os reis da França, da Inglaterra, de Jerusalém, de
Aragão, da Hungria). Tinha em vista tríplice finalidade: condenar as heresias
(especialmente a cátara), sanar e favorecer a disciplina eclesiástica e
promover nova expedição contra os turcos. Inocêncio abriu o Concílio em famosa
oração, na qual parafraseava as palavras de Lc 22,15: dizia quanto desejara
celebrar essa Páscoa antes de morrer, a fim de realizar um tríplice trânsito (=
Páscoa): corporal ou local, do Ocidente para o Oriente (a fim de libertar
Jerusalém); espiritual, do estado dos vícios ao das virtudes, ou seja, a
reforma da disciplina da Igreja; eterno, da vida temporal para a vida eterna e
bem-aventurada. Este Concílio baixou decretos importantes na vida da Igreja:
comungar ao menos na Páscoa da Ressurreição (os medievais eram certamente muito
devotos, mas, por motivo de respeito ao “tremendo mistério” da Eucaristia,
pouco se aproximavam da Comunhão); confessar-se ao menos uma vez por ano;
legislação precisa sobre o hábito clerical e a pobreza dos monges, sobre o rito
do casamento, tido como algo muito santo. Foi o Concílio do Latrão IV que, pela
primeira vez, usou o termo “transubstanciação” na linguagem oficial da Igreja,
para designar teologicamente algo que desde o século I estava na crença dos
cristãos: a conversão do pão e do vinho no corpo e sangue do Senhor (cf. Jo
6,51-58; lcor 11,23-29; Mt 26,26-29 par.) Pouco depois do Concílio, Inocêncio
III, de viagem para a Lombardia, foi colhido por febre maligna, que o vitimou
em 16 de julho de 1216.
O Pontificado
de Inocêncio III representa o apogeu do Papado na Idade Média; muitas das suas
manifestações não seriam entendidas em nossos dias, nem podem ser reproduzidas,
mas hão de ser consideradas no contexto da respectiva época, que tendia a
realizar o ideal da Cidade de Deus mediante a estreita colaboração do Papado e
do Império sob a hegemonia daquele. Pela primeira vez na história, o Papa, na
pessoa de Inocêncio III se denominou “Vigário
de Deus” na terra. Até então os Pontífices Romanos se haviam designado
“vigários de Pedro”; este último título não se encontra na coleção de Bulas de
Inocêncio III. O clero espontaneamente recorria a Inocêncio para resolver
problemas administrativos ou pastorais. Assim dava-se uma centralização
progressiva do governo da Igreja, que na época podia acarretar inconvenientes,
pois havia dificuldades de comunicação e a Cúria Romana estava ainda em fase de
organização e, portanto, de trabalho lento. Perante os soberanos deste mundo, o
Papa era o “representante de Cristo, ou seja, do Rei dos reis e Senhor dos senhores”
(cf. Ap 19,16); mais de vinte vezes ocorre esta fórmula nos documentos do
Pontífice. Daí se seguia que o poder do Império devia estar subordinado ao
Sacerdócio, ao menos no foro ético ou na medida em que o comportamento do
Imperador estava sujeito às normas da moralidade. A Igreja seria o “luzeiro
maior”, que ilumina o dia, ao passo que o Estado seria o “luzeiro menor”, que
ilumina a noite (cf. Gn 1,16). Por isto Inocêncio chegava a dizer que é o Papa
quem confere e tira as coroas dos soberanos. Estas ideias não deixaram de
suscitar protestos mesmo na sua época; assim os partidários de Filipe da Suábia
(os Staufen) reclamavam contra a intervenção pontifícia na eleição do rei da
Alemanha, afirmando a separação nítida do Sacerdócio e do Império. Inocêncio
podia ignorar esses protestos, pois o século XIII acariciava, apesar de tudo, o
ideal da teocracia (ou do regime de Deus). Em breve, o ambiente estaria mudado,
pois, quando Bonifácio VIII (1294-1303) quis repetir as dizeres e as atitudes
de Inocêncio III perante Filipe IV o Belo da França, foi desrespeitado e perseguido
pelo monarca. Embora exercesse função de grande autoridade, Inocêncio III
cultivou as virtudes, entre as quais a simplicidade e a pobreza pessoal: cortou
gastos inúteis, dispensou a maioria dos porteiros e servidores que o cercavam,
a fim de que três vezes por semana qualquer pessoa o pudesse abordar;
substituiu vasos e talheres de metal por outros de vidro e madeira; refreou a
avareza e a ambição dos cortesões, que procuravam gorjetas no exercício de suas
funções. Foi também o amigo dos frades mendicantes, especialmente de S.
Francisco de Assis, que “esposara a Dama Pobreza” e cuja Regra Inocêncio III
aprovou oralmente. O vulto deste Pontífice merece a reverência dos pósteros,
embora tenha sido fortemente criticado por haver sido aparentemente a antítese
do “Poverello de Assis”.
177
. 1 - Sâo Domingos de Gusmão
São
Domingos de Gusmão (Caleruega, Reino de Castela, 24 de Junho de 1170 — Bolonha,
6 de Agosto de 1221) foi um frade e Santo católico fundador da Ordem dos
Pregadores, cujos membros são conhecidos como Frades Dominicanos. Filho de
Joana de Aza e Félix de Gusmão, Domingos nasceu na zona de fronteira do Reino
de Castela. Seus pais pertenciam à pequena nobreza guerreira, encarregada de
assegurar as praças militares da fronteira com o sul dominado ainda pelos
muçulmanos. Domingos, que teve desde cedo inclinação para a vida religiosa, vai
em 1189 estudar em Palência, tornando-se membro do cabido da sua diocese natal,
Osma, em 1196, após a conclusão dos estudos. Em 1203, o rei de Castela solicita
ao Bispo de Osma que negocie e traga uma Princesa da Dinamarca para se tornar
esposa do seu filho. Domingos, então, partiu como companheiro de viagem de seu
Bispo, Diogo. Durante a viagem, Domingos ficou para sempre impressionado com o
desconhecimento da doutrina cristã dos povos da Europa do norte,
tornando-se-lhe evidente a necessidade de evangelizar aqueles povos, em
especial os Cumanos. Em 1205, Domingos e Diogo, para conclusão do objetivo
inicial, realizaram nova missão ao norte da Europa, tendo também efetuado uma
peregrinação a Roma e a Cister. No sul da França, junto a Montpellier,
encontraram legados do Papa que pregavam contra as heresias dos Albigenses, ou
Cátaros. Esse grupo afirmava que dois princípios dividiam o Universo: o
princípio bom, espiritual, e o princípio mau, material. O homem era a junção
dos dois princípios, um anjo aprisionado num corpo. O dever do homem seria
aproximar-se da verdade tendo como fator mediante a razão. De 1119, quando a
heresia foi condenada no Concílio de Toulouse, até 1179, Roma contentou-se em
enviar pregadores para a região, sem obter muito sucesso. Somente em 1209, após
campanha militar de 20 anos, iniciada pela Igreja Católica, foram os cátaros
quase que totalmente eliminados. Diogo e Domingos, perante a evidência das
dificuldades sentidas na missão dos legados Papais, convencem-nos a adotar uma
estratégia de simplicidade ao estilo apostólico e mendicante, pois que os
legados, até aí, deslocavam-se com grande pompa, criados e riquezas. Os legados
deixam-se convencer, despachando para casa tudo o que fosse supérfluo, na
condição de que Diogo e Domingos os acompanhassem e os dirigissem na missão,
que esses fizeram. O Papa Inocêncio III, descobrindo virtudes nessa nova forma
de pregação, aprova-a e manda Diogo e Domingos para a “Santa pregação”. Diogo,
sendo Bispo, por razão das suas responsabilidades e não podendo ficar muito
mais tempo naquela região, regressou à sua diocese, falecendo pouco tempo
depois. Domingos continuou na região, muitas vezes sozinho.
Em 1206,
um grupo de mulheres convertidas do catarismo por Domingos pede-lhe apoio e ele
encontra uma casa para elas morarem em Prouille, dá-lhes uma regra de vida
simples, de oração e reclusão, no que veio a ser a primeira comunidade
religiosa dominicana de monjas de clausura. Domingos encarava essa comunidade
como “ponto de apoio à Santa pregação”, pois que aquelas religiosas, por
intermédio da oração, seriam o apoio dos pregadores. Em 1208, encontra-se
completamente sozinho na missão de pregar pelas localidades do sul de França.
Em 1210, está na região de Toulouse, palco de violentos combates entre senhores
feudais e heréticos cátaros. Em 1214, está em Carcassonne onde assiste a duras
batalhas entre as duas partes e onde começa a juntar-se um pequeno grupo de
companheiros que com ele adotam a vida de pregadores itinerantes. No mesmo ano,
torna-se Pároco de Fanjeaux, localidade junto a Prouille e à sua comunidade
feminina. Em 1215, em Toulouse, adota uma regra de vida para a sua comunidade
de pregadores, obtendo a aprovação do Bispo local. No entanto, seu objetivo era
criar uma ordem religiosa que não ficasse restrita a um local, a uma diocese,
mas sim que tivesse um mandato geral, por forma a poder atuar em todos os
territórios onde fosse necessária a evangelização. Dirige-se nesse mesmo ano a
Roma, onde decorria o Concílio de Latrão, por forma a obter o reconhecimento da
sua Ordem. No entanto, o concílio, perante tantos e diferentes novos movimentos
que surgiram um pouco por todo lado, e por forma a evitar a anarquia, decide
proibir que sejam aceites novas ordens religiosas. Aconselhado pelo Papa, e de
regresso a Toulouse, Domingos e os seus companheiros estudam as várias Regras
de vida religiosa já existentes e optam pela Regra de Santo Agostinho.
Entretanto, o Papa Inocêncio III morre e Honório III torna-se Papa, sendo um
admirador e amigo de Domingos e dos seus pregadores. Em 1216, Domingos volta a
Roma com a sua Regra e a seu pedido, o Papa pede à Universidade de Paris o
envio para Toulouse de alguns professores destinados ao ensino e à pregação.
Entretanto, o Papa confirma a regra da Ordem dos Pregadores como religiosos
“totalmente dedicados ao anúncio da Palavra de Deus”. Logo após o
reconhecimento da Ordem, Domingos envia os seus primeiros discípulos, dois a
dois, a fundar novas comunidades em Paris, Bolonha, Roma e a Espanha. Domingos
acreditava que apenas o estudo profundo da Bíblia poderia dar os meios
necessários para uma pregação eficaz. Assim, envia os seus irmãos para as
principais cidades universitárias do seu tempo, por forma a não só adquirem os
conhecimentos necessários, como para agirem e recrutarem novos membros entre as
camadas estudantis e intelectuais do seu tempo.
177
. 2 - Aparição de Nossa Senhora em Prouile – França - Nossa Senhora do Rosário
Nossa
Senhora do Rosário ou do Santíssimo Rosário é um título atribuído a Nossa
Senhora devido a sua aparição à São Domingos de Gusmão em 1214 na Igreja do
Mosteiro de Prouille, no qual a Mãe de Jesus entrega o rosário ao frei
dominicano. O Frei Domingos de Gusmão passava por momentos difíceis e em uma de
suas orações e momentos de penitência em reparação aos pecados dos homens, na
cidade de Toulouse na França, quase sem forças após ter ficados três dias e
três noites sem comer, para aplacar a cólera divina, a Virgem Maria lhe parece.
Com uma voz materna e delicada diz: Sabes tu, meu querido Domingos,
de que arma se serviu a Santíssima Trindade para reformar o mundo? E Domingos lhe responde: Vós o
sabeis melhor que eu, porque depois de vosso Filho, Jesus Cristo, fostes o
principal instrumento de nossa Salvação. E Nossa Senhora lhe responde: Sabei que
a peça principal da bateria foi a saudação angélica, que é o fundamento do Novo
Testamento; e, portanto, se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos,
reza o meu saltério. Após
a aparição mariana, São Domingos de Gusmão entrou na Catedral de Toulouse para
reunir e falar com os fiéis, de repente os sinos começaram a tocar sem nenhuma
intervenção humana. Quando São Domingos começou a pregar houve uma forte ventania,
tremor de terra, o sol velou-se e o céu foi cortado por raios. Uma imagem de
Nossa Senhora levantou três vezes os braços pedindo justiça à Deus para aqueles
que não recorressem a Ele ou não se arrependessem de seus pecados. São Domingos
imediatamente começou a rezar o Santo Rosário, e por fim, cessou a tormenta.
Após o ocorrido, São Domingos pôde continuar o seu sermão tranquilamente e o
fez com tal zelo e ardor nas palavras que os habitantes da cidade abraçaram a
devoção ao Rosário da Virgem da Maria. Em pouco tempo, observou-se que a
população da cidade se converteu à fé, deixando as práticas de pecado de lado.
São Domingos, após a aparição e ter recebido das mãos de Nossa Senhora o Santo
Rosário, tornou-se ele próprio o grande propagador dessa devoção por volta do
século XIII. A Igreja lhe conferiu o título de “Apóstolo do Santo Rosário”.
Isso serviu para combater os hereges que desafiavam a Igreja Católica e que
cresciam em toda a França. Em 1218 Domingos está em Roma, a visitar as novas
casas, dirigindo-se depois para a Península Ibérica onde um dos seus primeiros
companheiros, o português Soeiro Gomes tinha fundado algumas casas. No
principio de 1219, Domingos vai a Paris e posteriormente volta a Itália. Em
1220 reune em Bolonha o primeiro Capítulo da Ordem, fazendo-se algumas
alteração às respectivas constituições canônicas, estando presentes dezenas de
frades vindos de muitos pontos distantes da Europa. É adotado o modelo de
governo democrático, pelo qual todos os superiores de casas são eleitos por
todos os membros da comunidade. Em 1221 funda em Roma o convento de monjas de
São Sisto e realiza o segundo Capítulo da Ordem no qual esta passou a estar
organizada em províncias. O modelo democrático estende-se a toda a Ordem,
mediante o qual para cada Capítulo Geral participam por direito os Priores
Provinciais e delegados eleitos por todas as comunidades, sendo que o
Mestre-geral da Ordem dos Pregadores é também eleito. São enviados irmãos
pregadores para Inglaterra, Escandinávia, Polônia, Hungria e Alemanha. Completamente
desgastado pelo esforço, morre em 6 de Agosto em Bolonha. É canonizado em 1234.
177
. 3 - São Francisco de Assis
São
Francisco de Assis nasceu em Assis, Itália, em 1182. Era filho de Pedro
Bernardone, um rico comerciante, e Pia, de família nobre da Provença. Na juventude, Francisco era muito rico e
esbanjava dinheiro com ostentações. Porém, os negócios de seu pai não lhe
despertaram interesse, muito menos os estudos. O que ele queria mesmo era se
divertir. Porém, São Boaventura, seu contemporâneo, escreveu sobre ele: “Mas,
com o auxílio divino, jamais se deixou levar pelo ardor das paixões que
dominavam os jovens de sua companhia”. Na juventude de Francisco, por volta de
seus vinte anos, uma guerra começou entre as cidades italianas chamadas Perugia
e Assis. Ele queria combater em Espoleto, entre Assis e Roma, mas caiu enfermo.
Durante a doença, Francisco ouviu uma voz sobrenatural: “Francisco,
o que é mais importante, servir ao Senhor ou servir ao servo?” Servir ao Senhor, é claro.
Respondeu o jovem. “Então, por que te alistas nas fileiras do
servo?” Senhor, o que
quereis que eu faça? “Volta a Assis e ali te será dito, diz a Voz”.
Pouco a
pouco, com muita oração, Francisco sentiu em seu coração a necessidade de
vender seus bens e “comprar a pérola preciosa” sobre a qual ele lera no
Evangelho. Certa vez, ao encontrar um leproso, apesar da repulsa natural,
venceu sua vontade e beijou o doente. Foi um gesto movido pelo Espírito Santo.
A partir desse momento, ele passou a fazer visitas e a servir aos doentes que
sem encontravam nos hospitais. Aos pobres, presenteava com suas próprias roupas
e também com o dinheiro que tivesse no momento.
Num dia
simples, mas muito especial, num momento em que Francisco rezava sozinho na
Igreja de São Damião, em Assis, ele sentiu que o crucifixo falava com ele, repetindo
por três vezes a frase que ficou famosa: “Francisco, repara minha casa,
pois olhas que está em ruínas”. O Santo vendeu tudo o que tinha e levou o dinheiro ao padre da Igreja de
São Damião, e pediu permissão para viver com ele. Francisco tinha vinte e cinco
anos. Pedro Bernardone, ao saber o que seu filho tinha feito, foi buscá-lo
indignado, levou-o para casa, bateu nele e acorrentou-o pelos pés. A mãe,
porém, o libertou na ausência do marido, e o jovem retornou a São Damião. Seu
pai foi de novo buscá-lo, mandou que ele voltasse para casa ou que renunciasse
à sua herança. Francisco então renunciou a toda a herança e disse: “As roupas
que levo pertencem também a meu pai, tenho que devolvê-las”. Em seguida se
desnudou e entregou suas roupas a seu pai, dizendo-lhe: “Até agora tu tem sido
meu pai na terra, mas agora poderei dizer: ‘Pai nosso, que estais nos céus”. Para
reparar a Igreja de São Damião, Francisco pedia esmola em Assis. Terminado esse
trabalho, começou reformar a Igreja de São Pedro. Depois, ele retirou-se para
morar numa capela com o nome de Porciúncula. Ela fazia parte da abadia de Monte
Subasio, cuidada pelos beneditinos. Ali o céu lhe mostrou o que realmente
esperava dele. O trecho do Evangelho da Missa daquele dia dizia: “Ide a pregar,
dizendo: o Reino de Deus tinha chegado. Dai gratuitamente o que haveis recebido
gratuitamente. Não possuas ouro, nem duas túnicas, nem sandálias…” A estas
palavras, Francisco tirou suas sandálias, seu cinturão e ficou somente com a
túnica.
Milagres de São Francisco de Assis
Deus lhe
concedeu o dom da Profecia e o dos milagres. Quando Francisco pedia esmolas com
o fim de restaurar a Igreja de São Damião, ele dizia: “Um dia haverá ali um
convento de religiosas, em cujo nome se glorificará o Senhor e a Igreja.” A Profecia
se confirmou cinco anos depois com Santa Clara e suas religiosas(Clarissas). Ao
curar, com um beijo, o câncer que havia desfigurado o rosto de um homem, São
Boaventura comentou com São Francisco de Assis: “Não se há que admirar mais o
beijo do que o milagre?”
Fundação da Ordem dos Frades Menores
(O.F.M.)
Francisco
começou a anunciar a verdade, no ardor do Espírito de Cristo. Convidou outros a
se associarem a ele na busca da perfeita santidade, insistindo para que
levassem uma vida de penitência. Alguns começaram a praticar a penitência e em
seguida se associaram a ele, partilhando a mesma vida. O humilde São Francisco
de Assis decidiu que eles se chamariam Frades Menores. Surgiram assim os
primeiros 12 discípulos que, segundo registram alguns documentos, “foram homens
de tão grande santidade que, desde os Apóstolos até hoje, não viu o mundo
homens tão maravilhosos e Santos”. O próprio Francisco disse em testamento:
“Aqueles que vinham abraçar esta vida, distribuíam aos pobres tudo o que
tinham. Contentavam-se só com uma túnica, uma corda e um par de calções, e não
queriam mais nada”. Os novos apóstolos reuniram-se em torno da pequena igreja
da Porciúncula, ou Santa Maria dos Anjos, que passou a ser o berço da Ordem.
A nova ordem religiosa de São
Francisco de Assis
Em 1210,
quando o grupo contava com doze membros, São Francisco de Assis redigiu uma regra
pequena e informal. Esta regra era, na sua maioria, os conselhos de Jesus para
que possamos alcançar a perfeição. Com ela foram a Roma apresentá-la ao Sumo
Pontífice. Lá, porém, relutavam em aprovar a nova comunidade. Eles achavam que
o ideal de Francisco era muito rígido a respeito da pobreza. Por fim, porém, um
Cardeal afirmou: “Não podemos proibir que vivam como Cristo mandou no Evangelho”.
Receberam a aprovação e voltaram a Assis, vivendo na pobreza, em oração, em Santa
alegria e grande fraternidade, junto a Igreja da Porciúncula. Mais tarde,
Inocêncio III mandou chamar São Francisco de Assis e aprovou a regra verbalmente.
Logo em seguida o Papa impôs a eles o corte dos cabelos, e lhes enviou em missão
de pregarem a penitência. São Francisco de Assis manifestava seu amor a Deus
por uma alegria imensa, que se expressava muitas vezes em cânticos ardorosos. A
quem lhe perguntava qual a razão de tal alegria, respondia que “ela deriva da
pureza do coração e da constância na oração”. A Santidade de São Francisco de
Assis lhe angariou muitos discípulos e atraiu também uma jovem, filha do Conde
de Sasso Rosso, Clara, de 17 anos. Desde o momento em que o ouviu pregar,
compreendeu que a vida que ele indicava era a que Deus queria para ela.
Francisco tornou-se seu guia e pai espiritual. Nascia assim a Ordem Segunda dos
Franciscanos, a das Clarissas. Depois, Inês, irmã de Clara, a seguia no
claustro; mais tarde uma terceira, Beatriz se juntou a elas.
Sabedoria divina
Certa
vez, São Francisco de Assis, sentindo-se fortemente tentado pela impureza,
deitou-se sem roupas sobre a neve. Outra vez, num momento de tentação ainda
mais violenta, ele rolou sobre espinhos para não pecar e vencer suas
inclinações carnais. Sua humildade não consistia simplesmente no desprezo
sentimental de si mesmo, mas na convicção de que “ante os olhos de Deus o homem
vale pelo que é e não mais”. Considerando-se indigno do Sacerdócio, São
Francisco de Assis apenas chegou a receber o diaconato. Detestava de todo
coração o exibicionismo. Uma vez contaram-lhe que um dos irmãos amava tanto o
silêncio que até quando ia se confessar fazia-o por sinais. São Francisco
respondeu desgostoso: “Isso não procede do Espírito de Deus, mas sim do
demônio; é uma tentação e não um ato de virtude”. Francisco tinha o dom da Sabedoria.
Certa vez, um frade lhe pediu permissão para estudar. Francisco respondeu que,
se o frade repetisse com amor e devoção a oração “Glória ao Pai”, se tornaria
sábio aos olhos de Deus. Ele mesmo, Francisco, era um grande exemplo da Sabedoria
dessa maneira adquirida. A proximidade de Francisco com a natureza sempre foi a
faceta mais conhecida deste Santo. Seu amor universalista abrangia toda a
Criação, e simbolizava um retorno a um estado de inocência, como Adão e Eva no
Jardim do Éden.
Os estigmas de São Francisco de Assis
Dois
anos antes de sua morte, tendo Francisco ido ao Monte Alverne em companhia de
alguns de seus frades mais íntimos, pôs-se em oração fervorosa e foi objeto de
uma graça insigne. Na figura de um serafim de seis asas apareceu-lhe Nosso
Senhor crucificado que, depois de entreter-se com ele em doce colóquio, partiu
deixando-lhe impressos no corpo os sagrados estigmas da Paixão. Assim, esse
discípulo de Cristo, que tanto desejara assemelhar-se a Ele, obteve mais este
traço de similitude com o Divino Salvador.
Devoção a São Francisco de Assis
No verão
de 1225, Francisco esteve tão enfermo, que o Cardeal Ugolino e o irmão Elias o
levaram ao médico do Papa, em Rieti. São Francisco de Assis perguntou a verdade
e lhe dissessem que lhe restava apenas umas semanas de vida. “Bem vinda, irmã
Morte!”, exclamou o Santo. Em seguida pediu para ser levado à Porciúncula.
Morreu no dia três de outubro de 1226, com menos de 45 anos, depois de escutar
a leitura da Paixão do Senhor. Ele queria ser sepultado no cemitério dos
criminosos, mas seus irmãos o levaram em solene procissão à Igreja de São
Jorge, em Assis. Ali esteve depositado até dois anos depois da canonização. Em
1230, foi secretamente trasladado à grande Basílica construída pelo irmão
Elias. Ele foi canonizado apenas dois anos depois da morte, em 1228, pelo Papa
Gregório IX. Sua festa é celebrada em 04 de outubro.
Oração
São Francisco de Assis
Esta
oração não foi composta por São Francisco, mas muitas destas frases estão em
seus escritos, onde o Espírito Santo, com o tempo, as separou e ordenou desta
forma através dos Franciscanos. O autor é portanto o Espírito Santo Paráclito.
Senhor, fazei-me instrumento de
vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu
leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida,
que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver
desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a
alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, Fazei que eu procure
mais consolar, que ser consolado; Compreender, que ser compreendido; Amar, que
ser amado.
Pois, é dando que se recebe, É
perdoando que se é perdoado, E é morrendo que se vive para a vida eterna.
O encontro com o Sultão maometano
Escrito
por São Boaventura: No sexto ano depois de sua conversão, ardendo de desejo de
martírio, resolveu ir à Síria pregar a fé cristã e a penitência aos sarracenos
e a outros infiéis. Mas o navio que o conduzia foi arrastado pelos ventos
contrários para as costas da Eslavônia. Aí ficou algum tempo sem encontrar
navio com destino ao Oriente. Entendeu que lhe era recusado o que desejava. E
como alguns marinheiros se preparavam para ir à Ancona, pediu para embarcar por
amor de Deus. Mas como não tivessem com que pagar, os marinheiros nem quiseram
ouvi-lo e o homem de Deus, entregando-se inteiramente nas mãos de Deus,
introduziu-se sub-repticiamente no navio com seu companheiro. Entretanto, um
homem certamente enviado por Deus para socorrer o pobre Francisco chegou
trazendo víveres, chamou um os marujos, homem temente a Deus, e lhe disse:
“Guarda com todo cuidado estas provisões para os pobres Irmãos que estão escondidos
no navio; tem a bondade de lhes entregar de minha parte quando tiverem
necessidade”. Os ventos sopravam com tal violência que os dias passaram sem que
fosse possível abicar em parte alguma; os marujos estavam no fim das provisões;
sobravam apenas as esmolas graciosamente oferecidas pelo céu ao pobre
Francisco. Eram muito modestas, mas o poder de Deus as multiplicou de tal forma
e em tanta quantidade que, apesar do atraso ocasionado pela tempestade que
continuava a castigar duramente, elas satisfizeram totalmente às necessidades
de todos até Ancona. E os marujos, vendo afastado o perigo de morte de que os
livrara o servo de Deus, deram graças ao Altíssimo onipotente, que sempre se
mostra admirável e amável nos seus amigos e servos. E com muito acerto, pois
haviam enfrentado de perto os tremendos perigos do mar e visto as admiráveis
obras de Deus nas águas profundas.
Afastou-se
do mar e começou a peregrinar pela terra espalhando a semente da salvação e
colhendo uma messe abundante de bons frutos. Mas o fruto que mais o atraía era
o martírio, o mérito de morrer por Cristo; desejava a morte por Cristo mais do
que os méritos de uma vida virtuosa, e dirigiu-se a Marrocos para anunciar o
Evangelho de Cristo ao Miramolim e seu povo e tentar assim conquistar a
suspirada palma do martírio. O desejo que o levava a tais gestos era tão
poderoso que, apesar de sua saúde precária, ia sempre à frente de seu
companheiro de caminhada, e na pressa de realizar seu plano, parecia voar,
inebriado do Espírito Santo. Havia já chegado à Espanha, mas Deus, que o queria
para outras missões, dispusera de modo diferente os acontecimentos: uma doença
bastante grave o prostrou, impedindo-o de realizar seu desejo. Não obstante a
certeza do lucro que a morte representava para ele, o homem de Deus compreendeu
ser necessário viver ainda pela família que gerara. Por isso voltou para cuidar
das ovelhas entregues à sua guarda. Mas o ardor de sua caridade o impelia ao
martírio. Pela terceira vez tentou ele partir aos países infiéis para difundir
com o derramamento de seu sangue a fé na Trindade. Aos treze anos de sua
conversão, foi às regiões da Síria, enfrentando corajosamente muitos perigos a
fim de comparecer diante do Sultão da Babilônia, pessoalmente. Uma guerra
implacável castigava cristãos e sarracenos. Os dois exércitos encontravam-se
acampados muito próximos, separados apenas por uma estreita faixa de terra, que
ninguém podia atravessar sem perigo de morte. O Sultão havia publicado um édito
cruel: todos que lhe trouxessem a cabeça de um cristão receberiam uma grande
quantia de ouro. Mas o intrépido soldado de Cristo, Francisco, julgando chegada
a ocasião de realizar seus anseios, resolveu apresentar-se diante do Sultão,
sem temer a morte, mas antes desejoso de enfrentá-la. Confortado pelo Senhor,
depois de fervorosa oração, repetia com o profeta: Ainda que eu ande por um
vale tenebroso, não temerei males, porque tu estás comigo. Tomou, pois, consigo
um companheiro chamado Iluminado, homem de inteligência e coragem. E havendo
começado a caminhar, saíram-lhe ao encontro duas mansas ovelhinhas, à vista das
quais, cheio de alegria, disse a seu companheiro: “Confiemos no Senhor, Irmão,
porque em nós se realizam hoje as palavras do Evangelho: Eis que eu vos mando
como ovelha no meio de lobos.” E tendo-se adiantado, encontraram as sentinelas
sarracenas que, quais lobos vorazes contra ovelhas, capturaram os servos de
Deus e, ameaçando-os de morte, maltrataram-nos com crueldade e desprezo, os
cobriram de injúrias e violências e os algemaram. Por fim, depois, de havê-los
infligido e atormentado de mil maneiras, a divina Providência fez com que os
levassem à presença do Sultão, realizando-se desse modo as fervorosas
aspirações de Francisco. Colocados em sua presença, perguntou-lhes aquele
bárbaro príncipe quem os havia enviado, a que vinham e como tinham conseguido
chegar a seu acampamento. Ao que respondeu o servo de Deus com intrepidez que
sua missão não procedia de nenhum homem, mas de Deus altíssimo que o enviava
para ensinar a ele e a todo o seu povo os caminhos da salvação e para
pregar-lhes as verdades de vida contidas no Evangelho. Com tanta constância e
clareza em sua mente, com tanta virtude na expressão e com tão inflamado zelo
pregou ao Sultão a existência de um só Deus em três pessoas e a de um Jesus
Cristo, Salvador de todos os homens, que claramente se viu realizar-se em
Francisco a palavras do Evangelho: Eu vos darei uma linguagem e uma sabedoria,
à qual não poderão resistir, nem contradizer todos os vossos inimigos. Admirado
o Sultão ao ver o espírito e o fervor do seráfico Pai, não apenas o ouvia com
grande satisfação, mas até insistiu com repetidas súplicas que permanecesse
algum tempo com ele. Mas o servo de Deus, iluminado pela força do alto, logo
lhe respondeu dizendo: “Se me prometeres que tu e os teus vos convertereis a
Cristo, permanecerei de muito bom grado entre vós. Mas se duvidas em abandonar
a lei impura de Maomé pela fé santíssima de Cristo, ordena imediatamente que se
faça uma grande fogueira e teus sacerdotes e eu nos lançaremos ao fogo, a ver
se deste modo compreenda a necessidade de abraçar a fé Sagrada que te anuncio.”
A esta proposta, replicou sem demora o Sultão: “Não creio que haja entre meus
sacerdotes um só que, para defender sua doutrina, se atreva a lançar-se ao fogo
nem esteja disposto a sofrer o menor tormento.” E sobrava-lhe razão para dizer
isso, pois vira que um de seus falsos sacerdotes, ancião e protervo sequaz de
sua lei, desaparecera, mal ouviu as primeiras palavras do Santo. Este
acrescentou, dirigindo-se ao Sultão: “Se em teu nome e em nome de teu povo me
prometeres abraças a religião de Cristo, com a condição que eu saia ileso da
fogueira, estou disposto a entrar eu sozinho nela. Se o fogo me consumir entre
suas chamas, atribua-se isso a meus pecados; mas se como espero, a virtude
divina me conservar ileso, reconhecereis a Cristo, virtude e sabedoria de Deus
e único Salvador de todos os homens.” A essa proposta respondeu o Sultão que
não podia aceitar esse contrato aleatório, pois temia uma sublevação popular.
Mas ofereceu-lhe numerosos e ricos presentes que o homem de Deus desprezou como
lama. Não era das riquezas do mundo que ele estava ávido, mas da salvação das
almas. O Sultão ficou ainda mais admirado ao verificar um desprezo tão grande
pelos bens deste mundo. Não obstante sua recusa ou talvez seu receio de passar
à fé cristã, rogou ao servo de Deus que levasse todos aqueles presentes e os
distribuísse aos cristãos pobres e às igrejas. Mas o Santo que tinha horror de
carregar dinheiro e não via na alma do Sultão raízes profundas da fé
verdadeira, recusou-se terminantemente a aceitar sua oferta.
Vendo
frustradas suas ânsias de martírio e conhecendo que nada adiantava seu empenho
na conversão daquele povo, resolveu Francisco, por inspiração divina, voltar
aos países cristãos. E assim, por disposição da bondade divina e pelos méritos
e virtudes do Santo, sucedeu que o amigo de Cristo procurou com todas as suas
energias morrer por ele, mas não conseguiu. Desse modo não perderia o mérito do
desejado martírio e ainda gozaria de vida para ser mais adiante assinalado com
um selo e um símbolo desse martírio. Aconteceu assim para que aquele fogo
primeiro ardesse em seu coração e mais tarde se manifestasse em sua carne.
Profecia
sobre o final dos tempos:
Pouco
antes de sua morte, convocou seus amigos e alertou-os sobre os problemas que
haviam de vir, dizendo: “Ajam com bravura, meus irmãos; ganhem coragem e
confiem no Senhor. Em breve se aproxima o tempo no qual haverão grandes provas
e aflições; perplexidades e discórdias, tanto espirituais como temporais, virão
em abundância; a caridade de muitos esfriará, enquanto a malícia dos ímpios
aumentará. Os diabos terão um poder fora do usual; a imaculada pureza de nossa
Ordem, e de outras, será tão obscurecida, que haverá bem poucos Cristãos que
obedecerão ao verdadeiro Soberano Pontífice e à Igreja Romana com corações
leais e caridade perfeita. Nos tempos dessa tribulação, um homem não
canonicamente eleito será elevado ao Pontificado, que, com sua astúcia,
empenhar-se-á em levar muitos ao erro e à morte. Então escândalos se
multiplicarão, a nossa Ordem será dividida, e muitas outras serão totalmente
destruídas, porque consentirão o erro em vez de o combater. Haverá uma tal
diversidade de opiniões e cismas entre as pessoas, os religiosos e o clero,
que, se aqueles dias não fossem abreviados, segundo as palavras do Evangelho,
até os eleitos seriam levados ao erro, se não fossem guiados, no meio de tão
grande confusão, pela imensa misericórdia de Deus. Então a nossa Regra e nosso
modo de vida serão violentamente combatidos por alguns, e provas terríveis
cairão sobre nós. Os que permanecerem fiéis receberão a coroa da vida; mas ai
dos que, confiando somente em sua Ordem, caírem em mornidão, pois não serão
capazes de suportar as tentações permitidas como teste para os eleitos. Os que
perseverarem em seu fervor e mantiverem sua virtude com amor e zelo pela
verdade sofrerão injúrias e perseguições como sendo rebeldes e cismáticos. Pois
os seus perseguidores, instigados por espíritos malignos, dirão que prestam um
grande serviço a Deus, eliminando aqueles homens pestilentos da face da Terra. Mas
o Senhor será o refúgio dos aflitos, e salvará todos que nEle confiarem. E a
fim de serem como o seu Mestre, estes, os eleitos, agirão com confiança e com
sua morte obterão para si próprios a vida eterna. Escolhendo obedecer a Deus e
não aos homens, eles não temerão nada e preferirão perecer, do que aprovar a
falsidade e a perfídia. Alguns pregadores manterão silêncio sobre a verdade, e
outros a calcarão aos pés e a negarão. A santidade de vida será desprezada até
pelos que exteriormente a professam, pois naqueles dias Nosso Senhor Jesus
Cristo lhes mandará não um verdadeiro pastor, mas um destruidor.”
177
. 4 - Santa Clara de Assis
Santa
Clara de Assis, (Chiara D'Offreducci), nasceu no ano de 1194, em Assis, Itália.
De família rica, seu pai, Favarone Scifi, era Conde. Sua mãe se chamava
Hortolana Fiuni. Clara era neta e filha de fidalgos (pessoas da classe nobre).
Sua família vivia em um palácio na cidade, tinha muitas propriedades e até um Castelo.
Clara tinha dois irmãos e duas irmãs. Suas irmãs Catarina e Beatriz, mais
tarde, iriam entrar para o convento junto com sua mãe, após esta ficar viúva.
Quando Clara tinha por volta de doze anos, sua família vai morar em Corozano e
depois vão para Perugia, refugiando-se de uma revolução. Clara desde jovem já
tinha a fama de muito religiosa e recolhida. Aos 18 anos ela fugiu com uma
amiga, Felipa de Guelfuccio, para encontrar São Francisco de Assis, na
Porciúncula, (capelinha de Santa Maria dos Anjos, onde nasceu a ordem dos
Franciscanos e a ordem de Santa Clara). Lá ela era esperada para fazer os
primeiros votos e entrar no convento dos franciscanos.
Santa Clara de Assis, uma discípula
de São Francisco de Assis
O
próprio São Francisco cortou os cabelos de Clara, sinal do voto de pobreza e
exigência para que ela pudesse ser uma religiosa. Depois da cerimônia ela foi
levada para o Mosteiro das Beneditinas. Santa Clara de Assis vendeu tudo,
inclusive seu dote para o casamento e distribui aos pobres. Era uma exigência
de São Francisco para poder entrar para a vida religiosa. A família de Santa
Clara de Assis tentou buscá-la, mas ela se recusou a voltar, mostrando para o
seu tio Monaldo os cabelos cortados. Ele, então, desistiu de levá-la. Nisso,
sua irmã Catarina, também foge para o convento aos 15 anos de idade. A família
envia novamente o Tio Monaldo para busca-la à força. Monaldo amarra a moça e
prepara-se para arrastá-la de volta para casa. Clara não suporta ver o
sofrimento da irmã e pede ao Pai Celeste que intervenha. Então a menina
amarrada ficou tão pesada que ninguém conseguia movê-la. Monaldo, então,
desistiu. Catarina entrou para o convento e recebeu o nome de Inês. Depois de
ter passado pelo convento de Santo Ângelo de Panço, São Francisco leva Clara e
suas seguidoras para o Santuário de São Damião, onde foram morar em definitivo.
Milagre
de Santa Clara de Assis: Por causa da invasão muçulmana, a região de Assis
passou necessidades. Tanto que, certa vez, as irmãs, que já eram mais de 50,
não tinham o que comer. Então a irmã cozinheira chega desesperada e diz a Santa
Clara de Assis que havia somente um pão na cozinha. Santa Clara diz a ela:
confie em Deus e divida o pão em 50 pedaços. A irmã cozinheira, mesmo sem
entender, obedece. Então, de repente, dezenas de pães aparecem na cozinha e as
irmãs conseguem se sustentar por vários dias.
Pela intercessão
de Santa Clara muitos milagres se realizaram quando ela ainda era viva e também
depois de seu falecimento. Um dos mais expressivos foi quando os sarracenos
(muçulmanos) invadiram Assis e tentaram entrar no convento das Clarissas. Santa
Clara pegou o ostensório com o Santíssimo Sacramento e disse aos invasores que
Cristo era mais forte que todos eles. Então, inexplicavelmente, todos, tomados
de grande medo, fugiram sem saquear o convento. Por isso, Santa Clara é
representada com suas vestes marrons segurando o ostensório.
Um ano
antes de Santa Clara de Assis falecer, em 11 de agosto de 1253, ela queria
muito ir a uma missa na Igreja de São Francisco (já falecido). Não tendo
condições de ir por estar doente, ela entrou em oração e conseguiu assistir
toda a celebração de sua cama em seu quarto no convento. Segundo seus relatos,
a Missa aparecia para ela como que projetada na parede de seu humilde
quarto. Santa Clara conseguiu ver e
ouvir toda a celebração sem sair de sua cama. O fato foi confirmado quando
Santa clara de Assis contou fatos acontecidos na missa, detalhando palavras do
sermão do celebrante. Mais tarde, várias pessoas que estiveram na missa confirmaram
o que Santa Clara narrou, de fato aconteceram. Assim, pelo fato de Santa clara
ter assistido a uma celebração à distância, em 14 de fevereiro de 1958, o Papa
Pio XII proclamou oficialmente Santa Clara de Assis como a padroeira da
televisão.
O legado de Santa Clara de Assis: Santa Clara de Assis é a
fundadora das Clarissas, (antes chamadas de senhoras pobres), com conventos
espalhados por vários lugares da Europa e uma espiritualidade voltada para a
pobreza, a oração e a ajuda aos mais necessitados. Ela escreveu a Regra para as
mulheres religiosas, (forma de vida), a regra de viver o mistério de Jesus
Cristo de acordo com as propostas de São Francisco de Assis. Regra depois
aprovada pela Papa. Ela foi o lado feminino dos franciscanos e as irmãs
Clarissas permanecem até hoje. Santa Clara de Assis morreu em Assis no dia 11
de agosto de 1253, aos 60 anos de idade. Um dia antes de sua morte ela recebeu
a visita do Papa Inocencio lV, que lhe entregou a Regra escrita por ela aprovada
e aplicada a todas as monjas. Na hora de sua morte ela disse: Vá segura, minha
alma, porque você tem uma boa escolha para o caminho. Vá, porque Aquele que a
criou também a Santificou. E, guardando-a sempre como uma mãe guarda o filho,
amou-a com eterno amor. E Bendito sejais Vós, Senhor que me criastes. O Papa
mandou enterrá-la na Igreja de São Jorge, onde São Francisco estava enterrado.
Em 1260 depois de construída a Basílica de Santa Clara, ao lado da Igreja de
São Jorge seu corpo foi transladado com todas as honras para lá. Sua
canonização foi oficializada pelo Papa Alexandre lV, no ano de 1255, dois anos
após sua morte. Santa Clara de Assis é representada com uma roupa marrom e
touca branca, com uma custódia com o Santíssimo Sacramento.
178º
- Honório III - 1216 - 1227
Papa da Igreja
cristã Romana nascido em Roma, eleito em 24 de julho de 1216 como sucessor de
Inocêncio III, em cujo Pontificado cuidou especialmente do aspecto disciplinar
e jurídico da eleição do Papa e dos Bispos, fixando as regras e a cerimônia, e
aprovou definitivamente as regras dos Franciscanos, dos Dominicanos e confirmou
a ordem dos Carmelitas. De origem nobre, exerceu funções de caráter
administrativo na cúria Pontifícia e tornou-se Cardeal diácono de Santa Luzia
na época do Pontificado de Celestino III. Eleito Papa já com idade avançada,
mostrou-se com um temperamento muitas vezes oposto ao de seu predecessor. Homem
sereno e bastante religioso, mas de pouca energia e autoridade e desprovido de
grandes capacidades políticas. Definiu o Liber Censorium, sobre os direitos dos
Pontífices e organizou o cerimonial para a eleição Papal. Politicamente não
impediu as ambições monárquicas de Frederico da Suábia em troca da promessa de
aplicar em seus domínios as severas Constituições eclesiásticas contra os
hereges e o compromisso de apoiar a quinta cruzada, uma nova expedição militar
à Terra Santa. Organizou, então, a quinta cruzada, com André II da Hungria, que
não alcançou os objetivos. A primeira ofensiva da quinta Cruzada (1217-1221)
tinha como objetivo capturar o porto egípcio de Damieta, o que foi conseguido
em 1219. Porém a estratégia posterior que era assegurar o controle da península
do Sinai não obteve sucesso, principalmente porque os reforços prometidos por
Frederico II, então poderoso rei da Sicília e neto de Frederico Barba-Roxa, não
chegaram, razão pela qual ele foi excomungado pelo Papa Gregório IX.
Posteriormente, Frederico II organizou uma Cruzada por sua própria conta,
marchou até a Terra Santa e, sem o apoio do Papado, conseguiu que os egípcios
devolvessem Jerusalém aos cruzados. Em termos políticos teve mais sucesso no
restante da Europa ocidental, onde apoiou o rei da Inglaterra João Sem-Terra e
obteve o apoio dos soberanos da França e de Aragão contra os albigenses.
Durante seu Pontificado favoreceu bastante as ordens mendicantes e seus frades
pregadores, permitindo-lhes o acesso às universidades francesas, e aprovou a
regra dos frades menores (1223), aos quais designou como protetor o Cardeal
Ugolino de Óstia. Aprovou em 1226 as regras dos carmelitas, formulada em
1208-1209, por Alberto de Vercelli, Patriarca latino de Jerusalém, e ainda hoje
professadas pela Ordem. O Papa morreu em Roma.
179º
- Gregório IX - 1227 - 1241
Gregório
IX (Anagni, 1145 – Roma, 22 de agosto de 1241), nascido Ugolino di Anagni. Filho
do conde de Segni e sobrinho do Papa Inocêncio III, estudou direito em Paris e
Bolonha. Feito Cardeal em 1198, tornou-se Cardeal-Bispo de Óstia em 1206. Foi
um importante incentivador dos dominicanos e dos franciscanos, tendo sido amigo
pessoal do próprio São Francisco de Assis. Organizou a Inquisição Pontifícia
com o objectivo de reprimir as heresias, com a promulgação da bula Licet ad
capiendos em 20 de abril de 1233, dirigida aos dominicanos, que passaram a
liderar o trabalho de investigação, julgamento, condenação ou absolvição dos
hereges. Canonizou S. Francisco de Assis dois anos após sua morte, também S.
Domingos de Gusmão e Santo António de Lisboa. Internamente encarregou Raimundo
de Penaforte da elaboração de uma coletânea geral de leis em 1230, que vigorou
como peça principal do direito canônico até 1918. Está sepultado na Basílica de
São Pedro, na Cidade do Vaticano. Papa fundador da Santa Inquisição, através de
sua bula papal Escommunicamus, editada após o sínodo de Toulouse (1229), a qual
decretava que todos os hereges e instigadores deveriam ser entregues aos nobres
e magistrados para o devido castigo. Formado nas universidades de Paris e
Bologna, após a ascensão de Inocêncio III ao trono papal, de quem era sobrinho,
foi sucessivamente nomeado capelão Papal, Arcebispo de São Pedro, Cardeal diácono
em Santo Eustáquio (1198) e Bispo Cardeal de Óstia e Velletri (1206). Com o Cardeal
Brancaleone foi enviado a Germânia para mediar a disputa entre Philip de Suábia
e Otto de Brunswick, que disputavam o trono germânico após a morte de Henry VI.
Por ordem do Papa os delegados livraram Philip da pena imposta pelo Papa
Celestino III por ele ter invadido os Estados Pontifícios. Embora os delegados
fossem incapazes para convencer Brunswick a deixar as reivindicações dele ao trono,
eles tiveram sucesso efetuando uma trégua entre os dois pretendentes e voltou a
Roma (1208). Após o assassinado de Philip, voltou à Alemanha (1209) para
convencer os Príncipes a reconhecerem Otto de Brunswick como rei. Depois da
morte do Papa Inocêncio III (1216), organizou a eleição do Papa Honório III
juntamente com o Cardeal Guido de Preneste. Hábil diplomata foi nomeado por
Honório III para, além de participar da organização das cruzadas, ser o
mediador principal nos conflitos regionais entre a Lombardia e Tuscia (1217),
Pisa e Gênova (1217), Milão e Cremona (1218) e entre a Bolonha e Pistóia
(1219). A pedido especial de São Francisco, Honório III o designou o protetor
da ordem em 1220. Depois da morte de Honório III (1227), o Cardeal Conrad de
Urach foi eleito a princípio, mas declinou da tiara e, então, os Cardeais o
elegeram por unanimidade no dia 19 março (1227), e ele relutantemente aceitou a
honraria, até mesmo por se considerar avançado na idade, e adotou o nome de
Gregorio IX. Os constantes conflitos com as táticas desonestas do Imperador
Frederico II, especialmente com relação ao papel deste nas Cruzadas, o levaram
a publicar a excomunhão do imperador (1228). A primeira ofensiva da quinta
Cruzada (1217-1221), organizada por Honório III, Papa em Roma (1216-1227),
tinha como objetivo capturar o porto egípcio de Damieta, o que foi conseguido
dois anos depois (1219). A estratégia posterior requeria assegurar o controle
da península do Sinai. Porém esses objetivos não foram alcançados, pois os
reforços prometidos por Frederico II não chegaram, razão pela qual ele foi
excomungado pelo Papa. Para provar para o mundo Cristão que o Papa tinha sido
precipitado em lhe impor tão grave punição, o Imperador resolveu ir para a
Terra Santa (1228), previamente pedindo a bênção Papal para o seu
empreendimento. Porém, o Papa não só negou-lhe a bênção, como justificou que um
Imperador excomungado não tinha direito para empreender uma guerra Santa, como
também liberou os cruzados do juramento de submissão. Frederico II organizou
uma Cruzada por sua própria conta, marchou até a Terra Santa e, sem o apoio do
Papado, conseguiu que os egípcios devolvessem Jerusalém aos cruzados. Ao mesmo
tempo, o Papa proclamou outra Cruzada, desta vez contra Frederico, e seguiu
atacando as possessões italianas do Imperador. Ameaçado por uma turba de
Ghibelline, o Papa fugiu primeiro a Viterbo e depois para Perugia. Sem saída, o
Imperador reconheceu a justiça de sua excomunhão e começou a dar passos para
uma reconciliação com o Papa. Depois de muitas refregas o Papa voltou à Roma de
seu refúgio em Perúgia (1228-1930), e estabeleceu um tratado com o Imperador,
por meio do qual aquela parte dos Estados Pontifícios que estavam ocupadas
através de tropas imperiais seriam restabelecidas às posses Papais e a paz foi
estabelecida entre o Papa e o Imperador. Durante um tempo o imperador ajudou o
Papa contra algumas revoltas secundárias nos Estados Pontifícios, como foi
estipulado dentro das condições de paz. Porém, logo ele começou a perturbar a
paz novamente impedindo a liberdade da Igreja na Sicília e prejudicando a
liberdade das cidades da Lombardia, um bastião forte e necessário para o
segurança dos Estados Pontificais. Com a declaração (1237) do Imperador da
intenção de unir ao império não só a Lombardia e a Tuscania, mas também o
Patrimônio de São Pedro e praticamente toda a Itália, fez o Papa novamente
excomungar o imperador (1239), reiniciando o período de desentendimentos entre
ambos, que continuou até a morte repentina do Pontífice, em Roma, com a idade
de quase cem anos, quando o exército do Imperador tomou posição e acampou
próximo à cidade. Apesar desta contínua beligerância com Frederico II, o
titular de São Pedro não descuidou das atividades cristãs da Igreja, em
especial o apoio às ordens religiosas e missionários. Entre suas muitas ações
para entidades religiosas protegeu a Ordem dos Dominicanos, aprovou os
privilégios do Camaldolese (1227), deu estatutos novos aos Carmelitas (1229),
aprovou a Ordem de Nossa Senhora de Clemência para a redenção de cativos, entre
outras, e ajudou financeiramente as ações de ordens religiosas de conversão na
Ásia e África e leste europeu e nas campanhas do Oriente Médio. No seu Papado canonizações
e o calendário de Santos foi enriquecido com alguns dos mais populares nomes do
catolicismo como São Francisco de Assis, Santo Antônio de Pádua, Santa Isabel
de Turíngia etc.
Inquisição foi na verdade Providência
Divina
Quantos e quantos historiadores e falsos teólogos, criticam a
Igreja Católica pelas perseguições das Cruzadas e da Inquisição contra os
hereges daquela época, dizendo que foi um crime contra a humanidade, uma
injustiça. Mas se esquecem que Deus tudo sabe, e não poderia deixar seitas altamente
perniciosas para a alma prevalecer. Acreditam que Deus foi duro demais? Mas,
quem é, por mais poderoso que seja, capaz de limitar os desígnios de Deus sobre
a humanidade? Quem pode ousar enfrentar Deus, dizendo-lhe: “Isto não pode”, e
com que autoridade? A vontade de Deus está acima de todas as outras vontades, e
devemos amar esta Santa Vontade. A Bíblia nos conta em suas escrituras que
diversas vezes Deus agiu em prol de seu povo, não permitindo que fosse vencido
ou extinto. Desde o mais numeroso reino, ou uma simples vila ou cidade, mesmo
que seja um simples homem, a providência divina agiu contra estas potências
ideológicas idolátricas, para preservar a fé verdadeira. Deus puniu os
Filisteus, Amorreus, Heteus, Perizeus, Cananeus, Heveus, Jebuseus, Egípcios,
Amonitas, Edonitas, Amalequitas, extinguiu quase toda a humanidade no dilúvio,
salvando apenas a família de Noé. Todos estes povos investiram contra os
princípios morais estabelecidos pelo Criador, e receberam um justo castigo.
A Igreja
Católica é a geradora de filhos legítimos do Senhor. Todos aqueles que
acreditarem na doutrina contida nesta Igreja, obterá a salvação de sua alma no
último dia. Os inimigos desta Igreja foram e são muitos. O que dizer dos Judeus
que negam a divindade de Jesus, do Império Romano que perseguiu e matou
cristãos por séculos, do Islamismo que trabalha para expulsar e matar quem à
esta seita não se converter, dos filósofos e falsos doutores racionalistas
induzindo as pessoas a apostasia, dos institutos satânicos que promovem o
aborto, dos Protestantes e suas milhares de seitas e divisões se dizendo cada
uma delas “os verdadeiros cristãos”, infundindo confusão espiritual, pelejando
contra à Católica, difamando Nossa Senhora. Do Comunismo espalhando ideias
anticristãs a nível mundial, da Maçonaria, uma seita ocultista que adentrou nos
Governos e na Igreja de Cristo afim de destruí-la por dentro.
Acreditam
mesmo que não foi necessário a intervenção divina na humanidade durante os
séculos e séculos? Acham que nossa fé
conseguiria sobreviver a esta enxurrada de ataques? É claro que não. Foi
necessário a expiação e a eliminação de pessoas incorrigíveis, que prejudicaram
grandemente a expansão do cristianismo. Muitos dizem que Deus é vingador quando
age assim, mas na verdade é amor! Sim, é amor! O Amor que usa a perfeita
Justiça para se chegar a verdade e a paz. Por acaso não foi Deus quem tudo
criou e nos criou? Não é Ele o dono de toda vida existente? Ele pode, se assim
desejar, de um momento para outro, apagar de seu pensamento todo o gênero
humano e imediatamente deixaríamos de existir. Tem todo o direito de assim
proceder, se assim desejar. Os excessos cometidos por alguns durante a Santa
Inquisição, não vieram de Deus, mas da maldade humana instigada por satanás. Os
direitos humanos servem como bandeira apenas para este mundo, não se encaixam
nos preceitos divinos do decálogo, porque um é material e o outro sobrenatural.
Humanismo não é cristianismo! A Justiça divina agiu e continuará agindo,
enquanto houver homens sobre a terra.
180º
- Celestino IV - 1241
Papa da
Igreja Cristã Romana nascido em Milão, e eleito sucessor de Gregório IX, foi
Papa por apenas 17 dias; depois dos acontecimentos ocorridos em sua eleição
originou-se a palavra conclave. De uma família de tradição eclesiástica, era
cisterciense, ou seja, membro da Ordem Cisterciense, organizada por São
Bernardo (1090-1153), e filho de uma irmã de Urbano III. Foi eleito em 25 de
outubro de 1241, em uma eleição realizada num período de muitos problemas de
relacionamento entre os Cardeais, o que dificultou um acordo. Somente dez
membros participavam do colégio eleitoral presente, pois a maioria dos Cardeais
continuava prisioneira do Imperador alemão Frederico II. O Senado Romano
trancou-os a chave no antigo Monasterio del Septizionio. Deste episódio deriva
a palavra conclave, do latim cum clave, ou seja, com chave. Portanto ele foi o
primeiro Papa da história a ser escolhido através do conclave. No meio do
conclave, as condições precárias do lugar onde estavam levou um dos Cardeais a
morte, então às pressas elegeram o Cardeal milanês para ocupar o trono de
Pedro. O Papa devido a sua idade avançada, morreu em Roma após um curtíssimo
pontificado de pouca mais de duas semanas e foi substituído por Inocêncio IV,
21 meses depois, devido as condições completamente adversas da normalidade.
181º
- Inocêncio IV - 1243 – 1254
Papa
Inocêncio IV (1195 – 7 de dezembro 1254), nascido Sinibaldo Fieschi, foi eleito
em 25 de Junho de 1243, depois de dois anos de Sede vacante. Natural de Gênova,
escolhido em 28 de junho de 1243 como sucessor de Celestino IV, teve que lutar
duramente contra o Imperador Frederico II e, por este motivo teve que abandonar
temporariamente Roma. Filho do Conde de Lavagna, foi encaminhado para a carreira
eclesiástica, tornando-se Bispo de Albenga e ocupando altos cargos na
administração Pontifícia. Foi nomeado cardeal (1227) e eleito Papa, com fama de
canonista; seu primeiro ato político teve o objetivo de esclarecer as relações
da Santa Sé com o Imperador Frederico II. O monarca ofereceu a restituição das
terras eclesiásticas, que ocupara anteriormente, em troca de uma investidura
feudal dessas terras por parte do Papa, porém como o Pontífice desejava obter a
separação entre o Reino da Sicília e o da Alemanha preferiu abandonar as
negociações de paz. Em conflito aberto com o Imperador e diante das novas
ofensivas das forças imperiais, fugiu disfarçado de Roma em 1244, e refugiou-se
primeiro em Gênova, depois na França, onde presidiu o XIII Concílio Ecumênico, convocado
em Lião (1245) para depor o Imperador, e proclamou uma cruzada, a sétima, com
Luís IX, rei da França, contra Frederico II, declarado-o perjuro e sacrílego e
excomungando-o pela terceira vez, mas o movimento fracassou. Costurou um grande
movimento antiimperial e uma rede de alianças familiares, especialmente na
Alemanha, junto com um grupo de eclesiásticos fiéis a Roma (1246-1247),
conseguindo sublevar algumas cidades contra a Imperador e fortalecendo a Liga
Lombarda. Três anos depois da morte de Frederico (1250) voltou a Roma (1253),
mas teve que empreender uma luta armada contra Manfredo que, após a morte do
irmão Conrado IV (1254), tencionava apoderar-se do reino siciliano. Inocêncio morreu
subitamente em Nápoles, durante esse conflito, e foi sucedido por Alexandre IV
(1254-1261). Antes de ser um homem da Igreja, foi um político que atuou
assiduamente para impor a supremacia do Papado na Itália e em toda a Europa,
utilizando-se de todos os meios possíveis, temporais e espirituais. A 15 de
Maio de 1252, promulgou a bula Ad extirpanda autorizando a tortura contra os
hereges. Durante seu Pontificado, houve a Sétima Cruzada, terminando com
derrota para os cristãos.
181
. 1 - Santa Matilde de Hackeborn
Nossa Senhora ensina à
Matilde a Oração da Ave Maria
Santa
Matilde de Hackeborn (Helfta, 1240/1241 - 19 de novembro de 1298), foi uma
monja cisterciense, mística, nobre e Santa católica, também conhecida por
Matilde de Helfta. Sua festa é celebrada em 19 de novembro. Matilde nasceu no Castelo
de Helft, Saxônia, membro da nobre e poderosa família Hackeborn que era possuidora
de terras na Turíngia. Nasceu tão frágil pelo que se chegou a acreditar estar
morta, mas quando o padre foi batizá-la, este profetizou que ela chegaria a ser
Santa e que Deus obraria grandes coisas através dela.
Em 1248,
com sete anos de idade, visitou com sua mãe a sua irmã Gertrudes de Hackeborn
(não confundir com Gertrudes de Helfta, também chamada Gertrudes, a Grande),
monja no mosteiro de Rodardsdorf. Atraída pelo ambiente monástico, permaneceu
no mosteiro, se ingressando como educanda. Três anos depois, em 1251, Gertrudes
se torna abadessa com a idade de dezenove anos regendo a comunidade até 1291.
Em 1258, devido a escassez de água, as monjas se mudaram para Helfta. Este novo
monastério chegaria a prosperar tanto economicamente como culturalmente e
espiritualmente. Gertrudes formou a sua irmã com vistas ao cargo que lhe ia
confiar: maestra da escola para meninas, e formadora das noviças e das jovens
professoras. Em 1261, exercendo o cargo de maestra, recebe a seus cuidados a
uma menina chamada Gertrudes, de então cinco anos de idade, que mais chegaria a
ser conhecida como Santa Gertrudes, a Grande. Por seus dotes naturais para o
canto, Matilde seria também chamada maestra de coral. A tradição acabou chamando-a
“Ruiseñor de Cristo”. Matilde desempenhou seu trabalho silenciosamente até os
cinquenta anos. Desde jovem tinha experiências místicas, porém nunca escreveu
nada. Em 1291 morre sua irmã Gertrudes de Hackeborn. Por este acontecimento
começou a adoecer constantemente e a passar períodos de cama. A nova abadessa,
Sofía de Querfurt, vendo a progressiva decadência física de Matilde, mandou que
as monjas recorressem a todos os dados e notas que ela tinha tomado durante o
seu magistério, para ser base de sua história. A encarregada especial para este
trabalho foi Gertrudes de Helfta. Isso foi feito às escondidas da doente, mas
depois, quando informada, confirmou o conteúdo do livro. O resultado foi O Livro
de graça especial (El Libro de la Gracia Especial).
O Livro de Graça Especial
O livro
é constituído por sete partes. As primeiras se recolhe as experiências místicas
de Matilde em torno das festas litúrgicas. A terceira e quarta reúnem os ensinamentos
referentes a salvação do homem e as suas virtudes. A quinta parte está dedicada
às almas dos defuntos. A sexta é uma breve biografia de Gertrudes de Hackeborn,
irmã de Matilde. A sétima parte descreve os últimos dias de Matilde e sua
morte.
Doutrinalmente, o livro se centra
na vida espiritual monástica: Liturgia das Horas, Lectio Divina, Eucaristia. No
centro de tudo está o Coração de Jesus, símbolo do amor divino, encontrando-se
neste livro uma das referências mais antigas desta devoção. Ocupa um papel
importante o tema mariológico. Apoia três dogmas marianos: A Imaculada
Concepção de Maria, sua Maternidade Divina, e a Concepção Virginal de Jesus.
Além disso inaugurou a devoção mariana de rezar diariamente três Avemarias
pedindo a especial proteção de Maria.
Uma
promessa e um pedido de Maria: "Eu te assistirei na hora da tua morte,
mas quero que, por tua parte, me rezes diariamente três Ave-Marias. A primeira
Ave-Maria, pedindo que, assim como Deus Pai me elevou a um trono de glória sem
igual, fazendo de mim a mais poderosa no céu e na terra, assim também eu te
assista na terra para fortificar-te e afastar de ti toda potestade inimiga.
A segunda Ave-Maria, pedindo que,
assim como o Filho de Deus me concedeu a sabedoria em tal extremo que tenho
mais conhecimento da Santíssima Trindade que todos os santos, assim eu te
assista na passagem da morte para encher a tua alma das luzes da fé e da
verdadeira sabedoria, para que não a obscureçam as trevas do erro e da
ignorância.
A terceira Ave-Maria, pedindo
que, assim como o Espírito Santo me concedeu as doçuras do seu amor e me fez
tão amável que depois de Deus sou a mais doce e misericordiosa, assim eu te
assista na morte, enchendo a tua alma de tal suavidade de amor divino que toda
pena e amargura da morte seja transformada para ti em delícias”.
Em 19 de
novembro de 1299 morreu Matilde com a idade de 59 anos. A fama e importância
que se atribui a sua discípula, a Santa Gertrudes de Helfta (que acabou
chamando-se por ela, a Grande) consequentemente fez sombra a Matilde, que
passou à segundo plano a partir do século XVI.
181
. 2 - Aparição de Nossa Senhora em Cambraidge – Inglaterra - Nossa Senhora do
Carmo
Na
Inglaterra, vivia um homem penitente, como o Profeta Elias, austero como João
Batista. Chamava-se Simeão. Mas, diante de sua vida solitária na convexidade de
uma árvore no seio da floresta, deram-lhe o apelido de Stock. Simão nasceu no
ano de 1165 no Castelo de Harford, no condado de Kent, Inglaterra, em atenção
às preces de seus piedosos pais, que uniam a mais alta nobreza à virtude.
Alguns escritores julgam mesmo que tinham parentesco com a família real. Sua
mãe consagrou-o à Santíssima Virgem desde antes de nascer. Em reconhecimento a
Ela pelo feliz parto, e para pedir sua especial proteção para o filhinho, a
jovem mãe, antes de o amamentar, oferecia-o à Virgem, rezando de joelhos uma
Ave-Maria. Bela atitude de uma senhora altamente nobre! O menino aprendeu a ler
com pouquíssima idade. A exemplo de seus pais, começou a rezar o Pequeno Ofício
da Santíssima Virgem, e logo também o Saltério. Esse verdadeiro pequeno gênio,
aos sete anos de idade iniciou o estudo das Belas Artes no Colégio de Oxford,
com tanto sucesso que surpreendeu os professores. Foi também nessa época
admitido à Mesa Eucarística, e consagrou sua virgindade à Santíssima Virgem. Perseguido
pela inveja do irmão mais velho, e atendendo a uma voz interior que lhe
inspirava o desejo de abandonar o mundo, deixou o lar paterno aos 12 anos,
encontrando refúgio numa floresta onde viveu inteiramente isolado durante 20
anos, em oração e penitência. Nossa Senhora revelou-lhe então seu desejo de que
ele se juntasse a certos monges que viriam do Monte Carmelo, na Palestina, à
Inglaterra, “sobretudo porque aqueles religiosos estavam consagrados de um modo
especial à Mãe de Deus”. Simão saiu de sua solidão e, obedecendo também a uma
ordem do Céu, estudou teologia, recebendo as sagradas ordens. Dedicou-se à
pregação, até que finalmente chegaram dois frades carmelitas no ano de 1213.
Ele pôde então receber o hábito da Ordem, em Aylesford. Em 1215, tendo chegado
aos ouvidos de São Brocardo, Geral latino do Carmo, a fama das virtudes de
Simão, quis tê-lo como coadjutor na direção da Ordem; em 1226, nomeou-o Vigário-Geral
de todas as províncias Europeias. São Simão teve que enfrentar uma verdadeira
tormenta contra os carmelitas na Europa, suscitada pelo demônio através de
homens ditos zelosos pelas leis da Igreja, os quais queriam a todo custo
suprimir a Ordem sob vários pretextos. Mas o Sumo Pontífice, mediante uma bula,
declarou legítima e conforme aos decretos de Latrão a existência legal da Ordem
dos Carmelitas, e a autorizou a continuar suas fundações na Europa. São Simão
participou do Capítulo Geral da Ordem na Terra Santa, em 1237. Em um novo
Capítulo, em 1245, foi eleito 6° Prior-Geral dos Carmelitas. Após a algum tempo
de calmaria, as perseguições reiniciaram com mais intensidade. Na falta de
auxílio humano, São Simão recorria à Virgem Santíssima com toda a tristeza de
seu coração, pedindo-Lhe que fosse solícita à sua Ordem, tão provada, e que
desse um sinal de sua aliança com ela. Na manhã do dia 16 de julho de 1251,
suplicava com maior empenho à Mãe do Carmelo sua proteção, recitando a bela
oração por ele composta: "Flor do Carmelo, Vinha florífera, Esplendor do
céu, Virgem fecunda, singular. Ó Mãe benigna, sem conhecer varão, aos
Carmelitas dá privilégio, Estrela do Mar!". Terminada esta prece, levanta
os olhos marejados de lágrimas, vê a cela encher-se, subitamente, de luz.
Rodeada de anjos, em grande cortejo, apareceu-lhe a Virgem Santíssima,
revestida de esplendor, trazendo nas mãos o Escapulário dizendo a São Simão
Stock, com inexprimível ternura maternal: “‘Recebe, diletíssimo filho, este
Escapulário de tua Ordem como sinal distintivo e a marca do privilégio que eu
obtive para ti e para todos os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação, uma
salvaguarda nos perigos, aliança de paz e de uma proteção sempiterna. Quem
morrer revestido com ele será preservado do fogo eterno’’. Essa graça especialíssima foi
imediatamente difundida nos lugares onde os carmelitas estavam estabelecidos, e
autenticada por muitos milagres que, ocorrendo por toda parte, fizeram calar os
adversários dos Irmãos da Santíssima Virgem do Monte Carmelo. São Simão Stock
atingiu extrema idade e altíssima Santidade, operando inúmeros milagres, tendo
também obtido o dom das línguas; foi chamado a Pátria Celeste por Deus em 16 de
maio de 1265.
182º
- Alexandre IV - 1254 – 1261
Alexandre
IV foi Papa de 12 de dezembro de 1254 até a data da sua morte em 25 de maio de
1261. Chamava-se Reginaldo (ou Reinaldo, Rinaldo) Conti. Foi elevado a Cardeal
pelo seu tio, o Papa Gregório IX, em 1227. Prosseguiu a guerra contra os descendentes
do Imperador Frederico II. Opôs-se à sucessão no trono Imperial alemão de
Conradino. Viveu quase sempre fora de Roma, por causa do conflito entre
guibelinos e guelfos. Ocupou-se do governo da Igreja, procurando a união com as
igrejas gregas. Promoveu a influência dos franciscanos, intervindo na
universidade de Paris em favor desta ordem mendicante, e também dos
dominicanos. Após submeter a uma comissão de Cardeais, concluiu que a obra de
Guillaume Saintamour era reprovável em todos os seus aspectos. Após a bula Ad
Extirpanda, de Inocêncio IV, autorizando a tortura, mas não pelas mãos dos
próprios clérigos, o Papa Alexandre IV na bula Ut Negotium de 1256, permitiu
que os inquisidores se absolvessem mutuamente se tivessem incorrido em
quaisquer "irregularidades canónicas no seu importante trabalho". Bispo
de Óstia, nomeado Cardeal (1227) pelo tio, o Papa Gregório IX, após eleito
renovou em 1255, a investidura do Reino de Nápoles para Edmundo, filho de
Henrique III, da Inglaterra. Entrou em conflito com Manfredo da Suábia, filho
do Imperador Frederico II, e o excomungou quando este autocoroou-se rei da
Sicília e das Puglie, em Palermo (1258). Também decretou a excomunhão (1260)
aos senenses e aos gibelinos florentinos por estes se aliarem a Manfredo, para
derrotar Florença, em Montaperti. Deu novo impulso à repressão da heresia
prescrevendo o procedimento sumário para a heresia e condenou os flagelantes
(1257). Empenhou-se pela união das Igrejas, canonizou Santa Clara e confirmou a
realidade dos estigmas de São Francisco. Os conflitos insuperáveis com a
administração romana liderada pelo capitão do povo Brancaleone degli Andalò,
foi obrigado a deixar a cidade e fugir para Viterbo. Morreu em 25 de maio, em
Viterbo e foi sucedido por Urbano IV. Os agostinianos eremitas de Santo
Agostinho, a Ordo eremitarum Sancti Augustini, originada da congregações de
eremitas da Itália central e setentrional nos séculos XII e XIII, foram
reunidas em uma ordem religiosa mendicante por este Papa em 1256. A Ordem difundiu-se
por toda a Europa e desenvolveu uma importante escola teológica ocupando
cátedras nas principais universidades de Paris, Oxford, Praga, Viena, Pádua,
Pisa, Wittenberg. São Nicolau de Tolentino e Martinho Lutero foram agostinianos
eremitas.
183º
- Urbano IV - 1261 - 1264
Papa
Urbano IV, nascido Jacques Pantaléon, foi o chefe da Igreja Católica e
governante dos Estados Papais de 29 de agosto de 1261 até sua morte. Foi eleito
Papa sem ser Cardeal; ele foi o primeiro a ser eleito de tal forma, e isso
ocorreria apenas para mais 3 Papas depois (Gregório X, Urbano V e Urbano VI). Pantaléon
era filho de um sapateiro de Troyes, França. Ele estudou teologia e direito
consuetudinário em Paris e foi nomeado Cônego de Laon e mais tarde Arquidiácono
de Liège. No Primeiro Concílio de Lyon (1245), atraiu a atenção do Papa
Inocêncio IV, que o enviou duas vezes em missões à Alemanha. Numa dessas
missões, ele negociou o Tratado de Christburg entre os prussianos pagãos e os
Cavaleiros Teutônicos. Tornou-se Bispo de Verdun em 1253. Em 1255. O Papa
Alexandre IV fez dele Patriarca Latino de Jerusalém. Pantaléon voltou de Jerusalém,
que estava em apuros, e voltou para Viterbo em busca de ajuda para os cristãos
oprimidos no Oriente quando Alexandre IV morreu. Após uma vacância de três
meses, os oito Cardeais do Sagrado Colégio o escolheram para suceder Alexandre
IV nas eleições Papais em 29 de agosto de 1261. Ele escolheu como nome de
reinado Urbano IV. Um mês antes da eleição de Urbano, o Império Latino de
Constantinopla, fundado durante a malfadada Quarta Cruzada contra os
bizantinos, caiu nas mãos dos bizantinos liderados pelo imperador Miguel VIII
Paleólogo. Urbano IV tentou, sem sucesso, iniciar uma cruzada para restaurar o
Império Latino. Urbano iniciou a construção da Basílica de St. Urbain, Troye,
em 1262. Ele instituiu a festa de Corpus Christi em 11 de agosto de 1264, com a
publicação da bula Papal Transiturus. Urbano pediu a Tomás de Aquino, o teólogo
dominicano, que escrevesse os textos para a missa e o ofício da festa. Isso
incluía hinos famosos como Pange lingua, Tantum ergo e Panis angelicus. Urbano
envolveu-se nos assuntos da Dinamarca. Jakob Erlandsen, Arcebispo de Lund,
queria tornar a Igreja dinamarquesa independente do poder real - o que o
colocou em confronto direto com a Rainha viúva Margarida Sambiria, atuando como
regente de seu filho, o rei Érico V da Dinamarca. A Rainha prendeu o Arcebispo,
que respondeu emitindo uma interdição. Ambos os lados procuraram o apoio do
Papa. O Papa concordou com vários pedidos da Rainha. Ele emitiu uma dispensa
para alterar os termos da sucessão dinamarquesa para permitir que as mulheres
herdassem o trono dinamarquês. No entanto, as principais razões do conflito
permaneceram sem solução com a morte de Urbano, com o caso continuando na corte
Papal em Roma. O exilado Arcebispo Erlandsen veio pessoalmente à Itália em
busca de uma solução. No entanto, os complicados assuntos da Dinamarca eram uma
preocupação menor para o Papa. Sua atenção estava voltada para os assuntos
italianos. Durante o pontificado anterior, o longo confronto entre o Papa e o
falecido imperador alemão de Hohenstaufen, Frederico II, alimentou confrontos
entre cidades dominadas por gibelinos pró-Imperiais e aquelas dominadas por
facções guelfas pró-Papais. O herdeiro de Frederico II, Manfred, ficou
absorvido nesses confrontos. O capitão militar de Urbano era o condottiere Azzo
d' Este, que liderava uma liga de cidades, incluindo Mântua e Ferrara. Os
Hohenstaufen na Sicília tinham reivindicações sobre as cidades da Lombardia.
Para contrariar a influência de Manfredo, Urbano apoiou Carlos I, Conde de
Anjou na tomada do Reino da Sicília, porque era receptivo ao controle Papal.
Carlos era Conde da Provença devido ao casamento e era muito poderoso. Urbano
negociou com Manfredo durante dois anos para buscar seu apoio para reconquistar
Constantinopla em troca do reconhecimento Papal de seu Reino. Ao mesmo tempo, o
Papa prometeu navios e homens a Carlos através de um dízimo da cruzada. Em troca,
Carlos prometeu não reivindicar terras imperiais no norte da Itália, nem nos
Estados Papais. Carlos também prometeu restaurar o censo anual ou o tributo
feudal devido ao Papa como suserano, sendo acordadas cerca de 10.000 onças de
ouro, enquanto o Papa trabalharia para bloquear a eleição de Conradinp para Rei
dos Alemães. Urbano IV morreu em Perugia em 2 de outubro de 1264, antes da
chegada de Carlos à Itália. Seu sucessor, o Papa Clemente IV, deu continuidade
aos seus acordos.
184º
- Clemente IV - 1265 - 1268
Clemente
IV, nascido Guy Foulques, foi Papa de fevereiro de 1265 a 29 de novembro de
1268. Soldado e advogado, nesta última qualidade foi secretário de Luís IX na
França, a cuja influência deve provavelmente a sua eleição. Está sepultado em
Viterbo. Era militar e secretário do Rei Luís IX. Eleito, excomungou Corradino
da Suécia, mas isto não impediu a ocupação de Roma e Nápoles. Manfredo
(1232-1266), filho do Imperador Frederico II e neto de Henrique VI e sua esposa
Constância, assumiu o reino da Apulia e da Sicília após a morte do seu pai em
1250. Foi afastado do poder por seu meio-irmão Conrado IV, mas na morte deste,
retomou o poder e foi coroado em Palermo (1258). Manfredo tinha grande
popularidade entre seus súditos mas a Igreja, não o reconhecia seu direito ao
trono. Considerado um guibelino e um herege, foi excomungado pelo Papa que
indicou para ocupar o seu lugar Carlos de Anjou. Carlos invadiu a Itália (1265)
com o exército do Papa e depôs e matou Manfredo na batalha de Benevento (1266).
O Papa mandou o Bispo de Cosenza desenterrar o corpo de Manfredo e transferi-lo
para fora das terras da Igreja. Ordenou em 1264, que fossem queimados todos os
manuscritos talmúdicos que fossem encontrados e nomeou uma comissão que haveria
de encarregar-se de expurgar do Talmud as passagens que considerassem ofensivas
à Igreja. Papa de número 184, morreu em 29 de novembro de 1268, morreu em
Viterbo e sepultado na Igreja de São Francisco de Viterbo.
185º
- Gregório X - 1271 - 1276
Gregório
X, nascido Tedaldo Visconti, OCist (Placência, 1210 — Arezzo, 10 de Janeiro de 1276).
O conclave que o elegeu foi o mais longo da história da Igreja, durando quase
três anos. Teobald Visconti foi monge da Ordem Cisterniense. Italiano de
nascimento, gastou a maioria de sua carreira Eclesiástica nos Países Baixos.
Era um homem severo e de grande dignidade. Foi amigo de São Tomás de Aquino e
conselheiro dos Reis da Inglaterra e da França. Sucedeu ao Papa Clemente IV
após três anos de Sé Vacante, devido às divisões entre os Cardeais. Os Cardeais
franceses e italianos igualmente rachados quiseram um Papa de seu país devido à
situação política com Carlos de Anjou. O "beco sem saída" foi
quebrado finalmente quando os cidadãos de Viterbo, onde os Cardeais estavam
reunidos, removeram o telhado do edifício onde os Cardeais estavam reunidos e
lá entraram, somente permitindo-lhes comer pão e água. Três dias mais tarde, o
Papa Gregório X foi eleito. (Desde então, os Cardeais escolheram sempre o Papa
sob o fechamento e a chave). Gregório X foi considerado uma escolha forte
porque embora fosse italiano, tinha passado parte da sua vida no norte dos
Alpes e assim não estava envolvido em controvérsias políticas italianas
recentes. Sua eleição veio como uma surpresa completa a ele, pois quando eleito
estava envolvido na Nona Cruzada a São João de Acre com Eduardo I de Inglaterra
na Palestina. Ajudou os irmãos Nicollo e Mateo Polo, tio e pai de Marco Polo,
quando eles voltavam da China - governada por Kublai Khan - à sua pátria, a
cidade de Veneza. Promulgou a Bula De Regno Portugaliae em 1276, que
excomungava o Reino de Portugal, e o rei português D. Afonso III, o Bolonhês,
devido a desentendimentos entre o reino e a Igreja. À chegada à Roma o seu
primeiro ato foi reunir um concílio que teve lugar em Lyon em 1274 que debateu
a condição da Terra Santa, os abusos na Igreja Católica, e o Grande Cisma que
separou a Igreja Católica da Ortodoxia Oriental. Foi no regresso de uma das
sessões do concílio que faleceu, em Arezzo. A Gregório X se deve a bula Ubi
periculum, subsequentemente incorporada no Código de Direito Canónico, que
continua a regular os conclaves para a eleição Papal. O Papa Gregório X foi
beatificado em 1713.
186º
- Inocêncio V - 1276
O Papa
Inocêncio V (c. 1225 - 22 de junho de 1276), nascido Pierre de Tarentaise, foi
Papa de 21 de janeiro a 22 de junho de 1276. Membro da Ordem dos Pregadores,
ele adquiriu uma reputação de pregador eficaz. Ele ocupou uma das duas
"Cadeiras Dominicanas" da Universidade de Paris e foi fundamental
para ajudar a elaborar o "programa de estudos" da Ordem. Em 1269,
Pedro(Pierre) de Tarentaise foi provincial da província francesa dos
dominicanos. Ele foi um colaborador próximo do Papa Gregório X, que o nomeou
Bispo de Ostia e o elevou a Cardeal em 1273. Com a morte de Gregório, em 1276,
Pedro foi eleito Papa, tomando o nome de Inocêncio V. Ele morreu cerca de cinco
meses depois, mas durante seu breve mandato facilitou a paz entre Gênova e o
rei Carlos I da Sicília. Pedro de Tarentaise foi beatificado em 1898 pelo Papa
Leão XIII. Ele nasceu por volta de 1225, perto de Moûtiers, na região de
Tarentaise do Condado de Saboia. Uma hipótese popular alternativa, no entanto,
sugere que ele nasceu em La Salle, no vale de Aosta, na Itália. Ambos os
lugares faziam parte do Reino de Arles no Sacro Império Romano-Germânico, mas
agora o primeiro é no sudeste da França e o segundo no noroeste da Itália. No
início da vida, por volta de 1240, ele ingressou na Ordem Dominicana em seu
convento em Lyon. No verão de 1255, ele foi transferido para o studium generale
do convento de S. Jacques em Paris. Essa mudança foi essencial para alguém que
provavelmente estudaria na Universidade de Paris. Ele obteve o grau de Mestre
em Teologia, e rapidamente adquiriu grande fama como pregador. Entre 1259 e
1264, ele ocupou a "Cadeira dos franceses", uma das duas cadeiras
(cátedras) atribuídas aos dominicanos. Em 1259, Pedro participou, talvez por
causa de seu status como um mestre em Paris, talvez como uma eleito Definidor
(delegado) para a Província da França, no Capítulo Geral da Ordem Dominicana em
Valenciennes, sob a liderança do Mestre Geral, Humberto de Romans. Pedro
participou junto com Alberto Magno, Tomás de Aquino, Bonushomo Britto, e
Florentius. Este Capítulo Geral estabeleceu um ratio studiorum, ou programa de
estudos, o que era para ser implementada para toda a Ordem Dominicana, que
apresentava o estudo da filosofia como um preparativo para aqueles que não eram
suficientemente treinados para estudar teologia. Essa inovação iniciou a
tradição da filosofia escolástica dominicana, que deveria ser posta em prática
em todos os conventos dominicanos, se possível, por exemplo, em 1265, no
studium provinciale da Ordem, no convento de Santa Sabina, em Roma. Esperava-se
que cada convento tivesse alguém eleito para supervisionar os estudos
preparatórios e um mestre eleito para estudos teológicos. No ano seguinte, ele
recebeu o título de pregador geral.
Em 1264,
um novo Mestre-geral da Ordem dos Pregadores foi eleito, João de Vercelli. Foi
uma oportunidade para se envolver em algumas políticas acadêmicas, já que
Humberto de Romans, o patrono de Pedro, estava morto. Cento e oito das
declarações de Pedro em seu Comentário sobre as frases de Peter Lombard foram
denunciadas como heréticas. Mas, embora Pedro tenha se retirado de seu cargo de
professor, João de Vercelli nomeou Tomás de Aquino para escrever uma defesa das
108 proposições. A reputação de Pedro era tal que ele foi imediatamente eleito
provincial da província francesa por um período de três anos (1264-1267). Ele
foi libertado do cargo no Capítulo Geral, realizado em Bolonha em maio de 1267.
No final de seu mandato, e após a divulgação da réplica de Tomás de Aquino aos
seus críticos, Peter retornou à sua cátedra na Universidade de Paris (1267). Em
1269, ele foi reeleito para o cargo de provincial da província francesa e
ocupou o cargo até ser nomeado Arcebispo de Lyon. Em 6 de junho de 1272, o
próprio Papa Gregório X nomeou Pedro de Tarantaise como Arcebispo de Lyon,
cargo que ocupou até ser nomeado Bispo de Óstia. Dizem, no entanto, que Pedro
nunca foi consagrado. No entanto, prestou juramento de lealdade no início de
dezembro de 1272 ao rei Filipe III da França. O próprio Papa Gregório chegou a
Lyon em meados de novembro de 1273, com a intenção de levar o máximo de
prelados possível ao seu planejado concílio ecumênico. Ele se encontrou imediatamente
com o rei Filipe III da França. Suas conversas eram obviamente harmoniosas, já
que Filipe cedeu à Igreja o Condado Venaissino, que ele herdou de seu tio
Alphonse, conde de Toulouse. O Segundo Concílio de Lyon foi aberto em 1 de maio
de 1274. A primeira sessão foi realizada na segunda-feira, 7 de maio. Os
principais itens da agenda foram a Cruzada e a reunião das Igrejas Orientais e
Ocidentais.
Pedro de
Tarantaise foi elevado a Cardeal em 3 de junho de 1273, em um Consistório
realizado em Orvieto pelo Papa Gregório X, e nomeado Bispo do subúrbio Sé de
Óstia. Ele participou do Segundo Concílio de Lyon. Durante o Concílio, ele
cantou a Missa Funeral e proferiu o sermão no funeral do Cardeal Boaventura,
Bispo de Albano, morto em 15 de julho de 1274, e foi enterrado no mesmo dia na
Igreja dos Franciscanos de Lyon. O Papa Gregório, os Padres do Concílio e a
Cúria Romana participaram. Após a conclusão do Concílio, o Papa Gregório passou
o outono e o inverno em Lyon. Ele e sua suíte partiram de Lyon em maio de 1275;
deixou Vienne pouco depois de 30 de setembro de 1275 e chegou a Lausana em 6 de
outubro. Lá ele se encontrou com o Imperador eleito Rudolph, rei dos romanos, e
em 20 de outubro recebeu seu juramento de lealdade. Havia sete Cardeais com o Papa
na época, e seus nomes são mencionados no registro do juramento: Petrus
Ostiensis, Ancherus Pantaleone de S. Prassede, Guglelmus de Bray de S. Marco,
Ottobono Fieschi de S. Adriano, Giacomo Savelli de S. Maria em Cosmedin,
Gottifridus de Alatri de S. Giorgio em Velabro e Mattheus Rosso Orsini de S.
Maria em Porticu. A festa chegou a Milão na terça-feira, 12 de novembro de
1275, e Florença, no dia 18 de dezembro. O partido Papal chegou a Arezzo a
tempo do Natal, mas o Papa estava fraco e doente. A estadia em Arezzo foi
prolongada até a morte de Gregório X, em 10 de janeiro de 1276. Apenas três Cardeais
estavam em seu leito de morte: Pedro de Tarantaise, Pedro Juliani de Tusculum e
Bertrand de Saint-Martin de Sabina, todos os Cardeais-Bispos. Segundo a
Constituição Ubi periculum, aprovada pelo Concílio de Lyon, o Conclave para
eleger seu sucessor deve começar dez dias após a morte do Papa. Após os dez
dias exigidos, os Cardeais se reuniram na Vigília de Santa Inês (20 de janeiro)
para ouvir a habitual Missa do Espírito Santo. Na manhã seguinte, 21 de
janeiro, o Cardeal Petrus foi a escolha unânime dos eleitores, na primeira
votação (escrutínio). Pedro de Tarantaise foi o primeiro dominicano a se tornar
Papa. Ele escolheu o nome Pontifício de "Inocêncio". Sua decisão seria
coroada em Roma, que não via Papa desde a partida de Gregório X na terceira
semana de junho de 1272. Em 7 de fevereiro, a Cúria Papal havia chegado a
Viterbo. O rei Carlos de Nápoles foi até Viterbo para encontrar o novo Papa e
acompanhá-lo até Roma. Em 22 de fevereiro de 1276, festa da Cadeira de São
Pedro, ele foi coroado na Basílica do Vaticano pelo Cardeal Giovanni Gaetano
Orsini. Em 2 de março de 1276, o Papa Inocêncio concedeu ao rei Carlos I da
Sicília o privilégio de manter a Senatoria de Roma, o governo da cidade e a
Reitoria de Tuscia. Em uma carta de 4 de março, o Papa testemunha que o rei
Carlos havia jurado lealdade pelo Reino de Nápoles e da Sicília. Em 9 de março,
ele escreveu a Rudolf, rei dos romanos, implorando que ele não viesse à Itália
e, se ele já havia começado sua jornada, interrompê-la, até que um acordo entre
ele e o Papado pudesse ser finalizado. Isso significava que a coroação de
Rudolf, que fora aprovada por Gregório X, não ocorreria imediatamente. No dia
17, ele escreveu novamente ao rei dos romanos, aconselhando-o a encontrar-se
com os núncios Papais, e que, em suas negociações, ele não deveria, de maneira
alguma, introduzir o tópico do Exarcado de Ravena, Pentápolis e Romandiola.
Parecia extorsão. O favoritismo dos inocentes franceses em relação ao rei
Carlos, irmão de Luís IX e tio de Filipe III, e sua dureza em relação a Rudolf
começaram a mudar novamente o equilíbrio de poder na Itália e apontaram na
direção da guerra. Papa Gregório no dia 26, ordenou aos Bispos de Parma e
Comacchio que providenciassem a instalação de Boniface de Lavania (Lavagna)
como Arcebispo de Ravena, como o Papa Gregório X havia decidido. Inocêncio foi
capaz de organizar um tratado de paz entre Gênova e o rei Carlos I, assinado em
18 de junho de 1276. Em 18 de maio de 1276, o Papa Inocêncio V notificou o rei
Filipe III de França que havia indicado seu amigo pe. Guy de Sully, OP,
provincial dominicano de Paris (cargo que o próprio Inocêncio ocupou até 1272,
quando foi nomeado Arcebispo de Lyon), junto à Sé de Bourges. Uma
característica notável de seu breve pontificado foi a forma prática assumida
por seu desejo de se reunir com a Igreja Oriental. Ele escreveu a Miguel VIII
Paleólogo, informando-o da morte de Gregório X e desculpando-se pelo fato de
que os representantes do imperador, George, o Arquidiácono de Constantinopla, e
Theodore, o dispensador da Cúria Imperial, ainda não haviam sido libertados
para retornar a Constantinopla. Ele estava enviando legados a Miguel VIII Paleólogo,
o Imperador bizantino, em conexão com as recentes decisões do Segundo Concílio
de Lyon, na esperança de intermediar uma paz entre Constantinopla e o rei
Carlos I da Sicília. O rei Carlos, no entanto, estava interessado na conquista,
não na concordância. Inocente estava interessado em enviar pessoas para
negociar a reunião. Ele nomeou pe. Bartolommeo, O. Min., de Bolonha, um sábio
das Sagradas Escrituras, para viajar para o Oriente, mas ele ordenou que ele
viesse primeiro a Roma, para que um conjunto adequado pudesse ser escolhido
para ele. A morte interveio. O Papa Inocêncio V morreu em Roma em 22 de junho
de 1276, após um reinado de cinco meses e um (ou dois) dias. Ele foi enterrado
na Arquibasílica de São João de Latrão, em uma magnífica tumba construída pelo
rei Carlos. Infelizmente, a tumba foi destruída pelos dois incêndios do século
XIV na Basílica, em 1307 e 1361. Inocêncio V não havia criado novos Cardeais e,
portanto, o elenco de personagens no Conclave de julho de 1276 era o mesmo de
janeiro. O rei Carlos, no entanto, esteve em Roma o tempo todo e ocupou o cargo
de senador de Roma, como governador do Conclave. Seus desejos não podiam ser
ignorados. Papa Inocêncio V foi o autor de várias obras de filosofia, teologia
e direito canônico, incluindo comentários sobre as epístolas paulinas, e nas
Sentenças de Peter Lombard. Ele às vezes é chamado de médico famoso. O Papa
Leão XIII beatificou Pedro de Tarantaise (Inocêncio V) em 9 de março de 1898.
187º
- Adriano V - 1276
Papa da
Igreja Cristã Romana nascido em Gênova, que tentou abolir o severo regulamento
de Gregório X para o conclave. Foi nomeado Cardeal pelo tio Inocêncio IV,
posteriormente tornou-se legado de Clemente IV na Inglaterra (1265-1267). Com a
morte de Inocêncio V (1276), Carlos de Anjou, que, como senador da cidade, era
responsável pela vigilância, pôs os Cardeais a pão e água para apressar as
decisões de um conclave que já durava oito dias. Foi eleito em 11 de julho e
logo pôs ordem nas regras eclesiásticas e procurou modificar e abolir as normas
do conclave implantadas por seu antecessor Gregório X, mas não teve tempo e
elas voltaram a vigorar para a indicação de seu sucessor. O Papa de número 187,
morreu em 18 de agosto, em Viterbo, pouco depois de um mês de um curtíssimo
pontificado, inclusive antes de ser consagrado, e foi sucedido por João XXI,
que também quis abolir essas leis, e igualmente foi surpreendido pela morte.
Basicamente a norma principal era que para a eleição eram necessários dois
terços dos votos. Ninguém podia votar em si mesmo. Cada Cardeal colocava o seu
nome num lado da cédula, e o nome do eleito do outro lado.
188º
- João XXI - 1276 - 1277
João
XXI, nascido Pedro Julião Rebolo e mais conhecido como Pedro Hispano, (Lisboa,
1215 – Viterbo, 20 de maio de 1277) foi Papa desde 20 de setembro de 1276 até a
data da sua morte, tendo sido também um famoso médico, filósofo, teólogo,
professor e matemático português do século XIII. Adoptou sucessivamente os
nomes de Pedro Julião como nome de batismo, Pedro Hispano como acadêmico e João
XXI como Pontífice. João XXI irá marcar o seu breve pontificado (de pouco mais
de 8 meses) pela fidelidade ao XIV Concílio Ecumênico de Lyon. Apressa-se a
mandar castigar, em tribunal criado para o efeito, os que haviam molestado os Cardeais
presentes no conclave que o elegera. Embora sem grande sucesso, leva por diante
a missão encetada por Gregório X de reunir a Igreja Grega à Igreja do Ocidente.
Esforça-se por libertar a Terra Santa em poder dos turcos. Tenta reconciliar
grandes nações europeias, como França, Germânia e Castela, dentro do espírito
da unidade cristã. Neste sentido, envia legados a Rodolfo de Habsburgo e a Carlos
de Anjou, sem sucesso. Pontífice dotado de rara simplicidade, recebe em
audiência tanto os ricos como os pobres. Dante Alighieri, poeta italiano
(1265-1321), na sua famosa Divina Comédia, coloca a alma de João XXI no
Paraíso, entre as almas que rodeiam a alma de São Boaventura, apelidando-o de
"aquele que brilha em doze livros", menção clara a doze tratados
escritos pelo erudito Pontífice português. O rei Afonso X de Leão e Castela, o
Sábio, avô de Dom Dinis de Portugal, elogia-o em forma de canção no
"Paraíso", canto XII. Mecenas de artistas e estudantes, é tido na sua
época por 'egrégio varão de letras', 'grande filósofo', 'clérigo universal' e
'completo cientista físico e naturalista'. Mais dado ao estudo que às tarefas Pontifícias,
João XXI delega no Cardeal Orsini, o futuro Papa Nicolau III, os assuntos
correntes da Sé Apostólica. Ao sentir-se doente, retira-se para a cidade de
Viterbo, onde morre a 20 de maio de 1277, vitimado pelo desmoronamento das paredes
do seu aposento, estando o Palácio Apostólico em obras. É sepultado junto do
altar-mor da Catedral de São Lourenço, naquela cidade. No século XVI, durante
os trabalhos de reconstrução do templo, os seus restos mortais são trasladados
para um modesto e ignorado túmulo, mas nem aqui encontraram repouso definitivo.
Através do contributo da Câmara Municipal de Lisboa, por João Soares então seu
presidente, o mausoléu é colocado a título definitivo, do lado do Evangelho na
Catedral de Viterbo, a 28 de março de 2000.
189º
- Nicolau III - 1277 - 1280
Nicolau
III nascido Giovanni Gaetano Orsini, O.S.B. (1216 — 22 de Agosto de 1280) foi
Papa entre 25 de novembro de 1277 até a data da sua morte. Nobre romano, que serviu sob as ordens de oito
Papas, foi feito Cardeal-diácono pelo Papa Inocêncio IV (1243-54), protetor dos
Franciscanos pelo Papa Alexandre IV (1254-61) e inquisidor-geral pelo Papa
Urbano IV (1261-64). Após a morte do seu antecessor, o Vaticano ficou cerca de
seis meses sem Papa. Foi eleito em 25 de novembro de 1277. O seu breve
pontificado foi marcado por vários acontecimentos importantes. Político nato,
fortaleceu consideravelmente a posição Papal na Itália. Concluiu uma concordata
com Rodolfo I de Habsburgo (1273-91) em maio de 1278, na qual as regiões da
Romanha e de Ravena foram garantidas ao Papa. Nicolau III compôs a bula Exiit
em 14 de Agosto de 1279 para resolver o conflito interno da Ordem Franciscana,
entre os partidários da observância estrita e liberal. Com enormes custos,
reparou o Palácio de Latrão e o Vaticano, e construiu uma bela casa de campo em
Soriano, na Itália, nos arredores de Viterbo. Nicolau III, apesar de ser
descrito como um homem culto e com uma forte personalidade, terá sido vítima de
censuras devido aos seus esforços para fundar principados para os seus
sobrinhos e outras personalidades. Ele mesmo parente do Papa Celestino III,
ainda teve um parente Papa, Bento XIII, descendente de um dos seus irmãos. Morreu
de Apoplexia, em 22 de agosto de 1280.
190º
- Martinho IV - 1281 - 1285
Papa
Martinho IV nascido Simon de Brion (ca. 1220 — 28 de Março de 1285), foi Papa
de 22 de Fevereiro de 1281 até o dia da sua morte. Simon de Brion nasceu na França,
em Château Montpensier, província de Touraine, cerca do ano de 1210. Foi padre
em Rouen durante algum tempo, e depois serviu como Cânone e tesoureiro na igreja
de S. Martinho em Tours. Em 1260, o rei Luís IX de França nomeou-o chanceler da
França. Em Dezembro de 1262, foi feito padre-Cardeal (com o titulus da igreja
de Santa Cecília) pelo Papa Urbano IV. Voltou a França como legado papal de
Urbano IV e depois do seu sucessor, Papa Clemente IV, nas negociações para o
apoio Papal de Carlos de Anjou, com quem estabeleceu uma forte ligação
política, à Coroa da Sicília. Posteriormente, o Papa Gregório X enviou-o
novamente à França como legado para conter os abusos da Igreja Católica no país;
lá, presidiu a vários sínodos sobre reformas, sendo o mais importante destes o
de Bourges em Setembro de 1276. Seis meses depois da morte do Papa Nicolau III
em 1280, Carlos de Anjou interveio no conclave Papal de Viterbo, aprisionando
dois Cardeais italianos influentes, com o argumento de que estes estavam a
interferir na eleição. Sem esta oposição, Simon de Brie foi eleito com
unanimidade, tomando o nome Martinho IV. Viterbo foi colocada sob interdito
(penalidade Eclesiástica que suspende todas as celebrações e retira os
sacramentos da igreja de um território ou país) pelo aprisionamento dos Cardeais.
Roma não desejava aceitar um odiado francês como Papa, por isso Martinho IV foi
coroado em Orvieto, em 23 de Março de 1281. Apesar de ser apenas o segundo Papa
a escolher o nome de Martinho, no século XIII os tribunais Papais confundiram
os nomes dos dois papas Marinho como Martinho. Assim, é conhecido como Martinho
IV, e os Papas Marinho I (882-884) e Marinho II (942-946) com o nome de
Martinho. Dependente de Carlos de Anjou em quase tudo, o novo Papa nomeou-o
rapidamente para o cargo de Senador Romano. Sob a insistência deste, Martinho
IV excomungou o Imperador de Bizâncio, Miguel VIII Paleólogo (1261-82), que
obstava aos planos de Carlos para restaurar o Império Latino do Oriente,
estabelecido depois da Quarta Cruzada. Quebrou assim a tênue união alcançada
entre as igrejas grega e latina no Segundo Concílio de Lyon em 1274, e não
foram possíveis mais negociações. Em 1282, Carlos foi deposto no violento massacre
conhecido como as Vésperas Sicilianas. Os Sicilianos elegeram Pedro III de
Aragão (1276-85) como rei e pretenderam, em vão, a confirmação Papal, apesar de
estarem dispostos a reconfirmar a Sicília como estado vassalo do Papado;
Martinho IV usou todos os recursos espirituais e materiais ao seu dispor contra
o Aragonês, tentando preservar a Sicília para a Casa de Anjou. Excomungou Pedro
III, declarou o seu reino de Aragão inválido e ordenou uma cruzada contra o
mesmo, mas foi tudo em vão. Com a morte do seu protetor Carlos de Anjou,
Martinho teve que abandonar Roma e foi para Perúgia, onde faleceu, a 28 de
Março de 1285. Entre os sete Cardeais criados por Martinho IV estava Benedetto
Gaetano, que posteriormente ascendeu ao Trono Papal como o famoso Papa
Bonifácio VIII (1294-1303).
191º
- Honório IV - 1285 - 1287
Papa
Honório IV, nascido Giacomo Savelli; (Roma, 1210 — Roma, 3 de abril de 1287),
foi Papa de 2 de abril de 1285 até a data da sua morte. Pertencia a uma rica e
influente família romana de onde já tinham saído quatro Papas: Bento II,
Gregório II, Papa Eugênio II e Honório III. Embora dotado de boa capacidade
política, teve poucos meses para mostrar a força da Igreja em seu Pontificado e
não conseguiu elevar o prestígio da instituição Papal. Romano, da nobre família
dos Savelli e sobrinho de Honório III, eleito Papa, sua primeira preocupação
foi a de pôr ordem no estado Pontifício. Procurou estabelecer a ordem em Roma
e, no Sul da Itália, apoiou a Casa de Anjou contra os aragoneses pela posse da
Sicília. Procurou limitar os abusos do governo francês e garantir maiores
liberdades individuais aos súditos. Promoveu uma nova expedição dos Anjou em
águas sicilianas (1287), para pôr fim à revolta da Sicília, que começara com o
tumulto das Vésperas (1282), porém teve um fim desastroso. Também procurou eliminar
os conflitos que desde o Pontificado de Martinho IV, haviam separado o Papado
de várias cidades e senhores. Em termos culturais, introduziu o estudo dos
idiomas orientais na Universidade de Paris, à qual inicialmente ordenou que
iniciasse os estudos do árabe, a fim de explicar a fé errônea dos muçulmanos em
sua própria língua. Tentou se aproximar da Igreja grega e projetou um acordo
com os muçulmanos. Reconheceu a ordem dos Carmelitas, foi amigo e Patrono dos
franciscanos, dominicanos e aprovou a ordem dos agostinianos.
192º
- Nicolau IV - 1288 - 1292
O Papa
Nicolau IV (30 de setembro de 1227 — 4 de abril de 1292), nasceu Girolamo
Masci, Papa desde 22 de fevereiro de 1288 até sua morte. Ele foi o primeiro franciscano
a ser eleito Papa. Após a morte do Papa Honório IV em 3 de abril de 1287, o
Conclave foi realizado em Roma, no Palácio Papal ao lado de Santa Sabina, no
Monte Aventino, onde o Papa Honório havia morrido. Isso estava de acordo com a
Constituição Ubi periculum assim os sobreviventes elegeram por unanimidade
Girolamo Masci, para o Papado no primeiro escrutínio. Dizem que os Cardeais
ficaram impressionados com sua firmeza em permanecer no Palácio Papal, mas não
há documentação real sobre seus motivos. Como ele admitiu em seu manifesto eleitoral,
o Cardeal Masci estava extremamente relutante em aceitar, e, de fato, ele
persistiu em sua recusa por uma semana inteira. Finalmente, em 22 de fevereiro,
ele cedeu e concordou. Ele se tornou o primeiro Papa franciscano e escolheu o
nome Nicolau IV em memória de Papa Nicolau III, que o tornara Cardeal. Dadas as
consideráveis perdas para os números do Colégio Sagrado em 1286 e 1287, não
surpreende que Nicolau IV tenha rapidamente preenchido as vagas. O que é
surpreendente é que ele nem sequer alcançou o número de Cardeais que estavam
vivos sob Honório IV, muito menos o excedeu. Em 16 de maio de 1288, nomeou seis
novos Cardeais: Bernardus Calliensis, bispo de Osimo (morto em 1291), Hugues
Aiscelin (Seguin) de Billon, OP, da diocese de Clermont, na Auvergne; Mateus de
Aquasparta, na Toscana, Ministro Geral dos Franciscanos desde 1287; Pietro
Peregrosso de Milão, vice-chanceler da Santa Igreja Romana; Napoleone Orsini; e
Pietro Colonna. Nicolau IV emitiu uma importante constituição em 18 de julho de
1289, que concedeu aos Cardeais metade de toda a receita proveniente da Santa
Sé e uma parte na gestão financeira, abrindo caminho para a independência do
Colégio de Cardeais que, no século seguinte, seria prejudicial ao Papado. Quanto
à questão da sucessão siciliana, como soberano feudal do reino, Nicolau anulou
o tratado, concluído em 1288 por meio da mediação de Eduardo I de Inglaterra,
que confirmou Jaime II de Aragão na posse da ilha da Sicília. Este tratado não
atendeu adequadamente aos interesses Papais. Em maio de 1289, ele coroou o rei
Carlos II de Nápoles e Sicília depois que este reconheceu expressamente a
soberania Papal, e em fevereiro de 1291 concluiu um tratado com os reis Afonso
III de Aragão e Filipe IV de França, olhando para a expulsão de Tiago da
Sicília. Em 1288, Nicolau se encontrou com o cristão nestoriano Rabban Bar
Sauma da China. Em agosto de 1290, ele concedeu à universidade o status de
Studium Generale que o rei Dinis I de Portugal acaba de fundar alguns meses
antes, na cidade de Lisboa. A perda do Acre em 1291 levou Nicolau IV a renovar
o entusiasmo por uma cruzada. Ele enviou missionários, entre eles o franciscano
João de Montecorvino, para trabalhar entre búlgaros, etíopes, mongóis, tártaros
e chineses. Nicolau IV morreu em Roma, em 4 de abril de 1292, no Palácio que
ele havia construído ao lado da Basílica da Libéria (S. Maria Maggiore), onde foi
enterrado. Seu epitáfio diz: "Aqui está Nicolas IV, filho de São
Francisco".
193º
- São Celestino V - 1294
Papa São
Celestino proveniente da ordem beneditina, Papa de 29 de agosto a 13 de
dezembro de 1294. Nascido Pietro del Murrone, na região de Abruzzi, na Itália,
décimo primeiro filho de pais camponeses, era simples eremita sob a regra de S.
Bento, na ocasião em que o elegeram Papa, aos 85 anos de idade, na Perugia,
depois de uma vacância de 27 meses. Após a morte de Nicolau IV em 4 de abril de
1292, os doze Cardeais-eleitores, divididos, por lealdade de família, entre os
Orsini e os Collona, não conseguiram reunir os dois terços de votos necessários
para a eleição. Duas vezes diversos deles saíram de Roma para fugir ao calor
abrasador, enquanto os Cardeais da poderosa família Collona ficaram para trás e
tentaram realizar uma eleição sozinhos. Em outubro de 1293, o conclave tornou a
se reunir em Perugia e aumentou a pressão sobre os Cardeais para que elegessem
alguém, com pressão de Carlos II, rei da Sicília e de Nápoles, e de distúrbios
em Roma e na região de Orvieto. Em 5 de julho de 1294, o decano do Colégio de
Cardeais citou uma profecia do renomado eremita Pietro del Murrone segundo a
qual os Cardeais sofreriam o castigo divino, se não escolhessem logo um Papa. O
Cardeal-decano também anunciou que votaria em Pietro. Gradativamente, a margem
de Pietro alcançou dois terços e depois a unanimidade. Ele foi saudado como o
"Papa angélico", com base em um sonho do século XIII, de um Papa que
anunciaria a era do Espírito Santo.
Carlos II e
seu filho escoltaram-no, montado em um burrico, até L'Aquila (cidade nos
domínios de Carlos), onde Pietro foi consagrado Bispo de Roma em sua igreja de
Santa Maria di Collemaggio, em 29 de agosto. Adotou o nome Celestino V. Carlos
providenciou para que o novo Papa fosse residir em Nápoles, no Castel Nuovo,
não em Roma, como a Cúria exigia. De Nápoles, Celestino fazia tudo que Carlos
lhe ordenava: colocou homens da confiança dele em cargos importantes na Cúria e
nos Estados Pontifícios, nomeou doze Cardeais que Carlos propôs, inclusive sete
franceses, e nomeou o filho de Carlos, Luís de Toulouse, Arcebispo de Lyon.
Também reintroduziu as regras de conclave instituídas por Gregório X, que faziam
do Rei o guardião da eleição Papal seguinte. Inculto (não falava latim) e, em
geral, desnorteado, (às vezes nomeava duas pessoas para o mesmo beneficio),
mostrou-se administrador inepto. Perto do Advento, propôs que três Cardeais
assumissem a responsabilidade pelo governo da Igreja enquanto ele jejuava e
rezava. Quando o plano foi rejeitado, Celestino consultou o Cardeal Benedetto
Caetani (que lhe sucederia como Bonifácio VIII), famoso advogado canônico,
sobre a possibilidade de renunciar. Caetani incentivou-o a fazê-lo e preparou
todos os papéis e procedimentos necessários. Em 13 de dezembro, em consistório
pleno, Celestino V leu a fórmula de abdicação que Caetani lhe preparara.
Despojou-se da insígnia Papal e, em um último apelo, exortou os Cardeais a
proceder imediatamente à eleição do seu sucessor. A renúncia provocou uma
guerra de tratados pró e contra sua validade. Quando o próprio Caetani foi
eleito, providenciou para que Pietro não voltasse a seu eremitério no monte Murrone,
como desejava. O novo Papa temia que Pietro fizesse um ponto de reunião para um
cisma. Pôs o ex-Papa sob vigilância (da qual ele fugiu durante alguns meses) e
acabou prendendo-o na torre de Caste Fumone, a leste de Ferentino, onde parece
que Pietro não foi maltratado. Morreu de infecção causada por um abcesso, em 19
de maio de 1296. Em princípio, seu corpo foi sepultado em Ferentino, mas em
1317 foi transferido para Santa Maria di Collemaggio, em L'Aquila, onde foi
coroado Papa. Posteriormente, em 5 de maio de 1313, sob pressão do rei Filipe
IV da França, inimigo ferrenho de Bonifácio VIII, o Papa Clemente V canonizou
Pietro, como confessor (isto é, alguém que sofreu pela fé, com exceção da
morte), em vez de mártir, como Filipe queria. Foi canonizado em Avinhão pelo Papa
Clemente V em 3 de Maio de 1313, sendo conhecido como São Pedro Celestino.
194º
- Bonifácio VIII - 1294 - 1303
Papa
Bonifácio VIII (c. 1235 – 11 de outubro de 1303) foi Papa de 1294 até à data da
sua morte. Nasceu com o nome Benedetto Gaetani. Atualmente, Bonifácio VIII é
provavelmente lembrado por seus conflitos com Dante Alighieri, que o retratou
no inferno em sua Divina Comédia, e a publicação da bula Unam Sanctam na
disputa contra o rei Filipe IV da França. Benedetto nasceu em 1235 em Anagni, a
cerca de 50 km a sudeste de Roma, filho mais novo de uma pequena mas importante
família nobre da Lombardia, os Caetani (ou Gaetani) que já antes tinha dado um
Papa (Gelásio II). Depois, na sua adolescência, tornou-se Cônego da Catedral de
Anagni. Em 1252, quando seu tio Pedro Gaetani se tornou Bispo de Todi, na Umbria,
começou em Todi os seus estudos jurídicos. Benedetto nunca esqueceu suas
experiências lá, tanto que, mais tarde, descreveu a cidade como "a morada
de sua juventude," a cidade que o "alimentou ainda em tenra
idade", e como um lugar onde ele "realizou duradouras memórias".
Ainda aí, em 1260, Benedetto adquiriu o Sacerdócio, bem como o pequeno Castelo
nas proximidades em Sismano. Mais tarde na vida ele repetidamente expressou sua
gratidão a Anagni, Todi, e sua família. Em 1264, Benedetto se tornou parte da
Cúria Romana, onde atuou como secretário do Cardeal Simão de Brie em uma missão
na França. Da mesma forma, ele acompanhou o Cardeal Ottobono Fieschi à
Inglaterra (1265–1268), a fim de fazer um acordo entre um grupo de Barões
rebeldes contra Henrique III, rei da Inglaterra. Após oito anos, período do
qual nada se sabe sobre o que ocorreu em sua vida, Benedetto retornou da
Inglaterra, e foi enviado à França para fiscalizar a cobrança de dízimos em
1276 e depois se tornou um notário Papal no final de 1270. Durante este tempo,
Benedetto acumulou cargos, sendo promovido, em primeiro lugar a Cardeal-diácono
em 1281 e, em seguida, dez anos mais tarde Cardeal-presbítero. Como Cardeal,
ele sempre serviu como legado Papal em negociações diplomáticas com a França,
Nápoles, Sicília e Aragão. Bonifácio VIII no jubileu de 1300 concedendo uma
indulgência extraordinária. Foi eleito Papa em 24 de dezembro de 1294, após a
abdicação do Papa Celestino V em 13 de dezembro, dez dias depois os Cardeais
iniciaram um conclave no Castel Nuovo em Nápoles e em 24 de dezembro de 1294,
por uma maioria de votos Benedetto Gaetani é eleito Papa, escolhendo o nome de
Bonifácio VIII. A cerimônia de sua consagração e coroação foi realizada em Roma,
em 23 de janeiro de 1295. Em 1300 Bonifácio VIII institui o primeiro jubileu
cristão por meio da bula Antiquorum fide relatio, que concedeu uma indulgência
extraordinária e plenária aos fiéis que fizessem uma peregrinação a Roma, ao
túmulo de São Pedro. Devido ao jubileu, Bonifácio restaurou as igrejas de Roma,
particularmente as Basílicas de São Pedro, a Basílica de São João de Latrão, e
a Basílica de Santa Maria Maior. A partir de então os jubileus e a anunciação
de uma indulgência extraordinária foram comemorados com uma periodicidade de 50
anos. Bonifácio VIII defendeu algumas das mais fortes afirmações da supremacia
espiritual dos Papas sobre o temporal dos Reis e dos Senhores Feudais,
vinculando-se em grande parte aos ideais da Reforma gregoriana que tinha sido
delineada 250 anos antes, demonstrando-a na sua política externa. O conflito
entre Bonifácio VIII e os reis europeus ocorreu em um momento de expansão dos
Estados-nação e o desejo de consolidação do poder pelos monarcas. A intervenção
de Bonifácio nos assuntos temporais levou a muitas disputas com o Imperador
Alberto I da Germânia (1291–1298), com a poderosa família dos Colonna, com
Filipe IV de França (1285–1314) e estranhamente com Dante Alighieri (que
escreveu De Monarchia para argumentar contra ele). Na França, durante seu
reinado, Filipe IV centralizou em si todo o poder, que era possível a um Rei, e
cercando-se dos melhores advogados civis, descredenciou o Clero de toda a
participação na administração da lei. Fez mais, pois decretou impostos ao mesmo
clero, a fim de financiar as suas guerras contra outros países. Nessa altura o
Papa Bonifácio tomou uma posição dura contra ele porque, entre outras coisas,
viu a tributação como um abuso aos tradicionais direitos da Igreja e publicou a
bula Clericis laicos, em 24 de Fevereiro de 1296, na qual a proíbe sem prévio
acordo com a Santa Sé. Foi aí que as hostilidades entre ambos começaram. Filipe
retaliou contra a bula, negando a exportação de dinheiro da França para Roma,
que tratava-se dos fundos necessários para o funcionamento da Igreja. Bonifácio
então encerra a questão com a bula Etsi de statu, de 31 de Julho de 1297,
permitindo que a tributação seja feita somente "durante uma
emergência". Depois de complicações que envolvem a captura, por Filipe, do
Bispo Bernardo Saisset, defensor do Papa, o conflito reacendeu-se. Em dezembro
de 1301, Bonifácio enviou a Filipe a bula Ausculta fili ("Ouça, Meu Filho"),
defendendo a supremacia Papal. Muitos historiadores sugerem que, em 1301, nessa
altura, Bonifácio acrescenta uma segunda coroa para si, na tiara Papal, para
simbolizar a superioridade da autoridade espiritual em relação à autoridade
civil. A rivalidade entre os dois atingiu o seu auge logo depois, quando Filipe
começou a lançar uma forte campanha difamatória contra Bonifácio. Em 18 de
Novembro de 1302, Bonifácio emitiu uma das bulas mais importantes da história
do Papado: Unam Sanctam, onde ele declara a superioridade do poder espiritual
sobre o temporal, no entanto, o documento possuiu pouca repercussão e não foi
aceito pelo corpo de fé. Em resposta, Guillaume de Nogaret, ministro-chefe de
Filipe, acusou Bonifácio de ser um "criminoso herético" para o Clero
francês. Em 1303, Filipe e Nogaret foram excomungados. No entanto, em 7 de
setembro de 1303, um exército liderado por Nogaret e Sciarra Colonna da família
Colonna, surpreenderam Bonifácio em seu retiro em Anagni. O Rei e os Colonna
exigiram que ele renunciasse, Bonifácio porém, respondeu que preferiria morrer.
Reza a lenda que, em resposta, nessa altura um membro da família Colonna deu
uma sapatada (tapa) em Bonifácio, que ainda é lembrado no folclore local de
Anagni. Bonifácio foi espancado e quase executado, mas foi libertado da prisão
após três dias por intervenção dos habitantes locais. Seu legado é
significativo no campo do Direito Canônico, onde Bonifácio VIII continua a ter
grande influência. Publicou 88 cânones jurídicos conhecido como o "Regulae
iuris", em 1298. Esta obra é bem conhecida e compreendida pelos canonistas
até à atualidade, a fim de interpretar e analisar os Cânones e outras formas de
leis Eclesiásticas corretamente. O "Regulae Iuris" aparece no final
da chamada Liber Sextus, promulgada por Bonifácio VIII e publicado como um dos
cinco Decretais no Corpus Iuris Canonici. Outros sistemas de direito também têm
os seus próprios "Regulae Iuris", com o mesmo nome ou algo que possui
uma função semelhante. Bonifácio VIII também fundou a Universidade La Sapienza
de Roma em 1303. Após a sua morte e a sede do Papado seria removida para
Avinhão, na França, o Papa Clemente V consentiu um julgamento post mortem
movida, em 1309, contra o seu antecessor. Foi um processo de investigação
judicial, contra a memória de Bonifácio, em que o rei Filipe forjou as
acusações retratadas por falsas testemunhas que alegaram opiniões heréticas do
ex-Papa. Nelas incluía o crime de simonia que, aliás, como aconteceu no
processo contra os Templários, era o padrão de difamação de Filipe contra seus
inimigos. Antes do julgamento real poder ser realizado, Clemente convenceu
Filipe a deixar a questão da culpa de Bonifácio para o Concílio de Vienne, que
se reuniu em 1311. Quando o concílio se reuniu, três Cardeais compareceram
perante ele e testemunharam a ortodoxia e moralidade do Papa morto e o concílio
decretou que o assunto estava encerrado.
195º
- Bento XI - 1303 – 1304
Nascido
Nicola Boccasini (Niccolò de Treviso), foi Papa de 22 de outubro de 1303 a sua
morte. Ele também era membro da Ordem dos Pregadores. Foi beatificado com seu
culto confirmado pelo Papa Clemente XII em 1736. Ele é um Patrono de Treviso. O
conclave para eleger o sucessor de Bonifácio VIII foi realizado na
Arquibasílica de São João de Latrão e o Colégio de Cardeais desejou um
candidato adequado que não fosse hostil ao rei Filipe IV da França. Após uma
votação em um conclave que durou um dia, Boccasini foi eleito Papa. Ele foi
rápido em libertar o rei Filipe IV da excomunhão que Bonifácio VIII lhe
impusera. No entanto, em 7 de junho de 1304, Bento XI excomungou o implacável
ministro de Filipe IV, Guilherme de Nogaret, e todos os italianos que haviam
participado da apreensão de seu antecessor em Anagni. Bento XI também organizou
um armistício entre Filipe IV da França e Eduardo I da Inglaterra. Após um
breve Pontificado que durou apenas oito meses, Bento XI morreu repentinamente
em Perugia. Como relatos originais, a suspeita recaiu sobre Nogaret com a
suspeita de que sua morte súbita foi causada por envenenamento. Entretanto, não
há evidências diretas para apoiar ou refutar a alegação de que Nogaret envenenou
o Papa. O sucessor de Bento XI, Papa Clemente V, estava na França quando eleito
e nunca viajou para Roma. Seus sucessores residiram principalmente em Avignon,
inaugurando o período às vezes conhecido como o Cativeiro Babilônico. Ele e os
Papas franceses que o sucederam estavam completamente sob a influência dos Reis
da França. Bento XI também celebrou dois Consistórios com o objetivo de criar
novos Cardeais. O primeiro, em 18 de dezembro de 1303, elevou o pe. Niccolò
Albertini, OP, o Bispo de Spoleto; e pe. William Macclesfield (Marlesfeld), OP,
de Canterbury, prior da província inglesa dos dominicanos. Em 19 de fevereiro
de 1304, ele elevou Walter Winterburn, OP, de Salisbury, o confessor do rei
Eduardo I da Inglaterra, que não queria se separar dele, e o manteve na
Inglaterra por algum tempo. Quando chegou a Perugia, em 28 de novembro de 1304,
o Papa Bento estava morto. O cardeal Winterburn morreu em Gênova, em 24 de
setembro de 1305. Não se pode deixar de notar que os três novos Cardeais eram
membros da Ordem Dominicana. Bento XI ganhou uma reputação de Santidade e os
fiéis vieram para venerá-lo. Sua tumba ganhou reputação pela quantidade de
milagres que surgiram no local. O Papa Clemente XII aprovou seu culto em 24 de
abril de 1736, que atuou como sua beatificação formal. O Papa Bento XIV
estendeu sua veneração à República de Veneza em 1748, após um pedido dos
venezianos. Uma observação sobre a numeração: o Papa Bento X (1058-1059) é
agora considerado um antipapa pela Igreja Católica. Na época da eleição de
Bento XI, no entanto, ainda era considerado um Papa legítimo, e, portanto, o
homem que a Igreja Católica considera oficialmente o décimo verdadeiro Papa
Bento. Niccolo Boccasini, recebeu o número oficial XI em vez de X, e
consequentemente os Papas chamados Bentos posteriores, que deveriam ter um
dígito a menos.
SEDE
DA IGREJA MUDA PARA A FRANÇA.
196º
- Clemente V - 1305 - 1314
O Papa
Clemente V, nascido Bertrand de Gouth (perto de Villandraut, 1264 – Roquemaure,
20 de abril de 1314), Pontificou entre junho de 1305 até a sua morte. Foi Bispo
de Saint-Bertrand-de-Comminges, antes de se tornar Papa. Foi eleito após um
longo conclave realizado em Perugia, onde se defrontaram os interesses dos Cardeais
italianos e franceses. Isso acontece após um pacto selado com o então rei da
França, Filipe, o Belo, no qual o monarca, com seu poder e influência o ajudou
a alcançar esse lugar principalmente para que retirasse a excomunhão da família
real francesa, colocada pelo Papa Bonifácio VIII. O seu Pontificado ficou
marcado por duas coisas: pela mudança da Santa Sé de Roma para Avinhão, em
1309, justificada pelos tumultos que ocorriam na Itália, e pela destruição
trágica da Ordem dos Cavaleiros Templários — ordem criada pela própria Igreja
Católica com o propósito original de proteger os cristãos em peregrinação à
Terra Santa. Clemente V foi então forçado, por Filipe, a promover uma
investigação post mortem do Papa Bonifácio VIII, contra quem Filipe forjara
acusações. Porém, durante o Concílio de Vienne, reunido em 1311, a ortodoxia e
a moralidade do Papa morto acabou por ser confirmada. Seu túmulo está na igreja
colegiada (que ele havia construído) em Uzeste, província de Gironde. O rei
Filipe IV da França conseguiu persuadir o Papa Clemente a deslocar a Sede Papal
de Roma para Avinhão, às margens do rio Ródano, no Palácio dos Papas de
Avinhão.
197º
- João XXII - 1316 - 1334
O Papa
João XXII, nascido Jacques d'Euse (Cahors, 1249 — Avinhão, 4 de dezembro de
1334), foi Papa da Igreja Católica de 1316 até sua morte. Inaugurou o período
dos Papas de Avinhão. Rebento de uma família de burgueses banqueiros em Cahors,
estudou medicina em Montpellier e direito em Paris. O período de dois anos de
sede vacante entre a morte de Clemente V em 1314 e a eleição de João XXII em
1316 deveu-se às desavenças extremas entre os Cardeais, os quais estavam
divididos em duas facções. Depois de dois anos, Filipe V da França finalmente
articulou a realização de um conclave com vinte e três Cardeais em Lyon e, através
de um engodo, prendeu os Cardeais em uma igreja até que a eleição estivesse
concluída. Os Cardeais então elegeram-no como Papa, sendo coroado em Lyon. Este
Papa decidiu que a residência papal seria em Avinhão e não em Roma. João XXII
envolveu-se em movimentos políticos e religiosos de muitos países europeus, com
o objetivo de promover os interesses da Igreja, tornando-se um Papa muito
controverso em seu tempo. Antes da eleição de João XXII, decorreu uma disputa
pela Coroa Imperial entre Luís IV da Baviera e seu oponente Frederico I da
Áustria. João XXII foi neutro a princípio, mas em 1323, quando Luís IV venceu a
disputa e tornou-se o Santo Imperador Romano, os partidos Guelfo (Papal) e
Gibelino (Imperial) iniciaram uma disputa muito séria. Esta foi parcialmente
causada pelas aclamações extremas da autoridade de João XXII sobre o Império e
parcialmente pelo apoio por Luís IV aos Fraticelli, Franciscanos espirituais,
os quais João XXII havia condenado por sua visão distorcida da chamada pobreza
evangélica na Bula Papal Sancta Romana. Luís IV tinha assistência de Marsilius
de Pádua, e mais tarde do monge britânico William de Ockham. Luís IV invadiu a
Itália, entrou em Roma e designou Pietro Rainalducci como o antipapa Nicolau V,
em 1328. O projeto foi um fiasco, e a superioridade dos Gelfos em Roma foi mais
tarde restaurada. Ainda assim, Luís IV tinha silenciado as aclamações de
autoridade do Papa, e este permaneceu o restante de sua vida em Avinhão. Como
administrador conseguiu estabilizar a situação da igreja na época.
198º
- Bento XII - 1334 - 1342
O Papa
Bento XII (1285 - 25 de abril de 1342), nascido Jacques Fournier, foi o Papa de
30 de dezembro de 1334 até sua morte. Ele foi o terceiro Papa de Avignon. Bento
foi um Papa cuidadoso que reformou as ordens monásticas e se opôs ao nepotismo.
Incapaz de remover sua capital para Roma ou Bolonha, ele iniciou o grande Palácio
em Avignon. Ele decidiu contra uma noção do Papa João XXII, dizendo que as
almas podem atingir a "plenitude da visão beatífica " antes do Juízo
Final. Apesar de ser um reformador sólido, ele tentou, sem sucesso, reunir a
Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica, quase três séculos após o Grande Cisma;
ele também não chegou a um acordo com Luís IV do Sacro Império
Romano-Germânico. Bento XII foi um Papa em reforma que não seguiu as políticas
de seu antecessor. Ele escolheu fazer as pazes com o Luís IV do Sacro Império
Romano-Germânico e, na medida do possível, chegou a um acordo com os
franciscanos, que então estavam em desacordo com a Sé Romana. Ele tentou conter
os luxos das ordens monásticas, embora sem muito sucesso, também ordenou a
construção do Palácio dos Papas de Avinhão. Bento passou a maior parte do tempo
trabalhando em questões de teologia. Ele rejeitou muitas das ideias
desenvolvidas por João XXII. A esse respeito, ele promulgou uma constituição
apostólica, Benedictus Deus, em 1336. Esse dogma definia a crença da Igreja de
que as almas dos que partem recebem sua recompensa eterna imediatamente após a
morte, em vez de permanecer em um estado de existência inconsciente até o Juízo
Final. Embora alguns afirmem que ele fez campanha contra a Imaculada Conceição,
isso está longe de ser claro. Ele se envolveu em longos debates teológicos com
outras figuras notáveis da época, como Guilherme de Ockham e Mestre Eckhart. Embora
nascido francês, Bento não sentiu patriotismo em relação à França nem a seu
rei, Filipe VI da França. Desde o início de seu Papado, as relações entre ele e
Filipe foram frígidas. Depois de ser informado do plano de Filipe de invadir a
Escócia, Bento sugeriu que Eduardo III de Inglaterra, provavelmente venceria,
independentemente.
199º
- Clemente VI - 1342 - 1352
O Papa
Clemente VI nascido Pierre Roger, O.S.B., (Rosiers-d'Égletons, cerca de 1291 —
6 de dezembro de 1352) foi o quarto Papa do Papado de Avinhão. O seu Pontificado
decorreu de 7 de maio de 1342 até a data da sua morte. Era Monge Beneditino. Tal
como os seus antecessores, era dedicado às causas francesas. Em 1347 canonizou
Santo Ivo (1253 - 1293), Patrono dos advogados, procuradores, juízes, juristas,
notários, órfãos e abandonados. A 20 de outubro de 1349 proibiu os flagelantes,
uma seita da zona do Reno que emergiu na altura da Peste Negra. Sobreviveu a
esta epidemia, primeiro seguindo os conselhos dos seus médicos de se rodear de
piras, e depois retirando-se para o campo, perto de Avinhão. Mas a coragem e a
caridade do religioso afloraram quando surgiu a pandemia. Ele obrigava os
médicos a visitar os pobres e chegou a comprar um terreno para servir de
cemitério para as vítimas da peste negra. Escreveu a bula 'Unigenitus' (27 de
janeiro de 1343), para justificar o poder Papal e a concessão de indulgências.
Este documento foi usado na defesa das indulgências muitos anos depois, quando
Martinho Lutero afixou as suas 95 teses em Wittenberg, em 1517.
199
. 1 - Santa Catarina de Siena
Nascida
em Siena, na Itália, por volta de 1347, Catarina ouvira o chamamento de Deus desde
a mais tenra infância, numa idade em que, normalmente, só se pensa em brincar.
Passava sua infância aproveitando o silêncio e a solidão de sua casa para rezar
e, em segredo, flagelar seus ombros com uma corda, por amor a Deus. Visitada em
sonho por São Domingos de Gusmão, Catarina tomou a firme resolução de tornar-se
"mantelata" – como eram chamadas as leigas da ordem dominicana. Ao lado de uma sólida vida interior, Santa
Catarina de Siena desempenhou um papel fundamental na história da Igreja, ao pedir
ao Papa Gregório XI o fim do terrível "grande cisma do Ocidente". Ela
exortou o Sumo Pontífice a sair do exílio em Avinhão e voltar para Roma, a fim
de devolver a unidade ao povo católico. Ao fim de sua vida, a Santa de Siena
configurou-se inteiramente a Nosso Senhor, sendo coroada com os Santos Estigmas.
Ela, que era capaz de não tomar, durante cinquenta e cinco dias, outro alimento
senão uma hóstia, converteu-se em um milagre vivo de Deus. Por isso, ainda em
1461, menos de um século depois de seu nascimento para o Céu, foi canonizada
pelo Papa Pio II.
Jesus
revela a Santa como é o Inferno
Diz-lhe
Jesus: "Filha,
a tua linguagem é incapaz de descrever os sofrimentos desses infelizes. No
Inferno, os pecadores padecem quatro tormentos principais: Primeiro tormento: é
a ausência da minha visão. Um sofrimento tão grande, que os condenados, se
fosse possível, prefeririam sofrer o fogo, vendo-me, do que ficarem fora dele
sem me verem. Segundo tormento, como consequência, é o remorso que corrói interiormente
o pecador, privado de mim, longe da conversação dos Anjos, a conviver com os
demônios. Aliás, a visão do Diabo constitui o terceiro tormento. Ao vê-lo,
duplica-se o sofrer... Os infelizes danados veem crescer os seus padecimentos
ao verem os demônios. Nestes, eles conhecem-se melhor, entendendo que pela
própria culpa mereceram o castigo. Assim, o remorso martiriza-os e jamais
cessará o ardor da consciência. Muito grande é este tormento, porque o Diabo é
visto no seu próprio ser; tão horrível é a sua fealdade, que a mente humana não
consegue imaginar. Segundo a Justiça Divina, ele é visto mais ou menos horrível
pelos condenados, conforme a gravidade das suas culpas. O quarto tormento é o
fogo. Um fogo que arde sem consumir, sem destruir o ser humano. É algo
imaterial, que não destrói a alma incorpórea. Na minha Justiça, permito que tal
fogo queime, faça padecer, aflija; mas não destrua. É ardente e fere de modo
crudelíssimo e de muitas maneiras. A uns mais, a outros menos, segundo a
gravidade dos seus pecados." (O Diálogo, 14.3.2)
A carta a seguir foi escrita de próprio punho por Santa
Catarina em outubro de 1377. Fala de uma impressionante experiência mística,
tida pela Santa no dia de São Francisco de Assis. É como um resumo de sua obra
prima “O Diálogo”.
Para frei Raimundo de Cápua
Saudação e objetivo
Em nome
de Jesus Cristo crucificado e da bondosa Maria, caríssimo e bondoso pai em
Jesus Cristo, eu Catarina, serva e escrava dos servos de jesus, vos escrevo no
seu precioso sangue, desejosa de vos ver seguidor e amante da verdade, qual
verdadeiro filho do crucificado. Ele é a verdade e a flor perfumada na ordem e
na hierarquia da Santa Igreja, e vós também deveis sê-lo. Ocorre não desanimar
e não retroceder por causa das numerosas perseguições. Seria muito louco aquele
que desprezasse uma rosa por medo dos espinhos! Quero vos ver como homem forte,
sem medo de ninguém. Estou certa de que, pela infinita bondade divina, se
realizará este meu desejo.
Necessidade de reavivamento espiritual
Caríssimo
pai, revesti-vos de fortaleza na doce esposa de Cristo. Quanto mais ela sofre
dificuldades e amarguras, tanto mais a verdade divina promete enchê-la de
felicidade e conforto. Sua felicidade será esta: a reforma mediante pastores santos
e bons, autênticas flores a dar perfume e glória a Deus pelas virtudes. Essa é
a reforma necessária, ou seja, a dos sacerdotes e pastores. A essência dessa
esposa não carece de reforma, pois não decresce nem é prejudicada pelos delitos
dos ministros. Alegrai-vos, portanto, na amargura! Deus prometeu dar-nos a paz
depois da angústia.
Três pedidos a Deus
Tal foi
a consolação que recebi ao chegar-me a carta do bondoso papai e a vossa. Sofre
muito pelo dano causado à Santa Igreja e por causa de vossa tristeza, segundo
quanto experimentei dentro de mim no dia de São Francisco. Fiquei feliz, porque
me tirastes a preocupação. Tendo lido as cartas e compreendido tudo, pedi a uma
serva de Deus (a própria Catarina) que oferecesse lágrimas e suores em favor da
Santa Igreja e pela doença do Papa. Por graça divina, imediatamente cresceram,
fora de medida, o desejo santo e a alegria. Aquela serva ficou esperando que
amanhecesse para ir à missa, pois era o dia de Maria. Chegada a hora da missa,
colocou-se no seu lugar, meditando sobre a própria imperfeição e
envergonhado-se diante de Deus. Elevada por inflamado anseio, fixou o olhar da
fé na verdade eterna e apresentou-lhe quatro pedidos, enquanto se conservava a
si mesma e seu diretor espiritual diante da Igreja, esposa de Cristo. Em
primeiro lugar, implorou a reforma da santa Igreja. Então Deus Pai, deixando-se
obrigar pelas suas lágrimas e amarrar-se pelo seu desejo, disse: “Minha
filha querida, vê como está suja a face da Igreja devido à impureza, egoísmo,
orgulho e ganância dos seus ministros. Derrama lágrimas e suor, hauridos na
fonte da minha caridade, e lava-lhe o rosto. Afirmo-te que sua beleza não virá
da espada, da violência e da guerra, mas da paz, das orações humildes e
contínuas, do suor e das lágrimas, do amor inflamado dos meus servidores.
Realizarei teu desejo em grandes sofrimentos, mas nunca vos faltará minha
providência”. Embora tal
resposta contivesse a salvação do mundo todo, assim mesmo a oração desceu ao
particular e a serva rogou por todo o universo. Então Deus Pai fez-lhe ver o
amor com que criara o homem e disse: “Vê como todos me ofendem!
Considera, filha, os diversos e numerosos pecados com que me atingem. Sobretudo
o infeliz e abominável egoísmo, fonte de todos os males, com o qual envenenaram
o mundo todo. Por isso vós, meus servidores, ponde-vos diante de mim, com muita
oração. Assim diminuireis a severidade do meu julgamento. Saibas que ninguém
pode escapar das minas mãos. Com o pensamento, olha para minhas mãos”. Em pensamento aquela serva viu o
mundo inteiro nas mãos de Deus, que disse: “Deves saber que ninguém escapa
de minhas mãos. Por justiça ou por misericórdia, todos estão nelas. Todos os
homens me pertencem, todos saíram de mim; amo-os inefavelmente. Usarei de misericórdia
graças aos meus servidores”. Então aquela serva sentia-se feliz e ansiosa por causa da chama de amor
que aumentava. Mostrava-se grata a Deus. Compreendia que Deus lhe manifestava
os pecados dos homens, a fim de que ela se aplicasse com maior empenho e maior
amor. De fato, tanto se avolumou a chama sagrada do amor, que nenhum valor
atribuía ao suor de água que transpirava, e desejava que seu corpo suasse
sangue. Disse ela: “Ó minha alma, perdeste todo o tempo de tua vida!
Eis o motivo por que sobrevieram tantos males e danos à Santa Igreja e ao
mundo, seja em geral como em particular. Por essa razão, quero que remedies
agora com suor de sangue”. A serva, sob o impulso do desejo santo, elevou-se ainda mais e na fé
meditava sobre a caridade divina. Ela percebeu e experimentou quanta obrigação
temos de procurar a glória e o louvor de Deus mediante a salvação dos homens.
Aliás, justamente a isso a verdade eterna vos convida e conclamava em resposta
ao terceiro pedido, relativo à vossa salvação. Dizia Deus: “Filha,
eu quero que ele procure com todo empenho a própria salvação. Mas isso seria
impossível, tanto para ele como para qualquer outra pessoa, sem passar por
muitos sofrimentos, conforme eu os permitir. Já que desejas ver-me honrado na Santa
Igreja, então aceita o sofrimento com amor e paciência. Será essa a prova de
que ele e os demais servidores realmente procuram a minha glória.”
Jesus, a ponte para todos
Somente assim ele será um filho
caríssimo e repousará sobre o peito de meu Filho unigênito, ponte construída
por mim a fim de que todos possais alcançar, experimentar e obter o prêmio
pelas fadigas suportadas. Filho, sabeis que a estrada (para o céu) foi
interrompida pelo pecado e desobediência de Adão. Ninguém mais conseguia atingir
a meta; já não se realizava meu plano, segundo o qual criara o homem a minha
imagem e semelhança desejoso de que ele alcançasse a vida eterna e participasse
e experimentasse minha suma e eterna bondade. Esse pecado deu origem a males e
sofrimentos, bem como a um rio cujas as ondas continuamente esbravejam. Para
não vos afogardes construí uma ponte em meu Filho, pela qual poderíeis passar.
Usai vossa fé e vede como do céu a ponte chega à terra. De fato, se tal ponte
fosse algo de terreno não possuiria a grandiosidade necessária para transpor o
rio e dar-vos a vida. Tal ponte une o céu com a terra. É desse vosso interesse
portanto caminhar por ela procurando a glória do meu nome mediante a salvação
dos homens, suportando numerosas dificuldades na dor, seguindo as pegadas do
amoroso e doce Verbo encarnado. Sois meus operários postos a trabalhar na vinha
da Santa Igreja, pois desejo ser misericordioso para com o mundo. Cuidai,
porém, de não irdes pelo caminho de baixo; não é essa a estrada verdadeira.
Os que vão pelo Rio do pecado
Sabes quais são os que vão por
baixo desta ponte? São os iníquos pecadores. Em favor deles eu quero que me
implores lágrimas e suor pois jazem nas trevas do pecado mortal. Eles vão pelo
rio e se não aceitarem o meu jugo irão para a eterna condenação. Numerosos
pecadores por medo do castigo dirigem-se para a margem e abandonam o pecado
mortal. Ao sentirem seus males, deixam o rio. Se não forem negligentes, senão
adormecerem no egoísmo atingirão a ponte e a ela subirão pelas práticas da
virtude. Mas se continuarem no egoísmo e na negligência tudo lhes parecerá
difícil. Sem perseverança qualquer evento contrário os fará retornar ao pecado.
Os que sobem pela ponte
Aquela
serva vira as diversas maneiras como os homens se afogavam no rio do pecado;
por isso Deus Pai lhe disse: Olha agora os que vão pela ponte de Cristo
crucificado. Ela os viu
correr rapidamente pois estavam livres do peso da vontade própria. Eram os
verdadeiros filhos. Após desprezar a si mesmos, caminhavam inflamados de
desejos santo, unicamente a procura da glória divina e da salvação dos homens.
Sobe seus pés corria água do rio do pecado, pois caminhavam pela ponte de
Cristo crucificado. Caminhavam sobre espinhos, mas estes não lhes causavam dor.
Graças a sua caridade, não se preocupavam com os espinhos das perseguições.
Pacientemente abandonavam as riquezas, que também são espinhos cruéis e mortais
para aqueles que as conservam em desordenado amor; abandonavam-nas como se
fossem um veneno. Sua única preocupação era alegrar-se na cruz de Cristo, único
valor de suas vidas. Outros caminhavam (pela ponte) por quê? Porque não
procuravam o Cristo crucificado na fé, mas consolações espirituais, atitude
esta que torna imperfeito o amor frequentemente paravam, à semelhança de Pedro
antes da paixão, no tempo em que somente se preocupava em gozar da companhia de
Cristo. De fato quando lhe foi retirada a consolação Pedro fracassou mas ao
fortificar-se no desprezo de si, nada mais quis a não ser o conhecimento e procura
de Cristo crucificado. Também os imperfeitos são fracos e não progridem no
desejo santo quando lhe são tiradas as consolações do espírito. Nos
sofrimentos, tentações do demônio, atrativos humanos, dificuldades pessoais,
sentem-se privados do objeto que amavam e desanimam, abandonam a sequela de
Cristo. Por meio de Cristo eles tencionavam seguir Deus Pais no prazer das
consolações, visto que no Pai não acontecem dores; mas somente em Jesus. Aquela
serva compreendia que a fraqueza dos imperfeitos só pode ser corrigida se eles
seguirem o fim, dizia lhe Deus Pai: “Ninguém pode vir a mim a não ser
por meio do meu Filho unigênito. Foi ele que reconstruiu a estrada que deveis
percorrer. Ele é o caminho, a verdade, a vida. As pessoas que vão por tal
estrada conhecem experimentalmente a verdade, saboreiam o amor inefável por ele
vivido nos sofrimentos. Sabes muito bem que, se eu não vos tivesse amado, não
teria dado este Redentor. Amei-vos desde a eternidade preparei meu filho
Unigênito e o entreguei a uma horrível morte na cruz. Por sua obediência e
morte destruiu a desobediência de Adão e a morte da humanidade. É nele que os
homens conhecem a verdade a seguem e atingem a vida eterna. Percorrendo os
caminhos de Crito, chegam ao portal da verdade, atravessam-no e chegam ao
oceano da paz entre os bem aventurados. Como vês, minha filha, os imperfeitos
não dispõem de outro meio para se fortalecerem. Somente por este caminho o
homem se une a verdade e alcança a perfeição a qual o chamei. Todo outro meio é
penoso e insuficiente o que faz o homem sofrer é o egoísmo espiritual ou
sensível. Quem é altruísta, não sofre senão ao me ver ofendido por tal forma
sob a direção da caridade, a pessoa torna-se prudente e jamais se afasta de
minha doce vontade”.
Outros
homens começavam a subir para a ponte Cristo, mas reconheciam o próprio pecado
unicamente por medo dos castigos deles decorrentes. Pelo medo, em si
imperfeito, deixavam a vida de pecado. Destes, muitos passavam rapidamente do
temor servil ao temor santo e caminhavam esforçadamente para o segundo e
terceiro estado; muitos outros porém, sentavam-se negligentemente a entrada da
ponte no temor servil haviam começado a caminhar, mas aos poucos e na tibieza,
sem nenhum amor pelo conhecimento da própria miséria e da bondade divina
presente neles. Por esta razão, continuavam na tibieza. A respeito destes
últimos disse Deus Pai: “Vê, filha querida, como é impossível a estes
últimos não voltar atrás pois não praticam as virtudes. O motivo é este: o
homem não vive sem amor, e seus esforços no conhecer e amar concentram-se no
objeto amado. Se não procuram conhecer-se como encontrarão um modo de entender
a grandeza de minha caridade? Ignorando, não amam; não amando, deixam de me
servir. Todavia se não me amam procurarão amar outras coisas; e retornam ao
egoísmo! Essas pessoas procedem como o cachorro que come vomita olha para o que
rejeitou abocanha-o e engole novamente. São homens negligentes tibios. Haviam
se livrado de seus pecados na confissão por medo dos castigos e com pouco
esforço tinham começado a trilhar o caminho de Cristo. Sem progredir,
retrocedem. Ao se lembrarem dos pecados, não se recordam dos castigos e voltam
ao prazer sensível. Perdem o medo, retornam ao pecado, alimentam-se de egoismo
e de impureza. Merecem maior repreensão que os demais pecadores. Sou assim
maldosamente ofendido pelas minhas criaturas. Por essa razão, filhos
caríssimos, peço que não deixeis diminuir o vosso desejo. Que ele cresça e se
alimente. Ergam-se meus servidores, aprendam com Cristo a por nos ombros as
ovelhas desgarradas e as carreguem com muitos sofrimentos, vigílias e preces.
Assim, passarão pelo Cristo ponte e serão esposos. Filhos da verdade.
Infundirei em vós a sabedoria e a luz da fé; conhecereis perfeitamente a
verdade, atingireis a perfeição”.
Bons e maus pastores
Pai
bondoso! A bondade e misericórdia divina dignou-se revelar-me seus segredos,
coisas que a língua humana não pode exprimir. E que ofuscam a inteligência.
Minha capacidade de entender fica empobrecida e meu coração angustiado. A uma
só voz clamam as minhas faculdades, desejosas de sair deste mundo imperfeito e
ir para a meta final, na degustação da suma e eterna Trindade com os cidadãos
do céu! Lá, rendem-se glórias e louvores a Deus, resurjem as virtudes, bem como
o ardor e a caridade dos autênticos pastores e santos religiosos, que foram
neste mundo lâmpadas autênticas no candelabro da santa Igreja, e iluminaram o
mundo inteiro. Ó Pai, que diferença entre eles e os pastores de nosso dia!
sobre estes últimos lamentou-se Deus Pai, dizendo: “Os
pastores de hoje assemelham-se a mosquitos, afeitos os animais que
despreocupados, pousam em alimentos doces, cheirosos, e logo depois saem e vão
por-se em cima de objetos apodrecidos e asquerosos. Os ministros de hoje, postos
a saborear a suavidade do Sangue de Cristo, não lhe dão valor. Ao deixar o
altar, guardam o Corpo de Jesus e os demais sacramentos preciosos cheios de
suavidade insubistituíveis fontes de vida para quem os recebe dignamente, mas
logo despreocupados, caem na impureza do corpo e do espirito. É uma maldade
vergonhosa, não somente para mim mas até os demônios sentem nojo de tão
miserável pecado”.
Quarto Pedido
Caríssimo
Pai! Após ter respondido as três petições, Deus atendeu a quarta, na qual a
serva implora socorro e providência para um caso particular. Dele não posso
falar por escrito; contarei de viva voz, se Deus não me der a graça de sair
deste corpo antes de encontrar-vos. Nosso corpo possui uma lei, uma lei
perversa que continuamente luta contra o espirito. Sabeis que digo a verdade!
Seria uma graça se Deus me tirasse do corpo, como dizia, Deus se dignou
responder a quarta petição e ao inflamado desejo daquela serva e disse: “Minha
filha, a providência jamais faltará para quem a deseja, isto é, para quem
espera em mim com perfeição. Refiro-me as pessoas que realmente me imploram no
amor e na luz da fé, e não apenas com palavras. Quem me súplica só com
palavras: “Senhor, Senhor”, jamais experimentara minha divindade, minha
providência. Não os reconheço. Quem me invoca sem virtudes só o reconheço pela
justiça e não pela misericórdia, afirmo-te pois que minha providência não falha
em favor dos que esperam em mim. Quero porém, que te dirijas a mim na
paciência. Eu desejo ajudar estas pessoas e todos os que criei a minha imagem e
semelhança num grande ato de amor”.
A ilusão dos pecadores
Obedecendo
à ordem divina, a serva olhou com fé para o abismo da caridade divina e
compreendeu que Deus é bondade. Bondade suma e eterna, que unicamente por amor
criou os homens e os remiu no sangue de Cristo, o qual por amor tudo nos dá.
Tanto o sofrimento como o prazer, tudo provém do amor divino como providência
em prol da salvação dos homens. Disse Deus Pai: “Tudo isso é comprovado
pelo sangue derramado por vós. Todavia os pecadores cegos de egoísmo,
impacientam-se contra mim. Para próprio prejuízo e dano, interpretam mal e no
ódio tudo o que realizo por amor deles, no intuito de livra-los das penas
eternas e dar-lhes o céu. Por que se lamentam de mim? Por que odeiam o que
deveriam respeitar? Por que emitem juízos sobre os meus ocultos designios,
todos eles retissimos? Assemelham-se aos cegos que pelo tato, gosto e audição,
pretende julgar sobre o bem e o mal, baseando-se no seu conhecimento débil e
escasso, recusando-se a opinião de quem enxerga. Parecem ainda com um cego
louco que pelo tato falaz, não distingue as cores; ou pelo paladar ignora que
sobre o alimento andou um animal imundo; ou pelo ouvido não sabe que o cantor pode
dar-lhe a morte. Age deste modo quem não tem fé. Ao sentir o prazer oferecido
pelo mundo, julga-o coisa ótima; sem perceber que tal prazer constitui apenas
uma venda espinhosa e suja para os olhos da fé. O coração de tais pessoas
torna-se imsuportavel para si mesmas. Esse amor desordenado, este prazer,
parecem agradáveis e bons. Dentro deles porém esta o animal imundo do pecado
mortal, que sua a alma. Se o homem em tais casos não se purifica mediante a luz
da fé, terá morte eterna. O som do egoísmo é melodioso e faz o homem correr
atrás da própria sensualidade. Qual cego, o pecador engana-se com o som e,
manietado sera levado para o abismo cegos de egoísmo, cheios de presunção os
pecadores não me seguem, apesar de ser eu o caminho, o guia, a vida e a luz.
Quem anda em mim, não vai ao escuro, nunca erra. Mesmo que não confie em mim
desejo a salvação dos pecadores, tudo lhes envio ou permito por amor.
Continuamente se revoltam contra mim e eu pacientemente os suporto; amo-os sem
ser por eles amados. Impacientes, perseguem-me com ódios murmurações e
infidelidades. Seguindo suas cegas opiniões investigam meus ocultos desígnios,
que são justos e amorosos. Não tem alto conhecimento, por isso julgam
erradamente. Quem não se conhece também não pode conhecer-me ou ter noção de
minha justiça. Filha queres, que te mostre quanto se engana o mundo a respeito
dos meus mistérios? Usa tua fé e olha para mim”.
A providência Divina e o caso
particular
A serva
olhou para Deus cheia de desejos e lhe mostrou a morte daquele homem, pelo qual
ela havia implorado, e disse: “É bom que tu saibas, para livrar aquele
homem da morte eterna, permiti o que aconteceu. Seu sangue derramado obteve-lhe
a vida eterna no sangue de Cristo. Eu me lembrei do respeito e amor que ele tinha
pela mãe de Jesus, A dulcíssima Maria. Foi por misericórdia que permiti o fato,
uma crueldade, segundo o falso julgamento humano. Pensam assim, porque o
egoísmo lhes apagou a luz da fé; não veem a verdade. Se afastassem esta nuvem,
a conheceriam e amariam; respeitando o que aconteceu, teriam o prêmio no dia da
colheita final. Apesar disso e de outras coisas, meus filhos realizarei vossos
desejos com muitos sofrimentos minha providência agira sobre os pecadores com
maior ou menor eficacia, de acordo com sua maior ou menor confiança em mim.
Dar-lhe-eis auxílio até em quantidade maior do que merecem, graças aos desejos
santos dos meus servidores que me imploram. Acolho as súplicas daqueles que
humildemente oram por si e pelos outros. Convido-te pois a implorar meu perdão
pelos pecadores e pelo mundo todo. Ó filhos concebei e gerarei o homem novo
mediante a luta contra o pecado e através de um grande amor”.
Consolações de Catarina
Caríssimo
e bondoso Pai! Ao ver e ouvir tanta coisa da verdade eterna parecia que meu
coração se partisse em dois. Morro e não consigo morrer. Tende pena desta pobre
filha que vive tão contrariada por causa das ofensas cometidas contra Deus e
não tem com que se desafogar. Ainda bem que o Espírito Santo achou uma solução
no meu íntimo com sua clemência e no exterior mediante a possibilidade de
escrever. Confortemo-nos em Cristo Jesus. Sejam os sofrimentos a nossa
consolação. Aceitemos entusiasmados, sem negligências o convite divino. Doce
pai, alegrai-vos. Sois convidado com tanto amor! Suportai as dores alegremente,
com paciência, sem angústia, caso desejeis ser esposo da verdade consolar minha
alma. Não há outro modo de receberdes a graça. Eis porque dizia que desejava
vos ver “seguidor e amante da verdade”. Nada mais vos digo. Permanecei no santo
e doce amor de Deus.
Como Catarina aprende a escrever
Abençoai
fr. Mateus em Cristo Jesus. Esta carta e uma outra que vos mandei foram
escritas de próprio punho em ilha da Rocca com muitos suspiros e abundância de
lágrimas. Meu olho nem mais enxergava. Eu mesma fiquei cheia de admiração,
meditando sobre a bondade e a misericórdia de Deus para comigo e para com todos
na sua providência. Quanto a mim deu me paz, pois encontrava-me sem nenhuma consolação,
como não tivesse aprendido a escrever por ignorância minha, Deus providenciou
dando me a capacidade de aprender. Assim descendo das alturas poderia desafogar
um pouco o coração, evitando que explodisse. Por uma forma adimirável a maneira
do mestre que ensina a criança com o exemplo, Deus imprimiu (a capacidade de
escrever) em meu espirito. Logo que partistes, adormecendo, comecei a escrever
com o glorioso evangelista João e com Tomás de Aquino. Perdoai-me se escrevi
demais. É que a mão e a língua concordam com o coração. Jesus doce Jesus amor.
A
explicação de Deus sobre as lágrimas
CATARINA PEDE EXPLICAÇÕES SOBRE AS
LÁGRIMAS
Desejosa
de conhecer mais sobre os estados da alma, sobre os quais Deus lhe falara,
elevou seu pensamento à verdade suprema. Notara que aqueles estados são
percorridos em lágrimas; queria saber quais são as espécies de lágrimas, qual
sua natureza, sua origem, suas características. Num ardor imenso, como nunca
lhe acontecera antes, sobre-elevou-se toda inflamada de amor. Com fé olhou para
Deus e nele entendeu o que desejava. A verdade divina manifestou-se a ela e
atendeu a seus anseios e pedidos.
As lágrimas nascem do coração
Então
Deus disse àquela serva: - Filha querida, queres que eu te fale sobre as
lágrimas e seus frutos. Não vou desprezar o teu pedido. Presta bem atenção, que
passo a explicar em analogia com os estados da alma descritos acima. Há
lágrimas imperfeitas, que se fundamentam no temor servil. Em primeiro lugar, as
lágrimas de condenação, próprias dos pecadores; em seguida, as lágrimas de
medo, encontradas naqueles que deixam o pecado mortal por medo de castigo e
choram; em terceiro lugar, as lágrimas de auto-consolação, derramadas pelas
almas livres do pecado mortal que começam a servir-me. Estas últimas também são
imperfeitas, pois imperfeito ainda é o amor de onde procedem. Lágrimas
perfeitas são as que procedem do homem que atingiu a perfeição do amor pelo
próximo e que me ama desinteressadamente. Unidas a estas últimas estão as
lágrimas de prazer, espirituais, versadas em grande suavidade, como direi mais
longamente depois. Há, enfim, as lágrimas de fogo, espirituais, concedidas
àqueles que desejam chorar e não conseguem. Todas essas lágrimas podem ocorrer
numa única pessoa em sua caminhada do temor servil ao amor imperfeito e,
depois, do amor perfeito à união. É nessa ordem que passo a falar-te agora. Deves
saber que toda lágrima nasce do coração. Nenhum membro corporal é tão sensível
aos impulsos do coração como os olhos; se o coração sofre, logo eles o revelam.
Também quando o sofrimento do coração é causado pelos pecados, os olhos
derramam lágrimas, que são de morte. São lágrimas de quem vive longe de mim, no
amor dissoluto. Como o coração me ofende, sua dor produz morte, gera lágrimas
mortais. A gravidade da culpa será maior ou menor, conforme a desordem no amor.
Assim, os pecadores choram lágrimas mortais. Delas falarei ainda
As
lágrimas de vida
Começo falando das lágrimas que
produzem a vida. Ao reconhecer os próprios pecados, o homem chora por medo de
castigo; são lágrimas fundamentadas no apetite sensível e procedem da dor
íntima causada pelo temor da pena. Sofrendo assim o coração, os olhos choram. Com
a prática das virtudes, a pessoa vai perdendo esse medo. Vê que o medo, em si,
não lhe concede a vida eterna - como já ficou dito ao se tratar do segundo
estado da alma. Esforça-se, pois, em conhecer-se e conhecer-me. Aos poucos vai
aumentando sua esperança na minha misericórdia. Arrependimento e esperança
alternam-se. Então os olhos choram, com lágrimas a brotar da fonte do coração.
Tais lágrimas freqüentemente ainda são de ordem sensível, pois o amor continua
imperfeito. Se me perguntares por que razão, respondo: porque sua raiz é o
egoísmo. Não é mais um amor puramente sensível, já superado; é espiritual, mas
apegado às consolações espirituais, de cuja imperfeição te falei longamente, ou
apegado a alguma criatura. As consolações podem desaparecer por motivos
internos ou externos; internos, quando cessa algum conforto concedido por mim;
externos, quando, por exemplo, morre uma pessoa amiga. Desaparecem igualmente
pela presença de tentações e dificuldades. Em todos esses casos, a pessoa sofre
e o coração, ressentido, chora. Será um choro de autocompaixão, causado pelo
egoísmo. A vontade própria ainda não morreu; são lágrimas sensíveis de
autocompaixão espiritual.
Prosseguindo na prática das
virtudes e em maior autoconhecimento, a pessoa começa a desprezar-se, a tomar
consciência amorosamente dos meus favores, a unir-se a mim, a conformar-se à minha
vontade. Sente, então, alegria e compaixão: alegria interior produzida pela
caridade e compaixão pelos outros. Já me ocupei do assunto ao tratar: do
terceiro estado. O coração acompanha e os olhos derramam lágrimas por Mim e
pelo próximo. Sente tristeza a pessoa ante as ofensas cometidas contra mim e o
prejuízo dos ofensores; já não pensa em si mesma; preocupa-se em louvar-me,
deseja sofrer à semelhança do Cordeiro humilde, paciente e imaculado, do qual
fiz uma ponte na maneira explicada.
Ao percorrer a ponte-mensagem do
meu Filho, a alma passa pela porta que é Cristo.
Repleta da verdadeira paciência,
dispõe-se a tolerar todas as dificuldades que eu Lhe enviar. Aceita-as com
virilidade, sem preferências, do modo que vierem. Mais ainda! Como já afirmei,
não apenas sofre com paciência, mas com alegria. Considera uma honra padecer
por minha causa; deseja mesmo sofrer. Por tais caminhos, alcança uma satisfação
e paz de espírito tais, que as palavras não conseguem exprimir. Vivendo a
mensagem do meu Filho, o homem fixa o pensamento em mim, conhece-me, ama-me;
nas pegadas do pensamento que contempla a natureza divina unida à humana em
Cristo, a vontade saboreia minha divindade, repousa em mim, oceano de paz. No
amor, permanece unida a mim. Mas de tudo isso já tratei ao ocupar-me do quarto
estado da alma. Pois bem, ao experimentar minha divindade, os olhos derramam
lágrimas de suavidade, verdadeiro alimento que nutre a alma na paciência. Qual
perfume, estas lágrimas exalam odor de grande suavidade. Como é feliz, filha
querida, o homem que ultrapassou o mar proceloso do pecado e chegou ao oceano
da paz, o homem que encheu seu coração com a minha divindade. Qual aqueduto, os
olhos satisfarão o coração derramando lágrimas. Este é o último estado, no qual
o homem é ao mesmo tempo feliz e sofredor. Feliz por achar-se unido a mim,
gozando do amor divino; sofredor ao ver que me ofendem. Age de tal forma por
causa do autoconhecimento; foi conhecendo-se e conhecendo-me, que chegou a tal
estado. Este estado de união, fonte das lágrimas de suavidade, não é
prejudicado pelo conhecimento de si, proveniente do amor ao próximo, donde
recebeu a lágrima do perdão amoroso de Deus e a tristeza pelos pecados alheios;
quando chorou com os que choram e sorriu com os que sorriem. Estes últimos são
as pessoas que vivem no amor; o perfeitíssimo alegra-se ao vê-los dar-me glória
e louvor. Estas segundas lágrimas do terceiro estado perfeito, são as
"lágrimas de união" do quarto estado. Estes dois estados (terceiro e
quarto) se completam mutuamente. Se o último pranto, causador da união com
Deus, não incluísse o terceiro estado - de amor pelos homens - nem seria
perfeito. Necessariamente um estado inclui o outro. Em caso contrário, cair-se-ia
na presunção pela sutil preocupação da própria fama; das alturas, o homem
cairia para a antiga situação de pecado.
Diante desse perigo, ocorre amar
o próximo sempre com autêntico autoconhecimento; esse esforço aumentará a
consciência do meu amor por si mesmo. A caridade para com o próximo deriva
desse amor. Com o mesmo amor que se sente amado, o perfeitíssimo ama o outro;
percebendo qual é o objetivo do meu amor, ama-o também. Num segundo instante a
alma compreende sua incapacidade de ser-me útil, retribuindo-me o puro amor
("Puro amor", para Catarina, é amar sem ser amado antes, coisa
impossível de realizar-se para com Deus, que desde sempre nos amou.) que de mim
recebe. Reage, amando-me naquele "meio" que vos dei, o próximo; nele
todas as virtudes são praticadas. Todas as qualidades que vos dei, destinam-se
ao benefício dos outros, em geral e em particular. É vossa obrigação amar com o
mesmo puro amor que eu Vos amo. Não sois capazes de praticá-lo para comigo, já
que Vos amei antes de ser por vós amado. Meu amor não tem justificação; amo
antes. Foi tal dileção que levou a criar-vos a minha imagem e semelhança. Sim,
amor igual não podeis manifestar relativamente a mim; praticai-o para com os
homens. Amando-os sem serdes amados, amando-os sem interesses espirituais e
materiais; amando-os unicamente para o louvor do meu nome; amando-os porque são
amados por mim. É desse modo que cumprireis o mandamento de "amar-me sobre
todas as coisas e ao próximo como a vos mesmos". A tais alturas não se
chega sem atingir o estado de união, que segue o terceiro. Mas seria impossível
conservar tal união Comigo, se se abandona aquele amor das lágrimas do terceiro
estado, da mesma forma que não é possível cumprir o mandamento de amar-me sem
cumprir o mandamento de amar o próximo. Eles, (os dois amores) são os dois pés
que levam a vivência dos mandamentos e dos conselhos dados por meu Filho
crucificado. Estes dois estados (terceiro e quarto) reduzem-se a um e nutrem o
homem na prática das virtudes e na união Comigo. Realmente, não se trata de um
novo estado; é o terceiro que se aperfeiçoa em novas, numerosas e admiráveis
elevações do espírito, conforme expliquei. Dá-se uma compreensão da verdade
que, embora realizada na terra, parece celeste. Em tal união, a sensualidade é
dominada e a vontade própria morre. Como é agradável essa união para quem a
desfruta; ao experimentá-la, o homem conhece meus segredos e chega mesmo a
profetizar acontecimentos futuros. São coisas que dependem de mim, e a pessoa
interessada não deve dar-lhes grande valor. Explico-me: valorize, sim, o que
realizo; mas evite comprazer-se por apego pessoal. Que a pessoa se julgue
indigna de qualquer sossego e tranqüilidade espirituais. A fim de nutrir sua
alma, não se julgue um perfeitíssimo, mas desça ao vale do autoconhecimento.
Esta volta ao conhecimento de si é uma graça, destinada a iluminar a alma e
fazê-la progredir. Durante esta vida, ninguém é tão perfeito que não possa
aperfeiçoar-se no amor. Somente meu Filho, que é vossa cabeça, não podia
progredir na perfeição, pois Eu e Ele somos um. Por causa da união com a
natureza divina, Sua alma era compreensora. (No sentido de que gozava a visão
beatífica) Vós, ainda peregrinos, sempre podeis crescer. Não que atinjais um
estado ulterior, pois o estado de união é o último. Por minha graça podeis
aperfeiçoá-lo segundo vosso desejo.
As
lágrimas e as fases da vida espiritual
Conforme teu pedido,
expliquei-te as espécies de lágrimas com suas características. As primeiras são
próprias das pessoas que vivem em pecado mortal. As lágrimas brotam do coração;
como aqui a fonte está corrompida, o pranto é pecaminoso e mau, bem como todas
as demais atividades. As segundas lágrimas pertencem àqueles que começam a ter
consciência dos próprios males e temem os castigos consequentes. Constitui o
comum início de conversão, misericordiosamente concedido por mim aos homens
fracos e desorientados que vão se afogando pelo rio do pecado e desprezando a
mensagem do meu Filho. Infelizmente são numerosíssimos os pecadores que
conscientes, sem nenhum temor, continuam no pecado. Alguns repentinamente
sentem grande descontentamento de si mesmos e passam a considerarem-se dignos
de castigos; outros, arrependem-se por terem me ofendido e com bonomia se põem
a servir-me. De todos eles, certamente têm maior possibilidade de atingir a
perfeição aqueles que se convertem com grande ardor; mas esforçando-se todos o
conseguirão. Os primeiros terão de preocupar-se em não ficar no temor servil;
os segundos, em não cair na tibieza. Trata-se de um acordar geral à santidade.
As terceiras lágrimas estão nas pessoas que superaram o temor servil e atingiram
o amor e a esperança. Percebem que lhes perdoei, sentem favores e consolações.
Para concordar com o coração, choram. Como são imperfeitas, conforme expliquei,
trata-se de um pranto ao mesmo tempo sensível e espiritual. As quartas lágrimas
acontecem com a prática das virtudes. Crescendo o desejo da alma, a pessoa se
une e se conforma à minha vontade; quer o que Eu quero, ama profundamente o
próximo. É um pranto de amor por mim e de dor pelos pecados e prejuízos
sofridos pelo próximo. As quintas lágrimas, próprias da última perfeição,
completam as anteriores. Em união com a verdade eterna, estes progridem muito
no desejo santo. Por esse motivo, o demônio os teme e não consegue
prejudicar-lhes a alma, seja com ofensas, pois são pacientes na caridade, seja
com atrativos espirituais e materiais, por eles humildemente desprezados. Na
verdade, o demônio não dorme jamais. Nisto ele até vos dá lições, vós que sois
negligentes e dormis no tempo da messe. Mas sua vigilância não consegue
prejudicar as pessoas que se acham no estado de união, pois ele não tolera o
ardor da caridade e a união da alma Comigo. Quem vive em mim, não pode ser
enganado. O diabo evita os perfeitíssimos como o mosquito se afasta da panela
que ferve, por medo do calor. Quando a panela se acha fria, o mosquito se
engana e cai dentro, encontrando às vezes mais calor do que percebia. O mesmo
acontece com os homens. Antes que eles cheguem à perfeição, o demônio os julga
frios e atormenta com muitas tentações. Mas se neles houver um pouquinho de
entendimento, de fervor e de desprezo pelo pecado, a vontade não consentirá.
Alegrem-se aqueles que sofrem; esse é o caminho para se ir até o estado de
união. Já afirmei que o meio de se conquistar a perfeição está no conhecer-se e
no conhecer-me. Ora, se eu estiver na alma, não há ocasião mais oportuna para
conhecer-se do que no tempo das contradições. Em que sentido? Vou explicar. Nas
dificuldades, o homem tem mais consciência das próprias forças; compreende que
somente conseguirá resistir e libertar-se das tentações se sua vontade for
reta; vê que de si mesmo nada é, pois em caso contrário afastaria as tentações
indesejáveis. O autoconhecimento, portanto, conduz à humildade e faz recorrer a
mim, Deus eterno, mediante a fé. A pessoa compreende que somente Eu dou a
vontade reta, que não consente nas tentações e evita as insinuações más. Estais
certos quando procurais vos fortalecer mediante a mensagem do meu Filho, o
amoroso Verbo encarnado, durante as provações, sofrimentos, adversidades e
tentações. Tal atitude aumenta vossa virtude e vos ajuda a chegar à perfeição.
As
lágrimas de fogo
Falei sobre as lágrimas
imperfeitas e perfeitas, dizendo que brotam do coração. Qualquer que seja o
motivo pelo qual se chore, é do coração que todas as lágrimas nascem. Neste
sentido, indistintamente podem ser chamadas "lágrimas cordiais". A
diferença entre elas encontra-se na qualidade do amor, bom ou mau, perfeito ou
imperfeito. Falta-me responder sobre o caso daqueles que, desejosos de possuir
a perfeição das lágrimas, não conseguem chorar. Existe alguma lágrima que não
saia dos olhos? Sim, existe um pranto de fogo, procedente do desejo santo e que
faz consumar-se no amor por mim. Há pessoas que gostariam de chorar na renúncia
de si mesmas e no desejo de salvar os outros, mas não conseguem. Relativamente
a tais pessoas, afirmo que já possuem a lágrima de fogo, com que chora o
Espírito Santo. Sem lágrimas exteriores, elas me oferecem as aspirações da
vontade que deseja chorar. Aliás, se prestares atenção, verás que o Espírito
Santo chora em cada servidor meu que possui o desejo santo e faz orações
contínuas e humildes na minha presença. Ao que parece, foi quanto pretendia
afirmar o glorioso apóstolo Paulo, ao dizer que o Espírito Santo chora em mim
"com gemidos inenarráveis", a vosso favor. O fruto da lágrima de fogo
não é menor que o das demais. Muitas vezes, até maior, dependendo da intensidade
do amor. Ninguém deve perturbar-se, pois, e julgar-se distante de mim, só
porque não derrama as lágrimas que deseja. Ao desejar lágrimas, ocorre
conformar-se à minha vontade, humilhar-se diante do "sim" e do
"não" por mim pronunciados. Às vezes, deixo uma pessoa sem lágrimas,
a fim de que permaneça numa atitude humilde, em oração contínua, desejosa de
chegar a mim. Almas existem que, se conseguissem o que almejam, nem tirariam
proveito; sentir-se-iam satisfeitas com a obtenção das lágrimas desejadas e
cairiam no egoísmo. É para vosso crescimento que não dou lágrimas exteriores,
mas unicamente as do espírito, as do coração, inflamadas na chama da divina
caridade. Em todo estado de vida e ocasião, tais pessoas podem agradar-me. A
menos que seu espírito se afaste de mim por falta de fé e amor. Sou o médico,
vós sois os doentes; dou a todos o que é necessário para a salvação e o
crescimento de vossas almas.
As
lágrimas são infinitas
Conforme acabo de explicar,
filha querida, essa é a doutrina sobre as cinco lágrimas. Afoga-te, pois, no
sangue de Cristo crucificado, o Cordeiro humilde, sofredor e puro. Esforça-te
por crescer nas virtudes, aumenta em ti a chama da minha caridade. Os cinco
tipos de lágrimas são como que canais: quatro deles derramam infinitas espécies
de lágrimas, as quais produzem a vida se forem usadas de acordo com a virtude.
Infinitas, repito, não no sentido de que tenhais de chorar sem fim nesta vida,
mas relativamente ao desejo da alma. Já afirmei que a lágrima brota do coração.
É ele que a recolhe no desejo santo e oferece aos olhos. Como a madeira verde
atirada ao fogo; por causa do calor, sua umidade ferve, geme. Com a madeira
seca não acontece assim. Igualmente sucede com o coração, quando a graça divina
o renova, destruindo a sequidão do egoísmo que enrijece a alma. Amor e lágrimas
unem-se no desejo santo. Mas este último, durante esta vida, não tem limites.
Quanto mais o homem ama menos acredita estar amando. Dessa forma: o desejo ulterior
de amar provoca o pranto. Quando a alma se separa do corpo e chega até mim, seu
fim último, não deixa o desejo santo; continua a querer-me e a amar o próximo.
A caridade penetrou em si como rainha, levando consigo o merecimento de todas
as virtudes. Como já disse, cessa todo sofrimento; ao desejar-me, a alma me
possui, sem temor de vir a perder o que tanto sonhara. Todavia suas aspirações
crescem: ao desejar, é atendida; e ao ser atendida deseja mais, sem ameaça de
qualquer fastio. Nem sofre ao desejar ainda. A perfeição é total. É desse modo
que vosso desejo é infinito. Nem poderia ser diferentemente. Se me servísseis
apenas com atitudes finitas, nenhuma virtude vossa alcançaria a vida. Sou o
Deus infinito e quero serviço infinito de vossa parte. Mas de infinito só
tendes o desejo da alma. Por isso dizia antes que as lágrimas são infinitas;
infinitas, por estarem associadas ao desejo santo, infinito. Depois da morte, a
lágrima sensível não acompanha o homem. Mas ele leva consigo os merecimentos do
pranto terreno e os consome. Sucede tal como a água que se atira numa fornalha;
ela não fica de lado, mas é pelo fogo absorvida e vaporizada. Sim, é quanto
acontece com o homem que chega ao céu, para experimentar o fogo da caridade
divina, cheio de amor na união Comigo e o próximo, causa de suas lágrimas. Ele
não pára de me oferecer suas aspirações, felizes e lacrimosas; só que não serão
mais lágrimas dos olhos, mas lágrimas de fogo do Espírito Santo.
Frutos
das cinco lágrimas
Compreendeste agora como as
lágrimas são infinitas. Mesmo durante esta vida há tantas maneiras de chorar no
estado da união, que tua língua é insuficiente para declará-las. Depois de
explicar-te como são as lágrimas nos quatro estados da vida espiritual, falta-me
discorrer sobre os frutos que elas e o desejo santo produzem.
Efeitos
das lágrimas de condenação
Começo por aquela lágrima, a que
me referi no começo, a lágrima dos homens que vivem pecaminosamente no mundo,
que consideram seu deus as pessoas, as coisas, a própria sensualidade. Essa atitude
é para eles a fonte de todos os males na alma e no corpo. Disse acima que as
lágrimas nascem do coração. De fato, o coração chora de acordo com seu amor. O
pecador, por exemplo, chora quando o coração sofre com a perda de um objeto
amado. Suas lágrimas são numerosíssimas, conforme a variedade do amor.
Achando-se corrompida a raiz interior, que é o egoísmo, tudo nasce corrompido.
É como uma árvore, cujos frutos fossem venenosos, as flores pobres, as folhas
manchadas e os ramos voltados para o chão, vergastados pelos ventos. Tal é a
árvore interior dos pecadores. Vós, porém, deveis ser árvores de amor. Por amor
vos criei, sem amor não podeis viver. O homem virtuoso planta sua árvore no
vale da humildade; o orgulhoso, na montanha da soberba. Mal plantada, a árvore
deste último só produz frutos mortais.
As más
ações
Frutos desta árvore são as más
ações, carregadas de veneno por muitos e diferentes pecados. Mesmo quando o
pecador pratica uma boa ação, não merece para a vida eterna, uma vez que a raiz
do egoísmo prejudica tudo. Sua alma, em pecado mortal, não possui a graça. Mesmo
assim, o homem pecador não deve deixar de praticar o bem, pois toda boa obra
terá sua recompensa. A boa ação praticada em pecado mortal não merece o céu,
mas é paga por minha justiça. Às vezes, darei bens materiais; outras vezes,
como já disse antes ao tratar deste assunto, dou uma vida mais longa para que
possa o pecador emendar-se; outras ainda, concedo a vida da graça pelos
merecimentos de algum meu servidor. Foi o que fiz no glorioso apóstolo Paulo,
que abandonou a infidelidade e as perseguições ao cristianismo devido às preces
de santo Estêvão. Como vês, qualquer que seja seu estado de vida, ninguém deve
deixar de fazer o bem.
Os
sentimentos maus
Dizia que as folhas desta árvore
de morte são podres. Referia-me aos maus sentimentos do coração. Tais
sentimentos internos ofendem-me e levam a pessoa ao ódio e desprezo pelos
outros. Qual ladrão, o pecador rouba-me a honra, para atribuí-la a si mesmo.
São flores apodrecidas, causadoras de náusea pelas duas espécies de julgamento
que causam. Primeiro, a meu respeito. O homem pecador pronuncia-se iniquamente
sobre Meus ocultos juízos e mistérios; despreza tudo quanto realizei por amor;
nega quanto revelei em meu Filho; destrói os meios por mim oferecidos para se
alcançar a vida. Tais pessoas tudo julgam e condenam em sintonia com seu
parecer enfermiço. O egoísmo cegou-lhes a inteligência, vendou o olhar da fé,
impediu-lhes de reconhecer a verdade. Segundo, relativamente ao próximo. Uma
fonte de numerosos males. Sem autoconhecimento, o infeliz pecador pretende
pronunciar-se sobre o segredo íntimo dos outros. Baseado em comportamentos
exteriores, julga os sentimentos do coração. Meus servidores julgam sempre retamente,
pois fundamentam-se na minha bondade; os pecadores, sempre mal, alicerçados que
estão na maldade. De seus juízos nascem muitas vezes o ódio, homicídios,
desprezo pelos demais, distanciamento de meus servidores devido ao seu amor
pela virtude.
As más
palavras
Aos poucos vão aparecendo as
folhas, que são as palavras: os pronunciamentos ofensivos a mim, ao sangue de meu
Filho, prejudiciais aos outros homens. A preocupação dos pecadores é falar mal,
blasfemar contra minhas obras, murmurar contra todo mundo. Consideram como
realidade tudo o que seu julgamento sugere. Pobre infelizes, não sabem que a língua
foi feita unicamente para me louvar, para a confissão dos pecados, para a
promoção da virtude na salvação dos homens. Folhas manchadas pela culpa! Tudo
isso, porque está sujo o coração donde nascem; cheio de duplicidade e mal. Além
de prejudicar o homem com a perda da graça, as palavras suscitam desavenças na
vida social. Já ouviste falar que, devido às palavras, aconteceram revoltas nos
estados, ruína de cidades, homicídios e muitos outros males. A palavra
pronunciada penetra fundo no coração do homem a quem é dirigida, atinge regiões
que nenhum punhal alcança.
Os vícios
capitais
A árvore de morte possui sete
galhos, inclinados para a terra, que produzem flores e folhas. São os sete
vícios capitais, responsáveis por numerosos e diferentes pecados, todos eles
enraizados no egoísmo e no orgulho. Os frutos são as más ações. Esses galhos -
os vícios capitais - inclinam-se para a terra, enquanto tendem unicamente para
a frágil e desordenada realidade deste mundo. Inclinam-se para nutrirem-se,
incansavelmente, da terra. Os pecadores são insaciáveis e insuportáveis a si
mesmos, sempre inquietos a procurar justamente o que não os pode saciar. O
motivo por que são insaciáveis é o seguinte: Como pecadores, desejam só as
realidades finitas, ao passo que eles, no que se refere ao ser, são infinitos,
isto é, jamais deixarão de existir. No máximo perderão a vida da graça por
causa do pecado mortal. O homem é maior que as realidades criadas, não
vice-versa. Somente estará satisfeito, quando atingir um bem superior a si.
Como somente Eu sou maior que o homem, disto decorre que somente Eu, Deus
eterno, consigo saciá-lo. Separado de Mim pelo pecado, o homem vive perenemente
atormentado e sofredor.
Os
vendavais da vida
Ao sofrimento segue o pranto;
sobrevêm então os vendavais que açoitam esta árvore de quem ama a sensualidade
como razão da própria vida. Os vendavais são quatro: da prosperidade, da
adversidade, do temor servil e do remorso. A prosperidade material alimenta o
orgulho, a presunção; leva o pecador a valorizar-se excessivamente e a
desprezar os outros. Se for patrão, oprimirá o súdito com muitas injustiças. A
prosperidade é ainda causa de vaidade pessoal, de impureza do corpo e do
espírito, de desejo de fama, e de muitos outros defeitos. Tua linguagem nem
seria capaz de enumerá-los. Seria, então, má em si mesma a riqueza? Não, assim
como as outras três realidades de que falo. O que está apodrecido é a raiz da
árvore, ruína de todo o resto. Eu, autor de todos os acontecimentos, sou
imensamente bom! À prosperidade material pode sobrevir o choro, quando o
coração, insaciável, não realiza seus desejos; ante essa impotência, o pecador
sofre e chora porque as lágrimas, como disse, nascem do coração. Segue-se o
vendaval do temor servil. Quando um homem tem medo de perder quanto ama, até
sua sombra causa-lhe temor. Por exemplo, o medo de morrer, de perder um dos
filhos ou qualquer outra pessoa, o medo de ser humilhado, de decair na posição
social, de perder a boa fama, a riqueza. Semelhantes temores não permitem ao
homem nem conservar em tranqüilidade os bens que possui desordenadamente.
Escravo de suas posses, o pecador vive temendo; e como o pecado é privação, a
pessoa termina no nada. Além do medo, os pecadores costumam sofrer
adversidades, quais sejam perdas de bens em geral e em particular. Em geral,
por ocasião da morte; em particular, pela privação de uma coisa ou outra: saúde,
filhos, riquezas, posição social, honras. Tais perdas acontecem quando eu,
médico bondoso, julgo proveitoso permiti-ias, da mesma forma como concedera
aqueles bens antes. Por terem o coração corrompido, muitos pecadores
impacientam-se, sem procurar compreender. Surgem os protestos, a murmuração, o
ódio, o desprezo por mim e pelos outros. Consideram mal aquilo que Eu dera como
bem; apenas lhes conta a dor pelo objeto amado. Diante disso, o pecador costuma
cair num pranto angustiado e impaciente, que lhe arruína e mata a alma,
privando-a a vida da graça; um choro que cega a pessoa, corporal e
espiritualmente: que lhe retira toda alegria, toda esperança. Chora o pecador,
porque privado daquilo que constituía seu prazer e o objeto de sua afeição, de
sua esperança, de sua fé. Além da lágrima, há outras causas desses grandes
inconvenientes; são a afeição desordenada e a angústia do coração, donde a
lágrima procede. De fato, não é a lágrima exterior que causa a morte espiritual
e o sofrimento, mas sim a raiz donde ela nasce, isto é, o egoísmo do coração
desregrado. Quando o coração é bom e possui a graça, o pranto também é santo e
alcança de mim a misericórdia. Dei o nome de "lágrima de condenação"
a este pranto, porque manifesta que o coração está morto. Disse acima que
existe também o vendaval do remorso! Como Sou bondoso, sirvo-me da prosperidade
material para atrair amorosamente os homens; do temor servil, a fim de que
orientem o coração para a prática das virtudes; da adversidade, para que o
homem tome consciência da fragilidade e incerteza das realidades deste mundo.
Acontece, porém, que para alguns todos esses meios não produzem efeito; dado
que os amo demais, envio então o remorso da consciência. Quero que confessem
seus pecados no sacramento da penitência! Quando se obstinam no mal e recusam
tal graça, os pecadores acabam na reprovação. Iludem as reprovações da própria
consciência, distraem-se com prazeres ilícitos, ofendem a mim e ao próximo. Com
a raiz da árvore apodrecida, tudo secou e a pessoa recai na tristeza íntima,
entre lágrimas e angústias. Não havendo conversão enquanto para isso dispõem da
liberdade, tais pessoas passarão do pranto da terra para o choro do inferno.
Então o finito se mudará em infinito, pois a causa deste último pranto é o ódio
infinito pelo bem, em que se fundamentara o pecador. Os réprobos do inferno, se
quisessem, teriam escapado da perdição durante esta vida, através do meu
perdão. Eram livres, mesmo tendo-se dito que seu ódio pelo bem era infinito. A
infinitude não se refere à intensidade do amor ou do ódio, mas à duração no
tempo. Enquanto estais neste mundo, sois livres de amar ou odiar como quereis;
quem encerra esta vida no amor, terá um bem infinito e quem a terminar no ódio,
encontrar-se-á num mal interminável, na condenação eterna. Desta já me ocupei
ao tratar daqueles que vão afogando-se pelo rio do pecado. Longe da minha
misericórdia e do amor dos homens, já não poderão querer o bem. Os bem-aventurados,
ao contrário, gozam da minha misericórdia, amam-se mutuamente e têm o vosso
amor de caminhantes desta vida. Aliás, foi para que também vós venhas a mim que
vos coloquei no mundo. Para os condenados de nada servem vossas esmolas e boas
obras. São membros separados do corpo que eu constituí na caridade. Recusaram
obedecer aos santos preceitos da hierarquia, de quem recebeis nesta vida o
sangue do Cordeiro imaculado. Condenaram-se, assim, eternamente em choro e
ranger de dentes, quais mártires do demônio. Ali recebem do demônio os frutos
que para si recolheram. Desse modo, as lágrimas de condenação fazem sofrer
nesta vida e dão a companhia interminável dos demônios na outra.
Efeitos
das lágrimas de temor
Passo a falar dos frutos
colhidos por aqueles que, por medo dos castigos, abandonam o pecado para viver
em estado de graça. São numerosos os que, pelo temor da pena, param de pecar. É
o acordar geral, de que falei. Quais são os efeitos em tais pessoas? O medo de
ser castigado age sobre o livre arbítrio e este procede à limpeza da casa da
alma. Tendo-se purificado (na confissão) o homem sente paz em sua consciência,
põe ordem nas suas afeições, abre a inteligência para o autoconhecimento. Antes
de tal purificação, a inteligência apenas pensava nos pecados; surgem agora as
primeiras consolações espirituais. Livre dos remorsos, a alma espera o alimento
das virtudes. Acontece-lhe como para o doente após a cura: volta-lhe o apetite.
Tocará à vontade preparar-lhe o alimento espiritual.
Efeitos
das lágrimas de autocompaixão
Livre do medo dos castigos, a
alma colhe as segundas lágrimas de vida, com as quais busca o amor e a prática
das virtudes. Embora ainda seja imperfeita, a pessoa já não teme; como verdade
suma, Eu lhe dou consolações e amor. Por causa de tal consolação e amor, ama-me
docemente a mim e as demais pessoas. A vivência desse amor na alma purificada
pelo temor servil infunde numerosas e variadas consolações. Se perseverar,
chegará a sentar-se à mesa do Crucificado, passando do medo ao amor.
Efeitos
das lágrimas de amor
Ao chegar às terceiras lágrimas
de vida, o homem se põe à mesa da santa cruz, nela saboreando o amoroso Verbo
encarnado. Meu Filho deseja minha honra e vossa salvação; por isso, Seu coração
foi aberto e se fez vosso alimento. Nesta "mesa" o homem começa a
alimentar-se do desejo da minha glória e da salvação dos homens, bem como a renunciar
a si mesmo e ao pecado. Que frutos recolhe o homem destas lágrimas do terceiro
estado? São os seguintes: grandes forças em dominar a sensualidade, verdadeira
humildade, muita paciência. Esta paciência vence toda oposição e liberta o
homem dos sofrimentos. Quem faz sofrer é a vontade própria, que é destruída
pela renúncia a si mesmo. A paciência domina a sensualidade, que se revolta
diante das ofensas, perseguições, ausência de consolações espirituais e
sensíveis, tornando o homem sofrido. Com a morte da vontade própria, a pessoa
experimenta os frutos da paciência em desejo amoroso e lacrimejante. Um fruto
suavíssimo, como és agradável a quem te possui! Como tu me agradas! Quem te
possui é feliz mesmo na amargura. Nas injúrias, vive em paz. Ao navegar por
mares procelosos, quando perigosas ventanias erguem terríveis ondas contra a
barquinha da alma, tu vais tranquila e serena sem danos. Minha vontade eterna
te protege, pois te revestiu com a couraça da caridade e impede que a água do
pecado penetre em ti! Filha querida, a paciência é uma rainha encastelada numa
fortaleza de rocha; vence e jamais é vencida. Nunca está sozinha, pois a
constância lhe faz companhia! Ela é o cerne da caridade, é o sinal de que
alguém possui a veste nupcial do amor. De fato, logo que tal "veste"
é rasgada, o homem se torna impaciente. Todas as virtudes podem ser
falsificadas, parecendo verdadeiras sem o ser diante de mim. A paciência,
aliás, mostra quando uma virtude é viva e verdadeira, enquanto o homem
impaciente manifesta a imperfeição dos seus atos, revelando que ainda não se
assentou à mesa de cruz. E junto à cruz que se adquire a paciência; quem se
conhece e me conhece, conseguirá praticá-la depois com desejo santo e
humildade. O homem paciente nunca deixa de me honrar e de trabalhar pela
salvação dos outros, dedicando a isso o próprio tempo. Ó filha querida, a
paciência encontrava-se nos mártires, que mediante os sofrimentos salvaram
outros; suas mortes foram fonte de vida, ressuscitando mortos e expulsando as
trevas do pecado mortal. Na força desta virtude rainha, eles venceram o mundo
com seus atrativos; com seus recursos, os poderosos não conseguiram
derrotá-los. A paciência é uma lâmpada sobre o candelabro. Tal é o fruto
produzido pela "lágrima de amor", na pessoa que conseguiu sentar-se à
mesa do Crucificado, cheio de desejo santo e com intolerável dor pelas ofensas
cometidas contra mim, seu Criador. Mas não é uma dor angustiante. A angústia já
cessara, quando o amor paciente destruiu o temor servil e o egoísmo, únicos
fatores que fazem sofrer. A dor sentida é uma dor que conforta, pois nasce da
caridade e é causada pelo conhecimento de pecados contra mim e de danos
sofridos pelos pecadores. E um sentimento que brota do amor e enriquece o
homem; algo que alegra, algo que revela Minha presença na graça.
Efeitos
das lágrimas de união
Tendo-me ocupado sobre os frutos
das terceiras lágrimas de vida, resta-me o quarto e último estado, o da união.
Este, como já disse, não existe como que separado do anterior. Ambos coexistem,
como acontece com o amor pelo próximo e o amor por mim; um reforça o outro.
Neste quarto estado, aumenta tanto a caridade, que o homem não somente suporta
as dificuldades pacientemente, mas deseja-as com alegria, como ficou explicado
acima. Desejoso de configurar-se a Cristo crucificado, renuncia a toda
satisfação pessoal, de qualquer tipo que seja. Fruto desta lágrima de união é a
quietude do espírito, uma comunhão contínua Comigo em grande prazer. Qual
criança no colo da mãe, com a boca colada ao seio sugando o leite, assim a
alma, neste estado, descansa no seio do meu amor e, pelo desejo santo,
alimenta-se do Crucificado pelos Seus exemplos e mensagens. Durante o terceiro
estado a alma aprendera que não devia fixar-se unicamente em mim, Pai eterno,
porque em mim não há sofrimento; que devia imitar meu Filho, o doce e amoroso
Verbo encarnado. Vós não deveis viver sem a dor; é tolerando muita dificuldade
que atingis o aprimoramento da virtude. Esse aprimoramento é alcançado no
Coração de Cristo, sede do amor. É ali que as almas buscam a força da graça,
experimentando a divindade. Antes disso, as virtudes não possuem suavidade; ela
chega com a união no meu amor, ou seja, quando o homem deixa de preocupar-se
com os próprios interesses, visando apenas minha glória e salvação alheia.
Filha querida, como é agradável e grandioso este estado da alma! Nele o homem
se une muito estreitamente ao amor divino. Como está a boca da criança para o
seio materno, e o seio materno para o leite que sustenta, assim está a alma
para com Cristo crucificado e para Comigo, onde acha o alimento da divindade.
Oxalá se entendesse como aqui as faculdades se enriquecem. A memória lembra-se
de mim permanentemente, atenta aos meus benefícios; mas ela se fixa menos sobre
os benefícios, do que no amor com que os dei. De maneira particular a memória
considera o dom da criação, pelo qual o homem surgiu do nada à minha imagem e
semelhança. Quando estava no primeiro estado, a consciência de tal favor levara
a alma a reconhecer a ingratidão em que vivia e a abandonar o pecado por graça
do sangue de Cristo. Em tal sangue Eu vos recriei, Eu vos lavei da lepra do
mal. Ao passar para o segundo estado a alma recebera grande consolação no amor,
bem como o desgosto pela culpa com que me ofendera, pois foi por esse motivo
que fiz sofrer meu Filho. Continuando, a memória se lembra da efusão do
Espírito Santo, que a iluminara - e ilumina ainda - na verdade. Quando isso
aconteceu? Após ter reconhecido os dons divinos concedidos durante o primeiro e
segundo estados. É no terceiro que se dá a iluminação completa, mediante a qual
vê que por amor criei o homem no intuito de dar-lhe a vida eterna. Revelei-vos
tal verdade no sangue de Cristo. Consciente disso tudo, o homem ama-me,
gostando do que Eu gosto, desprezando o que desprezo. Descobre assim no próximo
o "meio" para amar. É no coração de Cristo que a memória supera toda
imperfeição e enche-se da recordação dos meus favores. Com a perfeita
iluminação, a inteligência perscruta tudo o que a memória retém, conhecendo a
verdade. Uma vez superada a cegueira do egoísmo, ela contempla o sol que é
Cristo crucificado e O reconhece como Deus e Homem. Por ocasião da união
Comigo, recebera uma ulterior iluminação infusa, dom gratuito meu, que não
desprezo os ardentes desejos e esforços da alma. A vontade segue a
inteligência, une-se à sabedoria infusa com um amor perfeitíssimo, muito
ardente. Se me perguntassem o que aconteceu numa pessoa assim, eu responderia:
tornou-se um outro eu na caridade! Que língua seria capaz de narrar a
excelência deste último estado - a união - e descrever os efeitos produzidos
nas três faculdades humanas, inteiramente realizadas? Aqui acontece aquela
"unificação" das faculdades por mim mencionadas ao falar dos três
graus (gerais), comentando uma expressão bíblica. Não, a linguagem humana não é
capaz de a descrever! Dela falaram os santos doutores, quando a iluminação
infusa os fez explicar a Sagrada Escritura. São Tomás de Aquino, por exemplo,
adquiriu sua sabedoria mais na oração, no êxtase e na iluminação da mente do
que no estudo humano. Foi uma lâmpada por mim colocada na hierarquia da santa
Igreja a dissipar as trevas do erro. São João evangelista, quanta luz recebeu
ao reclinar-se sobre o peito de Cristo. Com essa luz desde então, e durante
muitos anos, pregou o evangelho. E se considerares um por um os santos doutores,
todos eles revelaram tal luz, cada um a seu modo. Mas ser-te-ia impossível
descrever o sentimento profundo, a suavidade inefável, a perfeita comunhão! É a
isto que Paulo se referia quando afirmava: "Os olhos não podem ver, nem os
ouvidos escutar, nem a mente pensar quão grande prazer e que perfeição estão
preparados, no final, para aquele que realmente me serve". Como é
agradável, acima de todo outro prazer, a permanência do homem em mim pelo amor!
A vontade própria já não põe empecilhos, pois se tornou uma coisa Comigo. Essa
pessoa espalha seu perfume pelo mundo inteiro, qual efeito de suas orações
contínuas e humildes. É o perfume do amor, a clamar pelos irmãos diante de minha
divina majestade na voz do próprio silêncio! São esses os frutos da união nesta
vida, entre lágrimas e suores, no último estado da vida espiritual. Se a pessoa
perseverar, passará, um dia, dessa união imperfeita como união, mas perfeita
quanto à graça, à perfeita união celeste. Enquanto se encontra no corpo, o
homem não atinge tudo o que deseja; estará preso a uma "lei
perversa", cuja força as virtudes adormecem, mas não destroem. Essa lei
poderá até acordar, caso seja retirado o controle que a mantém dormindo. Eis a
razão por que disse que a união presente é "imperfeita". Mas é ela
que conduz a pessoa à vida eterna, à vida impossível de se perder, como já
disse ao falar dos bem-aventurados, junto aos quais o homem gozará da comunhão
Comigo na vida sem fim. As almas que forem para o céu, terão a vida eterna; os
demais terão a condenação como punição de seu pranto pecaminoso.
Os primeiros, dos sofrimentos
desta vida passarão à alegria; a vida eterna será a recompensa de suas lágrimas
de amor. No céu, como já afirmei, continuarão a oferecer-me lágrimas de fogo em
vosso favor. Concluo assim minhas palavras sobre as lágrimas, suas qualidades e
seus efeitos. Umas conduzem os perfeitos ao céu, outras levam os maus à
perdição!
199
. 2 - Santa Brígida da Suécia
Brígida,
conhecida também como Brigite, nasceu em 1303, Princesa do Castelo de Finstad,
filha do rei da Suécia. Sua família real era tão piedosa, que forneceu vários Santos
à Igreja. Além disso, sua família real também construiu mosteiros, hospitais e
igrejas usando a própria fortuna. Seguindo o exemplo de sua família, Brígida
ajudava em obras de caridade desde a infância. Além disso, ela tinha um dom de
revelações. Essas revelações foram todas escritas por ela na língua sueca. Mais
tarde elas foram traduzidas para o Latim, formando grandes volumes. Tais obras
ainda hoje são consultadas por teólogos, historiadores e fiéis como fonte
histórica. Durante sua juventude, Brígida foi dama de companhia de uma Rainha
chamada Bianca, da região de Namur, na atual Bélgica. Por causa dessa função, ela
estava sempre presente nas Cortes cheias de luxo e riqueza. Contudo, ela não se
deixou corromper nestes ambientes de cheios de frivolidades. Pelo contrário,
manteve-se fiel à sua consciência cristã e preservou sua fé, nunca se afastando
da caridade e da dignidade. Com dezoito
anos de idade, Brígida se casou com um nobre de nome Ulf Gudmarsson. Seu marido
era também um cristão fervoroso. Brígida e Ulf tiveram oito filhos. Dentre eles
destaca-se uma filha que também foi canonizada: Santa Catarina da Suécia. O
casal, e especialmente Brígida, cuidava da educação moral, formal e religiosa
dos filhos com toda a dedicação. O casal Brígida e Ulf viveu um duro golpe: a
morte de um de seus filhos. Depois disso, eles decidiram ir em peregrinação até
o Santuário de Santiago de Compostela, na Espanha. Quando voltavam, Ulf ficou
gravemente doente. Quando isso aconteceu, Santa Brígida teve uma revelação, em
sonho, por intermédio de São Dionísio. No sonho, ela ficou sabendo que seu
marido não morreria. E, realmente, ele ficou curado. Logo depois, porém,
decidiu ingressar no Mosteiro de Alvastra. Lá, um de seus filhos já vivia como
monge. Em 1344 Ulf faleceu, deixando Santa Brígida viúva. Uma vez viúva, Santa
Brígida retirou-se de uma vez por todas para a vida religiosa. Ela guardava em
seu coração um antigo projeto, que era o de fundar um mosteiro duplo, tendo uma
área para homens e outra para mulheres. Deste projeto nasceu a Ordem do Santo
Salvador. Os religiosos seguiam as Regras de vida de São Agostinho. A própria Santa
Brígida passou a viver neste mosteiro até que a Ordem fundada por ela foi
aprovada oficialmente pela Igreja. Depois dessa aprovação, ela mudou-se para
Roma. Santa Brígida viveu em Roma durante vinte e quatro anos. Lá, trabalhou
pela moralização dos costumes. Também lutou para que o Papa que, na época, por
divisões dentro da Igreja, estava em Avignon, na França, voltasse para Roma.
Contando com total apoio do rei da Suécia, ela construiu nada menos que setenta
e oito mosteiros espalhados pela Europa. Santa Brígida faleceu em 23 de julho
de 1373, quando estava numa peregrinação à Terra Santa. A partir de sua morte, a Ordem do Santo
Salvador passou a ser dirigida por Santa Catarina da Suécia, sua filha. A Ordem
tornou-se muito famosa alguns anos depois. Santa Brígida foi canonizada logo,
apenas dezoito anos depois de sua morte. O culto a ela espalhou-se rapidamente
por toda a Europa. O local onde ela morou na cidade de Roma foi transformado
numa bela igreja dedicada a ela, situada na praça Farnese.
As
15 Orações dadas a Santa Brígida
Como já
há muito tempo Santa Brígida desejasse saber o número de golpes que Jesus
levara durante a Paixão, certo dia, enquanto rezava na Igreja de São Paulo, em
Roma, Ele lhe apareceu dizendo: "Recebi
em todo o meu Corpo 5.480 golpes. Se desejais honras as chagas que eles me
produziram, mediante uma veneração particular, deveis recitar 15 Pai-Nossos e
15 Ave-Marias, acrescentando as seguintes orações, durante um ano inteiro;
quando o ano terminar, tereis prestado homenagem a cada uma das minhas chagas.
Quem recitar estas oração
durante um ano inteiro conseguirá livrar do Purgatório 15 almas de sua família,
15 justos também de sua linhagem serão conservados em graça e 15 pecadores de
sua família serão convertidos. A pessoa que as recitar será elevada ao mais
eminente grau de perfeição e 15 dias antes da sua morte Eu lhe darei meu
Precioso Corpo, para que ela seja livre da fome eterna. Eu lhe darei também de
beber o meu Precioso Sangue, afim de que não padeça sede eternamente e 15 dias
antes da morte ela experimentará uma profunda contrição de todos os seus
pecados e um perfeito conhecimento deles. Diante dela colocarei o sinal da minha
Cruz vitoriosa como socorro e defesa contra os embustes dos seus inimigos.
Antes da sua morte, Eu virei em companhia de minha muito cara e bem amada Mãe,
para receber a sua alma e conduzi-la às alegrias eternas. E tendo-a levado até
lá, Eu lhe darei a beber um trago singular da fonte da minha Divindade, o que
não farei, absolutamente, a outros que não tenham recitado as minhas Orações.
Aquele que disser estas Orações pode estar seguro de ser associado ao supremo
coro dos Anjos e todo aquele que as ensinar a alguém, terá assegurado para
sempre sua felicidade e seus méritos. Sim, eles serão estáveis e durarão
perpetuamente. No lugar onde se encontrarem e onde forem recitadas essas
Orações, Deus estará também presente com as Suas Graças."
Quinze Orações de Santa
Brígida
Sinal da Cruz.
Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus, Nosso Senhor, dos
nossos inimigos.
Em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Oração ao Espírito Santo: Vinde, Espírito Santo, enchei os
corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso
Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da Terra! Ó Deus que
instruístes os corações dos Vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei
que apreciemos retamente todas as coisas, segundo o mesmo Espírito, e gozemos
sempre de Sua consolação, por Cristo, Senhor Nosso. Amém!”
1ª Oração: Pelos Sacerdotes, freiras e religiosos militantes.
Reze agora um Pai-Nosso... E depois uma Ave-Maria...
Ó Jesus Cristo, doçura eterna
para aqueles que Vos amam, alegria que ultrapassa toda a alegria e todo o
desejo, esperança de salvação dos pecadores, que declarastes não terdes maior
contentamento do que estar entre os homens, até o ponto de assumir a nossa
natureza, na plenitude dos tempos, por amor deles. Lembrai-Vos dos sofrimentos,
desde o primeiro instante da Vossa Conceição e sobretudo durante a Vossa Santa
Paixão, assim como havia sido decretado e estabelecido desde toda a eternidade
na mente divina. Lembrai-Vos, Senhor, que, celebrando a Ceia com os Vossos
discípulos, depois de lhes haverdes lavado os pés, deste-lhes o Vosso Sagrado Corpo
e precioso Sangue e, consolando-os docemente lhes predissestes a Vossa Paixão
iminente. Lembrai-Vos da tristeza e da amargura que experimentastes em Vossa
Alma como o testemunhastes Vós mesmo por estas palavras: "A minha Alma
está triste até a morte". Lembrai-Vos, Senhor, dos temores, angústias e
dores que suportastes em Vosso Corpo delicado, antes do suplício da Cruz,
quando, depois de ter rezado por três vezes, derramado um suor de Sangue,
fostes traído por Judas Vosso discípulo, preso pela nação que escolhestes,
acusado por testemunhas falsas, injustamente julgado por três juízes, na flor
da Vossa juventude e no tempo solene da Páscoa. Lembrai-Vos que fostes
despojado de Vossas vestes e revestido com as vestes da irrisão, que Vos
velaram os olhos e a face, que Vos deram bofetadas, que Vos coroaram de
espinhos, que Vos puseram uma cana na mão e que, atado a uma coluna, fostes
despedaçado por golpes e acabrunhado de afrontas e ultrajes. Em memória destas
penas e dores que suportastes antes da Vossa Paixão sobre a Cruz, concedei-me,
antes da morte, uma verdadeira contrição, a oportunidade de me confessar com
pureza de intenção e sinceridade absoluta, uma adequada satisfação e a remissão
de todos os meus pecados. Assim seja!
2ª Oração: Pelos trabalhadores em geral.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus Cristo, verdadeira
liberdade dos Anjos, paraíso de delícias, lembrai-Vos do peso acabrunhador de
tristezas que suportastes, quando Vossos inimigos, quais leões furiosos, Vos
cercaram e, por meio de mil injúrias, escarros, bofetadas, arranhões e outros
inauditos suplícios Vos atormentaram à porfia. Em consideração destes insultos
e destes tormentos, eu Vos suplico, ó meu Salvador, que Vos digneis libertar-me
dos meus inimigos, visíveis e invisíveis e fazer-me chegar, com o Vosso auxílio
a perfeição da salvação eterna. Assim seja!
3ª Oração: Pelos presos.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, Criador do Céu e da
terra, a quem coisa alguma pode conter ou limitar, Vós que tudo abarcais e
tendes tudo sob o Vosso poder, lembrai-Vos da dor, repleta de amargura, que
experimentastes quando os soldados, pregando na Cruz Vossas Sagradas mãos e
Vossos pés tão delicados, transpassaram-nos com grandes e rombudos cravos e não
Vos encontrando no estado em que teriam desejado, para dar largas à sua cólera,
dilataram as Vossas Chagas, exacerbando assim as Vossas dores. Depois, por uma
crueldade inaudita, Vos estenderam sobre a Cruz e Vos viraram de todos os
lados, deslocando, assim, os Vossos membros. Eu vos suplico, pela lembrança desta
dor que suportastes na Cruz, com tanta santidade e mansidão, que Vos digneis
conceder-me o Vosso Temor e o Vosso Amor. Assim seja!
4ª Oração: Pelos doentes.
Pai Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, médico celeste, que
fostes elevado na Cruz afim de curar as nossas chagas por meio das Vossas,
lembrai-Vos do abatimento em que Vos encontrastes e das contusões que Vos
infligiram em Vossos Sagrados membros, dos quais nenhum permaneceu em seu
lugar, de tal modo que dor alguma poderia ser comparada a Vossa. Da planta dos
pés até o alto da cabeça, nenhuma parte do Vosso Corpo esteve isenta de
tormentos e, entretanto, esquecido dos Vossos sofrimentos, não Vos cansastes de
suplicar a Vosso Pai, pelos inimigos que Vos cercavam, dizendo-Lhe: "Pai,
perdoai-lhes porque não sabem o que fazem".
Por esta grande misericórdia e em
memória desta dor, fazei com que a lembrança da Vossa Paixão, tão impregnada de
amargura, opere em mim uma perfeita contrição e a remissão de todos os meus
pecados. Assim seja!
5ª Oração: Pelos funcionários dos hospitais.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, espelho do esplendor
eterno. Lembrai-Vos da tristeza que sentistes, quando, contemplando a luz da
Vossa Divindade a predestinação daqueles que deveriam ser salvos pelos méritos
da Vossa santa paixão, contemplastes, ao mesmo tempo, a multidão dos réprobos,
que deveriam ser condenados por causa de seus pecados e lastimastes,
amargamente, a sorte destes infelizes pecadores, perdidos e desesperados. Por
este abismo de compaixão e de piedade e, principalmente, pela bondade que
manifestastes ao bom ladrão dizendo-lhe: "Hoje mesmo estarás Comigo no
Paraíso", eu Vos suplico ó Doce Jesus, que na hora da minha morte useis de
misericórdia para comigo. Assim seja!
6ª Oração: Pelas famílias.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, Rei amável e de todo
desejável, lembrai-vos da dor que experimentastes quando, nu e como um
miserável, pregado e levantado na Cruz, fostes abandonado por todos os vossos
parentes e amigos, com exceção de Vossa mãe bem amada, que permaneceu, em companhia
de São João, muito fielmente junto de Vós na agonia, lembrai-Vos que os
entregastes um ao outro dizendo: "Mulher eis aí o teu filho!". E a
João: "Eis aí a tua Mãe!". Eu vos suplico, ó meu Salvador, pela
espada de dor que então transpassou a alma de, Vossa Santa Mãe, que tenhais
compaixão de mim, em todas as minhas angústias e tribulações, tanto corporais
como espirituais e que Vos digneis assistir-me nas provações que me
sobrevierem, sobretudo na hora da minha morte. Assim seja!
7ª Oração: Contra a luxúria.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, fonte inexaurível de
piedade, que por uma profunda ternura de amor, dissestes sobre a Cruz:
"Tenho sede!", mas sede de salvação do gênero humano. Eu Vos suplico,
ó meu Salvador, que Vos digneis estimular o desejo que meu coração experimenta
de tender a perfeição em todas as minhas obras e extinguir, por completo, em
mim, a concupiscência carnal e o ardor dos desejos mundanos. Assim seja!
8ª Oração: Pelas crianças e jovens.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, doçura dos corações,
suavidade dos espíritos, pelo amargo sabor do fel e do vinagre que provastes
sobre a Cruz por amor de todos nós, concedei-me a graça de receber dignamente o
Vosso Corpo e Vosso Preciosíssimo Sangue, durante toda a minha vida e, na hora
da minha morte afim de que sirvam de remédio e de consolo para minha alma.
Assim seja!
9ª Oração: Pelos agonizantes espirituais.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, virtude real, alegria do
espírito, lembrai-Vos da dor que suportastes, quando, mergulhado na amargura,
ao sentir aproximar-se a morte, insultado e ultrajado pelos homens, julgastes
haver sido abandonado por Vosso Pai dizendo: "Meu Deus, meu Deus, por que
me abandonastes?". Por esta angústia eu Vos suplico ó meu Salvador, que
não me abandoneis nas aflições e nas dores da morte. Assim seja!
10ª Oração: Pelos sofredores em geral.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, que sois em todas as
coisas começo e fim, vida e virtude, lembrai-Vos de que por nós fostes
mergulhado num abismo de dores, da planta dos pés até o alto da cabeça. Em
consideração da extensão das Vossas chagas, ensinai-me a guardar os Vossos
Mandamentos, mediante uma sincera caridade, mandamentos estes que são caminhos
espaçosos e agradáveis para aqueles que Vos amam. Assim seja!
11ª Oração: Pelos pecadores de todo o mundo.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, profundíssimo abismo de
misericórdia, suplico-Vos, em memória de Vossas Chagas, que penetraram até a
medula dos vossos ossos e atingiram até as vossas entranhas, que vos digneis
afastar esse(a) pobre pecador(a) do lodaçal de ofensas em que está submerso(a)
conduzindo-o(a) para longe do pecado. Suplico-Vos também, esconder-me de Vossa
face irritada, ocultando-me dentro de Vossas chagas, até que a Vossa cólera e a
Vossa justa indignação tenham passado. Assim seja!
12ª Oração: Por todas as Igrejas.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, espelho de verdade,
sinal de unidade, laço de caridade, lembrai-Vos dos inumeráveis ferimentos que
recebestes, desde a cabeça até os pés, ao ponto de ficardes dilacerado e
coberto pela púrpura do Vosso Sangue adorável. Ó quão grande e universal foi a
dor que sofrestes em Vossa Carne virginal por nosso amor! Ó Dulcíssimo Jesus,
que poderíeis fazer por nós que não o houvésseis feito?
Eu vos suplico, ó meu Salvador,
que vos digneis imprimir, com o Vosso Precioso Sangue, todas as Vossas chagas
em meu coração, afim de que eu relembre, sem cessar, as Vossas Dores e o Vosso
Amor. Que pela fiel lembrança da Vossa Paixão, o fruto dos Vossos Sofrimentos
seja renovado em mim, cada dia mais, até que eu me encontre, finalmente,
Convosco, que sois o tesouro de todos os bens e a fonte de todas as alegrias. Ó
Dulcíssimo Jesus, concedei-me poder gozar de semelhante ventura na vida eterna.
Assim seja!
13ª Oração: Pelos profetas atuais.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, fortíssimo Leão, Rei
imortal e invencível, lembrai-Vos da dor que vos acabrunhou quando sentistes
esgotadas todas as Vossas forças, tanto do Coração como do Corpo e inclinastes
a cabeça dizendo: "Tudo está consumado!". Por esta angústia e por
esta dor, eu Vos suplico, Senhor Jesus, que tenhais piedade de mim, quando soar
a minha última hora e minha alma estiver amargurada e o meu espírito cheio de
aflição. Assim seja!
14ª Oração: Pelos políticos e pelos governantes.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, Filho Único do Pai,
esplendor e imagem da Sua substância, lembrai-Vos da humilde recomendação que
Lhe dirigistes dizendo: "Meu Pai, em Vossas mãos entrego o meu
Espírito!" Depois expirastes, estando vosso Corpo despedaçado, vosso Coração
transpassado e as entranhas da vossa Misericórdia abertas para nos resgatar.
Por esta preciosa morte eu Vos
suplico, ó Rei dos Santos, que me deis força e me socorrais, para resistir ao
demônio, a carne a ao sangue, afim de que, estando morto(a) para o mundo, eu
possa viver somente para Vós. Na hora da morte, recebei, eu Vos peço, minha
alma peregrina e exilada que retorna para Vós. Assim seja!
15ª Oração: Pelo Santo Padre, o Papa.
Pai-Nosso... Ave-Maria...
Ó Jesus, vide verdadeira e
fecunda, lembrai-Vos da abundante efusão de Sangue, que tão generosamente
derramastes de Vosso Sagrado Corpo, assim como a uva é triturada no lagar. Do
Vosso lado aberto pela lança de um dos soldados, jorraram Sangue e Água, de tal
modo que não retivestes uma gota sequer. E, enfim, como um ramalhete de mirra
elevado na Cruz, Vossa Carne delicada se aniquilou, feneceu o humor de Vossas
entranhas e secou a medula dos Vossos ossos. Por esta tão amarga Paixão e pela
efusão de Vosso precioso Sangue, eu vos suplico, ó Bom Jesus, que recebais
minha alma quando eu estiver na agonia. Assim seja!
Oração final:
Ó doce Jesus, vulnerai o meu
coração, afim de que lágrimas de arrependimento, de compunção e de amor, noite
e dia me sirvam de alimento. Convertei-me inteiramente a Vós. Que o meu coração
Vos sirva de perpétua habitação. Que a minha conduta vos seja agradável e que o
fim da minha vida seja de tal modo edificante que eu possa ser admitido no
Vosso Paraíso, onde, com os Vossos Santos, hei de vos louvar para sempre. Assim
seja!
Consagração diária a Nossa Senhora
Ó Santa Mãe Dolorosa de Deus, ó
Virgem Dulcíssima, eu Vos ofereço o meu coração afim de que o conserveis
intacto como o Vosso Coração Imaculado. Eu vos ofereço a minha inteligência,
para que ela conceba apenas pensamentos de paz e de bondade, de pureza e
verdade. Eu vos ofereço a minha vontade, para que ela se mantenha viva e
generosa ao serviço de Deus. Eu vos ofereço meu trabalho, minhas dores, meus
sofrimentos, minhas angústias, minhas tribulações e minhas lágrimas, no meu presente
e meu futuro, para serem apresentadas por vós ao vosso Divino Filho, para
purificação da minha vida. Mãe Compassiva, eu me refugio em vosso Coração
Imaculado, para acalmar as dolorosas palpitações de minhas tentações, de minha
aridez, de minha indiferença e das minha negligências. Escutai-me ó Mãe,
guiai-me, sustentai-me e defendei-me, contra todos os perigos da alma e do
corpo, agora e por toda a eternidade.
Assim seja.
A
oração dos 7 pai nossos e 7 Ave Marias
O divino Salvador revelou a Santa Brígida a seguinte
promessa:
"Sabei que darei 5 graças
àqueles que, durante 12 anos, rezarem sete Pai Nossos e sete Ave Marias em
honra do meu precioso Sangue:
1º) Não terão que passar pelo
purgatório.
2º) Aceitá-los-ei no Coro dos
Mártires como se tivessem derramado seu sangue pela fé.
3º) Conservarei 3 almas de seus
parentes na graça santificante conforme sua escolha.
4º) As almas dos seus parentes
até o 4o. grau escaparão do inferno.
5º) Um mês antes de sua morte
ser-lhes-á dado conhecimento dela.
Se por acaso morrerem antes dos
12 anos completos, irei julgar como se fossem as condições cumpridas."
Papa
Inocêncio X confirmou esta revelação e acrescentou que as almas cumpridoras das
condições libertarão cada sexta-feira Santa uma alma do purgatório. A esta
devoção, facilmente, se unirá a veneração e o oferecimento das santas chagas do
nosso Salvador, pois das suas chagas brotou o precioso Sangue. O Redentor
recomendou este exercício à irmã Maria Marta Chambon e lhe deu grandes
promessas a respeito deste.
Recomenda-se acrescentar aos 7 Pai Nossos e 7 Ave Marias as
orações seguintes:
AS ORAÇÕES:
Sinal da Cruz.
Oração ao Espírito Santo: Vinde, Espírito Santo, enchei os
corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso
Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da Terra! Ó Deus que
instruístes os corações dos Vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei
que apreciemos retamente todas as coisas, segundo o mesmo Espírito, e gozemos
sempre de Sua consolação, por Cristo, Senhor Nosso. Amém!”
1ª Mistério: Circuncisão de Jesus
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelas mãos imaculadas de
Maria, eu vos ofereço as primeiras chagas, as primeiras dores, e a primeira
evasão do preciosíssimo Sangue derramado por Jesus, para expiar os pecados da
humanidade, especialmente da juventude, os meus, e para a renúncia aos
primeiros pecados, especialmente os mortais, sobretudo da minha família.
Amém.
1 Pai nosso ... 1 Ave
Maria...
2ª Mistério: O Suor de Sangue
PAI de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelas mãos imaculadas de
Maria, eu vos ofereço as dores atrozes do Coração de Jesus no jardim das
Oliveiras, e cada gota de Sangue, para expiar todos os pecados do coração de
cada pessoa, os meus, para a renúncia a tais pecados e para que aumente o amor
a Deus e ao próximo.
Amém.
1 Pai nosso ... 1 Ave
Maria...
3ª Mistério: Flagelação de Jesus
PAI de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelas mãos imaculadas de
Maria, eu vos ofereço todas as chagas, as dores cruéis, e o Preciosíssimo Sangue
de Jesus na flagelação, por todos os pecados da carne, da humanidade, pelos
meus, para a renúncia a tais pecados e para a aquisição e conservação da
pureza, em especial da minha família.
Amém.
1 Pai nosso ... 1 Ave
Maria...
4ª Mistério: Coroação de Espinhos
PAI de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelas mãos imaculadas de
Maria, eu vos ofereço as chagas, as dores, e o Preciosíssimo Sangue da Sagrada
Cabeça de Jesus na coroação de espinhos, para expiar todos os pecados dos
pensamentos, da humanidade, os meus, para a renúncia a todos os pecados, e para
a extensão do Reino de Cristo sobre a terra.
Amém.
1 Pai nosso ... 1 Ave
Maria...
5ª Mistério: Caminho da Cruz
PAI de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelas mãos imaculadas de
Maria, eu vos ofereço as dores de Jesus no caminho do calvário, sobretudo na
sua santa chaga do ombro, ofereço também o seu preciosíssimo Sangue, para
aliviar o peso da Cruz, para reparar os meus murmúrios, para a renúncia a todos
os pecados cometidos, e para que haja um verdadeiro amor á Santa Cruz.
Amém.
1 Pai nosso ... 1 Ave
Maria...
6ª Mistério: Crucificação de Jesus
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelas mãos imaculadas de
Maria, eu vos ofereço o vosso Unigênito Filho cravado na Cruz, as chagas das
mãos e dos pés, e os fios de seu Preciosíssimo Sangue derramado por nós, seu
extremo aniquilamento, a sua perfeita obediência, e todas as aflições mortais
de seu Corpo e Alma. Ofereço-vos a sua preciosa Morte na Cruz que se renova
constantemente em cada Santa Missa no Mundo inteiro, para expiar os atentados
aos votos e às santas instituições, em reparação dos meus pecados e dos pecados
do Mundo inteiro, pelos doentes e moribundos, para obter Santos Sacerdotes e
leigos, pelas intenções do Papa, pela restauração da família cristã, para
fortificar e encorajar a Fé, pela nossa Pátria, pela unidade de todos os povos
em Cristo e na vossa Igreja, assim como por todos os Países onde os cristãos
estão em minoria.
Amém.
1 Pai nosso ... 1 Ave
Maria...
7ª Mistério: Abertura do Santo Lado
PAI de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelas mãos imaculadas de
Maria, aceitai os preciosíssimo dons da Água e do Sangue, que jorraram da chaga
do Divino Coração de Jesus, pelas necessidades da Igreja e em expiação dos
pecados da humanidade. Sangue propulsado pelo Sacratíssimo Coração de Jesus,
lavai-me e purificai-me de todos os meus pecados. Água do Lado de Cristo,
lavai-me e purificai-me de meus primeiros pecados, e salvai-me como a todas as
almas das chamas do Purgatório.
Amém.
1 Pai nosso ... 1 Ave
Maria...
ORAÇÃO FINAL:
Ó doce Jesus, vulnerai o meu coração, afim de que lágrimas de
arrependimento, de compunção e de amor, noite e dia me sirvam de alimento. Convertei-me
inteiramente a Vós. Que o meu coração Vos sirva de perpétua habitação; Que a
minha conduta vos seja agradável e que o fim da minha vida seja de tal modo
edificante que eu possa ser admitido no Vosso Paraíso, onde, com os vossos
Santos, hei de vos louvar para sempre.
Assim seja!
Amém.
Consagração a Nossa Senhora
Ó Santa Mãe Dolorosa de Deus, ó Virgem Dulcíssima, eu Vos
ofereço o meu coração afim de que o conserveis intacto como o Vosso Coração
Imaculado. Eu Vos ofereço a minha inteligência, para que ela conceba apenas
pensamentos de paz e de bondade, de pureza e verdade. Eu Vos ofereço a minha
vontade, para que ela se mantenha viva e generosa ao serviço de Deus. Eu vos
ofereço meu trabalho, minhas dores, meus sofrimentos, minhas angustias, minhas
tribulações e minhas lágrimas, no meu presente e meu futuro, para serem
apresentadas por Vós ao Vosso Divino Filho, para purificação da minha vida. Mãe
Compassiva, eu me refugio em Vosso Coração Imaculado, para acalmar as dolorosas
palpitações de minhas tentações, de minha aridez, de minha indiferença e das
minha negligencias. Escutai-me ó Mãe, guiai-me, sustentai-me e defendei-me,
contra todos os perigos da alma e do corpo, agora e por toda a eternidade.
Assim seja!
Amém.
As
Profecias e Revelações de Santa Brígida da Suécia
Palavras
de Nosso Senhor Jesus Cristo à sua esposa escolhida e muito amada, Santa Brígida;
sobre a proclamação de sua Santíssima encarnação; a rejeição, profanação e
abandono de nossa fé e batismo; e como Ele convida sua amada esposa e todo o
povo cristão a amá-lo.
Eu sou o Criador do Céu e da Terra,
uno na divindade com o Pai e o Espírito Santo. Eu sou aquele que falou aos aos
patriarcas e profetas e aquele a quem esperavam. Para cumprir seus anseios e de
acordo com minha promessa, assumi a carne sem pecado e sem concupiscência,
entrando no ventre da Virgem, como o sol que brilha através de claríssima joia.
Assim como o sol não danifica o vidro ao entrar nele, assim também a virgindade
da Virgem não foi perdida quando eu assumi a natureza humana. Eu assumi a carne
de tal forma que não abandonei minha divindade, e Eu não fui menos Deus –
governando e sustentando todas as coisas com o Pai e o Espírito Santo - embora
estivesse no ventre da Virgem em minha natureza humana. Assim como a
luminosidade jamais é separada do fogo, assim também, minha divindade nunca foi
separada de minha humanidade, nem mesmo na morte. Desde então, permiti que meu
corpo puro e sem pecado fosse ferido, dos pés à cabeça, e fosse crucificado por
todos os pecados do gênero humano. Esse mesmo corpo é agora oferecido a cada
dia no altar para que o gênero humano possa amar-me e se lembrar de meus grandes
feitos mais frequentemente. Eu, deveras, quis que meu reino estivesse dentro do
homem, e por direito, Eu deveria ser Rei e Senhor para ele, porque Eu o fiz e o
redimi. Entretanto, agora ele quebrou e profanou a fé que me prometeu em seu
batismo, e quebrou e desprezou minhas leis e meus mandamentos, que Eu prescrevi
e revelei a ele. Ele ama sua própria vontade e se recusa a ouvir-me. Alem disso,
ele exalta acima de mim o pior ladrão, o demônio, e deu à ele sua fé. O demônio
realmente é um ladrão, já que, me rouba, por meio das tentações diabólicas,
maus conselhos e falsas promessas, a alma humana que Eu redimi com meu sangue.
Mas ele não faz isso por que, seja mais poderoso do que eu, porque eu sou tão
poderoso que Eu posso fazer todas as coisas com uma palavra, e tão justo, que
mesmo que todos os santos me pedissem, Eu não faria a menor coisa contra a
justiça. Entretanto, como o homem, a quem foi dado livre arbítrio,
voluntariamente rejeita meus mandamentos e obedece o demônio, é justo que ele
também experimente sua tirania e malícia. Esse demônio foi por mim criado bom,
mas decaiu por sua vontade má, e se tornou, por assim dizer, meu servo para
aplicar retribuição aos trabalhadores do mal. Ainda, embora eu seja agora tão
desprezado, sou ainda tão misericordioso que, qualquer um que reze pela minha
misericórdia e se humilhe por correção, terão seus pecados perdoados, e eu o
salvarei do ladrão diabólico: o demônio. Mas para aqueles que continuam me
desprezando, Eu levarei minha justiça sobre eles, de forma que ouvindo isso,
tremerão, e os que experimentam isso dirão: ‘Ai de nós os nascidos ou
concebidos! Ai de nós os que provocamos o Senhor da majestade até a ira!’ Mas
tu, filha que eu escolhi para mim e com quem eu agora falo em espírito: ama-me
com todo teu coração, não como tu amas teu filho, filha ou pais, mas mais do
que qualquer coisa no mundo, já que Eu que te criei e não poupei nenhum de meus
membros no sofrimento por ti. Ainda Eu amo a tua alma tão amorosamente que, ao
invés de te perder, eu me deixaria ser crucificado novamente, se isso fosse
possível. Imita minha humildade, porque Eu, que o rei da glória e dos anjos,
fui vestido com horríveis miseráveis trapos, e fiquei nu em um pilar e ouvi
todo tipo de insultos e zombarias com meus próprios ouvidos. Sempre prefira
minha vontade à tua, porque minha Mãe, tua Senhora, do começo ao fim, nunca quis
nada a não ser o que eu quis. Se tu fazes isso, então teu coração estará com o
meu coração, e será incendiado por meu amor, da mesma forma que qualquer coisa
seca é facilmente incendiada pelo fogo. Tua alma será tão inflamada e
preenchida por mim, e eu estarei em ti, que todas as coisas mundanas se
tornarão amargas para ti e todo desejo carnal como veneno. Descansarás nos
braços da minha divindade, onde nenhum desejo carnal existe, mas somente
deleite espiritual e alegria, que enche a alma deleitada com felicidade -
interior e exteriormente – de forma que ela não pensa em nada e nada deseja a
não ser ser o gozo que possui. Portanto, somente ama-me, e terás tudo que
desejares e terás em abundância. Não está escrito que o óleo da viúva não
diminuiu até o dia que a chuva foi enviada à terra, por Deus, de acordo com as
palavras do profeta? Eu sou o verdadeiro profeta! Se acreditas em minhas
palavras, segue e as cumpre, óleo - gozo e júbilo - não diminuirão para ti, por
toda a eternidade.
Palavras
de Jesus Cristo à sua filha - que tomou por sua esposa - sobre os artigos da
verdadeira fé, e sobre que tipos de adornos, sinais e desejos a esposa precisa
ter para agradar o Esposo.
Eu sou o Criador dos céus, da
terra, do mar e de tudo que está neles. Eu sou um com o Pai e o Espírito Santo,
não como os deuses de pedra ou de ouro, como os utilizados pelo povo antigo, e
não vários deuses, como o povo pensava, mas um só Deus: Pai, Filho e Espírito
Santo, três pessoas, mas um em natureza divina, o Criador de tudo, mas por
ninguém criado, imutável, todo-poderoso e eterno - sem princípio ou fim. Eu sou
o que nasceu da Virgem, sem perder minha divindade, mas unindo-a à minha
humanidade, de forma que, em uma pessoa, possa ser o verdadeiro Filho de Deus e
Filho da Virgem. Eu sou o que pregado na cruz, morreu e foi sepultado, mas minha
divindade permaneceu intacta. Embora eu tenha morrido na humanidade e na carne,
que Eu, o Filho único, assumi, eu ainda continuei a existir na minha natureza
divina, sendo um só Deus com o Pai e o Espírito Santo. Eu sou o mesmo que
ressuscitou dos mortos e subiu ao Céu, e que agora falo contigo em meu
Espírito. Eu te escolhi e tomei por esposa para mostrar-te os caminhos do mundo
e meus segredos divinos, porque isso me agrada. Tu és minha por direito, porque
quando teu marido morreu, colocaste toda a tua vontade em minhas mãos, e após
sua morte, pensaste e rezaste sobre como poderias te tornar pobre e abandonar
tudo por mim. Então, és minha por direito, por causa deste teu imenso amor, e
por isso cuidarei de ti. Então, Eu te tomo como minha esposa, e para meu
próprio prazer, como é próprio Deus ser com uma alma casta. É obrigação da
noiva estar preparada quando o noivo quer celebrar o casamento, de forma que
ela esteja adequadamente vestida e pura. Tu já estarás limpa se teus
pensamentos estiverem sempre atentos a teus pecados, em como no batismo Eu te
purifiquei do pecado de Adão, e quantas vezes eu fui paciente e te sustentei
quando caíste em pecado. A noiva deve também trazer a insignia de seu noivo em
seu peito, que significa que deves observar e reconhecer os favores e
benefícios que eu te fiz, assim como quão nobremente eu te criei, dando-te um
corpo e alma; quão nobremente eu te enriqueci, dando-te saúde e bens temporais;
quão amorosamente e docemente eu te redimi quando morri por ti e restaurei a
tua herança celestial - se quiseres tê-la. A esposa deve também fazer a vontade
do seu esposo. Mas qual é minha vontade, se não que deves querer me amar acima
de todas as coisas e não desejar nada a não ser Eu? Criei todas as coisas pelo
bem da humanidade e coloquei todas as coisas sob a autoridade dela, mas ela ama
todas as coisas exceto a mim, e não odeia nada mas a mim. Eu recuperei sua
herança, que tinham perdido por causa do pecado, mas eles ela é tão tola e sem
razão, que prefere a glória passageira - que é como a espuma do mar que se
levanta por um momento como uma montanha, e depois rapidamente cai em nada - ao
invés da glória eterna na qual há bem que nunca acaba. Mas se não desejas,
minha esposa, nada a não ser Eu, se desprezas todas as coisas pelo meu bem –
não somente seus filhos e parentes, mas também honras e riquezas - eu te darei
a mais preciosa e amorosa recompensa! Eu não te darei nem ouro nem prata, mas a
mim mesmo, para ser seu noivo - e em recompensa, Eu, que sou o Rei da Glória.
Mas se tu estás com vergonha de ser pobre e desprezada, então considera como
Eu, seu Deus, fiquei antes de ti, quando meus servos e amigos me abandonaram no
mundo. Eu não estava procurando amigos do mundo, mas amigos do céu. E se agora
estiveres preocupada e com medo do peso e dificuldade do trabalho, bem como da
doença, considere quão difícil e penoso é queimar no inferno! O que não
merecerias se tivesses ofendido um senhor terrestre, como me fizeste? Assim,
embora eu te ame com todo o meu coração, não fica sem justiça o menor ponto.
Então, como pecaste em todos os teus membros, tens também que prestar
satisfação e penitência em cada membro. Mas, por causa de tua boa vontade e tua
propósito de reparar seus pecados, vou mudar tua sentença com misericórdia,
trocando a dolorosa punição por uma pequena penitência. Então, abrace e tome
sobre ti um pequeno sofrimento, para que possas ser limpa do pecado e alcances
o grande premio em pouco tempo! A esposa deve ficar cansada trabalhando ao lado
do seu esposo de modo que possa ainda mais confiantemente ter seu descanso com
ele.
Palavras
de Nosso Senhor Jesus Cristo à sua esposa sobre como ela deve amar e honrá-Lo,
o Esposo; sobre como o mal ama o mundo e odeia a Deus.
Eu sou teu Deus e Senhor a quem adoras e
honras. Sou o que sustenta o céu e a terra com meu poder. Eles não são
sustentados por nenhum pilar ou qualquer outra coisa. Eu sou o que, a cada dia,
é tomado e oferecido no altar, sob a aparência de pão; verdadeiro Deus e homem.
Sou o mesmo que te escolheu. Honra o meu Pai! Ama-me! Obedece ao meu Espírito!
Honre minha Mãe como tua Senhora! Honre todos os meus santos! Mantém a
verdadeira fé que deves aprender por ele que experimentou dentro de si a
batalha dos dois espíritos - o espirito da falsidade e o espirito da verdade -
e com minha ajuda venceu. Mantenha a verdadeira humildade. O que é a verdadeira
humildade senão comportar-se como é realmente, e louvar a Deus pelas boas
coisas que ele nos tem dado? Mas
agora, há muitos que me odeiam e a meus feitos, e que consideram minhas
palavras como desgraça e vaidade, e ao contrário, com afeição e amor, abraçam o
adulterador: o demônio. Tudo o que eles fazem para mim é feito com reclamação e
amargor. Eles nem mesmo confessam meu nome ou me servem, se não tem medo da
opinião de outros homens. Eles amam o mundo com tal fervor que nunca se cansam
de trabalhar por ele, noite e dia, sempre queimando de amor por ele. Seu
serviço é tão agradável para mim como o de alguem que dá dinheiro a seus
inimigos para matar seu próprio filho! Isto é o que eles fazem para mim. Dão-me
algumas esmolas e me honram com seus lábios para conseguir sucesso no mundo e
permanecer em seu privilégio e em seus pecados. O bom espírito está, portanto,
bloqueado neles e eles estão impedidos ter qualquer progresso em fazer o bem. O entanto, se quiseres amar-me de todo
seu coração e não desejar nada a não ser a mim, Eu te atrairei a mim através do
amor, como um imã atrai o ferro a si. Tomar-te-ei em meu braço, que é tão forte
que ninguém o pode estender, e tão firme que ninguém, uma vez estendido, pode
dobrar, e é tão doce que ultrapassa todos os aromas e está além da comparação
com qualquer coisa doce ou prazer do mundo.
Palavras
de Nosso Senhor Jesus Cristo à sua esposa nas quais lhe diz que não se preocupe
nem pense que o que se revela a ela proceda de um espírito maligno, e sobre
como distinguir um Espírito bom de um mau.
Eu sou teu Criador e Redentor.
Porque tens temido minhas palavras? Porque te tens perguntado se procedem de um
espírito bom ou de um mau? Diga-me, tens encontrado algo em minhas palavras que
não te tenha ditado tua própria consciência? Ordenei-te algo contrario a razão?
A isto a
esposa respondeu: Não, ao contrario, tuas palavras são verdadeiras e eu estava
errada.
O
Espírito, seu Esposo, acrescentou: Eu te ordenei três coisas. Nelas
poderias reconhecer o bom espírito. Ordenei-te que honrasses o teu Deus que te
criou e te tem dado tudo o que tens. Ordenei-te que te mantivesses na
verdadeira fé, ou seja, que cresses que nada se criou nem se pode criar sem
Deus. Também te ordenei que mantivesses uma razoável temperança em todas as
coisas, pois o mundo foi feito para uso do homem, afim de que as pessoas o
aproveitem para suas necessidades. Da mesma forma, também podes reconhecer o
espírito imundo por três coisas contrarias a estas: Ele tenta para que te
elogies a ti mesma e te orgulhes do que te foi dado; Ele tenta para que
atraiçoes tua própria fé; também te tenta a impureza em todo o corpo e em todas
as coisas, e faz com que teu coração arda por isso. Às vezes também engana as
pessoas sob a forma de bem. Por isso te tenho ordenado que sempre examines tua
consciência e que a exponhas a prudentes diretores espirituais. Por isso não
duvides de que o bom espírito de Deus esteja contigo quando não desejas outra
coisa a não ser a Deus e Dele te inflames toda. Só Eu posso criar esse fervor e
assim, é impossível ao demônio aproximar-se de ti. Também não é possível para
ele aproximar-se das pessoas, a menos que Eu o permita, seja pelos pecados
humanos ou por algum de meus desígnios ocultos, porque ele é minha criatura
como todas as demais, e foi criado bom por mim, embora tenha se pervertido por
sua própria maldade. Portanto, Eu sou Senhor sobre ele. Por esta razão me
acusam falsamente aqueles que dizem que as pessoas que me rendem grande devoção
estão loucas ou possuídas. Fazem-me parecer como um homem que exponha a sua casta
e fiel mulher a um adúltero. Isso é o que Eu seria se deixasse que alguém que
me amasse plena e retamente fosse possuído por um demônio. Mas como Eu sou
fiel, nenhum demônio poderá nunca controlar a alma de nenhum dos meus devotos
servidores. Embora meus amigos, às vezes pareçam estar quase fora de sua razão,
não é porque sofram devido ao demônio, nem porque me sirvam com fervorosa
devoção. Mas se deve a algum defeito do cérebro ou a alguma outra causa oculta
que serve para humilhá-los. Às vezes, também pode ocorrer que o demônio receba
de mim um poder sobre os corpos das pessoas boas, para um maior beneficio
delas, ou que obscureça suas consciências. Entretanto, nunca poderá conseguir o
controle das almas que têm fé e se deleitam em mim.
Amorosas
palavras de Cristo à sua esposa com a preciosa imagem de uma nobre fortaleza
que simboliza a Igreja Militante, e sobre como a Igreja de Deus será agora
reconstruída pelas orações da gloriosa Virgem e dos Santos.
Eu sou o Criador de todas as coisas.
Sou o Rei da gloria e o Senhor dos anjos. Construí para mim uma nobre fortaleza
e tenho colocado nela os meus eleitos. Meus inimigos têm corrompido seus
fundamentos e tem dominado meus amigos - tanto que fazem sair a medula dos
ossos de seus pés amarrados a colunas. Suas bocas são apedrejadas e são
torturados pela fome e a sede. Assim, os inimigos perseguem o seu Senhor. Meus
amigos estão agora gemendo e suplicando ajuda; a justiça pede vingança, mas a
misericórdia invoca o perdão.
Então,
Deus disse à Corte Celestial ali presente: O que pensais dessas pessoas que
têm assaltado minha fortaleza?”. Eles, a uma voz responderam: “Senhor, toda a
justiça está em Ti e em Ti vemos todas as coisas. A Ti foi dado todo juízo,
Filho de Deus, que existes sem princípio nem fim, Tu és seu Juiz.
E Ele
disse:
Como todos sabeis e vedes em Mim, pelo bem da Minha Esposa, decidam qual é a
sentença justa.
Eles
disseram: Isto é justiça: Que aqueles que derrubaram os muros sejam
castigados como ladrões; que aqueles que persistem no mal, sejam castigados
como invasores, que os cativos sejam libertados e os famintos saciados.
Então
Maria, a Mãe de Deus que a princípio havia permanecido em silencio, disse: Meu
Senhor e Filho querido, tu estiveste em meu ventre como verdadeiro Deus e
homem. Tu te dignaste a santificar-me a mim que era um vaso de argila. Eu te
suplico, tem misericórdia deles uma vez mais!
O Senhor
respondeu a sua Mãe: Bendita seja a palavra de tua boca! Como um suave
perfume sobe até Deus. Tu és a glória e a Rainha dos anjos e de todos os
santos, porque Deus foi consolado por ti e a todos os santos deleitas. E porque
tua vontade tem sido a minha desde o começo de tua juventude, uma vez mais
cumprirei o teu desejo.
Então
Ele disse à Corte Celestial: Porque haveis lutado valentemente, pelo bem
da vossa caridade, terei piedade por ora". Vede, re-edificarei meu muro
pelos vossos rogos. Salvarei e curarei os oprimidos pela força e os honrarei
cem vezes pelo abuso que sofreram. Se os que fazem violência pedem
misericórdia, terão paz e misericórdia. Aqueles que a desprezam, sentirão minha
justiça.
Então
Ele disse à sua esposa: Esposa minha, te escolhi e te revesti com meu
Espírito. Tu escutas minhas palavras e as dos meus santos. Embora os santos
vejam da mesma forma todas as coisas em mim, já que são espíritos, Eu agora vou
também mostrar-te o que todas essas coisas significam. Afinal, tu que ainda
estás no corpo, não me podes ver da mesma forma que eles, que são meus
espíritos. Agora te mostrarei o que significam estas coisas.
A fortaleza da qual tenho te falado
é a Santa Igreja, que construí com meu próprio sangue e o dos santos. Eu mesmo
a cimentei com minha caridade e depois coloquei nela meus eleitos e amigos. Seu
fundamento é a fé, ou seja, a crença em que Sou um Juiz justo e misericordioso.
Este fundamento tem sido agora deturpado porque todos creem e pregam que sou
misericordioso, mas quase ninguém crê que Eu seja um Juiz justo. Consideram-me
um juiz iníquo. De fato, um juiz seria iníquo, se, à margem da misericórdia,
deixasse os maus sem castigo de forma que pudessem continuar oprimindo os
justos. Eu, porém sou um Juiz justo e misericordioso e não deixarei que o
mínimo pecado fique sem castigo nem que o menor bem fique sem recompensa. Pelos
buracos perfurados no muro, entram na Santa Igreja pessoas que pecam sem medo,
que negam que Eu seja justo e atormentam meus amigos como se os cravassem em
estacas. A estes meus amigos não se dá alegria nem consolo. Pelo contrário, são
castigados e injuriados como se fossem demônios. Quando dizem a verdade sobre
mim, são silenciados e acusados de mentir. Eles anseiam com paixão ouvir ou
falar a verdade, mas não há ninguém que os escute nem quem lhes diga a verdade.
Além disso, Eu, Deus Criador, estou sendo blasfemado. As pessoas dizem: Não
sabemos se Deus existe. E, se existe, não nos importa. Jogam no chão minha
bandeira e a pisoteiam dizendo: “Porque sofreu? Em que nos beneficia? Se cumpre
nossos desejos estaremos satisfeitos, que mantenha Ele seu reino em seu Céu!
“Quando quero entrar neles, dizem: Antes morrermos que submeter nossa vontade!
Dá-te conta, esposa minha, que tipo de gente é! Eu os criei e posso destruí-los
com uma palavra! Que soberbos são para comigo! Graças aos rogos de minha Mãe e
de todos os santos, permaneço misericordioso e tão paciente que estou desejando
enviar-lhes palavras da minha boca e oferecer-lhes misericórdia. Se a quiserem
aceitar, terei compaixão. Do contrário, conhecerão minha justiça e, como ladrões,
serão publicamente envergonhados diante dos anjos e dos homens e condenados por
cada um deles. Como os criminosos são colocados nas forcas e devorados pelos
corvos, assim eles serão devorados pelos demônios, mas não serão consumidos.
Como as pessoas amarradas em cepos não podem descansar, eles padecerão dor e
amargura em todas as partes. Um rio de fogo entrará por suas bocas, mas seus
estômagos não serão saciados e sua sede e suplício se reavivarão a cada dia. Porém,
meus amigos estarão a salvo, e serão consolados pelas palavras que saem de
minha boca. Eles verão minha justiça junto de minha misericórdia.
Revesti-los-ei com as armas do meu amor, que os tornarão tão fortes que os
adversários da fé escorrerão diante deles como o barro; quando virem minha
justiça, cairão em vergonha perpétua por haverem abusado de minha paciência.
Palavras
de Cristo à sua esposa sobre como seu Espírito não pode morar nos malvados;
sobre a separação dos bons e perversos e o envio dos bons, armados com armas espirituais,
à guerra contra o mundo.
Meus inimigos são como os mais
selvagens animais, que nunca podem estar satisfeitos nem permanecer em calma.
Seu coração está tão vazio de meu amor que o pensamento da minha paixão nunca
os penetra. Nem sequer uma vez, desde o mais íntimo de seu coração, tem saído uma
palavra como esta: Senhor, tu nos redimistes, louvado sejas por tua amarga
paixão!” Como pode viver o meu Espírito em pessoas que não sentem o divino amor
por mim, pessoas que estão desejando trair a outros para conseguir seu próprio
benefício? Seu coração está cheio de vermes vis, ou seja, cheio de paixões
mundanas. O demônio deixou seus excrementos em suas bocas e por isso não têm
gosto pelas minhas palavras. Por isso, com meu serrote os cortarei para
apartá-los de meus amigos. Não há forma pior de morrer do que sob a serra.
Igualmente não haverá castigo que eles não compartilhem: serão serrados em dois
pelo demônio e separados de mim. Vejo-os tão odiosos que todos os que aderirem
a eles, se separarão de mim. Por esta razão, estou enviando meus amigos para
que eles separem os demônios de meus membros, já que os demônios são meus
verdadeiros inimigos. Eu os envio como nobres soldados à batalha. Todo aquele
que mortifique sua carne e se abstenha do ilícito é meu verdadeiro soldado.
Como lança levarão as palavras de minha boca e em suas mãos brandirão a espada
da fé; em seu peito estará a couraça do amor para que, aconteça o que acontecer
não deixem de me amar. Devem ter o escudo da paciência em suas costas, de forma
que suportem tudo com paciência. Tenho-os entesourados como ouro num estojo:
agora devem sair e andar em meus caminhos. Segundo os desígnios da justiça, Eu
não poderia entrar na glória de minha majestade sem suportar tribulação na
minha natureza humana. Portanto, como entrarão eles? Se seu Senhor sofreu, não
é de estranhar que eles também tenham de sofrer. Se seu Senhor suportou
chicotadas, não será para eles grande coisa o suportar palavras. Não hão de
temer porque nunca os abandonarei. Da mesma forma que é impossível para o
demônio entrar no coração de Deus e dividi-lo, igualmente será impossível
separá-los de mim. E como, diante de meus olhos são ouro puríssimo, pois foram
testados com um pouco de fogo, não os abandonarei: é para sua maior recompensa.
Palavras
da gloriosa Virgem à sua filha, sobre a forma de vestir e o tipo de roupas e
enfeites com os quais a filha deve adornar-se e vesti-se.
Eu sou Maria, que deu à luz o Filho
de Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Sou a Rainha dos anjos. Meu Filho
te ama com todo o coração. Ama-O! Deves adornar-te com roupas muito honestas e
eu te mostrarei como e que tipo de roupas devem ser. Como antes, tinhas uma
anágua, uma túnica, sapatos, uma capa e um broche sobre seu peito, agora hás de
cobrir-te com roupas espirituais. A anágua é a contrição. Como a anágua se
veste junto ao corpo, assim a contrição e a conversão são o primeiro passo de
volta a Deus. Através delas, a mente, que em um momento encontrou gozo no pecado,
se purifica e a carne impura se mantém sob controle. Os dois sapatos são duas
disposições, na verdade a intenção de retificar as transgressões passadas e a
intenção de fazer o bem e manter-se longe do mal. Tua túnica é a esperança em
Deus. Como a túnica tem duas mangas, há de haver justiça e misericórdia em tua
esperança. Desta forma esperarás na misericórdia de Deus porque não esquecerás
sua justiça. Pensa em sua justiça e em seu juízo, de forma que não esqueças sua
misericórdia, porque Ele não usa a justiça sem misericórdia nem a misericórdia
sem justiça. A capa é a fé. Do mesmo modo que a capa cobre tudo e tudo está
contido nela, a natureza humana pode igualmente abarcar tudo e conseguir tudo
mediante a fé. Esta capa deve ser enfeitada com as insígnias do amor de teu
Esposo, ou seja, da forma como te criou, da forma que te alimentou, te atraiu
para seu Espírito e abriu teus olhos espirituais. O broche é a consideração de
sua paixão. Fixa firmemente em teu peito o pensamento de como Ele foi fraudado
e mortificado, como se manteve vivo na cruz, ensanguentado e perfurado em todas
as suas fibras, como em sua morte seu corpo inteiro se convulsionou pela dor
aguda da paixão, como entregou seu Espírito nas mãos do Pai. Que este broche
permaneça sempre em teu peito! Sobre tua cabeça, coloque-se uma coroa, ou seja,
a castidade em teus afetos, que prefiras resistir aos açoites antes de tornar a
manchar-te. Sê modesta e digna. Não penses nem desejes nada mais que o teu
Criador. Quando tens a Ele, tens tudo. Adornada desta forma, deves esperar o
teu Esposo.
Palavras
da Rainha do Céu à sua querida filha, ensinando-lhe que deve amar e louvar seu
Filho junto de sua Mãe.
Eu sou a Rainha dos Céus. Estás
preocupada sobre como tens que louvar-me. Tenha a certeza de que todo o louvor
a meu Filho é louvor a mim. E aqueles que o desonram, desonram a mim, pois meu
amor para com Ele e o dele para comigo é tão ardente como se nós dois fossemos
um só coração. Tanto me honrou a mim, que era um vaso de argila, que me elevou
acima de todos os anjos. Por isso tu me hás de louvar assim: Bendito sejas,
Senhor Deus, Criador de todas as coisas, que te dignaste descer ao ventre da
Virgem Maria. Bendito sejas Senhor Deus que quiseste habitar nas entranhas da
Virgem Maria, sem ser um fardo para Ela e te dignaste receber sua carne
imaculada sem pecado. Bendito sejas, Senhor Deus, que vieste à Virgem,
dando-lhe gozo a sua alma e a todos os seus membros e que, com o gozo de todos
os membros de seu corpo sem pecado, Dela nasceste. Bendito sejas, Senhor Deus,
que depois de tua ascensão alegraste a Virgem Maria com frequentes consolações
e com tua consolação a visitaste. Bendito sejas, Senhor Deus, que elevaste o
corpo e a alma da Virgem Maria, tua Mãe, aos Céus e a honraste situando-a junto
de tua divindade, sobre todos os anjos. Tem misericórdia de mim, Senhor, por
seus rogos e intercessão.
Palavras
da Rainha dos Céus à sua querida filha sobre o formoso amor que o Filho
professava à sua Mãe Virgem; sobre como a Mãe de Cristo foi concebida em um
matrimonio casto e santificada no ventre de sua mãe; sobre como subiu ao Céu em
corpo e alma; sobre o poder de seu nome e sobre os anjos designados aos homens
para o bem e para o mal.
Sou a Rainha do Céu. Ama meu Filho,
porque ele é o honestíssimo e quando tens a Ele, tens tudo o que é honesto. Ele
é o mais desejável e quando tens a Ele tens tudo o que é desejável. Ama-o
também porque Ele é virtuosíssimo e quando o tens, tens todas as virtudes. Vou
te contar como foi maravilhoso seu amor pelo meu corpo e minha alma e quanta
honra deu ao meu nome. Ele, meu filho, me amou antes que eu o amasse, pois é
meu Criador. Ele uniu meu pai e a minha mãe em um matrimonio tão casto que não
se pode encontrar nenhum casal mais casto. Nunca desejaram unir-se exceto de
acordo com a Lei, só para terem descendência. Quando o anjo lhes anunciou que
teriam uma Virgem pela qual chegaria a salvação do mundo, antes desejariam
morrer do que unir-se em um amor carnal, pois a luxuria estava extinta neles.
Asseguro-te que, pela caridade divina e devido à mensagem do anjo, eles se
uniram na carne, não por concupiscência, mas contra sua vontade e por amor a
Deus. Dessa forma, minha carne foi gerada de suas sementes e através do amor
divino. Quando meu corpo se formou, Deus enviou nele a alma criada a partir da
sua divindade. A alma foi imediatamente santificada junto com o corpo e os
anjos a vigiavam e custodiavam dia e noite. É impossível expressar-te que
grandíssimo gozo sentiu minha mãe quando minha alma santificada se uniu ao meu
corpo. Depois, quando o curso da minha vida se cumpriu, meu Filho primeiro
elevou minha alma, por ter sido a dona do corpo, a um lugar mais eminente que
os demais, perto da glória de sua divindade, e depois meu corpo, da forma que
nenhum outro corpo de criatura esteja tão perto de Deus como o meu. Veja quanto
meu Filho amou a minha alma e meu corpo! Existem pessoas, entretanto, que
maliciosamente negam que eu tenha sido assunta em corpo e alma, e existem outras
que simplesmente não tem maior conhecimento. Mas a verdade disso é certa: Fui
elevada até a Gloria de Deus em corpo e alma! Escuta agora o muito que meu
Filho honrou meu nome! Meu nome é Maria, como diz o evangelho. Quando os anjos
olham esse nome, se regozijam em sua consciência e dão graças a Deus pela
grandíssima graça que operou em mim e comigo, porque eles veem a humanidade de
meu Filho glorificada em sua divindade. As almas do purgatório se regozijam de
maneira especial, como quando um homem enfermo que está na cama escuta
alentadoras palavras de outros e isto agrada seu coração fazendo-o sentir-se
contente. Ao ouvir meu nome, os anjos se aproximam imediatamente das almas dos
justos, a quem foram dados como guardiões, e se regozijam em seus progressos.
Os anjos bons foram designados a todos como proteção e os anjos maus como
provação. Não é que os anjos estejam separados de Deus, mas assistem a alma sem
deixar Deus, e permanecem constantemente em sua presença, enquanto seguem
inflamando e incitando a alma a fazer o bem. Os demônios todos se espantam e
temem meu nome. Ao som do nome de Maria, soltam imediatamente a presa que
tenham em suas garras. Da mesma forma que uma ave de rapina com a presa em suas
garras, a deixa quando escuta um ruído e volta depois quando vê que não era
nada, igualmente os demônios deixam a alma, assustados, ao ouvir meu nome, mas
voltam de novo rápidos como uma flecha a menos que vejam que depois se produziu
uma emenda. Ninguém está tão frio no amor de Deus – a menos que esteja condenado-
que o demônio não se distancie dele se invoca meu nome com a intenção de não
retornar mais aos seus maus hábitos, e o demônio se mantém longe dele a menos
que volte a consentir em pecar mortalmente.
Palavras
da Virgem Maria à sua filha, oferecendo-lhe um proveitoso ensino sobre como
deve viver, e descrevendo maravilhosos detalhes da paixão de Cristo.
Sou a Rainha do Céu, a Mãe de Deus.
Eu te disse que devias levar um broche sobre teu peito. Agora te mostrarei com
mais detalhes como, desde o principio, quando eu primeiro ouvi e entendi que
Deus existia, sempre e com temor estive zelosa sobre minha salvação na observância
de seus mandamentos. Quando aprendi mais plenamente que o mesmo Deus era meu
Criador e o Juiz de todas minhas ações, cheguei a amá-Lo profundamente e estive
constantemente alerta e atenta para não ofendê-Lo por palavra ou por obra. Quando
soube que Ele havia dado sua Lei e mandamentos a seu povo e fez milagres
através deles, fiz a firme resolução em minha alma de não amar nada mais a não
ser Ele, e as coisas mundanas se tornaram muito amargas para mim. Então,
sabendo que o mesmo Deus redimiria o mundo e nasceria de uma Virgem, eu estava
tão movida de amor por Ele que não pensava em nada mais a não ser em Deus, nem
queria nada fora Dele. Separei-me, no possível, da conversação e presença de
parentes e amigos, e dei aos necessitados tudo o que havia chegado a ter,
ficando somente com um moderado vestuário e alimentação. Nada me agradava a não
ser Deus. Sempre esperei em meu coração viver até o momento de seu nascimento,
e talvez, aspirar a ser uma indigna servidora da Mãe de Deus. Também fiz em meu
coração o voto de preservar minha virgindade, se isso fosse aceitável a Ele, e
de não possuir nada no mundo. Mas se Deus quisesse outra coisa, meu desejo era
que se cumprisse em mim seu desejo e não o meu, porque acreditei que Ele era
capaz de tudo e que Ele só queria o melhor para mim. Por Ele, submeti-lhe toda
a minha vontade. Quando chegou o tempo estabelecido para a apresentação das
virgens no templo do Senhor, estive presente com elas graças à religiosa
obediência de meus pais. Pensei comigo, que nada era impossível para Deus e
que, como Ele sabia que eu não desejava nem queria mais que a Ele, Ele poderia
preservar minha virgindade, se isto lhe agradasse, e se não, que se fizesse sua
vontade. Depois de ter escutado todos os mandamentos no templo, voltei a casa
ainda ardendo mais que nunca por Deus, sendo inflamada com novos fogos e
desejos de amor a cada dia. Por isso, me separei ainda mais de tudo e estive só
noite e dia, com grande temor de que minha boca falasse e meus ouvidos ouvissem
algo contra Deus, ou de que meus olhos olhassem algo em que me deleitasse; em
meu silencio senti também temor e ansiedade por estar calando sobre algo que
deveria falar. Com essas perturbações em meu coração, e a sós comigo mesma,
encomendei todas as minhas esperanças a Deus. Naquele momento veio ao meu
pensamento considerar o grande poder de Deus; como os anjos e todas as
criaturas o servem; e como sua glória é indescritível e eterna. Enquanto me
perguntava tudo isso, tive três visões maravilhosas: Vi uma estrela, mas não
como as que brilham no Céu. Vi uma luz, mas não como a que ilumina o mundo.
Percebi um aroma, mas não de ervas nem de nada disso, mas indescritivelmente
suave, que me plenificou tanto que senti como se saltasse de gozo. Nesse
momento, ouvi uma voz, mas não de fala humana. Tive muito medo quando a ouvi e
me perguntei se seria uma ilusão. Então, apareceu diante de mim um anjo de Deus
de uma belíssima forma humana, mas não revestida de carne, e me disse: Ave,
cheia de graça... Ao ouvi-lo perguntei-me o que significava aquilo ou porque me
tinha saudado dessa forma, pois sabia e cria que eu era indigna de algo
semelhante, ou de algo tão bom, mas também sabia que para Deus não era
impossível fazer tudo o que quisesse. Então, o anjo acrescentou: O filho que
nascerá de ti é santo e se chamará Filho de Deus. Se fará como a Deus apraz.
Ainda não me acreditei digna nem lhe perguntei: Por quê? ou Quando se fará? Mas
lhe perguntei: Como é que eu, tão indigna, hei de ser mãe de Deus, se nem
sequer conheço varão? O anjo me respondeu, como disse, que nada é impossível
para Deus, mas “Tudo o que ele queira se fará”. Quando ouvi as palavras do
anjo, senti o mais fervente desejo de converter-me na mãe de Deus, e minha alma
disse com amor: Aqui estou, faça-se em mim tua vontade! Ao dizer aquilo, nesse
momento e lugar, foi concebido meu Filho em meu ventre com uma inefável
exultação da minha alma e dos membros do meu corpo. Quando Ele estava em meu
ventre, o gerei sem dor alguma, sem torpor nem cansaço em meu corpo.
Humilhei-me em tudo, sabendo que levava em mim o Todo-poderoso. Quando o dei à
luz, o fiz sem dor nem pecado, igual a quando o concebi, com tal exultação de
alma e corpo que senti como se caminhasse sobre o ar, gozando de tudo. Ele
entrou em meus membros, com gozo de toda minha alma, e dessa forma, com gozo de
todos meus membros, saiu de mim, deixando minha alma exultante e minha
virgindade intacta. Quando olhei e contemplei sua beleza, a alegria transbordou
de minha alma, sabendo-me indigna de um Filho assim. Quando observei os lugares
nos quais, como sabia através dos profetas, suas mãos e pés seriam perfurados
na crucifixão, meus olhos se encheram de lagrimas e meu coração se partiu de
tristeza. Meu Filho olhou meus olhos lacrimosos e se entristeceu quase até
morrer. Mas ao contemplar seu divino poder, me consolei de novo, dando-me conta
de que isto era o que ele queria, e por ele, como era o correto, conformei toda
a minha vontade à sua. Assim, minha alegria sempre se misturava com a dor. Quando
chegou o momento da paixão de meu Filho, seus inimigos o arrastaram.
Golpearam-no na face e no pescoço e lhe cuspiram zombando dele. Quando foi
levado à coluna, ele mesmo se desnudou e colocou suas mãos sobre o pilar, e
seus inimigos as ataram sem misericórdia. Atado à coluna, sem nenhum tipo de
roupa, como quando veio ao mundo, se manteve ali sofrendo a vergonha de sua
nudez. Seus inimigos o cercaram e, tendo fugido todos os seus amigos,
flagelaram seu puríssimo corpo, limpo de toda mancha e pecado. Na primeira
chicotada eu, que estava por perto, caí quase morta, e ao voltar a mim, vi em
meu espírito seu corpo chicoteado e chagado até as costelas. O mais horrível
foi que quando lhe retiraram as amarras, as correias grossas haviam sulcado sua
carne. Estando aí meu Filho, tão ensanguentado e lacerado que não lhe restou
nenhuma área sã sem ser chicoteada, alguém ali presente perguntou: “Vão matá-lo
sem estar sentenciado?” e imediatamente lhe cortou as amarras. Então, meu Filho
vestiu suas roupas e vi como ficou cheio de sangue o lugar onde havia estado.
E, por suas pegadas, pude ver por onde andava, pois o solo ficava empapado de
sangue por onde Ele ia. Não tiveram paciência quando se vestia, empurram-no e o
arrastaram com pressa. Sendo tratado como um ladrão, meu Filho secou o sangue
de seus olhos. Quando ele foi sentenciado à morte, lhe impuseram a cruz para
que a carregasse. Levou-a um pouco, mas depois veio um que a pegou e o ajudou a
carregá-la. Enquanto meu Filho ia até o lugar de sua paixão, alguns o golpearam
no pescoço e outros lhe esbofetearam a face. Batiam com tanta força que embora
não visse quem lhe batia, ouvia claramente o som da bofetada. Quando cheguei
com Ele ao lugar da paixão, vi todos os instrumentos de sua morte ali
preparados. Ao chegar ali Ele só se desnudou enquanto os carrascos diziam entre
si: Estas roupas são nossas e ele não as recuperará porque está condenado à morte.
Meu Filho estava ali, nu como quando nasceu e nisto alguém veio correndo e lhe
ofereceu um pano com o qual Ele contente pode cobrir sua intimidade. Depois
seus cruéis executores o agarraram e o estenderam na cruz, pregando primeiro
sua mão direita na ponta da cruz onde tinha feito o buraco para o cravo.
Perfuraram sua mão no ponto em que o osso era mais sólido. Com uma corda lhe
estenderam a outra mão e a pregaram no outro extremo da cruz, do mesmo modo. Continuando,
cruzaram seu pé direito com o esquerdo por cima usando dois cravos de forma que
seus nervos e veias se estenderam e se romperam. Depois lhe puseram a coroa de
espinhos e a apertaram tanto que o sangue que saia de sua venerável cabeça lhe
tapava os olhos, lhe obstruía os ouvidos e lhe empapava a barba ao cair.
Estando assim na cruz, ferido e sangrando, sentiu compaixão de mim, que estava
ali soluçando e, olhando com seus olhos ensanguentados em direção a João, meu
sobrinho, me encomendou a ele. Nesse momento pude ouvir alguns dizendo que meu Filho
era um ladrão, outros que era um mentiroso, e ainda outros dizendo que ninguém
merecia a morte mais do que Ele. Ao ouvir tudo isto se renovava minha dor. Como
disse antes, quando lhe fincaram o primeiro cravo, esse primeiro sangue me
impressionou tanto que cai como morta, meus olhos cegos na escuridão, minhas
mãos tremendo, meus pés instáveis. No impacto de tanta dor não pude olhá-Lo até
que terminaram de crucificá-Lo. Quando pude levantar-me, vi meu Filho arfando
ali miseravelmente e, consternada de dor, eu sua Mãe tão triste, apenas podia
manter-me em pé. Vendo-me a mim e seus amigos chorando desconsoladamente, meu
Filho gritou em voz alta e pesarosa dizendo: Pai porque me abandonaste? Era
como dizer: Ninguém se compadece de mim senão tu, Pai. Então seus olhos
pareciam meio mortos suas faces estavam afundadas, seu rosto lúgubre, sua boca
aberta, e sua língua ensanguentada. Seu ventre estava pressionado na direção
das costas, porque todos os líquidos tinham sido perdidos. Era como se não
tivesse órgãos. Todo o seu corpo estava pálido e lânguido devido à perda de
sangue. Suas mãos e pés estavam muito rígidos e estirados ao terem sido
forçados para adaptá-los a cruz. Sua barba e seu cabelo estavam completamente
empapados de sangue. Estando assim, lacerado e lívido, sua mente e seu coração
se mantinham vigorosos, pois tinha uma boa e forte constituição. De minha
carne, Ele recebeu um corpo puríssimo e bem proporcionado. Sua pele era tão
fina e macia que ao menor arranhão imediatamente lhe saia sangue, que sobressaia
sobre sua pele tão pura. Precisamente por sua boa constituição, a vida lutou
contra a morte em seu corpo chagado. Em certos momentos, a dor nas extremidades
e fibras de seu corpo lacerado lhe subia até o coração, ainda vigoroso e
integro e isto trazia um incrível sofrimento. Em outros momentos, a dor baixava
de seu coração para seus membros feridos e, ao suceder isto, se prolongava a
amargura de sua morte. Submerso na agonia, meu Filho olhou ao redor e viu seus
amigos que choravam e que teriam preferido suportar eles mesmos a dor com seu
auxilio e ter ardido para sempre no inferno em lugar de vê-Lo tão torturado.
Sua dor pela dor dos seus amigos excedia toda a amargura e tribulações que
havia suportado em seu corpo e em seu coração pelo amor que lhes tinha. Então,
na excessiva angustia corporal de sua natureza humana, clamou a seu Pai: Pai,
em tuas mãos entrego meu espírito. Quando eu, sua triste Mãe, ouvi essas
palavras, todo o meu corpo se comoveu com a dor amarga de meu coração, e todas
as vezes que as recordo choro desde então, pois elas permaneceram presentes e
recentes em meus ouvidos. Quando se lhe aproximava a morte e seu coração se
rompeu com a violência das dores, todo seu corpo se convulsionou e sua cabeça
se levantou um pouco para depois cair outra vez. Sua boca ficou aberta e sua
língua podia ser vista sangrando. Suas mãos se retraíram um pouco do lugar da
perfuração e seus pés suportaram mais com o peso de seu corpo. Seus dedos e
braços pareceram estender-se e seus ombros ficaram rígidos contra a cruz. Então,
alguns me diziam: Maria, teu Filho está morto. Outros diziam: Está morto, mas
ressuscitará. À medida que tudo seguia veio um homem e lhe cravou uma lança no
lado com tanta força que quase saiu pelo outro lado. Quando tiraram a lança, sua
ponta estava tingida de sangue vermelho e me pareceu como se me tivessem
perfurado o meu próprio coração, quando vi meu querido Filho transpassado.
Depois o retiraram da cruz e eu tomei seu corpo sobre meu regaço. Parecia um
leproso, completamente lívido. Seus olhos estavam mortos e cheios de sangue,
sua boca tão fria como gelo, sua barba eriçada e sua face contraída. Suas mãos
estavam tão desconjuntadas que não se sustentavam sequer sobre seu ventre.
Recebi-o sobre meus joelhos como havia estado na cruz, como um homem contraído
em todos os seus membros. Depois disso, o estenderam sobre um tecido limpo de
linho e com meu próprio lenço lhe sequei as feridas e seus membros e fechei
seus olhos e sua boca que havia ficado aberta quando morreu. Assim o colocaram
no sepulcro. De boa vontade me teria colocado ali viva com meu Filho se essa
tivesse sido sua vontade! Terminado tudo isto veio o bondoso João e me levou à
sua casa. Vê, Filha minha, quanto suportou meu Filho por ti!
Palavras
de Cristo à sua esposa sobre como Ele mesmo se entregou, por sua própria e
livre vontade, para ser crucificado por seus inimigos, e sobre como controlar o
corpo de atos ilícitos frente à consideração de sua paixão.
O Filho
de Deus se dirigiu a sua esposa, dizendo: Sou o Criador do Céu e da terra,
e o que se consagra no altar é meu verdadeiro corpo". Ama-me com todo teu
coração, porque eu te amei e me entreguei a meus amigos por minha própria e
livre vontade, enquanto meus amigos e minha Mãe caiam em amarga dor e pranto. Quando
vi a lança, os cravos, as correias e todos os demais instrumentos de minha
paixão ali preparados, ainda assim fiquei a sofrer com alegria. Quando minha
cabeça sangrava por todas as partes a partir da coroa de espinhos, mesmo que meus
inimigos se apoderassem de meu coração, desejaria que o ferissem e o
desprezassem, ao invés de perder-te. Portanto serias muito ingrata se, em
correspondência a tanta caridade, não me amasses. Se minha cabeça foi perfurada
e se inclinou na cruz por ti, também tua cabeça deveria inclinar-se até a
humildade. Já que meus olhos estavam ensanguentados e cheios de lagrimas, teus
olhos deveriam abster-se de visões agradáveis a teus olhos. Se meus ouvidos se
cobriram de sangue e ouvi palavras de zombaria contra mim, teus ouvidos teriam
que abster-se das conversas frívolas e inoportunas. Ao se ter dado bebida
amarga à minha boca e negado uma doce, preserve a tua boca do mal e deixa que
se abra para o bem. Posto que minhas mãos foram estendidas e cravadas, que as
obras simbolizadas por tuas mãos se estendam aos pobres e aos meus mandamentos.
Que teus pés, ou sejam, teus atos, com os quais deves caminhar até mim, sejam
crucificados aos deleites de maneira que, da mesma forma que sofri em todos
meus membros, também todos os teus membros estejam dispostos a obedecer-me.
Peço mais serviços para ti do que para outros porque te dei uma maior graça.
Sobre
como um anjo reza por sua esposa e como Cristo pergunta ao anjo o que é que
pede para sua esposa e o que é bom para ela.
Um anjo
bom, o guardião da esposa, apareceu rogando a Cristo por ela. O Senhor lhe
respondeu e disse: Uma
pessoa que reza por outra deve rogar pela salvação dela. Tu és como um fogo que
nunca se extingue, incessantemente ardendo com meu amor. Tu vês e conheces tudo
quando me vês e não queres nada mais do que o que eu quero. Portanto, diz-me o
que é que convém a esta minha esposa?
Ele respondeu: Senhor, tu sabes tudo.
O Senhor
lhe disse: Tudo o que se criou ou se criará existe eternamente em mim. Mas,
para que minha esposa possa reconhecer minha vontade, diz-me o que é bom para
ela, agora que está escutando”.
E o anjo
disse: Ela
tem um coração orgulhoso e arrogante. Portanto, necessita uma vara com que
possa ser domada.
Então, o
Senhor disse: Que pedes para ela meu amigo?
O anjo
disse: Senhor,
peço-te que lhe garanta a misericórdia com a vara.
E o
Senhor acrescentou: Pelo seu bem o farei, pois nunca emprego a justiça
sem misericórdia. Então, a esposa deve amar-me com todo seu coração e com boa
vontade.
Sobre
como um inimigo de Deus tinha três demônios dentro dele e sobre a sentença que
Cristo lhe aplicou.
Meu inimigo tem três demônios em
seu interior. O primeiro reside em seus genitais, o segundo em seu coração, o
terceiro em sua boca. O primeiro é como um barqueiro que deixa que a água lhe
chegue aos joelhos, e a água, ao aumentar gradativamente, termina enchendo o
barco. Então se produz uma inundação e o barco se afunda. Esse barco representa
seu corpo, que é assaltado pelas tentações de demônios, e por suas próprias
concupiscências, como se fossem tempestades. Primeiro, a luxuria entrou em seu
corpo até os joelhos, ou seja, através do desejo demoníaco com o qual se
deleitou com pensamentos impuros. E como ele não resistiu pelo arrependimento e
penitencia, e não reparou o barco do seu corpo, mediante os apertos da
abstinência, a água da luxuria cresceu diariamente enquanto ele deu seu
consentimento ao mal. Então, o barco repleto, ou seja, cheio pela
concupiscência do ventre, se inundou e afundou na luxuria, de forma que não
pôde chegar ao porto da salvação. O segundo demônio, que residia em seu coração,
é como um verme dentro de uma maçã, que primeiro come o pé da maçã e depois
deixa seus excrementos, se espalha pelo interior da maçã até que todo o fruto
se decompõe. Isto é o que faz o demônio. Primeiro destrói a vontade da pessoa e
seus bons desejos, que são como a polpa, onde se encontra toda a força da alma
e reside toda bondade, e quando o coração se esvazia desses bens, põem em seu
lugar, dentro do coração, os pensamentos mundanos e os desejos que os dominam
mais. Assim, impele o corpo ao seu próprio prazer, e por essa razão, o valor e
entendimento do homem diminuem e ele odeia a sua vida. Esse homem é sem duvida
uma maçã sem polpa, ou seja, é um homem sem coração, que entra em minha igreja
pois já não tem o amor de Deus. O terceiro demônio é como um arqueiro que olha
pela janela e dispara nos descuidados. Como não vai estar o demônio dentro de
um homem que sempre o inclui em sua conversação? Aquele a quem amamos mais é
quem mais mencionamos. As palavras amargas com que ele fere a outros são como
flechas disparadas por tantas janelas quantas vezes o demônio é mencionado e
pessoas inocentes sejam ofendidas por suas palavras. Eu, que Sou a verdade,
juro pela minha verdade que os condenarei como uma prostituta, ao fogo e
enxofre; como a um traidor insidioso, à mutilação de seus membros; como a um
zombador do Senhor, à vergonha eterna. Entretanto, enquanto sua alma e seu
corpo permaneçam unidos, minha misericórdia está ainda aberta para ele. O que
exijo dele é que participe com maior frequência dos divinos ofícios e orações,
que não tenha medo de nenhuma humilhação nem deseje qualquer honra e que o
inferno ou más palavras não sejam mencionados pela sua boca.
Explicação:
Este homem, um abade da ordem cisterciense, enterrou uma pessoa que havia
estado excomungada. Quando ele rezou a oração de encomenda de corpo sobre ele,
Santa Brígida ouviu em êxtase espiritual as seguintes palavras do Senhor: Ele
utilizou seu poder e o enterrou. Podes estar segura de que o próximo enterro
depois deste será o seu, pois pecou contra o Pai, que nos disse que não
mostremos parcialidade nem honremos injustamente aos ricos. Para benefício
próprio, este homem honrou uma pessoa indigna e a colocou entre os dignos,
coisa que não devia fazer. Pecou contra mim também, o Filho, porque Eu disse:
“Aquele que me rejeita será rejeitado. Este homem honrou e exaltou alguém que
minha Igreja e meu vigário haviam rejeitado. O abade se arrependeu quando ouviu essas palavras e
morreu ao quarto dia.
Palavras
de Cristo à sua esposa sobre a maneira e respeito com que deve conduzir a
oração, e sobre três classes de pessoas que servem a Deus no mundo.
Sou teu Deus, o que foi pregado na
cruz, verdadeiro Deus e homem em uma pessoa, e que está presente todos os dias
nas mãos do sacerdote. Quando me ofereces uma oração, termine-a sempre com o
desejo de que se faça minha vontade e não a tua. Quando rezas por alguém que já
está condenado não te escuto. Algumas vezes não te ouço se desejas algo que
possa ir contra tua salvação. É por isso, necessário que submetas tua vontade à
minha, porque como Eu sei todas as coisas, não te permito nada mais do que te
seja benéfico. Há muitos que não rezam com a intenção correta e é por isso que
não merecem ser atendidos. Há três tipos de pessoas que me servem neste mundo. Os
primeiros são os que creem que sou Deus e o provedor de todas as coisas, que
tem poder sobre tudo. Estes me servem com a intenção de conseguir bens e honras
temporais, mas as coisas do Céu não lhes importam e estão até dispostos a
perdê-las para obter bens presentes. O êxito mundano se ajusta completamente à
sua medida, segundo seus desejos. Já que perderam os bens eternos, Eu lhes
compenso com consolos temporais por qualquer bom serviço que me façam,
pagando-lhes até o ultimo centavo e até o ultimo ponto. Os segundos são os que
creem que sou Deus onipotente e Juiz severo, mas que me servem por medo do
castigo e não por amor à gloria celestial. Se não me temessem não me serviriam.
Os terceiros são os que creem que sou o Criador de todas as coisas e Deus
verdadeiro e que creem que sou justo e misericordioso. Estes não me servem por
medo do castigo, mas por amor divino e caridade. Prefeririam suportar qualquer
castigo, por duro que fosse, a não me ofender. Estes merecem verdadeiramente
ser escutados quando rezam, pois sua vontade coincide com minha vontade. O
primeiro tipo de servos nunca sairá do castigo nem chegará a ver meu rosto. O
segundo não será tão castigado, mas também não chegará a ver meu rosto, a não
ser que corrija seu temor mediante a penitencia.
Palavras
de Cristo à esposa revelando-se como um grande Rei; sobre os tesouros que
simbolizam o amor de Deus e o amor do mundo, e uma lição sobre como melhorar
nesta vida.
Sou como um grande Rei majestoso e
potente. Quatro coisas correspondem a um rei. Primeiro, tem que ser rico;
segundo, generoso; terceiro, sábio; quarto, caritativo. Eu tenho essas quatro
qualidades que mencionei. Em primeiro lugar, Sou o mais rico de todos, pois
abasteço as necessidades de todos e não tenho menos depois de ter dado.
Segundo, sou o mais generoso, pois estou preparado para dar a quem me pede.
Terceiro, sou o mais sábio, pois conheço as dividas e necessidades de cada
pessoa. Quarto, sou caritativo, pois estou mais disposto a dar do que alguém
para pedir. Tenho, digamos, dois tesouros. No primeiro tesouro guardo materiais
pesados como o chumbo e os compartimentos onde se encontram estão cobertos por
afiadíssimos pregos. Mas estas coisas pesadas chegam a parecer tão leves como
plumas para a pessoa que começa a alterá-las e revolvê-las e que, depois,
aprende a carregá-las. O que antes parecia tão pesado se converte em luz e as
coisas que antes se viam afiadas e cortantes se tornam suaves. No segundo
tesouro, se vê ouro resplandecente, pedras preciosas, e aromáticas e deliciosas
bebidas. Mas o ouro é realmente barro e as bebidas são veneno. Há dois caminhos
até o interior desses tesouros, apesar de que antes só havia um. No cruzamento,
ou seja, na entrada dos dois caminhos, há um homem que, gritando a três homens
que tomam o segundo caminho, lhes diz: “Ouçam, ouçam o que tenho para dizer! Se
não querem escutar, ao menos ponham vossos olhos para ver que o que digo é
certo. Se não querem usar seus ouvidos nem seus olhos, ao menos usem suas mãos
para tocar e dar conta de que não falo em falso.” Então, o primeiro deles diz:
“Vamos atender e ver se o que diz é verdade”. O segundo homem diz: “Tudo o que
diz não é verdade". O terceiro diz: “Sei que tudo o que diz é verdade, mas
não me importa”. O que são esses tesouros se não o amor por mim e amor pelo
mundo? Há duas trilhas até esses tesouros. O rebaixar-se e a completa
autonegação conduz ao meu amor, enquanto o desejo carnal conduz ao amor ao
mundo. Para algumas pessoas, a carga que suportam por meu amor parece feita de
chumbo, porque quando têm que jejuar ou vigiar, ou praticar a restrição, pensam
que estão carregando uma carga de chumbo. Se têm que ouvir zombarias e insultos
porque gastam tempo em oração e na pratica da religião, é como se sentassem
sobre pregos, sempre é uma tortura para eles. A pessoa que desejar estar em meu
amor, primeiro tem que reverter o chumbo, ou seja, fazer um esforço para fazer
o bem desejando-o com um ardor constante. Então, perseverando na tarefa que
assumiu, começará a carregar tudo o que antes lhe parecia chumbo, com uma
disposição tão alegre que todos os trabalhos ou jejuns e vigílias, ou qualquer
outro trabalho, será para ele tão leve como uma pluma. Meus amigos descansam em
um lugar que, para os malvados e negligentes, parece estar coberto de espinhos
e pregos, mas a meus amigos lhes oferece o melhor repouso, suave como as rosas.
O caminho direto até este tesouro é desprezar tua própria vontade. Isto
acontece quando um homem, pensando em minha paixão e morte, não se preocupa com
sua vontade, mas resiste e luta constantemente para melhorar. Apesar de que
esse caminho é algo difícil no principio, ainda há muito prazer neste processo,
tanto que tudo o que no principio parecia impossível de carregar se torna muito
leve, de forma que pode dizer com toda razão a si mesmo: “Leve é o jugo de
Deus”. O segundo tesouro é o mundo. Aí há ouro, pedras preciosas e bebidas que
parecem deliciosas, mas são amargas como o veneno quando se experimenta. O que
ocorre a todos que levam o ouro é que, quando seu corpo se debilita e seus
membros falham, quando sua medula se desgasta e seu corpo cai por terra devido
à morte, então deixam o ouro e as joias e não merecem mais do que o barro. As
bebidas do mundo, ou seja, seus prazeres parecem deliciosos, mas quando chegam
ao estomago debilitam a cabeça e pesam no coração, arruínam o corpo e a pessoa,
e desaparecem como palha. À medida que se aproxima a dor da morte, todas essas
delicias se tornam tão amargas como o veneno. A própria vontade conduz a este
desejo, quando uma pessoa não se preocupa em resistir aos seus apetites e não
medita sobre o que Eu tenho ordenado e sobre o que tenho dito, mas a todo o
momento faz o que lhe apetece, seja lícito ou não. Três homens caminham por
esta trilha. Refiro-me a todos os réprobos, todos os que amam o mundo e a seu
próprio desejo. Eu lhes grito desde a encruzilhada dos caminhos, até a entrada
dos dois, porque ao ter vindo em carne humana mostrei dois caminhos à
humanidade em concreto, um para ser seguido e outro para ser evitado, ou seja,
um caminho que leva à vida e outro que conduz à morte. Antes da minha vinda em
carne somente havia um caminho. Nele, todas as pessoas, bons e maus, iam ao
inferno. Eu sou o que clamei e meu clamor foi este: “Povos, escutem minhas
palavras, que conduzem ao caminho da vida, ponham seus sentidos em compreender
que o que digo é verdade. Se não as escutam ou não podem escutá-las, então ao
menos olhem – ou seja, usem a fé e a razão – e vejam que minhas palavras são
certas. Da mesma forma que uma coisa visível pode ser percebida pelos olhos do
corpo, assim também o invisível se pode perceber e crer mediante os olhos da fé.
Há muitas almas simples na Igreja que fazem poucos trabalhos, mas que se salvam
graças a sua fé, por crerem que sou o Criador e redentor do universo. Não
existe ninguém que não possa compreender ou chegar à crença de que Eu sou Deus,
se considera como a terra dá frutos e os Céus produzem chuva; como se tornam
verdes as árvores; como subsistem os animais, cada um em sua espécie; como os
astros são úteis ao ser humano, e como ocorrem coisas contrárias à vontade do
homem. Partindo de tudo isso, uma pessoa pode ver que é mortal e que é Deus
quem dispõe todas as coisas. Se Deus não existisse tudo estaria em desordem.
Por conseguinte, tudo foi criado e disposto por Deus, tudo se ordenou
racionalmente para a própria instrução do ser humano. Nem sequer a mínima coisa
existe nem subsiste no mundo sem razão. Assim, se uma pessoa não pode entender
ou compreender meus poderes devido a sua debilidade, ao menos pode ver e crer
por meio da fé. Mas se ainda – oh homens! – não queres empregar teu intelecto
para considerar meu poder, podes usar tuas mãos para tocar as obras que Eu e
meus santos temos realizado. São tão patentes que ninguém pode duvidar de que
se trata de obras de Deus. Quem, senão Deus pode ressuscitar os mortos ou
devolver a vista a um cego? Quem senão Deus expulsa os demônios? O que ensinou
que não sirva para a salvação da alma e do corpo, e seja fácil de levar? Entretanto,
o primeiro homem ou, melhor, algumas pessoas dizem: “Escutemos e comprovemos se
isto é correto!” Estas pessoas estão há algum tempo a meu serviço, mas não por
amor, mas como experimentação e imitação de outros, sem renunciar a sua própria
vontade, mas tratando de conjugar sua própria vontade junto com a minha. Estes
se encontram em uma perigosa posição porque querem servir a dois mestres, ainda
que não possam servir bem a nenhum dos dois. Quando forem chamados, serão recompensados
pelo mestre que mais amaram. O segundo homem, ou seja, algumas pessoas dizem: O
que disse é falso e a Escritura é falsa. Eu sou Deus, o Criador de todas as
coisas, nada foi criado sem mim. Eu estabeleci o novo e o antigo testamento;
ambos saíram de minha boca e neles não há falsidade porque Eu sou a verdade.
Por isso aqueles que dizem que Eu sou falso e que as Sagradas Escrituras são
falsas, nunca verão meu rosto porque sua consciência lhes diz que Eu sou Deus,
pois tudo ocorre segundo meu desejo e disposição. O Céu lhes dá luz, pois eles
não podem iluminar a si mesmos; a terra dá frutos, o ar permite que se fecunde
a terra, todos os animais têm certas disposições, os demônios me confessam, os
justos sofrem de maneira incrível pelo seu amor a mim. Eles olham tudo isso e
ainda não me veem Poderiam ver-me em minha justiça, se considerassem como a
terra devora os ímpios e como o fogo consome os malvados. Igualmente, também
podiam ver-me em minha misericórdia quando a água fluiu da rocha para os retos
ou as águas se abriram para que eles passassem; quando o fogo não os queimou,
ou os Céus lhes deram alimento como a terra. Assim, vendo tudo isso, ainda
dizem que minto, então, nunca verão meu rosto. O terceiro homem, ou seja,
certas pessoas, dizem: Sabemos muito bem que Ele é Deus em verdade, mas não nos
importa. Essas pessoas serão atormentadas eternamente, porque me desprezam a
mim que sou seu Senhor e seu Deus. Não é um grandíssimo desprezo de sua parte
usar meus dons e recusar a servir-me? Se ao menos tivessem adquirido tudo isso
por sua conta e não inteiramente por mim, seu desdém não seria tão grande. Mas
Eu darei minha graça àqueles que comecem voluntariamente a carregar meu fardo e
a lutar com um desejo ardente de fazer o que possam. Eu trabalharei junto com
esses que levam meu fardo, ou seja, os que progridem a cada dia por amor a mim.
Serei sua força e os inflamarei tanto que estarão desejosos de fazer mais. Os
que perseveram no ponto que parece mortificá-los – mas que em verdade lhes é
benéfico – são os que labutam dia e noite sem descanso, fazendo-se inclusive
mais ardentes, pensando que o que fazem é pouco. Estes são meus amigos mais
queridos e são muito poucos, pois os demais acham mais prazerosas as bebidas do
segundo tesouro.
Como a
esposa viu um santo falando com Deus sobre uma mulher que havia sido
terrivelmente afligida pelo demônio e que depois se converteu graças às orações
da gloriosa Virgem. A esposa viu que um dos Santos dizia a Deus: Porque o
demônio está afligindo a alma desta mulher que tu redimiste com teu sangue?
O
demônio contestou de imediato dizendo: Porque é minha por direito.
E o
Senhor disse: Com que direito é tua?
O
demônio lhe respondeu: Há dois caminhos. Um que conduz ao Céu e outro ao
inferno. Quando ela se viu frente a esses dois caminhos, sua consciência e
razão lhe disseram que escolhesse meu caminho. Como tinha livre vontade para
escolher o caminho de seu agrado, pensou que seria mais vantajoso dirigir sua
vontade para o pecado, e assim, começou a caminhar por minha trilha. Depois, a
enganei com três vícios: a gula, a cobiça pelo dinheiro e a luxúria. Agora
habito em seu ventre e em sua natureza. Tenho-a presa por cinco mãos. Com uma mão
lhe fecho os olhos para que não veja coisas espirituais. Com a segunda, sujeito
suas mãos de forma que não possa fazer nenhuma boa obra. Com a terceira lhe
sustenho os pés, de maneira que não caminhe para a bondade. "Com a quarta,
sujeito seu intelecto para que não se envergonhe de pecar e, com a quinta lhe
prendo o coração para que não sinta contrição.
A
bendita Virgem Maria disse então a seu Filho: Filho meu, faça com que
ele diga a verdade sobre o que eu quero lhe perguntar.
O Filho respondeu: Tu és
minha Mãe, és a Rainha do Céu, és a Mãe da misericórdia, o consolo das almas do
purgatório, a alegria dos que peregrinam pelo mundo. És a Soberana dos anjos, a
criatura mais excelente diante de Deus. Também és Soberana sobre o demônio.
Ordena tu mesma a este demônio, Mãe, e ele te dirá o que quiseres.
A
bendita Virgem perguntou então ao demônio: Diga-me, Satanás, que intenção
tinha aquela mulher antes de entrar na Igreja?
Satanás
lhe respondeu: Tomou a resolução de não voltar a pecar.
E a
Virgem Maria lhe disse: Embora sua intenção anterior a conduzisse ao
inferno, diga-me, em que direção aponta sua atual intenção de afastar-se do
pecado?
O
demônio lhe respondeu com raiva: A intenção de abster-se de pecar
a conduz para o Céu.
A Virgem
Maria disse: Como tu entendeste que era teu direito afastá-la do caminho da
Santa Igreja devido a sua intenção anterior, agora é questão de justiça que
deve ser conduzida de volta a Igreja, dada sua presente intenção. Agora
demônio, vou te fazer outra pergunta: Diga-me, que intenção tem em seu atual
estado de consciência?
O
demônio lhe respondeu: Em sua mente está terrivelmente contrita e
arrependida, chora por tudo o que fez. Decidiu nunca mais cometer pecados
semelhantes e emendar-se em tudo o que possa.
A
Virgem, então, perguntou ao demônio: Poderia dizer-me se os três
pecados de luxúria, gula e cobiça podem existir em um coração junto às suas
três boas resoluções de contrição, arrependimento e propósito de emenda?
O
demônio respondeu: Não.
E a
bendita Virgem disse: Me dirás então, quais têm que retroceder e sair de
seu coração, as três virtudes ou os três vícios, que, segundo tu, não podem
ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo?
O
demônio replicou: Digo que os pecados.
E a
Virgem falou: O caminho do inferno está então fechado para ela e o caminho
do Céu está aberto.
De novo,
a bendita Virgem Maria inquiriu ao demônio: Diga-me, se um ladrão arrombar as
portas da esposa e quiser violá-la, que teria que fazer o Esposo?
Satanás
respondeu: Se o Esposo é bom e valente, deve defendê-la arriscando sua
vida por ela.
Então, a
Virgem disse: Tu és o ladrão malvado. Esta alma é a esposa de meu Filho, que
a redimiu com seu próprio sangue. Tu a corrompeste e a atacaste à força.
Portanto, e posto que meu Filho é o Esposo de sua alma e Senhor sobre ti,
retira-te de sua presença.
Explicação:
Esta mulher era uma prostituta, que depois de arrepender-se quis voltar ao
mundo porque o demônio a molestava dia e noite, tanto que visivelmente
pressionava seus olhos e, diante de muitos, a arrastava fora de sua cama.
Então, na presença de testemunhas fiéis, a santa dona Brígida disse
abertamente: Saia, demônio, tens já vexado bastante a esta criatura de Deus.
Depois de dizer isso, a mulher se aquietou por meia hora, com os olhos fixos no
solo e, depois se levantou e disse: Na verdade eu vi o demônio em uma forma
abominável saindo pela janela e ouvi sua voz que me dizia: Mulher, verdadeiramente estás livre. Desde esse momento, esta
mulher, venceu toda impaciência, cessaram seus sórdidos pensamentos e veio a
descansar em uma boa morte.
Palavras
de Cristo à sua esposa comparando um pecador com três coisas: uma águia, um
caçador e um lutador.
Eu sou Jesus Cristo, que está
falando contigo. Sou o que esteve no ventre da Virgem, verdadeiro Deus e homem.
Apesar ter estado na Virgem ainda regia tudo com o Pai. O homem, que é um
perverso inimigo meu, se parece com três coisas. Primeiro, é como uma águia que
voa pelos ares enquanto outras aves voam por baixo; segundo, é como um caçador
que entoa doces melodias com uma flauta recoberta de cola, cujos sons deleitam
as aves de modo que voam até a flauta e ficam presas na cola. Terceiro, é como
um lutador que ganha todos os combates. É como uma águia porque, em seu
orgulho, não pode tolerar que haja ninguém acima dele e fere a qualquer que
esteja a seu alcance com as unhas de sua malicia. Cortarei as asas de seu poder
e de seu orgulho e eliminarei sua maldade da terra. Colocá-lo-ei em uma
inextinguível panela fervente, que é o sofrimento do inferno, onde será
eternamente atormentado, se não emendar seu caminho. É também como um caçador
que atrai todos para si com a doçura de suas palavras e promessas, mas quem se
aproxima dele, fica preso na perdição sem poder escapar. Por esta razão, as
aves do inferno lhe picarão os olhos para que nunca possam ver minhas glorias,
senão somente a escuridão perpetua do inferno. Cortar-lhe-ão as orelhas para
que não ouça as palavras de minha boca. Em troca de suas doces palavras lhe
darão amargos tormentos desde a planta de seus pés até o alto de sua cabeça e
sofrerá tantas torturas quantos foram os homens que conduziu à perdição. É
também como um lutador briguento, quem gosta de ser o primeiro em maldade, não
querendo ceder diante de ninguém, e sempre determinado a derrotar a qualquer
um. Como lutador, então, terá o primeiro lugar em cada castigo; seus tormentos
se renovarão constantemente e nunca terminarão. Ainda assim, enquanto sua alma
esteja unida a seu corpo, minha misericórdia permanece quieta esperando-o.
Explicação:
Este foi um poderosíssimo cavaleiro que odiava muito o clero e costumava
lançar-lhe insultos. A precedente revelação é sobre ele, igual a que segue: O
Filho de Deus disse: “Oh mundano cavaleiro, pergunta a sabedoria que
ocorreu ao soberbo Aman que desprezava minha gente! Não foi a sua uma morte
ignominiosa e uma grande degradação? Da mesma forma este homem zomba de mim e
de meus amigos. Por isto, o mesmo que Israel não chorou pela morte de Aman, aos
meus amigos não doerá a morte deste homem. Terá uma morte muito amarga se não
emenda seu caminho”. E
isso foi o que se passou.
As
palavras de Cristo à sua esposa sobre como deveria haver humildade na casa de
Deus, e como essa casa significa pureza de vida e como casas e esmolas devem
ser doadas apenas de bem ganhos honestamente, e sobre como restaurar bens
adquiridos indevidamente.
Na minha casa todos devem ter a
humildade que agora é totalmente rejeitada. Deve haver uma forte parede
divisória entre os homens e as mulheres, porque mesmo que eu seja capaz de
defender todos e mantê-los todos sem uma parede, ainda, por razões de precaução
e por causa da astúcia do diabo, eu quero uma parede que deve separar as duas
residências. Deve ser forte e não muito elevada, mas moderada. As janelas devem
ser muito simples e transparentes, o telhado moderadamente elevado, pelo que
nada pode ser visto lá que não pertença à humildade. Porque aqueles que agora
constroem casas para mim são como mestres construtores que, quando o senhor ou
o mestre da casa entram nelas, agarram-lhe pelos cabelos e pisam-lhe com os
pés; eles elevam o que é sujo para o alto e pisam o ouro com os pés. Isto é o que
muitos fazem para mim agora. Eles constroem sujeira, ou seja, criam para o céu
coisas perecíveis e mundanas, mas descuidam das almas que são mais preciosas do
que todo ouro. Se eu quero ir até eles através das minhas pregações ou através
de bons pensamentos, eles agarram-me pelos cabelos e pisam-me com seus pés, o
que significa que eles me insultam e consideram minhas palavras e minhas ações
desprezíveis como sujeira. Eles se consideram muito mais sensatos. Mas se eles
quiserem construir coisas para mim e para minha honra, deveriam primeiro elevar
as almas para o reino dos Céus. Os que querem construir minha casa devem, com a
máxima precisão, tomar cuidado em não deixar ser destinado à construção nenhum
centavo que não tenha sido honesta e justamente adquirido. Há muitas pessoas
que sabem que possuem bens conseguidos ilicitamente e não se aborrecem por
isso, nem tem intenção de restituir e devolver seus roubos e pilhagens, apesar
de que poderiam fazê-lo se quisessem. Entretanto, como sabem que não podem
manter estas coisas para sempre, dão uma parte de seus bens mal adquiridos às
Igrejas, como se me pudessem aplacar por suas doações. As possessões legítimas
reservam aos seus descendentes. E isto não me agrada nada. Uma pessoa que
deseja agradar-me com suas doações têm que ter antes de tudo, o desejo de
emendar seu caminho e depois fazer todo o bem que possa. Deve lamentar-se e
chorar pelo mal que tenha feito e repará-lo se puder. Se não puder deve ter a
intenção de fazer a restituição de seus bens fraudulentamente adquiridos.
Então, tem que cuidar de não voltar a cometer os ditos pecados. Se a pessoa a
quem tem que restituir seus bens mal adquiridos já não está viva, então pode
fazer a mim a doação que a todos posso devolver o pago. Se não pode
restituí-los, sempre se humilhe diante de mim, com propósito de emenda e um
coração contrito, tenho os meios de fazer a restituição e agora ou no futuro,
restaurar a propriedade de todos os que tiverem sido fraudados. Explicar-te-ei
o significado da casa que quero construir. A casa é a vida religiosa. Eu sou o
Criador de todas as coisas, através de quem tudo se fez e existe; Sou seu
fundamento. Há quatro paredes nessa casa. A primeira é a justiça pela qual
julgo os que são hostis a esta casa. A segunda parede é a sabedoria, pela qual
ilumino seus habitantes com meu conhecimento e compreensão. A terceira é o
poder mediante o qual os fortaleço contra as maquinações do demônio. A quarta
parede é minha misericórdia, que acolhe qualquer um que a peça. Nesta parede
está a porta da graça, através da qual todos os que a procuram são bem vindos.
O telhado da casa é a caridade, mediante a qual cubro os pecados daqueles que
me amam, de forma que não sejam sentenciados por suas faltas. A claraboia do
teto por onde entra o sol é representação da minha graça. Através dela se
introduz nos habitantes a transparência da minha divindade. Que a parede seja
grande e forte significa que nada pode debilitar minhas palavras nem
destruí-las. Que deveria ser moderadamente alta significa que minha sabedoria
pode ser entendida e compreendida em parte, mas nunca completamente. As janelas
simples e transparentes referem que minhas palavras são simples e ainda assim
chega ao mundo, através delas, a luz do conhecimento divino. O telhado
moderadamente alto significa que minhas palavras não devem manifestar-se de
maneira incompreensível e inalcançável, mas em forma compreensível e
inteligível.
Palavras
do Criador à esposa sobre o esplendor de seu poder, sabedoria, virtude e sobre
como aqueles que agora se dizem sábios são os que mais pecam contra Ele.
Eu sou o criador do Céu e da Terra.
Tenho três qualidades. Sou o mais poderoso, o mais sábio e o mais virtuoso. Sou
tão poderoso que os Anjos me honram no Céu e, no inferno, os demônios não se
atrevem a olhar-me. Todos os elementos respondem às minhas ordens e chamadas.
Sou tão sábio que ninguém consegue alcançar meu conhecimento. Minha sabedoria é
tal que sei tudo o que tem sido e o que ainda será. Sou tão racional que nem
sequer a mínima coisa, nem um verme nem nenhum outro animal, por informe que
pareça, foi feito sem um motivo. Também sou tão virtuoso que todo o bem emana
de mim como de um manancial abundante e toda a doçura vem de mim como de uma
boa vinha. Sem mim, ninguém pode ser poderoso, ninguém pode ser sábio, ninguém
pode ser virtuoso. Por isso, os homens poderosos do mundo pecam contra mim em
excesso. Dei-lhes força e poder para que possam honrar-me, mas atribuem a si
mesmos a honra como se a tivessem obtido por si mesmos. Os desgraçados não
consideram sua imbecilidade. Se lhes enviasse a menor enfermidade, seriam
imediatamente derrubados e tudo para eles perderia seu valor. Como, pois, serão
capazes de suportar meu poder e os castigos da eternidade? Mas aqueles que
agora se dizem sábios, pecam ainda mais contra mim. Dei-lhes sentido,
entendimento e sabedoria para que me amassem, mas a única coisa que entendem é
seu próprio proveito temporal. Tem olhos em sua face, mas somente olham para
seus próprios prazeres. Estão cegos, até para dar graças a mim que lhes tenho
dado tudo, pois ninguém, nem bom nem mau, pode perceber ou compreender nada sem
mim, mesmo quando permito aos malvados inclinar sua vontade para fazer o que
desejam. Tampouco, ninguém pode ser virtuoso sem mim. Agora, poderia usar um
provérbio comum: “Todos desprezam o homem paciente”. Devido a minha paciência,
todos creem que sou um pobre tolo e é por isso que me olham com desprezo. Mas
pobres deles quando, depois de tanta paciência, lhes for dada sua sentença!
Diante de mim serão como lama que desliza para as profundidades e não param até
chegar à parte mais baixa do inferno.
Diálogo
de agradecimento entre a Virgem Mãe e o Filho e, entre eles, com a esposa e
sobre como a esposa deverá se preparar para o casamento.
A Mãe apareceu
dizendo ao Filho: És o Rei da Glória, Filho meu, és o Senhor de
todos os senhores, criaste o Céu e a Terra e tudo o que existe neles. Sejam
cumpridos todos os teus desejos, faça-se toda tua vontade!
O Filho
respondeu: Há um antigo provérbio que diz: “O que se aprende na juventude
se preserva até a velhice”. Mãe, desde tua juventude aprendeste a seguir minha
vontade e a submeter todos os seus desejos a mim. Disseste corretamente:
‘Faça-se tua vontade! És como ouro precioso que se estende e esmaga sobre a
dura bigorna, porque foste golpeada por todo tipo de tribulação e sofreste em
minha Paixão mais que todos os demais. Quando, pela intensidade de minha dor na
cruz meu coração se partiu, isto feriu teu coração como afiadíssimo espinho.
Terias desejado ser cortada em duas se fosse essa minha vontade. Mesmo se
tivesses tido a capacidade de opor-se a minha paixão e suplicado que me fosse
permitido viver, não terias querido obter isto, de nenhuma maneira, se não
fosse de acordo com minha vontade. Por essa razão, fizeste bem ao dizer:
‘Faça-se tua vontade!” Então,
Maria disse à esposa: “Esposa de meu Filho, ame-o porque Ele te ama.
Honra seus Santos que estão em sua presença, são como estrelas incontáveis,
cuja luz e esplendor não se pode comparar com nenhuma luz temporal. Assim como
a luz do mundo é diferente da escuridão, igualmente – mas muito mais – ocorre
com a luz dos santos, que difere da luz deste mundo. Eu te digo, certamente,
que se os Santos fossem vistos claramente como são, nenhum olho humano poderia
suportar sem ver-se privado de sua vista corporal”. Então, o Filho da Virgem falou com
sua esposa dizendo: “Esposa minha, deves ter quatro qualidades.
Primeiro, tens que estar preparada para a boda de minha divindade, onde não há
desejo carnal senão somente o mais suave prazer espiritual, do tipo que é
próprio que Deus tenha com uma alma casta. Desta forma, nem o amor por teus
filhos, nem os bens temporais, nem o afeto de teus parentes te deve separar do
meu amor. Não permitas que te aconteça como foi com aquelas virgens tolas que
não estavam preparadas quando o Senhor quis convidá-las para a boda e ficaram
de fora. Segundo, deves ter fé em minhas palavras. Como sou a Verdade, nada,
senão a verdade sai de meus lábios e ninguém pode encontrar em minhas palavras
outra coisa que a verdade. Às vezes, o que digo tem um sentido espiritual e
outras vezes se harmoniza com a letra da palavra em cujo caso minhas palavras
têm que ser entendidas segundo seu sentido literal. Portanto, ninguém pode acusar-me
de mentir. Em terceiro lugar, hás ser obediente para que não haja nenhum só
membro de teu corpo pelo qual faças o mal e para que não se submeta a
correspondente penitência e reparação. Porém, sou misericordioso, mas não deixo
de lado a justiça. Por isso, obedece humildemente e com prazer àqueles aos
quais estás sujeita a obedecer, de forma que não faças nada que te pareceria
útil e razoável, se isto for contra a obediência. É melhor renunciar a tua
própria vontade pela obediência, mesmo se seu objetivo for bom, e ajustar-se à
obediência de teu diretor sempre e quando não for contra a salvação de tua alma
nem seja irracional. Em quarto lugar, deves ser humilde porque estás unida em
um matrimônio espiritual. Por isso, deves ser humilde e modesta quando chegar
teu marido. Que teu criado seja moderado e contido, ou seja, que teu corpo
pratique a abstinência e seja bem disciplinado, porque vais portar a semente de
um fruto espiritual para o bem de muitos. Da mesma forma que, ao inserir um
broto em um talo seco e o talo começar a florescer, tu deve portar frutos e
florescer por minha graça. E minha graça te embriagará e toda a Corte Celestial
se regozijará pelo doce vinho que te hei de dar. Não desconfies de minha
bondade. Eu te asseguro que, assim como Zacarias e Isabel se regozijaram em
seus corações com um gozo indescritível pela promessa de um futuro filho, tu
também te regozijarás pela graça que te quero dar e, por sua vez, outros se
alegrarão através de ti. Foi um Anjo que falou com os dois, Zacarias e Isabel,
mas sou Eu, Deus Criador dos Anjos e de ti, quem te fala agora. Pelo meu bem,
eles deram a vida ao meu mais querido amigo, João. Através de ti, quero que me
nasçam muitos filhos, não de carne, mas do espírito. Em verdade, João foi uma
cana cheia de doçura e mel, pois nada impuro jamais entrou em sua boca nem
jamais transpassou os limites da necessidade para obter o que necessitava para
viver. Nunca saiu sêmen de seu corpo, por esta razão, podemos chamá-lo de anjo
e virgem.
Palavras
do Esposo à sua esposa recorrendo a uma alegoria sobre um feiticeiro para
ilustrar e explicar o que é o demônio.
O
Esposo, Jesus, falou a sua esposa em alegorias, empregando o exemplo de um
sapo. Disse: Certo feiticeiro tinha um ouro finíssimo e reluzente. Um
homem simples e de modestas maneiras veio a ele e quis comprar seu ouro. O
feiticeiro lhe disse: ‘Não conseguirás este ouro a não ser que me dês um ouro
melhor e em maior quantidade’. O homem disse: ‘Desejo tanto teu ouro que te
darei o que queres antes que eu fique sem ele’. Depois de dar ao feiticeiro um
ouro melhor e em maior quantidade, levou o ouro reluzente que este tinha e o
guardou em uma maleta, planejando fazer um anel. Passado algum tempo, o
feiticeiro foi ver o homem e lhe disse: ‘O ouro que compraste e guardaste em
tua maleta não é ouro como crês, e sim um sapo feio que se alimentou em meus
peitos e comeu do meu alimento. E para comprovar a verdade da questão, abre a
maleta e verás como o sapo saltará ao meu peito onde se alimentava. Quando o
homem tomou a maleta para averiguar, pôde sentir o sapo dentro dela forçando as
quatro travas já a ponto de rompê-las. Ao abrir a fechadura da maleta, o sapo
viu o feiticeiro e saltou em seu peito. Os criados e amigos do homem viram isso
e lhe disseram: ‘Mestre, seu ouro está dentro do sapo e, se o deseja,
facilmente pode conseguir o ouro. ‘Como’? – perguntou – ‘Como poderei’? Eles
disseram: ‘Se alguém usar um bisturi afiado e aquecido e o inserir no lombo do
sapo, o ouro sairá dessa parte do lombo em que há um buraco. Se não puder
encontrar o buraco, então, terá que fazer todo o possível para inserir o
bisturi firmemente nessa parte e, é assim que conseguirás recuperar o que
compraste’. Quem é o feiticeiro senão o demônio persuadindo as pessoas e lhes
trazendo prazeres e glórias fugazes? Ele assegura que o que é falso é verdade e
faz com que o verdadeiro pareça falso. Ele possui esse ouro precioso, ou seja,
a alma que, mediante meu divino poder, fiz mais preciosa que todas as estrelas
e planetas. Eu a fiz imortal e estável e mais deliciosa para mim do que todo o
resto da criação. Preparei para ela um eterno lugar de descanso e morada junto
a mim. Arrebatei-a do poder do demônio com um ouro melhor e mais caro ao
dar-lhe minha própria carne imune a todo pecado, resistindo a uma Paixão tão
amarga que nenhum membro de meu corpo ficou ileso. Pus a alma redimida em uma
maleta até o momento em que lhe daria um lugar na corte de minha divina
presença. Agora, entretanto, a alma humana redimida se transformou em um sapo
torpe e feio brincando em sua soberba e vivendo no lodo de sua luxúria. O ouro,
ou seja, minha propriedade por direito, me foi arrebatado. Por isso, o demônio
ainda pode me dizer: ‘O ouro que compraste não é ouro e sim um sapo alimentado nos
peitos dos meus prazeres. Separa o corpo da alma e verás como este voará direto
ao peito de meu deleite onde se alimentou’. Minha resposta a ele é esta: ‘Visto
que o sapo é horrível para ser olhado, horrível para ser ouvido, venenoso para
ser tocado e em nada me agrada, mas a ti sim, em cujos peitos se alimentou,
então podes ficar com ele, pois tens direito a ele. Assim, quando se abre a
fechadura, ou seja, quando a alma se separa do corpo, essa voará diretamente a
ti para ficar contigo eternamente’. Tal é a alma da pessoa que te estou
descrevendo. É como um sapo maligno, cheio de imundície e luxúria alimentado
nos peitos do demônio. Agora, falarei da maleta, ou seja, do corpo dessa alma,
da morte que lhe sobrevém. A maleta é fechada por quatro travas que estão a
ponto de romper-se, no sentido de que seu corpo se mantém por quatro coisas que
são: força, beleza, sabedoria e visão, as quais, agora, estão começando a
falhar. Quando a alma se separa do corpo, voará direta ao demônio de cujo leite
se alimentou, ou seja, sua luxuria, porque se esqueceu de meu amor pelo qual
tomei sobre mim os sofrimentos e penas que ela mereceu. Ela não retribui meu
amor com amor, mas, em seu lugar, arrebata a propriedade que me corresponde.
Deve mais a mim do que a qualquer outra pessoa, mas encontra maior prazer no
demônio. O som de sua oração é, para mim, como a voz de um sapo, seu aspecto me
resulta detestável. Seus ouvidos não escutam meu gozo, seu corrompido sentido
de tato nunca sentirá minha divindade. Todavia, como sou misericordioso, se
alguém quiser tocar sua alma, mesmo que seja impura, e examiná-la para ver se
há alguma contrição ou algum bem em sua vontade, se alguém quiser introduzir em
sua mente um bisturi afiado e aquecido, ou seja, o temor do meu severo juízo, ainda
poderia esta alma obter minha graça sempre e quando ela consentir. Se não
houvesse contrição nem caridade nela, ainda poderia haver alguma esperança no
caso de que alguém a perfurasse com uma aguda correção e a castigasse
fortemente, porque, enquanto a alma vive no corpo, minha misericórdia está
aberta a todos. Dá-te conta de que Eu morri por amor e ninguém me responde com
amor e sim se apoderam do que, por justiça, é meu. Seria justo que a pessoa
melhorasse sua vida em proporção ao esforço que custou redimi-la. Entretanto,
agora, as pessoas querem viver o pior, em proporção à dor que sofri
redimindo-as. Quanto mais lhes mostro a abominação de seu pecado, mais
ousadamente se lançam a pecar. Olha, pois, e considera que, não sem motivo,
fico irado, porque eles mudaram minha misericórdia em ira. Redimi todos do
pecado e eles se enredam cada vez mais no pecado. Por isso, esposa minha, dá-me
o que estás obrigada a dar-me, ou seja, mantém tua alma limpa para mim porque
eu morri por ela, para que tu pudesses manter-te pura para mim.
A amável
pergunta da Mãe à Esposa, a humilde resposta da esposa à Mãe, a útil réplica da
Mãe à Esposa e sobre o progresso das pessoas boas entre os malvados.
A Mãe
falou a à esposa de seu Filho dizendo-lhe: Tu és a
esposa de meu Filho. Diga-me, no que estás pensando e o que desejas?
A esposa
respondeu: Senhora minha, tu o sabes, porque sabes tudo.
A Virgem
Bendita acrescentou: Mesmo que eu saiba tudo, gostaria que me dissesses
na presença dessas pessoas que te escutam.
A esposa
disse: Senhora minha, temo duas coisas. Primeiro – disse – temo não lamentar-me
nem emendar-me por meus pecados tanto quanto desejaria. Segundo, estou triste
porque teu Filho tem muitos inimigos.
A Virgem
Maria respondeu: Dar-te-ei três remédios para a primeira
preocupação. Em primeiro lugar, pensa em como todos os seres que têm alma, como
as rãs ou qualquer outro animal, de vez em quando têm problemas, mesmo que suas
almas não sejam eternas, e que morrem com seus corpos. Entretanto, teu espírito
e toda a alma humana vive para sempre. Segundo, pense na misericórdia de Deus,
porque não há ninguém que, por mais pecados que tenha, não seja perdoado se tão
somente rezar com contrição e com a intenção de melhorar. Terceiro, pensa
quanta glória consegue a alma quando vive com Deus e em Deus eternamente. Vou
dar-te também três remédios para sua segunda preocupação, sobre os muitos
inimigos de Deus. Primeiro, considera que teu Deus e Criador, e o deles, é Juiz
sobre eles, e que eles nunca mais irão criticá-lo novamente, mesmo porque
tolerou pacientemente sua maldade durante um tempo. Segundo, recorda que eles
são os filhos da infâmia, e pensa no duro e insuportável que será para eles
arder eternamente. São servos tão péssimos que ficarão sem herança, enquanto os
bons filhos a receberão. Mas talvez te perguntes: ‘Ninguém, então, há de pregar
para eles?’ Claro que sim! Recorda que muito frequentemente as boas pessoas se
misturam com os perversos e que os filhos adotivos, às vezes, se afastam dos
bons como o filho pródigo que procurou uma terra distante e levou uma vida de
perdição. Mas, às vezes, a pregação reverte sua consciência e eles voltam ao
Pai e eu os aceito como antes de pecar. É assim que se deve pregar
especialmente para eles porque, ainda que um pregador possa encontrar somente
gente perversa ao seu redor, deve pensar em seu interior: ‘Talvez haja alguns
entre eles que se tornarão filhos de meu Senhor. Por isso, pregarei para eles.
Esse pregador será muito premiado’. Em terceiro lugar, considera que aos
malvados se lhes permite continuar vivendo como prova para os maus para que
eles, exasperados pelos hábitos dos perversos, possam conseguir sua remuneração
como fruto de sua paciência. Isto poderás entender melhor por meio de um
exemplo. Uma rosa desprende um agradável aroma, é bela de se ver e suave para o
tato, mas cresce entre espinhos que espetam se os tocar, são feios de se ver e
não desprendem nenhum bom odor. Igualmente, as pessoas boas e retas, mesmo que
possam ser agradáveis por sua paciência, belas por seu caráter e suaves por seu
bom exemplo, no entanto não podem progredir, nem ser postas à prova a menos que
estejam entre os malvados. O espinho é, às vezes, a proteção da rosa, de forma
que ninguém a arranque em plena floração. Assim também, os malvados oferecem
aos bons a ocasião de não segui-los no pecado quando, devido à maldade dos
outros, os justos se controlam ante a ruína a que os poderia levar uma imoderada
alegria ou qualquer outro pecado. O vinho não mantém sua qualidade exceto entre
excrementos e tampouco as pessoas boas e justas podem manter-se firmes e
avançar para a virtude sem ser postas à prova mediante tribulações e sendo
perseguidas pelos injustos. Por isso, suporta com alegria os inimigos de meu
Filho. Recorda que Ele é o Juiz e, se a justiça exigir que Ele os destrua por
completo, acabaria com eles em um instante. Tolera-os, pois, tanto como Ele os
tolera!
Palavras
de Cristo à sua esposa descrevendo um homem que não é sincero, mas sim inimigo
de Deus e especialmente sobre sua hipocrisia e suas características.
As pessoas o veem como um homem bem
vestido, forte e digno, ativo na batalha do Senhor. Entretanto, quando tira a
casca, é repugnante de se olhar e inútil para qualquer trabalho. Seu cérebro
aparece nu, tem as orelhas na frente e os olhos na parte traseira de sua
cabeça. Seu nariz está cortado. Suas bochechas estão fundas como as de um homem
morto. Em seu lado direito, sua “maçã do rosto” e a metade de seus lábios
caíram por completo, ou seja, não há nada na direita exceto sua garganta
descoberta. Seu peito está infestado de vermes; seus braços são como um par de
serpentes. Um maligno escorpião senta-se em seu coração; suas costas parecem
carvão queimado. Seus intestinos fedem podre como carne cheia de pus, seus pés
estão mortos e são inúteis para caminhar. Agora te direi o que tudo isso
significa. Por fora, é um tipo de homem que parece ornado de bons hábitos e de sabedoria,
ativo no meu serviço, mas não é assim realmente. Porque se tiramos a casca de
sua cabeça, ou seja, se a gente o visse como é, seria o homem mais feio de
todos. Seu cérebro está tão nu, que a vaidade e a frivolidade de suas maneiras
são sinais suficientemente evidentes para os homens bons, de que é indigno de
tanta honra. Se conhecesse minha sabedoria, perceberia que quanto mais se eleva
em sua honra sobre os demais, ele deveria, muito mais que os outros, cobrir-se
de austeras maneiras. Suas orelhas estão em sua frente porque, em lugar da
humildade, que deveria ter por sua alta categoria e que deveria deixar brilhar
para outros, ele somente quer receber bajulação e glória. Em seu lugar, ele põe
orgulho e é por isso que quer que todos o chamem de grande e bom. Tem olhos na
nuca porque todo seu pensamento está no presente e não na eternidade. Ele pensa
em como agradar os homens e sobre o que se requer para as necessidades do
corpo, mas não em como agradar-me nem no que é bom para as almas. Seu nariz está
cortado, tanto que perdeu a discrição mediante a qual poderia distinguir entre
pecado e virtude, entre a glória temporal e eterna, entre as riquezas mundanas
e eternas, entre os prazeres breves e os eternos. Suas bochechas estão
afundadas, ou seja, todo seu sentido de vergonha em minha presença, junto com a
beleza das virtudes pelas quais poderia agradar-me, estão mortos por completo
ao menos no que me diz respeito. Tem medo de pecar por medo da vergonha humana,
mas não por medo de mim. Parte de sua “maçã do rosto” e lábios sumiram, ficando
sem nada a não ser a garganta, porque a imitação de meus trabalhos e a pregação
de minhas palavras, junto com a oração sentida desde o coração, desapareceram
nele, por isso nada ficou, salvo sua garganta glutona. Mas ele encontra, na
imitação do depravado e no envolver-se em assuntos mundanos, algo, a uma só
vez, saudável e atrativo. Seu peito está cheio de vermes porque nele, onde
deveria estar a recordação de minha Paixão e a memória de minhas obras e
mandamentos, somente há preocupação pelos assuntos temporais e desejos
mundanos. Os vermes corroeram sua consciência de forma que já não pensa em
coisas espirituais. Em seu coração, onde eu gostaria de morar e onde deveria
residir meu amor, reside um maligno escorpião de cauda venenosa e feição
insinuante. Por isso que de sua boca saem palavras sedutoras e aparentemente
sensíveis, mas seu coração está cheio de injustiça e falsidade, porque não lhe
importa se a Igreja que representa se destrói enquanto ele pode seguir adiante
com sua vontade egoísta. Seus braços são como serpentes porque, em sua
perversidade, alcançam os simples e os atraem para si com simplicidade, mas
quando se acomodam a seus propósitos, os dispensa como a pobres desgraçados.
Como uma serpente, se enrosca sobre si escondendo sua malícia e iniquidade, de
tal forma que dificilmente se pode detectar seu artifício. A meus olhos, ele é
como uma vil serpente, porque como a serpente é mais odiosa que qualquer outro
animal, ele é também para mim o mais infame de todos na medida em que reduz a
nada minha justiça e me considera como alguém relutante em infligir castigos. Suas
costas são como o carvão negro, ainda que devesse ser como o marfim, pois suas
obras deveriam ser mais corajosas e puras que as dos outros, para apoiar os
fracos com sua paciência e exemplo de vida reta. Entretanto, é como carvão
porque, ele também é fraco para pronunciar uma só palavra que me glorifique, a
menos que o beneficie. Ainda assim, se crê valente com respeito ao mundo. Em
consequência, ainda que ele creia que se mantém reto, cairá na mesma medida de
sua deformidade como o carvão privado de vida, diante de mim e dos meus santos.
Seus intestinos estão fétidos porque, diante de mim, seus pensamentos e afetos
fedem à carne podre, cujo fedor ninguém pode suportar. Nenhum dos santos o pode
suportar. Ao contrário, todos afastam seu rosto dele e exigem que se lhe
apliquem uma sentença. Seus pés estão mortos porque seus dois pés são suas duas
disposições em relação a mim, ou seja, o desejo de emenda por seus pecados e o
desejo de fazer o bem. Entretanto, esses pés estão mortos nele porque a
essência do amor se consumiu nele e não lhe fica nada mais do que os ossos
endurecidos. É nesta condição que está diante de mim. Entretanto, enquanto sua
alma permanecer em seu corpo poderá obter minha misericórdia.
Explicação:
São Lourenço apareceu dizendo: Quando estive no mundo, tinha três coisas:
continência comigo mesmo, misericórdia com meu próximo e caridade com Deus. Por
isso, preguei a palavra de Deus zelosamente, distribuí os bens da Igreja com
prudência, e suportei açoites, fogo e morte com alegria. Mas este Bispo resiste
e camufla a incontinência do clero, gasta livremente os bens da Igreja com os
ricos e mostra caridade para consigo e para o que é seu. Portanto, declaro para
ele que uma nuvem luminosa subiu ao Céu, sombreada por chamas escuras, de tal
forma que muitos não a podem ver. Esta nuvem é a intercessão da Mãe de Deus
para a Igreja. As chamas da avareza e da falta de piedade e de justiça a
escurecem de tal maneira que a amável misericórdia da Mãe de Deus não pode
entrar nos corações dos oprimidos. Por isso, que o arcebispo volte rapidamente
à caridade divina corrigindo-se, aconselhando seus subordinados por palavras e
por obra, e animando-os a melhorar. Se não o fizer, sentirá a mão do Juiz, e
sua Igreja diocesana será purgada a fogo e espada e afligida pela rapina e a
tribulação, e passará muito tempo sem que ninguém a possa consolar.
Palavras
de Deus Pai à Corte Celeste, e a resposta do Filho, e, a Mãe ao Pai,
solicitando graças para sua Filha, a Igreja.
Falou o
Pai enquanto atendia toda a Corte Celeste e disse: Ante vós
exponho minha queixa porque desposei minha Filha com um homem que a atormenta
terrivelmente, atou seus pés a uma estaca de madeira e toda a sua essência se
esvai.
O Filho lhe respondeu: Pai, eu a redimi com meu sangue e
a aceitei por Esposa, mas agora ela me foi arrebatada à força.
Então, a
Mãe falou: És meu
Deus e Senhor. Meu corpo carregou os membros de teu bendito Filho, que é
verdadeiro Filho teu e é verdadeiro Filho meu. Não lhe neguei nada na terra.
Por minhas súplicas, tenha misericórdia de tua Filha!
Depois
disso, falaram os Anjos dizendo: Tu és nosso Senhor. Em ti
possuímos todo o bem e não necessitamos nada mais que tu. Quando tua esposa
saiu de ti, todos nos alegramos, mas agora temos razões para estarmos tristes,
porque foi jogada nas mãos do pior dos homens, que a ofende com todo o tipo de
insultos e abusos. Por isso, tende piedade dela por tua grande misericórdia,
pois se encontra em uma extrema miséria, e não há ninguém que possa consolá-la
nem libertá-la exceto tu, Senhor, Deus todo poderoso.
Então, o
Pai respondeu ao Filho dizendo: Filho, tua angústia é a minha,
tua palavra é a minha e tuas obras são as minhas. Tu estás em mim e eu estou em
ti, inseparavelmente. Faça-se tua vontade!” Depois, disse à Mãe do Filho: “Por não haver-me negado
nada na terra, também não te negarei nada no Céu. Teu desejo deve ser
satisfeito.
Aos
anjos disse: Sois meus amigos e a chama de vosso amor arde em meu coração.
Por vossas orações, terei misericórdia de minha filha.
Palavras
do Criador à esposa sobre como sua justiça mantém os malvados na existência por
uma tríplice razão.
Eu sou o Criador do Céu e da Terra.
Perguntavas-te, esposa minha, porque sou tão paciente com os malvados. Isso se
deve ao fato de que sou misericordioso. Minha justiça os aguenta e minha
misericórdia os mantêm por uma tríplice razão.
Em primeiro lugar, minha justiça os
aguenta de forma que seu tempo se complete até o final. Poderias perguntar a um
rei justo porque tem alguns prisioneiros aos quais não condena à morte e sua
resposta seria: ‘Porque ainda não chegou o tempo da assembleia geral da corte
na qual possam ser ouvidos e onde, aqueles que os ouvem, podem tomar maior
consciência’. De forma parecida, eu tolero os malvados até que chegue seu
tempo, de maneira que sua maldade possa ser conhecida por outros também. Já não
previ a condenação de Saul muito antes que se desse a conhecer aos homens? O
tolerei durante longo tempo para que sua maldade pudesse ser mostrada a outros.
A segunda razão é que os malvados
fazem alguns bons trabalhos pelos quais hão de ser compensados até o último
centavo. Desta forma, nem o mínimo bem que tenham feito por mim ficará sem
recompensa e, consequentemente, receberão seu salário na terra.
Em terceiro lugar, os aguento para que se
manifeste assim a glória e a paciência de Deus. É por isso que tolerei Pilatos,
Herodes e Judas, apesar de que iam ser condenados. E se alguém perguntar por
que tolero a tal ou qual pessoa que se lembrem de Judas e Pilatos. Minha
misericórdia mantém os malvados também por uma tríplice razão.
Primeiro, porque meu amor é enorme
e o castigo é eterno e muito grande. Por isso, devido ao meu grande amor, os
tolero até o último momento para retardar seu castigo o mais possível na
extensa prolongação do tempo.
Em segundo lugar, é para permitir
que sua natureza seja consumida pelos vícios, pois experimentariam uma morte
temporal mais amarga se tivessem uma constituição jovem. A juventude padece uma
maior e mais amarga agonia na hora da morte.
Em terceiro lugar, pela melhora das
boas pessoas e a conversão de alguns dos maus. Quando as pessoas boas e retas
são atormentadas pelos perversos, isso beneficia os bons e justos, pois lhes permite
resistir ao pecado ou conseguir um maior mérito. Igualmente, os maus, às vezes,
tem um efeito positivo nas outras pessoas perversas. Quando esses últimos
refletem sobre a queda e maldade dos primeiros, dizem a si mesmos: ‘De que nos
serve seguir seus passos?’ E: ‘Se o Senhor é tão paciente, será melhor que nos
arrependamos’. Desta forma, às vezes voltam a mim porque temem fazer o que
fazem os outros e, além disso, sua consciência lhes diz que não devem fazer
esse tipo de coisas. Dizem que, se uma pessoa foi picada por um escorpião,
pode-se curá-la quando se a unte com azeite no qual haja outro escorpião morto.
De forma parecida, às vezes uma pessoa malvada que vê a outra cair pode ver-se
atingida pelo remorso e curada, ao refletir sobre a maldade e vaidade do outro.
Palavras
de louvor a Deus pela Corte Celeste; sobre como teriam nascido as crianças se
nossos primeiros pais não tivessem pecado; sobre como Deus mostrou seus
milagres através de Moisés e, depois, por si mesmo a nós com sua própria vinda;
sobre a perversão do matrimônio corporal nestes tempos e sobre as condições do
matrimônio espiritual.
A Corte
Celeste foi vista diante de Deus, e toda a Corte disse: Louvado
e honrado sejas, Senhor Deus, que és e foste sem fim! Somos teus servidores e
te louvamos e honramos por uma tríplice razão. Primeiro, porque nos criaste
para nos regozijarmos contigo e nos deste uma luz indescritível na qual nos
regozijemos eternamente. Segundo, porque todas as coisas são criadas e mantidas
por tua bondade e constância, e todas as coisas permanecem de acordo com tua
vontade e se submetem à tua palavra. Terceiro, porque criaste a humanidade e
assumiste a natureza humana para o bem dela; esse assumir a natureza humana é a
razão da nossa grande alegria, e também por vossa castíssima Mãe que foi digna
de vos dar à luz e a quem os Céus não podem conter nem limitar". Então,
vossa honra e benção estão acima de todas as coisas por causa da dignidade dos
anjos que exaltaste grandemente em honra. Que vossa inesgotável eternidade e
constância estejam sobre todas as coisas que são e podem ser constantes! Possa
vosso amor estar sobre toda a humanidade que criastes! Oh Senhor Deus, somente
Vós sejais temido por vosso grande poder, só Vós sejais desejado por vosso
grande amor, só Vós sejais amado por vossa constância! Toda honra e gloria
sejam dadas a Vós para sempre. Amém!
Então
nosso Senhor respondeu: Vocês me honram merecidamente por toda criação.
Mas, digam-me, por que me louvam pela raça humana que me provocou até à ira,
mais do que qualquer outra criatura? Eu a fiz superior e mais dignificada do
que todas as criaturas abaixo do Céu, e por nenhuma outra sofri tanta
indignidade como pelos humanos e nenhuma foi redimida por tão alto custo. Que
criatura não se guia por sua ordem natural, a não ser o homem? Ele me aflige
com mais desgosto que qualquer outra criatura. Da mesma forma que eu os criei,
para que me louvassem e glorificassem, fiz o homem para que me honrasse. Dei a
ele um corpo como templo espiritual e eu fiz e coloquei nele a alma como um
belo Anjo, para que a alma humana tenha poder e força como um anjo. Neste
templo, Eu, Deus e Criador da raça humana, desejei ser como o terceiro
(companheiro) para que ele se alegrasse e se deleitasse em mim. Então Eu lhe
fiz, de sua costela, um outro templo semelhante a ele.
Agora, esposa minha, para quem
todas as coisas foram ditas e mostradas, tu podes perguntar como nasceriam
filhos deles se não tivessem pecado? Eu respondo-te: ‘Em verdade, pelo amor de
Deus e mutua devoção e união da carne dentro da qual ambos seriam internamente
inflamados, o sangue do amor teria semeado sua semente no corpo da mulher sem
nenhuma luxúria vergonhosa, e assim a mulher ficaria grávida. Uma vez concebida
a criança sem pecado e desejo luxurioso, Eu mandaria, de minha divindade, uma
alma à criança, e a mulher geraria assim a criança e a daria à luz sem dor.
Quando a criança nascesse, ela teria sido perfeita como Adão quando ele foi
criado. Mas essa honra foi desprezada pelo homem quando ele obedeceu ao demônio
e cobiçou uma maior glória do que eu havia dado a ele. Depois que a
desobediência foi realizada, meu Anjo veio a eles e eles se envergonharam de
sua nudez, e imediatamente experimentaram a concupiscência e desejo da carne,
sofreram fome e sede. Então, também me perderam, porque quando eles me tinham,
não sentiam nenhuma fome, ou desejo carnal pecaminoso ou vergonha, mas somente
Eu era todo seu bem e prazer e perfeito deleite. Mas quando o demônio se alegrou
por sua perdição e queda, me movi de compaixão por eles e não os abandonei mas
lhes mostrei uma tríplice misericórdia. Assim os vesti quando ficaram nus e
lhes dei pão a partir da terra. E por causa da luxuria que o demônio excitou
neles após a desobediência, Eu dei e criei almas por suas sementes através da
minha divindade. E todo o mal com que o demônio os tentou, transformei
inteiramente em bem para eles. Desde então, Eu lhes mostrei como viver e me
honrar. E Eu lhes dei permissão para terem relações, porque antes da minha
permissão e a manifestação da minha vontade eles ficaram chocados de medo e
temerosos de unir-se e ter relações. Eu fui também movido de compaixão e os
confortei quando Abel foi morto e estiveram de luto por um longo tempo mantendo
abstinência. E quando eles entenderam minha vontade, começaram de novo a ter
relações e a ter filhos, de cuja família Eu, seu Criador, prometi que
nascessem. Quando a maldade dos filhos de Adão cresceu, Eu mostrei minha
justiça ao pecador e a misericórdia a meu eleito; desses Eu me agradei tanto
que os preservei da destruição e os criei, porque eles mantiveram meus
mandamentos e acreditaram nas minhas promessas. Quando chegou o tempo da
misericórdia, Eu mostrei meus poderosos milagres e obras através de Moisés e
salvei meu povo, de acordo com minha promessa. Alimentei-os com o maná e
caminhei à frente deles em uma coluna de nuvem e fogo. Eu lhes dei minha Lei e
lhes revelei meus segredos e o futuro através de meus profetas. Desde então,
Eu, o Criador de todas as coisas, escolhi para mim uma virgem nascida de um pai
e uma mãe, e dela, assumi a natureza humana e aceitei nascer dela sem pecado.
Do mesmo modo que a primeira criança teria nascido no paraíso através do divino
amor e no amor mútuo de seu pai e de sua mãe, e com afeto, sem nenhuma luxúria
vergonhosa, minha divindade tomou a natureza humana de uma virgem, sem nenhuma
vergonhosa luxuria e sem dano a sua virgindade. Eu vim na carne como verdadeiro
Deus e homem, e cumpri a Lei e todas as escrituras, tal como antes havia sido
profetizado sobre mim, e Eu iniciei a Nova Lei, porque a Antiga Lei era
estreita e difícil de cumprir e não foi mais que uma figura das coisas futuras
que viriam. Na antiga Lei havia sido permitido a um homem ter várias mulheres,
de forma que o povo não fosse deixado sem descendência ou tivessem que se casar
com os gentios. Mas na minha Nova Lei, é permitido a um homem ter uma mulher, e
é proibido a ele, durante seu tempo de vida ter varias mulheres. Aqueles que se
unem com amor e temor divinos, para o bem da procriação e para criar filhos
para a honra de Deus, são meu templo espiritual onde eu desejo morar como o
terceiro com eles.
Mas as pessoas nestes tempos se
unem em matrimônio por sete razões. Primeiro, pela beleza facial; segundo, pela
riqueza; terceiro, pelo prazer grosseiro e gozo indecente que conseguem no
desejo sexual impuro; quarto, pelas festas com amigos e glutonaria
descontrolada; quinto, por causa da vaidade no vestir,e comer, na brincadeira,
entretenimento e jogos e em outras futilidades; sexto, pelo bem procriar filhos
mas não criá-los para a honra de Deus ou boas obras, mas para bens materiais e
honra; sétimo, se unem pela luxúria e eles são como bestas grosseiras em seus
desejos luxuriosos. Eles vêm às portas da minha Igreja em comum acordo e,
consentimento, mas seus desejos e pensamentos são completamente contra mim.
Eles preferem sua própria vontade, que visa agradar o mundo, ao invés da minha
vontade. Se todos os seus pensamentos e vontades fossem dirigidos a mim, e eles
colocassem sua vontade em minhas mãos e se casassem em meu temor, então eu lhes
daria o meu consentimento e seria como o terceiro com eles. Mas, agora meu
consentimento, que seria a coisa mais preciosa para eles, não lhes foi dado, porque
têm mais luxúria em seu coração do que amor por mim. Desde então, eles sobem ao
meu altar onde ouvem que devem ser um só coração e alma, mas meu coração se
aparta deles porque não possuem o calor de meu coração e não conhecem o sabor
de meu corpo. Eles buscam o calor e prazer sexual que perecem e amam a carne
que será comida pelos vermes. Assim, estas pessoas se unem em matrimônio sem o
laço e união de Deus Pai, sem o amor do Filho e sem o consolo do Espírito
Santo. Quando o casal vai para a cama, meu Espírito o abandona imediatamente e
o espírito de impureza se aproxima em seu lugar porque eles se unem somente
pelo prazer e não conversam entre si. Mas, minha misericórdia ainda estará com
eles desde que se convertam a mim. Devido ao meu grande amor, Eu coloco uma
alma vivente criada por meu poder na semente deles. Às vezes, permito que os
maus pais tenham bons filhos, mas é mais frequente que nasçam maus filhos de
maus pais, pois estes filhos imitam as más ações e injustiças de seus pais
tanto quanto podem e os imitariam ainda mais se minha paciência permitisse. Um
casal assim, nunca verá meu rosto, a menos que se arrependa, porque não há
pecado tão pesado ou grave que não possa ser limpo pela penitência e o
arrependimento. Por essa razão, desejo voltar ao matrimônio espiritual, o tipo
que é apropriado para Deus ter com uma alma casta e corpo puro. Existem sete
coisas boas nele em oposição aos males mencionados acima. Primeiro, não há
desejo pela beleza da forma ou beleza corporal ou olhares voluptuosos mas
somente olhares e amor de Deus. Segundo, não há desejo de possuir nada mais do
que é necessário para sobreviver, e somente as necessidades com nada em
excesso. Terceiro, eles evitam as conversas vãs e frívolas. Quarto, eles não se
preocupam com ver amigos ou parentes, porque Eu sou o seu amor e desejo.
Quinto, eles desejam manter a humildade interiormente em suas consciências e
exteriormente no modo como se vestem. Sexto, eles nunca têm nenhuma vontade de
conduzir-se pela luxúria. Sétimo, eles geram filhos e filhas para seu Deus, por
meio de seu bom comportamento e bom exemplo e mediante o uso de palavras
espirituais. Eles preservam sua fé incorrupta quando permanecem fora das portas
de minha igreja onde me dão seu consentimento e Eu lhes dou o meu. Eles sobem
ao meu altar onde desfrutam do gozo espiritual de meu corpo e sangue, em cujo
deleite eles desejam ser um só coração, um só corpo e uma só vontade comigo, e
Eu, verdadeiro Deus e homem, todo poderoso no Céu e na terra, serei como o
terceiro com eles e preencherei seus corações. Os esposos mundanos começam seu
matrimonio em desejos luxuriosos como bestas brutas, e mesmo pior que bestas
brutas! Mas esses esposos espirituais começam em amor e temor de Deus e não se
preocupam em agradar ninguém a não ser a mim. No casamento mundano o espírito
do mal enche e incita ao deleite carnal onde não há nada mais que podridão, mas
esses de casamento espiritual são cheios do meu Espírito e inflamados com o
fogo do meu amor que nunca lhes faltará. Eu sou um Deus em três pessoas, e um
em divindade com o Pai e o Santo Espírito. Assim como é impossível para o Pai
estar separado do Filho e o Espírito Santo estar separado de ambos, e assim
como é impossível o calor estar separado do fogo, também é impossível para
esses esposos espirituais estarem separados de mim; Eu sou sempre como o
terceiro com eles. Meu corpo foi ferido uma vez e morreu em tormentos, mas ele
nunca mais será ferido nem morrerá. Da mesma forma, aqueles que são
incorporadas em mim com uma verdadeira fé e vontade perfeita, nunca morrerão
longe de mim; pois onde quer que fiquem, ou sentem ou caminhem, estarei sempre
com eles como seu terceiro.
Palavras
da Mãe à esposa sobre três coisas em uma dança; sobre como esta dança simboliza
o mundo e sobre o sofrimento da Mãe na morte de Cristo.
A Mãe de
Deus falou à esposa: Filha
minha, quero que saibas que onde há dança há três coisas: alegria vazia, vozes
confusas e trabalhos sem sentido. Se alguém entra na dança angustiado e triste,
então seu amigo que se encontra em pleno desfrute da dança, mas que vê seu
amigo entrando triste e melancólico, deixa imediatamente sua diversão, abandona
a dança e se compadece de seu amigo angustiado". Esta dança é o mundo, que
sempre se encontra tomado por uma ansiedade vazia que lhes parece gozo, mas é
uma alegria vazia. Neste mundo há três coisas: alegria vazia, palavreado
frívolo e trabalho sem sentido, porque um homem há de deixar para trás tudo
aquilo em que trabalhou. Quem, na plenitude desta dança mundana, vai considerar
minhas fadigas e angústias e vai se compadecer comigo – que abandone todo gozo
mundano – e vá apartar-se do mundo! Quando meu Filho morreu, eu era uma mulher
com o coração transpassado por cinco espadas. A primeira foi sua vergonhosa e afrontosa
nudez. A segunda espada foi a acusação contra Ele, pois lhe acusaram de
traição, de falsidade e de deslealdade. Ele, quem eu sabia que era justo e
honesto e que nunca ofendeu nem quis ofender a ninguém. A terceira espada foi
sua coroa de espinhos que perfurou sua sagrada cabeça tão selvagemente que o
sangue escorreu até sua boca, sua barba e seus ouvidos. A quarta espada foi sua
voz mortiça na cruz, com a qual gritou ao Pai dizendo: ‘Pai, porque me
abandonaste?’ Era como se dissesse: ‘Pai, ninguém se apieda de mim, somente tu.
A quinta lança que cortou meu coração foi sua amaríssima morte. Seu
preciosíssimo sangue se derramava por tantas veias quantas espadas
transpassavam meu coração. As veias de suas mãos e pés perfurados e a dor de
seus nervos feridos chegavam sem misericórdia até seu coração e de seu coração
voltavam aos nervos. Seu coração era forte e vigoroso, por ser dotado de uma
boa constituição, isto fazia com que sua vida resistisse lutando contra a morte
e que sua amargura se prolongasse ainda mais no ápice da sua dor. À medida que
sua morte se aproximava e seu coração se rompia diante de tanta e insuportável
dor, de repente todo seu corpo se convulsionou e sua cabeça, que estava para
trás, pareceu erguer-se de uma alguma maneira. Abriu levemente seus olhos
semi-fechados e por vez abriu sua boca de forma que pude ver sua língua
ensanguentada. Seus dedos e braços, que tinham estado muito contraídos, se
esticaram. Nada mais houve depois disso e, assim, entregou seu Espírito e sua
cabeça caiu sobre seu peito. Suas mãos escorregaram um pouco do lugar das
feridas e seus pés tiveram que suportar a maior parte do peso. Então, minhas
mãos se ressecaram, meus olhos se turvaram em escuridão e meu rosto ficou
pálido como a morte. Meus ouvidos não ouviam nada, meus lábios não podiam
articular palavra alguma, meus pés não me sustentavam e meu corpo caiu ao solo.
Quando me levantei e vi meu Filho com um aspecto pior que um leproso, lhe
entreguei toda minha vontade, sabendo que tudo havia ocorrido segundo sua
vontade e que nada disso teria sucedido se Ele não tivesse permitido. Dei-lhe
graças por tudo e certo júbilo se misturou com minha tristeza porque vi que
Ele, que nunca havia pecado, por seu grandessíssimo amor, quis sofrer tudo
pelos pecadores. Que estes que estão no mundo contemplem o que passei quando
morreu meu Filho e que sempre o tenham em sua memória!
Palavras
do Senhor à esposa descrevendo como foi julgado um homem ante o tribunal de
Deus e sobre a terrível sentença ditada sobre ele por Deus e por todos os
Santos.
A esposa
viu que Deus estava enojado e que disse: Eu sou sem princípio e fim. Não
há mudança em mim nem de anos nem de dias. Todo o tempo do mundo é como uma só
hora ou momento para mim. Todos aqueles que me veem, contemplam e entendem tudo
o que existe em mim em um instante. Entretanto, esposa minha, ao estares em um
corpo material, não podes perceber nem conhecer como um espírito conhece. Por
isso, para teu bem, te explicarei o que sucedeu. Eu estava, por assim dizer,
sentado no tribunal para julgar, porque todo juízo me foi dado, e certa pessoa
veio a ser julgada ante o tribunal.
A voz do
Pai ressoou e lhe disse: Mais te valeria não ter nascido. Não era porque
Deus se tivesse arrependido de criá-lo, e sim como qualquer um que sentisse
preocupação por outra pessoa e se compadecesse dela.
A voz do
Filho interveio: Eu derramei meu sangue por ti e aceitei uma
duríssima penitência, mas tu te afastaste completamente e isso já não tem nada
a ver contigo.
A voz do
Espírito disse: Eu busquei por todos os rincões do seu coração
para ver se poderia encontrar algo de ternura e caridade, mas és tão frio como
o gelo e tão duro como uma pedra. Este homem não me diz respeito.
Estas três vozes não se ouviram
como se fossem três deuses, mas foram ditas audíveis para ti, esposa minha,
porque de outra forma não terias podido compreender este mistério.
As três
vozes, do Pai, Filho e Espírito Santo, se transformaram imediatamente em uma só
voz que retumbou e disse: De nenhuma maneira merece o reino dos Céus! A Mãe da misericórdia permaneceu em
silêncio e não moveu sua misericórdia, pois o defendido não era digno dela.
Todos os Santos clamaram a uma voz dizendo: É justiça divina para ele o ser
perpetuamente exilado de seu Reino e de seu gozo.
Todos no
purgatório disseram: Não temos uma penitência suficientemente dura para
castigar teus pecados. Terás que suportar maiores tormentos e, portanto, tens
que ser apartado de nós.
Então, o
mesmo defendido exclamou com uma voz horrenda: Ai, ai da semente que fecundou
no ventre de minha mãe e da qual eu me formei! Por segunda vez exclamou:
Maldita a hora em que minha alma se uniu a meu corpo e maldito aquele que me
deu um corpo e uma alma! Voltou a clamar uma terceira vez: Maldita a hora em
que sai do ventre de minha mãe!”
Então
chegaram três vozes horríveis do inferno que lhe diziam: “Vem conosco, alma maldita, como o
líquido que se derrama até a morte perpétua e vive sem fim!” Por segunda vez,
as vozes voltaram a chamá-lo: “Vem, alma maldita, vazia por sua maldade! Nenhum de nós
deixará de encher-te com seu próprio mal e dor!” Por terceira vez assim juntaram: “Vem, alma maldita, pesada como uma
pedra que se afunda e nunca alcança o fundo onde descansar! Descerás mais baixo
que nós e não pararás até que não tenha chegado ao mais profundo do abismo”.
Então, o
Senhor disse: Como um homem com várias esposas, que vê cair uma e se separa
dela, se volta para as outras que permanecem firmes e se alegra com elas, assim
Eu separei dele meu rosto e minha misericórdia, e me volto para os que me
servem e me obedecem e me alegro com eles. Portanto, agora que sabes de sua
queda e desgraça, serve-me com maior sinceridade do que ele, em proporção à
maior misericórdia que te dispenso! Aparta-te do mundo e de seus desejos! Por
acaso eu aceitei tão amarga Paixão pela glória do mundo; ou porque não podia
consumá-la em menos tempo e com mais facilidade? Claro que podia! Contudo, a
justiça exigia isso. Como a humanidade pecou em todos e cada um de seus
membros, tive que fazer cumprir a justiça em todos e cada um dos meus membros.
Por isso, Deus, em sua compaixão pela humanidade e em seu ardente amor para com
a Virgem, recebeu dela uma natureza humana através da qual pude suportar todo o
castigo ao qual estaria fadada a humanidade. Ao haver tomado Eu sobre mim teu
castigo, por amor, permanece firme na verdadeira humildade, como os meus
servos, assim, não terás nada de que envergonhar-te nem nada que temer mais que
a mim! Guarda tuas palavras de tal forma que, se essa fosse minha vontade, tu
não falarias. Não te entristeças pelas coisas temporais que tão somente são
passageiras. Eu posso fazer, a quem eu quiser, rico ou pobre. Assim, pois,
esposa minha, deposita toda tua esperança em mim!
Explicação: Esse homem era um cônego de nobre reputação e subdiácono
que, havendo obtido uma falsa dispensa, quis casar-se com uma rica donzela.
Contudo, foi surpreendido por uma morte repentina e não conseguiu seu objetivo.
Palavras
da Virgem à filha sobre duas senhoras, uma que se chamava “soberba” e a outra
“humildade”, simbolizando esta última a mais doce das Virgens e sobre como a
Virgem vem reunir-se com aqueles que a amam na hora de sua morte.
A Mãe de
Deus se dirigiu à esposa de seu Filho dizendo-lhe: Há duas
senhoras. Uma delas não tem um nome especial, mas não merece nome; a outra é a
humildade e se chama Maria. O demônio é o mestre da primeira senhora porque tem
domínio sobre ela. Um de seus cavaleiros disse a essa dama: ‘Senhora minha,
estou disposto a fazer o que puder por você, se puder copular contigo ao menos
uma vez. Sou poderoso, forte e tenho um coração valente, não temo nada e estou
até disposto a morrer por ti.
Ela lhe
respondeu: Servo meu, seu amor é grande. Mas, eu estou sentada em um
trono muito alto, e eu tenho somente este trono e há três portas entre nós. A
primeira porta é tão estreita que tudo que um homem está vestindo sobre seu
corpo enroscará e rasgará deixando um buraco. A segunda é tão afiada que corta
até as fibras nervosas. A terceira arde com um fogo tal que ninguém escapa de
seu ardor sem ficar derretido como o cobre. Ademais, estou sentada tão alto que
qualquer um que queira sentar-se comigo – ao ter eu somente um trono – cairia
nas grandes profundidades do caos debaixo de mim.
O
demônio lhe respondeu: Darei minha vida por ti, pois uma queda não
representa nada para mim. Esta senhora é a soberba e qualquer um que quiser
chegar a ela passará, por três portas. Pela primeira porta entram aqueles, que
dão tudo o que têm para receber honras humanas por sua soberba, e se não têm
nada, mudam toda sua vontade em viver com orgulho e colher elogios. Pela
segunda porta entra a pessoa que dedica todo seu trabalho e tudo o que faz,
todo seu tempo, todos seus pensamentos e toda sua força para satisfazer sua soberba.
E ainda assim, se tiver que deixar que firam seu corpo para conseguir honras e
riquezas, o faria com gosto. Pela terceira porta entra a pessoa que nunca se
cala e nem se aquieta e sim arde como o fogo com o pensamento de como conseguir
alguma honra mundana ou posição de soberba. Mas quando obtém o que deseja, não
pode permanecer muito tempo no mesmo estado e termina caindo miseravelmente.
Apesar de tudo isso, a soberba ainda permanece no mundo.
Disse
Maria:
Eu sou a mais humilde, estou sentada em um trono espaçoso, sobre mim não há
sol, nem lua, nem estrelas e nem sequer nuvens senão um brilho inconcebível e
uma calma maravilhosa da clara beleza da majestade de Deus. Abaixo de mim não
há nem terra nem pedra, somente um incomparável descanso na bondade de Deus.
Perto de mim não há nem barreiras nem paredes, senão a gloriosa corte dos Anjos
e das almas santas. Ainda que, esteja sentada em um trono sublime, ouço meus
amigos que vivem na Terra, entregando-me diariamente seus suspiros e suas lágrimas.
Vejo suas lutas e sua eficácia, que é maior do que aqueles que lutam por sua
senhora, a soberba. Por isso, os visitarei e os reunirei comigo em meu trono,
porque este é espaçoso e há lugar para todos. Entretanto, ainda não podem vir e
sentar-se comigo porque há ainda dois muros entre eles e eu, mediante os quais
os conduzirei confiadamente para que possam chegar até meu trono.
O primeiro muro é o mundo e é
estreito. Assim, meus servos no mundo receberão consolação de minha parte.
O segundo muro é a morte. Por isso, eu,
sua mais querida Senhora e Mãe, comparecerei para unir-me com eles na morte de
maneira que mesmo na morte possam sentir meu refrigério e consolo. Reuni-los-ei
comigo no trono do gozo celestial de maneira que, na alegria sem fim, possam
descansar eternamente nos braços do amor perpétuo e da glória eterna”.
Amorosas
palavras do Senhor à esposa sobre como se multiplica o número de falsos
cristãos até o ponto de estarem voltando a crucificar Cristo e sobre como Ele
ainda estaria disposto a aceitar a morte, uma vez mais, pela salvação dos
pecadores, se fosse possível.
Eu sou Deus. Criei todas as coisas
para o benefício da humanidade, para que tudo lhe servisse e instruísse. Mas,
os seres humanos abusam de tudo que fiz para seu beneficio, até sua própria
condenação. Deus não lhes importa e o amam menos do que às coisas criadas. Os
judeus prepararam três tipos de castigo para mim em minha Paixão: primeiro, a
madeira na qual depois de ter sido açoitado e coroado de espinhos, fui pregado;
segundo, o ferro com o qual cravaram minhas mãos e meus pés; terceiro, o fel
que me deram para beber. Além disso, me lançaram blasfêmias como se Eu fosse um
tolo devido à morte que livremente suportei e me chamaram de falso devido a
meus ensinamentos. O número de pessoas assim tem se multiplicado agora no
mundo; há muito poucos que me consolam. Penduram-me no madeiro por seu desejo
de pecar, açoitam-me com sua impaciência, pois ninguém suporta nem uma palavra
por mim e coroam-me com os espinhos de sua soberba que faz com que queiram
chegar mais alto do que Eu. Cravam minhas mãos e pés com o ferro de seus
corações endurecidos, visto que se gloriam em pecar e se endurecem tanto que
não me temem. Pelo fel, oferecem-me tribulações e, por haver sofrido minha
Paixão com alegria, me chamam de falso e vaidoso. Sou suficientemente poderoso
para arruiná-los e também o mundo inteiro se quisesse, por causa de seus
pecados. Todavia, se os arruinasse, os que ficassem me serviriam por medo e
isso não seria correto porque as pessoas devem servir-me por amor. Se viesse
pessoalmente e me misturasse com eles, de uma forma visível, seus olhos não
suportariam ver-me, nem seus ouvidos escutar-me. Como poderia um ser mortal ver
um outro imortal? Ainda assim, voltaria a morrer pela humanidade se fosse possível.
Então,
apareceu a bendita Virgem Maria e seu Filho lhe perguntou: Que desejas,
minha Mãe, minha eleita?
E ela
disse: Tenha
misericórdia de sua criação, meu Filho, por teu amor!
Ele
replicou: Serei misericordioso uma vez mais, por ti.
Então, o
Senhor falou à sua esposa, dizendo-lhe: Eu sou teu Deus, o Senhor dos
Anjos. Sou Senhor da vida e da morte. Eu mesmo desejo habitar em teu coração.
Eu te amo tanto! Os Céus, a Terra e tudo o que há nela não podem me conter, mas
ainda assim desejo habitar em teu coração que não é mais que um pedaço de
carne. O que hás de temer ou o que te há de faltar se tiveres dentro de ti Deus
todo poderoso em quem se encontra toda a bondade? Deve haver três coisas em um
coração para que me sirva de morada: uma cama em que possamos descansar; um
assento onde possamos nos sentar e uma lâmpada que nos dê luz. Haja, pois, em
teu coração uma cama para um sereno repouso onde possas descansar dos baixos
pensamentos e desejos do mundo! Lembra-te sempre do gozo eterno! O assento há
de ser tua intenção de permanecer comigo, ainda que, às vezes, tenha que sair.
Iria contra a natureza se permanecesse continuamente em pé. A pessoa que está
sempre de pé é a que sempre deseja estar no mundo e nunca vem sentar-se comigo.
A luz da lâmpada há de ser a fé, mediante a qual crês que Eu posso fazer
qualquer coisa, que sou todo poderoso sobre todas as coisas.
Sobre como a esposa viu a dulcíssima
Virgem Maria adornada com uma coroa e outros adornos de extraordinária beleza e
sobre como São João Batista explicou à esposa o significado da coroa e das
demais coisas.
A esposa
viu a Rainha dos Céus, a Mãe de Deus, usando uma preciosa e radiante coroa
sobre sua cabeça, com seu cabelo extraordinariamente belo e solto sobre seus
ombros, uma túnica dourada com lampejos de um brilho indescritível e um manto
azul de um Céu claro e calmo. Estando a esposa tomada de amor ante esta
maravilhosa visão e mantendo-se em seu encantamento como sobressaltada de gozo
interior, apareceu-lhe o bendito São João Batista e lhe disse: Preste
muita atenção ao que tudo isso significa. A coroa representa que ela é a Rainha,
Senhora e Mãe do Reino dos Anjos. Seu cabelo solto indica que é uma virgem pura
e imaculada. O manto da cor do céu quer dizer que ela está morta a tudo o que é
temporal. A túnica dourada significa que ela esteve ardente e inflamada no amor
de Deus, tanto internamente como em seu exterior.
Seu Filho colocou sete lírios em
sua coroa e, entre eles, sete pedras preciosas. O primeiro lírio é sua
humildade; o segundo, o temor; o terceiro, a obediência; o quarto, a paciência;
o quinto, a firmeza; o sexto, a mansidão, pois ela amavelmente dá a todos o que
lhe pedem; o sétimo é sua misericórdia nas necessidades, pois, em qualquer
contrariedade em que se encontre um ser humano, se a invocar com todo seu
coração, será resgatado. Entre estes lírios resplandecentes, seu Filho colocou
sete pedras preciosas.
A primeira é sua extraordinária
virtude, pois não existe virtude em nenhum outro espírito nem em nenhum outro
corpo que ela não possua com maior excelência.
A segunda pedra preciosa é sua
perfeita pureza, pois a Rainha dos Céus é tão pura que nem uma só mancha de
pecado nunca foi encontrada nela desde o princípio quando veio ao mundo pela
primeira vez até o dia de sua morte. Todos os demônios juntos não poderiam
encontrar nela nem a mínima impureza que coubesse na cabeça de um alfinete. Ela
foi verdadeiramente pura, pois o Rei da Glória não poderia ter estado senão na
mais pura e limpa, no vaso mais seleto entre os seres humanos.
A terceira pedra preciosa foi sua
beleza, para que Deus seja constantemente louvado pela beleza de sua Mãe. Sua
beleza enche de gozo os Santos Anjos e todas as almas santas.
A quarta pedra preciosa da coroa da
Virgem Mãe é sua sabedoria, pois ela foi agraciada com toda a divina sabedoria
em Deus e, graças a ela, toda sabedoria se completa e se aperfeiçoa.
A quinta pedra é o poder, pois ela
é tão poderosa diante de Deus que pode esmagar qualquer coisa que foi feita ou
criada.
A sexta pedra preciosa é sua
radiante claridade, pois ela resplandece tão clara que projeta luz sobre os
Anjos, cujos olhos brilham mais claros que a luz e os demônios não se atrevem
nem a olhar o brilho de sua claridade.
A sétima pedra preciosa é a
plenitude de todo deleite e doçura espiritual, porque sua plenitude é tal que
não há gozo que nela não seja incrementado, nem deleite que não se faça mais
pleno e perfeito por ela e pela bendita visão que alguém possa ter dela, pois
está cheia e repleta de graças, mais que todos os santos. Ela é o vaso puro
onde descansa o pão dos Anjos e é nele que se encontra toda doçura e beleza.
Estas são as sete pedras preciosas que seu Filho colocou entre os sete lírios
de sua coroa. Por isso, como esposa de seu Filho, dá-lhe honra e louvores com
todo teu coração, pois Ela é verdadeiramente digna de toda honra e louvor!
Sobre
como, atrás do conselho de Deus, a esposa elege a pobreza para si e renuncia às
riquezas e desejos carnais; sobre a verdade das coisas reveladas a ela e sobre
três pessoas notáveis mostradas por Cristo.
Tu serás como alguém que se desprende do mundo e, no tempo certo,
colherás. Tens que te desapegar das riquezas e colher virtudes, deixar aquilo
que passará e acumular bens eternos, abandonar as coisas visíveis e se apossar
do invisível. Ao contrário do prazer do corpo, dar-te-ei a exultação de tua
alma; ao contrário das alegrias do mundo, dar-te-ei as do Céu; em vez da honra
mundana, a honra dos anjos; em vez da presença da família, a presença de Deus;
em vez de possuir bens, dar-te-ei a mim mesmo, doador e Criador de todas as
coisas. Responda, por favor, às três perguntas que formularei: Primeiro,
diga-me se queres ser rica ou pobre neste mundo”. Ela respondeu: “Senhor,
prefiro ser pobre, pois as riquezas me criam ansiedade e me distraem ao servi-lo”.
Diga-me, em segundo lugar, se encontraste algo repreensível para tua alma ou
falso nas palavras que ouves de minha boca”. E ela disse: “Não Senhor, tudo é
razoável”. Terceiro, diz-me se o prazer dos sentidos que tu experimentaste
antes te agrada mais que os gozos espirituais que agora tens. E ela respondeu:
“Em meu coração envergonho-me de pensar em meus deleites anteriores e agora
parecem veneno, mais amargos quanto era meu desejo por eles. Prefiro morrer
antes de voltar a eles; não se podem comparar com o deleite espiritual”. “Portanto,
disse ele, se podes comprovar que todas as coisas que te disse são certas, por
que, então, tens medo ou estás preocupada com o fato de eu atrasar tudo o que
já disse que se fará? Tome em conta os Profetas, considere os Apóstolos e os
Santos Doutores da Igreja! Eles descobriram algo em mim que não foi a verdade?
É por isso que, para eles, não importaram nem o mundo nem seus desejos. Ou, por
que crês que os profetas predisseram acontecimentos futuros com tanta antecipação
se não foi pela vontade de Deus que eles dessem a conhecer as palavras antes
dos fatos para que os ignorantes fossem instruídos na fé? Todos os mistérios de
minha encarnação foram revelados com antecedência aos Profetas, inclusive a
estrela que guiou os Magos. Eles creram nas palavras do Profeta e mereceram ver
aquilo que haviam crido e lhes dei certeza no momento em que viram a estrela.
Da mesma forma agora, minhas palavras deverão ser anunciadas, depois verão os
fatos e se crerá neles com maior evidência. Mostrar-te-ei três pessoas.
Primeiro, um homem cuja consciência está manchada com um pecado manifesto e,
demonstrado por sinais evidentes. Por quê? Não poderia tê-lo destruído
pessoalmente? Não poderia tê-lo expulsado para o abismo em um segundo se eu, assim
o quisesse? Claro que sim. Mas o suporto ainda para a instrução dos outros e em
prova de minhas palavras, mostrando como sou justo e paciente e quão infeliz é
esse homem que é governado pelo demônio. O poder do demônio sobre ele aumentou
por sua intenção de permanecer no pecado e por seu prazer nele, com o resultado
de que nem minhas palavras amáveis nem as duras ameaças ou o medo da Gehenna
(do inferno) podem recuperá-lo. E, também, em justiça, porque ele teve uma
constante intenção de pecar, ainda que não o colocasse em prática, por isso,
merece ser enviado ao demônio por toda a eternidade. O mínimo pecado é
suficiente para condenar a quem se deleita nele e não se arrepende. Mostrar-te-ei
agora os outros dois. O demônio atormentou o corpo de um deles, mas não chegou
a entrar em sua alma. Escureceu sua consciência mediante suas maquinações, mas
não pôde entrar em sua alma nem adquirir poder sobre ele. Tu podes perguntar:
‘Acaso não é a consciência o mesmo que a alma? Não está ele na alma quando está
na consciência?’ Por certo que não. O corpo possui dois olhos para ver, mas,
mesmo perdendo o poder da vista, o corpo pode manter-se são. Acontece o mesmo
com a alma. Ainda que o intelecto e a consciência, às vezes, se perturbem na
confusão como meio de penitência, ainda assim, a alma nem sempre fica manchada
de maneira que incorra na culpa. Assim, pois, o demônio dominou a consciência
de um homem, mas não sua alma. Mostrar-te-ei ainda um terceiro homem cujo corpo
e alma estão completamente sujeitos ao demônio. A menos que o coaja com meu
poder e graça especiais, nunca poderá ser expulso nem sair dele. O demônio sai
de algumas pessoas por vontade e disposição próprias, mas de outras sai tão
somente pela resistência e sob coação. Entretanto entra em algumas pessoas,
devido ao pecado de seus pais ou por algum desígnio oculto de Deus – como, por
exemplo, em crianças ou naqueles que carecem de inteligência – em outros entra
por sua infidelidade e pelo pecado alheio. Desses últimos, o demônio sai
voluntariamente quando é expulso por pessoas que conhecem exorcismo ou a arte
de expulsar demônios, sempre que o façam sem vã glória ou por algum tipo de
benefício temporal, pois o demônio tem poder para entrar naquele que o expulsa
ou para voltar de novo para a mesma pessoa da qual tenha sido expulso, se não
houver amor de Deus em nenhum deles. Nunca sai do corpo ou da alma daqueles que
os possuem completamente, exceto mediante meu poder. Como o vinagre que, quando
se mistura com o vinho doce, infecta a doçura do vinho e já não pode mais ser
separado dele, igualmente o demônio não sai da alma de ninguém a quem possua,
exceto mediante meu poder. Quem é este vinho senão a alma humana, que foi mais
doce para mim que nenhum outro ser criado, e tão querida por mim que inclusive deixei
que minha carne fosse cortada e meu corpo machucado até as costelas por sua
salvação? Antes que perdê-la, aceitei morrer por ela. Este vinho foi conservado
entre resíduos, da mesma forma que coloquei a alma em um corpo, onde foi
guardada por minha vontade, como em uma urna selada. Todavia, o pior vinagre se
misturou com este vinho doce, me refiro ao demônio, cuja maldade é mais azeda e
abominável para mim que o vinagre. Por meu poder, este vinagre será eliminado
da pessoa cujo nome te direi, de maneira que Eu possa revelar assim minha
misericórdia e sabedoria através dele, mas mostrarei meu juízo e minha justiça
através do homem anterior.
Explicação:
O primeiro homem foi um nobre e soberbo cantor, que foi a Jerusalém sem a
permissão do Papa e foi atacado pelo demônio. O segundo endemoniado foi um
monge cisterciense. O demônio o atormentou tanto que podia apenas ser dominado
por quatro homens. Sua língua aumentada assemelhava-se a de uma vaca. Os
grilhões de suas mãos foram feitos em pedaços de forma invisível. Este homem
foi salvo pelas palavras do Espírito Santo através da Senhora Brígida ao cabo
de um mês e dois dias. O terceiro endemoniado era um político de Östergötland
(Suécia). Quando se lhe recomendou que fizesse penitência, disse a quem o
aconselhou: “Não pode o dono de uma casa sentar-se onde quiser? Se o demônio
possui meu coração e minha língua como posso fazer penitência?” Maldizendo os
Santos de Deus, morreu naquela mesma noite sem os sacramentos ou confissão.
Advertências
do Senhor à esposa em relação com a verdadeira e falsa sabedoria e sobre como
os bons anjos assistem aos bons aprendizes, enquanto que os demônios assistem
aos maus aprendizes.
Alguns dos meus amigos são como
estudantes com três características: uma inteligência para discernir, maior do
que é natural ao cérebro; segunda, uma sabedoria sem ajuda humana, tanta quanto
eu lhes ensino interiormente; terceira, estão sempre cheios de doçura e amor
divino com os quais derrotam o demônio. Mas hoje em dia, as pessoas abordam
seus estudos de outra maneira. Primeiro, buscam o conhecimento com arrogância
para serem considerados bons alunos. Segundo, buscam o conhecimento para manter
e obter riquezas. Terceiro, buscam o conhecimento para alcançar honras e
privilégios. Por isso, quando comparecem em suas escolas e entram ali,
apartar-me-ei deles, pois estudam por orgulho mesmo Eu lhes ensinando a
humildade. Entram por cobiça, quando Eu não tive nem onde repousar a cabeça.
Entram para obter privilégios, invejosos de que outros estejam situados em
lugares mais altos do que eles, enquanto que Eu fui sentenciado por Pilatos e
enganado por Herodes. É por isso que os abandono, porque não estudam meus
ensinamentos. Todavia, como sou bondoso e amável, dou a cada um o que pedem. Se
me pedem pão, dou-lhes pão e se me pedem palha dou-lhes palha. Meus amigos
pedem pão, porque buscam e estudam a divina sabedoria, onde se pode encontrar
meu amor. Outros, ao contrário, pedem palha, ou seja, sabedoria mundana. Como a
palha, não serve para nada e é o alimento dos animais irracionais, da mesma
forma, não há nenhum uso na sabedoria do mundo que sirva de alimento para a
alma. Não há nada mais que uma pequena reputação e esforço sem sentido, pois
quando um homem morre, todo seu conhecimento se apaga da existência e aquilo
que empregaram para se exaltarem já não o podem ver. Eu sou um grande Senhor
com muitos servos que, por meio de seu Senhor, distribuem às pessoas o que
necessitam. Desta forma, os anjos bons e os maus permanecem debaixo de minha
autoridade. Os anjos bons ajudam as pessoas que estudam meu conhecimento, ou
seja, aqueles que me servem, nutrindo-os de consolações e do proveito de seu
trabalho. Os anjos maus assistem os sábios do mundo. Inspiram-lhes o que eles querem
e os formam segundo seus desejos, inspirando-lhes especulações junto com grande
quantidade de trabalho. Ainda assim, se voltam seus olhos para mim, poderia
dar-lhes o pão que não tiveram por seu esforço e bastante do mundo como para
saciá-los do que nunca se podem saciar, pois eles mesmos convertem o doce em
amargo. Mas você, esposa minha, deve ser como um queijo e seu corpo como o
molde, no qual o queijo se molda até que fica na forma do molde. Desta forma,
sua alma, que é para mim tão deliciosa e saborosa como o queijo, deve ser
provada e purificada no corpo o tempo suficiente para que o corpo e a alma se
ponham de acordo e para que ambos mantenham a mesma forma de continência, de
maneira que a carne obedeça ao espírito e o espírito guie a carne até a
virtude.
Instruções
de Cristo à esposa sobre a forma de viver. Também sobre como o demônio admite
diante de Cristo que a esposa ama a Cristo sobre todas as coisas; sobre a
pergunta que o demônio fez a Cristo do porque a ama tanto e sobre a caridade
que Cristo tem para com a esposa, e como descobre o diabo.
Sou o Criador do Céu e da terra e
nas entranhas da Virgem Maria fui verdadeiro Deus e homem, que morri
ressuscitei e subi aos Céus. Tu, minha nova esposa, chegaste a um lugar
desconhecido e, por isso, tens de aprender quatro coisas: Primeira, o idioma do
lugar; segunda, como te vestir adequadamente; terceira como organizar teus dias
e teu tempo segundo os hábitos do lugar; quarta; acostumar-te a uma nova
alimentação. Como vieste da instabilidade do mundo para a estabilidade, deves
aprender um novo idioma, ou seja, como abster-te de palavras inúteis e ainda
das mais legítimas, devido à importância do silêncio e da quietude. Deves
vestir-te de humildade interior e exterior, de forma que, nem te exaltes
interiormente por crer-te mais santa do que outros, nem exteriormente te sintas
envergonhada de atuar publicamente com humildade. Terceiro, teu tempo deve ser
regulado de maneira que, da mesma forma que frequentemente costumavas dedicar
tempo às necessidades do corpo, agora tenhas tempo para a alma e nunca queiras
pecar contra mim. Quarto, sua nova alimentação é a prudente abstinência da gula
e dos manjares tanto quanto possa suportar tua constituição natural. Os atos de
abstinência que excedem a capacidade da natureza não me agradam, pois Eu exijo
racionalidade e submissão dos desejos.”
Neste
momento apareceu o demônio. O Senhor lhe disse: Tu foste criado por mim
e viste em mim toda justiça. Diga-me se esta nova esposa é legitimamente minha
por direito demonstrado! Eu te permito que vejas e entendas seu coração para
que saiba como me contestar! Ama ela algo mais que a mim ou me trocaria por
algo?
O demônio lhe respondeu: Ela não ama nada como a ti.
Antes que perder-te, se submeteria a qualquer tormento, sempre que tu lhe deres
a virtude da paciência. Vejo, como um veículo de fogo, descendo de ti até ela,
que amarra tanto seu coração a ti que ela não pensa nem ama nada mais que a ti.
Então, o
Senhor disse ao demônio: Dize-me o que sente teu coração e se gostas do
grande amor que sinto por ela.
O
demônio respondeu: Tenho dois olhos, um corporal – mesmo que não sou
corpóreo – por meio do qual percebo as coisas temporais tão claramente que não
há nada escondido nem tão escuro que se possa esconder de mim. O segundo olho é
espiritual, e com ele vejo toda dor, mesmo que seja muito leve, e posso
entender a que pecado pertence. Não há pecado, por mais tênue e leve que seja,
que eu não possa ver, a menos que tenha sido purgado pela penitência. Apesar de
que não há órgãos mais sensíveis que os olhos, deixaria que duas tochas
ardentes penetrassem meus olhos em troca de que ela não visse com os olhos do
espírito. Também tenho dois ouvidos. Um deles é corporal, e ninguém fala tão
privadamente que eu não o possa ouvir e saber graças a este ouvido. O segundo é
o ouvido espiritual, e nem os pensamentos nem os desejos de pecar se me podem
ocultar, a menos que tenham sido apagados com a penitência. Há certo castigo no
inferno que é como uma torrente fervendo que jorra de um terrível fogo. Eu o
sofreria dentro e fora dos meus ouvidos, sem cessar, em troca de ela deixar de
ouvir com os ouvidos de seu espírito. Também tenho um coração espiritual.
Desejaria que o cortassem interminavelmente em pedaços, e que se renovasse
continuamente para ser cortado de novo, se assim seu coração esfriasse em seu
amor por ti. Mas, agora, como és justo, quero fazer-te uma pergunta para que me
a respondas: Diga-me, por que a amas tanto e por que não elegeu alguém de maior
santidade, riqueza e beleza para ti?
O Senhor
respondeu: Porque isto é o que a justiça demanda. Tu foste criado por
mim e viste em mim toda justiça. Agora que ela escuta, diga-me, por que foi
justo que tu caísses tão baixo e em que pensavas quando caíste?
O
demônio respondeu: Eu vi três coisas em ti: Vi tua glória e honra
sobre todas as coisas e pensei em minha própria glória. Em minha soberba,
estava disposto não só a igualar-te, mas ser ainda mais que ti. Segundo, vi que
era o mais poderoso de todos e eu quis ser mais poderoso do que ti. Terceiro,
vi o que havia de ser no futuro, e como tua glória e honra não tem nem
princípio nem fim, invejei-te, e pensei que com gosto seria torturado
eternamente com todo o tipo de castigos, se assim, te fizesse morrer. Com tais
pensamentos caí e, assim, se criou o inferno.
O Senhor
acrescentou: Perguntaste-me por que amo tanto esta mulher. Asseguro-te, é
porque Eu transformo em bondade toda tua maldade. Ao te tornares tão soberbo e
não quererdes ter a mim, teu Criador, como a um igual, humilhando-me de todas
as maneiras, reúno os pecadores comigo e me faço seu igual compartilhando minha
glória com eles. Segundo, por este desejo tão baixo de querer ser mais poderoso
que Eu, faço os pecadores mais poderosos que tu e compartilho com eles meu
poder. Terceiro, pela inveja que me tens, estou tão cheio de amor que me
ofereço a todos. Agora, pois, demônio – continuou o Senhor – teu coração de
escuridão saiu da luz. Diz-me, enquanto ela escuta, quanto a amo.
E o
demônio disse: Se fosse possível, estarias disposto a sofrer em todos e cada
um de teus membros a mesma dor que sofreste na cruz em vez de perdê-la.
Então o
Senhor replicou: Se sou tão misericordioso que não recuso perdoar
a ninguém que me peça humildemente, pede-me tu mesmo misericórdia e Eu a darei.
O
demônio lhe respondeu: Isso não farei de nenhuma maneira! No momento de
minha queda foi estabelecido um castigo para cada pecado, para cada pensamento
ou palavra indigna. Cada um dos espíritos que caiu terá seu castigo. Mas antes
de dobrar meu joelho ante ti, buscaria todos os castigos para mim enquanto
minha boca possa abrir e fechar no castigo e o renovaria eternamente para ser
castigado de novo.
Então, o
Senhor disse à sua esposa: Veja que endurecido está o príncipe do mundo
e que poderoso é contra minhas graças, a minha oculta justiça! Tenha certeza de
que poderia destruí-lo em um segundo por meio do meu poder, mas não lhe faço
mais dano assim como a um bom anjo do Céu. Quando chegar seu tempo, e já está
se aproximando, o julgarei e também a seus seguidores. Por isso, esposa minha,
persevera nas boas obras! Ama-me com todo teu coração! Não temas a nada mais
que a mim! Pois Eu sou o Senhor que está acima do demônio e de tudo que existe.
Palavras
da Virgem à esposa, explicando sua dor na paixão de Cristo, e sobre como o
mundo foi vendido por Adão e Eva e recuperado mediante Cristo e sua Mãe, a
Virgem.
Falou
Maria: Considera,
filha, a Paixão de meu Filho. Senti como se os membros de seu corpo e seu
coração fossem os meus. Da mesma forma como as outras crianças são normalmente
geradas no útero de sua mãe, aconteceu em mim. Todavia, Ele foi concebido pelo
ardor do amor de Deus, enquanto que outros são concebidos pela concupiscência
da carne. Assim, seu primo João disse corretamente: ‘O verbo se fez carne’. Ele
veio e esteve em mim por amor. O verbo e o amor o criaram em mim. Ele foi para
mim como meu próprio coração e, por isso, quando dei à luz, senti que a metade
de meu coração havia nascido e saído de mim. Quando Ele sofria, eu sentia como
se sofresse meu próprio coração. Quando algo está metade fora e metade dentro,
se a parte de fora está ferida, a parte de dentro sente uma dor parecida. Da
mesma maneira, quando meu Filho foi açoitado e ferido, era como se meu próprio
coração estivesse sendo açoitado e ferido. Eu era a pessoa mais próxima a Ele
em sua Paixão e nunca me separei dele. Estive ao lado de sua cruz e, como quem
está mais próximo da dor a sofre mais, assim sua dor foi pior para mim que para
os demais. Quando ele me olhou da cruz e eu o olhei, minhas lágrimas brotaram
de meus olhos como sangue das veias. Quando Ele me viu assoberbada de dor, se
sentiu tão angustiado por minha dor que toda a dor de suas próprias feridas se
atenuou ao ver a dor em mim. Por isso, posso dizer que sua dor era minha dor e
que seu coração era meu coração. Da mesma forma como Adão e Eva venderam o
mundo por um simples fruto, podemos dizer que meu Filho e Eu recuperamos o
mundo com um só coração. Assim, Filha minha, pensa em como estava Eu quando
morreu meu Filho e, com isso, não será difícil para você renunciar ao mundo.
Resposta
do Senhor a um Anjo que estava rezando, de que à esposa se dariam padecimentos
no corpo e na alma e sobre como às almas mais perfeitas se dão maiores
moléstias.
O Senhor
disse a um Anjo que rezava pela esposa de seu Senhor: És como
um soldado do Senhor que nunca abandona seu posto por causa do tédio e que
nunca aparta seus olhos da batalha por medo. És tão firme como uma montanha e
ardes como uma chama. És tão limpo que não há mancha em ti. Pedes-me que tenha
misericórdia de minha esposa. Mesmo que conheças e vejas tudo em mim, diga-me,
enquanto ela escuta, que tipo de misericórdia estás pedindo para ela? Em resumo,
a misericórdia é tripla. Existe a misericórdia, pela qual o corpo é castigado e
a alma preservada, como ocorreu com meu servo Jó, cuja carne foi sujeita a todo
tipo de dores, mas cuja alma se salvou.
O segundo tipo de misericórdia é
aquela mediante a qual o corpo e a alma são preservados como foi o caso do rei
que viveu com todo tipo de luxos e não sentiu dores nem em seu corpo nem em sua
alma enquanto esteve no mundo. O terceiro tipo de misericórdia é a que faz com
que corpo e alma, sejam castigados resultando que ambos experimentam angústias
em seu corpo e dor em seu coração, como é o caso de Pedro, Paulo e outros
Santos. Há três estados para os seres humanos no mundo. O primeiro estado é
daqueles que caem em pecado e se levantam de novo. Algumas vezes, permito que
estas pessoas experimentem angústias em seu corpo para que se salvem. O segundo
estado é o daqueles que vivem sempre com o objetivo de pecar. Todos os seus
desejos se dirigem ao mundo. Se fazem algo por mim, muito de vez em quando, o
fazem com a esperança de conseguir benefícios temporais de engrandecimento e
prosperidade. A estas pessoas não se lhes dão muitas dores de corpo nem do
coração. Permito que sigam com seu poder e desejos, porque eles receberão aqui
sua recompensa até pelo mínimo bem que tenham feito por mim, pois lhes espera
um castigo eterno, tanto como eterna é sua vontade de pecar. O terceiro estado
é o daqueles que têm mais medo de pecar contra mim e de contrariar minha
vontade do que do castigo em si. Antes, prefeririam o insuportável castigo
eterno a provocar conscientemente minha ira. A estas pessoas, se lhes dão
tribulações no corpo e no coração, como é o caso de Pedro, de Paulo e de outros
Santos, de forma que corrijam suas transgressões neste mundo. Também são
castigados, durante certo tempo, para merecerem uma glória maior, ou como
exemplo para outros. Expliquei esta tríplice misericórdia aplicada a três
pessoas deste reino cujos nomes tu conheces. Assim, pois, Anjo e servo meu, que
tipo de misericórdia pedes para minha esposa?
E ele
disse: Misericórdia
de corpo e alma, para que ela possa emendar suas transgressões neste mundo e
nenhum de seus pecados se submeta a teu juízo.
O Senhor
respondeu: Faça-se segundo tua vontade!
Então, dirigiu-se à esposa: És minha e farei contigo o
que eu quiser. Não ames a nada mais do que a mim! Purifica-te constantemente do
pecado em todo momento, segundo o conselho daqueles a quem te encomendei. Não
ocultes nenhum pecado! Não deixes que fique nada sem examinar, não penses que
nenhum pecado seja leve ou sem importância! Qualquer coisa que passe por
despercebido, Eu te a recordarei e julgarei. Nenhum pecado teu será julgado por
mim se for expiado nessa vida mediante tua penitência. Aqueles pecados pelos
quais não se tenha feito penitência serão purgados, ou no purgatório ou por
meio de algum dos meus juízos secretos, se caso ainda não tiver sido reparado
aqui na Terra.
Palavras
da Mãe à esposa descrevendo a excelência de seu Filho; sobre como Cristo é
agora mais duramente crucificado por seus inimigos, os maus cristãos do que
pelos judeus e sobre como, em consequência, essas pessoas receberão um castigo
mais duro e amargo.
A Mãe
disse: Meu
Filho teve três qualidades. A primeira foi que ninguém jamais teve um corpo tão
perfeito como Ele ao ter duas naturezas perfeitas, uma divina e outra humana.
Ele foi tão puro como não se pode encontrar nenhum cisco em um olho cristalino;
nenhuma só deformidade podia encontrar-se em seu corpo. A segunda qualidade foi
que Ele nunca pecou. Outras crianças, às vezes, carregam os pecados de seus
pais, além de seus próprios. Este menino, que nunca pecou, carregou o pecado de
todos. A terceira qualidade foi que, enquanto algumas pessoas morrem por Deus e
por uma maior recompensa, Ele morreu tanto por seus inimigos quanto por mim e
seus amigos. Quando seus inimigos o crucificaram, fizeram-lhe quatro coisas. Em
primeiro lugar, o coroaram de espinhos. Em segundo, cravaram suas mãos e pés.
Terceiro, deram-lhe fel para beber e quarto transpassaram seu lado. Mas minha
dor é que seus inimigos, que agora estão no mundo, crucificam meu Filho mais
duramente do que fizeram os judeus. Mesmo assim, poderias dizer que Ele não
pode sofrer e morrer agora, por isso o crucificam através de seus vícios. Um
homem pode lançar insultos e injúrias sobre a imagem de um inimigo seu e, mesmo
que a imagem não sentisse o dano, o perpetrador seria acusado e sentenciado por
sua maliciosa intenção de injuriar. Igualmente,
os vícios pelos quais crucificam meu Filho, em um sentido espiritual, são mais
abomináveis e mais sérios para Ele que os vícios de quem o crucificou no corpo.
Mas você pode perguntar ‘Como o crucificam?’ Bem, primeiro o colocam sobre a
cruz que prepararam para Ele, isto é, quando não têm em conta os preceitos de
seu Criador e Senhor. Depois o desonram quando Ele os adverte através de seus
servos, desprezando as advertências e fazem o que lhes apetece. Crucificam sua
mão direita confundindo justiça e injustiça ao dizer: ‘O pecado não é tão grave
nem odioso para Deus como se diz, nem Deus castiga ninguém para sempre, mas
suas ameaças são para assustar-nos. Por que haveria de redimir-nos se quisesse
que morrêssemos?’ Eles não consideram que até o mínimo pecado no qual uma
pessoa se deleita é suficiente para entregar ele ou ela ao castigo eterno.
Posto que Deus não deixa que nem o mínimo pecado fique sem castigo, nem o
mínimo bem sem recompensa, eles serão castigados sempre que mantenham a
intenção constante de pecar e meu Filho, que vê seus corações, conta isso como
um ato. Pois, se meu Filho o permitisse, eles realizariam obras segundo suas
intenções. Crucificam sua mão esquerda convertendo a virtude em vício. Querem
continuar pecando até o fim, dizendo: Se, ao final, uma única vez dissermos: ”Deus
tem misericórdia de mim”, a misericórdia de Deus é tão grande, que Ele nos
perdoará”. O querer pecar sem emendar-se, querer a recompensa sem lutar por
ela, não é virtude, a menos que haja algo de contrição em seu coração, ou ao
menos que a pessoa deseje realmente emendar seu caminho, sempre que não o
impeça uma enfermidade ou qualquer outra condição. Crucificam seus pés
comprazendo-se no pecado, sem pensar, uma única vez, no amaríssimo castigo de
meu Filho, nem dar-lhe graças de coração, dizendo: ‘Senhor, quão amargamente
sofreste! Louvado sejas por tua morte!’ Tais palavras nunca saem de seus
lábios. Coroam-no com uma coroa de escárnios ao zombar de seus servos e
considerar inútil seu serviço. Dão a ele fel para beber quando se deleitam e se
comprazem em pecar. Nunca sentem no coração quão sério e multifacetado é o
pecado. Transpassam seu lado quando têm a intenção de perseverar no pecado. Digo-te,
em verdade, e se o podes dizer a meus amigos, que para meu Filho essas pessoas
são mais injustas que aquelas que o sentenciaram, piores inimigos que aqueles
que o crucificaram, mais sem vergonha que aqueles que o venderam. A eles os
espera maior castigo que aos outros. De fato, Pilatos supôs muito bem que meu
Filho não tinha pecado e que não merecia a morte. Entretanto, por medo de
perder o poder temporal e pela insistência dos judeus, ainda relutante, teve
que sentenciar meu Filho à morte. Que temeriam estas pessoas que o serviram? Ou
que honra ou privilégio perderiam se o honrassem? Eles receberão, pois, uma
sentença mais dura por ser piores que Pilatos na consideração de meu Filho.
Pilatos o sentenciou por medo, submetendo-se ao pedido e intenções de outros.
Estas pessoas o sentenciam por seu próprio benefício e sem medo algum,
desonrando-o pelo pecado do qual poderiam abster-se, se assim o quisessem. Mas
eles não se abstêm de pecar nem se envergonham de terem cometido pecados, pois
não percebem que não merecem nem a mínima consideração daquele a quem eles não
servem. São piores que Judas, pois Judas, depois de ter traído o Senhor,
reconheceu que Jesus era mesmo Deus e que havia pecado gravemente contra Ele.
Desesperou-se, entretanto, e se precipitou ao inferno pensando que já não
merecia viver. Mas estas pessoas reconhecem seu pecado e, ainda assim,
perseveram nele, sem arrependimento em seus corações. No entanto, desejam
arrebatar a Deus o Reino dos Céus por uma espécie de força e violência, crendo
que o possam conseguir, não por seus feitos, mas por sua vã esperança, vã
porque não se o dará a ninguém mais, que aos que trabalham e fazem algum
sacrifício para o Senhor. São piores que os que o crucificaram. Quando viram as
boas obras de meu Filho, como a ressurreição da morte ou a cura de leprosos, pensaram
em seu interior: ‘Este opera maravilhas inauditas e inusitadas, superando
facilmente a todos com uma só palavra, conhecendo nossos pensamentos, fazendo
tudo o que deseja. Se continuar assim, teremos que nos submeter a seu poder e
ser seus servos’. Por isso, em lugar de submeter-se a Ele, o crucificam com sua
inveja. Mas se soubessem que Ele é o Rei da Glória, nunca o teriam crucificado.
Por outro lado, essas pessoas veem cada dia suas grandes obras e milagres e se
aproveitam de sua bondade. Escutam como têm que servi-lo e se acercam Dele, mas
em seu interior pensam: ‘Seria duro e insuportável renunciar a nossos bens
temporais para fazer sua vontade e não a nossa’. Por isso, desprezam a vontade
Dele, colocam acima seus desejos egoístas e crucificam meu Filho por sua
teimosia, acumulando pecado sobre pecado contra suas próprias consciências. São
piores que seus carrascos, pois os judeus agiram por inveja e não sabiam que
Ele era Deus. Estes, porem, sabem que é Deus e, por maldade, presunção e
cobiça, o crucificam, em um sentido espiritual, mais duramente que os que
crucificaram fisicamente seu corpo, pois estas pessoas já foram redimidas e
aquelas ainda não eram. Assim, pois, esposa, obedece e teme a meu Filho, pois
tudo o que Ele tem de misericordioso Ele tem também de justo!
Agradável
diálogo de Deus Pai com o Filho sobre como o Pai deu ao Filho uma nova esposa;
sobre como o Filho a tomou carinhosamente para si e sobre como o Esposo ensina
à esposa a paciência e a simplicidade mediante uma parábola.
O Pai
disse ao Filho: Acudi com amor a Virgem e recebi dela teu
verdadeiro corpo. Tu, portanto, estás em mim e Eu em ti. Assim como o fogo e o
calor nunca estão separados, também é impossível separar tua natureza divina e
humana.
O Filho
respondeu: Glória e honra a ti, Pai! Faça-se tua vontade em mim e a minha
em ti!
O Pai,
por sua vez, acrescentou: Olha, Filho meu, confio-lhe esta nova esposa
como um cordeiro que deve ser guiado e alimentado. Como um pastor, então, deves
procurar queijo para comer, leite para beber e lã para vestir. Quanto a você,
esposa, tens que obedecer-lhe. Tens três deveres: deves ser paciente, obediente
e alegre.
Então, o
Filho disse ao Pai: Tua vontade vem com poder, teu poder com
humildade, tua humildade com sabedoria, tua sabedoria com misericórdia. Que tua
vontade, que é e sempre será sem princípio nem fim, se faça em mim! A ela,
abrirei as portas de meu amor em teu poder e na inspiração do Espírito Santo, pois
somos, não três, mas um só Deus.
Então, o
Filho disse à sua esposa: Ouviste como o Pai te confiou a mim como um
cordeiro. Por isso, deves ser simples e paciente como um cordeiro e produzir
alimento e vestido. Há três grupos de pessoas no mundo. O primeiro está
completamente nu, o segundo sedento e o terceiro faminto. Os primeiros
equivalem a fé de minha Igreja, que está nua porque todos se envergonham de
falar sobre a fé e meus mandamentos. E se alguém fala, é desprezado e chamado
de mentiroso. Minhas palavras, procedentes de minha boca, hão de vestir esta fé
como a lã. Assim como a lã cresce no corpo da ovelha mediante o calor, também
minhas palavras hão de entrar em teu coração através do calor de minhas
naturezas divina e humana. Elas vestirão minha santa fé em um testemunho de
verdade e sabedoria e demonstrarão que, o que agora é considerado
insignificante, é verdadeiro. Como resultado, as pessoas que até agora têm sido
tíbias sobre o vestir sua fé em obras de amor, se converterão quando ouvirem
minhas palavras de amor e serão reanimadas para falar com fé e atuar com
coragem. O segundo grupo equivale a aqueles amigos meus que possuem um sedento
desejo de ver minha honra reposta e se entristecem quando sou desonrado. A
doçura que sentem com minhas palavras os embriagará com um maior amor por mim
e, junto a eles, outros, que agora estão mortos, se reinflamarão no meu amor,
quando ouvirem sobre a misericórdia que tenho demonstrado com os pecadores. O
terceiro grupo de pessoas são aqueles que, em seu coração, pensam assim: ‘Se ao
menos soubéssemos – dizem – a vontade de Deus e de que maneira temos que viver
e se ao menos nos ensinasse a forma correta de viver, com muito gosto faríamos
o que pudéssemos’. Estas pessoas estão famintas de conhecer meu caminho, mas
ninguém as satisfaz, pois ninguém lhes mostra exatamente o que devem fazer.
Mesmo se alguém o mostra, ninguém vive de acordo com ele. Portanto, as palavras
parecem estar como mortas para elas, pois ninguém vive de acordo com elas. Por
isso, Eu lhes mostrarei diretamente o que devem fazer e as encherei com minha
doçura. As coisas temporais, que parecem as mais desejadas por todos agora, não
podem satisfazer a natureza humana a não ser melhor avivar o desejo de buscar
mais e mais coisas. Minhas palavras e meu amor, entretanto, satisfazem os
homens e os enchem de abundante consolação. Por isso, esposa minha, que és uma
das minhas ovelhas, cuida-te de manter a paciência e a obediência. És minha por
direito e, por isso, deves seguir minha vontade. Uma pessoa que deseja seguir a
vontade de outra faz três coisas: primeiro, tem o mesmo pensamento que a outra,
segundo, age de forma similar, terceiro, se mantém longe dos inimigos da outra.
Quem são meus inimigos senão o orgulho e cada um dos pecados? Por isso,
mantem-te longe deles se desejas seguir minha vontade”.
Sobre
como a fé a esperança e a caridade se acharam perfeitamente em Cristo no
momento de sua morte e deficientemente em nós.
Eu tive três virtudes em minha
morte. Primeiro, fé, quando dobrei meus joelhos e rezei, sabendo que o Pai
podia livrar-me de meus sofrimentos. Segundo, esperança, quando perseverei
resolutamente dizendo: ‘Não se faça a minha vontade’. Terceiro, caridade,
quando disse: ‘Faça-se tua vontade!’ Também padeci agonia física devido ao
temor natural de sofrer e um suor de sangue emanou do meu corpo. Por isso, para
que meus amigos não temam ser abandonados quando lhes chegar o momento da
prova, Eu lhes demonstrei em mim que a débil carne sempre trata de escapar da
dor. Poderias perguntar, talvez, como foi que meu corpo segregou um suor de
sangue. Bem, da mesma forma em que o sangue de uma pessoa enferma se resseca e
se consome em suas veias, meu sangue se consumiu pela angústia natural da
morte. Querendo mostrar a maneira em que o Céu se abriria e como as pessoas
poderiam entrar nele depois de seu exílio, o Pai amorosamente entregou-me à
minha Paixão para que meu corpo fosse glorificado, uma vez que a paixão se
tinha consumado. Porque minha natureza humana não podia simplesmente entrar em
sua glória sem sofrer, apesar de que Eu fui capaz de fazê-lo mediante o poder
de minha natureza divina. Por que, então, as pessoas com pouca fé, vãs
esperanças e sem amor, mereceriam entrar em minha glória? Se tivessem fé no
gozo eterno e no terrível castigo, não desejariam nada mais que a mim. Se elas
realmente cressem que Eu vejo todas as coisas e tenho poder sobre todas as
coisas e que exijo um juízo para cada uma, o mundo lhes resultaria repugnante e
não ousariam pecar na minha presença por temor a mim e não pela opinião humana.
Se tivessem uma firme esperança, todo seu pensamento e entendimento se
dirigiriam até mim. Se tivessem amor divino, suas mentes pensariam, ao menos,
sobre o que fiz por eles, os esforços que fiz ao ensinar, a dor que padeci em
minha Paixão, o grande amor que tive ao morrer, tanto que preferi morrer antes
que perdê-los. Mas sua fé é débil e vacilante, apontando a uma queda
fulminante, porque estão dispostos a crer quando estão ausentes dos impulsos da
tentação, mas perdem confiança quando se veem de frente com a adversidade. Sua
esperança é vã, porque esperam que seu pecado seja perdoado sem um juízo e sem
uma correta sentença. Confiam que podem conseguir o Reino dos Céus
gratuitamente. Desejam receber minha misericórdia sem a atuação da justiça. Seu
amor para comigo é frio, pois nunca se põem a buscar-me ardentemente a menos
que se sintam forçados pela tribulação. Como vou compadecer-me das pessoas que
nem sustentam uma fé reta nem uma firme esperança nem uma fervente caridade por
mim? Por isso, quando me implorarem e disserem: ‘Senhor, tem piedade de mim!’,
não merecerão ser ouvidas nem entrar na minha glória. Se não querem acompanhar
o seu Senhor no sofrimento não o acompanharão na glória. Nenhum soldado pode
agradara a seu Senhor e ser bem recebido de novo, depois de um deslize, a menos
que primeiro se humilhe para reparar sua ofensa.
Palavras
nas quais o Criador apresenta três perguntas de Graça à sua esposa: a primeiro
sobre a servidão do marido e a dominação da mulher; a segunda sobre o trabalho
do esposo e o gasto da esposa; a terceira sobre o Senhor desprezado e o servo
exaltado.
Eu sou teu Criador e Senhor.
Responde-me a três perguntas que te vou apresentar. Qual é a situação em uma
casa em que a esposa está vestida como uma grande senhora e o esposo como um
servo? É correto isso?”
Ela
respondeu interiormente em sua consciência: Não, meu Senhor, isso não está
bem.
E o
Senhor disse: Eu sou o Senhor de todas as coisas e o Rei dos Anjos. Eu me
vesti de servo, ou seja, a minha natureza humana, tão somente visando à
utilidade e a necessidade. Não desejei nada do mundo, a não ser um mero
alimento e roupa. Tu, entretanto, que és minha esposa, queres igualar-te a uma
grande senhora, com riquezas e honras, ser exaltada. Qual é o benefício de tudo
isso? Todas as coisas são vaidades e todas as coisas devem ser abandonadas. A
humanidade não foi criada para essa frivolidade, senão para possuir o que
necessita a natureza. O orgulho inventou o supérfluo que agora se mantém e se
deseja como o normal.
Em segundo lugar, diga-me, é
correto que o marido trabalhe desde a manhã até a noite enquanto a mulher gasta
em uma hora tudo o que ele conseguiu com seu esforço?”
Ela
respondeu: Não, não é correto. Ao contrário, a esposa deve viver e atuar
seguindo a vontade de seu esposo.
E o
Senhor disse: Eu trabalhei como o homem que trabalha de manhã até a noite.
Trabalhei desde minha juventude até o momento de meu sofrimento, mostrando o
caminho para o Céu, pregando e pondo em prática o que pregava. A esposa, ou
seja, a alma humana que deveria ser como minha mulher, gasta todo meu salário
em viver luxuosamente. Como consequência, de nada do que fiz se pode
beneficiar, nem encontro nela virtude alguma em que deleitar-me.
Terceiro, diga-me, não é errado e
detestável para o senhor do lar ser desprezado sendo o servo exaltado?
E ela
disse:
Sim, é verdade.
E o
Senhor disse: Eu sou o Senhor de todas as coisas. Meu lar é o mundo. Todos
os membros da humanidade deveriam estar a meu serviço. Entretanto, Eu, o
Senhor, agora sou desprezado no mundo, enquanto que a humanidade é exaltada.
Portanto, tu, a quem Eu elegi, cuide de cumprir minha vontade, porque tudo no
mundo não é mais que uma brisa do mar e um falso sonho!
Palavras
do Criador na presença da Corte Celeste e de sua esposa, nas quais que se
queixa dos cinco homens que representam o Papa e seus clérigos, os leigos
corruptos, os judeus e os pagãos. Também sobre a ajuda enviada aos seus amigos
que representam toda a humanidade e sobre a dura condenação de seus inimigos.
Eu sou o Criador de todas as
coisas. Nasci do Pai antes que existisse Lúcifer. Existo inseparavelmente no
Pai e o Pai em mim e há um Espírito em ambos. Por conseguinte, há um Deus –
Pai, Filho e Espírito Santo – e não três Deuses. Eu sou Aquele que fiz a
promessa da herança eterna a Abraão e conduzi meu povo para fora do Egito
através de Moisés. Eu sou o que falei através dos Profetas. O Pai me colocou no
ventre da Virgem sem se separar de mim, permanecendo comigo inseparavelmente
para que a humanidade, que abandonou Deus, possa retornar a Deus através do meu
amor. Agora, entretanto, em vossa presença, Corte Celeste, apesar de que vedes
e sabeis tudo de mim, pelo bem do conhecimento e a instrução desta desposada
minha que não pode perceber o espiritual se não por meio do físico, Eu declaro
meu pesar ante vós em relação aos cinco homens aqui presentes, por serem eles
ofensivos para mim de muitas maneiras. Da mesma forma que Eu, em uma ocasião,
incluí todo o povo israelita no nome de Israel, na Lei, agora mediante estes
cinco homens, me refiro a todos no mundo. O primeiro homem representa o líder
da Igreja e seus sacerdotes; o segundo, os leigos corruptos; o terceiro, os
judeus, o quarto os pagãos e o quinto, meus amigos. E o que diz respeito a ti,
judeu, tenho feito uma exceção com todos os judeus que são cristãos em segredo
e que me servem em caridade sincera, conforme a fé e em seus trabalhos
perfeitos em segredo. Em relação a você, pagão, tenho feito uma exceção com
todos aqueles que com gosto caminhariam pelas sendas de meus mandamentos se tão
somente soubessem como e se fossem instruídos, os que tratam de pôr em prática
tudo o que podem e do que são capazes. Estes, não serão, de nenhuma maneira,
sentenciados convosco. Agora declaro meu desgosto para contigo, cabeça de minha
Igreja, tu que te sentas em minha cátedra. Concedi este cargo a Pedro e a seus
sucessores para que se sentassem com uma tripla dignidade e autoridade:
primeiro, para que pudessem ter o poder de ligar e desligar as almas do pecado;
segundo, para que pudessem abrir o Céu aos penitentes; terceiro, para que
fechassem o Céu aos condenados e àqueles que me desprezam. Mas tu, que deverias
estar absolvendo almas e me as oferecendo, és realmente um assassino das minhas
almas. Designei Pedro como pastor e servo de minhas ovelhas, mas tu as dispersas
e as feres, és pior que Lúcifer. Ele tinha inveja de mim e não perseguiu para
matar ninguém mais que a mim, de forma que pudesse governar em meu lugar. Mas
tu és o pior, porque não só me matas ao apartar-me de ti por teu mau trabalho
senão que, também, matas as almas devido ao teu mau exemplo. Eu redimi almas
com meu sangue e te as recomendei como a um amigo fiel. Mas tu as devolves ao
inimigo do quais eu as resgatei, és mais injusto que Pilatos. Ele tão somente
me condenou à morte. Mas tu não somente me condenas como se Eu fosse um pobre
homem indigno, como também condenas as almas de meus eleitos e deixas livres os
culpados. Mereces menos misericórdia que Judas. Ele tão somente me vendeu, mas
tu, não só me vendes como também vendes as almas de meus eleitos com base em
teu próprio proveito e vã reputação. Tu és mais abominável que os judeus. Eles
tão somente crucificaram meu corpo, mas tu crucificaste e castigaste as almas
de meus eleitos para quem tua maldade e transgressão são mais afiadas que uma
espada. Assim, posto que és como Lúcifer, mais injusto que Pilatos, menos digno
de misericórdia que Judas e mais abominável que os judeus, meu aborrecimento
contigo está justificado.
O Senhor
disse ao segundo homem, ou seja, o que representa os leigos: Eu criei
todas as coisas para teu uso. Tu me deste teu consentimento e Eu a ti.
Prometeste-me tua fé e me juraste que me servirias. Agora, entretanto, te
separaste de mim como alguém que não conhece a Deus. Referes-te às minhas
palavras como mentiras e a meus trabalhos como carentes de sentido. Dizes que
minha vontade e meus mandamentos são muito duros. Tens violado a fé que me
prometeste. Destruíste teu juramento e abandonaste meu Nome. Tens te afastado a
ti mesmo da companhia de meus Santos e te integraste na companhia dos demônios
fazendo-te sócio deles. Tu não crês que ninguém mereça louvor e honra a não ser
tu mesmo. Consideras difícil tudo o que tem a ver comigo e o que estás obrigado
a fazer por mim, enquanto que as coisas que gostas de fazer são fáceis para ti.
É por isso que meu aborrecimento contigo está justificado, porque quebraste a
fé que me prometeste no batismo e depois dele. Alem disso, me acusas de mentir
sobre o amor que te mostrei por palavra e através de fatos. Disseste que eu era
um louco por sofrer.
Ao terceiro homem, ou seja, o representante dos judeus,
disse-lhe: Eu comecei meu amoroso idílio contigo. Eu te elegi como meu
povo, libertei-te da escravidão, dei-te minha Lei e conduzi-te até a Terra que
havia prometido a teus pais e te enviei profetas que te consolaram. Depois,
elegi uma Virgem dentre vós e tomei dela, a natureza humana. Meu desgosto
contigo é que ainda recusas crer em mim dizendo: “Cristo não veio, mas, ainda
virá.
O Senhor disse ao quarto homem, ou seja, aos pagãos: Eu te
criei e o te redimi para que fosses cristão. Fiz para ti todo o bem. Mas tu és
como alguém que está fora de seus sentidos, porque não sabes o que fazes. És
como um cego, porque não sabes para onde vais. Adoras as criaturas em lugar do
Criador, a falsidade em lugar da verdade. Ajoelhas diante das coisas que são
inferiores a ti. Esta é a causa do meu desgosto em relação a ti”. Ao quinto
homem, disse: “Aproxima-te mais, amigo!” E se dirigiu diretamente à Corte
Celestial: “Queridos amigos, este amigo meu representa meus muitos amigos. Ele
é como um homem cercado por corruptos e mantido em um duro cativeiro. Quando
diz a verdade, atiram pedras em sua boca. Quando faz algo bom, cravam uma lança
em seu peito. Ai! Meus amigos e santos! Como posso suportar essas pessoas e
quanto tempo suportarei semelhante desprezo?
São João
Batista respondeu: És como um espelho imaculado. Vemos e sabemos
todas as coisas em ti como em um espelho, sem necessidade de palavras. És a doçura
incomparável na qual saboreamos todo o bem. É como a mais afiada das espadas e
um Justo Juiz.
O Senhor
lhe respondeu: Amigo meu, o que disse é certo. Meus eleitos veem
toda a bondade e justiça em mim. Os espíritos diabólicos ainda o fazem, mesmo
que não na luz mas em sua própria consciência. Como um homem na prisão, que
aprendeu as letras e ainda as conhece quando as encontra na escuridão e não as
vê; os demônios, apesar de não verem minha justiça à luz da caridade, ainda
assim, conhecem e veem em sua consciência. Eu sou como uma espada que corta em
dois. Eu dou a cada pessoa o que ele ou ela merecem.
Então, o Senhor acrescentou, falando ao Bem-Aventurado Pedro:
Tu
és o fundador da fé e da minha Igreja. Enquanto o escuta meu exército, declara a
sentença desses cinco homens!
Pedro
respondeu: Glória e honra a Ti, Senhor, pelo amor que tens demonstrado à
Terra! Que toda tua Corte te bendiga, porque tu nos fazes ver e saber em Ti
tudo o que é e o que será! Vemos e sabemos tudo em Ti. É verdadeiramente justo
que o primeiro homem, o que se senta em tua cátedra e realiza os feitos de
Lúcifer, vergonhosamente deva renunciar a esse lugar no qual presumiu sentar-se
e compartilhar o castigo de Lúcifer. A sentença do segundo homem é que aquele
que abandonou a fé deve descer ao inferno com a cabeça para baixo e os pés para
cima, por ter desprezado a Ti, que deveria ser sua cabeça e por ter amado a si
mesmo. A sentença do terceiro é que não verá teu rosto e será condenado por sua
perversidade e avareza, posto que os que não creem não merecem contemplar a tua
visão. A sentença do quarto é que deveria ser encerrado e confinado na
escuridão como um homem fora de seus sentidos. A sentença do quinto é que
deverá receber ajuda.
Quando o Senhor ouviu isto, respondeu: Prometo
por Deus, o Pai, cuja voz ouviu João Batista no Jordão, que farei justiça a
esses cinco.
Depois,
o Senhor continuou e dizendo ao primeiro dos cinco homens: A espada
de minha severidade atravessará teu corpo, entrando desde o alto de sua cabeça
e penetrando tão profundo e firmemente que nunca poderá ser retirada. Tua
cadeira se afundará como uma pedra pesada e não parará até que alcance a parte
mais baixa das profundezas. Teus dedos, ou seja, teus conselheiros arderão em
um fogo sulfuroso e inextinguível. Teus braços, ou seja, teus vigários, que
deveriam ter conseguido o benefício das almas, mas que em seu lugar conseguiram
proveitos mundanos e honras, serão sentenciados ao castigo de que fala Davi:
‘Que seus filhos fiquem órfãos e sua mulher viúva, que os estranhos arrebatem
sua propriedade’. Que significa ‘sua mulher’ senão a alma que foi separada da
glória do Céu e que ficará viúva de Deus? ‘Seus filhos’, ou seja, as virtudes
que aparentaram possuir e minha gente simples, aqueles que se submeteram, serão
separados deles. Sua classe e propriedade cairão nas mãos de outros e eles
herdarão a eterna vergonha em lugar de sua posição privilegiada. Suas mitras
afundarão no barro do inferno e eles mesmos nunca se levantarão dali. Por isso,
a honra e o orgulho que alcançaram sobre outros aqui na terra os afundarão no
inferno tão profundamente, mais que os demais e será impossível levantar-se.
Suas extremidades, ou seja, todos os sacerdotes aduladores que os assessoram,
serão separados deles e ilhados, como uma parede que se derruba, na qual não
ficará pedra sobre pedra e o cimento já não irá aderir às pedras. A
misericórdia nunca lhes chegará, porque meu amor nunca lhes aquecerá nem lhes
recolocará na eterna Mansão Celestial. Em seu lugar, despojados de todo bem,
serão eternamente atormentados junto aos seus líderes. Ao segundo homem, Eu lhe
digo: Dado que tu não queres manter-te na fé que me prometeste nem manifestar
amor para comigo, te enviarei um animal que procederá da torrente impetuosa
para devorar-te. E, como uma torrente que sempre corre para baixo, o animal te
levará às partes mais baixas do inferno. Tão impossível como é para ti viajar
corrente acima contra uma torrente impetuosa, igualmente será difícil para ti
subir do inferno. Ao terceiro homem, eu digo: ‘Já que tu, judeu, não queres
crer que Eu já vim, quando eu voltar para o segundo juízo, não me verás em
minha glória senão em tua consciência e comprovarás que tudo o que lhe disse
era verdade. Então, te será aplicado o castigo como mereces’. Ao quarto homem,
digo: ‘Como tu não te ocupaste de crer nem quiseste saber, tua própria
escuridão será tua luz e teu coração será iluminado para que compreendas que
meus juízos são verdadeiros, mas, entretanto, tu não alcançarás a luz’. Ao
quinto homem, lhe digo: ‘Farei três coisas por ti. Primeiro, te encherei
internamente com meu calor. Segundo, farei com que tua boca seja mais forte e
mais firme que qualquer pedra, de modo que as pedras que te sejam arremessadas
voltem a quem as atirou. Terceiro, te armarei com minhas armas, de forma que,
nenhuma lança te ferirá senão que tudo cederá diante de ti como a cera frente
ao fogo. Portanto, permaneça forte e resista como um homem! Como um soldado
que, na guerra, espera a ajuda de seu Senhor e luta enquanto tiver fluido de
vida, assim também tu mantenhas-te firme e luta! O Senhor, teu Deus, aquele a
quem ninguém pode resistir, te ajudará. E, como sois poucos em número, vos
honrarei e vos converterei em muitos. Vejam, amigos meus, vejam estas coisas e
as reconheçam em mim e, por isso, mantenham-se diante mim’. As palavras que
agora pronunciei se cumprirão. Aqueles homens nunca entrarão em meu Reino
enquanto eu for o Rei, a menos que emendem seus caminhos. Porque o Céu não será
senão para aqueles que se humilham e fazem penitência”. Então, toda a Corte
respondeu: “Glória a Ti, Senhor Deus, que não tens princípio nem fim!
Palavras
da Virgem Maria aconselhando a esposa como deve amar a seu Filho sobre todas as
coisas e sobre como cada virtude e graça está contida na Virgem Gloriosa.
A Mãe
falou: Eu
tinha três virtudes pelas quais agradei meu Filho. Tinha tanta humildade que
nenhuma criatura, Anjo ou ser humano, era mais humilde que Eu. Em segundo
lugar, eu tinha obediência pela qual me esforcei em obedecer a meu Filho em
todas as coisas. Em terceiro lugar, tinha uma grande caridade. Por esta razão,
recebi honras tríplice de meu Filho. Primeiro, se me deu mais honra que aos
Anjos e aos Homens, de forma que não há virtude em Deus que não se irradie de
mim, apesar de que Ele é a fonte e o Criador de todas as coisas. Mas eu sou a
criatura a qual Ele garantiu a Graça principal em comparação com as demais. Segundo,
em razão da minha obediência, recebi tal poder que, não há pecador, por
manchado que esteja, que não receba o perdão se voltar-se a mim com o propósito
de emenda e coração contrito. Terceiro, em razão de minha caridade, Deus se
aproximou tanto de mim que, qualquer um que veja Deus, vê a mim e, qualquer um
que me veja pode ver a natureza divina e humana em mim e eu em Deus como se
fosse um espelho. Porque quem vê a Deus vê três pessoas nele, e quem me vê, vê
como se fosse três pessoas. Porque Deus me aproximou em alma e corpo de Si Mesmo
e me cumulou de toda virtude, de maneira que não há virtude em Deus que não
brilhe em mim, apesar de que Deus é o Pai e o doador de todas as virtudes. Como
se tratasse de dois corpos conjugados – um recebe o que recebe o outro – assim
fez Deus comigo. Não existe doçura que não esteja em mim. É como alguém que tem
uma noz e compartilha um pedaço com outra pessoa. Minha alma e corpo são mais
puros que o sol e mais limpos que um espelho. Por isso, assim como as Três
Pessoas se veriam em um espelho se se situassem frente a ele, assim o Pai e o
Filho e o Espírito Santo podem ver-se em minha pureza. Uma vez tive meu Filho
em meu ventre e junto à sua natureza divina. Agora, Ele há de se ver em mim com
suas duas naturezas, Divina e Humana, como em um espelho, porque eu fui
glorificada. Por isso, esposa de meu Filho, procure imitar minha humildade e
não ames nada mais que meu Filho.
Palavras
do Filho à esposa sobre como as pessoas se elevam de um pequeno bem ao bem
perfeito e se afundam de um pequeno mal ao maior castigo.
O Filho
disse: Às
vezes, surge um grande benefício a partir de um pequeno bem. A palmeira possui
um odor maravilhoso e dentro de seu fruto, a tâmara, há como uma pedra. Se esta
semente for plantada em um solo fértil, brotará e florescerá, crescendo até
converter-se em uma altíssima árvore. Mas se plantar em solo estéril, secará. O
solo que se deleita no pecado é absolutamente estéril, carente de bens. Se
semeamos aí a semente das virtudes, elas não poderão nascer. Rico é o solo da
mente que conhece seu pecado e se lamenta de tê-lo cometido. Se a ‘pedra’ da
tâmara, ou seja, o pensamento de meu severo juízo e poder, se semear aí,
surgirão três raízes na mente. A primeira raiz é o dar-se conta de que uma
pessoa não pode fazer nada sem minha ajuda. Isto lhe fará abrir a boca para
pedir-me. A segunda raiz é começar a encomendar-me a algumas almas pequenas
pelo bem do meu Nome. A terceira raiz é retirar-se dos próprios assuntos para
servir-me. A pessoa, então, começa a praticar a abstinência, o jejum e a
negação de si mesma: isso é o tronco da árvore. Depois, vão crescendo os ramos
da caridade à medida que um conduz ao bem todos os que podem. Posteriormente,
cresce o fruto quando instrui a outros segundo seu conhecimento e, piedosamente,
trata de ensinar maneiras de dar-me uma maior glória. Esse tipo de fruto é o
mais prazeroso para mim. Desta forma, a partir de um pequeno começo, um se
eleva até a perfeição. Enquanto a semente forma a raiz no princípio mediante a
piedade, o corpo cresce por meio da abstinência, os ramos se multiplicam por
meio da caridade e o fruto cresce através da oração. E, de igual maneira, uma
pessoa se afunda a partir de um leve mal que a leva à condenação e ao castigo.
Sabes qual é a carga mais pesada que impede que as coisas cresçam? Com certeza
é a carga de um menino que está a ponto de nascer, mas que não pode sair e
morre no ventre da mãe, e a mãe sofre uma hérnia da qual morre, e o pai a leva
ao túmulo com a criança dentro e a enterra com a matéria putrefata. Isto é o
que faz o demônio com a alma. A alma imoral é como a esposa do demônio que se
submete à sua vontade em tudo. Ela concebe o filho pelo demônio ao obter prazer
no pecado e regozijar-se nele. Assim como uma mãe concebe e gera o fruto
mediante uma pequena semente que é quase insignificante, igualmente,
deleitando-se no pecado, a alma dá muito fruto ao demônio. Posteriormente, a
força e os membros do corpo se vão formando à medida que se junta pecado sobre
pecado, e aumenta cada dia. A mãe se incha com o aumento dos pecados, quer dar
a luz, mas não pode, porque sua natureza se consumiu pelo pecado e se cansou da
vida. Ela teria preferido continuar pecando, mas não pode, e Deus não o
permite. Então, o medo se faz presente porque ela não pode realizar seu desejo.
A força e a alegria acabam e ela se vê rodeada de preocupações e pesares.
Então, seu ventre arrebenta e ela perde a esperança de fazer o bem. Morre
enquanto blasfema e renega a justiça divina. E, assim, é conduzida pelo pai, o
demônio, até o sepulcro do inferno onde ela permanece enterrada para sempre com
a podridão de seu pecado e com o filho de seu depravado deleite. Vês assim,
como um pecado pequeno de início, chega a aumentar e crescer até a condenação.
Palavras
do Criador à esposa sobre como Ele é agora desprezado e ultrajado por pessoas
que não prestam atenção ao que fez por amor, ao aconselhar-lhes mediante os
profetas e mediante seu próprio sofrimento para sua salvação. Também sobre como
ignoram o castigo que Ele dirigiu aos obstinados, corrigindo-lhes severamente.
Eu sou o Criador e Senhor de todas
as coisas. Eu fiz o mundo e o mundo me evita. Ouço no mundo um ruído parecido
ao das abelhas que acumulam mel sobre a terra. Quando a abelha está voando e
começa a pousar emite um zumbido. Agora, ouço como uma voz que zumbe no mundo e
que diz: Não me importa! De fato, a humanidade não presta atenção nem se
preocupa com o que fiz por amor, aconselhando-se mediante os profetas, pelo meu
próprio ensinamento e mediante meu sofrimento por eles. Não lhes importa o que
fiz em minha ira, ao corrigir os malvados e desobedientes. Só veem que são
mortais e se sentem inseguros sobre a morte, mas não os preocupa. Ouvem e veem
a justiça que infligi ao Faraó e a Sodoma devido ao pecado e ao que se aplicou
sobre outros reis e princesas, permitindo-a diariamente mediante a espada e
outras desgraças, mas parece que estão cegos diante de tudo isso. Assim como as
abelhas, voam por onde querem. De fato, às vezes, voam como se disparassem para
o alto, quando se exaltam a si mesmos pelo orgulho, mas, em seguida, caem de
novo rapidamente quando voltam a sua luxúria e a sua gula. Reúnem mel da terra
para si mesmos, fatigando-se e acumulando para si, premidas pela necessidade do
corpo, mas não para a alma. Buscam o terreno mais que a honra eterna. Convertem
o que é passageiro em um auto-castigo, o inútil em tormento eterno. Entretanto,
pela intercessão de minha Mãe, enviarei minha voz clara a essas abelhas, exceto
a meus amigos que se encontram no mundo somente em corpo, e isso requererá
misericórdia. Se me atenderem, se salvarão.
Resposta
da Mãe, dos Anjos, dos Profetas, dos Apóstolos e dos demônios a Deus, na
presença da esposa, testemunhando sua grandeza na Criação, Encarnação e
Redenção; sobre como as pessoas contradizem hoje todas estas coisas e também
acerca de seu severo juízo sobre eles.
A Mãe de
Deus disse: Esposa de meu Filho, veste-te e permanece firme porque meu
Filho se acerca de ti. Saiba que sua carne foi espremida como a uva em um
lagar, pois, como o homem pecou com todos os membros do seu corpo, meu Filho
realizou a expiação em todos os membros de seu Corpo. Os cabelos Dele foram
arrancados, seus tendões distendidos, suas articulações desencaixadas, seus
ossos deslocados, suas mãos e pés completamente perfurados. Sua mente foi
agitada, seu coração afligido pela dor, seu estômago absorvido até as costas e
tudo isso porque a humanidade havia pecado com cada membro de seu corpo.
Então, o Filho, na presença da Corte Celeste disse: Ainda que
todos saibam, falo para esta esposa minha que está aqui. A vós me dirijo,
Anjos, dizei-me: Quem é que não teve princípio nem terá fim? E quem é que criou
todas as coisas e não foi criado por ninguém? Falem e deem testemunho.
Responderam
os Anjos todos a uma voz: Senhor, esse és Tu e damos testemunho de três
coisas: Primeiro, de que és nosso Criador e de tudo o que há no Céu e na Terra.
Segundo, de que eras e será sem princípio, teu domínio é sem fim e teu poder
eterno. Nada foi feito sem ti e sem ti nada pode existir. Em terceiro lugar,
testemunhamos que vemos em ti toda justiça além de tudo o que foi e será. Todas
as coisas são presentes para ti, sem princípio nem fim.
Depois,
disse aos Profetas e Patriarcas: Quem os conduziu da escravidão à
liberdade? Quem dividiu as águas diante de vós? Quem vos deu a Lei? Profetas,
quem vos deu a inspiração para falar?
Eles
responderam: Tu, Senhor. Tu nos tiraste da escravidão. Tu nos deste a Lei.
Tu inspiraste nosso espírito para falar.
Depois, disse à sua Mãe:
Dá
verdadeiro testemunho de tudo o que sabes de mim!
Ela
respondeu: Antes que o Anjo que me enviaste viesse a mim, eu estava só
em corpo e alma. Quando foram pronunciadas as palavras do Anjo, teu corpo
esteve dentro de mim em suas naturezas, divina e humana, e senti teu Corpo em
meu corpo. Gerei-Te sem dor. Dei-Te à luz sem angústia. Envolvi-Te em panos e
Te alimentei com meu leite. Estive contigo desde o teu nascimento até a tua
morte.
Então, o
Senhor disse aos Apóstolos: Dizei a quem vistes, ouvistes e percebestes
com vossos sentidos!
Eles lhe
responderam: Ouvimos estas palavras e as escrevemos. Ouvimos tuas palavras
prodigiosas quando nos deste a Nova Lei, quando, com uma palavra, deste ordem
aos demônios e eles saíram, quando, com uma palavra, ressuscitaste os mortos e
curaste os enfermos. Vimos-Te em um corpo humano. Vimos teus milagres e a
glória divina de tua natureza humana. Nós Te vimos sendo preso por teus
inimigos e pregado em uma Cruz. Nós Te vimos sofrer da
maneira mais amarga e, depois, ser colocado em um sepulcro. Nós te percebemos
com nossos sentidos quando ressuscitaste. Tocamos teu cabelo e teu rosto.
Tocamos teus membros e tuas partes chagadas. Tu comeste conosco e compartilhaste
nossa conversa. Tu és verdadeiramente o Filho de Deus e o Filho da Virgem.
Também Te percebemos com nossos sentidos quando subiste, em tua natureza
humana, à direita do Pai, onde estás eternamente.
Depois,
disse Deus aos espíritos imundos: Ainda que, em vossas consciências
ocultais a verdade, ordeno que digais quem foi que diminuiu vosso poder. Eles lhe responderam: Como ladrões que não dizem a
verdade, a menos que tenham os pés presos em um duríssimo madeiro, nós não
diríamos a verdade se não fôssemos forçados por Teu tremendo e divino poder. Tu
és quem desceu ao inferno com toda tua força. Tu diminuíste nosso poder no
mundo. Levaste do inferno o que te correspondia por próprio direito”. Então o Senhor disse: “Deem
conta, todos os que têm um espírito e não estão envolvidos por um corpo,
declaro seu testemunho da verdade diante de mim. Mas aqueles que têm um
espírito e um corpo, ou seja, os seres humanos me contradizem. Alguns deles
conhecem a verdade, mas não se importam. Outros não a conhecem e por isso dizem
que não lhes importa e afirmam que tudo é falso.
Ele
disse novamente aos Anjos: Os seres humanos dizem que vosso testemunho é
falso, que eu não sou o Criador e que nem todas as coisas se conhecem em mim.
Portanto, amam mais a criação do que a mim.
Ele
disse aos Profetas: Os homens vos contradizem e dizem que a Lei não
tem sentido, que vós ganhastes liberdade graças a vossa própria coragem e
capacidade, que o Espírito era falso e que vós faláveis por própria vontade.
À sua
Mãe, disse: Alguns dizem que Tu não és Virgem, outros que Eu não me
encarnei em ti, outros conhecem a Verdade, mas não se importam com ela.
Aos
Apóstolos, lhes disse: Os contradizem dizendo que sois mentirosos, que a
Nova Lei é inútil e irracional. Há outros que creem que é verdadeira, mas não
se importam com ela. Agora, pois, Eu pergunto: Quem será seu juiz?
Todos
eles responderam: Tu, Deus, que és sem princípio nem fim. Tu, Jesus
Cristo, que és um com o Pai. O Pai Te outorgou todo o poder de julgar, Tu és
seu Juiz.
O Senhor
respondeu: Eu fui seu acusador e agora sou seu Juiz. Entretanto, apesar
de tudo saber e tudo poder, dá-me vosso veredito sobre eles.
Eles, responderam: Assim
como o mundo inteiro pereceu em seus inícios com as águas do dilúvio,
igualmente agora o mundo merece ser consumido pelo fogo, pois a iniquidade e a
injustiça são agora mais abundantes que outrora.
O Senhor
respondeu: Como sou justo e misericordioso e não faço juízo sem
misericórdia e nem misericórdia sem justiça, uma vez mais enviarei minha
misericórdia ao mundo pela intercessão de minha Mãe e dos meus Santos. Se os
seres humanos não querem escutar, os seguirá uma justiça que será a mais severa.
Palavras
mútuas de louvor que, na presença de Santa Brígida, se dão Jesus e Maria, e
sobre como as pessoas veem agora a Cristo como desleal, desgraçado e indigno
dizendo que Ele é assim e também sobre a eterna condenação dessas pessoas.
Maria
falou a seu Filho dizendo: Bendito seja Tu, que é sem princípio nem
fim! Tu tiveste o corpo mais nobre e belo; Tu foste o mais valente e virtuoso
dos homens, o mais digno do seres.
O Filho
respondeu: As palavras que saem de teus lábios são doces e deleitam o
mais profundo do meu coração como a mais doce das bebidas. Tu és para mim a
mais doce das criaturas. Da maneira que uma pessoa pode ver distintos rostos em
um espelho, mas nenhum lhe agrada mais que o seu próprio, assim, mesmo amando
meus Santos, a amo com particular amor, porque nasci de tua carne. Tu és como
um incenso seleto cujo odor subiu até a divindade e a atraiu para seu corpo.
Esta mesma fragrância elevou teu corpo e tua alma até Deus, onde estás agora
com todo teu ser. Bendita sejas, porque os Anjos se regozijam em tua formosura
e todos os que te invocam, com o coração sincero, ficam libertos graças ao teu
poder. Todos os demônios tremem diante de tua luz e não se atrevem a permanecer
em teu esplendor porque eles sempre querem estar nas trevas. Tu me louvaste por
três qualidades. Disseste que Eu tive o corpo mais nobre, depois afirmaste que
Eu era o mais valente dos homens e, em terceiro, disseste que fui a mais digna
das criaturas. Estas qualidades são contestadas, agora, por aqueles que possuem
um corpo e uma alma. Dizem que Eu possuo um corpo ignóbil, que sou o homem mais
desgraçado e a mais indigna das criaturas. O que é mais ignóbil do que arrastar
o outro para o pecado? Isso é o que dizem de meu corpo: que conduz ao pecado.
Dizem, literalmente, que o pecado não é tão repugnante nem desgosta a Deus
tanto como Eu lhes havia dito. ‘Porque – segundo eles – nada existe a menos que
Deus queira e nada foi criado sem Ele. Por que, então, não poderíamos usar tudo
o que foi criado como nós quisermos? Nossa natural fragilidade assim o exige e
esta é a forma com a qual todos temos vivido antes e ainda vivemos’. Assim é
como, agora, as pessoas se dirigem a mim. Minha natureza humana, com a qual
apareci entre os homens como Deus verdadeiro, é, efetivamente, considerada por
eles como desprezível, apesar do quanto Eu apartei a humanidade do pecado e lhe
mostrei a gravidade disso, como se Eu tivesse incentivado a fazer algo inútil e
torpe. Dizem, literalmente, que nada é nobre exceto o pecado e tudo aquilo que
satisfaça seus caprichos. Também dizem que eu sou o mais desgraçado dos homens.
Quem é mais desgraçado que alguém que, quando diz a verdade, vê sua boca ferida
pelas pedras que lhe arremessam e é golpeado na face e, além de tudo isso,
escuta as censuras das pessoas dizendo-lhe: ‘Se fosse um homem se vingaria’?
Isso é o que fazem comigo. Falo com eles através de sábios doutores e das
Sagradas Escrituras, mas eles dizem que Eu minto. Ferem minha boca com pedras e
com socos cometendo adultério, matando e mentindo. Dizem: ‘Se fosse um grande
homem, se fosse o mais poderoso Deus, se vingaria dessas transgressões’.
Todavia, Eu sofro em minha paciência. Cada dia, ouço-os afirmar que o castigo nem
é eterno nem tão severo como se falou e minhas palavras são consideradas
mentiras. Por último, me veem como a mais indigna das criaturas. O que é mais
desprezível em uma casa do que um cachorro ou um gato que alguém estaria mais
que contente em trocar por um cavalo, se pudesse? Mas as pessoas afirmam que Eu
sou pior que um cachorro. Não me acolheriam se, para isso, tivessem que se
desapegar do cachorro, e antes ainda, me recusariam e me negariam se tivessem
que ficar sem a casinha do cachorro. Existe algo tão insignificante para a
mente humana, que não seja considerado de maior valor ou que seja mais desejado
que Eu? Se me tivessem em maior estima que as demais criaturas, me amariam mais
que tudo. Mas não possuem nada tão insignificante que não o amem mais que a
mim. Apiedam-se de qualquer coisa mais que de mim. Desgostam-se por suas
próprias perdas e pelas de seus amigos. Afligem-se por uma única palavra
ofensiva. Entristecem-se por ofender as pessoas de maior classe que eles, mas
não se importam em ofender a, mim, o Criador de todas as coisas. Quem há, que
seja tão desprezado que não seja ouvido quando pede algo ou que não seja
compensado quando tenha dado algo? Eu sou totalmente indigno e desprezível a
seus olhos, tanto que não me consideram merecedor de nenhum bem, apesar de Eu
lhes ter dado todo o bem. Mãe minha, tu saboreaste mais de minha sabedoria que
os demais e nada mais que a verdade saiu de teus lábios. Tampouco, dos meus
lábios, pode sair outra coisa mais que a verdade. Em presença de todos os Santos,
Eu me justificarei a mim mesmo ante o primeiro homem, o que disse que Eu tinha
um corpo indigno. Demonstrarei que, de fato, possuo o corpo mais nobre, sem
deformidade nem pecado, e esse homem cairá na eterna censura para que todos o
vejam. Já para aquele que disse que minhas palavras eram mentiras e que não
sabia se Eu era ou não Deus, demonstrar-lhe-ei que sou verdadeiramente Deus e
ele deslizará como o barro até o inferno. E ao terceiro, ao que sustentava que
eu era indigno, o condenarei ao castigo eterno, de maneira que nunca veja minha
glória nem sinta meu gozo.
Então,
disse à esposa: Mantenha-te firme no meu serviço! Tu te vês
rodeada por um muro, como dissemos, do qual não podes escapar nem escavar seus
fundamentos. Assume voluntariamente esta pequena tribulação e chegarás a
experimentar o eterno descanso em meus braços! Tu conheces a vontade do Pai,
escutas as palavras do Filho e conheces meu Espírito. Obtenha alegria e consolo
nos diálogos com minha Mãe e meus Santos. Por isso, mantenha-te firme! Do
contrário, chegarás a conhecer essa minha justiça pela qual se verás forçada a
fazer o que, agora amavelmente, eu a estou incentivando que faças.
Palavras
do Senhor à esposa sobre a adesão à Nova Lei; sobre como essa mesma Lei é agora
rejeitada e desdenhada pelo mundo, sobre como os maus sacerdotes não são
sacerdotes de Deus e sim traidores de Deus e sobre a sua maldição e condenação.
Eu sou o Deus que em um tempo fui
chamado de o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Eu sou o Deus
que deu a Lei a Moisés. Esta Lei era como uma vestimenta. Assim como uma
gestante prepara o enxoval de seu bebê, Deus também preparou a Lei, que foi
como a vestimenta, sombra e sinal das coisas por vir. Eu me vesti e me envolvi
a mim mesmo com as vestes da nova Lei. À medida que um menino cresce, suas
roupas são substituídas por outras novas. Da mesma forma, quando as vestimentas
da Lei Antiga estavam a ponto de serem abandonadas, Eu me vesti com a nova
roupa, ou seja, com a Nova Lei e a dei a todos que quisessem ter a mim e ás
minhas vestes. Esta roupa não é muito apertada, nem difícil de vestir, mas é
bem proporcionada em todas as partes. Não obriga as pessoas a jejuar ou a
trabalhar demais, nem a matar-se, nem a fazer nada que esteja além dos limites
de suas possibilidades, mas ela é benéfica para a alma e conduz à moderação e
mortificação do corpo. Pois, quando o corpo adere demais ao pecado, o pecado o
consome. Duas coisas podem ser encontradas na Nova Lei. Primeira, uma prudente
temperança e o reto uso dos bens físicos e espirituais. Segunda, uma grande
facilidade para manter-se na Lei, pelo fato de que, uma pessoa que não pode
manter-se em um estado, pode permanecer em outro. Nela, pode-se ver que a
pessoa que não conseguia viver o celibato, podia porém, viver um matrimônio
honrado, podia levantar outra vez e prosseguir. Entretanto, agora, Minha Lei é
rejeitada e menosprezada. As pessoas dizem que a Lei é muito rígida, pesada e
sem atrativos. Eles a chamam de rígida, porque nos ordena a nos contentarmos
somente com aquilo que é necessário e evitar o que é supérfluo. Porém, eles
querem ter tudo além do razoável e mais do que o corpo pode suportar, como se
fossem animais. É por isso que ela lhes parece ser muito rígida ou rigorosa. Em
segundo lugar, eles dizem que é pesada, pois a Lei diz que a pessoa deve ser
indulgente com os desejos de prazer submetendo-os à razão e em determinados
momentos. Mas, querem ceder aos seus prazeres mais do que lhes convém e além
dos limites. Terceiro, dizem que ela não é atrativa, pois a lei ordena que eles
amem a humildade e atribuam todo bem a Deus. Querem ser orgulhosos e
exaltarem-se a si mesmos pelos presentes bons que Deus lhes deu. É por isso que
ela não é atraente para eles. Veja como eles depreciam as vestes que lhes dei!
Eu acabei com as formas antigas e introduzi as novas para durarem até que Eu
venha para o Juízo, pois os velhos caminhos eram muito difíceis. Porém, eles,
afrontosamente descartaram as vestimentas com as quais Eu cobri a alma, ou
seja, uma fé ortodoxa. Além de tudo isso somaram pecado sobre pecado, porque
também querem me trair. Davi não disse no salmo: “Aquele que comeu de meu pão
tramou a traição contra mim?” Quero que percebas duas coisas nessas palavras.
Primeiro, ele não diz “trama”, mas “tramou”, como se fosse algo já passado.
Segundo, ele aponta somente para um homem como traidor. Da mesma forma, Eu digo
que são aqueles que no presente me traem, não aqueles que foram ou serão, mas
aqueles que ainda estão vivos. Também digo que não se trata de apenas uma
pessoa, mas de muitas. Mas tu deves me perguntar: ‘Não há dois tipos de pão,
aquele invisível e espiritual, do qual os Anjos e os Santos vivem e o outro que
pertence a Terra, pelo qual os homens se alimentam? Mas se os Anjos e os Santos
não desejam nada que não esteja de acordo com a Tua vontade, e os homens não
podem fazer nada que Tu não aceites, como, então, podem Te trair? Na presença
de minha Corte Celestial que sabe e vê todas as coisas em mim, Eu respondo por
teu bem, de forma que possas compreender: De fato, há dois tipos de pão. Um é
aquele dos Anjos, que comem meu pão no meu Reino e são preenchidos com a minha
glória indescritível. Eles não me traem, pois não querem nada que não seja
aquilo que Eu quero. Mas aqueles que comem meu pão no altar me traem. Eu Sou
verdadeiramente esse Pão. É possível perceber três coisas nesse Pão: a forma, o
sabor e a circularidade. De fato, Eu sou esse Pão e, como tal, tenho três
coisas em mim: sabor, forma e circularidade. Sabor, porque tudo é insípido,
insubstancial e carente de sentido sem mim, assim como uma refeição sem pão não
tem sabor e não é nutritiva. Eu também tenho a forma do pão enquanto me
considero da terra. Vim da Mãe Virgem, minha Mãe é a de Adão, Adão é da Terra.
Também tenho circularidade onde não há princípio nem fim, porque Eu não tenho
princípio nem fim. Ninguém pode encontrar um fim ou um princípio na minha
sabedoria, no meu poder e na minha caridade. Eu estou em todas as coisas, sobre
todas as coisas e além de todas as coisas. Mesmo se alguém voasse perpetuamente
como uma flecha, sem parar, nunca encontraria um final ou um limite ao meu
poder e à minha força. Através dessas coisas, sabor, forma e circularidade, Eu
sou o Pão que parece e tem sabor de pão no altar, mas que se transforma em meu
corpo que foi crucificado. Do mesmo modo que qualquer madeira facilmente
inflamável é rapidamente consumida quando se coloca no fogo, e não resta nada
da forma da madeira, pois toda se converte em fogo, assim também acontece quando
estas palavras são ditas: “Este é o meu Corpo”, o que antes era pão
imediatamente se torna meu corpo. Faz-se uma chama, não como o fogo com a
madeira, mas pela minha divindade. Por isso, aqueles que comem meu pão me
traem. Que tipo de crime pode ser mais horrível do que quando alguém se mata a
si mesmo? Ou que traição poderia ser pior do que quando duas pessoas unidas por
um vínculo indissolúvel, como um casal, um trai o outro? O que um dos dois faz
para trair o outro? Ele diz a ela enganando: ‘Vamos a tal e tal lugar de forma
que eu passe meu futuro contigo!’ Ela vai com ele com toda simplicidade, pronta
para satisfazer qualquer desejo de seu marido. Mas, quando ele encontra a
oportunidade e o lugar, lança contra ela três armas traiçoeiras. Ou utiliza
algo suficientemente pesado para matá-la com um único golpe, ou afiado o
suficiente para cortar exatamente seus órgãos vitais, ou, algo asfixiante que
sufoca diretamente nela o espírito de vida. Então, quando ela morre, o traidor
pensa consigo mesmo: ‘Agora eu fiz mal. Se meu crime for descoberto e tornar-se
público, serei condenado à morte’ Então, ele leva o corpo da mulher em um lugar
escondido, de forma que seu pecado não seja descoberto. Esta é a forma com que
sou tratado pelos meus sacerdotes, que são meus traidores. Pois eles e Eu
estamos ligados por uma só vinculo quando eles tomam o pão, e, pronunciando as
palavras, o transformam em meu verdadeiro Corpo, que recebi da Virgem. Nenhum
dos Anjos pode fazer isto. Eu dei somente aos sacerdotes essa dignidade e os
selecionei dentre as mais altas ordens. Mas eles me tratam como traidores.
Fazem uma cara feliz e complacente para mim e me levam a um local escondido
onde possam me trair. Estes sacerdotes fazem cara de felicidade aparentando ser
bons e simples. Eles me levam a uma câmara escondida quando se aproximam do
altar. Ali Eu sou como a noiva ou a recém casada, disposta a realizar todos os
seus desejos e, em vez disso, eles me atraiçoam. Primeiro, me batem com algo
pesado quando o Ofício Divino, que recitam para mim, se torna triste e pesado
para eles. De bom grado diriam cem palavras para o bem do mundo do que uma só
em minha honra. Antes dariam cem lingotes de ouro para o bem do mundo do que um
só centavo em Minha honra. Trabalhariam cem vezes por seu próprio benefício do
que uma só vez em minha honra. Eles me pressionam tanto com este pesado fardo
que é como se eu estivesse morto em seus corações. Em segundo lugar, me
transpassam com uma lâmina afiada que penetra em meus órgãos vitais cada vez que
um sacerdote sobe ao altar, sabendo que pecou e arrependeu-se, mas está
firmemente decidido a voltar a pecar, uma vez que tenha terminado seu Oficio.
Este diz consigo mesmo: Eu de fato me arrependo do meu pecado, mas não penso
deixar a mulher com a qual pequei, até que já não possa mais pecar.’ Isto me
corta como a mais afiada das lâminas. Terceiro, é como se eles asfixiassem meu
Espírito quando pensam: ‘É bom e prazeroso estar no mundo, é bom ser indulgente
com os desejos e não me posso conter. Farei isto enquanto for jovem e quando me
fizer mais velho, irei me abster e emendarei meus caminhos.’ E, através desse
perverso pensamento, eles sufocam o espírito da vida. Mas como isso acontece?
Pois bem, o coração destes se torna tão frio e tíbio em relação a mim e a cada
virtude que nunca mais pode ser estimulado ou renascer no meu amor. Assim como
o gelo não pega fogo, mesmo quando mantido sobre uma chama, mas apenas derrete,
da mesma maneira mesmo que Eu lhes dê a minha graça e eles ouçam palavras de
advertência, não melhoram no modo de vida, mas apenas crescem estéreis e
frouxos a respeito de cada uma das virtudes. E assim me traem, naquilo que
fingem ser simples quando na realidade não o são, e ficam tristes e desgostosos
na hora de dar-me a glória em vez de regozijar-se e também naquilo que
pretendem pecar e continuam pecando até o final. Eles também me escondem, por
assim dizer, e me colocam em um local oculto quando pensam: ‘Sei que pequei.
Mas se me abstiver de realizar o Oficio, ficarei envergonhado e todos irão me
condenar.’ Assim que, imprudentemente, sobem ao altar e tocam a mim, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem. Fico como se estivesse em um lugar escondido, uma vez
que ninguém sabe nem se dá conta de quão corruptos e sem vergonha são. Eu,
Deus, permaneço ali, diante deles, como em uma dissimulação, porque, mesmo
quando o sacerdote é o pior dos pecadores e pronuncia estas palavras “Este é o
meu corpo”, ele ainda consagra meu Verdadeiro Corpo, e Eu, verdadeiro Deus e
Homem, permaneço ali diante dele. Quando me põe em sua boca, entretanto, Eu já
não estou presente para ele na graça das minhas naturezas divina e humana - só
resta para ele a forma e o sabor do pão - não porque Eu não esteja realmente
presente para os maus como para os bons devido à instituição do sacramento, mas
porque os bons e os maus não o recebem com o mesmo efeito. Olhe, estes
sacerdotes não são meus Sacerdotes, e sim na realidade, meus traidores! Eles
também me vendem e me traem como Judas. Olho para os pagãos e judeus, mas não
vejo ninguém pior que estes sacerdotes, já que caíram no pecado de Lúcifer.
Agora, deixe-me dizer-te sua sentença e a quem se assemelham. Sua sentença é a
condenação. Davi condenou aqueles que desobedeciam a Deus, não por ira, ou má
vontade nem por impaciência, senão devido à justiça divina, pois ele era um
honrado profeta e rei. Eu, também, que sou maior que Davi, condeno estes
sacerdotes, não pela ira nem pela má vontade, mas pela justiça.
Maldito seja tudo o que retiram
da Terra para seu próprio proveito, pois eles não louvam seu Deus e Criador que
lhes deu estas coisas.
Maldito seja o alimento e a
bebida que entra em suas bocas e que alimenta seus corpos para que se convertam
em alimento dos vermes e destinem suas almas ao inferno.
Malditos sejam seus corpos que se
levantarão novamente no inferno para ser queimados eternamente. Malditos sejam
os anos de suas vidas inúteis.
Maldita seja sua primeira hora no
inferno, que nunca terminará.
Malditos sejam por seus olhos que
viram a luz do Céu.
Malditos sejam por seus ouvidos
que ouviram minhas palavras e permaneceram indiferentes.
Malditos sejam por seu paladar,
pelo qual experimentaram meus manjares. Malditos sejam por seu tato, pelo qual
me tocaram.
Malditos sejam, por seu olfato,
pelo qual sentiram aromas agradáveis e se descuidaram de mim, que Sou o mais
agradável de todos. Agora, como são, exatamente amaldiçoados? Pois bem, sua
visão está amaldiçoada porque não desfrutará da visão de Deus em si, mas apenas
verão sombras e os castigos do inferno. Seus ouvidos estão amaldiçoados porque
não ouvirão minhas palavras, senão somente o clamor e os horrores do inferno.
Seu paladar está amaldiçoado porque não experimentarão os bens e o gozo
eternos, mas sim a amargura eterna. Seu tato está amaldiçoado porque não conseguirão
tocar-me, senão somente o fogo perpétuo. Seu olfato está amaldiçoado, porque
não sentirão esse doce perfume do meu Reino, que supera todas as essências, mas
terão apenas o fedor do inferno que é mais amargo do que a bílis e pior que o
enxofre. Sejam malditos pela Terra e o Céu e por todas as bestas. Essas
criaturas obedecem e glorificam a Deus, enquanto que eles o evitaram. Por isto
eu prometo pela verdade, Eu que sou a Verdade, que se eles morrem assim, com
essa disposição, nem meu amor nem minha virtude os cobrirá. Ao contrário, serão
condenados para sempre.
Sobre
como, na presença da Corte Celestial e da esposa, a divina natureza fala à
natureza humana contra os Cristãos, assim como Deus falou a Moisés contra o
povo, sobre os sacerdotes condenáveis que amam o mundo e desprezam a Cristo e
sobre seu castigo e maldição.
A Corte
Celestial foi vista no Céu e Deus lhe disse: Observe, pelo bem desta minha
esposa aqui presente, que me dirijo a vós, amigos meus que me estais ouvindo,
vós que sabeis, compreendeis e vedes tudo em mim. Como se alguém falasse
consigo mesmo, minha natureza humana irá falar à minha natureza divina. Moisés
esteve com o Senhor na montanha por quarenta dias e quarenta noites. Quando o
povo viu que já fazia tempo que ele havia partido, pegaram ouro, fundiram-no no
fogo e criaram com ele um bezerro, a que chamaram seu deus. Então, Deus disse a
Moisés: ‘O povo pecou. Eliminá-lo-ei como se apagam as letras de um livro.’
Moisés respondeu: ‘Não o faças, Senhor! Lembra-te de como os guiaste desde o
Mar Vermelho e fizeste maravilhas por eles. Se os eliminas, onde ficará então
tua promessa? Não o faças, eu te rogo, pois teus inimigos dirão: O Deus de
Israel é malvado, conduziu o povo até o mar e o matou no deserto.’ E Deus se
aplacou com estas palavras. Eu sou Moisés, figurativamente falando. Minha
natureza divina fala à minha natureza, como fiz com Moisés, dizendo-lhe: ‘Olha
o que o fez teu povo, veja como me desprezaram! Todos os cristãos morrerão e
sua fé ficará apagada.’ Minha natureza humana responde: ‘Não, Senhor. Lembra-te
como conduzi o povo através do mar por meu sangue, quando fui espancado desde a
planta dos meus pés até a o alto da minha cabeça! Eu lhes prometi a vida
eterna. Tem misericórdia deles, por minha Paixão!’ Quando a natureza divina
ouviu isto, se apiedou dele e lhe disse: ‘Assim seja, pois te foi dado todo
juízo!’ Vejam que amor, meu amigos! Mas agora, em vossa presença, meus amigos
espirituais, meus anjos e santos, e na presença dos meus amigos corpóreos, que
estão no mundo, ainda que só em seu corpo, lamento o fato de que meu povo
esteja acumulando lenha, acendendo uma fogueira e jogando ouro nela, da qual
emerge um bezerro para que eles o adorem como a um deus. Assim como um bezerro,
se sustenta em quatro patas, tem uma cabeça, uma garganta e um rabo. Quando
Moisés se demorou na montanha, o povo dizia: ‘Não sabemos o que lhe aconteceu.’
Lamentaram-se de que lhes houvesse guiado para sair de seu cativeiro e
disseram: ‘Vamos fazer outro deus que nos dirija!’ É assim que estes malditos
sacerdotes estão me tratando agora. Eles dizem: ‘Porque vivemos uma vida mais
austera que os demais? Qual é nossa recompensa? Estaríamos melhor se vivêssemos
sem preocupações, na abundancia, Vamos pois amar o mundo do qual temos certeza!
Apesar de tudo, não estamos seguros de sua promessa.’ Assim juntam lenha, ou
seja, aplicam todos os seus sentidos para amar o mundo. Eles acendem uma
fogueira quando todo seu desejo é para o mundo, e ardem à medida que cresce sua
cobiça em sua mente e acaba resultando em obras. Depois, lhe jogam ouro, que
significa que todo o amor e respeito que deveriam demonstrar por mim, o dedicam
a obter o respeito do mundo. Então, emerge o bezerro, ou seja, o amor total do
mundo, com suas quatro patas de preguiça, impaciência, alegria supérflua e
avareza. Esses sacerdotes, que deveriam ser meus, sentem preguiça na hora de me
honrar, impaciência diante do sofrimento, se excedem em alegrias vãs e nunca se
contentam com o que conseguem. Este bezerro também tem uma cabeça e uma
garganta, ou seja, um desejo de comilança que nunca se aplaca, nem mesmo se
tragasse o mar inteiro. O rabo do bezerro é sua malícia, pois não deixam que
ninguém mantenha sua propriedade, extorquem sempre que podem. Por seu exemplo
imoral e seu desprezo, ferem e pervertem os que me servem. Assim é o amor ao
bezerro que há em seus corações, e nele se regozijam e deleitam. Pensam em mim
do mesmo modo que aqueles fizeram com Moises: ‘Ele se foi há muito tempo’,
dizem. ‘Suas palavras parecem sem sentido e trabalhar para Ele é muito pesado.
Façamos o que nos dê vontade, deixemos que nossas forças e prazeres sejam nosso
deus! Também não se contentam parando aí e esquecendo-me por completo, mas alem
disso me tratam como um ídolo! Os pagãos costumavam adorar pedaços de madeira,
pedras e pessoas mortas, entre outros, adoravam um deus cujo nome era Belzebu.
Seus sacerdotes lhe ofereciam incenso, genuflexões e gritos de louvor. Tudo que
era inútil em sua oferta de sacrifícios se jogava no chão e as aves e moscas o
comiam. Mas os sacerdotes podiam ficar com tudo aquilo que pudesse lhes ser
útil. Então trancavam a porta de seu ídolo e guardavam a chave pessoalmente, para
que ninguém pudesse entrar. É assim que os meus sacerdotes me tratam
atualmente. Oferecem-me incenso, ou seja, falam e pregam belas palavras às
pessoas para conseguir respeito para si mesmos e benefícios temporais, mas não
por amor a mim. Da mesma forma que não se pode prender o aroma do incenso,
ainda que o sintas e o vejas, também suas palavras não têm nenhum efeito nas
almas, para criar raízes e manter-se em seus corações, mas são palavras que só
se ouvem e agradam passageiramente. Oferecem orações, mas nem todas me agradam.
Como quem grita louvores com seus lábios, mas mantem seu coração calado, ficam
perto de mim rezando com os lábios mas no coração vagueiam pelo mundo.
Entretanto, quando falam com uma pessoa da projeção, mantêm sua mente no que
dizem para não cometer erros que poderiam ser observados pelos outros. Na minha
presença, entretanto, os sacerdotes são como homens confusos que dizem uma
coisa com a boca e tem outra no coração. As pessoas que os escutam não podem
ter certeza sobre eles. Dobram seus joelhos diante de mim, ou seja, prometem
humildade e obediência, mas, na verdade são tão humildes quanto Lúcifer.
Obedecem seus próprios desejos, não a mim. Eles também me trancam e guardam a
chave pessoalmente. Abrem-se a mim e me oferecem louvores quando dizem:
‘Faça-se tua vontade na Terra, como no Céu!’ Mas, depois, trancam-me novamente
ao por em pratica seus próprios desejos, enquanto os meus se tornam como os de
um preso e impotente porque não posso ser visto nem ouvido. Eles guardam a
chave pessoalmente, no sentido de que por seu exemplo, também conduzem ao
extravio os que querem fazer a minha vontade, e, se pudessem, evitariam que se
fizesse minha vontade e se a cumprisse, exceto quando esta se ajustasse a seu
próprio desejo. Mantêm para si tudo o que nas ofertas de sacrifício seja útil
para eles e exigem todos os seus direitos e privilégios. De qualquer forma,
parecem considerar inúteis os corpos das pessoas que caem no chão e morrem.
Para eles estão obrigados a oferecer o sacrifício mais importante, mas os
deixam aí às moscas, ou seja, para os vermes. Não se preocupam nem se importam
com os direitos das pessoas ou com a salvação das almas. O que foi dito a
Moisés? ‘Mata os que fizeram este ídolo!’ Alguns foram eliminados, mas não
todos. Consequentemente, minhas palavras virão agora e os matarão, a alguns em
corpo e alma através da condenação eterna; a outros em vida para que se
convertam e vivam; outros ainda pela morte repentina ao tratar-se de sacerdotes
que me são totalmente odiosos. Com que vou compará-los? De fato, eles são como
os frutos das urzes, que por fora são bonitos e vermelhos, mas por dentro estão
cheios de impurezas e espinhos. Da mesma forma, estes homens vêm até mim cheios
de caridade e perante as pessoas parecem puros, mas por dentro estão cheios de
sujeira. Se estes frutos se colocam no solo, deles saem e crescem mais brotos
de urze. Assim, estes homens escondem seu pecado e maldade de coração, como no
solo, e se tornam tão enraizados na maldade que nem sequer se envergonham de
mostrar-se em público e gabar-se de seu pecado. Por isso, outras pessoas não só
encontram ocasião de pecar, mas ficam seriamente manchadas em sua alma,
pensando consigo mesmo: ‘Se os sacerdotes fazem isto, mais lícito será que o
façamos nós.’ Acontece, assim, que não só se assemelham com o fruto da urze,
mas também com seus espinhos. Pensam que não há ninguém mais sábio que eles e
que podem fazer o que quiserem. Portanto, juro por minhas naturezas, divina e
humana, na audiência de todos os anjos, que atravessarei a porta que eles
fecharam para a minha vontade. Minha vontade se cumprirá e a deles será
aniquilada e trancada em um castigo sem fim. Então, assim como foi dito
antigamente, meu juízo começará com meu clero e no meu próprio altar.
Palavras
de Cristo à esposa sobre como Cristo é figurativamente comparado com Moisés
dirigindo o povo fora do Egito, e sobre como os condenáveis sacerdotes que Ele
tinha escolhido no lugar dos profetas como seus melhores amigos gritam agora:
“Afasta-te de nós!”
O Filho
falou:
Antes fui comparado figurativamente com Moisés. Quando ele guiava o povo, a
água se colocou como uma parede à esquerda e à direita. De fato, Eu sou Moisés,
figurativamente falando. Eu conduzi o povo Cristão, ou seja, abri o Céu para
eles e lhes mostrei o caminho. Mas agora escolhi outros amigos para mim, mais
especiais e íntimos que os profetas, na realidade, meus sacerdotes. Estes não
só ouvem e veem minhas palavras quando veem a mim, mas até me tocam com as suas
mãos, o que nenhum dos profetas ou Anjos puderam fazer. Estes sacerdotes, que
escolhi como amigos no lugar dos profetas, me aclamam, mas não com desejo e
amor como fizeram os profetas, mas me aclamam com duas vozes opostas. Não me
aclamam como fizeram os profetas: ‘Vem, Senhor, porque és bom!’ Em vez disso os
sacerdotes me gritam: ‘Afaste-se de nós, pois tuas palavras são amargas, e tuas
obras são pesadas e um escândalo para nós’. Olhe o que dizem estes sacerdotes
condenáveis! Estou diante deles como a mais mansa das ovelhas, eles obtém de
mim lã para suas vestes e leite para seu alimento e, ainda assim, me odeiam por
amá-los tanto. Estou diante deles como um visitante que diz: ‘Amigo, dá-me o
necessário que não o tenho, e receberás a máxima recompensa de Deus!’ Mas em
troca de minha mansa simplicidade, me lançam fora como se fosse um lobo
mentiroso, a espera da ovelha principal. Em vez de dar-me sua acolhida, me
tratam como a um traidor indigno de hospitalidade e se recusam a alojar-me. O
que fará então o visitante rejeitado? Armar-se-á contra o anfitrião que o deixa
fora de sua casa? De forma alguma. Isto não seria justo, pois o proprietário
pode dar ou negar a sua propriedade a quem ele queira. O que fará, pois, o
visitante? Certamente haverá de dizer a quem o rejeita: ‘Amigo, se tu não
queres me receber, irei a outro que tenha pena de mim.’ E, indo a outro lugar
poderá ouvir de um novo anfitrião: ‘Seja bem-vindo, senhor, tudo o que tenho é
teu. Seja tu agora o dono! Eu serei teu servo e teu convidado.’ Estes são os
tipos de casa onde gosto de estar, onde escuto essas palavras. Eu sou como
visitante rejeitado pelos homens. Embora possa entrar em qualquer lugar em
virtude do meu poder, ainda assim, sob o mandato da justiça tão somente entro
onde as pessoas me recebem de boa vontade como a seu verdadeiro Senhor, não
como a um hóspede, e confiam sua própria vontade em minhas mãos.
Palavras
de mútuo louvor da Mãe e do Filho, sobre a graça concedida pelo Filho à sua Mãe
para as almas no purgatório e os que ainda estão neste mundo.
Maria
falou a seu Filho, dizendo: Bendito seja teu nome, meu Filho, bendita e
eterna seja tua divina natureza que não tem principio nem fim! Em tua natureza
divina há três atributos maravilhosos de poder, sabedoria, e virtude. Teu poder
é como a mais ardente das chamas na qual, qualquer coisa firme e forte, assim
também como a palha seca, passará pelo fogo. Tua sabedoria é como o mar, que
nunca se pode esvaziar devido a sua abundancia e que cobre vales e montanhas
quando aumenta e as inunda. É igualmente impossível compreender e penetrar tua
sabedoria. Quão sabiamente criaste a humanidade e a estabeleceste sobre toda
tua criação! Quão sabiamente ordenastes as aves no ar, os animais na terra e
aos peixes no mar, dando a cada um, seu próprio tempo e lugar! Quão
maravilhosamente a tudo dás ou tiras a vida! Quão sabiamente dás conhecimento
aos pequeninos e o tiras dos soberbos! Tua virtude é como a luz do sol, que
brilha no céu e enche a terra com seu resplendor. Tua virtude, desse modo,
satisfaz de alto a baixo e preenche todas as coisas. Por isso, bendito sejas,
meu Filho, que és meu Deus e meu Senhor!
O Filho
assim respondeu: Minha querida Mãe, tuas palavras me soam doces
pois procedem de tua alma. És como a aurora que avança serenamente. Tu iluminas
os Céus; tua luz e tua serenidade ultrapassam a de todos os anjos. Por tua
serenidade, atraíste a ti o verdadeiro sol, ou seja, a minha natureza divina,
tanto que o sol da minha divindade veio até a ti se instalou em ti. Por tua
pureza tu recebeste a pureza do meu amor mais que todos, e por teu esplendor
foste iluminada em minha sabedoria, mais do que todos. As trevas foram lançadas
fora da terra e todos os Céus foram iluminados através de ti. Em verdade Eu
digo que tua pureza, mais agradável para mim do que a de todos os anjos, atraiu
tanto a minha divindade para Ti, que foste inflamada pelo calor do Espírito.
Nele, Tu geraste o Verdadeiro Deus e Homem, resguardado em teu ventre, pelo
qual a humanidade foi iluminada e os anjos cheios de alegria. Assim, bendita
sejas por Teu bendito Filho! E por isso nenhum pedido teu chegará a mim sem ser
ouvido. Qualquer um que peça misericórdia através de ti, e tenha a intenção de
emendar seus caminhos, conseguirá graça. Como o calor vem do sol, igualmente, toda
a misericórdia será dada através de ti. És como um abundante manancial do qual
mana toda misericórdia para os infelizes.
Por sua
vez, a Mãe respondeu ao Filho: Teus sejam todo poder e glória, meu Filho! És
meu Deus, um Deus de misericórdia. Todo o bem que tenho vem de ti. És como uma
semente que, mesmo sem ser semeada cresceu e deu centenas e milhares de frutos.
Toda misericórdia emana de ti, e ainda que sendo incontável e indizível, pode
ser simbolizada pelo número cem, que representa a perfeição, pois todo o
perfeito e a perfeição se devem a ti.
O Filho,
respondeu à Mãe: Mãe, me comparaste corretamente a uma semente que
nunca foi semeada e, mesmo assim cresceu, pois em minha natureza divina eu vim
a ti e minha natureza humana não foi semeada por inseminação alguma, e mesmo
assim cresci em ti, e a misericórdia emanou de ti para todos. Tens falado
corretamente. Agora, pois, porque extrais de minha misericórdia pela doçura de
tuas palavras, pede-me o que desejas e se te dará.
A Mãe
acrescentou: Meu Filho, por haver conseguido a misericórdia, peço-te que tenhas
misericórdia dos infelizes e os ajudes. Afinal de contas, há quatro lugares. O
primeiro é o Céu, onde os Anjos e a alma dos Santos não precisam de mais nada
além de ti, e te têm pois possuem todo o bem em ti. O segundo lugar é o
inferno, e aqueles que estão lá, estão repletos de maldade e por isso,
excluídos de qualquer piedade. Assim, nada bom pode entrar neles nunca mais. O
terceiro é o lugar daqueles que são purificados. Estes precisam de uma tripla
misericórdia, pois estão triplamente afligidos. Sofrem em sua audição, pois não
ouvem nada mais que lamentos, dor e miséria. São afligidos em sua visão pois
não veem mais que sua própria miséria. São afligidos em seu tato, pois somente
sentem o calor insuportável do fogo terrível de seu angustioso sofrimento.
Assegura-lhes tuas misericórdias, Senhor meu, Filho meu, por meus rogos!
Jesus
assim respondeu: Com gosto lhes garantirei uma tríplice
misericórdia por ti. Em primeiro lugar, sua audição será aliviada, sua vista
será mitigada, e seu castigo será reduzido e suavizado. Além disso, a partir
deste momento, aqueles que se encontram no maior dos castigos do purgatório,
passarão para a fase intermediaria, e os que estejam na fase intermediaria,
avançarão para a punição mais leve. Os que estejam na punição mais leve,
cruzarão para o descanso.
A Mãe
respondeu: Louvor e honra a ti meu Senhor! O quarto lugar é o mundo. Seus habitantes
precisam de três coisas: primeiro, contrição por seus pecados; segundo,
reparação; terceiro, força para fazer o bem.
O Filho
respondeu: A todo o que invoque meu nome e tenha esperança em Ti, junto
com o propósito de emenda por seus pecados, serão dadas estas três coisas, alem
do Reino dos Céus. Tuas palavras são tão doces para mim, que não posso negar-te
nada do que me peças, pois tu não queres nada mais do que o que Eu quero. És
como uma chama brilhante e ardente, pela qual as tochas apagadas se reacendem,
e uma vez acesas, crescem em força. Graças a teu amor, que se elevou até meu coração
e me atraiu a ti; aqueles que estão mortos pelo pecado reviverão e os que
estejam tíbios e escurecidos como a fumaça negra, se fortalecerão em meu amor.
Palavras
da Mãe de louvor ao Filho e sobre como o Filho glorioso compara sua doce Mãe
com um lírio do campo
A Mãe
falou a seu Filho, dizendo: “Bendito seja teu nome, meu Filho, Jesus
Cristo! Louvores à tua natureza humana, que supera toda a criação! Glória a tua
natureza divina acima de toda a bondade! Tua natureza divina e a humana são um
único Deus.”
O Filho
respondeu: Minha Mãe, és como uma flor que cresceu em um vale em cujo
redor há cinco montanhas." A flor brotou de três raízes, tendo uma haste
perfeita sem nós. Esta flor tem cinco pétalas suavíssimas. O vale e sua flor
ultrapassam as cinco montanhas e as pétalas da flor se estendem sobre cada
altura do céu, e sobre todos os coros de anjos. Tu, minha querida Mãe, és esse
vale em virtude da grande humildade que possuis em comparação com os demais.
Este, ultrapassou as cinco montanhas. A primeira montanha foi Moisés, devido ao
seu poder, pois manteve o poder sobre meu povo através da Lei, como se o
sustentasse firme com seu pulso. Porém, tu mantiveste o Senhor de toda Lei em
teu ventre e, por isso tu és mais alta que essa montanha. A segunda montanha
foi Elias, tão santo que seu corpo e sua alma ascenderam ao lugar sagrado. Tu,
porém querida Mãe foste assunta em alma ao trono de Deus sobre todos os coros
dos anjos e teu puríssimo corpo está ali junto à tua alma. Tu, portanto, minha
querida Mãe, és mais alta que Elias. A terceira montanha foi a grande força que
possuía Sansão em comparação com outros homens. Contudo, o diabo derrotou-o
através da astúcia. Mas tu venceste o demônio por tua força. Portanto, és mais
forte que Sansão. A quarta montanha foi Davi, um homem de acordo com meu
coração e vontade, que, apesar disso, caiu em pecado. Mas tu, minha Mãe, te
submeteste completamente à minha vontade e nunca pecaste. A quinta montanha foi
Salomão, que estava cheio de sabedoria mas se tornou tolo. Tu ao contrário,
Mãe, estavas cheia de toda sabedoria e nunca foste ignorante nem enganada. És,
pois, mais alta que Salomão. A flor brotou de três raízes no sentido de que
possuíste três qualidades: obediência, caridade e conhecimento divino. Destas
três raízes brotou a haste mais perfeita, sem um único nó, ou seja, sua vontade
nunca se desviou para nada além da minha vontade. A flor também tinha cinco
pétalas mais altas que todos os coros dos anjos. Tu, minha Mãe, és de fato a
flor com estas cinco pétalas. A primeira pétala é sua nobreza, que é tão
grande, que meus Anjos, que são nobres em minha presença, ao observar tua
nobreza, a veem acima deles e mais exaltada que sua própria santidade e
nobreza. Tu és, portanto, mais alta que os Anjos. A segunda pétala é a tua
misericórdia, que foi tão grande que, quando viste a miséria das almas, te
compadeceste delas e sofreste enormemente a dor da minha morte. Os Anjos estão
cheios de misericórdia, contudo nunca sofrem dor. Tu, entretanto, amada Mãe,
tiveste piedade dos miseráveis uma vez que experimentaste toda a dor de minha
morte e, por essa misericórdia preferiste sofrer a dor do que livrar-te dela. É
por isso que a tua misericórdia ultrapassa a de todos os anjos. A terceira pétala
é tua doce amabilidade. Os Anjos são doces e amáveis, desejam o bem para todos
mas tu, minha muito querida Mãe, tiveste tão boa vontade como um anjo, em tua
alma e em teu corpo antes de tua morte, e fizeste o bem para todos. E agora não
recusas atender a ninguém que reze razoavelmente para seu próprio bem. Assim,
tua amabilidade é mais perfeita que a dos Anjos. A quarta pétala é a sua
pureza. Cada um dos anjos admira a pureza dos demais e eles admiram a pureza de
todas as almas e de todos os corpos. Entretanto, eles veem que a pureza da tua
alma está acima do resto da criação e que a nobreza do teu corpo supera a de
todos os seres humanos que foram criados. Assim, tua pureza ultrapassa a de
todos os anjos e toda a criação. A quinta pétala é teu gozo divino, pois, nada
te deleitou mais que Deus, assim como nada deleita os anjos mais que Deus. Cada
um deles conhece e conheceu seu próprio gozo dentro de si. Mas quando viram teu
gozo em Deus dentro de ti, lhes pareceu a cada um em sua consciência que sua alegria
resplandecia neles como uma luz no amor de Deus. Perceberam teu gozo como uma
grandíssima fogueira, ardendo com o mais aceso dos fogos com labaredas tão
altas que chegavam perto da minha divindade. Por isso, dulcíssima Mãe, tua
divina alegria ardeu muito acima dos coros dos Anjos. Esta flor, com estas
cinco pétalas de nobreza, misericórdia, amabilidade, pureza e supremo gozo, era
dulcíssima em todos os sentidos. Quem queira provar sua doçura deve se
aproximar dela e recebê-la dentro de si. Isto foi o que tu fizeste, boa Mãe.
Porque foste tão doce com meu Pai que ele recebeu todo teu ser no seu Espírito
e tua doçura o deleitou mais que nenhuma outra. Pelo calor e energia do sol, a
flor também gera uma semente e dela cresce um fruto. Abençoado seja este sol,
ou seja, minha divina natureza que adotou a natureza humana do teu ventre
virginal! Como uma semente faz brotar as mesmas flores em qualquer lugar que
sejam semeadas, assim os membros de meu corpo são como os teus em forma e
aspecto, embora eu tenha sido homem e tu mulher virgem. "Este vale, com
sua flor, foi elevado sobre todas as montanhas quando o teu corpo, junto a tua
santíssima alma, foi elevado sobre todos os coros dos Anjos.
Palavras
de louvor e orações da Mãe a seu Filho para que suas palavras se difundam por
todo o mundo e deixem raízes nos corações de seus amigos. Sobre como a própria
Virgem é maravilhosamente comparada a uma flor que cresce em um jardim, e sobre
as palavras de Cristo dirigidas através da esposa ao Papa e a outros prelados
da Igreja.
A
bendita Virgem falou ao Filho dizendo-lhe: Bendito sejas Filho meu e Deus
meu, Senhor dos anjos e Rei de glória! Rogo que as palavras que pronunciaste
deixem raízes nos corações de teus amigos e se fixem em suas mentes como o breu
com o qual foi untada a arca de Noé, que nem as tempestades nem os ventos
puderam dissolver. Que se espalhem pelo mundo como ramos e doces flores, cuja
essência se impregna por toda a parte. Que também deem frutos e cresçam doces
como a tâmara cuja doçura deleita a alma sem medida.
O Filho
respondeu: Bendita sejas tu, minha muito querida Mãe!" Meu anjo
Gabriel te disse: 'Bendita sejas Maria sobre todas as mulheres!' Eu te dou
testemunho de que és bendita e mais santa que todos os coros dos anjos. És como
uma flor de jardim rodeada de outras flores perfumadas, mas que a todas supera
em perfume, pureza e virtude. Estas flores representam todos os eleitos, desde
Adão até o fim do mundo. Foram plantadas no jardim do mundo, e floresceram em
diversas virtudes, mas entre todos os que foram e que ainda serão, tu foste a
mais excelente em fragrância de uma vida santa e humilde, na pureza de uma
gratíssima virgindade e na virtude da abstinência. Dou testemunho de que foste
mais que um mártir em minha Paixão, mais que um confessor em tua abstinência,
mais que um anjo em tua misericórdia e boa vontade. Por ti, eu fixarei minhas
palavras, com o mais forte dos breus nos corações de meus amigos. Eles se
espalharão como flores perfumadas e darão os frutos como a mais doce e
deliciosa das palmeiras.
Então, o
Senhor falou à esposa: Diz a teu amigo que deve procurar repetir estas
palavras quando escrever a teu pai, cujo coração está de acordo com o meu e,
ele as dirigirá ao arcebispo e depois a outro bispo. Quando estes estiverem
completamente informados, ele há de enviá-las a um terceiro bispo".
Dize-lhe de minha parte: 'Eu sou teu Criador e o Redentor de almas. Eu sou Deus
a quem tu amas e honras sobre tudo. Observa e considera como as almas que
redimi com meu sangue são como as almas daqueles que não conhecem a Deus, como
foram presas do demônio de forma tão espantosa, que ele as castiga em cada
membro de seu corpo como se as passassem por uma prensa de uvas. Portanto, se
em algo sentes minhas feridas em tua alma, se meus açoites e sofrimento
significam algo para ti, então mostre, com obras, o quanto me amas! Faça que as
palavras da minha boca sejam conhecidas publicamente e traga-as pessoalmente
até a cabeça da Igreja! Eu te darei meu Espírito, de forma que, onde quer que
haja diferenças entre duas pessoas, tu as possas unir em meu nome e através do
poder que se te dá se elas acreditarem. Como evidência adicional de minhas
palavras, apresentarás ao Pontífice os testemunhos daquelas pessoas que provam
e se deleitam com elas. Pois minhas palavras são como gordura que se derrete
mais rapidamente quanto mais quente esteja em seu interior. Lá, onde não há
calor, são rejeitadas e não chegam ao interior das pessoas. As minhas palavras
são assim, porque quanto mais as ingere e as mastiga uma pessoa com caridade
fervente por mim, mais se alimenta com a doçura do desejo do Céu e de amor
interior e mais arde por meu amor. Mas aqueles que não gostam de minhas
palavras são como se tivesses gordura em sua boca. Quando a provam, cospem-na e
a pisoteiam no chão. Algumas pessoas desprezam assim minhas palavras, porque
não possuem gosto algum pela doçura das coisas espirituais. "O dono da
terra, a quem escolhi como um dos meus membros e o fiz verdadeiramente meu, te
auxiliará cavalheirescamente e te abastecerá das provisões necessárias para tua
viagem, com meios corretamente adquiridos.
Palavras
de mútuas bênção e louvor da Mãe e do Filho, e sobre como a Virgem é comparada
à arca onde foram guardados o cajado, o maná e as tabuas da Lei. Muitos
detalhes maravilhosos estão presentes nesta imagem.
Maria
falou ao Filho: Bendito és, Filho meu, meu Deus e Senhor dos
anjos"! És aquele cuja voz ouviram os Profetas, e cujo corpo viram os
Apóstolos, aquele a quem perceberam os judeus e teus inimigos. Com tua
divindade e humanidade e com o Espírito Santo, És um em Deus. Os Profetas
ouviram o Espírito, os Apóstolos viram a glória da tua divindade e os judeus
crucificaram tua humanidade. Portanto, bendito sejas, sem principio nem fim!
O Filho
respondeu: Bendita sejas tu, pois és Virgem e Mãe! És a arca do Antigo
Testamento, na qual havia estas três coisas: o cajado, o maná e as tabuas. Três
coisas foram feitas pelo cajado: primeiro, se transformou em serpente sem
veneno. Segundo, o mar foi dividido por ele. Terceiro, fez com que a água
brotasse da pedra. Este cajado é um símbolo meu, que repousei em teu ventre e
assumi de ti a natureza humana. Primeiro, sou tão assustador para meus inimigos
como o foi a serpente para Moisés. Eles fogem de mim assim como de uma
serpente; aterrorizam-se ao ver-me e detestam-me como a uma serpente, embora eu
não tenha veneno de maldade e seja cheio de misericórdia. Permito que se apoiem
em mim, se desejarem. Voltarei a eles, se me pedirem. Correrei para eles, se me
chamarem, como uma mãe que corre para seu filho perdido e encontrado. Se
clamarem, eu lhes mostrarei minha misericórdia e perdoarei os seus pecados.
Faço tudo isso por eles, e ainda me rejeitam como a uma serpente. Em segundo
lugar, o mar foi dividido por este cajado, no sentindo de que o caminho para o
Céu, que se havia fechado pelo pecado, foi aberto por meu sangue e minha dor. O
mar foi, de fato, aberto, e o que havia sido inacessível se converteu em
caminho quando a dor em todos os meus membros alcançou meu coração que se
partiu pela violência da dor. Então, quando o povo foi conduzido para o mar,
Moisés não o levou diretamente para a terra prometida, mas sim para o deserto,
onde podiam ser testados e instruídos. Agora, também, uma vez que a pessoa
tenha aceitado a fé e meu comando, não são levados diretamente ao Céu, mas, é
necessário que os seres humanos sejam testados no deserto, ou seja, no mundo,
para ver até que ponto amam a Deus. Além disso, o povo provocou Deus no deserto
por três coisas: primeiro, porque fizeram um ídolo para si mesmos e o adoraram;
segundo, pelo desejo de comer carne que haviam tido no Egito; terceiro, por
soberba, quando quiseram subir e lutar contra seus inimigos sem a aprovação de
Deus. Ainda agora, as pessoas no mundo pecam contra mim da mesma maneira. Primeiro,
adoram um ídolo, porque amam o mundo e tudo o que há nele mais que a mim, que
sou o Criador de tudo. De fato, Seu deus é o mundo, e não Eu. Como disse em meu
Evangelho: ‘Ali onde está o tesouro de um homem, está seu coração.’ Seu tesouro
é o mundo porque tem aí seu coração e não em mim. Portanto, da mesma forma que
aqueles pereceram no deserto pela espada, que atravessou seu corpo, igualmente
estes cairão pela espada do castigo eterno atravessando sua alma e viverão em
eterna condenação. Segundo, pecaram por concupiscência da carne. Dei à
humanidade tudo que precisa para uma vida honesta e moderada, mas eles desejam
possuir tudo sem moderação nem discrição. Se sua constituição física
suportasse, estariam, continuamente tendo relações sexuais, bebendo sem
restrição, cobiçando sem medida e, tão rápido quanto pudessem pecar, nunca
desistiriam de fazê-lo. Por esta razão, a estes ocorrerá o mesmo que àqueles do
deserto: morrerão repentinamente. O que é o tempo desta vida comparado ao da
eternidade se não um só instante? Portanto, devido à brevidade desta vida, eles
terão uma rápida morte física, mas viverão eternamente em dor espiritual.
Terceiro, pecaram no deserto por orgulho, porque desejaram lançar-se na batalha
sem a aprovação de Deus. As pessoas desejam ir ao Céu por seu próprio orgulho.
Não confiam em mim, apenas nelas mesmas, fazendo o que querem e abandonando-me.
Portanto, da mesma forma que aqueles outros foram mortos por seus inimigos,
assim também estes serão mortos em sua alma, pelos demônios e seu tormento será
interminável. Assim, me odeiam como a uma serpente, adoram um ídolo em meu
lugar e amam seu próprio orgulho em lugar de minha humildade. Entretanto, sou
tão piedoso que se voltarem-se para mim com contrição, me voltarei para eles
como um pai dedicado e lhes abrirei os braços. Em terceiro lugar, a rocha
verteu água por meio deste cajado. Esta rocha é o endurecido coração humano.
Quando é perfurado por meu temor e amor, fluem em seguida as lágrimas de
contrição e a penitência. Ninguém é tão indigno nem tão mau que seu rosto não
se inunde de lágrimas nem se agitem todos os seus membros com a devoção, quando
regressa a mim, quando reflete minha Paixão em seu coração, quando recobra a
consciência do meu poder, quando pensa em como minha bondade faz com que a terra
e as árvores deem frutos. Na arca de Moisés, em segundo lugar se conservou o
maná. Assim também em ti, minha Mãe e Virgem, se conserva o Pão dos anjos, das
almas santas e dos justos, aqui na Terra, a quem nada agrada mais que a minha
doçura, para quem tudo no mundo está morto, e quem, se fosse minha vontade, com
gosto viveriam sem nutrição física. Na arca, em terceiro lugar, estavam as
tabuas da Lei. Também em ti encontra-se o Senhor de todas as Leis. Por isso,
bendita sejas sobre todas as criaturas no Céu e na Terra! Então, se dirigiu à esposa, dizendo: “Diga
três coisas aos meus amigos. Quando habitei fisicamente no mundo, temperei
minhas palavras de tal forma que fortaleceram os bons e os tornaram mais
fervorosos. Também os maus se fizeram melhores, como foi claramente o caso de
Maria Madalena, Mateus e muitos outros. De novo, temperei minhas palavras de
tal forma que meus inimigos não foram capazes de diminuir sua força. Por isso,
que aqueles aos quais são enviadas minhas palavras trabalhem com fervor, de
modo que os bons se tornem mais ardentes em sua bondade por minhas palavras, os
maus se arrependam de sua maldade; que evitem que meus inimigos obstruam minhas
palavras.". Não faço mais dano ao demônio do que aos anjos do Céu. Pois,
se quisesse, poderia muito bem pronunciar minhas palavras de modo que todo
mundo as ouvisse. Sou capaz de abrir o inferno para que todos vejam seus
castigos. Entretanto, isso não seria justo, pois as pessoas então me serviriam
por medo, quando devem me servir por amor. Pois só a pessoa que ama pode entrar
no Reino dos Céus. Além disso, eu estaria prejudicando o diabo, se levasse
comigo os escravos que ele adquiriu vazios de boas obras. Também prejudicaria
os anjos do Céu, se o espírito de uma pessoa imunda se pusesse no mesmo nível
de outra que está pura e fervorosa no amor. Consequentemente, ninguém entrará
no Céu, exceto aqueles que tenham sido provados como ouro no fogo do purgatório
ou aqueles que tenham provado a si mesmo ao longo do tempo, fazendo boas obras
na Terra, de tal modo que não fique neles mancha alguma pendente de ser
purificada. Se tu não sabes a quem hão de dirigir-se minhas palavras, vou te
dizer. Àquele que deseja obter méritos através das boas obras para vir ao Reino
dos Céus ou quem já o mereceu por boas obras do passado. Minhas palavras hão de
ser entregues aos que são assim e hão de penetrar neles. Àqueles que sentem um
gosto por minhas palavras e esperam humildemente que seus nomes sejam inscritos
no livro da vida, conservam minhas palavras. Aqueles que não a saboreiam, no
princípio as consideram, mas depois, as rejeitam e as vomitam imediatamente.
As palavras de um Anjo à esposa
sobre se o espírito de seus pensamentos é bom ou ruim, sobre como há dois
espíritos, um não criado e um criado e sobre suas características.
Um anjo
falou à esposa dizendo: Há dois espíritos, um não criado e um criado. O
não criado possui três características. Em primeiro lugar, é quente, em segundo
lugar, doce e em terceiro lugar, puro. Primeiro, emite calor não das coisas
criadas, mas de si mesmo, pois, junto com o Pai e o Filho, ele é o Criador de
todas as coisas e o todo poderoso. Ele emite calor sempre que a alma inteira se
inflama pelo amor de Deus. Segundo, é doce, quando nada agrada e deleita a alma
mais que Deus e o conjunto de suas obras. Terceiro, é puro e nele não se pode
achar pecado nem deformidade, nem corrupção ou mutabilidade". Ele não
emite calor como fogo material ou como o sol visível, que faz as coisas
derreterem. Seu calor é o amor interno e o desejo da alma, que a plenifica e a
engrandece em Deus. Ele é doce para a alma, não da mesma forma que é o vinho ou
o prazer sensual ou algo que seja doce no mundo. A doçura do Espírito não se
pode comparar com nenhuma doçura temporal e é inimaginável para aqueles que não
a tenham experimentado. Terceiro, o Espírito Santo é tão puro quanto os raios
do sol, onde nenhuma impureza pode ser encontrada. O outro, o espírito criado,
também possui três características. Ele é ardente, amargo, e sujo. Primeiro,
queima e consome como o fogo, pois incendeia a alma que possui, com o fogo da
luxúria e o desejo depravado, de forma que a alma não pode nem pensar nem
desejar outra coisa além de satisfazer seu desejo, até ao ponto de que, como
resultado disso, sua vida temporal às vezes perde a honra e a dignidade.
Segundo, é tão amargo como o fel, pois, ao inflamar a alma com sua luxúria, os
outros prazeres se lhe parecem insossos e os gozos eternos lhe parecem tolices.
Tudo o que tem a ver com Deus e que a alma haveria de fazer por Ele, se torna
amargo e tão abominável como um vômito de bílis. Terceiro, é imundo, uma vez
que deixa a alma tão vil e propensa ao pecado, que não se envergonha de pecar
nem desistiria de fazê-lo se não fosse porque teme ver-se envergonhada diante
de outras pessoas, mais que diante de Deus. É por isso que este espírito arde
como fogo, pois queima pela iniquidade e incendeia a outros juntamente com ele.
Também é por isso que este espírito é amargo, porque todo o bom se lhe parece
amargo e deseja tornar o bem em amargura para os outros como faz consigo mesmo.
Também é por isso que é imundo, porque se deleita na corrupção e busca tornar
os outros como a si próprio. Agora, tu podes me perguntar e dizer: “Acaso não
és também tu um espírito criado assim como esse? Por que, não és igual?"
Eu responderei: Claro que sou criado pelo mesmo Deus que também criou o outro
espírito, pois há somente um Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, e estes não são
três deuses mas um só Deus. Ambos fomos perfeitos e criados por Deus, porque
Deus tão somente criou o bem. Mas eu sou como uma estrela, pois tenho me mantido
fiel na bondade e no amor de Deus, em quem fui criado e ele é como o carvão
porque abandonou o amor de Deus. Por isso, assim como uma estrela tem brilho e
esplendor e o carvão é negro, um Santo Anjo, que é como uma estrela, tem seu
esplendor, ou seja, o Espírito Santo. Pois tudo o que tem, o tem de Deus, do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Cresce inflamado no amor de Deus, brilha em
seu esplendor se adere a Ele e se conforma com sua vontade sem querer nada mais
do que Deus quer. É por isso que ele arde como uma labareda, é por isso que é
puro. O demônio é como um carvão feio, mais feio do que qualquer outra
criatura, pois, só pelo fato de ter sido o mais belo dos Anjos, tornou-se o
mais feio entre todos, justamente por opor-se ao seu Criador. Assim como o anjo
de Deus brilha com a luz de Deus e se inflama incessantemente em seu amor,
assim o demônio está sempre se queimando na angústia de sua maldade. Sua
maldade é insaciável, assim como a graça e a bondade do Espírito Santo são
indescritíveis. Não há ninguém no mundo tão arraigado ao demônio, que o bom
Espírito não o visite alguma vez e mova seu coração. Da mesma forma, não há
ninguém tão bom que o demônio não tente tocá-lo com a tentação. Muitas pessoas
boas e justas são tentadas pelo demônio com a permissão de Deus. Isto não é por
maldade alguma de sua parte, mas para a sua maior glória. O Filho de Deus, uno
em divindade com o Pai e com o Espírito Santo, foi tentado na natureza humana
que tomou. Quanto mais seus eleitos são postos à prova para uma recompensa
maior! Novamente, muitas pessoas boas, às vezes, caem no pecado e sua
consciência se escurece pela falsidade do demônio, mas elas voltam a se
levantar robustecidas e se mantêm mais fortes do que antes pelo poder do
Espírito Santo. Entretanto, não há ninguém que não perceba em sua consciência,
se a sugestão do demônio conduz à deformidade do pecado ou ao bem, se somente
pensassem nisso e examinassem cuidadosamente. E assim, esposa do meu Senhor, tu
não hás de duvidar se o espírito de seus pensamentos é bom ou mau. Pois a tua
consciência te diz quais coisas hás de ignorar e quais escolher. O que há de
fazer uma pessoa que está cheia do demônio se, por esta razão, o Espírito bom
não pode entrar nela? Ela deve fazer três coisas. Há de fazer uma confissão
clara e completa de seus pecados, na qual, mesmo se ela não estiver totalmente
arrependida, devido à dureza de coração, mesmo assim se beneficie disso, na
medida em que –devido a sua confissão- o demônio lhe dê certa trégua e saia do
caminho do Espírito Santo. Segundo, há de ser humilde, decidir reparar os
pecados cometidos e fazer todo o bem que possa e então o demônio começará a
abandoná-la. Terceiro, para conseguir que volte a ela o bom Espírito, deve
suplicar a Deus, em humilde oração, e com verdadeiro amor, arrepender-se dos
pecados cometidos, já que o amor de Deus mata o demônio. O demônio é tão
invejoso e malicioso que preferiria morrer cem vezes a ver alguém fazer uma boa
ação por pequena que seja, por amor a Deus.
Então, a
bendita Virgem falou à esposa dizendo: Nova esposa de meu Filho,
arruma-te, coloque seu broche, ou seja, a Paixão de meu Filho!
Ela lhe respondeu: Minha Senhora, coloque-o tu
mesma!
E ela disse: Claro que o farei. Também quero que saibas
como meu Filho estava disposto e por que os pais o almejaram tanto. Ele estava,
como se disséssemos, entre duas cidades. Uma voz, da primeira cidade lhe chamou
dizendo: Tu, que estás aí, entre as cidades, és um homem sábio, pois sabes como
proteger-te dos perigos iminentes. Também és forte o bastante para resistir aos
males ameaçadores. Além disso és valente, porque nada temes. Temos estado
desejando-te e esperando-te! Abra nossa porta! Os inimigos a estão bloqueando para
que não possa ser aberta!" Uma voz da segunda cidade foi ouvida dizendo: Tu,
homem humaníssimo e fortíssimo escute nossas queixas e gemidos! Considera nossa
miséria e nossa penúria! Estamos sendo podados como a erva cortada por uma
foice. Estamos enfraquecidos, separados de toda bondade e toda nossa força nos
abandonou. Vinde a nós e salvai-nos, pois só a ti temos esperado, temos posto
nossa esperança em ti como nosso libertador! Vinde e acabai com nossa penúria,
transformai em gozo nossos lamentos! Sede nossa ajuda e nossa salvação! Vinde
digníssimo e sacratíssimo corpo, que procede da puríssima Virgem!’ Meu Filho
ouviu estas duas vozes vindas das duas cidades, ou seja, do Céu e do Inferno.
Por isso, em sua misericórdia, abriu as portas do inferno por meio de sua
amarga paixão e o derramamento de seu sangue, e resgatou dali os seus amigos.
Ele também abriu o Céu e deu alegria aos anjos ao conduzir para ali os amigos
que havia resgatado do inferno. “Filha minha, pensa nestas coisas e mantenha-as
sempre diante de ti!
Sobre
como Cristo é comparado a um poderoso senhor que constrói uma grande cidade e
um lindo palácio, que representam o mundo e a Igreja, e sobre como os juízes, e
trabalhadores da Igreja de Deus se converteram em um arco inútil.
Sou como um poderoso senhor que
construiu uma cidade e deu seu nome a ela. Na cidade, construiu um palácio no
qual havia vários pequenos cômodos para armazenar o necessário. Depois de haver
construído o palácio e organizado todos os seus assuntos, dividiu seu povo em
três grupos, dizendo: ‘Estou partindo para uma região remota. Ficai firmes e
trabalhai bravamente pela minha glória! Providenciei vossa comida e outras
necessidades. Tendes juízes para julgá-los, defensores para protegê-los de
vossos inimigos, e encarreguei a uns empregados para alimentá-los. Eles hão de
pagar-me o dízimo de seu trabalho, reservando-o para meu uso e em minha honra.”
Entretanto, passado certo tempo, o nome da cidade caiu no esquecimento. Então,
os juízes disseram: ‘Nosso senhor viajou para uma região remota. Que julguemos
corretamente e façamos justiça de modo que, quando ele retornar, não seremos
acusados, e sim elogiados e abençoados’. Então, os defensores disseram: ‘Nosso
senhor confia em nós e entregou sua casa a nossos cuidados. Vamos nos abster de
alimentos e bebidas supérfluas, para não ficarmos inaptos em caso de batalha!
Vamos nos abster do sono excessivo, para não sermos capturados de improviso! Estejamos
também bem armados e em alerta constante, para não sermos surpreendidos em um
ataque inimigo! A honra de nosso senhor e a segurança de seu povo dependem
muito de nós’. Depois, os empregados disseram: A glória de nosso senhor é
grande e sua recompensa é maravilhosa. Vamos trabalhar com vigor e demos a ele
não apenas um décimo de nosso trabalho, mas sim, tudo o que nos sobrar daquilo
que gastamos para viver! Todos nossos salários serão mais gloriosos quanto mais
amor nosso senhor veja em nós. Depois disso, algum tempo mais se passou e o
senhor da cidade e seu palácio foram ficando esquecidos. Então os juízes
disseram para si mesmos: Nosso senhor está demorando muito. Não sabemos se
voltará ou não. Assim, julguemos da forma que quisermos e façamos o que nos
agrada! Os defensores disseram: Somos uns tolos porque trabalhamos e não
sabemos qual será nossa recompensa! Aliemos-nos a nossos inimigos e durmamos e
bebamos com eles! Pois, não é assunto nosso de quem hajam sido inimigos. Depois
disso, os empregados disseram: Por que guardamos nosso ouro para outro? Não
sabemos quem ficará com ele. É melhor, então, que o usemos e disponhamos de
acordo com nossa vontade. Demos a décima parte aos juízes, e, tendo-os de nosso
lado, poderemos fazer o que quisermos. Em verdade sou como esse poderoso
senhor. Construí Eu mesmo uma cidade, isto é, o mundo, e ali coloquei um palácio,
isto é, a Igreja. O nome dado ao mundo foi sabedoria divina, pois o mundo teve
esse nome desde o princípio, ao haver sido feito na divina sabedoria. Este nome
era venerado por todos e Deus era louvado por seu conhecimento e
maravilhosamente aclamado por todas as suas criaturas. Nos tempos atuais, o
nome da cidade foi desonrado e mudado, e sabedoria mundana é o novo nome que se
usa. Os juízes, que no passado davam sentenças justas no temor do Senhor, agora
se levantam em soberba e se tornam a ruína das pessoas simples. Aparentam ser
eloquentes para receberem elogios humanos; falam agradavelmente para obter
favores. Toleram quaisquer palavras para que digam que são bons e compassivos;
mas permitem-se ser subornados para ditar sentenças injustas. São sábios no que
diz respeito a seus próprios benefícios mundanos e a seus próprios desejos, mas
são mudos em meu louvor. Menosprezam as pessoas simples e as mantêm quietas.
Estendem a todos sua cobiça e convertem o certo em errado. Esta é a sabedoria
apreciada nos dias de hoje, enquanto que a minha caiu no esquecimento. Os
defensores da Igreja, que são os nobres e os cavaleiros, olham para meus
inimigos, os assaltantes da minha Igreja, e fingem que não os veem Escutam suas
repreensões e não se importam. Conhecem e compreendem as obras daqueles que
violam meus mandamentos e, entretanto os suportam pacientemente. Eles os
observam diariamente, perpetrando todo tipo de pecado mortal com impunidade e
não sentem compulsão mas dormem lado a lado com eles e tem se relacionado com
eles, ligando-se à suas companhias mediante juramento. Os empregados, que
representam todos os cidadãos, rejeitam meus mandamentos e retêm meus presentes
e dízimos. Subornam os juízes e lhes demonstram reverência para garantir sua
boa vontade e favores. Atrevo-me a dizer, de fato, que a espada do temor a mim
e a minha Igreja na terra foi degradada, e uma bolsa cheia de dinheiro foi
aceita em troca.
Palavras
com as quais Deus explica a revelação anterior; sobre a sentença emitida contra
estas pessoas e sobre como Deus em alguns momentos, aguenta os malvados pelo
bem dos justos.
Já te disse antes que a espada da
Igreja havia sido degradada e um saco de dinheiro havia sido aceito em troca.
Este saco está aberto por uma extremidade. No outro extremo é tão profundo que
tudo o que nele entra nunca alcança o fundo, por isso, o saco nunca se enche.
Este saco representa a ganância. Ela excedeu todos os limites e medidas e se
tornou tão forte que o Senhor é desprezado e nada mais é desejado exceto o
dinheiro e o egoísmo. Entretanto, Eu sou como um senhor que por sua vez é pai e
juiz. Quando seu filho vai a julgamento, os ali presentes dizem: ‘Senhor,
proceda rapidamente e dê logo o seu veredicto!’ O senhor lhes responde:
‘Esperem um pouco até amanhã, pois talvez meu filho mude de vida até lá!’.
Quando chega o dia seguinte, as pessoas dizem: Prossiga e dê sua sentença,
Senhor! Por quanto tempo irás adiá-la e não condenarás o culpado?’ O senhor
responde: ‘Esperem um pouco mais, para vermos se meu filho muda! E então, se
não se arrepender, farei o que for justo.’ Da mesma forma, eu tolero
pacientemente as pessoas até o último momento, já que sou Pai e Juiz.
Entretanto, como minha sentença é incomutável, apesar da demora para emiti-la, castigarei
os pecadores que não se emendarem ou, se eles se converterem, lhes mostrarei
minha misericórdia. Já te disse antes que classifiquei as pessoas em três
grupos: juízes, defensores e empregados. O que os juízes simbolizam senão os
sacerdotes que converteram minha a sabedoria divina em corrupção e vão
conhecimento? Como alunos avançados, que recompõem um texto longo em outro mais
breve e, com poucas palavras dizem o mesmo que se dizia com muitas, os
sacerdotes de hoje em dia, tomaram meus dez mandamentos e os resumiram em uma
só frase. E qual é essa única frase? ‘Estenda tua mão e dê-nos dinheiro! Esta é
sua sabedoria: falar elegantemente e agir maldosamente, fingir que pertencem a
mim e agir injustamente contra mim. Em troca de subornos, amavelmente suportam
aos pecadores em seus pecados e, com seu exemplo provocam a queda das pessoas
simples. Além disso, odeiam aqueles que seguem meus caminhos. Segundo, os
defensores da Igreja, os nobres, são desleais. Quebraram sua promessa e
juramento e toleram com gosto aqueles que pecam contra a fé e a Lei de minha
Santa Igreja. Terceiro, os empregados, ou cidadãos, são como touros selvagens,
pois fazem três coisas. Primeiro, marcam o chão com suas pisadas; segundo
fartam-se até saciar-se; terceiro, satisfazem seus próprios desejos somente de
acordo com sua vontade. Hoje, os cidadãos anseiam apaixonadamente pelos bens
temporais. Reafirmam a si mesmos na glutonaria imoderada e na vaidade mundana.
Satisfazem seus prazeres carnais de maneira irracional. Porém, embora meus
inimigos sejam muitos, ainda tenho amigos entre esses, mesmo que escondidos.
Foi dito a Elias, que acreditava não haver mais amigos meus além dele mesmo:
‘Existem sete mil homens que não dobraram seus joelhos diante de Baal. Da mesma
forma, embora sejam muitos os inimigos, ainda tenho amigos escondidos entre
eles, que se lamentam diariamente, pois meus inimigos prevalecem e meu nome é
desprezado. Como um rei bondoso e caridoso que conhece os fatos perversos da
cidade, mas tolera seus habitantes pacientemente e envia cartas a seus amigos
alertando-os sobre o perigo que correm, assim também, em atenção às suas
orações Eu envio minhas palavras aos meus amigos. Estas não são tão obscuras
como as encontradas no Apocalipse que revelei a João sob um véu de obscuridade
para que pudessem, a seu tempo, ser explicadas por meu Espírito quando Eu
quisesse. Elas não são tão enigmáticas que não possam ser manifestadas -assim
como quando Paulo viu alguns de meus mistérios e sobre os quais não lhe foi
permitido falar- mas que são tão evidentes que todos, com pouca ou aguda
inteligência, podem entendê-las, tão fáceis que quem quiser as pode captar.
Portanto, que meus amigos vejam como minhas palavras atingem meus inimigos,
para que talvez se convertam. Que se lhes deem a conhecer seus perigos e juízo
para que se arrependam de suas obras! Caso contrário, a cidade será julgada e,
como uma parede é derrubada sem deixar pedra sobre pedra ou mesmo duas pedras
unidas no alicerce, assim acontecerá com a cidade, isto é, o mundo. Os juízes,
certamente, queimarão no fogo mais ardente. Não há fogo que arda mais do que
aquele alimentado com gordura. Estes juízes estavam untados, pois tiveram mais
ocasiões de satisfazer seu egoísmo que os demais, sobrepujaram os outros em
honras e abundância mundanas, e também em maldade e crueldade. Por isso, arderão
na mais quente das panelas. Os defensores serão pendurados no mais alto dos
patíbulos. Um patíbulo consiste em duas peças verticais de madeira com uma
terceira colocada em cima, de forma transversal. Este patíbulo com dois postes
de madeira representa seu cruel castigo que está, por assim dizer, feito com
duas peças de madeira. A primeira peça significa que não tiveram esperança em
minha recompensa eterna nem trabalharam para merecê-la por suas obras. A
segunda peça de madeira indica que eles não confiaram em meu poder e bondade,
crendo que Eu não era capaz de fazer tudo ou que não os quisesse prover
suficientemente. A viga de madeira transversal, representa sua consciência
deturpada, distorcida, pois eles entendiam bem o que estavam fazendo, mas
fizeram o mal e não sentiram vergonha de ir contra sua consciência. A corda do
patíbulo significa o fogo inextinguível, que não pode ser apagado pela água nem
cortado por tesouras, nem quebrado ou acabado pelo tempo. Nesta forca de
punição cruel e fogo inextinguível, eles ficarão pendurados e humilhados como
traidores. Sentirão angústia, pois foram desleais. Ouvirão insultos, pois
minhas palavras lhes eram desagradáveis. Gritos de dor estarão em suas gargantas,
pois sentiram prazer em seu próprio louvor e glória. Corvos vivos, isto é,
demônios que nunca se saciam, os machucarão neste patíbulo, mas, embora estejam
feridos, nunca serão consumidos: viverão em tormento sem fim e seus carrascos
viverão para sempre. Sofrerão um duelo que nunca acabará e uma desgraça que
nunca diminuirá. Teria sido melhor para eles não haver nascido, e que sua vida
não tivesse sido prolongada! A sentença dos trabalhadores será a mesma que é
dada aos touros. Touros têm uma pele e uma carne muito espessas. Por isso, sua
sentença é o afiadíssimo gume. Esta lâmina afiada significa a morte infernal
que atormentará aqueles que me hajam desprezado e que tenham amado seus desejos
egoístas mais que os meus mandamentos. A carta, isto é, minhas palavras, foram
escritas. Que meus amigos trabalhem para fazê-las chegar aos meus inimigos com
sabedoria e discrição, na esperança de que atendam e se arrependam. Se, tendo
ouvido minhas palavras, alguém disser: "Esperemos um pouco mais, ainda não
chegou o momento ainda não é sua hora". Então, pela minha natureza divina,
que expulsou Adão do paraíso e mandou as dez pragas ao faraó, juro que irei até
eles antes do que pensam. Pela minha natureza humana- que assumi da Virgem, sem
pecado, para a salvação da humanidade e na qual sofri aflição em meu coração,
experimentei dor em meu corpo e morri para que os homens vivam, e nela
ressuscitei e subi ao Céu e estou sentado à direita do Pai, verdadeiro Deus e
homem em uma pessoa- Eu juro que cumprirei minhas palavras. Por meu Espírito-
que desceu sobre os Apóstolos no dia de Pentecostes e os inflamou de tal forma
que eles falaram a língua de todos os povos, Eu juro que, a menos que emendem
seus caminhos e voltem a mim como humildes servos, me vingarei deles em minha
ira. Então, lamentar-se-ão em corpo e alma. Lamentar-se-ão por terem vindo
viver no mundo e de haver vivido nele. Lamentar-se-ão de que o prazer que
experimentaram foi muito pequeno e agora é nulo, e, entretanto, sua tortura
será para sempre. Então, perceberão o que agora se recusam a acreditar, isto é,
que minhas palavras eram palavras de amor. Assim, compreenderão que os
aconselhei como um pai, mas eles não quiseram escutar-me. Em verdade, se não
acreditaram nas palavras de bondade, terão de acreditar nas obras que estão por
vir.
Palavras
o Senhor à esposa sobre como Ele é nutrição abominável e insignificante nas
almas dos cristãos, enquanto o mundo é deleitável e amável para eles, e sobre a
terrível sentença que recairá em tais pessoas.
O Filho falou à esposa: ‘Os
Cristãos me tratam agora da mesma forma que me trataram os judeus. Os judeus me
expulsaram do templo e estavam inteiramente resolvidos a matar-me, mas, pelo
fato de minha hora ainda não ter chegado, escapei de suas mãos. Os Cristãos me
tratam assim agora. Expulsam-me de seu templo, ou seja, de sua alma, que
deveria ser meu templo, e se pudessem me matariam em seguida. Em seus lábios
sou como carne podre e mal cheirosa, creem que estou mentindo e não se
preocupam comigo, em absoluto. Voltam-me suas costas, mas Eu afastarei minha
face deles, pois não há nada mais que cobiça em suas bocas e só luxúria bestial
em sua carne. Só a soberba os agrada, só os prazeres mundanos encantam seus
olhos. Minha Paixão e meu Amor lhes são repugnantes e minha vida um peso. Por
isso, agirei como o animal que tem muitas tocas: quando os caçadores o acossam
em uma toca, foge para outra. Farei isto, porque estou sendo perseguido pelos
cristãos com suas más obras e expulso da toca de seus corações. Por isso, irei
aos pagãos, em cujas bocas agora sou amargo e insípido, mas chegarei a ser-lhes
mais doce que o mel. Entretanto, ainda sou tão misericordioso que com gosto
abrirei meus braços a quem me peça perdão e diga: ‘Senhor, sei que pequei gravemente
e livremente quero melhorar minha vida por tua graça. Tem piedade de mim por
tua amarga paixão!’ Mas, àqueles que persistirem no mal, lhes chegarei como um
gigante com três qualidades: terrível, muito forte e muito áspero. Chegarei
inspirando tanto medo aos cristãos que não se atreverão a levantar o dedo
mínimo contra mim. Eu virei ainda com tanta força que eles serão como uma mosca
diante de mim. Terceiro, eu virei com tal aspereza que se sentirão tristes no
presente e lamentarão sem fim.
As palavras da Mãe à esposa; doce diálogo
da Mãe com o Filho, e sobre como Cristo é amargo, muito amargo, amaríssimo para
os maus, porém doce, muito doce, dulcíssimo para os bons.
A Mãe
disse à esposa: Considera, jovem esposa, a Paixão de meu Filho.
Sua paixão sobrepujou em amargura a paixão de todos os Santos. Assim como uma
mãe ficaria amargamente abalada se tivesse que presenciar como cortavam em
pedaços seu próprio filho vivo, assim eu fiquei abalada na paixão de meu Filho
quando presenciei a crueldade de tudo aquilo’. Então ela disse a seu Filho: ‘Bendito sejas, Filho meu,
pois és santo, como diz a canção: ‘Santo, santo, santo, é o Senhor Deus do
Universo. Bendito sejas, pois és doce, muito doce, e o mais doce! Eras santo
antes da encarnação, santo em meu ventre santo, depois da encarnação. Foste
doce antes da criação do mundo, mais doce que os anjos e o mais doce para mim
em tua encarnação.
O Filho respondeu: Bendita sejas, Mãe, sobre todos
os anjos! Assim como fui o mais doce para ti, como dizias agora, também sou
amargo, muito amargo, o mais amargo para os maus. Sou amargo para aqueles que
dizem que criei muitas coisas sem motivo, que blasfemam e dizem que criei as
pessoas para morrer e não para viver. Que ideia tão miserável e sem sentido!
Acaso Eu, que sou o mais justo e virtuoso, criei os anjos sem uma razão? Teria
Eu dotado a natureza humana de tantas bondades se a tivesse criado para se
condenarem? De maneira alguma! Eu fiz todo bem por amor, à humanidade dei todo
bem. Entretanto, a humanidade converte todo o bem em mal para si. Não Sou eu
que faço nada mau, e sim, são eles que o fazem, dirigindo sua vontade a tudo,
menos ao que deveriam, de acordo com a Lei Divina. Isto é o que é mal. Sou mais
amargo para aqueles que dizem que lhes dei livre arbítrio para pecar e não para
fazer o bem, que dizem que sou injusto, porque condeno algumas pessoas enquanto
que a outras, justifico; que me culpam por sua própria maldade, porque afasto
deles minha graça. Sou muito amargo para aqueles que dizem que minha lei e meus
mandamentos são muitos difíceis e que ninguém os pode cumprir; que dizem que
minha paixão é indigna para eles, e que é por isso que não a consideram. Portanto,
juro por minha vida, como jurei uma vez pelos profetas, que defenderei minha
causa diante dos anjos e todos os meus santos. Aqueles para quem Eu sou amargo
comprovarão por si mesmos que Eu criei tudo racionalmente e bem, para utilidade
e instrução da humanidade, e que nem o menor dos vermes existe sem motivo.
Aqueles para os quais sou muito amargo, comprovarão por si mesmos que Eu,
sabiamente, dei ao ser humano livre arbítrio a respeito do bem. Descobrirão
também que Eu sou justo, dando reino eterno às pessoas boas e castigando os
maus. Não seria justo que o demônio, a quem criei como bom, mas que caiu por
sua própria maldade, estivesse em companhia dos bons. Os maus também
comprovarão que não é culpa minha que eles sejam perversos, mas sua. De fato,
se fosse possível, com gosto me submeteria por todos e cada um dos seres
humanos aos mesmos castigos que aceitei uma vez na cruz por todos, para
restituir-lhes sua herança prometida. Mas a humanidade está sempre opondo sua
vontade à minha. Dei-lhes liberdade para que me servissem se quisessem, e
merecessem assim, o premio eterno. Mas se eles não quisessem, teriam que
compartilhar o castigo do demônio, por cuja maldade e suas consequências, foi
justamente criado o inferno. Como sou cheio de caridade, não quis que a
humanidade me servisse por medo nem que fosse obrigada a fazê-lo como os
animais irracionais, mas por amor a Deus, porque ninguém que sirva contra a sua
vontade ou por medo de meu castigo pode ver minha face. Aqueles para os quais
sou muito amargo perceberão em sua consciência, que minha lei era leve e meu
jugo suave. Estarão inconsolavelmente tristes de haver menosprezado minha Lei e
de haver amado o mundo em seu lugar, cujo jugo é mais pesado e muito mais
difícil que o meu.
Então, sua Mãe acrescentou: Bendito sejas, Filho meu,
meu Deus e Senhor! Porque tu eras minha doce delicia, rogo que os demais possam
participar desta doçura.
O Filho respondeu: Bendita és tu, minha querida
Mãe! Tuas palavras são doces e cheias de amor. Por isto bondosamente acudirei a
quem receba tua doçura em sua boca e a conserve perfeitamente. Mas quem a
receba e a rejeite será castigado da forma mais amarga.
A Virgem respondeu: “Bendito sejas, Filho meu, por
todo o teu amor!
Palavras de Cristo, na presença da esposa,
contendo parábolas nas quais Cristo se compara com um camponês; os bons
sacerdotes com um bom pastor; os maus sacerdotes com um mau pastor e os bons
cristãos como uma esposa. Estas comparações são úteis de várias formas.
Eu sou aquele que nunca pronunciou
mentira alguma. O mundo me toma por um camponês cujo mero nome leva ao
desprezo. Minhas palavras são tomadas por tolices e minha casa é considerada
uma vil habitação. Agora, este camponês tinha uma esposa que não queria nada
mais do que ele queria, que tinha tudo em comum com seu marido e o aceitou como
seu mestre, obedecendo-lhe em tudo. Este camponês também tinha muitas ovelhas,
e contratou um pastor para cuidar delas por cinco moedas de ouro e pelo
suprimento de suas necessidades diárias. Este era um bom pastor, que fez bom
uso do ouro e do alimento na medida de suas necessidades. Com o passar do
tempo, esse pastor foi sucedido por outro pastor, um inferior, que usou o ouro
para comprar uma esposa e dar-lhe seu alimento, que descansava com ela
constantemente e não cuidava das pobres ovelhas, que foram acossadas e
dispersadas por animais ferozes. Quando o camponês viu seu rebanho disperso,
gritou: ‘Meu pastor não me é fiel. Meu rebanho se dispersou e algumas ovelhas
indefesas foram devoradas por animais ferozes, enquanto que outras morreram
ainda que seus corpos não tenham sido destroçados. Então, a mulher do camponês
disse a seu marido: ‘Senhor, é certo que não recuperaremos os corpos que foram
devorados. Mas, vamos levar para casa e usar aqueles corpos que ficaram
intactos, ainda que já não haja um sopro de vida neles. Não poderíamos suportar
o ficarmos sem nada.” Seu marido lhe respondeu: ‘O que faremos? Como os animais
têm veneno em seus dentes, a carne das ovelhas está infectada de veneno mortal,
a pele está corrompida, a lã está ruim’. Sua mulher acrescentou: ‘Se tudo foi
desperdiçado e tudo foi perdido, então, do que vamos viver?’ O marido disse:
‘Vejo que há algumas ovelhas ainda vivas em três lugares. Algumas delas parecem
mortas e não ousam respirar por medo. Outras estão enterradas no barro e não
podem se levantar. Ainda outras estão escondidas e não ousam sair. Vem, esposa,
vamos levantar as ovelhas que estão tentando pôr-se de pé, mas não conseguem
sem ajuda, e vamos usá-las!’ Observa, Eu, o Senhor, sou o camponês. Os homens
me veem como o traseiro de um burro criado em um estábulo de acordo com sua
natureza e hábitos. Meu nome é a mente da Santa Igreja. Ela é considerada como
desprezível, na medida em que os sacramentos da Igreja, batismo, crisma, unção,
penitência e matrimônio são, de alguma forma, recebidos com zombaria e
administrados a alguns com ganância. Minhas palavras são consideradas tolas,
pois as palavras da minha boca, pronunciadas em parábolas, passaram de um
entendimento espiritual a ser convertidas em entretenimento para os sentidos.
Minha casa é vista como desprezível, enquanto que as coisas da terra são mais
amadas que as do Céu. O primeiro pastor que tive simboliza meus amigos, isto é,
os sacerdotes que costumava ter na Santa Igreja, (por ‘um’ quero dizer muitos).
A eles confiei meu rebanho, isto é, o meu venerável corpo para que o
consagrassem e as almas de meus eleitos para que as governassem e protegessem.
Também lhes dei cinco coisas boas, mais preciosas que ouro, a saber, a
compreensão inteligente de todos os temas enigmáticos para que distinguissem
entre o bem e o mal, entre a verdade e a falsidade. Segundo, dei-lhes
discernimento e sabedoria de temas espirituais; isto foi esquecido, agora e em
seu lugar se ama o conhecimento do mundo. Terceiro, dei-lhes castidade; quarto,
temperança e abstinência em tudo para autocontrole de seu corpo; quinto,
estabilidade nos bons hábitos, palavras e obras. Depois deste primeiro pastor, ou
seja, depois destes meus amigos que faziam parte da minha Igreja no passado,
agora entraram outros pastores malvados. Eles compraram uma esposa para si
mesmos, em troca de ouro, isto é, em troca de sua castidade e, por essas cinco
coisas boas, tomaram para si o corpo de uma mulher, isto é, a incontinência.
Por isso, meu Espírito afastou-se deles. Quando têm total vontade de pecar ou
de satisfazer à sua esposa, isto é, sua luxúria, de acordo com seu sentido de
prazer, meu Espírito está ausente deles, pois não se importam com a perda do
rebanho enquanto possam seguir sua própria vontade. As ovelhas que foram
completamente devoradas representam aqueles cujas almas estão no inferno e
cujos corpos estão enterrados em túmulos a espera da ressurreição para a condenação
eterna. As ovelhas cujos corpos estão intactos, mas cujos espíritos de vida já
não estão nelas, representam as pessoas que nem me amam, nem me temem, não
sentem devoção alguma nem se importam comigo. Meu espírito está longe delas, já
que os dentes envenenados das feras contaminaram sua carne. Em outras palavras,
seus pensamentos e espírito, como o simbolizam a carne e entranhas das ovelhas,
são para mim tão repugnantes como comer carne envenenada. Sua pele, isto é, seu
corpo, está desprovido de toda bondade e caridade e não têm condições de servir
em meu reino. Ao contrario, seja enviado ao fogo eterno do inferno depois do
juízo. Sua lã, isto é, suas obras, são tão inúteis que não há nada nelas que
lhes faça merecer meu amor e minha graça. O que, então, minha esposa, que
simboliza os bons Cristãos, podemos fazer? Vejo que ainda há ovelhas vivas em
três lugares. Algumas delas assemelham-se à ovelha morta e não ousam respirar
por medo. Estes são os pagãos que, de boa vontade, adotariam a verdadeira fé se
ao menos a conhecessem. Entretanto, não ousam respirar, isto é, não ousam
perder a fé que já têm e não se atrevem a aceitar a verdadeira fé. O segundo
grupo de ovelhas é daquelas que permanecem escondidas e não ousam sair. Estas
representam os judeus que, por assim dizer, estão como detrás de um véu.
Sairiam com prazer se tivessem certeza do meu nascimento. Escondem-se por trás
do véu, na medida em que sua esperança de salvação está nas imagens e sinais
que costumavam simbolizar-me na antiga Lei, mas que foram verdadeiramente
realizados em mim, quando me encarnei. Por sua vã esperança, têm medo de passar
à verdadeira fé. Em terceiro lugar, as ovelhas que ficaram afundadas na lama
são os cristãos em estado de pecado mortal. Por temerem o castigo, estão desejosos
de levantar-se de novo, mas não o conseguem devido à gravidade de seus pecados
e porque lhes falta caridade. Por isso, esposa minha, ou seja meus bons
cristãos, ajudem-me! Assim como homem e mulher são considerados uma só carne e
um só membro, assim, o cristão é meu membro e Eu sou dele, pois estou nele e
ele em Mim. Assim pois, minha esposa, meus bons Cristãos, dirijam-se comigo às
ovelhas que ainda respiram um pouco e vamos levantá-las e revivê-las! Sustentem
seus dorsos enquanto eu lhes sustento a cabeça! Alegro-me em carregá-las em
meus braços. Uma vez as carreguei todas sobre minhas costas, quando estas
estavam feridas e pregadas na cruz. Ó meus amigos! Amo tão ternamente essas
ovelhas que, se me fosse possível sofrer, por qualquer dessas ovelhas individualmente,
a morte que sofri uma vez na cruz por todas elas, preferiria redimi-las antes
que perdê-las. Por isso, com todo o meu coração, rogo a meus amigos que não
poupem esforços nem bens por mim. Se não me pouparam da repreensão quando
estive no mundo, que não se retraiam eles, na hora de dizer a verdade sobre
mim. Não me envergonhei de morrer uma morte desprezível por eles, mas permaneci
lá assim como vim ao mundo, nu, perante os olhos de meus inimigos. Seus punhos
golpearam meus dentes; fui arrastado pelos cabelos; fui flagelado por chicotes;
fui pregado à madeira com suas ferramentas, e pregado na cruz junto com
meliantes e ladrões. Por esse motivo, meus amigos, não se poupem por mim que
suportei tudo isso por amor a vocês! Trabalhem corajosamente e ajudem meu
necessitado rebanho! Por minha natureza humana - que é o Pai porque o Pai está
em mim - e por minha natureza divina - que é meu Espírito porque o Espírito
está nela e porque o mesmo Espírito está em mim e Nele, sendo estes três um só
Deus em três Pessoas – juro que irei àqueles que se esforçarem em carregar
minhas ovelhas comigo, e os ajudarei enquanto caminham e lhes darei um precioso
pagamento: Eu mesmo, em seu gozo eterno.
Palavras
do Filho à esposa sobre três tipos de cristãos, simbolizados pelos judeus que
viviam no Egito, e sobre como estas revelações foram dadas à esposa para que
fossem transmitidas, publicadas e pregadas pelos amigos de Deus.
O Filho
falou à esposa dizendo-lhe: Eu sou o Deus de Israel, aquele que falou
com Moisés. Quando foi enviado ao meu povo, Moisés pediu um sinal, dizendo: O
povo não crerá em mim de outra maneira. Se o povo ao qual Moisés foi enviado
pertencia ao Senhor, por que ele não tinha confiança? Deves saber que havia
três tipos de pessoas entre os judeus. Alguns acreditavam em Deus e em Moisés.
Outros acreditavam em Deus, mas não confiavam em Moisés, imaginando se, talvez,
não estaria ele dizendo e fazendo tudo por invenção própria e presunção. O
terceiro tipo era daqueles que não acreditavam em Deus nem em Moisés. Da mesma
forma, existem atualmente três tipos de pessoas entre os Cristãos como
simbolizado pelos hebreus. Existem alguns que realmente acreditam em Deus e em
minhas palavras. Existem outros que acreditam em Deus, mas não confiam em
minhas palavras, pois não sabem como distinguir entre um espírito bom e um mau.
O terceiro grupo é daqueles que não acreditam em mim nem mesmo em ti, esposa
minha, a quem tenho transmitido minhas palavras. Mas, como disse, embora alguns
hebreus não confiassem em Moisés, todos – sem dúvida - cruzaram o Mar Vermelho
com ele em direção ao deserto onde, aqueles que não tinham confiança adoraram
ídolos e provocaram a ira de Deus, motivo pelo qual seu fim foi uma morte
miserável, embora apenas para aqueles que tinham má fé. Por esta razão, como o
espírito humano é lento para crer, meu amigo deve transmitir minhas palavras
àqueles que creiam nele. Depois, eles as divulgarão a outros que não sabem
distinguir um espírito bom de um mau. Se os ouvintes lhe pedirem por um sinal,
que mostrem a essas pessoas um cajado, assim como fez Moisés, ou seja, que
expliquem a eles minhas palavras. O cajado de Moisés era firme e, devido à sua
transformação em uma serpente, foi também temível para eles. Da mesma forma, minhas
palavras são firmes e não há falsidade nelas. São temíveis também, porque
emitem um juízo verdadeiro. Que expliquem e declarem que, pelas palavras e sons
de uma única boca, o demônio se afastou de criaturas de Deus, esse mesmo
demônio que poderia mover montanhas, não fosse ele impedido por meu poder. Que
tipo de poder possuía ele, com a permissão de Deus, quando foi feito para fugir
diante do som de uma só palavra? Segundo isso, da mesma forma que aqueles
hebreus que não acreditavam em Deus nem em Moisés também deixaram o Egito em
busca da terra prometida, sendo de alguma forma forçados a ir juntamente com os
outros, assim também muitos cristãos se juntarão agora, a contragosto, a meus
escolhidos, sem crer em meu poder para salvá-los. Não acreditam em minhas
palavras de maneira alguma; possuem apenas uma falsa confiança em meu poder.
Entretanto, minhas palavras se cumprirão sem que eles o desejem e de certo
modo, serão forçados a caminhar para a perfeição até que cheguem onde me for
conveniente.
200º
- Inocêncio VI - 1352 - 1362
Papa Inocêncio
VI, nascido Étienne Aubert, foi o chefe da Igreja Católica e governante dos
Estados Pontifícios de 18 de dezembro de 1352 até sua morte em 1362. Foi
indicado Cardeal de Santos João e Paulo em 1342. Ele foi o quinto Papa de
Avignon e o único com o nome pontifício de "Inocente". Durante seu Papado,
realizou três consistórios, nomeando um total de 16 cardeais. Está enterrado em
Villeneuve-lès-Avignon. Étienne foi coroado Papa em 30 de dezembro de 1352 pelo
Cardeal Gaillard de la Mothe após o conclave papal de 1352. Após sua eleição,
ele revogou um acordo assinado afirmando que o colégio de Cardeais era superior
ao Papa. Sua política subsequente se compara favoravelmente com a dos outros Papas
de Avignon. Ele introduziu muitas reformas necessárias na administração dos
assuntos da Igreja e, por meio de seu legado, o Cardeal Albornoz, que estava
acompanhado por Rienzi, procurou restaurar a ordem em Roma. Em 1355, Carlos IV,
Sacro Imperador Romano, foi coroado em Roma com a permissão de Inocêncio, após
ter feito um juramento de que deixaria a cidade no dia da cerimônia. Foi em
grande parte por meio dos esforços de Inocêncio VI que o Tratado de Brétigny
(1360) entre a França e a Inglaterra foi realizado. Durante seu Pontificado, o
Imperador bizantino João V Paleólogo ofereceu-se para submeter a Igreja
Ortodoxa Grega à Sé Romana em troca de assistência contra João VI Cantacuzeno.
Os recursos à disposição do Papa, entretanto, eram todos necessários para as
necessidades mais próximas, e a oferta foi recusada. A maior parte da riqueza
acumulada por João XXII e Bento XII foi perdida durante o extravagante Pontificado
de Clemente VI. Inocêncio VI economizou cortando o pessoal da capela (capellani
capelle) de doze para oito. Obras de arte foram vendidas em vez de
encomendadas. Seu Pontificado foi dominado pela guerra na Itália e pela
recuperação de Avignon da peste, ambas exigindo drasticamente recursos de seu
tesouro. Em 1357, ele se queixava da falta de recursos. Inocêncio VI era um
patrono liberal das letras. Mesmo com a extrema severidade de suas medidas
contra os Fraticelli consegui manter uma grande reputação de justiça e
misericórdia. No entanto, Santa Brígida da Suécia denunciou os Fraticelli como perseguidores
de cristãos. O Papa morreu em 12 de setembro 1362 e foi sucedido por Urbano V.
Hoje seu túmulo pode ser encontrado no Chartreuse du Val de Bénédiction, o
mosteiro cartuxo em Villeneuve-lès-Avignon.
201º
- Urbano V - 1362 - 1370
O Papa
Urbano V, nascido Guillaume de Grimoard, foi Papa de 28 de setembro de 1362 até
sua morte em 1370 e também foi membro da Ordem de São Bento. Ele foi o sexto Papa
de Avignon e o único Papa de Avignon a ser beatificado. Mesmo após sua eleição
como Pontífice, ele continuou a seguir a regra beneditina, vivendo de maneira
simples e modesta. Seus hábitos nem sempre lhe davam adeptos acostumados a
vidas ricas. Urbano V pressionou por reformas em todo o seu Pontificado e
também supervisionou a restauração e construção de igrejas e mosteiros. Um dos
objetivos que ele estabeleceu na eleição para o Papado foi o reencontro das igrejas
orientais e ocidentais. Ele chegou tão perto quanto alguns de seus antecessores
e sucessores, mas não teve sucesso. Como Papa, Urbano V continuou a seguir a
disciplina da Regra de São Bento e a vestir seu hábito monástico. Urbano V
trabalhou contra o absenteísmo, o pluralismo e a simonia, enquanto procurava
melhorar o treinamento e o exame de escritório. Deve-se ter em mente, no
entanto, que, com o treinamento de um monge, a reforma era uma questão de
retorno aos valores e princípios ideais através da disciplina, não uma questão
de encontrar novas soluções. Com a formação de um advogado, a reforma era uma
questão de codificar e fazer cumprir as decisões e precedentes estabelecidos. O
Papa Urbano V introduziu reformas consideráveis na administração da justiça e
no aprendizado liberal. Ele fundou uma universidade na Hungria. Concedeu à
Universidade de Pavia o status de Studium Generale (14 de abril de 1363). Em
Toulouse, ele concedeu à Faculdade de Teologia os mesmos direitos que a
Universidade de Paris. Em Montpellier, ele restaurou a escola de medicina e
fundou o Colégio de São Bento, cuja igreja, decorada com inúmeras obras de
arte, mais tarde se tornou a Catedral da cidade. Ele fundou uma igreja
colegiada em Quézac, e uma igreja e biblioteca em Ispagnac. No topo de uma
colina perto de Bédouès, a paróquia em que o Château de Grisac está situado,
ele construiu uma igreja onde os corpos de seus pais foram enterrados. Por uma
bula Papal de dezembro de 1363, ele instituiu uma faculdade de seis Cânones Sacerdotes,
juntamente com um diácono e um subdiácono. Urban V emitiu um consentimento
preliminar para o estabelecimento da Universidade de Cracóvia, que em setembro
de 1364 havia obtido pleno consentimento Papal. Forneceu livros e os melhores
professores para mais de 1 000 estudantes de todas as classes. Em torno de
Roma, também plantou vinhedos. Ele impôs a penalidade de excomunhão a qualquer
um que molestasse os judeus ou tentasse conversão e batismo forçados. A grande
característica do reinado de Urban V foi o esforço para devolver o Papado à
Roma e reprimir seus poderosos rivais pela soberania temporal lá. Ele começou enviando
seu irmão, Cardeal Angelicus Grimoard, como legado Papal no norte da Itália. Em
1362, Urban ordenou que uma cruzada fosse pregada em toda a Itália contra
Bernabò Visconti, Giangaleazzo Visconti e seus parentes, acusados de
assaltantes da propriedade da igreja. Em março de 1363, Bernabò foi declarado
herege. No entanto, o Papa Urban achou necessário comprar a paz em março do ano
seguinte, enviando o recém-criado Cardeal Androin de la Roche, antigo Abade de
Cluny, como Legado Apostólico para a Itália para organizar os negócios. Então,
através da mediação de Carlos IV do Sacro Império Romano-Germânico, Urbano
levantou sua excomunhão contra Bernabò, obtendo Bolonha somente depois que
assinou uma paz apressada que era altamente favorável a Bernabò. Em maio de
1365, o Imperador Carlos visitou Avignon, onde ele apareceu com o Papa em pleno
traje Imperial. Ele então seguiu para Arles, que era um de seus domínios, onde
foi coroado rei pelo Arcebispo Pierre de Cros, OSB. O maior desejo de Urbano V
era o de uma cruzada contra os turcos. Em 1363, o rei João II de França e Pedro
I de Chipre, chegaram a Avignon, e foi decidido que deveria haver uma guerra
contra os turcos. Era Urbano e Pedro que estavam mais ansiosos pela cruzada; os
franceses estavam exaustos com as recentes perdas na Guerra dos Cem Anos, e
alguns de seus líderes ainda estavam presos na Inglaterra. O Papa realizou uma
cerimônia especial no sábado santo de 1363 e concedeu a cruz do cruzado aos
dois Reis e também ao Cardeal Hélie de Talleyrand-Périgord. João II foi nomeado
Reitor e Capitão Geral da expedição. O Cardeal de Talleyrand foi nomeado Legado
Apostólico para a expedição, mas morreu em 17 de janeiro de 1364, antes que a
expedição pudesse começar. A montagem do exército mostrou-se uma tarefa
impossível, e o rei João retornou à prisão na Inglaterra.
O rei
Pedro de Chipre, decepcionado com o retorno do rei João ao cativeiro na
Inglaterra e a morte do Cardeal de Talleyrand, reuniu todos os soldados que
pôde e, em 1365, lançou um ataque bem-sucedido a Alexandria (11 de outubro de
1365). Contudo, não havia apoio adicional e, visto que o inimigo superava em
número os cruzados, ele ordenou o saque e a queima da cidade e depois se
retirou. Ele continuou a assediar as costas da Síria e do Egito até ser
assassinado em 1369. Urbano, no entanto, não teve participação na cruzada ou em
suas consequências. Amadeus de Savoy e Louis da Hungria também organizaram uma
cruzada no reinado de Urban em 1366. Inicialmente eles tiveram sucesso, e
Amadeus até capturou Galípoli. Mas, apesar dos sucessos iniciais, cada um foi
forçado a se retirar.
Problemas
contínuos na Itália, bem como pedidos de figuras como Francisco Petrarca e
Brígida Birgersdotter da Suécia, levaram o Urbano V a Roma, apenas para
descobrir que seu vigário, o Cardeal Albornoz havia acabado de morrer. Ele
conduziu os restos mortais do Cardeal a Assis, onde foram enterrados na Basílica
de São Francisco de Assis. O Papa chegou à cidade de Roma em 16 de outubro de
1367, o primeiro Papa em sessenta anos a pôr os pés em sua própria diocese. Foi
recebido com alegria pelo clero e pelo povo, e apesar da satisfação de ser
assistido pelo Imperador Carlos IV em São Pedro e de colocar a coroa na cabeça
da Imperatriz Elizabeth (1 de novembro de 1368), logo ficou claro que, mudando
a sede de seu governo, ele não havia aumentado seu poder. Em Roma, ele foi capaz
de receber a homenagem do rei Pedro I de Chipre, da Rainha Joana I de Nápoles e
a confissão de fé do Imperador bizantino João V Paleólogo. Santa Brigida da
Suécia, que morava em Roma e tentava obter aprovação para uma nova ordem
religiosa, os Bridgettines, havia realmente comparecido ao Papa em
Montefiascone em 1370, enquanto se preparava para retornar à França; na presença
do Cardeal Pierre Roger de Beaufort, o futuro Papa, previu a morte do Papa se
ele deixasse Roma. Incapaz de resistir à urgência dos Cardeais franceses e,
apesar de várias cidades dos Estados Papais ainda estarem em revolta, o Urbano
V embarcou em um navio em Corneto em direção à França em 5 de setembro de 1370,
chegando em Avignon no dia 24 do mesmo dia. Alguns dias depois, ele ficou
gravemente doente. Sentindo sua morte se aproximando, ele pediu que fosse
transferido do Palácio Papal para a residência vizinha de seu irmão, Angelic de
Grimoard, a quem ele havia feito Cardeal, para que ele pudesse estar perto
daqueles que amava. Ele morreu lá em 19 de dezembro de 1370. E a Profecia se
cumpriu. Foi Papa por oito anos, um mês e dezenove dias. Seu corpo foi
inicialmente colocado na Capela de João XXII, na Catedral de Santa Maria de
Domps, em Avignon. Em 31 de maio de 1371, seus restos mortais foram
transferidos para o mosteiro de Saint-Victor, em Marselha, onde ele construíra
uma esplêndida tumba.
A Guerra dos Cem Anos foi uma série de
conflitos travados entre os reinos da Inglaterra e da França durante o final da
Idade Média. Originou-se de reivindicações inglesas ao trono francês entre a
Casa Real Inglesa de Plantageneta e a Casa Real Francesa de Valois. Com o
tempo, a guerra se transformou em uma luta de poder mais ampla envolvendo
facções de toda a Europa Ocidental, alimentada pelo nacionalismo emergente de
ambos os lados.
Foi um
dos conflitos mais significativos da Idade Média. Durante 116 anos,
interrompidos por várias tréguas, cinco gerações de reis de duas dinastias
rivais lutaram pelo trono do maior reino da Europa Ocidental. O efeito da
guerra na história europeia foi duradouro. Ambos os lados produziram inovações
em tecnologia e táticas militares, incluindo exércitos permanentes
profissionais e artilharia, que mudaram permanentemente a guerra na Europa;
cavalaria, que atingiu seu auge durante o conflito, posteriormente declinou.
Identidades nacionais mais fortes criaram raízes em ambos os países, que se
tornaram mais centralizados e gradualmente ascenderam como potências globais.
O termo
"Guerra dos Cem Anos" foi adotado por historiadores posteriores como
uma periodização historiográfica para abranger conflitos relacionados,
construindo o conflito militar mais longo da história europeia. A guerra é
comumente dividida em três fases separadas por tréguas: a Guerra Eduardiana
(1337-1360), Guerra Carolina (1369-1389) e a Guerra Lancastriana (1415-1453).
Cada lado atraiu muitos aliados para o conflito, com as forças inglesas
inicialmente prevalecendo; a Casa de Valois finalmente manteve o controle sobre
a França, com as monarquias francesas e inglesas anteriormente entrelaçadas
permanecendo separadas.
SEDE
DA IGREJA VOLTA PARA ROMA.
202º
- Gregório XI - 1370 – 1378
Papa
Gregório XI, nascido Pierre-Roger de Beaufort (Château de Maumont,
Saint-Julien-Maumont, Diocese de Limoges, França, 1329 ou 1331 – Roma, 27 de
Março de 1378), foi eleito para a Cátedra de São Pedro, pelo Conclave, em 30 de
Dezembro de 1370 e Pontificou até à sua morte. Assumindo durante o período do
Papado de Avinhão, fortemente influenciado por Santa Catarina de Siena retornou
à Santa Sé para Roma. De fato, na qualidade de Bispo de Roma, cuja Catedral é a
Basílica de São João de Latrão, neste local deveriam residir os Papas. Após sua
morte iniciou-se o Grande Cisma do Ocidente. Os Papas, desde Clemente V, foram obrigados a estabelecer
residência em Avinhão, na França, isto porque príncipes bandoleiros, não raras
vezes franceses, atacaram a Igreja, apoderando-se de seus bens. Hostilidades de todo o tipo, guerras, crimes,
violências, escândalos e heresias surgiram em consequência da vitória do Papa
Gregório IX que, corajosamente lutou contra os abusos do Estado contra a
Igreja. Foi Henrique IV quem promoveu de
forma acentuadíssima a venda de Bispados e abadias a pessoas indignas. Sob a
influência pacificadora de Santa Catarina de Siena, o Papa Gregório XI
restabeleceu a Santa Sé em Roma, fato que gerou séria divergência entre
Cardeais Italianos e franceses. Logo
após sua morte, o Papa Urbano VI foi legitimamente eleito, mas os franceses
elegeram outro Papa cognominado "Clemente VII", residente em Avinhão.
O mau exemplo e insubordinação de Príncipes e prelados, instigou o povo à
entrega de novas heresias que já despontavam e que iriam culminar
posteriormente no levante do protestantismo através de seus propugnadores: Lutero, na Alemanha; Zwinglio, na Suíça;
Calvino, na França e Holanda; e Henrique VIII, na Inglaterra.
202
. 1 - Santa Francisca Romana
O Divino
Salvador instituiu Sua Igreja sobre alicerces bem seguros. Mas, ao longo da
História, as forças infernais não deixaram de investir contra essa rocha
inabalável. Uma dessas investidas teve início com as agitações políticas e
sociais que forçaram o Papa Clemente V a transferir, em 1309, a sede do Papado
para a cidade francesa de Avignon, onde os sucessores de Pedro permaneceram até
1376. Foi um longo período de conturbações que culminaram no Grande Cisma do
Ocidente (1378-1417). A eclosão do Cisma veio agravar ainda mais a situação, a
ponto de a Cidade Eterna ficar reduzida a uma situação de miséria, açoitada por
guerras, carestia e pestes. Nesse contexto, destacou-se como luminoso anjo da
caridade uma jovem dama da alta nobreza: Santa Francisca Romana, a qual, por
sua prodigiosa atividade em favor dos pobres e doentes, conquistou o honroso
título de Advocata Urbis (Advogada da Cidade). Nascida em 1384, Francisca
pertencia a uma rica família de patrícios romanos. Seus pais, Paulo Bussa de
Leoni e Jacovella de Broffedeschi, proporcionaram-lhe uma primorosa educação
cristã. Desde a mais tenra idade, acompanhava a mãe nas práticas de piedade,
como abstinências, orações, leituras espirituais e visitas a igrejas onde
pudessem lucrar indulgências. Frequentava muito a Basílica de Santa Maria Nova,
a preferida de sua mãe, confiada aos monges beneditinos de Monte Olivetto. Ali,
Francisca começou a receber, ainda criança, direção espiritual de Frei Antonio
di Monte Savello, com quem se confessava todas as quartas-feiras. Aos onze
anos, manifestou o desejo de consagrar-se a Deus pelo voto de virgindade. Sua
inclinação para a vida monástica se fez notar quando — a conselho do diretor
espiritual, para provar a autenticidade de sua vocação — começou a praticar em
casa algumas austeridades próprias a certas ordens religiosas femininas. Seu
pai, porém, opôs-se a esses infantis projetos, pois ela estava já prometida em
casamento à Lourenço Ponziani, jovem de nobre família, bom caráter e grande
fortuna. Francisca foi sempre esposa exemplar. Por desejo do marido,
apresentava-se em público com a categoria de dama romana, usando belas joias e
suntuosos trajes. Mas debaixo deles vestia uma tosca túnica de tecido
ordinário. Dedicava à oração suas horas livres, e nunca negligenciava as
práticas de vida interior. Transformou em oratório um salão do palácio e aí
passava longas horas de vigília noturna, acompanhada por Vanozza. Era objeto de
mofa das pessoas mundanas, mas sua família a considerava um “anjo da paz”.
Francisca dedicava à oração suas horas livres, e nunca negligenciava as
práticas de vida interior. Três anos após seu casamento, contraiu uma grave
enfermidade que se prolongou por doze meses, deixando temerosos todos os
membros da família. Francisca, porém, não temia, pois colocara sua vida nas
mãos de Deus, com inteira resignação. Nesse período de prova, por duas vezes
apareceu-lhe Santo Aleixo. Na primeira, perguntou-lhe se queria curar-se, e na segunda
comunicou-lhe que “Deus queria que permanecesse neste mundo para
glorificar seu nome”.
Colocando então seu manto dourado sobre ela, restituiu-lhe a saúde. Essa
enfermidade, contudo, a fizera meditar profundamente sobre os planos da
Providência a seu respeito. E uma vez restabelecida, decidiu, com Vanozza,
levar uma vida mais conforme ao Evangelho, renunciando às diversões inúteis e
dedicando mais tempo à oração e às obras de caridade. Foi nessa época que Deus
enviou-lhe um Anjo especial para guiá-la na via da purificação. Ela não o via,
mas ele estava constantemente a seu lado e se manifestava por meio de sinais
claros. Além de amigo e conselheiro, era vigilante admoestador, que a castigava
quando ela cometia qualquer pequena falta. Certa vez em que Francisca, por
respeito humano, não interrompeu uma conversa superficial e frívola, ele
aplicou-lhe na face um golpe tão forte que deixou sua marca por vários dias e
foi ouvido na sala inteira! O demônio empreendia todo tipo de esforços para
perturbar a vida e, sobretudo, impedir a Santificação de Francisca. Como a
Santa sempre triunfava de suas tentações, ele recorria com frequência a ataques
diretos. Assim, em certa ocasião ela e Vanozza retornavam da Basílica de São
Pedro e decidiram tomar um atalho, pois já era tarde. Chegando à margem do
Tibre, inclinaram-se para tomar um pouco de água. Empurrada por uma força
invisível, Francisca caiu no rio. Vanozza lançou-se para salvá-la e foi também
arrastada pela correnteza. Sentindo em perigo suas vidas, recorreram a Deus e
no mesmo instante se viram de novo na margem, sãs e salvas. Quando em 1400
nasceu seu primeiro filho, João Batista, não duvidou em deixar algumas de suas
mortificações e exercícios piedosos, para melhor cuidar do menino. Ao carinho
materno, unia a firmeza da boa educadora, corrigindo-o em suas infantis
manifestações de teimosia, obstinação e cólera, sem nunca ceder às suas
lágrimas de impaciência. Foi modelo de mãe igualmente para João Evangelista e
Inês, que nasceram alguns anos depois. Seu Anjo ajudou-a a levar sua vida
matrimonial com amor e dedicação, tanto para o esposo quanto para os filhos.
Cumpria com perfeição seu ofício de dona de casa, compreendendo que os
sacrifícios impostos pelas tarefas cotidianas fazem parte da purificação
necessária nesta vida e têm prioridade sobre as mortificações particulares.
Desempenhou-se de tal maneira que, em 1401, quando faleceu a esposa do velho
Ponziani, seu sogro, este incumbiu-a do governo do palácio. Nessa função, a
jovem senhora demonstrou grande capacidade, inteligência e, sobretudo, bondade.
Organizou os trabalhos da numerosa criadagem de modo a todos terem tempo de
cumprir seus deveres religiosos. Assistia-os em suas necessidades materiais e
os incentivava a levar uma vida verdadeiramente cristã. Quando algum deles
adoecia, Francisca se fazia de enfermeira, mãe e irmã. E se a enfermidade
acarretava perigo de vida, ela mesma ia buscar a assistência espiritual de um
sacerdote, a qualquer hora do dia ou da noite. Por volta de 1413, a fome se
abateu sobre Roma. O sogro de Francisca alarmou-se ao ver que ela continuava
muito generosa em ajudar os necessitados… distribuindo-lhes parte das provisões
que ele reservara para sustento da família, e proibiu-a de fazê-lo. Não podendo
mais a caridosa dama dispor daqueles víveres para socorrer os famintos, começou
a pedir esmolas para eles. E certo dia, tomada de súbita inspiração, foi com
Vanozza a um celeiro vazio do palácio para procurar o que pudesse ter restado
de trigo no meio da palha. À custa de paciente trabalho, conseguiram recolher
alguns poucos quilos do desejado grão. Coisa admirável: logo após a saída das
duas, Lourenço, seu esposo, entrou no celeiro e lá encontrou 40 sacos contendo,
cada um, 100 quilos de trigo dourado e maduro! Idêntico prodígio se deu na
mesma época: querendo levar aos pobres um pouco de vinho, Francisca recolheu a
escassa quantidade que restava no fundo de um tonel e no mesmo instante este
encheu-se milagrosamente de um excelente vinho. Esses prodigiosos fatos muito
contribuíram para suscitar em Lourenço um temor reverencial e amoroso por sua
esposa. Em consequência, ele lhe deu liberdade de dispor de seu tempo para suas
obras apostólicas e lhe permitiu trocar seus belos trajes e joias — os quais
ela apressou-se a vender para distribuir aos pobres o dinheiro — por roupas
simples e pouco vistosas. Muitas provações ainda a aguardavam. A situação
política da Península Itálica e a crise decorrente do Grande Cisma do Ocidente
acarretaram-lhe muitos sofrimentos. Roma estava dividida em dois grupos que
travavam encarniçada guerra: a favor do Papa, os Orsini, de cuja facção
Lourenço fazia parte; de outro lado, os Colonna, apoiando Ladislau Durazzo, rei
de Nápoles, que invadiu Roma três vezes. Na primeira invasão, Lourenço foi
gravemente ferido em combate, sendo curado pela fé e dedicação da esposa. Na
segunda, em 1410, as tropas saquearam o Palácio dos Ponziani, e os bens da
família foram confiscados. Pior ainda, Francisca viu seu esposo e seu filho
Batista partirem para o exílio. Em 1413 e 1414, a capital da cristandade ficou
entregue à pilhagem e reduzida à miséria. Um novo flagelo, a peste, veio
agravar essa situação. A Santa transformou o Palácio em hospital e cuidava
pessoalmente das vítimas da terrível doença. Era um anjo da caridade naquela
infeliz cidade assolada pelo infortúnio. Sua própria família não ficou imune a
essa tragédia: em 1413 morreu Evangelista, seu filho mais novo, e no ano
seguinte a pequena Inês. Por fim, ela também contraiu a doença, mas foi
milagrosamente curada por Deus. Em meio a guerras e à peste, Francisca foi um
anjo da caridade naquela infeliz cidade assolada pelo infortúnio. Ainda em
1413, apareceu-lhe seu filho falecido havia pouco, tendo a seu lado um jovem do
mesmo tamanho, parecendo ser da mesma idade, mas muito mais belo.
— És realmente tu, filho do meu coração? — perguntou ela.
Ele respondeu que estava no Céu, junto com aquele
esplendoroso Arcanjo que o Senhor lhe enviava para auxiliá-la em sua
peregrinação terrestre.
— Dia e noite o verás ao teu lado e ele te
assistirá em tudo —
acrescentou.
Aquele Espírito celestial irradiava uma tal luz que Francisca
podia ler ou trabalhar à noite, sem dificuldade alguma, como se fosse dia. E
lhe iluminava o caminho quando precisava sair à noite. Na luz desse Arcanjo,
ela podia ver os pensamentos mais íntimos dos corações. Recebeu, ademais, o dom
do discernimento dos espíritos e o de conselho, os quais usava para converter
os pecadores e reconduzir os desviados ao bom caminho. Deus a favoreceu com
numerosas outras visões. As mais impressionantes foram as do inferno. Viu em
pormenores os suplícios pelos quais são punidos os condenados, de acordo com os
pecados cometidos. Observou a organização hierárquica dos demônios e as funções
de cada um na obra de perdição das almas, uma paródia da hierarquia dos Coros
Angélicos. Lúcifer é o rei do orgulho e o chefe de todos. Viu ainda como os
atos de virtude praticados pelos bons atormentam essas miseráveis criaturas e
prejudicam sua ação na terra. Tendo falecido o rei Ladislau, restabeleceu-se a
paz na Cidade Eterna, seu esposo e seu filho Batista regressaram do exílio, e a
família Ponziani recuperou os bens injustamente confiscados. Por meio de
orações e boas palavras, a Santa conseguiu convencer Lourenço a reconciliar-se
com seus inimigos e a entregar-se a uma vida de perfeição. E após o casamento
do filho, entregou à nora — convertida por ela — o governo do palácio para dedicar-se
inteiramente às obras de caridade e de apostolado. Lourenço deixou-a livre para
fundar uma associação de religiosas seculares, com a condição de continuar
vivendo no lar e não parar de guiá-lo no caminho da santidade. Orientada por
seu diretor espiritual, fundou uma sociedade denominada Oblatas da Santíssima
Virgem, segundo o modelo dos beneditinos de Monte Olivetto. Em 15 de agosto de
1425, Francisca e outras nove damas fizeram sua oblação a Deus e a Maria
Santíssima, mas sem emitir votos solenes. Vivia cada qual em sua casa, seguindo
os conselhos evangélicos, e se reuniam na igreja de Santa Maria Nova para ouvir
as palavras de sua fundadora, que para elas era guia e modelo a imitar. Alguns
anos depois, ela recebeu a inspiração de transformar essa sociedade em
congregação religiosa. Adquiriu o imóvel de nome Tor de’ Specchi e, em março de
1433, dez Oblatas de Maria foram revestidas do hábito e ali se estabeleceram,
em regime de vida comunitária. Em julho desse mesmo ano, o Papa Eugênio IV
erigiu a Congregação das Oblatas da Santíssima Virgem, nome mudado
posteriormente para Congregação das Oblatas de Santa Francisca Romana. Era uma
instituição nova e original para seu tempo: religiosas sem votos, sem clausura,
mas de vida austera e dedicadas a um genuíno apostolado social. Comprometida
como estava pelo matrimônio, somente depois da morte do esposo, em 1436,
Francisca pôde afinal realizar o maior desejo de sua vida: fazer-se religiosa.
Entrou como mera postulante na congregação por ela fundada. Mas foi obrigada —
pelo capítulo da comunidade e pelo diretor espiritual — a aceitar os encargos
de superiora e fundadora. Viveu no convento apenas três anos. Em 1440, viu-se
forçada a retornar ao Palácio Ponziani para cuidar de seu filho, gravemente
enfermo. Atingida por uma forte pleurisia, ali permaneceu, por não ter mais
forças. Soube então que havia chegado seu derradeiro momento. Padeceu
terrivelmente durante uma semana, mas pôde dar seus últimos conselhos às suas
filhas espirituais e despedir-se delas. No dia 9 de março, depois de agradecer
a seu diretor, o Padre Giovanni, em seu nome e no da comunidade, quis rezar as
Vésperas do Ofício da Santíssima Virgem. Com os olhos muito brilhantes, dizia
estar vendo o Céu aberto e haverem chegado os Anjos para buscá-la. Com um
sorriso iluminando-lhe a face, sua alma deixou esta Terra.
As visões do Inferno da
Santa Francisca Romana
O
inferno é dividido em três partes: o superior, o do meio e o inferior. Lúcifer
encontra-se no fundo do inferno inferior. A Lúcifer, chefe universal,
subordinam-se três outros demônios, os quais exercem império sobre os demais:
Asmodeu: que preside os pecados da carne, e era antes da queda um Querubim;
Mamon: que preside os pecados da avareza, era um Trono. O dinheiro fornece, ele
sozinho, uma das três grandes categorias; Belzebu: preside aos pecados de
idolatria. Tudo que tem algo a ver com magia, espiritismo, é inspirado por
Belzebu. Ele é, de um modo especial, o príncipe das trevas, e mediante as
trevas ele é atormentado e atormenta suas vítimas. Uma parte dos demônios
permanece no inferno, a outra no ar, e uma terceira atua entre os homens,
procurando desviá-los do certo caminho. Os que ficam no inferno dão ordens e
enviam seus embaixadores; os que residem no ar agem fisicamente sobre as
mudanças atmosféricas e telúricas, lançando por toda parte suas más
influências, empestando o ar, física e moralmente. Seu objetivo é debilitar a
alma. Quando os demônios encarregados da Terra veem uma alma enfraquecida pelos
demônios do ar, eles a atacam no seu ponto fraco, para vencê-la mais
facilmente. É o momento em que a alma não confia na Providência. Essa falta de
confiança, inspirada pelos demônios do ar, prepara a alma para a queda
solicitada pelos demônios da Terra. Assim, enfraquecidos pela desconfiança, os
demônios inspiram na alma o orgulho, em que ela cai tanto mais facilmente
quanto mais fraca esta. Quando o orgulho aumentou sua fraqueza, vêm os demônios
da carne que atacam seu espírito. Quando os demônios da carne aumentam mais ainda
a fraqueza da alma, vêm os demônios que insuflam os crimes do dinheiro. E
quando estes diminuíram ainda mais os recursos de sua resistência, chegam os
demônios da idolatria, os quais completam e concluem o que os outros começaram.
Todos se articulam para o mal, sendo esta a lei da queda: todo pecado cometido,
e do qual a alma não se arrependeu, prepara-a para outro pecado. Assim, a
idolatria, a magia, o espiritismo esperam no fundo do abismo aqueles que foram
escorregando de precipício em precipício. Todas as coisas da hierarquia celeste
são parodiadas na hierarquia infernal. Nenhum demônio pode tentar uma alma sem
a permissão de Lúcifer. Os demônios que estão no inferno sofrem a pena do fogo.
Os que estão no ar ou na terra não sofrem atualmente tais penas, mas padecem
outros suplícios terríveis, e particularmente a visão do bem que praticam os
santos. O homem que faz o bem inflige aos demônios um tormento indescritível.
Quando Santa Francisca era tentada, sabia, pela natureza e violência da
tentação, de que altura tinha caído o anjo tentador e a que hierarquia
pertencera. Quando uma alma cai no inferno, seu demônio tentador é felicitado
pelos demais. Mas quando a alma se salva, o demônio tentador recebe insulto dos
outros, que o levam para Lúcifer e este lhe inflige um castigo a mais, além das
torturas que já padece. Este demônio entra às vezes no corpo de animais ou
homens. Ele finge ser a alma de um morto. Quando um demônio consegue perder
certa alma, após a condenação desta transforma-se em tentador de outro homem,
mas torna-se mais hábil do que foi a primeira vez. Aproveita-se da experiência
que a vitória lhe deu, tornando-se mais forte para perder o homem. Santa
Francisca observava um demônio em cima de alguém que estivesse em estado de
pecado mortal. Confessado o pecado, via ela o mesmo demônio ao lado da pessoa.
Após uma excelente confissão, o anjo mau ficava enfraquecido e a tentação não
tinha mais o mesmo grau de energia. Ao ser pronunciado santamente o nome de
Jesus, Santa Francisca via os demônios do ar, da terra e do inferno
inclinarem-se com sofrimentos espantosos, tanto maiores quanto mais santamente
o nome de Jesus fora pronunciado. Se o nome de Deus é pronunciado em meio a
blasfêmias, os demônios ainda assim são obrigados a se inclinar, mas um certo
prazer é misturado à dor causada pela homenagem que são obrigados a render. Se
o nome de Deus é blasfemado por um homem, os anjos do céu inclinam-se também,
testemunhando um respeito imenso. Assim, os lábios humanos, que se movem tão
facilmente e pronunciam tão levianamente o nome terrível, produzem em todos os
mundos efeitos extraordinários e ecos, dos quais o homem não é capaz de
compreender nem a intensidade nem a grandeza.
Inúmeras visões da Santa
Elas são
muitas e se compõem de 109 Visões que Francisca teve ao longo de dez anos, de
Julho de 1430 a Dezembro de 1439. È um decênio trabalhoso e crucial na vida da
Santa, por que nele viveu intensamente a fundação da “Tor de’ Specchi” (1433),
mas também decisivo na história da Igreja, pelo conflito dramático entre o Papa
e os Padres participantes do Concílio na Suíça, que iluminada pela luz de Deus,
ajudou de maneira preponderante. Atendendo ao pedido de seu confessor, Padre
Giovanni Mattiotti, a serva de Cristo descreveu minuciosamente todas as Visões
e os encontros com o Senhor e a Mãe de Deus. Também, nestas Visões descreve a
condição dos justos na existência após a morte, a vida dos Anjos e a glória e
esplendor do Paraíso Divino.
Visões do Paraíso
Participando da Santa Missa na Capela preferida, assim que recebeu o Santíssimo Corpo de Cristo Sacramentado foi arrebatada em êxtase. Terminada a Santa Missa, ainda em êxtase, o pai espiritual pode presenciar a notável transformação ocorrida na sua expressão fisionômica, ficando a sua face visivelmente iluminada, e permanecendo assim em êxtase por quase uma hora. Voltando ao estado normal, por obediência ao pai espiritual, descreveu sua Visão. O seu espírito foi conduzido por uma luz brilhante a um local esplendidamente iluminado, repleto de infinitos tesouros. Estava naquele lugar Nosso Senhor Salvador na forma humana, com as cicatrizes de suas santíssimas chagas, das quais saiam admiráveis esplendores luminosos de tão considerável claridade que o seu espírito não podia fixar o olhar por muito tempo. Mas aquela claridade iluminava também todos os espíritos existentes no mesmo lugar, indescritivelmente felizes e com imensa alegria. Então, vi a Santíssima Mãe de Deus sentada num magnífico trono, numa medida inferior ao trono de Deus, seu Filho. Estava coroada com uma tríplice coroa: a primeira precisamente por sua Virgindade; a segunda por sua Humildade e a terceira para revelar a sua Glória. E esta última funcionava como maravilhoso adorno da primeira. Aquela querida Rainha do Céu estava com a aparência inflamada de amor sempre olhando carinhosamente o seu diletíssimo Jesus, Filho de Deus. Francisca confessa que estava entusiasmada com aquela admirável Visão e inflamada pelo Amor de Deus, e vendo também, uma imensidão de tesouros estendidos ao redor do Senhor teve o desejo de saber o significado. Então uma voz lhe respondeu: “Deus é o tesouro e a gloria das almas, a alma venturosa alcança o precioso tesouro que é Deus”.
A
seguir, a Voz do Senhor Deus lhe falou: “Eu Sou o Amor Eterno, que
arrasto o coração favorito afastando-o de todos os bens terrenos, e o ensino a
meditar mais alto e mais profundamente. Faço seduzi-lo, depois de observá-lo, e
em minha observação faço transformá-lo totalmente. É plenificado com imensa
caridade e depois de arder em amor celeste, imediatamente terá a maior
consideração e assumirá ele mesmo, convidar todos a se inflamarem, como se
permitisse unir integralmente a sua vontade com a Vontade Divina. O próprio sempre
contemplará desejoso de me abraçar. O seu amor alcançará o meu coração”.
A venturosa
serva de Cristo ouvindo aquela voz, ainda em êxtase, fez sinal com a cabeça
afirmando concordar totalmente com a Vontade Divina, e se recomendava
humildemente aos dois corações juntos, do Altíssimo Criador e de sua Santíssima
Mãe. Logo que se retirou da Visão, o seu pai espiritual e Rita Covelli, sua
filha espiritual em Cristo, ouviram a sua narrativa. Entretanto, antes de
deixarem a Igreja, numa última oração, aconteceu outro êxtase com duração de um
quarto de hora, quando ela ouviu a voz de Nossa Senhora que disse: “A Alma
que ignora o tesouro Divino, que é ingrata e não procura conhecer e, que não se
faz submissa a Vontade de Deus, não consegue a paz interior, embora satisfeita
com os bens terrenos, cultivará a contradição, e só conseguirá contradizer as
nossas palavras.”
Esta
Visão aconteceu no dia 30 de Setembro de 1431: Depois de receber a Sagrada
Comunhão naquela Capela, Francisca entrou em êxtase, o qual teve a duração
aproximada de 50 minutos. Respondendo as perguntas de seu pai espiritual disse:
veio uma grande luz que conduziu o meu espírito a outra luz maior. E a seguir a
luz foi conduzindo o meu espírito para um céu estrelado e depois para um céu
cristalino, e seguindo, o meu espírito foi conduzido para um céu superior
(empíreo), embora adiante ele fosse conduzido para um número maior de outros
céus. Seu pai espiritual a interrogou quanto àqueles céus estavam distantes um
do outro, ela respondeu: o céu estrelado é totalmente cheio de claridade, pelo
fato de aparecer azulado a nossa observação, com brilho cristalino que o torna
mais resplandecente. O céu superior tem um esplendor indizível, superior aos
outros céus. Disse: quanto ao céu ornado de estrelas tem tanta amplitude e
magnitude que nenhum raciocínio humano consegue meditar sobre as suas dimensões
e seu magnífico brilho cristalino. Porém o céu superior possui também uma
grande e incrível dimensão. Disse ainda, o céu cristalino está mais afastado do
céu semeado de estrelas como o céu estrelado está tão distante de nossos olhos
na Terra. O céu superior está mais distante do cristalino do que o cristalino
para o estrelado. Também interrogada pelo pai espiritual sobre as estrelas ela
disse que algumas são maiores do que a Terra e outras são diferentes, ainda que
para nós não apareça assim, a distância de uma constelação a outra é muito
grande. Por outro lado, o espírito dessa humilde serva de Cristo assim
conduzido, viu e contemplou a Divina Majestade em seu excelso trono e Jesus
Nosso Salvador glorificado em Sua Humanidade. Das chagas saiam tão grande
esplendor que lhe é impossível descrever. Embora das chagas das mãos e dos pés
saíssem um indizível brilho, contudo aquela vasta luz que saía das mãos não era
maior e nem mais esplendorosa que a luz incomparável irradiada pela chaga do
lado. Todos aqueles raios de luz que saíam das santíssimas chagas se derramavam
por toda a corte celeste, e todos os gloriosos espíritos, tanto angélicos como
os humanos, se rejubilavam com muita alegria, dando louvores e indizíveis
glórias ao Senhor, mostrando Cristo Pantocrator, Senhor do Universo e Redentor
do Mundo.
Em outro
trono inferior a aquele trono excelso estava à querida Mãe de Deus coroada com
a tríplice coroa. Embora, como dissemos, os raios luminosos que saíam das
chagas do Salvador eram lançados sobre todos os espíritos que se alegravam
imensamente, todavia de modo indizível envolvia completamente a Rainha do Céu e
seu esplendor brilhava admiravelmente, além disso, alcançava imediatamente
depois, mais ou menos, o resto dos espíritos, isto de acordo com o mérito de
cada um. Viu ainda que os raios luminosos que saíam das Santíssimas Chagas do
Salvador não só se irradiavam sobre os espíritos beatíficos, mas também sobre
os corpos das criaturas mortais em nosso planeta, conforme maior ou menor o mérito
de cada um. Os raios luminosos que saiam dos Santíssimos pés do Salvador se
derramavam sobre as criaturas fazendo-as crescer espiritualmente, e estas são
aquelas que tinham grande afeto ao Senhor Salvador. Aquelas criaturas que
recebiam os raios luminosos que saiam das preciosíssimas chagas das mãos, são
aquelas que tinham caridade e fervoroso amor ao Senhor Salvador. Aqueles que
recebiam os esplendores luminosos que saiam da caríssima chaga do lado são
aquelas pessoas que amam e são amigas do Salvador com todo o seu espírito e com
o coração puro. Entre as pessoas beneficiadas pela grande irradiação luminosa
das chagas, algumas recebiam o dobro de intensidade, outras três vezes mais e
algumas, quatro vezes. Das cinco
irradiações luminosas das chagas, aqueles que recebiam quatro vezes mais, sem
dúvida, eram os que tinham mais merecimentos. Francisca também viu que os raios
luminosos enviados pelo misericordiosíssimo e begníssimo Nosso Senhor Jesus
Cristo, eram as suas graças, também derramadas para todo o mundo. Contudo
muitos da humanidade são indiferentes, não se interessam e desdenham as graças
do Senhor. Todavia a Bondade do Senhor continua a derramar graças,
incessantemente, para a conversão do coração, o bem de todos e harmonia da vida
no mundo. Continuando a sua narrativa, Francisca disse que o seu espírito
estava contemplando a santíssima chaga do lado no Salvador, com indizível
alegria e júbilo, quando percebeu com admiração o maravilhoso e tranquilo mar
de luz que se descortinava da gloriosíssima chaga, cuja maior distância na sua
extremidade final seguramente não via, mas que estava num abismo. Sobretudo,
estando no mencionado espaço beatífico, de tanto ver e pensar ouviu uma
suavíssima voz dizendo: “Eu Sou o Amor fiel, que ponho a alma na verdade”.
Esta Visão aconteceu no dia 1º de
Novembro de 1430. (Pentecostes)
Nesta
época Francisca estava impedida de andar, e então, no Domingo, não podia ir a
Santa Missa para receber o Sagrado Corpo Sacramentado do Senhor. Mas ouvia os
cantos, de seu pequeno quarto na parte superior da casa, onde habitualmente
rezava e dava espaço às sagradas meditações. Claudicando e não podendo curvar o
joelho, viu uma grande chama brilhante do amor Divino que conduziu o seu
espírito para uma poderosa luz que emanava daquele Anjo que lhe foi enviado
para servir, conforme mencionamos. E aquela luz incandescente conduziu o seu espírito
para outra luz maior e mais luzidia, onde viu a gloriosíssima Rainha do Céu
coroada com um lindíssimo diadema de ouro e pedras preciosas, estando presentes
inumeráveis e gloriosos espíritos angélicos e humanos, cantando maravilhosas e
suavíssimas melodias. A seguir o seu espírito foi separado dos outros gloriosos
espíritos e colocado como um peregrino visitante num lugar, onde viu um
magnífico trono todo enfeitado e circundado por incontáveis esplendores com
admirável zelo. No trono havia letras escritas, as quais certamente
maravilhosas estavam num outro idioma. Das letras saíam um brilho e embora
fosse diferente aquele idioma, todas as pessoas estavam estimuladas e
comovidas, motivadas também pela alegria das outras excitações. As letras
formavam este texto: “Amor, para quem Eu Amo. Amor que me honra, Amor a
mim dedicado, sinceramente devotado a mim. Diante de tudo ele é colocado em
diferentes lugares, onde o espírito está livre. Consagrando a min vocês me dão
uma profunda consolação. Eu vos prometo Amor, por que dá consolo, estimula a
perseverança e é refúgio para tudo, quando estão livres. Sempre fostes
preparados com todo o meu querer e graças a minha boa amizade fostes um comigo
e fostes escrito no Livro da Vida. Agora coloco naquele lugar bem marcado (no
coração), o verdadeiro estimulo e a compreensão ao meu Amor, que depois os
conduzirá a pátria celeste. Aqueles que forem fieis sempre recordarão do meu
Amor eterno: agora, alegria a todo o momento por que existe Amor em quantidade
e para todos”.
Disse
também aquela serva do Senhor, não só no dia de Pentecostes, quando os
Apóstolos e os Discípulos receberam graças derramadas pelo Espírito Santo, mas
corretamente Ele continua a derramar suas graças em qualquer lugar do mundo em
qualquer dia ou hora, a todas as almas justas. Entretanto, conforme a
capacidade de cada pessoa, isto é, conforme ela esteja mais ou menos em “estado
de graça”. Naquele mesmo dia, o seu espírito foi conduzido por uma luz
esplendida para dentro de outra luz imensa, esplendorosa, e nesta fulgurante
luz viu um trono maravilhoso todo ornado admiravelmente por infinitos tesouros.
E no trono havia o letreiro: “Princípio sem fim”. Daquele trono ouviu uma voz dizendo:
“Ame,
ó alma, o teu Senhor, ame Aquele que tanto te ama. Do Céu desceu a Terra como
teu servo. O ódio que existe no mundo é vitória do dragão. Ame o próprio Amor,
para embelezar a carne humana que te veste. Tanto te amou que Teu Sangue foi
derramado para que tu tenhas uma existência fiel e feliz. Siga aquele caminho
que te ilumina, e por tal rota deve caminhar em ordem de sempre amar. Quer
subir aos Céus e descobrir o ardor Divino? O próprio Amor te ensina como
trabalhar com grande fervor. Usufrua as dádivas do tempo de trabalho de maneira
responsavelmente. Seja humilde, doce e despojado de toda vaidade, competente em
obediência para permitir sempre rapidamente um amor fervoroso a Deus,
invocando-O de modo a ter êxito em teus empreendimentos. A justa medida é se
deixar transformar e se inflamar no Divino Amor. Olhe sempre para o seu Deus
Altíssimo e o seu nobre Amor. Este perseverará sempre, sem influência dos
olhares e das coisas. Gozar agradavelmente do sabor da eternidade, é a garantia
que recebe do Amor, que te inflama no ardor de Deus. Então, ame o Senhor, e Ele
te amará eternamente. Ele mesmo te conduzirá com imenso júbilo nesta grande
transformação, te colocando neste maravilhoso abismo muitíssimo inflamado de
Amor. E sempre deverá permanecer com esta mesma vontade, principalmente para
fortalecer a sua alma e viver sem temor. Vivendo e morrendo na altitude (cultivando
a santidade por amor a Deus), com o pensamento e o coração em Deus, não tomando
conhecimento de sua imagem pessoal, por que o Amor Divino é tão grande e
profundo que envolverá a sua existência”.
Esta
Visão aconteceu no dia 8 de Junho de 1432, solenidade de Pentecostes. (Francisca
fala do Paraíso. Seu guia foi o Apóstolo São Paulo): Aquela serva devota de
Deus, depois de receber o preciosíssimo sacramento (o Sagrado Corpo do Senhor
Sacramentado), naquela Capela, entrou em êxtase. Logo lhe apareceu Santa
Madalena e disse: “O alma, que te privaste do teu próprio desejo e
quiseste servir vigorosamente o Altíssimo Criador, abandonando todas as tuas
vontades, e de todos os modos queres colocar o teu zelo neste grande abismo
secreto, por conseguinte, deve contentar o próprio amor com todas as coisas
agradáveis, em todas e por todos, deves tributar honra a Deus. Seja sempre
consistente e firme, não queira se desviar do caminho, sendo suficiente a todas
as almas, e conhecendo, tome cuidado com todas as ciladas do inimigo, seja
sempre submissa e adormeça neste ardor. Alma, estes cuidados são necessários e
descanse no Amor de Deus, e depois, nesta água corrente será transformada num
abismo de amor, evidentemente no Amor de Jesus Cristo, fazendo que sejas fiel e
sempre autêntica, te renovando na celeste caridade que te fará arder de amor. A
alma que é fiel será inflamada de tanto ardor e será renovada neste grande
abismo de amor. E deste modo, a alma renovada será reverente ao dulcíssimo
Senhor. Prepare-se para reverenciar no Céu a Divindade, que dá beleza a alma. E
esta formosura permite modelar a alma para ela ser sempre nova e bela, sem
nenhum defeito. A alma sem defeito é trabalho da virtude de Deus. Quanto mais
humilde ela for, tanto mais alto será elevada. Por outro lado, a própria
virtude de Deus transforma todo o ambiente celeste, não deixando entrar a visão
das trevas, por que todo esplendor da luz supri e satisfaz todas as
necessidades. Então, se reconciliando com a Vontade de Deus, seja firme e
proceda com coragem, abandonando os seus próprios desejos, por que o Senhor te
escolherá num próprio noivado”.
E logo
depois é acompanhada em êxtase visitando todos os lugares do Paraíso Celeste. E
naquela visão beatífica ouviu as palavras: “O glorioso Apóstolo Paulo está
lhe conduzindo na festa de hoje, da parte do Redentor e Criador e da Santíssima
Trindade, que é só Amor. Quanto ao fato, a festa da Santíssima Trindade celebra
aquela santíssima união, que acendeu o fogo do amor e da graça em plena e total
abundância no Coração Divino. E assim, grande deve ser o respeito por aquele
fogo amoroso, que se revela tão ativo como naquele abismo do rio, e assim, no
brilho da Divindade. Por que foi com grande ardor que o Verbo Divino desceu e
inflamou toda a humanidade, e permaneceu entre nós, em espírito e verdade, e
com seu infinito Amor Divinizou a humanidade. Três Pessoas Divinas numa Única e
com a mesma Essência, e, a saber, a Essência é incomensurável e todas as Três
com perfeita noção de tudo, e com idêntico poder, com a mesma sabedoria, e por
Sua infinita misericórdia seus servos se encantam com seu Imenso Amor. Como um
abismo de um grande rio, distribui ardores inflamados, que se transformam numa
infinita felicidade pela graça do amor, conservando todos os santos espíritos,
saciando e colocando em ordem os espíritos angélicos, os quais inflamados e com
puro amor, são mantidos e governados. Pois os espíritos seráficos, aqueles que
estão nos três Coros Hierárquicos mais próximos do trono de Deus, assim como
qualquer daqueles nove Coros, todos eles possuem suas residências e são
governados pela vontade do Senhor”.
Francisca
repetiu ao seu pai espiritual as palavras de São Paulo, dizendo: "Existem
verdadeiramente três Patriarcas em algum lugar. Primeiro está Abraão, em
segundo Isaac e em terceiro Jacó. Outros Patriarcas além destes três existem
nos Coros, a saber, conforme semelhantemente a justa medida de sua capacidade
no conhecimento de Deus. Em primeiro está o glorioso João Batista, que segura
uma bandeira de amor vitoriosa (pelo seu martírio), e precisamente todos os
outros seguem o mesmo caminho, conforme revelaram progressos para amar. Os
Profetas estão na primeira residência do primeiro Coro, e também no segundo e
terceiro. Na segunda residência do primeiro e segundo Coro estão os gloriosos
Apóstolos, mas na segunda residência do primeiro Coro está São Pedro, São Paulo
e Jacob Zebedeu. A digníssima Rainha do Céu está no primeiro Coro, superior a
todos os espíritos angélicos e humanos. Em residências abaixo, neste primeiro
Coro, estão espíritos humanos, contudo não em grande número, existem lugares
vagos na expectativa da chegada de espíritos merecedores que vivem na Terra, e
que estão escritos no livro da vida, e do mesmo modo, também outros espíritos,
que ainda estão para nascer".
"É
incontável o número de Anjos, mas, embora sejam numerosos, eles são
determinados nas visões Divinas e na compreensão e discernimento dos espíritos
humanos, de modo que geralmente são os mesmo Anjos observados nas Visões. Assim
também em segredo Divino aqueles espíritos humanos são observados tanto os que
buscam a salvação, como aqueles de procedimento condenável. Mas aqueles
espíritos que no tempo futuro devem ser salvos ou condenados, permanecem
ocultos e indulgentes no Coração Divino, e isso, por causa do “Livre Arbítrio”
que Deus concedeu a todas as almas. Assim, os atos Divinos permanecem intactos,
respeitando evidentemente a presciência Divina da salvação ou da condenação,
por que somente Deus conhece o presente, o passado e o futuro, e por outro
lado, as almas permanecem do mesmo modo independentes, com total liberdade de
pensamento, movimento e ação". Por último, o glorioso Apóstolo disse para
os Sacerdotes: “Não queiram por fim na bondade e misericórdia
Divina, que é infinita, mas sempre em teu segredo e no teu coração tenham e
guardem o conselho e a fé, e a indubitável esperança, por que sempre cheia de
pleno encanto, deve permitir a conduzi-lo e a reconduzi-lo no caminho do direito.
E sempre confiando no Senhor, que tudo faz, bem feito, por que sua graça dá
aparência à humanidade de acordo com a Sua Vontade. Pois, em sua bondade, sempre
envia todas as coisas, Ele faz ou permite sempre deixando as pessoas
satisfeitas, e sua obra conduz não só ao bom caminho, mas conduz de maneira
excelente o próprio trabalho e os empreendimentos, e em seu consentimento, vê
mais amplo e mais longe, e conhece na medida o que pode ser permitido. Disse
também o glorioso Apóstolo São Paulo, que sejam vigorosos e sempre permaneçam
na graça de Deus, dando glórias e louvores a Ele, alegrando-se sempre com Ele e
Nele, e se afastando das coisas irrefletidas, por isso mesmo, não assumindo o direito
de julgar a Obra de Deus conforme a sua maneira de ver, mas conforme o
beneplácito Divino”.
Esta Visão aconteceu no dia 23 do Mês de Junho de 1433
Outra
visão: Francisca descreveu ao seu pai espiritual: Certo dia, com a alma dirigida
a Deus, enlevada pelas orações e santas meditações, surgiram vinte e seis
espíritos malignos que me injuriaram e me lançaram terríveis insultos, e se
preparavam para arremessar fogo sobre a cidade, dizendo: “Isto é
a ira de Deus que envia fogo sobre a cidade de Roma por causa dos abomináveis
pecados do povo. Dois de nós, a começar por qualquer região, serão os
executores do castigo Divino, sufocando e destruindo a cidade”. Para grande
angústia e inquietação da alma da serva de Cristo, os demônios se consideravam
incumbidos de punir o povo e destruir a cidade. Continuando suas orações com fé
e confiança, a graça Divina se manifestou. O Salvador surgiu no espaço brilhando com tão intenso
esplendor, que os falsos emissários Divino reconheceram. Para completar o
consolo da serva de Cristo, teve a Visão não dos falsos julgadores, mas a imagem
da verdadeira Mãe de Deus coroada, tendo o menino Jesus aos braços, o bem
aventurado João Batista e os gloriosos apóstolos Pedro e Paulo, que de joelhos,
suplicavam ao Senhor em benefício das almas corretas e liberação da cidade.
Então Francisca ouviu uma suavíssima voz, dizendo: “O
excelso e misericordioso Senhor, se inclinou aceitar as súplicas dos Santos e
da bem-aventurada Virgem Maria, retrocedendo a sentença contra a cidade, mas se
eles não se corrigirem graves penas inesperadas acontecerão”. Como sinal, imediatamente três
diabos lançaram flechas de fogo: a primeira sobre a torre da Basílica de São
Paulo, a segunda sobre a torre da Basílica de São Pedro e a terceira sobre a
Capela do Senhor na Basílica de São João de Latrão. Isto ocorreu no mês de
Julho do ano do Senhor de 1430.
Outra
visão: Depois das orações na Capela e recebendo o Santíssimo Sacramento, a
serva de Cristo entrou em êxtase, permanecendo imóvel pelo espaço de uma hora.
Depois retornando ao natural, por obediência ao pai espiritual que a interrogou
sobre a visão, respondeu que seu espírito foi conduzido por uma grande luz, em
direção a outra maior, onde estava um lindo tabernáculo, próximo a um pequeno
tamborete. Em cima do tabernáculo estava um cordeiro com uma candura
incomparável, e diante dele três admiráveis cordeiros branco como a neve,
alegres e cheios de graça. Juntos atravessaram diante do Cordeiro, humildes e
agradecidos fazendo uma profunda reverencia, e assim, cada qual passou,
recebendo o seu tamborete. Aqueles ardorosos espíritos permaneceram com muita
alegria durante uma hora, mantendo o corpo sempre imóvel, naquele lugar e
ouviram uma suavíssima voz dizendo: “Eu sou aquele Amor, que dou
frutos perfumados nesta pátria. Toda alma que sentir este perfume, sentirá
gosto por ele, e então, a grandeza do perfume do meu Amor fará a alma renunciar
a tudo na terra e arder em fervoroso amor por mim. Por isso, depois que ela
renunciar, sempre lastimará as coisas que fez. Pensará em ser acessível e de se
fazer insignificante, renegando a sua própria vontade; desejará examinar e
observar tudo, apelando ao martírio e se submetendo a obediência, de modo a
poder se unir Aquele de Quem se encantou”.
Retornando
do êxtase, o seu pai espiritual e sua filha em Cristo, Rita Covelli, ouviram
estas palavras: “Contigo desejo estar, nem deste lugar proponho me
afastar. Pessoa convidada, não deve se violentar. Agora que ela tem, porque se
faz como se não tivesse? Não quero mais me demorar, não tenho preguiça e nem
temo qualquer perigo. Quero permanecer Contigo e nunca Ti abandonar. Tu és o Espírito
Criador e tens tudo para oferecer com amor. E assim, não quero e nem sei como
me ocultar”.
Entrando novamente em êxtase, ouviu
uma voz que disse: “Quem tem sede, venha e beba”. E então, aquele cordeiro
branquíssimo volveu o seu peito para o outro cordeiro com um aspecto bom e
gracioso, e fez sinal com a cabeça para ele vir e beber numa grande chaga em
seu peito. O cordeiro, com a fisionomia tranquila, para aquela grande chaga
correu e bebeu, e também esta alma devota de Deus foi conduzida para aquela
chaga profundíssima e de onde viu um mar de luz infinita, e não satisfeita só
de beber, pois desejava entrar lá dentro, se lhe fosse permitido, mas foi
impedida por que ignorava. Mas quando perspicasmente contemplou, vendo um mar
de luz tão mais profundo, com maior atenção e paixão, desejou caminhar para lá.
E assim, ouviu uma voz dizendo: “Eu Sou uma Ilha de Amor, que em
alta voz digo: Quem tem sede, venha e beba. E chegando para querer se saciar,
abra o meu Coração, de modo que possa ser recebido como hóspede”. Esta Visão aconteceu no dia 22 de
Julho de 1431, festa da Bem-aventurada Maria Madalena:
Em outra
ocasião, a humilde serva de Cristo rezando na Capela do Santo Anjo, na Igreja
de Santa Maria em Trastevere, depois de receber a Sagrada Comunhão foi
arrebatada em êxtase. Então, sua
fisionomia revelou um grande jubilo, ostentando imensa alegria, e ainda,
fazendo gestos e modos iguais à de uma mulher que tivesse em seus braços uma
pequena criança. O braço segurava apertadíssimo ao peito, movendo a criança de
lá para cá, mostrando-se muito contente com aquele preciosíssimo tesouro em
seus braços, olhando-o com frequência e contemplando-o carinhosamente. E assim
ficou pelo espaço de aproximadamente meia hora.
Voltando ao seu estado normal, o pai espiritual lhe
interrogou a respeito da Visão e por obediência Francisca respondeu: “Vi uma
Hóstia grande lindíssima da cor semelhante a uma imensa quantidade de neve
branquíssima. Fiquei contemplando atentamente, e neste momento, certa luz
claríssima conduziu o meu espírito a um céu cristalino. Depois fui conduzida a
outra luz maior, na qual estavam muitos espíritos angélicos, que ela ficou
impedida de fixar o olhar e examinar, porque a luminosidade era muito grande e
ela não estava habituada a uma luz tão intensa, semelhante à luz solar, isto
por que, todos brilhavam com magnificência, cheios de luz, transparentes embora
visíveis, e eram brilhantes e ardorosos. Naquela luz imensa estava a celeste
Rainha, com o Filho de Deus em seus braços, agora, na sua humanidade, muito
pequeno com quase oito meses de vida. A luz que emanava da Mãe de Deus era mais
brilhante e muito mais intensa, do que aquela onde os espíritos angélicos
estavam. E naquele ambiente celeste apareceu outra suntuosa e inestimável luz,
vinda de Deus que deslocou o Filho, o menino Jesus, dos braços da Mãe para os
meus braços. Minha emoção foi indescritível, por que não encontro palavras carinhosas
e cheias de ternura, para descrever a imensa alegria de meus sentimentos”. Esta
Visão aconteceu no dia da Festa da Natividade da Virgem Maria, 8 de Setembro de
1431.
Visões do Purgatório
Toda
pessoa ao morrer, sua alma ficará diante de uma encruzilhada por onde será
conduzida a dois diferentes caminhos, conforme suas virtudes, as qualidades e o
seu próprio desempenho ao longo da existência: se bom, médio ou mau. Os dois
Caminhos conduzem: a vida feliz no Paraíso Divino ou a Condenação Eterna no
inferno, na companhia de satanás e seus asseclas. Assim, se os seus merecimentos
lhe conduzirem pelo caminho da Eternidade feliz, estará livre da condenação
eterna e logo serão avaliados, se a alma seguirá direto para o Céu, ou se
deverá antes passar pelo Purgatório para uma ligeira imersão purificadora, ou
para permanecer algum tempo incinerando todos os seus pecados e transgressões
cometidos contra a Justiça Divina e não devidamente arrependidos e perdoados
sacramentalmente em vida. Para que se firme ainda mais a crença nesta realidade,
desde o século XIV o Senhor bondade infinita, permitiu que sua serva Francisca
conhecesse todas as dependências do Purgatório, objetivando poder transmitir
fielmente à humanidade as informações em benefício da vida de cada criatura.
O texto
foi escrito pelo Padre Giovanni Mattiotti, confessor da Santa, e ele,
respeitosamente inicia assim: Em nome da Santíssima Trindade começo o Tratado
do Purgatório, descrevendo todos os locais onde esta humilde serva de Cristo
esteve conduzida pelo Arcanjo São Rafael. Francisca logo no princípio de sua
narrativa diz que o Purgatório é divido em três imensos planos: um inferior, o
médio e o plano superior. Na entrada viu as letras que diziam: “Aqui é o
Purgatório, lugar de esperança; neste lugar as almas se elevam; é momento de
trégua e purificação, diante do único desejo de salvação.” Observou que é um local com muita
disciplina e ordem, completamente diferente daquilo que viu no inferno, e como
disse o Arcanjo São Rafael e a serva do Senhor escreveu: “O Purgatório é onde
as almas se purificam de todos os seus defeitos, e por isso é denominado lugar
de súplica e de esperança para outro lugar”.
O Plano
Inferior é um local cheio de um fogo claro, diferente do fogo do inferno que é
negro e tenebroso. Este fogo do Purgatório tem a chama alta, de cor vermelha,
contudo não infunde brilho nas almas. Por esse motivo, a alma neste lugar está
sempre cercada por trevas exteriores. Mas se torna brilhante interiormente por
causa das imensas graças alcançadas durante a sua purificação, que a faz
reconhecer a verdade justa que fixou os limites do tempo de sua permanência. A
alma cheia de pecado lamenta o estado de sua vida e deixa tudo a critério do
Anjo encarregado de fazer a infusão para a sua purificação naquele fogo. E
deste modo, conforme a qualidade e quantidade de seus pecados, o pecador
permanecerá no fogo o tempo necessário para expiar os seus crimes praticados
contra a Justiça de Deus.
Todas as
almas que estão no "Lugar Inferior do Purgatório" se mostram com
disposição para a tortura e todos os sofrimentos, e são envolvidas
completamente pelas chamas, suportando aquele fogo ardente que as atormenta
vigorosamente, proporcionalmente a quantidade e qualidade dos pecados que cada
uma cometeu. Assim, a alma que está no fogo, insensivelmente vai purgando os
seus pecados, do mesmo modo que cresce nela a pureza espiritual. E terminado o
tempo da dívida, ela deixa aquele lugar e sobe para um local logo acima, que é
o "Plano Médio do Purgatório". Todavia, se a alma que está no
"Plano Inferior" foi condenada por ter cometido pecado mortal, deverá
permanecer neste Local num mínimo de setenta anos, sob intenso fogo para
purificar todos os pecados. Francisca disse ainda que, aqueles favores que as
pessoas no mundo fazem em beneficio das almas que estão no Purgatório sempre
dão bons resultados, mesmo no caso das almas que estão no "Plano Inferior
cujas" penas não podem ser reduzida, contudo, elas também lucrarão com a
preciosa ajuda, pois haverá redução na intensidade do fogo, o qual não as
atormentará tanto. Assim sendo, os favores, orações e esmolas, feitas pelas
pessoas no mundo, contribuem efetivamente para que aquele fogo não seja tão
atroz e ardente para as almas que lá estão em purificação. O "Plano
Inferior do Purgatório" é aquele que está mais próximo do inferno, mas os
espíritos malignos não podem entrar, permanecem de fora, no lado esquerdo, para
evitar que as almas que lá estão, além das severas penas, sofram também ao
ficarem expostas aos demônios, perto daquelas horríveis visões e ouvindo as
repreensões, os xingamentos e terríveis impropérios dos diabos. Francisca disse
ainda que por causa das penas severas que sofrem neste lugar, clamam
chorosamente com vozes humildes e incansáveis: “Ó Deus piedade e misericórdia,
misericórdia, misericórdia”. Certamente conhecendo quão justa e correta é a
Justiça Divina, as almas que lá estão compreendem que estas penas são justas e
dignas de suportar. E por isso também elas mesmas, apesar de suas constantes
súplicas, ficam contentes, sentindo certa consolação, sabendo que à medida que
vão transcorrendo os dias da purificação, vão se aproximando os dias de sua
libertação à abençoada glória. Esta alma devota de Deus disse que aquele fogo
do Purgatório se assemelha ao fogo do inferno do meio, ainda que com alguma
diferença, porque o fogo do inferno é negro e escuro, e aquele do Purgatório é
claro. Ela disse que viu na entrada do "Purgatório Inferior" letras
escritas que diziam: “Prostibulo”. E viu logo acima, letras relacionando os
maiores pecados mortais, que se praticado por uma alma ela estará condenada a
sofrer naquele fogo por setenta anos completos (no mínimo), e nada poderá
diminuir esta quantidade de tempo mencionada. No "Purgatório
Inferior" ela ainda observou que haviam três locais separados. Um lugar
maior onde são infligidas as penas, e nele havia também almas de sacerdotes,
onde precisamente a parte do fogo era muito mais ardente. Na segunda parte havia
almas de pessoas e de membros do clero não havendo, todavia, sacerdotes, e na
qual o fogo não era tão ardente. Na terceira parte havia muitas almas de homens
e mulheres seculares com grandes pecados cometidos e em cuja parte o fogo não
era tão ardente, como na segunda parte. E, no entanto, os sacerdotes não
expiavam pecados tão graves e tão pesados quanto aqueles dos seculares (homens
e mulheres civis). Contudo suportavam penas maiores por um motivo racionalmente
exigente: a "dignidade sacerdotal", que é tão grande e tão
importante, que supera a maldade dos grandes pecados. Também, porque tiveram um
conhecimento muito maior, mais oportunidade de santificação e estimulo ao
discernimento espiritual, que as pessoas seculares tem apenas uma parte. Aquela
devota serva de Cristo disse ainda que a alma do sacerdote também suporta
castigos maiores e tão grandes, conforme outras circunstâncias, referentes à
qualidade e quantidade dos pecados cometidos, em razão da qualidade funcional e
da dignidade do cargo que exerceu.
Depois
Francisca foi conduzida pelo Arcanjo São Rafael para visitar o "Local do
Purgatório Médio", no qual também tem três divisões cujos lugares são
suficientemente grandes e onde, da mesma forma, a Justiça Divina realiza de
modo perfeito o seu trabalho. Na primeira área, o local estava cheio de gelo
diferente e especial, extremamente frio; o segundo estava cheio de madeira
liquefeita misturada com óleo ferventíssimo e outras coisas para tornar o
sofrimento da pena mais difícil; o outro local estava cheio de alguma coisa
metálica liquefeita, provavelmente ouro ou prata, formando uma espécie de liga
bem clara incandescente. Assim, depois que a alma sai do "Lugar
Inferior" ela sobe para o "Purgatório Médio". Por outro lado, a
administração Divina, é constituída por trinta e oito Anjos que recebem as
almas saídas (com os pecados já eliminados) do fogo do "Purgatório
Inferior", e recebem também as almas que no corpo estavam no mundo, que
não cometeram graves pecados, de modo não merecer estar no fogo inferior. E
estes gloriosos Anjos recebem estas almas e as submetem ao seu grau de
purificação. Eles as recebem de modo gracioso e humano, mudando-as de local em
local, à medida que vão cumprindo a pena, e fazem isso com grande caridade.
Precisamente estes Anjos não são aqueles que enviam as próprias almas para a
infusão, para extrair o mal que existe em cada uma, mas são Anjos a serviço das
ordens da Divina misericórdia. Francisca disse ainda, que as almas que estão no
"Purgatório Médio", que vieram do grande "Lugar Inferior"
onde recentemente foram queimadas completamente, todas e qualquer uma delas, se
praticaram algum pecado mortal permanecerão neste mesmo local do
"Purgatório Médio", por quinze anos contínuos, ainda que já tivessem
sofrido pelos seus grandes pecados e já tivessem permanecido no "Lugar
Inferior" no mínimo por setenta anos. Porém, estes quinze anos de pena
neste "Lugar Médio" poderão ser abreviados pelo sufrágio de orações e
esmolas da humanidade, dirigidas a todas as almas que estão no Purgatório.
Também disse esta alma devota de Deus que neste "lugar Médio do
Purgatório", as almas não têm aquela visão horrível dos demônios, que
permanecem externamente ao lado do "Purgatório Inferior", e também
não ouvem os impropérios daqueles demônios, lançando censuras as almas, por
causa de seus muitos pecados. A alma que está no "Lugar Inferior"
sempre grita e suplica por piedade clamando: “Misericórdia, misericórdia”, mas
as almas que estão no "Lugar Médio" sempre louvam a misericórdia
infinita do Senhor, e repetem muitas vezes os seus agradecimentos. Por outro
lado, o favor e qualquer benefício que as pessoas no mundo por caridade fazem
às almas que estão no Purgatório, vão ajudar mais efetivamente aquelas que
estão sendo purificadas no "Lugar Médio". Elas não só lucrarão a
diminuição do castigo temporal, mas também a diminuição da pena total, tanto as
almas que foram condenadas diretamente ao "Purgatório Médio" como
aquelas que vieram do "Fogo do Purgatório Inferior". Disse ainda
aquela humilde serva de Cristo, que todas as boas obras, orações e sacrifícios
feitos por amigos e parentes em benefício das almas que estão em qualquer lugar
do Purgatório, os próprios auxílios serão mais úteis se feitos por plena
caridade, por que assim, também beneficiará a todas as outras almas existentes
em purificação. Disse também que as orações e esmolas feitas caridosamente por
amigos e parentes em beneficio daquelas almas que agora já estão na gloria, e,
portanto, não necessitam das mesmas, tais orações e bons benefícios alcançam a
finalidade, ajudando as outras almas necessitadas pelas quais ninguém faz
sufrágios, ninguém reza e nem dão esmolas. Isto é geral para todas as almas que
estão no Purgatório. Ainda disse, sobre o sufrágio, que se as almas a quem os
mesmos são dirigidos estão no inferno, elas não poderão receber qualquer
benefício. Os sufrágios, resultarão em benefício das pessoas que os praticarem.
Esta feliz alma viu também algumas letras escritas no mencionado "Lugar
Médio do Purgatório" dizendo que a alma com o pecado mortal naquele lugar
deverá permanecer por quinze anos se não receber nenhum sufrágio.
Do
"Lugar Médio do Purgatório", cumprida as suas penas, as almas são
conduzidas pelos Anjos ao "Lugar Superior". Ela viu dois setores no
"Lugar Superior do Purgatório", que precisamente são os melhores
locais quanto às penalidades. Ali é onde existe uma "imensa Fonte de
Água" que lava a alma, tornando-a mais bonita, digna e honrada. Neste
local existem vários Anjos e um deles é o Superior e dá as ordens. Ele ordena
as almas a ficar sempre com a parte superior da cabeça naquela corrente de
água, e de repente o próprio Anjo as mergulha totalmente na correnteza, a fim
de limpar o restante do mal existente. Algumas almas se retiram mais rapidamente
do que outras daquele lugar tão grande, de acordo com a quantidade de seus
pecados cometidos e purificados, porque completada a sua purificação elas
estarão sem nenhuma pena ou culpa. Aquela alma devotíssima de Deus viu também,
que quando uma alma vem do mundo e não tem nenhuma pena a cumprir, é colocada
por aquele Anjo glorioso na mencionada água, e mais rapidamente a retira de lá,
porque a alma está limpa. Ela viu a alma de um homem e também de uma mulher,
que neste mundo trabalharam em santas obras e se conformavam com a Vontade
Divina. Viu também a alma de uma criança
recentemente batizada que nunca cometeu um pecado e a alma de um jovem que recebeu
o martírio por amor a Deus. Todos eles passaram rapidamente pela água rumo à
eternidade feliz. Desse modo, por pequena que seja a alma neste mundo, sendo
justa e fazendo penitencia poderá ingressar nesse lugar, mas é necessário que
antes de alcançar a glória beatífica seja colocada naquela água, que
seguramente é de purificação e completa a limpeza espiritual. Contudo, exceção para as almas que são
privilegiadas por Nosso Senhor Jesus Cristo e por sua Mãe Santíssima, que sobem
direto para a felicidade eterna.
Neste
"Lugar Superior do Purgatório" havia na entrada umas poucas letras
que diziam: “Lugar de Purificação”. No "Lugar Inferior" havia também
o letreiro que dizia: “Aqui é o Lugar dos Corruptos”. Na entrada do "Lugar
do Purgatório Médio" o letreiro dizia: “Aqui é o Lugar do Purgatório”.
Também disse esta alma devota de Deus, que, passada na mencionada água, a alma
recebe com grande alegria e júbilo aquele Anjo que lhe foi dado em custódia
para fazer a infusão, e com ele segue até um lugar denominado "Seio de
Abraão". Dali, ela viu como o Anjo Custódio fazia a infusão nas almas e
avaliava o grau de purificação, e conforme o mérito, ela podia ficar nesse
lugar, ou permanecer no Coro dos Anjos mais baixo. São nove os Coros dos Anjos,
e sobre este assunto Francisca fez uma ampla exposição no Tratado das Visões.
Os Anjos que custodiavam a infusão para a purificação, sempre conduziam primeiro
as almas para aquele local, no "Seio de Abraão". Na verdade, aqueles
Anjos dados em custódia para as almas e, por conseguinte, que fazem as
infusões, são os Anjos do Coro mais baixo e das residências dos referidos
Coros. Assim, depois que a alma está naquele lugar que é denominado "Seio
de Abraão", sem demora os Anjos, que são do Coro para onde elas devem
subir, vêm satisfeitos e com a máxima alegria, as conduzem para o seu Coro e
sua residência, e ali as almas vivem muito felizes e com bastante júbilo e
euforia, na companhia dos Anjos. E do mesmo modo, se por ventura a alma deve
ser conduzida para outro Coro, por exemplo, para o terceiro Coro, os Anjos do
Terceiro Coro virão a esse lugar, a fim de conduzir a alma ou as almas para o
seu Coro e Residência. Disse também essa venturosa alma dileta de Deus que
quando uma feliz alma chega isenta de pecado, pelo seu mérito poderá alcançar o
Coro Seráfico. Isto acontecendo, nenhum dos outros Coros Angélicos se aproximará
para conduzir aquela alma a outro Coro. Se aquela feliz alma está no lugar que
foi dito "Seio de Abraão", será envolvida por um som melodioso de
suavíssima música, que se eleva admiravelmente, atravessando todos os Coros e a
Divina Providência coloca aquela feliz alma na morada do Coro dos Serafins. E
quando aquelas felizes almas, purificadas de todos os seus pecados, se
aproximam do "Seio de Abraão" e seus méritos são avaliados, conforme
a Providência Divina, todos os Anjos gloriosos que estão naquele Coro e nas
Residências do Coro, fazem uma grande festa com muita alegria para todas elas.
E quanto mais ela subir, pelos seus méritos e pela misericórdia de DEUS, para
os Coros e Residências Superiores, maiores solenidades e muito mais júbilo
acontecerão, e aquela alegria pouco a pouco vai aumentando, e assim por todos
os Coros Angélicos e em toda pátria celeste acontece uma alegria indizível com
todas as almas que sobem para a glória beatífica. Uma vez, o seu pai espiritual
abordando o assunto sobre o espírito humano e os Anjos, perguntou-lhe se eles
eram perfeitos? Ela respondeu dizendo que os espíritos humanos na glória eterna
são mais perfeitos e têm maiores aptidões do que vivendo no mundo, porém os
espíritos angélicos são puros, serenos, virtuosos, belos e formosos, e são
também simples e precisos na compreensão do abismo Divino. Assim em seu cantar
eles são suaves e com lindas melodias sempre louvam e bendizem o
misericordiosíssimo Senhor por suas graças. Porém a serva de Cristo fez questão
de realçar, as melodias para a gloriosa Rainha do Céu feitas por todos os
espíritos angélicos e humanos transcendem, e excedem em beleza e ternura, são
maravilhosas. De fato se o canto angélico tem uma melodia tão grandiosa que não
é possível de se imaginar, com muito mais amplidão, perfeição e suavidade são
as músicas dedicadas a Mãe de Deus que ressoam na pátria eterna. Aquela feliz
Francisca, disse, além disso, que quando ela própria estava naquela visão
beatífica, observando o posicionamento dos espíritos humanos na glória celeste,
disse que eles se olham com humildade, e lá mantêm sua compreensão e capacidade
individual como estavam na carne mortal. Ao mesmo tempo se consideram dentro do
espetáculo Divino, não somente admirando por que não podem compreender as
coisas Divinas profundamente, mas até ficam aturdidos, impressionados, todas as
vezes que observavam a precisão agudíssima, sutil e penetrante dos espíritos
seráficos, e a tão imensa compreensão que eles têm daqueles indizíveis abismos
Divinos. Por esta compreensível razão, aquela humilde serva de Cristo, estava
excessivamente admirada e com uma impressão muito ampla e preciosa, sobre a
grandeza indizível da profundidade Divina na criação e no governo dos próprios
espíritos seráficos. Além disso, Francisca estava também impressionada com a
compreensão e harmonia única que existe entre os espíritos seráficos, se
entendendo mutuamente com imenso discernimento penetrante, ciência infusa,
saber e prudência, em todos os Coros Angélicos, e se excedendo em ternura e
pontualidade conforme a sua capacidade, atuando da mesma maneira como se fosse
um único ser. E isto é uma advertência, por que os espíritos seráficos
apresentam de fato muita inteligência e perspicácia, e da mesma forma em todos
os outros Coros Angélicos. Por isso, quem quiser estar mais próximo da morada
Divina, deve procurar seguir a Vontade do Senhor a fim de alcançar a maior
propensão de compreender e conhecer as coisas de Deus. Francisca ainda disse
que em todas as moradas de qualquer Coro tem uma mesma quantidade de espíritos
Angélicos, e todos os Anjos numa morada são semelhantes em nobreza e
sobriedade, mesmo em moradas diferentes. Disse também, que quanto mais o
espírito é capaz ou inteligente, tanto mais se satisfaz com a visão beatífica.
E embora todos os espíritos na eternidade sintam uma imensa e plena satisfação
nas visões beatíficas, contudo, uns mais que outros têm maior compreensão
conforme a sua própria capacidade e sobriedade em entender a Divina Vontade. De
fato, por exemplo, os próprios Apóstolos quando estavam na carne, uns mais do
que outros receberam graças vinda do Espírito Santo, isto por que nenhum deles
tinha o necessário conhecimento, igual capacidade, profunda perspicácia e
discernimento, assim como a mesma e viril disposição para realizar a missão que
o Senhor lhes confiou. Só depois, quando receberam os dons e as graças de Deus,
tornaram-se brilhantes e lúcidos Apóstolos do Senhor, assim mesmo, cada um com
sua própria natureza. Francisca ao concluir afirmou: o Purgatório é um lugar de
esperança. Apesar das muitas transgressões e dos pecados da humanidade, o
Purgatório é um estimulo as pessoas para se corrigirem dos seus vícios e
hábitos perversos, buscando o caminho do direito e do amor fraterno, por que
enseja uma oportunidade segura de alcançar a eternidade feliz. A estrada da
conversão do coração é estreita e árdua, requer perseverança, fidelidade e amor,
passando pelo exercício das penitências, das permanentes orações, das Santas
Missas, da correta recepção dos Sacramentos, das pequenas e grandes
abstinências e de uma profunda consciência da renúncia. Só assim será possível
alcançar êxito na reconquista da amizade do Senhor, de quem se afastou pelos
seus muitos pecados cometidos.
CISMA
DO OCIDENTE
203º
- Urbano VI - 1378 - 1389
Urbano
VI, nascido Bartolomeo Prignano; c. 1318 — Roma, 15 de outubro de 1389, foi
Papa e líder da Igreja Católica de 8 de abril de 1378 até a data da sua morte.
A sua eleição foi rodeada de polêmica, ele foi o último Papa a ser eleito fora
do Colégio dos Cardeais, e que resultou no Grande Cisma do Ocidente. Em 8 de
abril de 1378 foi eleito Papa por pressão da população de Roma, eleito para o
cargo ainda era um Arcebispo, pois o povo queria ver um italiano no Pontificado
para assegurar a permanência do Papado na cidade. Com a subida na hierarquia,
Urbano VI revelou uma personalidade colérica e intempestiva que depressa lhe
arranjou inimigos. Entre eles, especialmente os Cardeais de origem francesa,
que revoltaram-se contra ele e começaram a conspirar a sua substituição. No fim
do verão do mesmo ano, reuniram novo conclave e elegeram Roberto de Genebra,
que tomou o nome de Clemente VII. Nessa altura excomungou Clemente e declarou-o
o novo anticristo, mas nada pode fazer contra o seu estabelecimento em Avinhão.
A sua impetuosidade não ajudou a sua causa e em breve algumas potências
europeias passaram para o lado de Clemente. Não foi o caso do Reino de Portugal
que se manteve ao lado dele, como sinal de apoio à vontade do Reino da Inglaterra.
Em agosto de 1388, Urbano passou por Perugia, com milhares de tropas. Para
angariar fundos, ele havia proclamado um Jubileu, que seria realizado em 1390.
Na época do anúncio, apenas 38 anos se passaram desde o Jubileu anterior, que
foi comemorado sob Clemente VI. Durante a marcha, Urbano caiu de sua mula em
Narni e teve que se recuperar no início de outubro em Roma, onde ele foi capaz
de derrubar a regra comum do Banderesi e restaurar a autoridade Papal. Ele
morreu logo depois, provavelmente de ferimentos causados pela queda, mas não sem
rumores de envenenamento. Vale ressaltar que durante a reconstrução da Basílica
de São Pedro, os restos de Urbano quase foram jogados fora onde seriam
destruídos para que seu sarcófago pudesse ser usado para cavalos de água. O
sarcófago foi salvo apenas quando o historiador da igreja, Giacomo Grimaldi
chegou e, percebendo sua importância, ordenou preserva-lo. Os Cardeais franceses,
não se conformando com as medidas rigorosas e severas do Papa Urbano VI, procederam
a eleição de um antipapa, que adotando o nome de "Clemente VII",
fixou residência novamente em Avinhão, na França. Ao contrário da versão de muitos
historiadores, não houve, nesse período, dualidade de Papas, já que Urbano VI
foi eleito legitimamente, além do que a Igreja só reconhece no Papa de nome
Clemente VII, Giulio de Medici, que governou a Igreja de 1523 a 1534. Este foi
um período marcado por sérias tribulações. Membros do clero e do povo católico
dividiram-se entre opiniões diversas e o fogo da rebeldia alastrou-se nutrido
por diversas inconveniências. Aqui deu-se o que ficou conhecido como o
"Cisma do Ocidente".
204º
- Bonifácio IX - 1389 - 1404
Bonifácio
IX, nascido Piero Tomacelli, em Nápoles (Casarano, ca. 1356 – Roma, 1 de
outubro de 1404) foi um Papa eleito a 2 de Novembro de 1389 que reinou até a
sua morte. Com sede em Roma, o seu Pontificado foi marcado pela oposição dos
antipapas de Avinhão e pelo Grande Cisma do Ocidente. Não se reconciliou com o
antipapa Clemente, de Avinhão, mantendo o cisma ocidental. De uma família nobre
de Nápoles, porém empobrecida, na sua formação não resultou em um grande
teólogo ou mesmo perito em assuntos clericais, mas era por natureza diplomático
e prudente e de caráter firme. Investiu na restauração do respeito do Papado
pelos países orientais como Alemanha, Inglaterra, Hungra, Polônia, além da
Inglaterra e de grande parte da Itália. Corou Ladislao, herdeiro de Carlos III
de Nápoles e Margarita de Durazzo, como rei de Nápoles, em Gaeta (1390), e
conseguiu expulsar eficazmente de Itália as forças de Angevin. Estabeleceu a
supremacia do Papa sobre Roma, fortificou de novo o Castelo de Sant’Angelo
(1398), retomou o controle sobre porto de Óstia, e com suas paulatinas
conquistas formou os Estados Pontifícios como eles apareciam no século XV. Precavido
contra a violência dos romanos, frequentemente mudava de moradia e viveu em
Perúgia, Assis, e outros lugares. Após o falecimento de Clemente VII (1394), os
Cardeais que o apoiavam elegeram um novo antipapa para suceder Clemente, que
foi o Cardeal Pedro de Luna, o Bento XIII, mantendo o cisma ocidental. Durante
o Pontificado de Bonifácio, celebraram-se os jubileus, o 3º e o 4º Anos Santos
(1396/1400) que atraíram para Roma uma grande multidão de peregrinos, de vários
nacionalidades. No final de seu Pontificado (1404) recebeu mais uma delegação
enviada para tentar mais uma vez um acordo. A nova tentativa falhou e ele muito
irritado agravou uma crise de litíase que o levou a morrer em dois dias. Papa
de número 204, morreu em 1º de outubro, em Roma, foi sepultado na Basílica de
São Pedro. Durante este Pontificado o Cardeal Pedro de Luna assumiu como
sucessor do antipapa Clemente VII, que faleceu em 1394. Pedro de Luna, cognominado Bento XIII,
governou como antipapa até o Pontificado do Papa Gregório XII. Tinha estreito relacionamento com São Vicente
Ferrer, que grande luta travou para o fim do grande cisma. Apesar de reconhecer
em Bento XIII, sua autoridade eclesiástica na qualidade de Cardeal, tentou
persuadi-lo para que renunciasse a autoridade Pontifícia, mas não obteve êxito
e, por este motivo, São Vicente preferiu retirar-se do Palácio recusando as
dignidades hierárquicas que repetidamente lhe foram oferecidas.
205º
- Inocêncio VII - 1404 - 1406
Inocêncio
VII (c. 1339 — 6 de novembro de 1406), nascido Cosimo de' Migliorati, foi Papa
da Igreja Católica entre 1404 até sua morte. O seu Pontificado foi disputado
pelo Antipapa Benedito XIII, o seu rival de Avinhão durante o Grande Cisma do
Ocidente. Natural de Sulmona, L’Aquila, Itália, eleito em 11 de novembro (1404)
como sucessor de Bonifácio IX e como Pontífice deu mostras de ser intransigente
com o antipapa Bento XIII e mostrou preocupação pelos estudos e introduziu
novas faculdades: medicina, filosofia e grego. Nomeado Arcebispo de Ravena
(1387), tornou-se titular da diocese de Bolonha dois anos depois e foi nomeado
Cardeal. Legado Pontifício na Lombardia e na Toscana (1390), foi escolhido para
suceder Bonifácio IX enquanto o antipapa Bento XIII reinava em Avinhão. Homem
de cultura, mas de caráter débil, tentou solucionar o cisma e as trágicas
condições em que se encontrava o Estado e a Igreja. Com o fracasso da tentativa
de Bento XIII chegar até Roma para tentar um acordo (1405), o Papa teve de
enfrentar desordens populares na cidade, e foi obrigado a refugiar-se em
Viterbo por alguns meses. Voltou a Roma e expulsou os Colonna, que haviam sido
responsáveis pelas agitações. Protetor das artes e das ciências, reorganizou a
universidade de Roma, ampliando o número de cursos e criando novas disciplinas.
Morreu em 6 de novembro de 1406 em Roma, e foi sucedido por Gregório XII.
206º
- Gregório XII - 1406 - 1415
Papa Gregório XII, nascido Angelo Correr
(Veneza, 13 de maio de 1326 - Recanati, 18 de outubro de 1417) foi Patriarca
latino de Constantinopla, eleito Papa no dia 30 de novembro de 1406. Com mais
de oitenta anos de idade, foi coroado no dia 19 de dezembro do mesmo ano. Seu Papado
foi marcado pela divisão da Igreja Católica, com dois antipapas. Angelo Correr
foi feito Bispo de Castello em 1380 e, dez anos depois, Patriarca Latino de
Constantinopla; durante o Papado de Inocêncio VII, foi Secretário apostólico no
Legado de Ancona. Feito Cardeal de San Mareo em 1405, já no ano seguinte foi
eleito por seus pares como sucessor de Inocêncio, adotando por nome Gregório. Durante
seu Papado viveu a Igreja o processo divisionista do Cisma de Avinhão em que
coexistiram três papados: o dele em Roma, o de Bento XIII em Avinhão e o de
Alexandre V em Pisa onde, durante o Concílio ali realizado em 1409 deixou de
comparecer assim como Bento, ambos foram considerados depostos. Gregório enviou
esforços fracassados para reunificar a Igreja; fez dez novos Cardeais e
convocou também em 1409 o Concílio em Cividale del Friuli (perto de Aquileia)
ao qual poucos Bispos se fizeram presentes; ali os outros dois Papas foram
acusados de provocarem o cisma, de perjúrio e de destruírem a Igreja. Com a
morte do antipapa Alexandre, de Pisa, os Cardeais daquela cidade elegeram por
sucessor a João XXIII; ocorre em seguida o Concílio de Constança em 1415 que
procurou legitimar uma só autoridade Papal, com a renúncia dos três pretendentes
ao Trono de São Pedro; Gregório apresentou sua renúncia a 4 de julho daquele
ano. Bento foi preso e morreu, na Espanha, e João XXIII foi acusado de vários
crimes e, preso, foi levado ao cárcere de Pisa. Ele então retirou-se das
funções eclesiásticas, pouco mais de dois anos após sua renúncia veio a falecer
em Recanati e, apesar de ter renunciado, somente após sua morte é que um novo
Papa foi escolhido, em 1417. A principal realização de seu Papado foi a de
adotar a hóstia como elemento da missa em lugar do pão, e a restrição do uso do
cálice ao sacerdote - regras estas estabelecidas em 1414. Antipapas deste
período: Clemente VII (1378-1394), Bento XIII (1394-1423), Alexandre V
(1409-1410), João XXIII (1410-1415).
FIM
DO CISMA DO OCIDENTE
207º
- Martinho V - 1417 – 1431
Martinho
V (Roma, 1369 – Roma, 20 de fevereiro de 1431), nascido como Oddone Colonna,
foi Papa da Igreja Católica de 1417 até sua morte. Foi durante seu Papado que
se encerrou o Grande Cisma do Ocidente. Papa da Igreja Católica Romana, natural
de Genazzano, Roma, que eleito em 21 de novembro como sucessor de Gregório XII
(1406-1415), exerceu uma ação enérgica de saneamento moral, civil e
administrativo e obrigou o uso do traje talar aos Eclesiásticos. Cardeal
(1405), participou do Concílio de Pisa e do de Constança, durante o qual foi
eleito Papa, após a renúncia de Gregório XII, pondo fim ao grande cisma do
Ocidente. Em seguida passou a apoiar a tese da superioridade do Papa sobre o
concílio, que antes negava e, com o fim do Concílio de Constança (1418), deixou
aquela cidade para dirigir-se a Mântua e a Florença, fixando-se, por fim, em
Roma (1420). Embora não fosse muito propenso às mudanças e reformas, foi bom
administrador e contribuiu para a reconstrução e o embelezamento da cidade de
Roma. Foi protetor das artes, quando começava o Renascimento, celebrou o 5º Ano
Santo (1423) e, pela primeira vez, abriu-se a Porta Santa na Basílica de São
João de Latrão. Também foi durante seu Pontificado que aconteceu a célebre aventura
de Joana D’Arc. Faleceu em 20 de fevereiro de 1431, em Perúgia e foi sucedido
por Eugênio IV. Durante quatro séculos, depois do Grande Cisma do Ocidente, com
a eleição deste Papa no Concílio de Constança (1417), todos os conclaves foram
realizados em Roma, com exceção de Pio VII. Os dois primeiros, após o Cisma,
foram realizados no convento dos Dominicanos, de Minerva.
OBS: Lembrar que Martinho é o nome de somente três Papas
católicos, apesar da numeração ascender a cinco; não existiram Papas antecessores
com o nome de Martinho II ou III. Quando este Papa ascendeu a trono Papal e
escolheu seu nome de sagração, acreditava-se que já teria havido três Papas com
esse nome e foi proclamado como o de número IV. Na realidade tratavam-se de Papas
com o nome de Marino ou Marinho.
207
. 1 - Santa Joana D`arc
Joana
d’Arc foi uma camponesa que teve participação relevante na Guerra dos Cem Anos,
liderando as tropas de Carlos VII em conquistas importantes. Capturada pelos
ingleses, foi julgada e condenada à morte na fogueira por bruxaria, sendo
executada aos 19 anos de idade. No século XX, teve sua imagem reabilitada e
hoje é um dos grandes nomes da história francesa. Joana d’Arc nasceu em
Domrémy, vila no nordeste da França, no ano de 1412. Atualmente, a vila onde
ela nasceu se chama Domrémy-la-Pucelle, como forma de homenageá-la, pois
pucelle significa “donzela” e uma das formas pelas quais ela ficou conhecida
foi “Donzela de Orleans”. Joana d’Arc
era uma camponesa e filha de Jacques d’Arc e Isabelle Romée. Os pais dela
possuíam uma pequena terra, de onde tiravam seu sustento, e Jacques ainda
cumpria funções como coletor de impostos local. Joana d’Arc foi a filha caçula
do casal, que ao todo teve cinco filhos. Sua criação foi católica. No século XV,
a França enfrentava as consequências da Guerra dos Cem Anos, um conflito
dinástico que se estendeu ao longo de 116 anos e que foi marcado por alguns
intervalos. O desentendimento entre franceses e ingleses se iniciou em 1328,
quando Carlos IV, rei francês, faleceu e não deixou herdeiros diretos para
assumir o trono. O rei da Inglaterra, Eduardo III, alegou ter direito ao trono
francês, porque possuía descendência com Carlos IV por via materna. Acontece
que a possibilidade de um monarca inglês ser coroado como rei da França não
agradou à nobreza francesa, que temia que isso fosse se transformar em perda de
autonomia. Assim, a pretensão de Eduardo III foi rejeitada com base na Lei
Sálica, lei francesa que proibia que mulheres e seus descendentes assumissem o
trono do país. Assim, Filipe VI foi coroado rei francês, o que criou um certo
desgaste nas relações entre ingleses e franceses. A aliança da França com a
Escócia acabou motivando o início da Guerra dos Cem Anos em 1337. A guerra com
a Inglaterra se relacionava com Joana d’Arc da mesma forma como se relacionava
com a vida de milhares de outros camponeses. O conflito trazia destruição para
a terra; a terra destruída produzia menos; uma produção reduzida causava fome,
e a fome enfraquecia uma população paupérrima, trazendo-lhe doenças. A coroação
de Carlos VII em Reims só foi possível porque Joana d’Arc liderou a conquista
dessa cidade. Além disso, os camponeses viam suas vidas sendo ameaçadas toda
vez que um ataque inimigo acontecia. A própria vila em que Joana d’Arc nasceu
já tinha sido atacada por borguinhões (aliados dos ingleses). A criação
religiosa somada à vontade de ver a guerra acabar transformou Joana d’Arc em um
dos grandes nomes da história francesa. Foi um instrumento de Deus para cessar
a guerra e engrandecer o cristianismo. Joana d’Arc alegava que tinha visões e
ouvia as vozes do arcanjo Miguel, da Santa Catarina de Alexandria e da Santa
Margarida de Antioquia. Nessas aparições sobrenaturais, ela era orientada a
tomar parte na guerra contra os ingleses para expulsá-los da França e para
garantir a coroação de Carlos VII, o rei da França. Segundo Joana d’Arc, as
aparições sobrenaturais aconteciam desde que ela tinha 13 anos e, aos 16, ela
decidiu tomar parte na guerra. Assim, ela pediu para ser levada para
Vaucouleurs, local onde existia uma guarnição francesa liderada por Robert de
Baudricourt. Lá ela foi falar com Baudricourt para que ele arranjasse um
transporte que a levesse a Chinon para encontrar o rei. O comandante se negou a
dar ouvidos a Joana d’Arc, mas a camponesa conseguiu convencer a população
local de seu propósito e logo muitos exigiam que Baudricourt fizesse o que
Joana d’Arc pedia. Assim ele fez e então Joana d’Arc se preparou para encontrar
o rei francês. Ela conseguiu uma reunião privada com Carlos VII, mas como ela
obteve isso é um mistério. Outro mistério que envolve o encontro de Joana d’Arc
com o rei francês foi como ela conseguiu convencer Carlos VII a dar tudo de que
ela precisava: homens, armas, armaduras e o comando das tropas. Assim, Joana
d’Arc participou ativamente da Guerra dos Cem Anos, mas entre os historiadores
existe certa polêmica acerca do grau de envolvimento dela. Muitos historiadores
desacreditam que ela tenha lutado no campo de batalhas. De acordo com eles, ela
apenas cumpriu papéis que envolviam a montagem da estratégia e preparação das
tropas, assim como a motivação dos soldados. Apesar disso, Joana d’Arc foi
fundamental para duas vitórias expressivas da França: em Orleans e em Reims.
Reims,
inclusive, era o local onde tradicionalmente os monarcas franceses eram
coroados. A conquista dessa cidade permitiu a coroação de Carlos VII, em 17 de
julho de 1429. Apesar das vitórias expressivas, Joana d’Arc também conheceu
derrotas, como foi no caso do fracassado cerco de Paris, ainda em 1429. De toda
forma, o envolvimento da jovem quebrou um ciclo de derrotas francesas.
Em 1430,
borguinhões capturaram Joana d’Arc durante a Batalha de Compiègne. Ela foi
vendida para os ingleses e permaneceu aprisionada, pois seria levada para
julgamento. Os ingleses queriam tirar a credibilidade da francesa para tornar a
coroação de Carlos VII sem validade. A Santa Inquisição foi utilizada para
julgá-la. O julgamento estendeu-se por quatro semanas e dezenas de acusações se
acumularam. No final, o fato de usar roupas masculinas e a alegação de que
ouvia vozes se tornaram os fatores para a sua condenação. Em virtude da
acusação de bruxaria (as vozes que ela ouvia foram tidas como vozes emitidas
pelo demônio), Joana d’Arc foi condenada à morte na fogueira. A execução
aconteceu no dia 30 de maio de 1431, em praça pública, na cidade de Rouen.
Conta-se que no dia ela recebeu o sacramento da Eucaristia, foi vestida de
branco e levada para a sua execução. Joana d’Arc foi queimada viva, e os
relatos contam que ela gritava por Jesus. Na ocasião, ela tinha 19 anos. No
século XX, a imagem de Joana d’Arc foi inteiramente reabilitada. Assim, ela foi
canonizada em 1920 por Bento XV. Carlos VII não interveio no processo de Joana
d’Arc e não tentou salvá-la do destino que ela teve. Entretanto, depois que ela
faleceu, ele procurou atuar para que ela tivesse o seu processo anulado, pois
ter a sua imagem ligada com a de uma mulher condenada por bruxaria não era bom
para seu reinado. Assim, ele obteve do Papa Calisto III a anulação da
condenação de Joana d’Arc. A reabilitação da imagem de Joana d’Arc se completou
no século XX, quando ela foi beatificada e canonizada. Sua beatificação
aconteceu em 1909, e a canonização foi realizada pelo Papa Bento XV, em 1920.
Esse acontecimento foi parte de um esforço da Igreja Católica de reatar laços
com a França, país que foi extremamente secularizado a partir da Revolução
Francesa. Santa Joana d’Arc é considerada padroeira nacional da França e sua
data comemorativa é 30 de maio."
208º
- Eugênio IV - 1431 - 1447
O Papa
Eugênio, (Veneza, 1383 — Roma, 23 de fevereiro de 1447), nascido Gabriele
Condulmer, foi Papa de 3 de março de 1431 até a data da sua morte. Homem severo
e de índole "feroz como um tigre", era temido pela sua ampla correção
e pela "justa palavra". Morreu vítima de envenenamento. A tradição
atribui a este Pontífice a instituição de ampla distribuição da Hóstia
consagrada na casa dos enfermos graves. Nascido em Veneza, eleito em 3 de Março
de 1431 como sucessor de Martinho V, que decretou o fim dos antipapas
residentes antes em Avinhão e depois em Pisa. Descendente de uma nobre família
de Veneza era sobrinho de Gregório XII. Eleito, proclamou o 17.º Concílio
Ecumênico em Basileia. Depois de sofrer pressões para dissolver o Concílio de
Basileia (1431), fugiu de Roma após a proclamação da República em 1434. Assina
a bula Rex Regnum em 8 de Setembro de 1436 um dos documentos que conferiam a
Portugal o dever de evangelizar as populações nativas dos territórios sob seu
domínio e transferiu-o para Ferrara (1437) e mais tarde para Florença. Declarando
a supremacia do Papa sobre os concílios, os adversários e os padres conciliares
elegeram em 1439 o antipapa Félix V, Amadeu VIII de Saboia. Graças ao apoio de
Afonso de Aragão, investido por ele para o Reino de Nápoles, pôde retornar a
Roma em 1443, após nove anos de ausência. Morreu em 23 de fevereiro de 1447 em
Roma.
208
. 1 - Aparição de Nossa Senhora de Caravaggio - Itália.
O
município de Caravaggio, terra da aparição, se encontrava nos limites dos
estados de Milão e Veneza e na divisa de três dioceses: Cremona, Milão e
Bérgamo. Ano de 1432, época marcada por divisões políticas e religiosas, ódio,
heresias, assolada por bandidos e agitada por facções, traições e crimes. Além
disso, teatro da segunda guerra entre a República de Veneza e o ducado de
Milão, passou para o poder dos venezianos em 1431. Pouco antes da aparição, em
1432, uma batalha entre os dois estados assustou o país. Neste cenário de
desolação, às 17 horas da segunda-feira, 26 de maio de 1432, acontece a
aparição de Nossa Senhora a uma camponesa. A história conta que a mulher, de 32
anos, era tida como piedosa e sofredora. A causa era o marido, Francisco
Varoli, um ex-soldado conhecido pelo mau caráter e por bater na esposa.
Maltratada e humilhada, Joaneta Varoli colhia pasto em um prado próximo,
chamado Mazzolengo, distante 2 km de Caravaggio, suplicando: “Ó Senhora
Santíssima, ajudai-me Vós...que eu já não consigo suportá-lo. Só Vós ó querida
Mãe, podeis fazer cessar esses meus sofrimentos. Ninguém me ajuda e me
consola... Tende piedade de mim!” Estava assim dirigida esta sua oração a Nossa
Senhora, quando eis que uma luz inesperada a envolve e lhe chama a atenção para
algo misterioso, ao seu redor. Ergue os olhos e ei-la diante da Rainha do Céu,
que sem demora lhe diz:
"Não temas, ó filha,
consola-te, que as tuas orações foram atendidas pelo meu Divino Filho, por minha
intercessão e já te estão preparados os tesouros do Céu. Mas agora, dobra os
joelhos por terra e ouve com reverência aquilo que te vou dizer: O mundo cheio
de iniquidades, tinha provocado a indignação do Céu. O meu Divino Filho queria
punir severamente esses homens, autores de iniquidade e cheios de pecados e de
crimes, mas eu rezei pelos miseráveis pecadores, supliquei longamente e,
finalmente meu Divino Filho aplacou-Se. Por isso, ordena que, por tão
assinalado benefício, jejuem uma sexta-feira a pão e água e festejem um sábado
em minha honra, porque eu quero este sinal de gratidão dos homens pela
importantíssima graça por mim obtida a seu favor. E a gora vai, ó filha, e
revela a todos esta minha vontade".
Atordoada
pela admiração e pela maravilha, Giannetta responde: "Como poderei eu, ó
minha Mãe, fazer aquilo que me pedis? Quem acreditará nas minhas palavras? Eu
sou demasiado pobre e mesquinha, e ninguém me acreditará!".
"Acreditar-te-ão”, porque eu mesma
confirmarei as tuas palavras com evidentes milagres!" Dito isto, desapareceu, deixando
gravadas, no lugar em que se havia manifestado as pegadas de seus beatíssimos
pés, junto das quais brotou uma fonte de água.
Nossa
Senhora de Caravaggio pede ao povo que volte a fazer penitência, jejue nas
sextas-feiras e vá orar na igreja no sábado à tarde em agradecimento pelos
castigos afastados e pede que lhe seja erguida uma capela. Como sinal da origem
divina da aparição e das graças que ali seriam dispensadas, ao lado de onde
estavam seus pés, brota uma fonte de água límpida e abundante, existente até os
dias de hoje e nela muitos doentes recuperam a saúde. Joaneta, na condição de
porta-voz, leva ao povo e aos governantes o recado da Virgem Maria para
solicitar-lhes – em nome de Nossa Senhora – os acordos de paz. Apresenta-se a
Marcos Secco, senhor de Caravaggio, ao Duque Felipi Maria Visconti, senhor de
Milão, ao imperador do Oriente, João VIII Paleólogo, no sentido de unir a
igreja dos gregos com o Papa de Roma. Em suas visitas, levava ânforas de água
da fonte sagrada, que resultavam em curas extraordinárias, prova de veracidade
da aparição. Os efeitos da mensagem de paz logo apareceram. A paz aconteceu na
pátria e na própria Igreja (Concílio de Basileia-Ferrara-Florença). Até mesmo
Francisco melhorou nas suas atitudes para com a esposa Joaneta. Sobre ela, após
cumprida a missão de dar a mensagem de Maria ao povo, aos estados em guerra e à
própria Igreja Católica. Por alguns anos foi visitada a casa onde ela morou
que, com o tempo desapareceu no anonimato. A construção do atual santuário,
autorizada por São Carlos Borromeu, começou em 1575 sob a direção de Pellegrino
Tibaldi e só terminou no século XVIII. Hoje Basílica, o Santuário é bastante
visitado por peregrinos devotos de Maria sob a denominação Nossa Senhora de
Caravaggio.
209º
- Nicolau V - 1447 - 1455
Papa
Nicolau V, (13 de novembro de 1397 - 24 de março de 1455), nascido Tommaso
Parentucelli, foi chefe da Igreja Católica e governante dos Estados Papais de 6
de março de 1447 até sua morte, em março de 1455. O Papa Eugênio IV fez dele um
Cardeal em 1446, após viagens bem-sucedidas à Itália e Alemanha, e quando Eugênio
morreu no ano seguinte, Parentucelli foi eleito em seu lugar. Ele adotou o nome
de Nicolau em memória de suas obrigações para com Niccolò Albergati. O Pontificado
de Nicolau viu a queda de Constantinopla para os turcos otomanos e o fim da
Guerra dos Cem Anos. Ele respondeu convocando uma cruzada contra os otomanos,
que nunca se concretizou. Pela Concordata de Viena, ele garantiu o
reconhecimento dos direitos Papais sobre Bispados e benefícios. Ele também
provocou a submissão do último dos antipapas, Félix V, e a dissolução do Sínodo
de Basel. Uma figura chave na Renascença romana, Nicolau procurou fazer de Roma
o lar da literatura e da arte. Ele fortaleceu fortificações, restaurou
aquedutos e reconstruiu muitas igrejas. Ordenou planos de projeto para o que
viria a ser a Basílica de São Pedro. Ele é o último Papa a adotar o nome Pontifício
de "Nicolau". Tommaso Parentucelli nasceu de Andreola Bosi de
Fivizzano e do médico Bartolomeo Parentucelli em Sarzana, uma importante cidade
de Lunigiana. A região de Lunigiana há muito tempo foi disputada por forças
concorrentes da Toscana, da Ligúria e de Milão. Três anos antes do nascimento
de Parentucelli, a cidade foi tomada dos florentinos pela República genovesa.
Seu pai morreu quando ele era jovem. Parentucelli mais tarde tornou-se tutor,
em Florença, das famílias dos Strozzi e Albizzi, onde conheceu os principais
estudiosos humanistas. Parentucelli estudou em Bolonha e Florença, graduando-se
em teologia em 1422. O Bispo Niccolò Albergati ficou tão impressionado com suas
capacidades que o colocou a seu serviço e lhe deu a chance de continuar seus
estudos, enviando-o em uma excursão pela Alemanha, França e Inglaterra. Ele era
capaz de colecionar livros, pelos quais tinha uma paixão de intelectual, por
onde passava. Alguns deles sobrevivem com suas anotações marginais. Parentucelli
participou do Concílio de Florença e em 1444, quando seu Patrono morreu, foi
nomeado Bispo de Bolonha em seu lugar. Os distúrbios cívicos em Bolonha foram
prolongados, então o Papa Eugênio IV logo o nomeou como um dos legados enviados
a Frankfurt. Ele deveria ajudar na negociação de um entendimento entre os
Estados Papais e o Sacro Império Romano, a respeito de minar ou pelo menos
conter os decretos reformadores do Concílio de Basel (1431–1439). A diplomacia
bem-sucedida de Parentucelli rendeu-lhe a recompensa, em seu retorno a Roma, do
título de Cardeal-Sacerdote de Santa Susanna em dezembro de 1446. No conclave
Papal de 1447, ele foi eleito Papa na sucessão de Eugênio IV em 6 de março. Em
apenas oito anos, seu pontificado produziu importantes conquistas na história
política, científica e literária do mundo. Politicamente, precisava reparar as
relações que se romperam no Pontificado de Eugênio IV. Ele convocou o congresso
que produziu o Tratado de Lodi, garantiu a paz com Carlos VII da França e
concluiu a Concordata de Viena ou Aschaffenburg (17 de fevereiro de 1448) com o
rei alemão Frederico III, pela qual os decretos do Concílio de Basel contra
anais Papais e reservas foram revogadas no que dizia respeito à Alemanha. No
ano seguinte, ele garantiu um triunfo tático ainda maior com a renúncia do
antipapa Félix V em 7 de abril e seu próprio reconhecimento pela retaguarda do
Concílio de Basel reunido em Lausanne. Em 1450, Nicolau celebrou um Jubileu em
Roma, e as ofertas dos numerosos peregrinos que se aglomeraram em Roma
deram-lhe os meios de promover a causa da cultura na Itália, que ele tanto
desejava. Em março de 1452, ele coroou Frederico III como Sacro Imperador
Romano na Basílica de São Pedro, naquela que foi a última coroação imperial
realizada em Roma. Dentro da cidade de Roma, Nicolau introduziu o novo espírito
do Renascimento, tanto intelectual quanto arquitetonicamente. Seus planos eram
embelezar a cidade com novos monumentos dignos da capital do mundo cristão. Foi
em reconhecimento a esse compromisso com a construção que Leon Battista Alberti
dedicou a Nicolau V seu tratado De re aedificatoria. Seu primeiro cuidado foi
prático, reforçar as fortificações da cidade, limpando e até calçando algumas
ruas principais e restabelecendo o abastecimento de água. O fim da Roma antiga
às vezes é datado da destruição de seu magnífico conjunto de aquedutos por
invasores do século VI. Na Idade Média, os romanos dependiam de poços e
cisternas para obter água, e os pobres tiravam a água do Tibre amarelo. O
aqueduto Aqua Virgo, originalmente construído por Agrippa, foi restaurado por
Nicolau e esvaziado em uma bacia simples que Alberti projetou, o antecessor da
Fontana di Trevi. Ele continuou a restauração das principais Basílicas romanas,
mas também de muitas outras igrejas romanas, incluindo Sant'Apostoli,
Sant'Eusebio, San Lorenzo fuori le Mura, Santa Maria in Trastevere, Santa
Prassede, San Salvatore, Santo Stefano Rotondo, San Teodoro e principalmente
São Celso. Ele reconstruiu a Ponte Sant 'Angelo, que havia desabado em 1450, e
apoiou a reconstrução da área circundante como um prestigioso bairro comercial
e residencial. O foco principal de Nicolau V era estabelecer o Vaticano como a
residência oficial do Papado, substituindo o Palácio de Latrão. Ele acrescentou
uma nova ala substancial, incluindo uma capela privada para o Vaticano, e – de
acordo com Giannozzo Manetti, biógrafo de Nicolau – planejou mudanças
substanciais no distrito de Borgo. Ele também colocou 2.522 carrinhos de
mármore do Coliseu em ruínas para uso nas construções posteriores. Os
contemporâneos do Papa criticaram seus pródigos gastos com a construção:
Manetti traçou paralelos com a riqueza e os gastos de Salomão, sugerindo que a
riqueza Papal era aceitável desde que fosse gasta para a glória de Deus e o bem
da Igreja. A decoração da Capela Nicolina por Fra Angelico demonstrou esta
mensagem através de suas representações de São Lourenço (martirizado por se
recusar a entregar ao estado romano a riqueza da Igreja) e Santo Estêvão. Sob o
generoso patrocínio de Nicolau, o humanismo também avançou rapidamente. O novo
aprendizado humanista havia sido visto com desconfiança em Roma, uma possível
fonte de cisma e heresia de um interesse doentio pelo paganismo. Para Nicolau,
o humanismo tornou-se uma ferramenta para o engrandecimento cultural da capital
cristã, e ele enviou emissários ao Oriente para atrair estudiosos gregos após a
queda de Constantinopla. O Papa também contratou Lorenzo Valla para traduzir
histórias gregas, tanto pagãs quanto cristãs, para o latim. Essa indústria,
surgindo pouco antes do surgimento da imprensa, contribuiu enormemente para a
súbita expansão do horizonte intelectual. Nicolau, com a ajuda de Enoque de
Ascoli e Giovanni Tortelli, fundou uma Biblioteca de cinco mil volumes,
incluindo manuscritos resgatados dos turcos após a queda de Constantinopla. O
próprio Papa era um homem de vasta erudição, e seu amigo Aeneas Silvius
Piccolomini, mais tarde Papa Pio II, disse dele que "o que ele não sabe
está fora do alcance do conhecimento humano". Bibliófilo ao longo da vida,
ele valorizava os livros: enquanto a biblioteca do Vaticano ainda estava sendo
projetada e planejada, ele mantinha os livros mais raros perto de si em seu
quarto, com os outros em uma sala próxima. Muitas vezes pensando com carinho em
seu antigo trabalho como bibliotecário, ele certa vez comentou: "Tive mais
felicidade em um dia do que agora em um ano inteiro". Ele foi compelido,
no entanto, a acrescentar que o brilho de seu Pontificado seria para sempre
enfraquecido pela queda de Constantinopla, que os turcos tomaram em 1453.
Malsucedido em uma campanha para unir as potências cristãs para ajudar
Constantinopla, pouco antes da conquista daquela grande cidadela, Nicolau ordenou
que 10 navios Papais navegassem com navios de Gênova, Veneza e Nápoles para
defender a capital do Império Romano do Oriente. No entanto, a antiga capital
caiu antes que os navios pudessem oferecer qualquer ajuda. O Papa sentiu
amargamente esta catástrofe como um duplo golpe para a cristandade e para as
letras gregas. "É uma segunda morte", escreveu Aeneas Silvius,
"para Homero e Platão". Nicolau pregou uma cruzada e se esforçou para
reconciliar as animosidades mútuas dos estados italianos, mas sem muito
sucesso. Ao realizar essas obras, Nicolau foi movido "para fortalecer a fé
fraca da população pela grandeza daquilo que ela vê". A população romana,
no entanto, não apreciou nem seus motivos nem seus resultados e, em 1452, uma
formidável conspiração para derrubar o governo Papal sob a liderança de Stefano
Porcari foi descoberta e esmagada. Essa revelação de desafeto, juntamente com a
queda de Constantinopla em 1453, obscureceu os últimos anos do Papa Nicolau. No
final da primavera de 1452, o Imperador bizantino Constantino XI escreveu ao
Papa Nicolau pedindo ajuda contra o cerco iminente do sultão otomano Mehmed II.
Nicolau emitiu a bula Dum Diversas (18 de junho de 1452) autorizando o rei
Afonso V de Portugal a "atacar, conquistar e subjugar sarracenos, pagãos e
outros inimigos de Cristo onde quer que se encontrem". Emitida menos de um
ano antes da queda de Constantinopla, a bula pode ter sido destinada a iniciar
outra cruzada contra o Império Otomano. A propriedade das Ilhas Canárias
continuou a ser uma fonte de disputa entre Espanha e Portugal e Nicolau foi
convidado a resolver a questão, em última análise, a favor dos portugueses. A
área geográfica da concessão dada na bula não é explícita, mas o historiador
Richard Raiswell considera que se refere claramente às terras recentemente
descobertas ao longo da costa da África Ocidental. Os emprendimentos
portugueses destinavam-se a competir com as caravanas muçulmanas trans-sahara,
que desempenhavam um papel fundamental no altamente lucrativo comércio de
escravos muçulmanos e também detinham o monopólio do ouro e marfim da África
Ocidental. Os portugueses reclamavam direitos territoriais ao longo da costa
africana por terem investido tempo e dinheiro na sua descoberta; a
reivindicação castelhana baseava-se no fato de serem herdeiros dos visigodos.
Em 1454, uma frota de caravelas de Sevilha e Cádis navegavam ao longo da costa
africana e, ao regressarem, foram interceptadas por uma esquadra portuguesa.
Enrique IV de Castela ameaçou a guerra. Afonso V apelou ao Papa para obter
apoio moral do direito de Portugal ao monopólio do comércio nas terras que ela
descobriu. A bula Papal Romanus Pontifex, emitida em 8 de janeiro de 1455,
endossou a posse portuguesa de Cuerta (que eles já possuíam), e o direito exclusivo
de comércio, navegação e pesca nas terras descobertas, e reafirmou o anterior
Dum Diversas. Concedeu permissão a D. Afonso e seus herdeiros para "...
fazer compras e vendas de quaisquer coisas e bens, e quaisquer provisões, que
lhe pareça conveniente, com quaisquer sarracenos e infiéis nas referidas
regiões; ... desde que não sejam instrumentos de ferro, madeira de construção,
cordas, navios e qualquer tipo de armadura". A bula conferia direitos
comerciais exclusivos aos portugueses entre Marrocos e as Índias com o direito
de conquistar e converter os habitantes. Uma importante concessão dada por
Nicolau em súmula ao rei Alfonso em 1454 estendeu os direitos concedidos aos
territórios existentes a todos os que pudessem ser conquistados no futuro.
Consistente com esses objetivos amplos, permitia aos portugueses "invadir,
procurar, capturar, vencer e subjugar todos os sarracenos e pagãos, e outros
inimigos de Cristo onde quer que estivessem, e os reinos, ducados, principados,
domínios, possessões e todos os bens móveis e imóveis que sejam detidos e
possuídos por eles e reduzir suas pessoas à escravidão perpétua". No
entanto, junto com uma segunda referência a alguns que já foram escravizados,
isso foi usado para sugerir que Nicolau sancionou a compra de escravos negros
do "infiel": "... muitos guineenses e outros negros, levados por
força, e alguns por troca de artigos não proibidos, ou por outro contrato legal
de compra, foram... convertidos à fé católica, e espera-se, com a ajuda da
misericórdia divina, que se tal progresso continuar com eles, ou esses povos
serão convertidos à fé ou pelo menos as almas de muitos deles serão ganhas para
Cristo”. É com base nisso que se argumentou que, coletivamente, as duas bulas
emitidas por Nicolau davam aos portugueses o direito de adquirir escravos ao
longo da costa africana pela força ou pelo comércio. Ao lidar com chefes
africanos locais e comerciantes de escravos muçulmanos, os portugueses buscaram
se tornar os principais atores europeus no lucrativo comércio de escravos. As
concessões feitas neles foram confirmadas por bulas emitidas pelo Papa Calixto
III (Inter Caetera quae em 1456), Sisto IV (Aeterni regis em 1481), e
tornaram-se modelos para bulas subsequentes emitidas pelo Papa Alexandre VI:
Eximiae devotions (3 de maio 1493), Inter Caetera (4 de maio de 1493) e Dudum
Siquidem (23 de setembro de 1493), nas quais conferiu direitos semelhantes à
Espanha em relação às terras recém-descobertas nas Américas.
FIM
DO IMPÉRIO BIZANTINO – ANO 1453
209
. 1 - Santa Catarina de Gênova
Catarina
de Gênova (Catarina Fieschi Adorno, 1447 – 15 de setembro de 1510), foi uma Santa
e mística italiana católica, admirada por seu trabalho entre os doentes e os
pobres e decidiu escrever ambas essas ações e suas experiências místicas. Ela
era um membro da nobre família Fieschi e passou a maior parte de sua vida e de
seus meios à servir os doentes, especialmente durante a peste que assolou Gênova,
em 1497 e 1501. Sua fama se estendeu fora de seu país natal, a cidade está
conectada com a publicação do livro em 1551, conhecido em português como a Vida
e a Doutrina de Santa Catarina de Gênova. Catarina nasceu em Gênova, em 1447,
como a última de cinco filhos. Os pais de Catarina eram Jacopo Fieschi e
Francesca di Negro, ambos de linhagem nobre italiana. A família estava ligada a
dois anteriores Papas, e Jacopo tornou-se Vice-rei de Nápoles. Catarina quis se
introduzir em um convento, quando tinha cerca de 13 anos, talvez inspirada por
sua irmã, que era uma Freira Agostiniana. No entanto, as freiras tinham que
passar primeiro por seu confessor, que a recusou por conta de sua juventude, e
após isso, Catarina parece ter colocado a ideia de lado, sem qualquer tentativa
futura. Após a morte de seu pai em 1463, com apenas 16 anos, ela foi casada
pelos pais, ao desejo de um jovem nobre Genovês, Giuliano Adorno, um homem que,
depois de várias experiências na área do comércio e no mundo militar no Oriente
Médio, voltou para a Gênova para se casar. O casamento deles foi, provavelmente,
uma manobra para acabar com a briga entre as duas famílias. O casamento acabou:
ele não tinha filhos e Giuliano provou ser infiel, violento, mau humorado e um
brutamonte, fez a vida de sua esposa uma miséria. Os detalhes são escassos, mas
parece que pelo menos claro que Catarina passou os cinco primeiros anos do seu
casamento, em silêncio, na melancolia e submissão ao marido; e que ela, por
mais cinco anos, virou um pouco para o mundo, para consolação em seus
problemas. Então, depois de dez anos de casamento, desesperada para escapar,
ela orou por três meses, para que Deus mantivesse seu marido doente na cama, e
sua oração foi respondida.
Depois
de dez anos de casamento, ela foi convertida por uma experiência mística,
durante a confissão, em 22 de março de 1473; é descrita como um avassalador
sentimento de amor de Deus para com ela. Após desta revelação, ela saiu da
igreja sem terminar a sua confissão. Isto marcou o início de sua vida de íntima
união com Deus na oração, sem a utilização de formas de oração. Começou a
receber a Comunhão, quase que diariamente, uma prática extremamente rara para
pessoas leigas na Idade Média. Ela combinou isso com o serviço para o doente em
um hospital em Gênova, em que seu marido se juntou a ela, depois que ele também
tinha sido convertido. Mais tarde, ele tornou-se um Franciscano terciário, mas
ela não se juntou a nenhuma ordem religiosa. Ele e Catarina decidiram viver no
Pammatone, um grande hospital, em Gênova, e dedicar-se a obras de caridade. Ela
eventualmente se tornou gerente e tesoureira do hospital. Morreu em 15 de
setembro de 1510 em Gênova na Itália, desgastada com trabalhos de corpo e alma.
Sua morte foi lenta, com muitos dias de dor e sofrimento, teve visões e vacilou
entre a vida e a morte. Assim descreveu Catarina em sua visão do Purgatório.
Descrição do estado das almas do
purgatório:
“As
almas do purgatório não têm outra alternativa, a não ser ficarem onde estão,
visto ter sido isso que Deus ordenou. Não podem nem pecar, nem merecer pelo
fato de se absterem de pecar. Não há paz comparável à delas, a não ser a dos Santos
no céu, e tal paz cresce incessantemente por influência de Deus, à medida que
os impedimentos vão desaparecendo. Tais impedimentos são como que ferrugem e a
felicidade das almas aumenta à medida que esta ferrugem diminui. Deus aumenta
nelas o desejo de o verem e acende-lhes no coração um fogo de caridade tão
poderoso que se lhes torna insuportável depararem com um obstáculo entre elas e
o seu fim. No fim da vida terrena, a alma permanece para sempre confirmada no
bem ou no mal que escolheu. As almas do purgatório encontram-se, portanto,
confirmadas na graça. Deus castiga menos os condenados do que eles merecem. As
almas do purgatório conformam-se perfeitamente com a vontade, de Deus. Sentem-se
tão fortemente atraídas para Deus que nenhuma comparação pode exprimir tal
atração. Imaginemos, todavia, um único pão para matar a fome a todas as
criaturas humanas e que bastava vê-lo para a fome ser satisfeita. O inferno e o
purgatório manifestam a sabedoria admirável de Deus. No próprio instante em que
a alma se separa do corpo, ela dirige-se para o lugar que lhe corresponde e que
lhe assinalam. Mesmo a alma em pecado mortal, não encontrando lugar mais
próprio para si, precipita-se por si mesma no inferno… A alma justa, que ainda
não tem a pureza necessária para a união divina, lança-se voluntariamente no purgatório
para ser purificada. Pelo que diz respeito a Deus, vejo que o céu tem portas e
pode entrar nele quem quiser, porque Deus é todo bondade; mas a essência divina
é tão pura que a alma, se nota em si qualquer impedimento, precipita-se no
purgatório e encontra esta grande misericórdia: a destruição de tal
impedimento. A maior pena destas almas consiste em terem pecado contra a divina
Bondade e terem ainda em si como que uma ferrugem, que são restos do pecado. A
alma vê que Deus, pelo seu grande amor e Providência constante, jamais deixará
de a atrair à sua última perfeição. Vê também que, ligada pelos restos do
pecado, não pode por si mesma corresponder a esta atração. Se encontrasse um
purgatório mais penoso, no qual pudesse ser mais rapidamente purificada, mergulharia
nele imediatamente. Vejo raios de fogo que purificam as almas como o ouro no
cadinho é libertado das suas escórias. Quando a alma fica completamente
purificada, o fogo já nada tem a queimar; e se ela se aproxima dele não sentirá
dor alguma. O seu desejo de ver a Deus é tão ardente e tão poderosamente
reprimido, que se torna um tormento para ele. Deus, pela sua misericórdia,
esconde-lhe consequências do pecado, que ainda restam nela, e quando estiverem
destruídas, dar-lhas-á a conhecer, para que compreenda a ação divina que lhe
restituiu a pureza. O amor divino, ao subjugar estas almas, confere-lhes uma
paz indescritível. Têm, assim, grande alegria e grande pena; uma não diminui a
outra. Se ainda pudessem merecer, bastaria um só ato de arrependimento para se
libertarem da sua dívida, em virtude da intensidade deste ato. Elas sabem que
nem um óbulo sequer lhes será perdoado; eis o decreto da justiça divina. E se a
favor delas são oferecidos piedosos sufrágios por pessoas deste mundo, tal fato
só as alegra de harmonia com a vontade de Deus e sem amor próprio. Enquanto a
purificação não estiver concluída, estas almas compreendem que, se se
aproximassem de Deus pela visão beatífica, não estariam no seu lugar e por isso
sentiriam um maior sofrimento do que se permanecessem no purgatório. Esclarecidas,
assim, a respeito da necessidade da reparação, gostariam de dizer aos mortais:
«Ó criaturas miseráveis, por que vos deixais cegar de tal modo pelas coisas
transitórias, que não fazeis nenhum aprovisionamento para a grande necessidade
que cairá sobre vós? Dizeis: «Confessar-me-ei, ganharei uma indulgência
plenária e serei salva». Lembrai-vos que a confissão completa e a perfeita
contrição requeridas para ganhar a indulgência plenária não se atingem assim
facilmente.” Estas almas sofrem tão voluntariamente as suas penas, que não
desejariam o menor alívio, por conhecerem quão justas são. Esta espécie de
purificação a que vejo sujeitas as almas do purgatório, experimentei-a em mim
mesma durante dois anos. Tudo o que constituía para mim um alívio corporal ou
espiritual foi-me tirado gradualmente. Finalmente, para concluir: vede bem que
tudo o que é humano o nosso Deus todo poderoso e misericordioso transforma-o
radicalmente. Não é outra a obra que se leva a cabo no purgatório.”
210º
- Calixto III - 1455 - 1458
Papa
Calisto III nascido Alonso de Borja, em italiano Alfonso Borgia (Valência, 31
de dezembro de 1378 – Roma, 6 de agosto de 1458) foi Papa de 8 de abril de 1455
até a data da sua morte. Este Papa reviu a condenação de Joana d'Arc e reconheceu
sua inocência em 1456. Filho de Domingo de Borja e de sua mulher Francisca
Martì, foi tio materno doutro Papa da família Bórgia, Alexandre VI e do Cardeal
Luis Juan de Milà y Borja. O seu túmulo encontra-se na igreja de Santa Maria in
Monserrato, em Roma. Papa da Igreja cristã Romana nascido em Jativa, Espanha,
eleito em 20 de agosto, aos oitenta anos de idade, para suceder Nicolau V,
tornando-se o primeiro Papa da família Bórgia. Doutorado em Utroque Jure pela
Universidade de Lérida, na Catalunha, tornou-se protegido do rei Afonso V de
Aragão, que o nomeou seu conselheiro. Depois de ter sido Bispo de Valência em
1429 e Cardeal (1444), foi eleito Papa e governou apenas três anos. Sua
primeira preocupação foi convocar uma cruzada contra os turcos que haviam
ocupado Constantinopla. Mas, não obstante a libertação de Belgrado (1456) e as
batalhas vitoriosas na Albânia, a iniciativa fracassou devido ao desinteresse
das potências europeias. Fez florescer o cristianismo na Suécia, Noruega e
Dinamarca, porém sua política de expansão favorável ao rei Afonso V de Aragão,
que se tornou soberano de Nápoles com o nome de Afonso I, levou o Papa à beira
da guerra. Também seu excessivo nepotismo em relação aos muitos catalães e aos
seus parentes Borgia chamados a Roma, como a nomeação de seu sobrinho Rodrigo
como Cardeal, fez nascer ao seu redor um ambiente de ressentimento e de ódio.
Papa de número 210, morreu em 6 de agosto, em Roma e foi sucedido por Pio II.
Um fato
importantíssimo ocorrido no ano de 1455, foi a impressão do primeiro exemplar
da Bíblia. Johannes Gutenberg, o alemão que inventou a impressão em caracteres,
começou a impressão da primeira Bíblia em 1450, porém o processo terminou
somente em 23 de fevereiro de 1455. A Bíblia das 42 linhas ou Bíblia de
Gutenberg, era a versão impressa da Vulgata, uma tradução ao latim usada pela
Igreja Católica. Ele a chamou de Bíblia das 42 linhas pela quantidade de linhas
impressas, em duas colunas, em cada página. Atualmente existem 48 exemplares,
mas só 21 estão completos. Um deles está na Espanha e se conserva na Biblioteca
Pública de Burgos.
210. 1
- Os catorze santos auxiliares
Os catorze santos auxiliares são
um grupo de Santos invocados pelos cristãos em casos de necessidade especial,
geralmente para se curar doenças particulares. As tradições cristãs contam que
a devoção a esses santos nasceu na Alemanha, na região da Renânia século XV,
quando o Menino Jesus apareceu ao pastor Hermann Leicht Langheim, a peste negra
assolava a Europa.
Entre o grupo encontram-se três
virgens mártires: Santa Margarida de Antioquia, Santa Bárbara e Santa Catarina
de Alexandria, conhecidas também como Santas de Casa. Como os outros Santos
começaram a ser invocados juntos dessas três virgens mártires, eles passaram a
ser representados juntos em trabalhos artísticos. A veneração popular teve
início nos mosteiros que traziam dentro de si as relíquias dos ditos Santos.
Todos os catorze, com exceção de Santo Egídio, foram martirizados. Como o culto
aos Catorze Santos Auxiliadores mostrou-se forte no século XVI, o Papa Nicolau
V estendeu indulgência àqueles que mantivessem devoção pelos Santos do grupo, o
que não foi longamente aplicado.
Embora tenham festas em dias
separados, os catorze são comemorados no dia 8 de agosto, embora essa data
nunca tenha tomado parte do Calendário Romano Geral para veneração universal.
Quando esse calendário foi revisto em 1969, as celebrações individuais de Santa
Bárbara, Santa Catarina de Alexandria, São Cristóvão e Santa Margarida de
Antioquia foram abandonadas, embora em 2004 o Papa João Paulo II tenha
restituído para 25 de novembro uma memória facultativa a Santa Catarina de
Alexandria. A celebração individual de todos os catorze foi incluída no
Calendário Geral Romano de 1954, do Papa Pio XII e o Calendário Geral Romano de
1962.
Comparado ao culto dos catorze
Santos auxiliadores foi o dos Quatro Santos Marechais, que também foram
venerados na Renânia como os Marechais de Deus. Os quatro Santos marechais eram
São Quirino, Santo Antão do Deserto, Papa Cornélio e Santo Humberto.
Os quatorze Santos auxiliares são:
Santo Acácio, 8 de maio - Agátio, também conhecido por Achacio ou Acácio
(em latim: Acacius), é um mártir e Santo da Igreja Católica Romana, considerado
como um dos 14 Santos Auxiliadores e um Santo militar. Agátio era um centurião
romano natural da Capadócia e estacionado na Trácia, que durante a perseguição
de Diocleciano foi martirizado em Bizâncio no ano de 303, segundo a tradição,
no dia 8 de Maio, dia em que o calendário litúrgico o recordava. Também era
celebrado a 16 de Janeiro, data da trasladação solene das suas relíquias. Foi
torturado, flagelado e decapitado por não renunciar à sua fé cristã.
Várias igrejas de Constantinopla
eram-lhe dedicadas, incluindo uma mandada construir por Constantino.
Considerado um dos Santos Auxiliadores, é invocado contra as dores de cabeça e
para proteção dos soldados. É em geral representado como um soldado vestido com
cota de malha e escudo tendo na mão um punhado de espinhos, símbolo do seu
martírio. As suas relíquias foram transferidas por volta do ano de 630 para a
cerca do mosteiro de Vivário, construído no século anterior por Cassiodoro, em
Squillace, uma cidade costeira da Calábria, onde foram colocadas numa fonte
monumental. As relíquias repousam hoje na catedral de Squillace, onde o Santo é
venerado.
Santa Bárbara, 4 de dezembro - Bárbara de Nicomédia (Nicomédia, c. 280 –
Nicomédia, c. 317) foi uma virgem mártir do século III comemorada como Santa
cristã na Igreja Católica Romana, na Igreja Ortodoxa e na Igreja Anglicana. Em
Portugal e no Brasil, tornou-se popular a devoção a Santa Bárbara, invocada
como protetora por ocasião de tempestades, raios e trovões, dando origem à
expressão "Só se lembram de Santa Bárbara quando troveja". Ela é
comemorada no dia 4 de dezembro de cada ano, qual seria a data que morta pelo
seu pai.
Santa Bárbara foi, segundo a
Tradição católica, uma jovem nascida na cidade de Nicomédia (na região da
Bitínia), atual İzmit antiga Pérsia, Turquia, nas margens do Mar de Mármara,
isto nos fins do século III da Era cristã. A moça era a filha única de um rico
e nobre habitante desta cidade do Império Romano chamado Dióscoro.
Por ser filha única e com receio
de deixar a filha no meio da sociedade corrupta daquele tempo, Dióscoro decidiu
fechá-la numa torre. Santa Bárbara na sua solidão, tinha a mata virgem como
quintal, e questionava-se se de fato, tudo aquilo era criação dos ídolos que
aprendera a cultuar com seus tutores naquela torre. Por ser muito bela e, acima
de tudo, rica, não lhe faltavam pretendentes para casamentos, mas Bárbara não
aceitava nenhum.
Desconcertado diante da cidade,
Dióscoro estava convencido que as "desfeitas" da filha
justificavam-se pelo fato dela ter ficado trancada muitos anos na torre. Então,
ele permitiu que ela fosse conhecer a cidade; durante essa visita ela teve
contato com cristãos, que não eram bem vistos na região naquela época, lhe
contaram sobre os ensinamentos de Jesus sobre o mistério da união da Santíssima
Trindade. Pouco tempo depois, um padre vindo de Alexandria a batizou.
Em certa ocasião, seu pai
decidiu construir uma casa de banho com duas janelas para Bárbara. Todavia,
dias mais tarde, ele viu-se obrigado a fazer uma longa viagem. Enquanto
Dióscoro viajava, Bárbara ordenou a construção de uma terceira janela na torre,
visto que a casa de banho ficara na torre. Além disso, ela esculpira uma cruz
sobre a fonte.
O seu pai Dióscoro, quando
voltou, reparou que a torre onde tinha trancado a filha tinha agora três
janelas em vez das duas que ele mandara abrir. Ao perguntar à filha o porquê
das três janelas, ela explicou-lhe que isso era o símbolo da sua nova Fé. Este
fato deixou o pai furioso, pois ela se recusava a seguir a Religião da Roma
Antiga.
Debaixo de um impulso e fúria, e
obedecendo a suas tradições romanas, Dióscoro denunciou a própria filha ao prefeito
Marciniano que a mandou torturar numa tentativa de a fazer renunciar sua fé,
fato que não aconteceu. Assim, Márcio condenou-a à morte por degolação. Durante
sua tortura em praça pública, uma jovem cristã de nome Juliana denunciou os
nomes dos carrascos, e imediatamente foi presa e entregue à morte juntamente
com Bárbara.
Ambas foram levadas pelas ruas
de Nicomédia por entre os gritos de raiva da multidão. Bárbara teve os seios
cortados, depois foi conduzida para fora da cidade onde o seu próprio pai a
executou, degolando-a. Quando a cabeça de Bárbara rolou pelo chão, um imenso
trovão estrondou pelos ares fazendo tremer os céus. Um relâmpago flamejou pelos
ares e atravessando o céu fez cair por terra o corpo sem vida de Dióscoro.
Santa Bárbara passou a
ser conhecida como "protetora contra os relâmpagos e tempestades" e é
considerada a Padroeira dos artilheiros, dos mineiros e de todos quantos
trabalham com fogo. Santa Bárbara é frequentemente retratada com correntes em miniatura
e uma torre. Como uma das catorze Santas auxiliares, Bárbara continua a ser uma
Santa popular nos tempos modernos.
São Brás, 3 de fevereiro - São Brás (Roma, c. 264 – Sebaste, c. 316)
foi um mártir, Bispo e Santo católico que viveu entre os séculos III e IV na
Armênia. Ficou conhecido porque retirou, após uma breve oração, um espinho da
garganta de uma criança. Por esse motivo, é padroeiro das doenças da garganta
e, no dia de sua celebração a 3 de fevereiro, nas cidades da Espanha, Campanário
(Ribeira Brava), Arco da Calheta, Calheta (Madeira) e algumas da América
Latina, as mães levam os filhos para benzerem a garganta. Foi capturado pelos
romanos e decapitado no ano 316, sendo enterrado na cidade de Sebaste. Seu
culto se expandiu, tanto no Oriente quanto no Ocidente, a partir do século
VIII, invocando-se suas bênçãos para doentes e animais por associação aos
milagres que lhe foram atribuídos. Seus emblemas são um rastelo (ancinho) ou
duas velas cruzadas. É o Santo patrono dos trabalhadores da lã. Na igreja
latina, sua festa ocorre em 3 de fevereiro, nas igrejas orientais, seu dia é
comemorado em 11 de fevereiro.
Santa Catarina de Alexandria, 25 de novembro - Catarina
de Alexandria, é uma Santa e mártir cristã que foi uma notável intelectual no
início do século IV. Passados 1100 anos, Joana d'Arc disse que Santa Catarina
apareceu-lhe várias vezes. A Igreja Ortodoxa a venera como uma "grande
mártir", e na Igreja Católica, ela é tradicionalmente reverenciada como um
dos Catorze santos auxiliares.
Catarina nasceu na cidade
egípcia de Alexandria e cresceu como uma pagã, mas em sua adolescência
converteu-se ao cristianismo. Diz-se que ela visitou seu contemporâneo, o
imperador romano Maximino Daia, e tentou convencê-lo do erro moral na
perseguição aos cristãos. Ela conseguiu converter a esposa de Maximiano, e
também muitos pagãos que o imperador enviou para disputar com ela.
Numa visão, Catarina foi
transportada para o céu, encontrou-se com o menino Jesus e a Virgem Maria e, em
êxtase, casou-se misticamente com Cristo, convertendo-se ao cristianismo. Ela
tinha, na época, dezoito anos de idade. Foi então à presença do imperador
romano Maximino Daia, que perseguia os cristãos, censurando-o por sua crueldade.
Apontou a limitação do imperador, por ser pagão, e afirmou que o seu Deus era o
único realmente vivo e o seu rei era Jesus Cristo.
O imperador mandou prendê-la no
cárcere até que viessem os 50 maiores sábios da província de Alexandria e a
humilhassem por causa da sua argumentação aparentemente simples. Quando
chegaram, os sábios riram-se do imperador por tê-los convocado para
contra-argumentar com uma simples garota. Porém, o imperador os advertiu que,
se conseguissem convencê-la, ele os presentearia com os melhores bens do mundo;
mas se não conseguissem, ele os condenaria à morte. Catarina foi tão plenamente
sábia nas suas colocações e argumentos que mesmo perante esta ameaça os sábios
não conseguiram convertê-la aos ídolos. Pelo contrário, vencidos pela
eloquência de Catarina, converteram-se ao cristianismo. Frustrado, o imperador
mandou prender e torturar Catarina na masmorra. Visitada na prisão pela esposa
do imperador e pelo chefe de sua guarda, Catarina os converteu, fazendo o mesmo
com inúmeros soldados. Mais enfurecido ainda, o imperador mandou assassinar os
sábios e a sua esposa, lançou os guardas aos leões no Coliseu e condenou
Catarina à morte lenta na roda (instrumento de tortura que mutilava e causava
grande sofrimento). Quando foram amarrar Catarina na roda, ela fez o sinal da
cruz e a roda se quebrou. Ao determinar sua execução, apareceu-lhe o arcanjo
Miguel para confortá-la e Catarina rezou suplicando que, em nome do seu
martírio, Deus ouvisse as orações de todos aqueles que a ele recorressem e que
tudo obtivessem por sua intercessão. Por fim, Catarina de Alexandria, então com
apenas 18 anos, morreu decapitada. Três séculos mais tarde, o seu corpo,
incorrupto, foi encontrado por monges e levado para o Mosteiro da Transfiguração,
onde algumas das suas relíquias e o seu nome ficaram até hoje.
Foi ouvindo a voz de Santa
Catarina que Santa Joana d'Arc encontrou a espada que usaria em sua missão que
mudaria a história da França. Junto de Santa Margarida e do arcanjo Miguel, era
uma das vozes que falavam com ela e a instruíram na sua missão de salvar a
França. Santa Catarina é considerada padroeira dos estudantes, filósofos e
professores e também invocada pelos que trabalham com rodas e contra acidentes
de trabalho. No Brasil, é a padroeira principal do Estado e da Ilha de Santa
Catarina, e co-padroeira da Catedral metropolitana de Florianópolis.
São Cristóvão, 25 de julho - A figura mais frequente de São Cristóvão é
representada por um gigante barbudo, que carrega o Menino Jesus nos ombros,
ajudando-o a atravessar um rio; o Menino segura o mundo nas pontas dos dedos,
como se brincasse com uma bola. Esta imagem remonta a uma das histórias
hagiográficas mais famosas sobre a vida do Santo, martirizado em 25 de julho em
Anatólia, na Lícia. Segundo a tradição, seu verdadeiro nome era Reprobus, um
gigante que queria prestar serviço ao rei mais poderoso do mundo.
Ao chegar à Corte de um rei, que
achava ser invencível, pôs-se ao seu serviço. Mas, certo dia, percebeu que o
rei, ao escutar o canto de um trovador que falava do diabo, fez o Sinal da
Cruz. Então, perguntou-lhe porquê. E o rei lhe respondeu que tinha medo do
diabo e que todas as vezes que o ouvia falar em seu nome, fazia o Sinal da Cruz
para buscar proteção.
O gigante então partiu em busca
do diabo, que ele julgava ser mais poderoso que seu rei. Não demorou muito e o
encontrou; assim, pôs-se a servi-lo e a segui-lo. Porém, um dia, passando por
uma rua onde havia uma cruz, o diabo desviou seu caminho. Então, Reprobus
perguntou-lhe porquê havia agido desta maneira. E o diabo foi obrigado a
admitir que Cristo tinha morrido na Cruz; por isso, diante da Cruz, tinha que
fugir de medo.
Por fim, Reprobus deixou o diabo
de lado e pôs-se à busca de Cristo. Certo dia, encontrou um eremita que lhe
sugeriu construir uma cabana às margens de um rio, cujas águas eram perigosas,
e colocar-se à disposição das pessoas a atravessá-lo, uma vez que tinha uma
estatura gigantesca.
Um belo dia, o bom
gigante ouviu uma voz de criança, que lhe pedia ajuda: era um menino que queria
atravessar o rio. Então, o gigante o colocou sobre os ombros e o carregou para
o outro lado daquele rio perigoso. Enquanto fazia a travessia, o peso daquela
criança aumentava cada vez mais, tanto que, com muito custo, conseguiu chegar à
outra margem. Lá, o menino revelou sua identidade: era Jesus e o peso, que
havia carregado, era o do mundo inteiro, salvado pelo sangue de Cristo. Esta
história, além de inspirar a iconografia ocidental, fez com que São Cristóvão
fosse invocado como Padroeiro dos barqueiros, peregrinos, viajantes e
motoristas.
O martírio de Cristóvão
aconteceu em Anatólia, na Lícia. O Santo resistiu às torturas com hastes de
ferro e metal incandescentes. Até as flechas que lhe atiraram, ficaram
suspensas no ar; uma delas, voltou e transpassou o olho do soberano, que lhe
havia ordenado o suplício. Assim, o rei mandou decapitar Cristóvão. Mas, antes
de morrer, disse-lhe: “Banhe os olhos com o meu sangue e ficará curado”. O rei
recuperou a visão e se converteu. Desde então, São Cristóvão foi invocado
contra as doenças da vista.
São Ciríaco, 8 de agosto - Ciríaco de Roma é um mártir cristão
perseguido e morto por ordem de Diocleciano, sendo um dos vinte e sete Santos
católicos a usarem este nome. É um dos Catorze Santos auxiliares. São Ciríaco é
venerado pela cristandade e seu dia consagrado é 8 de agosto.
De acordo com a tradição cristã,
Ciríaco era um nobre romano que após se converter ao cristianismo decidiu doar
todos os seus bens materiais aos pobres e passou a evangelizar os escravos que
trabalhavam na construção das Termas de Diocleciano. Sob o governo de
Maximiano, Ciríaco foi perseguido e decapitado na Via Salária no ano de 303.
Ciríaco também exorcizou Atermia, filha de Diocleciano fato que resultou na
conversão dela e de sua mãe, Serena. Outra menina a ser exorcizada por Ciríaco
foi Jobias, filha de Sapor I fato que resultou na conversão de toda a família
real persa.
São Denis, 9 de outubro - São Dinis de Paris ou São Dionísio de Paris
foi um mártir e Santo cristão, tendo sido Bispo de Paris no século III. Foi
martirizado aproximadamente no ano de 250. Segundo a Tradição, São Dinis ainda
caminhou até sua igreja logo após ser decapitado. É venerado pela Igreja
Católica Romana como co-padroeiro de Paris.
Foi enviado como missionário a
Paris, e depois foi o primeiro Bispo de Paris. Notável pregador, converteu centenas
de pessoas. Seu sucesso provocou a ira dos pagãos locais e foi feito
prisioneiro pelo governador romano. Martirizado nas perseguições do imperador
Valeriano para renegar sua fé, junto com São Eleutério e São Rústicus que eram
seus diáconos. A história diz que após ter sido decapitado ele andou segurando
sua cabeça por algum tempo em direção a sua igreja. Seu túmulo tornou-se um
local de peregrinação e vários milagres foram creditados a sua intercessão.
Santa Genoveva (padroeira de Paris)
construiu uma Basílica sobre sua tumba e sua festa foi adicionada ao calendário
romano em 1568 pelo Papa Pio V, embora ela seja celebrada na França desde 800
d.C. Ele é um dos catorze Santos auxiliares. Foi decapitado no ano de 258 em
Montmartre e seu corpo atirado no Sena, mas recuperado e sepultado à noite
pelos seus convertidos e devotos. Na arte litúrgica da Igreja pode ele ser
mostrado como um Bispo carregando sua cabeça, às vezes usando uma mitra e
também com uma videira crescendo em seu pescoço. É padroeiro da França e de
Paris e no passado era invocado contra a dor de cabeça. Geralmente, é invocada
sua intercessão contra a hidrofobia, ira, furor, possessão demoníaca e a raiva
(doença).
Santo Erasmo, 2 de junho - Erasmo de Formia, morto cerca de 303, também
conhecido como Santo Elmo ou São Telmo, é o Santo padroeiro dos marinheiros.
Erasmo é um dos catorze Santos auxiliares das lendas cristãs, invocados na
Europa Central como intercessores.
Ele pertencia ao clero da Antioquia.
Foi forçado, durante a perseguição do imperador Diocleciano, a esconder-se numa
caverna no Monte Líbano durante sete anos. Capturado e longamente torturado,
foi levado para ser julgado pelo imperador, que tentou de todas as formas fazer
com que renegasse a fé em Cristo. Porém Erasmo manteve-se firme e por isso
novamente voltou para a prisão. De lá, foi milagrosamente libertado por um anjo
que o levou para a Dalmácia, onde fez milhares de conversões durante mais sete
anos.
Na época do imperador Maximiano,
novamente foi preso e no tribunal, além de destruir um ídolo falso, declarou
sua incontestável religião cristã. Tal atitude de Erasmo fez milhares de pagãos
converterem-se, os quais depois foram mortos pela perseguição desse enfurecido
imperador. Outra vez foi horrivelmente torturado e também libertado, agora pelo
arcanjo Miguel, que o conduziu para a costa do sul da Itália. Ali se tornou o
Bispo de Fórnia, mas por um breve período. Morreu pouco depois devido às
feridas de seus dois suplícios, por este motivo recebeu o título de mártir.
As muitas tradições descreveram
algumas particularidades sobre as crueldades impostas nas suas torturas. Dizem
que seu ventre foi cortado e aos poucos os seus intestinos foram retirados.
Devido a esse suplício, Santo Erasmo tornou-se, para os fiéis, o protetor das
enfermidades do ventre, dos intestinos e das dores do parto.
Os marinheiros ainda hoje são
muito devotos de Santo Erasmo, ou Santo Elmo ("Sant'Elmo"), como
também o chamam. Desde a Idade Média eles o tomaram como seu padroeiro,
invocado-o especialmente durante as adversidades no mar. As fontes históricas
da Igreja também comprovam a existência de Erasmo como mártir e Bispo de
Fórnia, Itália. Dentre elas estão o Martirológio Gerominiano, que indicou o dia
2 de junho para sua veneração e a inscrição do seu nome entre os mártires no
calendário marmóreo de Nápoles.
O Papa São Gregório Magno, no
fim do século VI, escrevendo ao Bispo Bacauda, de Fórnia, atestou que o corpo
de Santo Erasmo estava sepultado na igreja daquela diocese. No ano 842, depois
de Fórnia ser destruída pelos sarracenos muçulmanos, as suas relíquias foram
transferidas para a cidade de Gaeta e escondidas num dos pilares da igreja, de
onde foram retiradas em 917. A partir de então, Santo Erasmo foi declarado
padroeiro de Gaeta e, em sua homenagem, foram cunhadas moedas com a sua efígie.
Santo Eustáquio, 20 de setembro - Eustáquio é um mártir cristão e Santo
militar, que viveu no final do século I e inícios do século II da nossa era.
Alguns elementos da sua história estão presentes na vida de outros santos.
Antes da sua conversão ao cristianismo, Eustáquio era um general romano de nome
Plácido (latim: Placidus) ao serviço do imperador Trajano. Enquanto caçava nas
proximidades de Roma, Eistáquio teve uma visão de Jesus entre os anjos. Desde
então converteu-se, fez-se batizar a si e à sua família, e mudou o seu nome
para o grego Eustachion, que significa “boa fortuna”.
Uma série de calamidades abateram-se sobre
o recém-convertido e a sua família para testar a sua fé: foi roubado, a sua
esposa raptada pelo capitão do navio onde seguia e, por fim, ao atravessar um
rio, os seus dois filhos foram levados, um por um lobo, outro por um leão. Tal
como Jó, Eustáquio lamentou-se, mas não vacilou nem perdeu a fé.
Acabaria por recuperar o seu
prestígio, cargos e reunir a família. Porém, quando demonstrou a sua nova fé ao
recusar-se a fazer um sacrifício pagão, o imperador Adriano condenou Eustáquio,
a esposa e os filhos à morte, ordenando que fossem cozinhados vivos dentro de
um touro de bronze, no ano de 118 d.C. Eustáquio tornou-se Santo patrono dos
caçadores, sendo também invocado em tempos de adversidade; foi incluído entre
os catorze Santos auxiliares. A ilha de Santo Eustáquio, nas Antilhas
Neerlandesas, foi assim chamada em sua honra.
São Jorge, 23 de abril - São Jorge (entre 275 e 280 — 23 de abril de
303), também conhecido como Jorge da Capadócia e Jorge de Lida foi, conforme a
tradição, um soldado romano no exército do imperador Diocleciano, venerado como
mártir cristão. Na hagiografia, São Jorge é um dos Santos mais venerados no
Catolicismo, na Igreja Ortodoxa, bem como na Comunhão Anglicana. É imortalizado
na lenda em que mata o dragão. É também um dos catorze santos auxiliares. No
cânon do Papa Gelásio (496 DC), São Jorge é mencionado entre aqueles que “foram
justamente reverenciados pelos homens e cujos atos são conhecidos somente por
Deus”.
Considerado como um dos mais
proeminentes Santos militares, a memória de São Jorge é celebrada nos dias 23
de abril e 3 de novembro – a primeira é a data de sua morte, e a segunda, a
data da consagração da igreja dedicada a ele em Lida (Israel), na qual se
encontram sua sepultura e suas relíquias. A igreja de São Jorge em Lida foi
erguida a mando do imperador romano Constantino.
São Jorge é o Santo padroeiro em
diversas partes do mundo, tais como: Inglaterra, Geórgia, Lituânia, Sérvia,
Montenegro e Etiópia, além de ser um padroeiro menor de Portugal; bem como das
seguintes cidades: Londres, Barcelona, Génova, Régio da Calábria, Ferrara,
Friburgo, Moscovo e Beirute. No Oriente, ele é conhecido como “megalomártir”,
ou seja, “grande mártir”. Ele também é reconhecido como modelo de virgem
masculino, ao lado de São João Evangelista e do próprio Jesus Cristo.
Santo Egídio, 1 de setembro - Santo Egídio ou São Gil, foi um Santo
católico eremita do século VI originário da Grécia que se tornou popular na
região da Provença e na Escócia. A abadia onde viveu Santo Egídio, na comuna
francesa de Saint-Gilles, é local de peregrinação e parada oficial dos Caminhos
de Santiago. Pouco se sabe sobre a infânica e juventude de Santo Egídio, porém
sabe-se que ele era filho de nobres atenenses. Após a morte de seus pais,
Egídio passou a ser eremita e habitou na região do rio Ródano e do rio Gard.
Egídio se mudou para uma
floresta na região de Nimes para viver como eremita e se dedicar ao estudo de
Deus e durante essa época seu único companheiro foi um cervo. Porém, seu
refúgio foi decoberto por capangas do rei que o haviam perseguido secretamente.
Uma flecha atingiu em cheio sua mão enquanto tentava proteger uma corça dos
caçadores do rei visigodo Vamba. Como forma de reconciliação o rei
disponibilizou médicos para cuidarem dos ferimentos da mão de Egídio e também
construiu um enorme monastério para Egídio que mais tarde se tornou monastério
beneditino.
Egídio veio a falecer em 720 d.c em seu
monastério e sua sepultura se tornou local de peregrinação e parte dos Caminhos
de Santiago que levam até a Espanha. Santo Egídio também foi consagrado um dos
Catorze Santos auxiliares da Igreja Católica.
Santa Margarida de Antioquia, 20 de julho - Margarida de Antioquia, também conhecida
como Santa Margarida, é uma Santa cristã, virgem e mártir, inscrita no grupo
dos Catorze Santos auxiliares, cuja celebração litúrgica se situa, tal como na
Igreja Anglicana, a 20 de julho. Na Igreja Ortodoxa é venerada como Marina de
Antioquia, três dias antes, a 17 de julho. A sua devoção Ocidental foi
reavivada com as Cruzadas. A sua reputação incluía indulgências muito poderosas
para todos quanto escrevessem ou lessem a sua vida, ou invocassem a sua
intercessão.
De acordo com a Legenda Áurea,
Margarida (ou Marina) nasceu em Antioquia da Pisídia e era filha de um
sacerdote pagão chamado Aedesius. Renegada pelo pai por causa da sua fé, foi
viver com uma mãe adotiva na Ásia Menor, atual Turquia, acabando a guardar
ovelhas. Olybrus, o governador, fascinado com a beleza da jovem, propôs-lhe
casamento, em troca da sua renúncia ao cristianismo. Não ocultando que era
cristã, o governador decidiu então entregá-la aos cuidados de uma mulher nobre.
Detinha a esperança que esta a convenceria renegar Cristo. Mas Margarida
manteve-se firme e negou-se a oferecer um sacrifício aos ídolos. Encarcerada
por não ceder aos pedidos do prefeito, submeteram-na então às mais terríveis
torturas, entre as quais se contam o açoitamento com varas, o cortar do seu
corpo com tridentes, o cravar de cravos e a sua laceração por meio de um
gancho. Contam-se então alguns episódios; Um relata que, sobrevivendo
milagrosamente, conseguiu, mediante o sinal da cruz, expulsar de si mesma um
demónio da sua garganta. Noutro momento, engolida por Satanás (que assumira a
forma de um dragão), ela rasgou a pele do mesmo com um crucifixo que possuía,
saindo então, de dentro do animal. É óbvio que se trata de uma alusão a sua fé
inabalável que vencia todos os desafios propostos por Satanás. Margarida é
então condenada à morte no ano de 304.
As suas relíquias encontravam-se
em Constantinopla até à tomada da cidade pelos cruzados no ano de 1204. O braço
de Santa Margarida encontra-se no monte Atos no Mosteiro de Vatopedi. Sendo
reconhecida como Santa pela Igreja Católica, a sua festa litúrgica foi colocada
no Martirológio Romano em 20 de julho. Do século XII ao século XX, ela fora
incluída entre os Santos celebrados onde quer que se celebrasse o rito romano.
Margarida teria aparecido para Joana d'Arc, junto com Santa Catarina de
Alexandria e São Miguel, para ajudarem Joana a salvar a França dos ingleses. É
tida como padroeira da gravidez. O seu principal atributo é o dragão que leva
preso ou que jaz a seus pés; por vezes é representada guardando o seu rebanho
ou sustém uma cruz entre as mãos e um rosário de pérolas.
São Pantaleão, 27 de julho - São Pantaleão é um Santo católico, que viveu
no século IV. Sendo um dos Catorze Santos auxiliares, é invocado contra o mal
do cancro e da tuberculose e é patrono dos médicos. O seu sangue foi conservado
por séculos na Itália onde anualmente, a 27 de julho, miraculosamente torna-se
líquido.
Parte das relíquias do seu corpo
foram guardadas e veneradas na Sé cidade do Porto, Portugal. É o padroeiro
desta cidade, tendo sido para aqui transportado pela comunidade armênia, em
fuga de Constantinopla, prevenindo-se da invasão otomana. Outras estão na
França na Basílica de Saint-Denis, em Paris, e sua cabeça é mantida em Lyon. Na
Itália estão na cripta da igreja de São João e Reparata em Lucca, e ainda um
braço que é preservado na igreja de São Pantaleão, em Veneza. No sagrado Monte
Athos, na Grécia, um dos vinte mosteiros da comunidade russa que ainda existem
é-lhe dedicado.
Tendo estudado Medicina,
tornou-se médico pessoal do césar Galério. Converteu-se ao cristianismo, vindo
a ser acusado pelo Imperador de ter recebido o batismo. Preso e torturado, foi
martirizado por decapitação, por se recusar a abjurar de sua fé, em Nicomédia,
na Ásia Menor, em 303. Tinha então menos de 23 anos de idade. O imperador
queria poupá-lo e tentou convencê-lo a se retratar como ateu. Pantaleão, no
entanto, confessou abertamente sua fé cristã, e para mostrar estar certo curou
ali mesmo um paralítico com palavras de Cristo.
Foi condenado pela primeira vez
ao fogo, mas as chamas foram extintas. Em seguida mergulhado em chumbo derretido,
mas o chumbo é milagrosamente resfriado. Depois atirado ao mar com uma pedra
amarrada no pescoço, mas a pedra começou a flutuar. Adiante condenado às feras,
mas os animais que eram supostamente para rasgá-lo em pedaços começaram a
fazer-lhe festas, em seguida, foi amarrado a uma roda mas as cordas e a roda
quebraram. Foi feita uma tentativa de decapitá-lo, mas a espada curvava.
Pantaleão orou a Deus sempre para perdoá-los, razão pela qual ele também
recebeu o nome de Panteleemon (em grego, aquele que tem compaixão por todos).
Finalmente, quando deu o seu consentimento, os carrascos conseguiram o seu
intento. Também há representações pictóricas de São Pantaleão crucificado numa
aspa, martírio semelhante ao do Apóstolo Santo André.
São Vito, 15 de junho - São Vito ou São Guido (Sicília, 290 -
Basilicata, 303) é um Santo católico originário da Sicília que viveu durante a
perseguição aos cristãos e morreu como mártir da Igreja pelas mãos dos
Imperadores Diocleciano e Maximiano. Sua festa é celebrada em 15 de junho.
No final da Idade Média, as
pessoas na Alemanha celebravam a festa de Vitus dançando diante de sua estátua.
Essa dança se tornou popular e o nome "Saint Vitus Dance" foi dado à
doença neurológica da coreia de Sydenham. Também levou Vito a ser considerado o
Santo padroeiro dos dançarinos e dos artistas em geral.
Vito é considerado o Santo
padroeiro dos atores, comediantes, dançarinos e epiléticos, da mesma forma que
Gênesis de Roma. Diz-se também que ele protege contra raios, ataques de animais
e dormir demais. Vito é o Santo padroeiro da cidade de Rijeka na Croácia; as
cidades de Ciminna e Vita, na Sicília, Polignano a Mare, na Puglia, Forio, na
ilha de Ischia, na Campânia, Itália; a contrada de San Vito, em Torella dei
Lombardi, em Avellino, Itália; a cidade de Rapone, Itália; a cidade de
Winschoten na Holanda, a colônia italiana de San Vito na Costa Rica, e da
cidade de St. Vith localizado na Bélgica. Vários lugares na Áustria e na
Baviera são nomeados Sankt Veit em sua homenagem.
Segundo a tradição, Vito,
Modesto e Crescentia eram mártires de Diocleciano. O primeiro testemunho de sua
veneração é oferecido pelo "Martyrologium Hieronymianum". O fato de a
nota estar nos três manuscritos mais importantes indica que também estava no
exemplo comum deles, que apareceu no século V. O mesmo Martyrologium fez no
mesmo dia outra menção a Vitus no topo de uma lista de nove mártires, com a
declaração do local, em Eboli, "Em Lucania ", ou seja, na província
romana desse nome no sul da Itália entre o mar da Toscana e o golfo de Taranto.
Vito era filho de um senador de
Lucania. Ele resistiu às tentativas de seu pai, que incluíam várias formas de
tortura, para fazê-lo se afastar de sua fé. Ele fugiu com Lucest, seu tutor
Modestus e a esposa de Modestus, Crescentia, que era a babá de Vito. Ele foi
levado de lá para Roma para expulsar um demônio que havia tomado posse de um
filho do imperador Diocleciano. Isso ele fez e, no entanto, permanecendo firme
na fé cristã, foi torturado junto com seus tutores. Por um milagre, um anjo
levou de volta os três a Lucania, onde morreram pelas torturas que haviam
sofrido. Três dias depois de morto, Vito apareceu para uma matrona distinta
chamada Florentia, que então encontrou os corpos e os enterrou no local onde
estavam.
Em alguns dias do ano litúrgico
a invocação de um dos Santos acima é substituída pela de Santo Antão, São
Leonardo de Noblac, São Nicolau, São Sebastião, Santo Osvaldo, Papa Sisto II,
Santa Apolônia, Santa Doroteia, São Wolfgang ou São Roque. Na França a Virgem
Maria é adicionada ao rol dos catorze Santos auxiliares.
A Basílica em Vierzehnheiligen
construída em estilo barroco, foi erguida entre 1743 e 1772, é o maior templo
do mundo em honra aos Catorze Santos Auxiliares. A devoção começou na região em
24 de setembro de 1445, quando Hermann Leicht, um jovem que pastoreava as
ovelhas de um mosteiro franciscano, viu uma criança chorando num campo próximo
a um mosteiro da Ordem de Cister em Langheim. Quando ele se agachou para tomar
nos braços a criança que chorava, ela desapareceu subitamente. Algum tempo
depois, a mesma criança apareceu no mesmo lugar. Dessa vez, duas velas
queimavam próximas a ele. Em junho de 1446, Leicht viu a criança pela terceira
vez. Dessa vez, a criança trazia junto de si uma rosa vermelha num cesto e
estava acompanhada de outras treze crianças. A criança disse: “Nós
somos os catorze auxiliadores e desejamos que construa uma capela aqui, onde possamos
descansar. Se você for nosso servo, nós o seremos de você!”
Um curto espaço de tempo depois,
Leicht viu novamente duas velas descendendo queimando sobre o lugar. A partir
de então, curas milagrosas começaram a ser manifestadas e atribuídas aos
catorze Santos. Os irmãos da Ordem de Cister, a quem pertenciam as terras, logo
construíram uma capela que começou a receber peregrinos imediatamente. Um altar
foi consagrado por volta de 1448. Muitos peregrinos continuam a visitar a
Basílica ainda hoje, em grande fluxo principalmente entre os meses de maio e
outubro.
211º
- Pio II - 1458 - 1464
Pio II,
nascido Enea Silvio Piccolomini, (Corsignano, 18 de outubro de 1405 — 14 de
agosto de 1464), foi Papa e líder mundial da Igreja Católica de 19 de agosto de
1458 até sua morte. Nascido em Corsignano, na Itália, no território sienês de
uma família nobre, porém em decadência, também foi um intelectual autor de
diversas obras, como a história de sua vida, intitulada Comentários, a única
autobiografia já feita por um Papa. Papa amante das artes, escreveu vários
livros e fez com que sua cidade natal fosse rebatizada por ele de Pienza, após
reconstruída em seus monumentos pelo urbanista Rossellino. Inicialmente
dedicou-se aos estudos jurídicos e adquiriu uma vasta cultura humanista.
Trabalhando como leigo, seu primeiro contato direto com o clero foi quando
exerceu a função de Abreviador e participou do Concílio de Basiléia (1432).
Depois foi Secretário do Imperador Frederico III e só por volta dos quarenta
anos é que resolveu abraçar a carreira Eclesiástica, por sinal rápida mas muito
brilhante. Foi Bispo de Trieste (1447), de Siena (1450), Cardeal em 1456, e
finalmente eleito Papa em 19 de agosto, assumiu o Trono de São Pedro a 3 de setembro,
para suceder Calisto III. Confirmou em Mântua a aliança dos reis da França,
Borgonha, Hungria e Veneza, para socorrer as províncias oprimidas pelos turcos.
Canonizou em 1461 Catarina Benincasa (1347-1380), Santa Catarina de Siena,
proclamada padroeira da Itália por Pio XII e declarada doutora da igreja em
1970 pelo Papa Paulo VI. Extraordinariamente culto, foi autor de várias obras
em latim, como De duobus amantibus história (História de dois amantes),
Cosmographia e uma autobiografia Commentarii rerum memorabilium quae temporibus
suis contigerunt. Tentou organizar uma nova cruzada contra os turcos muçulmanos
que estavam atacando a Terra Santa, e fracassou em sua tentativa de convencer
os Príncipes cristãos a se envolver em tal empresa. Mesmo assim decidiu agir
por conta própria e proclamou a guerra Santa em 1463. Dirigindo-se a Ancona, de
onde deviam partir os cruzados, acabou morrendo em Ancona antes de ver
concretizado o seu intento.
212º
- Paulo II - 1464 - 1471
Paulo
II, nascido Pietro Barbo (Veneza, 23 de Fevereiro de 1417 — Roma, 26 de Julho
de 1471), foi Papa entre 30 de Agosto de 1464 e a data da sua morte. Sobrinho do
Papa Eugênio IV, adere à carreira Eclesiástica quando da eleição do tio, em
1431. As suas promoções foram rápidas: Cardeal em 1440 e eleito Papa por
unanimidade em 30 de Agosto de 1464, sucedendo ao Papa Pio II. Tendo passado
sua juventude em Florença, tornou-se Arquidiácono de Bolonha e depois Bispo de
Cervia e Vicenza antes de ser feito Cardeal aos 23 anos por seu tio, o Papa
Eugênio IV. Homem de considerável fortuna, exerceu grande influência na Cúria
sob os Papas Nicolau V e Calisto III e em 1456 tornou-se governador geral da Campania
e das regiões marítimas. As Capitulações elaboradas pelos cardeais às vésperas
da eleição do sucessor do Papa Pio II afirmavam que o novo Papa, uma vez
eleito, deveria fixar o número de Cardeais, reformar a Cúria, abrir um concílio
geral dentro do terceiro ano de seu Pontificado, e retomar a guerra contra os
turcos. Paulo foi eleito na primeira votação, mas recusou-se firmemente a
publicar uma bula confirmando as provisões do pacto eleitoral. Supremamente
ciumento de sua autoridade, ele governou como um monarca ostentoso, impondo à
Corte Papal um estilo no modo do primeiro Renascimento italiano. No entanto,
ele mesmo não era humanista no sentido pleno da palavra; por exemplo, em 1468
ele dissolveu a Academia Romana fundada por Pomponio Laetus. Por outro lado,
cercou-se de estudiosos e encorajou a fundação da primeira gráfica da Itália no
Subiaco (1465). Seu gosto por pompa e luxo foi expresso no famoso Palácio de
São Marcos, hoje o Palazzo Venezia, que ele começou em Roma já em 1455 e fez
sua residência principal a partir de 1466. O Pontificado de Paulo foi dominado
pela intensificação da guerra contra os turcos otomanos. Imediatamente, em
1464, Paulo recolheu os fundos necessários para renovar a luta e, em 1466, deu
seu apoio ao chefe albanês Scanderbeg. Para o benefício da Santa Sé, ele
fortaleceu seu monopólio de alúmen ao proibir qualquer negociação de alume com
os turcos, mas ele não poderia impedir a fortaleza de Negromonte (Euboea) de
cair (julho1470). Ele se distraiu da luta apenas quando sentiu que era seu
dever intervir na Boêmia em oposição ao rei Jorge Poděbrad e à igreja Hussita.
Por instigação do Papa, Matias Corvino, Rei da Hungria, declarou guerra à
Poděbrad (31 de março de 1468), a quem Paulo já havia declarado deposto. Corvino
recebeu a coroa da Boêmia do Papa em março de 1469. Poděbrad, entretanto,
obteve o apoio do Rei Luís XI da França, e juntos exigiram a convocação de um
concílio geral da Igreja e iniciaram um processo contra o ex-favorito de Paulo,
o Cardeal Jean Balue. Para apaziguar Luís XI, que antes consentira na abolição
da Pragmática Sanção de Bourges (1461), apesar do Parlamento, Paulo deu
oficialmente a ele e seus sucessores o título de “O Maior Rei Cristão”. Paulo
também se dedicou à extirpação na igreja dos heréticos Fraticelli, iniciando um
processo contra eles em 1466 e processando seus adeptos na Alemanha. Por sua
bula de 19 de agosto de 1470, Paulo decretou que os futuros Anos Santos seriam
realizados a cada 25 anos (a partir de 1475). Na primavera de 1471, ele
realmente contemplou a convocação de um Concílio em Ferrara. Tentou uma
reconciliação com a Igreja Bizantina e estava negociando uma aliança com o
príncipe iraniano Uzom-Hassan contra os turcos quando ele morreu
repentinamente. Seu famoso túmulo renascentista no Vaticano é o trabalho de
Mino de Fiesole e Giovanni Dalmato.
213º
- Sisto IV - 1471 - 1484
O Papa
Sisto IV (21 de julho de 1414 – 12 de agosto de 1484), nascido Francesco della
Rovere, foi Papa de 9 de agosto de 1471 até sua morte em 1484. Suas realizações
como Papa incluíram a construção da Capela Sistina e a criação dos Arquivos do
Vaticano. Patrono das artes, promoveu escavações arqueológicas em Roma,
contratou vários artistas importantes do Renascimento, levando-os a Roma para
decorar Palácios, Capelas e igrejas, patrocinando várias obras-primas. Sisto fundou
a Inquisição Espanhola, pela bula Exigit sincerae devotionis affectus em 1478,
embora lutasse para evitar abusos, e anulou os decretos do Concílio de
Constança. Ele era conhecido por seu nepotismo e esteve pessoalmente envolvido
na infame conspiração dos Pazzi. Papa da Igreja cristã Romana natural de Cella
Ligure, perto de Savona, república de Gênova, cujo Papado caracterizou-se pelo
patrocínio às letras e às artes e também por intrigas, conspirações e atos de
nepotismo. Membro de uma família aristocrática, ingressou na ordem franciscana,
onde se doutorou em teologia e ocupou a função de ministro-geral. Cardeal em
1467, sucedeu ao Papa Paulo II, numa época em que perdia força o ideal das
cruzadas contra os turcos e as relações entre o Papado e a França eram tensas,
pois o rei Luís XI sustentava a independência da igreja francesa, além de
fracassarem as tentativas de unir as igrejas russa e romana. Entre concessões
de privilégios e envolvimento em escândalos e conspirações, como um fracassado
atentado contra Lourenço o Magnífico e a sua excomunhão, até a incitação de
conflitos entre províncias como Veneza, Nápoles e Milão, que mantiveram a
Itália em situação caótica. Neste complexo contexto da Itália renascentista, o
Papado foi marcado pela transformação em principado italiano. No catolicismo
instituiu a festa da Imaculada Conceição, em 8 de dezembro, anulou formalmente
os decretos do Concílio de Constança (1478) e aprovou oficialmente a festa de
São José. Condenou os abusos da Inquisição espanhola (1482) e garantiu inúmeros
privilégios às ordens mendicantes, sobretudo a dos franciscanos, à qual
pertencia. Criou a primeira casa para menores abandonados e edificou numerosas
igrejas, como a Santa Maria del Popolo e começou a construção da igreja de Santa
Maria da Paz. Promoveu a construção de importantes obras públicas e comissionou
grandes artistas, como Botticelli e Pollaiuolo. Protegeu os humanistas e
enriqueceu a Biblioteca Vaticana, que franqueou aos pesquisadores. Sua
principal obra arquitetônica foi a construção da célebre Capela Sistina. Morreu
em Roma e foi sucedido por Inocêncio VIII.
Cristóvão
Colombo chega às Américas – ano 1492
214º
- Inocêncio VIII - 1484 - 1492
Papa
Inocêncio VIII, nascido Giovanni Battista Cibo (Génova, 1432 – Roma, 25 de
Julho de 1492), foi Papa de 29 de agosto de 1484 até a data da sua morte. Proclamou
em 5 de dezembro de 1484, a bula Summis Desiderantis Affectibus. Neste
documento, ele relacionava os crimes atribuídos aos bruxos e dava plenos
poderes à Inquisição para prender, torturar e punir todos aqueles que fossem
suspeitos do 'crime de feitiçaria'. Sumo Pontífice italiano da igreja Católica Apostólica
Romana, cujo Pontificado trouxe muito desprestígio para a Igreja e contribuiu
para o declínio do prestígio Papal, em virtude de sua fraqueza de espírito,
embora tivesse o mérito de apoiar a empreitada de Cristóvão Colombo junto ao
rei da Espanha. Pertencente a uma família da nobreza de Gênova, era filho de um
senador romano, quando jovem levou uma vida libertina e teve dois filhos
ilegítimos, Franceschetto e Teodorina. Mas depois regenerou-se e encaminhou-se
para a carreira Eclesiástica; depois de ter concluído os estudos em Pádua, onde
foi ordenado. Foi Bispo em Savona (1467) e em Olfetta, Nápoles (1473) e
tornou-se Cardeal (1473) por ordem do Papa Sisto IV. Foi eleito em 12 de
setembro (1484) como substituto de Sisto IV, escolhendo o nome de Inocêncio
VIII. Essa eleição já previa a falta de apio de seus membros. Os principais
rivais e pretendentes a tiara Papal eram Giuliano della Rovere, o mais ativo
dos sobrinhos do Papa Sisto V e futuro Papa Júlio II (1503-1513) e Rodrigo
Bórgia, o seguinte Alexandre VI (1492-1503), sobrinho de Calisto III
(1455-1458). Seu nome surgiu de um acordo entre Della Rovere e Bórgia. Eleito
sobretudo por meio de intrigas, em uma época de crise moral do Papado,
condicionado pelos poderes políticos então dominantes. De caráter fraco,
corrupto e nepotista, a primeira parte do seu pontificado foi dominada pelo
Cardeal Giuliano della Rovere, mas pouco a pouco permitiu a Lorenzo de Médici
conduzir sua política na última parte do seu Pontificado. Defrontou-se com o
rei de Nápoles, Fernando de Aragão, dando o seu apoio à chamada Conjura dos
barões (1485), promovendo a insurreição de várias cidades do sul da Itália e
entrando em contato com o rei da França, Carlos VIII, para convidá-lo para uma
expedição contra Nápoles. Daí originou-se uma guerra (1489-1491), que terminou,
por um lado, por causa das dificuldades do Papa em controlar a turbulenta
situação interna de seus Estados e, por outro, pela intervenção em seu favor de
Milão e sobretudo de Florença. Isso consolidou as relações do Papa com Lourenço
de Médici, que casou sua filha Madalena com Franceschetto Cybo (1488), obtendo
a nomeação para Cardeal do filho João (1475-1521), então com treze anos e
futuro Papa Leão X, estipulando que ele não deveria assumir as vestes e
obrigações cardinalícias até ter dezoito anos. Seu prestígio declinou mais
ainda ao reconhecer a sua paternidade de Franceschetto, que vivia uma vida
dissoluta, a quem muito favoreceu bem como ao sobrinho Lorenzo Cybo. Numa
atitude extremamente desonesta, aceitou do sultão Bayazid II grandes somas de
dinheiro para deter em Roma o Príncipe otomano Gem, irmão e rival do sultão.
Para arrecadar fundos aumentou o número de cargos negociáveis e perdeu o
controle da corrupção entre seus ministros, inclusive com a proliferação da
venda de bulas falsificadas e teve que condenar à morte os falsificadores
descobertos, porém o dano já era irreparável. Nesse ambiente de corrupção ética
amadurecem as condições culturais para a reação protestante à Igreja Romana. De
importância política para a Igreja em seu Pontificado apenas a queda de Granada
pelos exércitos de Fernando e Isabel, a pacificação entre os estados católicos
e a condenação do comércio de escravos, além de ajudar Cristóvão Colombo no
descobrimento da América. Foi protetor de artistas, literatos, humanistas, o
que não o impediu de condenar as teorias de Pico della Mirandola. Seu sepulcro
em São Pedro foi obra de Pollaiolo. No seu leito de morte reconheceu sua
incapacidade e pediu aos Cardeais perdão por ter feito tão pouco e suplicou a
eles que elegessem um sucessor melhor.
214
. 1 - Aparição de Nossa Senhora da Guarda - Itália
Era o
dia 29 de agosto de 1487. E Benedetto Pareto foi, como de costume, trabalhar
desde cedo no monte Figogna, perto da cidade italiana de Gênova. Este era um
dos montes chamados de guarda, porque naqueles remotos tempos a praga da
pirataria muçulmana era considerável; e para as pessoas terem tempo de fugir, e
as defesas serem preparadas, vigias faziam a guarda no alto de pontos
estratégicos. Benedetto era pastor e costumava levar suas ovelhas para pastarem
nessas paragens. Sua esposa levava-lhe o almoço por volta das 10 h da manhã, e
esta era normalmente a única interrupção na sua rotina. Mas nesse dia ele viu
aproximar-se uma bela senhora, que se apresentou como a Mãe de Jesus.
Primeiramente foi necessário que Ela o tranquilizasse, pois ele se
impressionara muito ao vê-la. Em seguida a senhora pediu-lhe que construísse
uma capela nesse local, bem no alto do monte. Benedetto estranhou, pois os
pastores eram uma classe pobre, e ele não era exceção. Por isso objetou:
— Mas eu sou muito pobre, e para construir neste monte alto e
deserto será preciso tanto dinheiro, que duvido que o consiga.
— Não tenhas medo. Serás muito ajudado.
Tocado pela graça, Benedetto correu à sua casa para contar à
família o que acabava de lhe acontecer. Mas as reações da família não foram as
que ele talvez esperasse. Especialmente cética e sarcástica, sua esposa lhe
diz: — “Até hoje todos te consideravam uma pessoa simples, mas de hoje em
diante vão te considerar um tosco ou completamente louco.” E ela se empenhou
tanto em que ele nada fizesse ou dissesse, que afinal ele decidiu seguir esse
mau conselho. No dia seguinte, ao voltar novamente ao trabalho, decidiu
recolher alguns figos. Quando subiu na árvore, o ramo no qual se apoiava
quebrou-se, e ele caiu por terra. As feridas eram sérias, e poderiam até mesmo
provocar-lhe a morte. Levado para casa, ficou alguns dias de cama. Nessa
situação, Nossa Senhora apareceu-lhe novamente. Com bondade materna,
repreendeu-o suavemente por sua atitude. Pediu-lhe novamente que construísse uma
capela, e curou suas feridas. Agora Benedetto não teve mais dúvidas. Não
perguntou a ninguém, nem quis saber o que os outros pensavam. Imediatamente
percorreu as localidades vizinhas, contando o acontecido e pedindo ajuda para
construir a capela. E de fato, o que Nossa Senhora lhe dissera aconteceu. Ele
foi muito ajudado, e em pouco tempo terminou de construir a capela no alto do
monte Figogna. Essa capela original era pequena, de forma retangular e com teto
de madeira, e hoje se encontra incluída numa edificação posterior, que a
envolve totalmente. A notícia da
aparição percorreu a região, e as pessoas começaram a fazer peregrinações ao
local. Dezenas de anos depois, já em 1530, foi decidida a construção de um
santuário para acolher os peregrinos, cada vez mais numerosos. A nobre família
Ghersi contribuiu largamente para que o santuário fosse edificado. O prédio que
hoje embeleza o local data do final do século XIX, quando além das edificações
religiosas foi também erguido um alojamento para peregrinos. O Papa Bento XV,
que era natural da cidade de Gênova, concedeu em 1915 à igreja a condição de Basílica.
Fez também construir nos jardins do Vaticano uma capelinha dedicada a Nossa
Senhora da Guarda.
215º
- Alexandre VI - 1492 - 1503
Nascido
em Valência, na Espanha, em primeiro de janeiro de 1431, Rodrigo de Borja era
filho de Isabella Borja com Jofre Lançol. Rodrigo levou uma vida despreocupada
com a carreira religiosa, teve um relacionamento com a romana Vanozza dei
Cattanei, com quem teve quatro filhos. Mas não foi tudo, Rodrigo ainda foi pai
mais duas vezes. Foi estudante na Universidade de Bolonha, época que alterou
seu nome para Borgia, e beneficiado nos bastidores da Igreja Católica pelo seu
tio, irmão de sua mãe, Affonso Borja, Cardeal que se tornaria o Papa Calisto
III. Seu tio o fez Cardeal também e o concedeu cargos de muita qualidade, como
Bispo e vice-chanceler da Igreja. Especializou-se como grande diplomata
servindo a Cúria Romana, acumulando experiência, riqueza e influência. Mas
faltava-lhe o poder de fato. Então, com o falecimento do Papa Inocêncio VIII,
Rodrigo comprou a maior parte dos votos dos Cardeais no conclave que o elegeria.
Assim superou seus adversários e foi eleito, no dia 11 de agosto de 1492, como
Papa Alexandre VI. Apesar de iniciar seu Papado com tranquilidade, tornou
tudo mais complicado em função da ganância que tinha por favorecer sua família.
Fez de muitos dos seus parentes Cardeais. Tinha como inimigo o Cardeal Giuliano
della Rovere que o acusou de simonia e ajudou o rei francês Carlos VIII invadir
a Itália para depô-lo. Todavia, o Papa negociou com o rei e pacificou a
situação. Sua ganância pelo poder familiar só foi moderada quando seu filho,
Duque de Gandia, foi assassinado. O Papa Alexandre VI encontrou seu corpo
mutilado no Rio Tibre e ficou entristecido considerando que era uma punição de
seus pecados. Isso o levou a convocar os Cardeais e acabar com o nepotismo. No
entanto, as reformas não tiveram prosseguimento. O Papado de Alexandre VI é
destacadamente negativo na história da Igreja Católica. Roma sofria, na época,
com a criminalidade e a violência nas ruas, mas o Papa estava mais preocupado
com suas comédias, seus banquetes e seus bailes, pagos com as finanças da
instituição religiosa. Alexandre VI era reconhecidamente corrupto e pouco dado
às virtudes cristãs. Possuía seus vários filhos, tinha muitas amantes e ainda
organizava orgias no Vaticano. Alexandre VI foi patrocinador das artes e, neste
sentido, deixou um legado de restaurações e decorações em Roma, permitindo
ainda o florescimento de poetas e outros artistas. Seu principal legado, contudo,
foram as Bulas Alexandrinas, iniciando a divisão de terras entre portugueses e
espanhóis no mundo, que seria definitivamente confirmada com o Tratado de
Tordesilhas, no Papado de Júlio II. Mas é certo que Alexandre VI não era
preparado para o cargo que ocupava. É considerado por muitos o pior Papa da
história da Igreja Católica. Após 11 anos de Papado, Alexandre VI foi acometido
por uma grave doença, juntamente com seu filho César. Este conseguiu se
recuperar, mas sucumbiu no dia 18 de agosto de 1503, aos 72 anos de idade. Seu
sepultamento foi breve e sem muitas comemorações na igreja Santa Maria in
Monserrato, na Espanha.
216º
- Pio III - 1503
O Papa
Pio III (9 de maio de 1439 a 18 de outubro de 1503), nascido Francesco
Todeschini Piccolomini, foi chefe da Igreja Católica e governante dos Estados Papais
entre 22 de setembro de 1503 até sua morte, tendo um dos Pontificados mais
curtos da história Papal. Nascido em Siena, eleito em 8 de outubro sucessor de
Alexandre VI, e que aceitou sua eleição depois de várias pressões, por causa de
sua saúde precária. Era sobrinho do Papa Pio II e foi educado sob a
responsabilidade do tio. Estudou leis em Perugia, onde recebeu um doutorado em
leis canônicas e imediatamente nomeado pelo tio-Papa para o Arcebispado de
Siena em 1460. Depois seguiu para Ancona, onde teve o experiente Bispo de
Marsico como seu conselheiro. Foi enviado por Paulo II à Germânia, onde fez
grande sucesso como religioso e diplomata e voltou a Roma durante os Pontificados
de Sixto IV e Alexandre VI, a quem substituiu com estremo sacrifício, para
resolver uma situação quase que beligerante entre três pretendentes ao trono:
Amboise, Rovere e Sforza. Adotou o nome em homenagem ao seu tio e benfeitor, o Papa
Pio II. Com sessenta e quatro anos, tinha metade do corpo paralisado devido à
gota, e celebrou a missa de sua coroação sentado. Foi Papa por cerca de um mês,
entre setembro a outubro de 1503 e fez pouca coisa, por causa da brevidade de
seu Pontificado e de seu estado de saúde.
217º
- Julio II - 1503 - 1513
18 de abril de 1506: o
Papa Júlio II lança a pedra fundamental da nova Basílica de São Pedro.
1508: Michelangelo
começa a pintar o teto da Capela Sistina.
Papa
Júlio II, nascido Giuliano della Rovere O.F.M. (Savona, 5 de dezembro de 1443 -
Roma, 21 de fevereiro de 1513), foi Papa de 1 de novembro de 1503 até a data da
sua morte. Era frade franciscano. Natural de Albisola, na Ligúria, de caráter
enérgico e grande protetor das artes, tornou-se um dos mais poderosos Papas do
Renascimento e foi chamado de segundo fundador dos estados Papais. Entrou para
a ordem dos franciscanos em 1468 e foi eleito Cardeal (1471), por seu tio, o Papa
Sisto IV e lhe conferiu importantes cargos eclesiásticos. Extremamente ambicioso
passou a desejar tiara Papal, mas em sua primeira tentativa, após a morte de
seu tio (1484), viu-se forçado a aceitar Inocêncio VIII. Após a morte desse,
disputou e perdeu a eleição para Rodrigo Bórgia que assumiu como Alexadre VI,
como qual manteve uma relação de animosidade, inclusive colaborou com Carlos
VIII da França para invadir Itália. Com a morte de Alexandre (1503), mais uma
vez frustrou-se com a eleição de Pio III. Porém logo o novo Papa morreu e
finalmente ele foi eleito e tomou o nome Júlio II. Como Pontífice manifestou-se
firmemente contra a simonia, tráfico de coisas sagradas ou espirituais, nas
nomeações Eclesiásticas. Sua ação mais notável foi a convocação do V Concílio
de Latrão, que tratou de corrigir a lamentável situação que o Clero
atravessava. Na política dedicou atenção à restauração do poderio dos estados Pontifícios,
que graças a sua habilidade diplomática logo se converteram na maior potência
da península itálica. Na sua tarefa de se tornar o senhor dos estados Papais,
expulsou Caesar Borgia do país, tirou os Baglioni de Perugia, e excomungou os
resistentes Bentivoglio de Bolonha e seus aliados. Formou a Liga de Cambrai com
o Imperador Maximiliano e Luis XII da França para subjugar a orgulhosa
república de Veneza e, depois, com uma política de alianças e com o lema Fora
os “bárbaros!”, formou a Santa Liga com Fernando e sua velha inimiga Veneza,
para expulsar os franceses para além dos Alpes, contendo as intenções
expansionistas de Luís XII da França na península. Após consolidar seu poder
temporal, voltou-se para o espiritual. Nas artes transformou Roma no maior
centro artístico da Itália, a Meca dos artistas e amantes da arte. Confiou ao
arquiteto Donato Bramante a reedificação da Basílica de São Pedro, encarregou
Michelangelo da decoração da capela Sistina e encomendou a Rafael a decoração
das salas vaticanas. Também chamou a Roma outros grandes artistas, como Luca
Signorelli, Pinturicchio e Perugino. Morreu em Roma e, embora tenha mandado
construir seu mausoléu na igreja de São Pedro, em Vincoli, onde foi erigida a
célebre escultura Moisés de Michelangelo, seus restos repousam na Basílica de
São Pedro.
INÍCIO
DO PROTESTANTISMO
218º
- Leão X - 1513 - 1521
31 de outubro de 1517:
Martinho Lutero publica suas 95 teses, protestando contra a venda de
indulgências.
3 de janeiro de 1521:
Martinho Lutero é excomungado pelo Papa Leão X na bula Decet Romanum
Pontificem, porque não quis se retratar.
Leão X,
nascido João de Lourenço de Médici, (Florença, 11 de dezembro de 1475 – Roma, 1
de dezembro de 1521) foi Papa de 1513 até sua morte. Ele é conhecido
principalmente por ser o Papa do início da Reforma Protestante, iniciada por
Martinho Lutero por suas 95 teses e por ter sido o último Papa a ter visto a
Europa Ocidental totalmente católica. Ele era o segundo filho de Clarice Orsini
e Lourenço de Médici, o governante mais famoso da República Florentina. Seu
primo, Giulio di Giuliano de Medici, viria a suceder-lhe como Papa Clemente VII
(1523-34). No Quinto Concílio de Latrão,
durante dois ou três anos de intrigas políticas e guerra incessante, não pôde
realizar seus intentos. O objetivo principal do concílio era a reforma da
disciplina e moral da igreja, que só poderia ser obtida adequadamente com
consenso dos reinos cristãos, e nem Leão nem o concílio conseguiram obter esse
acordo. Suas conquistas mais importantes foram o registro na sua décima
primeira sessão (9 de dezembro de 1516), com a confirmação da concordata entre
Leão X e Francisco I da França, que estava destinada a regular as relações
entre a Igreja francesa e a Santa Sé. Leão fechou o concílio em 16 de março de
1517, conseguindo encerrar o cisma pisano.
Guerra de Urbino
O ano
que marcou o encerramento do Concílio de Latrão também foi marcado pela guerra
de Leão contra Francisco Maria I, Duque de Urbino. Leão tinha intenção de que
seu irmão Giuliano e, seu sobrinho Lorenzo, tivessem uma brilhante carreira
secular. Ele havia chamado os patrícios romanos, que ele havia colocado no
encargo de Florença, para criar um reino no centro da Itália, formado pelos
ducados de Parma e Placência, Ferrara e Urbino. A morte de Giuliano em março de
1516, no entanto, transferiu o favoritismo do Papa para Lorenzo. A guerra durou
de fevereiro a setembro 1517 e terminou com a expulsão do duque e a vitória de
Lorenzo.
Planos para uma cruzada
O sultão
Selim I conseguiu diversos avanços territoriais e começava a ameaçar invadir a
Europa Ocidental. Consequentemente, Leão sentiu a necessidade de paralisar o
avanço do Império Otomano e elaborou planos para uma cruzada. Uma trégua
deveria ser proclamada em toda a cristandade, ficando o Papa como o árbitro de
disputas, o Imperador Romano-Germânico e o Rei da França a liderar o exército, e
Inglaterra, Espanha e Portugal deveriam fornecer a frota; e as forças
combinadas deveriam ser dirigidas contra Constantinopla. A diplomacia Papal
para manter a paz falhou, e por conseguinte os planos para uma cruzada, e
grande parte do dinheiro arrecadado foi gasto noutros fins. Em 1519, o Reino da
Hungria concluiu uma trégua de três anos com Selim I, mas o sultão seguinte,
Solimão, o Magnífico, recomeçou a guerra em junho de 1521 e a 28 de agosto capturou
a cidadela de Belgrado.
O Papa demonstrou-se
muito assustado, e enviou cerca de 30 000 ducados para ajudar os cristãos
húngaros. Em resposta a divergências teológicas e preocupações sobre má conduta
de alguns funcionários da igreja, em 1517 Martinho Lutero postou suas 95 teses
na porta da igreja em Wittenberg. Leão não compreendeu totalmente a importância
do movimento, e em fevereiro de 1518 dirigiu-se ao vigário-geral dos
agostinianos para controlar os seus monges. Em 30 de maio, Lutero enviou uma
explicação de suas teses ao Papa, em 7 de agosto, ele foi intimado a comparecer
em Roma. Um acordo foi efetuado, no entanto, segundo o qual a petição foi
cancelada, e Lutero foi para Augsburgo em outubro de 1518 para explicar-se ao
legado Papal, Cardeal Caetano, mas nem os argumentos do Cardeal, nem a bula
papal de 9 de novembro fez Lutero retrair-se. Um ano de negociações
infrutíferas se seguiram, durante os quais a controvérsia espalhou-se por todos
os estados alemães do Sacro Império Romano-Germânico. A bula Papal adicional
Exsurge Domine de 15 de junho de 1520, condenou quarenta e uma proposições
extraídas dos ensinos de Lutero, e foi levado para a Alemanha por Eck, na sua
qualidade de Núncio apostólico. Leão formalmente excomungou Lutero pela bula de
3 de janeiro de 1521. Foi também sob o Pontificado de Leão que o movimento
protestante foi criado na Escandinávia. O Papa tinha em 1516 enviado o núncio Papal
Arcimboldi para a Dinamarca. O rei Cristiano II, que desejava consolidar seu
poder, expulsou Arcimboldi em 1520 e convocou teólogos luteranos para
Copenhague. Cristiano aprovou um plano pelo qual uma igreja estatal devia ser
estabelecida na Dinamarca, todos os apelos para a Santa Sé deviam ser abolidos,
e o rei devia possuir a jurisdição final em causas eclesiásticas. Leão enviou
um novo Núncio para Copenhague (1521), Francesco Minorite de Potentia, que resolveu
parcialmente o problema. Leão apoiou o rei Luís XII da França e ratificou uma
aliança com Veneza, fazendo um esforço para recuperar o Ducado de Milão, após
tentativas infrutíferas para manter a paz, juntou-se à Liga dos Mechlin em 5 de
abril de 1513 com o imperador Maximiliano I, Fernando II de Aragão e Henrique
VIII de Inglaterra. Os franceses e os venezianos tiveram sucesso primeiramente,
mas foram derrotados em junho, na Batalha de Novara. Os venezianos continuaram
a luta até outubro. Em 9 de dezembro, foi ratificada a paz com Luís XII. Uma
nova crise ocorreu entre o Papa e o novo rei da França, Francisco I, que
desejava recuperar Milão e o Reino de Nápoles. Leão então formou uma nova liga
com o Imperador e com o rei da Espanha, e obteve apoio inglês. Francisco
invadiu a península Itálica em agosto e em 14 de setembro e ganhou a Batalha de
Marignano. Em outubro, Leão retirou as suas tropas de Parma e Placência,
concentrando-as na defesa de Roma e Florença. A morte do Imperador Maximiliano
em 1519 afetou seriamente a situação. Leão vacilava em apoiar os candidatos
para a sua sucessão, inicialmente ele favoreceu Francisco I. Ele finalmente
aceitou Carlos I da Espanha como o sucessor inevitável, e a eleição de Carlos
(como Imperador Carlos V (28 de junho de 1519) ocasionou a deserção de Leão de
sua aliança francesa. Em maio de 1521, um tratado de aliança foi assinado em
Roma entre ele e o Imperador. Milão e Gênova seriam tomadas da França e
reanexadas ao Sacro Império Romano-Germânico, e Parma e Placência seriam
anexadas aos Estados Papais após a expulsão dos franceses. A despesa de alistar
dez mil suíços foi distribuída equitativamente entre o Papa e o Imperador.
Carlos tomou Florença e colocou-a sob proteção da família Médici. Leão
concordou em coroá-lo Imperador em Nápoles, para ajudar em uma guerra contra
Veneza. Estava previsto que a Inglaterra e os suíços poderiam participar. Henrique
VIII anunciou sua adesão, em agosto. Francisco I já tinha começado a guerra
contra Carlos em Navarra. E, na Itália, também, os franceses fizeram o primeiro
movimento hostil em 23 de junho de 1521. Leão pediu que Francisco cedesse Parma
e Placência. Em novembro de 1521, as tropas Papais capturariam as províncias, assim
como Milão dos franceses. Tendo ficado doente de broncopneumonia, Leão X morreu
repentinamente em 1 de dezembro de 1521. Ele foi enterrado na Igreja de Santa
Maria sopra Minerva.
219º
- Adriano VI - 1522 - 1523
Nascido
no dia dois de março de 1459, em Utrecht, nos Países Baixos, Adriano Floriszoon
Boeyens era um homem de origem humilde que cresceu em condições modestas de
vida. Era filho do carpinteiro Florens Boeyens van Utrecht com Gertruid. Desde
muito novo, Adriano estudou em Zwolle. Aos dez anos de idade, seu pai faleceu.
Mas ele continuou estudando até receber uma bolsa de estudos da Duquesa de
Borgonha para entrar para a Universidade de Lovaina para se dedicar à
filosofia, à teologia e ao direito canônico. Em 1491, Adriano se tornou Doutor
em Teologia e vice-chanceler da Universidade de Lovaina. Até então, sua vida
pessoal relacionava-se com a religiosidade apenas no campo dos estudos.
Reconhecido por seus conhecimentos, foi nomeado tutor do neto do Imperador
Maximiliano I, o qual viria a ser o Imperador Carlos V. Somente em 1515, quando
foi enviado à Espanha em missão diplomática, que o Papa Leão X nomeou Adriano
como Cardeal Sacerdote da Basílica dos Santos João e Paulo. Começava assim sua
atuação no mundo religioso.
Adriano
Boeyens foi ainda co-regente da Espanha, junto com o Cardeal Francisco de
Cisneros, durante a menoridade de Carlos V, antes de ser nomeado inquisidor-mor
de Castela e Aragão. Com o falecimento do Papa Leão X, um conclave se reuniu para
eleger o novo líder da Igreja. O Cardeal Adriano nem estava presente, mas,
devido a um impasse sobre o sucessor, seu nome foi sugerido e eleito quase que
por unanimidade. Para sua própria surpresa, Adriano se tornou o Papa Adriano
VI. O Imperador Carlos V ficou muito satisfeito com a surpreendente eleição de
seu tutor, achava ele que teria benefícios por isso. Mas o Papa Adriano VI
demonstrou imparcialidade desde cedo e ganhou o apoio, inclusive, dos
adversários do Imperador espanhol. Eleito no dia nove de janeiro de 1522, ele
só seria coroado no dia 31 de agosto daquele ano, aos 63 anos de idade. O Papa
Adriano VI era um reformador que combatia os abusos da Cúria Romana e o
comércio de indulgências, conquistando, por isso, muitos inimigos. Os italianos
também não eram muito simpáticos ao novo Papa porque não agradavam a liderança
de um estrangeiro, ao qual atribuíam todos os tipos de adjetivos pejorativos.
Na verdade, Adriano VI era um fraco político e não tinha muito apreço pelas
artes. Ele não tinha sensibilidade para resolver problemas entre cristãos e
tampouco compreendeu a verdadeira amplitude da nascente Reforma Protestante.
Uma curiosidade de seu Papado foi a conclusão da primeira viagem de
circunavegação da Terra. Os marinheiros sobreviventes chegaram à Europa
alegando estarem em um dia que não coincidia com a contagem dos europeus. Seria
a primeira observação do tempo no globo terrestre que viria a ser solucionada
pela Linha Internacional de Data. O único Papa nascido nos Países Baixos até
hoje, exerceu o cargo por pouco mais de um ano. Faleceu no dia 14 de setembro
de 1523 e foi o último Papa não italiano pelos próximos 456 anos.
220º
- Clemente VII - 1523 - 1534
6 de maio de 1527:
Saque de Roma.
O Papa
Clemente VII, (26 de maio de 1478 — 25 de setembro de 1534), nascido Giulio di
Giuliano de Médici, foi chefe da Igreja Católica e governante dos Estados Papais
de 19 de novembro de 1523 até a data da sua morte. “O mais infeliz dos Papas”,
o reinado de Clemente VII foi marcado por uma rápida sucessão de lutas
políticas, militares e religiosas - muitas em andamento - que tiveram
consequências de longo alcance para o Cristianismo e política mundial. O saque de
Roma, ocorrido em 6 de maio de 1527, foi um evento militar realizado na cidade
de Roma, então parte do Estados Pontifícios pelas tropas rebeldes de Carlos V,
Imperador do Sacro Império Romano-Germânico.
Natural
de Florença, cujo Pontificado foi marcado pela preocupação em manter o poderio
dos Medici frente à ameaça espanhola e francesa, e crescimento do domínio do
protestantismo por quase todo o norte da Europa. Sobrinho de Leão X, Arcebispo
de Florença e Cardeal (1513), foi escolhido como Papa em 26 de novembro de 1523,
sucedendo ao Papa Alexandre VI, com o nome de Clemente VII. Celebrou o 9º
jubileu (1525) e aliou-se a Francisco I da França, na Liga de Cognac (1526),
contra o Imperador Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico. Neste ano foi
aprisionado e confinado ao Castelo de Sant’Angelo até acatar as pretensões de
Carlos V: sua coroação como Imperador, o que ocorreu em Bolonha três anos mais
tarde, e a celebração de um concílio para reformar a igreja e deter o avanço do
luteranismo na Alemanha. Sua indecisão em convocar o concílio, favoreceu a
difusão do protestantismo e impediu-o de adotar uma postura enérgica diante do
cisma anglicano, provocado pela recusa Papal a anular o casamento de Henrique
VIII. Excomungou Henrique VIII da Inglaterra, o qual renegou a fé católica e
passou a perseguir a Igreja, condenou Santo Thomas Morus à morte e fundou o
Anglicanismo. A ruptura da Inglaterra com Roma (1533-1534), também
abriu caminho para o protestantismo naquele país. Tardiamente tentou, sem
sucesso, impedir as lutas entre católicos e luteranos e a Igreja perdeu a
Alemanha, a Escandinávia e a Suíça. Saques e pestes reduziram Roma a 30.000 habitantes.
Morreu em 25 de setembro de 1534, em Roma, e foi sucedido por Paulo III.
Enterrado na Basílica de São Pedro, depois seus restos foram trasladados para a
igreja de Santa Maria Minerva.
220
. 1 - Santa Ângela de Mérici
Ângela
Mérici nasceu em 1470, na cidade de Desenzano, no norte da Itália. O período
histórico era o do Renascimento e da Reforma da Igreja, provocada pela doutrina
luterana. Os pais eram camponeses pobres e muito religiosos. E desde pequena,
ela teve seu coração inclinado pela vida religiosa, preferindo a leitura da
vida dos Santos. De fato, sua provação começou muito cedo, na infância, quando
ficou órfã de pai. Logo em seguida perdeu a mãe e a irmãzinha, com quem se
identificava muito. Assim, ela foi viver na casa de um tio, que a havia
adotado, mas que também veio a falecer. Voltou à terra natal. Depois de passar
dias e dias chorando, com apenas treze anos, pediu para ingressar num convento,
entrando para a Ordem Terceira de São Francisco de Assis. Ângela tinha apenas o
curso primário e chegou a ser "conselheira" de Governadores, Bispos,
doutores e Sacerdotes. Os seus sofrimentos, sua entrega à Deus e a vida
meditativa de penitência lhe trouxeram, através do Espírito Santo, o dom do
conselho, que consiste em saber ponderar as soluções adequadas para todas as
situação da vida. Ela também, percebeu que naquele momento histórico, as
meninas não tinham quem as educassem e livrassem dos perigos morais, e que as
novas teorias levavam as pessoas a querer organizar a vida como se Deus não
existisse. Para lutar contra o paganismo, era preciso restaurar a célula
familiar. Inspirada pela Virgem Maria, fundou a Comunidade das irmãs Ursulinas,
em homenagem a Santa Úrsula, a mártir do século IV, que dirigia o grupo das moças
virgens, que morreram por defender sua religião e sua castidade. Ângela acabou
se tornando a portadora de uma mensagem inovadora para sua época. Organizou um
grupo de vinte e oito moças, para ensinar catecismo em cada bairro e vila da
região. As "Ursulinas" tinham como finalidade a formação das futuras
mães, segundo os dogmas cristãos. Ângela teve uma concepção bastante
revolucionária para sua época, quando se dizia que uma sólida educação cristã
para as moças só seria possível dentro das grades de uma clausura. Decidiu que
era a hora de fazer a comunidade se tornar uma Congregação religiosa. Consta,
pela tradição, que antes de ir à Roma para dar início a esse projeto, quis
fazer uma peregrinação em Jerusalém. Assim que chegou, ficou cega. Visitou os
Lugares Sagrados e os viu com o espírito, não com os olhos. Só recobrou a
visão, na volta, quando parou numa pequena cidade onde existia um crucifixo
milagroso, foi até ele, rezou e se curou. Anos depois, foi recebida pelo Papa
Clemente VII, durante o Jubileu de 1525, que deu início ao processo de fundação
da Congregação, que ela desejava. Ângela a implantou na Bréscia, dez anos
depois, quando saiu a aprovação definitiva. E ali, a fundadora morreu aos
setenta e cinco anos, em 27 de janeiro de 1540 e foi canonizada, em 1807. Santa
Ângela de Mérici, atualmente, recebe as homenagens no dia de sua morte.
220
. 2 - Aparição de Nossa Senhora em Guadalupe – México
Os
acontecimentos das quatro aparições de Nossa Senhora a Juan Diego foram
registrados por um índio erudito, chamado Antônio Valeriano. O documento foi
escrito em nahuatl, linguagem asteca, com precisão de detalhes. Juan Diego era
um índio batizado, que continuava recebendo instruções sobre a fé católica. Foi
no caminho de sua casa até a cidade, passando pelo monte Tepeyac, que sua
história e a de todo o povo mexicano começou a mudar.
A primeira aparição
Era
sábado de madrugada, pouco antes do amanhecer. Juan Diego se encaminhava para a
cidade e estava na altura do monte Tepeyac quando ouviu cantos acima da
montanha, como se fossem cantos de vários lindos pássaros, e vozes. Admirado
com isso, parou para ouvir melhor e então de repente houve um silêncio. Então,
ouviu uma voz por cima da montanha dizendo: “Juanito, Juan Dieguito.”
Subindo a montanha, viu uma
Senhora que estava parada e disse-lhe para se aproximar. Ela tinha um vestido
radiante como o sol, e tudo ao seu redor cintilava como o arco-íris. Até os
matinhos entre as pedras brilhavam como ouro. Ele se inclinou diante da Senhora
e Ela lhe disse: “Juanito, o mais humilde dos meus filhos, onde
estás indo?”
Ele
respondeu: “Minha Senhora e Menina, eu tenho que chegar na Sua igreja no
México, Tlatilolco, para seguir as coisas divinas, que nos dão e ensinam nossos
sacerdotes, delegados de Nosso Senhor”. Por suas palavras, ele certamente já
havia compreendido quem era a Senhora! Ela então lhe disse:
“Sabe e entende, tu és o mais
humilde dos meus filhos. Eu sou a Sempre Virgem Maria, Mãe do Deus Vivo por quem
nós vivemos, do Criador de todas as coisas, Senhor do céu e da terra. Eu desejo
que um templo seja construído aqui, rapidamente; então, Eu poderei mostrar todo
o meu amor, compaixão, socorro e proteção, porque Eu sou vossa piedosa Mãe e de
todos os habitantes desta terra e de todos os outros que me amam, invocam e
confiam em mim. Ouço todos os vossos lamentos e remédio todas as vossas
misérias, aflições e dores. E para realizar o que a minha clemência pretende,
vá ao palácio do Bispo do México e lhe diga que Eu manifesto o meu grande
desejo, que aqui neste lugar seja construído um templo para mim. Tu dirás
exatamente tudo que viste, admiraste e ouviste. Tem a certeza que ficarei muito
agradecida e te recompensarei. Porque eu te farei muito feliz e digno da minha
recompensa, por causa do esforço e fadiga que terás para cumprir o que eu te
ordeno e confio. Observa, tu ouviste minha ordem, meu humilde filho, vai e
coloca todo teu esforço.”
Neste
ponto ele inclinou-se diante Dela e disse: “Minha Senhora, Eu estou indo
cumprir Tua ordem, agora me despeço de Ti, Teu humilde servo”.
Descendo
a montanha, foi direto pela estrada, até a Cidade do México. Sem perder tempo,
foi ao palácio do Bispo, que chegara recentemente e se chamava Frei Juan de
Zumarraga, um religioso franciscano. Pediu para ver o Bispo e esperou bastante
tempo. Quando foi admitido, ajoelhou-se e disse ao Bispo a mensagem da Senhora
do Céu, bem como tudo que havia visto, escutado e admirado. Porém, após ouvir
toda a conversa, o Bispo incrédulo disse-lhe: “Volte depois, meu filho, e eu
lhe ouvirei com muito prazer. Eu examinarei tudo e pensarei no motivo pelo qual
você veio”.
A segunda aparição
Triste
por não ter conseguido que a mensagem da Senhora fosse atendida, Juan Diego
voltou à montanha no mesmo dia. Nossa Senhora estava no mesmo lugar e diante
dEla Juan Diego se prostrou novamente, dizendo: “Senhora, a Caçulinha de minhas
filhas, minha Menina, eu fui onde me mandaste para levar tua mensagem, como me
havias instruído. Ele recebeu-me benevolentemente e ouviu-me atentamente, mas
quando respondeu, pareceu-me não acreditar. Ele disse: «Volte depois, meu filho
e eu o ouvirei com muito prazer. Examinarei o desejo que você trouxe, da parte
da Senhora». Entendo pelo seu modo de falar, que não acredita em mim e que seja
invenção da minha parte, o Teu desejo de construção de um templo neste lugar
para Ti. E que isso não é Tua ordem. Por isso eu, encarecidamente Te peço,
Senhora e minha Criança, que instrua a alguém mais importante, bem conhecido,
respeitado e estimado para que acreditem. Porque eu não sou ninguém, sou um
barbantinho, uma escadinha de mão, o fim da cauda, uma folha. E Tu, minha
Criança, a minha filhinha caçula, minha Senhora, envias-me a um lugar onde eu
nunca estive! Por favor, perdoa o grande pesar e aborrecimento causado, minha
Senhora e meu Tudo.”
A Virgem
Santíssima respondeu: “Escuta, meu filho caçula, deves entender que eu
tenho vários servos e mensageiros, aos quais eu posso encarregar de levar a
mensagem e executarem o meu desejo, mas eu quero que tu mesmo o faças. Eu
fervorosamente imploro, meu caçula, e com severidade eu ordeno que voltes
novamente amanhã ao Bispo. Tu vais em meu nome e faze saber meu desejo: que ele
inicie a construção do templo como Eu pedi. E novamente dize que eu,
pessoalmente, a Sempre Virgem Maria, Mãe de Deus Vivo, te ordenei.”
Juan
Diego respondeu: “Senhora, minha Criança, não deixes que eu Te cause aflição.
Alegremente e de bom grado eu irei cumprir Tua ordem. De nenhuma maneira irei
falhar e não será penoso o caminho. Irei realizar Teu desejo, mas acho que não
serei ouvido, ou se for, não acreditarão. Amanhã ao entardecer, trarei o
resultado da Tua mensagem com a resposta do Bispo. Descansa neste meio tempo”.
Ele,
então, foi para sua casa. No dia seguinte, domingo, antes do amanhecer, ele
deixou sua casa e foi direto ao Tlatilolco, para ser instruído em coisas
divinas, e em seguida estar presente a tempo para ver o Bispo. Por volta das 10
horas, estando em cima da hora, após participar da Missa e o povo ter
dispersado, ele apressadamente se foi. Pontualmente, Juan Diego foi ao palácio
do Bispo. Mal chegou, ansioso já estava para tentar vê-lo. E novamente com
muita dificuldade, o Bispo estava à sua frente. Ajoelhou-se diante de seus pés,
entristecidamente e chorando, expôs a ordem de Nossa Senhora do Céu, e que, por
Deus, acreditasse em sua mensagem, de que o desejo da Imaculada de erguer um
templo onde Ela queria, fosse realizado. O Bispo, para assegurar-se, fez várias
perguntas, onde ele A tinha visto e como Ela era. E ele descreveu perfeitamente
em detalhes ao Bispo. Apesar da precisa descrição de Sua imagem, e tudo que ele
tinha visto e admirado, que em tudo refletia ser a Sempre Virgem Santíssima Mãe
do Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Bispo não deu crédito e disse que
somente pela sua súplica, não atenderia o seu pedido; que aliás, um sinal era
necessário. Só então acreditaria, ser ele enviado pela verdadeira Senhora do
Céu. Após ouvir o Bispo, disse Juan Diego: “Meu senhor, escuta! Qual deve ser o
sinal que o senhor quer? Para eu pedir a Senhora do Céu que me enviou aqui”.
O Bispo,
vendo que ele ratificava tudo sem duvidar, nem retratar nada, o despediu.
Imediatamente, ordenou algumas pessoas de sua casa, e de inteira confiança,
para segui-lo e olhar onde ele ia, a quem ele via e falava. E assim foi feito.
Juan Diego veio direto pela estrada. Aqueles que o seguiam, após cruzarem o
barranco perto da ponte do Tepeyacac, perderam-no de vista. Eles procuraram por
todos os lugares, mas não puderam mais vê-lo. Retornaram com muita raiva, não
somente porque estavam aborrecidos, mas também por ficarem impedidos do
objetivo. E o que eles informaram ao Bispo, o influenciou a não acreditar em
Juan Diego. Eles lhe disseram que foi enganado. Juan Diego apenas forjou o que
veio dizer, e a sua mensagem e pedido não passava simplesmente de um sonho.
Eles então arquitetaram um plano, que se ele de alguma forma voltasse, eles o
prenderiam e o puniriam com severidade e de tal forma que ele jamais mentiria
ou enganaria novamente.
A terceira aparição
Entretanto,
Juan Diego estava com a Virgem Santíssima, contando-lhe a resposta que trazia
do senhor Bispo. A Senhora, após ouvir, disse-lhe: “Muito
bem, meu querido filhinho, retornarás aqui amanhã, então levarás ao Bispo o
sinal por ele pedido. Com isso ele irá acreditar em ti, e a este respeito, ele
não mais duvidará nem desconfiará de ti, e sabe, meu querido filhinho, eu te
recompensarei pelo teu cuidado, esforço e fadiga gastos em meu favor. Vai agora.
Espero por ti aqui amanhã.”
No outro
dia, segunda-feira, quando Juan Diego teria que levar um sinal pelo qual então
acreditariam, ele não pôde ir porque, ao chegar em casa, seu tio chamado Juan
Bernardino, estava doente e em estado grave. Primeiro foi chamar um médico que
o auxiliou, mas era tarde, e o estado de seu tio era muito grave. Por toda a
noite seu tio pediu que, ao amanhecer, ele fosse ao Tlatilolco e chamasse um
sacerdote, para prepará-lo e ouvi-lo em confissão, porque certamente sua hora
havia chegado, pois não mais levantaria ou melhoraria de sua enfermidade.
A quarta aparição
Na
terça-feira, antes do amanhecer, Juan Diego ia de sua casa ao Tlatilolco para
chamar o sacerdote, e ao aproximar-se da estrada que liga a ladeira ao topo do
Tepeyacac, em direção ao oeste onde estava acostumado a passar, considerou que
precisava se apressar em chamar o sacerdote, evitando ser atrasado pela
Senhora, que certamente o pararia no alto da montanha. Então, contornou a
montanha, deu várias voltas, mas, ele A viu descer do topo da montanha e estava
olhando na direção onde eles anteriormente se encontraram. Ela se aproximou
dele pelo outro lado da montanha e disse:“O que há, meu caçula? Onde você
está indo?”
Ele se
inclinou diante dela e a saudou dizendo: “Minha Criança, a mais meiga de minhas
filhas, senhora, Deus permita que estejas contente. Como estás nesta manhã?
Estás bem de saúde? Senhora e minha Criança. Vou te causar um pesar. Sabe,
minha Criança, um de Teus servos está muito doente, meu tio. Ele contraiu uma
peste, e está perto de morrer. Eu estou indo depressa à Tua casa no México para
chamar um de Teus sacerdotes, querido pelo Nosso Senhor, para ouvir sua
confissão e absolvê-lo, porque desde que nós nascemos, aguardamos o trabalho de
nossa morte. De forma que, se eu for, retornarei aqui brevemente, então levarei
Tua mensagem. Senhora e minha Criança, perdoa-me, sê paciente comigo. Eu não Te
enganarei, minha Caçula. Amanhã eu voltarei o mais rápido possível.” Depois de
ouvir toda a conversa de Juan Diego, a Santíssima Virgem respondeu: “Escuta-me
e entende bem, meu caçula, nada deve te amedrontar ou te afligir. Não deixes
teu coração perturbado. Não temas esta ou qualquer outra enfermidade, ou
angústia. Eu não estou aqui? Quem é tua Mãe? Não estás debaixo de minha
proteção? Eu não sou tua saúde? Não estás feliz com o meu abraço? O que mais
podes querer? Não temas nem te perturbes com qualquer outra coisa. Não te
aflijas por esta enfermidade de teu tio, por causa disso, ele não morrerá
agora. Tem a certeza de que ele já está curado.”
Quando
Juan Diego ouviu estas palavras da Senhora do Céu, ele ficou enormemente
consolado. Estava feliz. Prometeu que, quanto antes, estaria na presença do
Bispo, para levar o sinal ou prova, a fim de que ele cresse. A Senhora do Céu
ordenou que subisse ao topo da montanha, onde eles anteriormente haviam se
encontrado. Ela lhe disse: “Sobe, meu caçula, ao topo da montanha; lá
onde me viste e te dei a ordem, encontrarás diferentes flores. Corta-as,
junta-as, então volta aqui e traze-as em minha presença.”
Imediatamente
Juan Diego subiu a montanha, e quando atingiu o topo, ele espantou-se pela
variedade de raras rosas de Castilha que haviam brotado bem antes do tempo,
porque, estando fora da época, deveriam estar congeladas. Elas estavam muito
fragrantes e cobertas com o orvalho da noite, assemelhando-se a pérolas preciosas.
Imediatamente ele começou a cortá-las. Recolheu todas e colocou-as em seu
manto. O topo da montanha era um lugar impossível de nascer qualquer tipo de
flor, porque havia vários penhascos, cardos, espinhos e ervas daninhas.
Ocasionalmente as ervas cresceriam, mas era mês de dezembro, na qual toda
vegetação é destruída pelo frio. Ele voltou imediatamente e entregou as
diferentes rosas que havia cortado para a Senhora do Céu, que ao vê-las,
tocou-as com suas mãos e de novo colocou-as de volta no manto, dizendo: “Meu
caçula, esta variedade de rosas é a prova e sinal que levarás ao Bispo. Tu irás
dizer, em meu nome, que nelas ele verá o meu desejo e que deverá realizá-lo. Tu
és meu embaixador, muito digno de confiança. Rigorosamente eu ordeno que apenas
diante da presença do Bispo desenroles o manto e descubras o que estás
carregando. Tu contarás tudo direito: que eu te ordenei a subir ao topo da
montanha, e cortar estas flores, e tudo que viste e admiraste; então, tu podes
induzir ao Bispo dar a sua ajuda, com o objetivo de que um templo seja
construído e erguido como eu tenho pedido.”
Depois
que a Senhora do Céu deu seu aviso, ele se pôs a caminho pela estrada que dava
diretamente ao México. Estava feliz e seguro de seu sucesso, carregando com
grande carinho e cuidado o que continha dentro de seu manto, de tal forma que
nada poderia escapar de suas mãos, a não ser a maravilhosa fragrância das
variadas e belas flores. No palácio do Bispo, os serventes tentaram ver o que
Juan Diego carregava.
Com
cuidado, ele descobriu o manto que escondia e eles puderam ver algumas flores;
ao verem que eram rosas fora de época, ficaram impressionados, ainda mais por
verem-nas frescas, tão fragrantes e belas. Estenderam a mão para as rosas, mas,
ao tentar pegá-las, elas pareciam pintadas ou estampadas ou costuradas no
tecido. Ao relatarem esse fato ao Bispo, ele compreendeu que Juan Diego
carregava a prova desejada. Ao ser admitido na presença do Bispo, Juan Diego
contou o que havia visto e feito, renovando a mensagem de Nossa Senhora que
pedia a construção de uma igreja no monte das aparições. Então, desdobrou seu
manto, onde estavam as rosas; quando elas caíram ao chão, apareceu subitamente
o desenho da preciosa imagem de Nossa Senhora, como ela é vista até hoje no
templo de Tepeyac, chamada Nossa Senhora de Guadalupe. O Santuário de Guadalupe
em honra a Nossa Senhora foi erguido no topo do monte Tepeyac, como ela havia
pedido. A Imagem de Nossa Senhora na tilma de Juan Diego é miraculosa, sobrenatural,
não feita por mãos humanas. Uma tela que adquiriu incorruptibilidade, uma obra
de Deus. Para a surpresa de todos, depois de inúmeros exames e intensas
pesquisas, uma comissão de oculistas, químicos, optometristas, confirmaram que
nos olhos de Nossa Senhora na imagem refletem a fisionomia de Juan Diego e de
várias pessoas que estavam com ele na entrega da imagem ao Bispo, como uma
fotografia daquele momento. Na íris dos olhos da Virgem num espaço de apenas 2
milímetros, aumentado 2.500 vezes, vê-se nitidamente 13 pessoas presentes. No
outro olho da Virgem vê-se a mesma imagem.
CONVOCAÇÃO
DO CONCÍLIO DE TRENTO – CONTRA REFORMA
221º
- Paulo III - 1534 - 1549
1540: O Papa Paulo III
confirmou a ordem da Companhia de Jesus.
27 de julho de 1549:
São Francisco Xavier, SJ, chega ao Japão e desembarca em Kagoshima, em 15 de
agosto.
1551: A primeira
diocese do Brasil é criada com um Bispo português, na Bahia.
Papa
Paulo III (Canino, 29 de fevereiro de 1468 - Roma, 10 de novembro de 1549),
nascido Alessandro Farnese, foi chefe da Igreja Católica e governante dos
Estados Papais de 13 de outubro de 1534 até a sua morte em 1549. Ele chegou ao
Trono Papal em uma época após o saque de Roma em 1527 e repleto de incertezas
na Igreja Católica após a Reforma Protestante. Seu Pontificado iniciou a
Contra-Reforma com o Concílio de Trento em 1545, bem como as Guerras da
religião com as campanhas militares do Imperador Carlos V contra os
protestantes na Alemanha. Ele reconheceu novas ordens e sociedades religiosas
católicas, como os jesuítas, os Barnabitas e a Congregação do Oratório. Seus
esforços foram distraídos pelo nepotismo para promover o poder e a sorte de sua
família, incluindo seu filho ilegítimo Pier Luigi Farnese. Paulo III foi um Patrono
significativo de artistas, incluindo Michelangelo, e é para ele que Nicolau
Copérnico dedicou seu tratado heliocêntrico.
O quarto
Papa durante o período da Reforma Protestante, Paulo III tornou-se o primeiro a
tomar medidas ativas de reforma em resposta ao protestantismo. Logo após sua
elevação, em 2 de junho de 1536, Paulo III convocou um conselho geral para se
reunir em Mântua, em maio seguinte; mas a oposição dos Príncipes protestantes e
a recusa do duque de Mântua em assumir a responsabilidade de manter a ordem
frustraram o projeto. Paulo III adiou primeiro por um ano e depois descartou
todo o projeto. Em 1536, Paulo III convidou um comitê de nove prelados
eminentes, distinguidos tanto pela erudição quanto pela piedade, para relatar
sobre a reforma e reconstrução da Igreja. Em 1537, eles produziram o célebre
Consilium de emendenda ecclesia, expondo abusos graves na Cúria Romana, na
administração da igreja e no culto público; e propondo propostas ousadas
destinadas a abolir tais abusos. O relatório foi amplamente impresso, e o Papa
ficou sério quando assumiu o problema da reforma. Ele percebeu claramente que o
imperador Carlos V não descansaria até que os problemas fossem resolvidos com
seriedade. Mas para os protestantes o relatório parecia longe de ser completo;
Martinho Lutero teve sua edição (1538) precedida por uma vinheta mostrando os Cardeais
limpando o estábulo augiano da igreja romana com rabo de raposa em vez de
vassouras. No final, nenhum resultado foi seguido das recomendações do comitê. Como
consequência da extensa campanha contra a "idolatria" na Inglaterra,
culminando com o desmantelamento do Santuário de St. Thomas Becket em
Canterbury, o Papa excomungou Henrique VIII em 17 de dezembro de 1538 e emitiu
um interdito.
Nessa época, surgiram complicações familiares.
Para adquirir seu neto Ottavio Farnese com o ducado de Camerino, Paul o
arrancou à força do Duque de Urbino (1540). Ele também sofreu uma guerra
virtual com seus próprios súditos e vassalos pela imposição de impostos
onerosos. Perugia, renunciando à sua obediência, foi sitiada pelo filho de
Paul, Pier Luigi, e perdeu sua liberdade inteiramente em sua rendição. Os
burgueses de Colonna foram devidamente vencidos e Ascanio foi banido (1541).
Depois disso, o tempo parecia maduro para aniquilar a heresia. Em 1540, a
Igreja reconheceu oficialmente a nova sociedade formada por Inácio de Loyola,
que se tornou a Companhia de Jesus. Em 1542, uma segunda etapa do processo de
Contra-Reforma foi marcada pela instituição, ou reorganização, da Congregação
do Santo Ofício da Inquisição.
Por
outro lado, o Imperador insistia em que Roma enviasse seus planos para uma
recuperação pacífica dos protestantes alemães. Consequentemente, o Papa despachou
Giovanni Morone (ainda não Cardeal) como núncio para Hagenau e Worms em 1540;
enquanto em 1541, o Cardeal Gasparo Contarini participou dos procedimentos de
ajuste na Conferência de Regensburg. Foi Contarini quem propôs a famosa fórmula
"somente pela fé somos justificados", que não substituiu, no entanto,
a doutrina católica romana das boas obras. Em Roma, essa definição foi
rejeitada no consistório de 27 de maio, e Lutero declarou que só poderia
aceitá-lo, desde que os opositores admitissem que essa fórmula constituísse uma
mudança de doutrina. No entanto, mesmo depois que a Conferência de Regensburg
se mostrou infrutífera, o Imperador insistiu em um conselho ainda maior, com o
resultado final sendo o Conselho de Trento, que foi finalmente convocado em 15
de março de 1545, sob a Bula Laetare Hierusalem. Enquanto isso, após a paz de
Crespy (setembro de 1544), o Imperador Carlos V (1519-1556) começou a reprimir
o protestantismo à força. Na pendência da Dieta de Worms, em 1545, o Imperador
concluiu um pacto de ação conjunta com o Cardeal Alessandro Farnese, legado Papal,
com Paulo III concordando em ajudar na guerra projetada contra os Príncipes e
propriedades protestantes alemãs. Essa imediata aquiescência provavelmente se
baseou em motivos pessoais: como o Imperador estava preocupado na Alemanha, o
momento parecia oportuno para o Papa adquirir para seu filho Pier Luigi os
ducados de Parma e Placência. Embora estes pertencessem aos estados Papais
Paulo III planejava superar a relutância dos Cardeais trocando esses ducados Papais
pelos domínios menos valiosos de Camerino e Nepi. O Imperador concordou,
acolhendo a perspectiva de 12 mil soldados de infantaria, 500 de cavalaria e
fundos consideráveis do Papa.
Na
Alemanha, a campanha começou no oeste, onde o Arcebispo de Colônia Hermann de
Wied se converteu ao protestantismo em 1542. O Imperador Carlos começou uma
guerra aberta contra os Príncipes, propriedades e cidades protestantes aliadas
na Liga Schmalkaldic. Hermann foi excomungado em 16 de abril de 1546 e foi
obrigado pelo Imperador a abdicar em fevereiro de 1547. No final de 1546,
Carlos V havia subjugado o sul da Alemanha. A vitória na Batalha de Mühlberg,
em 24 de abril de 1547, estabeleceu sua soberania imperial em toda a Alemanha,
e os dois líderes da Liga foram capturados. O Imperador declarou o Interino de
Augsburgo com um compromisso magnânimo com os cismáticos derrotados. Embora o Imperador
tenha subjugado os exércitos protestantes alemães, ele falhou em apoiar as
ambições territoriais do Papa por seu filho Pier Luigi, e as relações entre
eles esfriaram. A situação chegou a uma ruptura total quando o vice-regente Imperial
Ferrante Gonzaga expulsou à força Pier Luigi. Em 1547, o filho do Papa foi
assassinado em Placência, e Paulo III colocou parte da culpa no Imperador. No
mesmo ano, porém, e após a morte de Francisco I da França (1515-1547) privou o
Papa de um possível aliado, o estresse das circunstâncias o levou a aceitar as
medidas Eclesiásticas no ínterim do Imperador.
Com referência à herança do Príncipe assassinado, cuja
restituição exigia Paulo III ostensivamente em nome da Igreja, o desígnio do
Papa foi frustrado pelo Imperador, que se recusou a render Piacenza, e pelo
herdeiro de Pier Luigi em Parma, Ottavio Farnese. Em consequência de uma briga
violenta neste relato com o Cardeal Farnese, Paulo III, com oitenta e um anos,
ficou tão estressado que sucumbiu, morrendo em 10 de novembro de 1549. Paulo
III mostrou-se incapaz de suprimir a Reforma Protestante, embora tenha sido
durante seu Pontificado que a fundação foi lançada para a Contra-Reforma.
Decretou a segunda e última excomunhão de Henrique VIII da Inglaterra em
dezembro de 1538. Seus esforços em Parma levaram à Guerra de Parma dois anos
após sua morte. Concedeu a Inquisição em
Portugal a D. João III. Lançou as bases da Contra-Reforma.
222º
- Julio III - 1550 - 1555
O Papa
Júlio III (10 de setembro de 1487 - 23 de março de 1555), nascido Giovanni
Maria Ciocchi del Monte, foi chefe da Igreja Católica e governante dos Estados
Papais de 7 de fevereiro de 1550 à sua morte em 1555. Término do Concilio de
Trento. A "contra reforma" já deflagrada por Leão X toma impulso a
partir daqui. Deu continuidade ao Concílio de Trento e se opôs
radicalmente às teses luteranas. Nomeado Bispo da Palestrina em 1543,
representou o Papa Paulo III no Concílio de Trento e tornou-se seu sucessor ao
fim da primeira parte do conclave que durou três meses. Ao se consagrar como Papa,
reabriu o concílio (1551-1552) e confirmou o estatuto dos jesuítas, aos quais
confiou (1552) o Colégio Romano e o Colégio Alemão, destinado a acolher os
seminaristas dos países alemães atingidos pela heresia protestante. Ainda
durante o concílio entrou em luta contra Otávio Farnese, aliado do rei da
França, Henrique II, para reaver Parma (1551). Porém, com o acordo entre França
e os protestantes da Alemanha e a aliança entre Henrique II e os turcos (1552),
resolveu firmar a paz com Farnese, cedendo-lhe Parma, e encerrou o concílio.
Preocupado com a consolidação do anglicanismo, cisma surgido no Pontificado de
Clemente VII (1523-1534), procurou influenciar Maria Tudor (1555) em favor do
catolicismo. Celebrou o 10º Jubileu (1550) e, embora reconhecido como
nepotista, também foi um grande mecenas: fez construir a famosa Villa Giulia,
de 1551 a 1553, obra de Ammannati e de Vignola.
223º
- Marcelo II - 1555
Papa da
Igreja Cristã Romana nascido em Montepulciano, Siena, Marcello Cervini, eleito
Papa em 10 de abril de 1555 como substituto de Júlio III, foi o último que
conservou o nome de batismo. Famoso por sua cultura humanista, tornou-se
preceptor de Alexandre Farnese, sobrinho do Papa Paulo III, e dessa forma
conseguiu exercer notável influência nos assuntos Eclesiásticos. Ordenado
Sacerdote, foi eleito Bispo de Nicastro e Cardeal (1539). Foi nomeado (1543)
para exercer a função de legado junto ao Imperador Carlos V e foi primeiro
legado (1545) no Concílio de Trento. Durante o Pontificado de Júlio III, foi
nomeado bibliotecário apostólico e reorganizou totalmente a Biblioteca
Vaticana, promovendo também pesquisas históricas e arqueológicas. Sempre
mostrou-se preocupado com os russos e mongóis. Capaz e experiente, todos
aprovaram sua escolha, mas infelizmente, morreu em 1º de maio do mesmo ano,
depois de apenas 22 dias de Pontificado. Mesmo assim foi considerado uma das
mais nobres figuras da história do Papado e deixou na cúria um sinal de justiça
e austeridade. Morreu repentinamente em Roma, e foi sucedido por Paulo IV. Foi
em seu Pontificado que Pierluigi di Palestrina compôs a famosa Missa do Papa
Marcelo. Missa Papae Marcelli ou Missa do Papa Marcelo é uma missa composta por
Giovanni Pierluigi da Palestrina em homenagem ao Papa Marcelo II. É a missa
mais conhecida e mais executada de Palestrina. Frequentemente, é ensinada em
cursos de música. Foi tradicionalmente cantada em todas as missas de coroações
Papais até a coroação de Paulo VI, em 1963.
223 . 1 - Aparição de
Nossa Senhora em Kazan – Rússia
Nossa
Senhora de Kazan, celebrada em dois diferentes dias, sendo em 8 de julho pela
Igreja Católica Apostólica Romana e no dia 04 de novembro pela Santa Igreja
Ortodoxa, é considerada por muitos como a Padroeira do povo russo. O ícone de
Nossa Senhora de Kazan, em estilo grego-bizantino, teria sido pintado, segundo
os especialistas, em Constantinopla, no século XIII. A obra apresenta a imagem
de meio corpo da Virgem Maria carregando o Menino Jesus, que se encontra quase
de pé, numa atitude de benção para com Sua mãe, para quem ele ergue a mão
direita. O ícone encontra-se recoberto com uma lâmina de prata que cobre a
figura e as vestimentas, deixando visíveis apenas os rostos da Mãe e do Filho.
Sob a cobertura está o desenho cujas cores se conservam perfeitamente, o que se
leva a considerá-lo não apenas como uma peça de altíssimo valor religioso, mas
também uma verdadeira obra de arte. A lâmina que recobre a imagem data do
século XVII e contém incrustações de diamantes, esmeraldas, rubis, safiras e
pérolas, a maior parte dos quais foram acumuladas por diversos doadores que,
deste modo, quiseram expressar sua devoção à Sagrada Imagem.
No dia 1
de outubro de 1552, festa da “Proteção da Virgem”, o exército do Czar Ivan, o
Terrível, assaltou as muralhas da cidade de Kazan, até então capital do Reino
Tártaro. O czar, em ação de graças pela vitória obtida, ordena a construção de
uma grande basílica em honra da Mãe de Deus, dedicando-a ao mistério da
Anunciação. No ano de 1579, Kazan foi assolada por um violento incêndio, que
destruiu metade da cidade. Enquanto a população se recuperava da tragédia, a
Virgem aparece a uma menina de nove anos e manda-lhe escavar as ruínas, porque
ali encontraria o Sagrado Ícone. No dia 8 de julho do mesmo ano, é encontrada
entre as cinzas a imagem de Nossa Senhora de Kazan. Trasladada até a Catedral
da Anunciação de Kazan, começa a ser objeto de grande devoção religiosa,
sendo-lhe atribuídos inúmeros milagres. Ali permaneceu até por volta do ano de
1612, quando fora transportada para a cidade de Moscou. Em 1790, o Czar Pedro,
o Grande, a invoca como “protetora e estandarte” na batalha de Poltava, contra
Carlos XII, da Suécia. Após a vitória russa, o ícone é entronizado na Catedral
de Moscou, sendo em seguida transferida para São Petersburgo e colocada num
Santuário a ela especialmente dedicado. Na noite de 29 de junho de 1904,
durante uma revolta popular, o ícone desapareceu junto a outros tesouros do
Santuário. Após cerca de sessenta anos, reapareceu numa exposição de arte nos
Estados Unidos. Em 1970, o “Centro Russo Católico de Nossa Senhora de Fátima” o
compra. O ícone então prossegue sua caminhada: é entronizado na Capela
Bizantina, em Fátima, Portugal, onde é venerada como sinal de unidade entre o
ocidente católico e o oriente ortodoxo. No início de 1993, o Apostolado Mundial
de Fátima transferiu a propriedade e o título de Nossa Senhora de Kazan para a
Santa Sé, pertencendo então ao gabinete do Papa. Seguido de uma importante
mudança em 2004, quando o Vaticano se despede do Ícone de Kazan e o reenvia
para a Rússia.
224º
- São Paulo IV - 1555 - 1559
O Papa
Paulo IV, CR (Capriglia Irpina, 28 de junho de 1476 – Roma, 18 de agosto de
1559), nascido Gian Pietro Carafa, foi chefe da Igreja Católica e governante
dos Estados Papais de 23 de maio de 1555 a sua morte em 1559. Sua família era
de Maddaloni, um ramo da nobre família Carafa (Caraffa) de Nápoles. Grande
parte de sua educação ele obteve em Roma, na casa de seu tio, o brilhante Cardeal
Oliviero Carafa.
A
qualidade excepcional desta instrução é evidente pelo fato de que Erasmo se
correspondia com ele quando jovem, elogiando seu conhecimento das três línguas
acadêmicas e uma vez convidando sua ajuda para traduzir para o latim as Escrituras
Hebraicas e Gregas. O Cardeal Jacopo Sadoleto, o famoso humanista, o conheceu
como colega na casa do Cardeal Carafa e testemunhou sua santidade e
aprendizado. Durante este período de formação ele serviu sem culpa na corte
corrupta de Alexandre VI como uma cameriere pontificio.
Como Bispo,
Carafa deu um exemplo edificante para aqueles tempos, vivendo e trabalhando
zelosamente em sua Diocese de Chiete em Abruzzi (c. 1506/13). Para essa
atividade ele acrescentou experiência valiosa no exterior como um enviado Papal
e observador. Ele estava na Inglaterra como legado de Leão X a Henrique VIII
para coletar o Óbulo de Pedro (1513-1514); então ele visitou Flandres (1515-17)
e Espanha (1517-20). Em 1524, Clemente VII permitiu que ele renunciasse ao seu
Bispado para que ele e Gaetano da Thiene de Vicenza pudessem cumprir o desejo
de fundar uma congregação de clérigos regulares dedicados a restaurar o modo de
vida apostólico. Da antiga Diocese de Chiete de Carafa (Lat., Teate) eles
adquiriram o apelido de “Teatinos”. Em 1527, o saque de Roma pelas forças
imperiais pôs fim à primeira casa romana das Teatinos. Fugindo para Veneza,
estabeleceram outra casa, onde Carafa permaneceu até que Paulo III o chamou
para Roma para torná-lo Cardeal, em 22 de dezembro de 1536. Em seus 19 anos
como Cardeal, era consistentemente anti-espanhol e anti-Imperial. Ele se
alinhou com o grupo de reforma na Cúria. Em 1550, Júlio III o nomeou um dos
seis inquisidores do Santo Ofício.
Papa da
Reforma: Com a morte de Marcelo II (1555), o Cardeal Alessandro Farnese voltou
toda a sua influência em favor de Carafa, então reitor do Sacro Colégio, e logo
obteve os votos necessários para o napolitano de 79 anos. Carafa escolheu o
nome Paulo em respeito ao seu benfeitor anterior de Farnese, Paulo III. Eleito
como reformador, ele perdeu um pouco de seu ímpeto inicial e prestígio ao
declarar uma guerra insensata contra os espanhóis, então de posse de grande
parte da Itália. Ele não era de forma alguma um Júlio II, por mais que
desejasse expulsar o estrangeiro do solo sagrado. Além disso, confiar a
condução da guerra a seu intrigante e egoísta sobrinho Carlo era um erro
irremediável. A família Carafa foi derrotada pelo Duque de Alva, que foi
vice-rei de Nápoles; a guerra terminou com a generosa paz de Cave, em 12 de
setembro de 1557. Depois de 1557, o idoso Papa se dedicou inteiramente à
reforma da Igreja. Opondo métodos conciliares, ele não retomou o Concílio de
Trento. Em vez disso, ele se baseou no estabelecimento de uma comissão à qual
nomeou Cardeais bons e eruditos, principalmente homens que ele havia elevado.
Ele lutou uma guerra intransigente contra a simonia e, eventualmente, desferiu
um golpe decisivo no nepotismo, exilando seus próprios sobrinhos. Ele também
insistiu que os Bispos residissem em suas casas e não gastassem seu tempo em
Roma e em outros lugares, e ordenou a prisão de monges vadios em Roma.
Seu zelo
pela Inquisição era de conhecimento comum e o terror que provocou lhe valeu uma
grande impopularidade. Mesmo durante sua guerra com a Espanha, ele participou
de suas sessões. O número e os tipos de casos excederam, de longe, os de seus
predecessores. Homens virtuosos, como o Cardeal Giovanni Morone, foram
convocados por acusações frívolas. Além disso, um novo e mais rigoroso Index
Librorum Prohibitorum foi promulgado e aplicado. Ele forçou os judeus a usar um
distintivo e em 1555 estabeleceu o gueto em Roma. Apesar de sua vigilância
contra a heresia, o protestantismo fez avanços ousados em todo o norte da
Europa, muitas vezes auxiliado por considerações políticas. Além disso, as
políticas de Paulo em relação às grandes potências da Europa eram geralmente
míopes e muitas vezes arbitrárias e não adaptadas às realidades políticas do
século XVI. Quando o Papa morreu, os romanos revoltaram-se, derrubaram suas
estátuas e abriram as prisões da Inquisição, demonstrando seu alívio pelo
término de seu governo severo e impopular. Embora o lado positivo de seu
reinado tenha sido há muito obscurecido pela lembrança dos excessos da
Inquisição, também foi uma época de importantes reformas. Uma boa semelhança do
Pontífice, quase a única existente, é a estátua em seu túmulo, que Pio V havia
construído em 1566 na capela Carafa de S. Maria sopra Minerva, em Roma. Embora
idealizado, parece ter captado o espírito do aristocrata napolitano idoso,
severo, fogoso e errático.
225º
- Pio IV - 1559 - 1565
28 de abril de 1565: A
Basílica Minore del Santo Niño é a primeira Igreja Católica Romana nas
Filipinas.
O Papa
Pio IV (31 de março de 1499 - 9 de dezembro de 1565), nascido Giovanni Angelo
Medici, foi chefe da Igreja Católica e governante dos Estados Papais de 25 de
dezembro de 1559 à sua morte em 1565. Nascido em Milão. Reabriu novamente e
finalizou o Concílio de Trento, cuja assembléia conciliar foi encerrada pelo Cardeal
Morone, que teve papel importante no projeto de reforma desse terceiro período
do Concílio, cabendo ao Papa aprovar todos os decretos conciliares,
conferindo-lhes força de lei. Procedente de uma família humilde, mas mesmo não
sendo membro da família Medici de Florença, adotou o mesmo brasão por ter se
tornado protegido do Conde Medici de Florença e que lhe pediu que o usasse.
Consagrado Pontífice prosseguiu com a reforma da Igreja e concluiu o concílio
de Trento. O próprio Papa, em 13 de novembro de 1564 publicou a Professio fidei
tridentina com uma profissão de fé relativa a todas as decisões dogmáticas do
Concílio e uma promessa de obediência à Santa Sé. Durante seu Pontificado, São
Carlos Borromeu, Arcebispo de Milão, capaz e piedoso, realizou muitas reformas
na Igreja. Condenou a simonia, nome dado ao comércio de objetos sagrados, e
politicamente também interveio para que fossem devolvidas as possessões do
Piemonte a Emanuel Filiberto.
Encerramento do
Concílio de Trento
Em 18 de
janeiro de 1562, o Concílio de Trento, suspenso pelo Papa Júlio III, foi
convocado por Pio IV pela terceira e última vez. Grande habilidade e cautela
foram necessárias para efetuar uma solução das questões diante dela, na medida
em que as três principais nações participantes dela, embora em conflito com
suas próprias demandas especiais, estavam preparadas para unir suas forças
contra as demandas de Roma. Pio IV, no entanto, auxiliado pelo Cardeal Morone e
Charles Borromeo, provou ser igual à emergência e, com uma administração
criteriosa - e concessão - levou o conselho a um término satisfatório para os
disputantes e favorável à autoridade Pontifícia. Suas definições e decretos
foram confirmados por uma bula Papal (Benedictus Deus), datada de 26 de janeiro
de 1564; e, embora tenham sido recebidos com certas limitações pela França e
pela Espanha, o famoso Credo de Pio IV, ou Credo Trinentino, tornou-se uma expressão
autorizada da fé católica. As manifestações mais marcantes de rigor durante seu
Pontificado parecem ter sido mais solicitadas do que espontâneas, seu caráter
pessoal inclinando à moderação e facilidade. Assim, um aviso, emitido em 1564,
convocando Jeanne d'Albret, a Rainha de Navarra, antes da Inquisição sob
acusação de calvinismo, foi retirada por ele em deferência ao protesto
indignado de Carlos IX da França. No mesmo ano, ele publicou um touro
concedendo o uso da taça aos leigos da Áustria e da Boêmia. Uma de suas paixões
mais fortes parece ter sido a construção, que de certa forma esgotou seus
recursos ao contribuir para o adorno de Roma (incluindo a nova Porta Pia e Via
Pia, em homenagem a ele, e a extensão norte (Addizione) Rione de Roma, e no trabalho
de restauração, montagem e fortificação em várias partes dos estados Eclesiásticos.
Por outro lado, outros lamentaram a austera cultura romana durante seu papado.
Ante a ofensiva protestante, era da maior conveniência que os
católicos tivessem à sua disposição, de maneira simplificada e concreta, uma
formulação dos dogmas da Igreja Romana. E em suas últimas sessões, o Concilio
de Trento expressou o desejo de que se incorporassem na profissão pública da Fé
os dogmas católicos que os credos anteriores — Credo Apostólico,
Niceno-constantinopolitano e Quicumque de Santo Atanásio — obviamente não
tinham mencionado (sete sacramentos, transubstanciação, culto à Santíssima
Virgem e aos Santos, primado romano…).
Como nos dias atuais proliferam erros doutrinários e confusão
de espírito em ambientes católicos, pareceu-nos muito oportuno publicar abaixo
a Professio fidei Tridentina (também conhecida como “Credo do Papa Pio IV”),
promulgada na Bula Iniunctum nobis de SS Pío IV de13 de novembro de
1565, juntamente com a constituição In sacrosancta beati Petri, ambas em
conformidade com uma reforma geral proveniente do Sacro Sínodo Tridentino.
Credo de S.S. Pio IV
(Profissão de fé tridentina)
Esta é a resposta de
Deus aos protestantes e todos aqueles que ousaram erguer uma nova igreja, uma
nova religião contrária a verdadeira e única Igreja da Terra.
Creio em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos; Que é Deus de Deus, Luz da Luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro; É gerado, não criado; Consubstancial ao Pai, por
quem foram feitas todas as coisas.
Ele, que por amor de nós homens e pela nossa salvação, desceu
dos Céus. Encarnou-se por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se
fez homem. Por nós foi crucificado; Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos e foi
sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Subiu aos
Céus e está sentado à direita de Deus Pai. Pela segunda vez há de vir, com
majestade, para julgar os vivos e os mortos. E seu reino não terá fim.
Creio no Espírito Santo, Senhor Vivificador, que procede do
Pai e do Filho. Que, com o Pai e o Filho, é juntamente adorado e glorificado. Foi
Ele quem falou pelos profetas.
Creio na Igreja, que é Una, Santa, Católica e Apostólica. Confesso
um só Batismo para remissão dos pecados. E aguardo a ressurreição dos mortos e
a vida eterna que há de vir. Amém.
Aceito e abraço firmemente as tradições apostólicas e
eclesiásticas, bem como as demais observâncias e constituições da mesma Igreja.
Admito também a Sagrada Escritura naquele sentido em que é
interpretada pela Santa Madre Igreja, a quem pertence julgar sobre o verdadeiro
sentido e interpretação das Sagradas Escrituras. E jamais a aceitarei e
interpretarei senão conforme o consenso unânime dos Padres.
Confesso também que são sete os verdadeiros e próprios
sacramentos da Nova Lei, instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo para a
salvação da humanidade, embora nem todos sejam necessários para todos.
São eles: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência,
Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio, os quais conferem a graça; Dentre eles,
Batismo, Confirmação e Ordem não podem ser repetidos sem cometer sacrilégio.
Da mesma forma, aceito e admito os ritos da Igreja Católica,
recebidos e aprovados para a administração solene de todos os supracitados
sacramentos.
Abraço e recebo tudo o que foi definido e declarado no
Concílio Tridentino sobre o pecado original e a justificação.
Confesso, outrossim, que na Missa se oferece a Deus um
sacrifício verdadeiro, próprio e propiciatório pelos vivos e defuntos, e que no
santo sacramento da Eucaristia estão verdadeira, real e substancialmente o
Corpo e o Sangue, com a alma e a divindade, de Nosso Senhor Jesus Cristo,
operando-se a conversão de toda a substância do pão no corpo e de toda a
substância do vinho no sangue; conversão esta chamada pela Igreja de
transubstanciação.
Confesso também que sob uma só espécie se recebe o Cristo
todo inteiro e como verdadeiro sacramento.
Sustento sempre que há um Purgatório, e que as almas ali
retidas podem ser socorridas pelos sufrágios dos fiéis; que os Santos, que
reinam com Cristo, também devem ser invocados; que eles oferecem suas orações
por nós, e que suas relíquias devem ser veneradas.
Firmemente declaro que se devem ter e conservar as imagens de
Cristo, da sempre Virgem Mãe de Deus, como também as dos outros Santos, e a
eles se devem honra e veneração.
Sustento que o poder de conceder indulgências foi deixado por
Cristo à Igreja, e que o seu uso é muito salutar para os fiéis cristãos.
Reconheço a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, como
Mestra e Mãe de todas as Igrejas.
Prometo e Juro prestar verdadeira obediência ao Romano
Pontífice, Sucessor de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos e Vigário de Jesus
Cristo.
Da mesma forma, aceito e confesso indubitavelmente tudo o
mais que foi determinado, definido e declarado pelos sagrados cânones, pelos
Concílios ecumênicos, especialmente pelo santo Concílio Tridentino [e pelo
Concílio ecumênico Vaticano I e especialmente quanto ao primado e ao magistério
infalível do romano Pontífice].
Condeno ao mesmo tempo, rejeito e anatematizo as doutrinas
contrárias e todas as heresias condenadas, rejeitadas e anatematizadas pela
Igreja.
Eu mesmo, [nome], prometo e juro, com o auxílio de Deus,
conservar e professar, íntegra e imaculadamente, até o fim de minha vida, esta
verdadeira fé católica, fora da qual não pode haver salvação, e que agora
livremente professo.
E, no que depender de mim, cuidarei que seja mantida,
ensinada e pregada a meus súditos ou àqueles cujo cuidado por ofício me foi
confiado. Que para isto me ajudem Deus e estes santos Evangelhos! Amém.
226º
- São Pio V - 1566 - 1572
O Papa Pio V determinou
o formato da Oração do Rosário
A oração da Ave Maria
completa foi eternizada neste Pontificado
Antonio
Miguel Ghislieri nasceu em 1504, em Bosco Marengo, na província de Alexandria,
e, aos quatorze anos, já ingressara na congregação dos dominicanos. Depois que
se ordenou Sacerdote, sua carreira atravessou todas as etapas de maneira
surpreendente. Foi professor, prior de convento, superior provincial,
inquisidor em Como e Bérgamo, Bispo de Sutri e Nepi, depois Cardeal, Bispo de
Mondovi e, finalmente, Papa em 1566, tomando o nome de Pio V. A melhor
definição para o seu governo é a palavra incômodo, aliás, como é o governo de
todos os grandes reformadores dos costumes. Assim que assumiu, foi procurado,
em Roma, por dezenas de parentes. Não deu "emprego" a nenhum,
afirmando ainda, que um parente do Papa, se não estiver na miséria, "já
está bastante rico". Dessa maneira, acabou com o nepotismo na Igreja, um
mal que até hoje afeta as comunidades no âmbito político. Implantou, ainda,
outras mudanças no campo pastoral, aprovadas no Concílio de Trento: a obrigação
de residência para os Bispos, a clausura dos religiosos, o celibato e a
santidade de vida dos Sacerdotes, as visitas pastorais dos Bispos, o incremento
das missões e a censura das publicações, para que não contivessem material
doutrinário não aprovado pela Igreja. Depois de conseguir a união dos países
católicos, com a consequente vitória sobre os turcos muçulmanos invasores, e de
ter decretado a excomunhão e deposição da própria Rainha da Inglaterra,
Elisabeth I, o furacão se extinguiu. Papa Pio V morreu no dia primeiro de maio
de 1572, sendo canonizado em 1712. Sua memória, antes venerada em 5 de maio, a
partir da reforma do calendário litúrgico, passou a ser festejada nesta data,
30 de abril.
A origem
do Rosário está no costume, dos antigos monges, de fazer suas preces,
contando-as com o uso dos dedos das mãos ou mediante pedrinhas, ossinhos,
grãos. Na Idade Média (séculos X-XII) os fiéis costumavam rezar vários “Pai
Nosso” ou várias “Ave-Maria” consecutivos, quando não podiam recitar os Salmos
(em casos de analfabetismo ou de pouca cultura). Esta prática foi-se codificando
e regulamentando aos poucos chegando a sua forma atual no século XVI sob o Papa
S. Pio V, dominicano. Foi este Pontífice quem determinou tanto o número de
“Pai-Nosso” e “Ave-Maria” como o teor dos mistérios que os devem acompanhar. S.
Pio V atribuiu a eficácia dessa prece a vitória naval de Lepanto, que aos 7 de
outubro de 1571 salvou de grande perigo a Cristandade ocidental. A devoção foi
mais e mais favorecida pelos Papa seguintes, destacando-se Leão XIII, que
determinou fosse o mês de outubro dedicado, em todas as paróquias, à recitação
do Rosário. O Terço do Rosário é a arma mais poderosa contra Satanás, se transformando
simbolicamente na corrente que vai prende-lo por mil anos, além, é claro, da
proteção contra todos os males.
Como
rezar o terço do Rosário
Os Mistérios:
Mistério Gozosos
Primeiro Mistério: Anunciação à Maria
Segundo Mistério: Visitação de Nossa Senhora a sua prima
Isabel
Terceiro Mistério: Nascimento de Jesus
Quarto Mistério: Apresentação do Menino Jesus no Templo
Quinto Mistério: Perda e encontro do Menino Jesus no Templo
Mistério Luminosos
Primeiro Mistério: Batismo de Jesus no rio Jordão
Segundo Mistério: Auto-revelação de Jesus nas Bodas de Caná
Terceiro Mistério: Anúncio do Reino de Deus
Quarto Mistério: Transfiguração de Jesus
Quinto Mistério: Instituição da Eucaristia
Começar com o sinal da cruz.
Mistério Dolorosos
Primeiro Mistério: Agonia de Jesus no Horto
Segundo Mistério: Flagelação de Jesus
Terceiro Mistério: Coroação de Espinhos
Quarto Mistério: Jesus carregando a cruz no caminho do
Calvário
Quinto Mistério: Crucifixão e morte de Jesus
Mistério Gloriosos
Primeiro Mistério: Ressurreição de Jesus
Segundo Mistério: Ascensão de Jesus ao Céu
Terceiro Mistério: Vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos
Quarto Mistério: Assunção de Maria
Quinto Mistério: Coroação de Maria no Céu
INCÍCIO DO ROSÁRIO:
Inicia-se fazendo o sinal da cruz e dizendo: Em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
- Vinde Espírito Santo, enchei os
corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai Senhor o
vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra.
Segurando o crucifixo, rezar o Credo dos Apóstolos:
"Creio em um só Deus, Pai
Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e
invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos. Deus de Deus, luz da luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por
Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação,
desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria e se
fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi
sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as escrituras, e subiu aos
céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória,
para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito
Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado; Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja, una,
santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para a remissão dos
pecados e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir.
Amém."
Na primeira conta, rezar um Pai-Nosso.
Pai nosso, que estais no céu,
santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vossa
vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; e
perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos nossos devedores; e não nos
deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do maligno. Amém.
Em cada uma das três contas seguintes, rezar uma Avé Maria.
Ave Maria, cheia de graça, o
Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do
vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora
e na hora da nossa morte. Amém.
Na conta seguinte, rezar um “Glória ao Pai”.
Glória ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Na conta grande, anunciar o Primeiro Mistério Gosozo:
Anunciação a Maria.
Rezar um Pai Nosso.
Rezar a primeira dezena de Ave Maria
No final da década, Rezar o Glória ao Pai e a Jaculatória.
Glória ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo, como era no princípio agora e sempre. Amém.
Jaculatória: Oh! Meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do
fogo do Inferno, levai as almas todas para o Céu e socorrei as que mais
precisarem.
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.
Repita este padrão para as restantes décadas, e continuando
os demais mistérios gososos: Segundo Mistério: Visitação de Nossa Senhora a sua
prima Isabel. Terceiro Mistério: Nascimento de Jesus. Quarto Mistério: Apresentação
do Menino Jesus no Templo.
Pai Nosso -> 10 Ave Marias -> Glória -> Jaculatória.
Após as 5 dezenas, concluir com a Salve Rainha.
Salve, Rainha santa, mãe de
misericórdia, nossa vida, nossa doçura e nossa esperança. A Vós bradamos, os
degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de
lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós
volvei. E, depois deste desterro, nos mostrai Jesus, bendito fruto do Vosso
ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria. Rogai por nós, Santa Mãe de
Deus, para sermos dignos das promessas de Cristo.
Oração de encerramento:
Oremos: Ó Deus, cujo Filho Unigenito, com a sua vida, morte e
ressurreição, nos alcançou o prêmio da vida eterna, concedei-nos, a nós que
celebramos estes mistérios do santo rosário, imitar o que contêm e alcançar o
que prometem. Por Cristo nosso Senhor. Amém.
Terminar com o sinal da cruz dizendo: Em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
(Nos três terços seguintes para
se completar o Santo Rosário, reza-se os Mistérios seguntes: Luminosos,
Gloriosos e Dolorosos.
Completou-se também neste pontificado a oração da Ave Maria,
segunda parte. Tanto a primeira parte como a segunda teve origem
popular-eclesial inspirada pelo Espírito Santo. S. Bernardino de Senna em 1444,
ao comentar a Ave Maria disse que ao final poderia acrescentar: “Santa Maria
rogai por nós.”. Mas a fórmula atual foi divulgada no Breviário publicado em
1568, por ordem do Papa Pio V.
A oração da Ave Maria
está nas escrituras: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. (Lc 1,28) Bendita
sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre! (Lc 1,42), Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus,
(Lc 1: 43), rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!
MISSAL
TRIDENTINO
O
Concílio de Trento serviu-se da paramentaria, da pintura, da escultura e da
ourivesaria, para assegurar a unidade de fé e a disciplina eclesiástica,
emanando dele decretos e diplomas onde transpareceu uma nova forma de ver a
imagem sagrada. Neste Concílio, também se sentiu a necessidade de normalizar a
liturgia da missa para eliminar os abusos cometidos na sua celebração,
procedendo-se à reforma dos livros litúrgicos. No entanto, como o Concílio se
arrastava há já longos anos, os padres conciliares decidiram, na última sessão,
incumbir o Papa Pio IV dessa função. Contudo, foi Pio V que realizou tal
incumbência, promulgando, em 14 de julho de 1570, através da bula Quo primum
tempore, o novo Missal Romano. Foi, durante quatro séculos, considerado pelos Sacerdotes
do rito latino como norma para a celebração do Sacrifício Eucarístico. É o
livro litúrgico oficial da Igreja. Contém normas gerais sobre o cerimonial
litúrgico, bem como as leituras e orações apropriadas para a Missa diária e das
festas do ano litúrgico. O Missal Romano é obrigatório para toda a Igreja
Latina. No período anterior ao Concílio de Trento pouco significado se deu à
liturgia. Foi neste Concílio e com os Papas que o executaram (Papa Paulo III,
Júlio III, Marcelo II e Pio IV) que se pôs fim aos abusos e se estabeleceram os
fundamentos teológicos das ações litúrgicas, uniformizando a liturgia e
centralizando toda a legislação na Cúria Romana.
No
início da Igreja Católica Romana, a Bíblia era o único livro usado na
celebração da missa, podendo o Sacerdote improvisar nas orações. Mas, nos
séculos V e VI foram surgindo um conjunto de textos escritos ao qual deram o
nome de “Sacramentários” e segundo os quais o Sacerdote se orientava. Nos
séculos XII e XIII, o Sacerdote celebrante criou os seus próprios textos, os
“Missais Plenários”, que incluíam o livro das leituras e o das orações. Em
1570, após Concílio de Trento, o Papa Pio V publica o Missal ao qual se chamou,
desde então, “Missal de S. Pio V”. Para que houvesse um culto divino digno
muitos Pontífices romanos, entre eles, Clemente VIII, Urbano VIII, São Pio X,
Bento XV, Pio XII e o Beato João XXIII (1958-1963), mostraram particular
atenção à Sagrada Liturgia, para que esta se manifestasse de forma mais eficaz,
definindo-a e conservando-a tanto em relação ao Sacrifício da Missa como ao
Ofício Divino. São Pio V, utilizando o Concílio como espaço próprio de
renovação e criação de normas, renovou o culto de toda a Igreja, cuidou da
correção dos livros litúrgicos e da sua edição segundo “as normas instituídas
pelos Padres”. No Missal Romano, lê-se: as missas de acordo com o tempo
litúrgico (Advento, Natal, Quaresma, Tríduo Pascal, Tempo Pascal e Tempo
Comum); o Rito da Missa (Ritos Iniciais, Liturgia da Palavra, Liturgia
Eucarística (ofertório e prefácios), o Rito da Comunhão e os Ritos Finais);
apêndice do Rito da Missa (Bênçãos Solenes e Orações sobre o povo. O missal
distinguia-se no decorrer do calendário litúrgico pelo uso prático, isto é, um
missal de serviço comum e serventia diária e pela aparência, num missal com
capa de veludos, guarnições e fechos de prata. Estantes especiais e panos
ricamente bordados envolviam os missais, valorizando-os e criando aparato, pois
os missais estão destinados a figurar em cerimônias litúrgicas onde, em
parceria com os paramentos, contribuíam para o brilho da liturgia. Relativamente
às gravuras que compunham e abrilhantavam as páginas dos missais, podemos
afirmar que, por exemplo, na Architipographia Plantiniana, de Balthasaris
Moreti, à qual pertence o exemplar que se encontram no Museu Nacional de
História Natural e da Ciência, em Lisboa, emprega-se um leque bastante limitado
de gravuras para cada uma das dez passagens bíblicas, ou seja, as mesmas
gravuras eram usadas em várias edições dos missais da tipografia.
MISSAL
TRIDENTINO
Este ritual foi regido pelo
Espírito Santo, é perfeito e inalterável. Sua confecção foi o momento mais
sublime da Igreja, criou-se uma joia inestimável para a salvação das almas.
PRIMEIRA PARTE: MISSA DOS
CATECÚMENOS
O Sacerdote, ao pé do altar, diz alternadamente com o Ministro
as Orações que se seguem.
S. Significa Sacerdote.
R. Ministro ou povo.
De joelhos.
S. Em nome do Pai, † e do Filho,
e do Espírito. Amém.
S. Subirei ao altar de Deus.
R. Do Deus que alegra a minha
juventude.
Salmo (43, 1-5) – este salmo omite-se nas Missas de Defuntos
e do Tempo da Paixão
S. Faze-me justiça, ó Deus, e
pleiteia a minha causa contra uma nação ímpia; livra-me do homem enganador e
iníquo.
R. Tu que és, ó Deus, a minha
fortaleza, porque me repeliste? Por que me visto de luto por causa da opressão
do inimigo?
S. Envia a Tua luz e a Tua
verdade; estas me conduzirão e me levarão ao Teu santo monte ao lugar da tua
habitação.
R. Então irei ao altar de Deus,
do Deus que que a minha alegria e o meu prazer.
S. Ó Deus, Deus meu, com harpa te
louvaei. Por que estás triste, minha alma? E por que me inquietas?
R. Espera em Deus, porque eu
ainda O hei-de louvar, a Ele que é a minha salvação e o meu Deus.
S. Glória ao Pai, e ao Filho, e
ao Espírito Santo.
R. Assim como era no princípio,
seja agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.
S. Subirei ao Altar de Deus.
R. Do Deus que alegra a minha
juventude.
S. O nosso † auxílio está no nome
do Senhor.
R. Que fez o Céu e a Terra.
Com grande desejo de se purificar, o Sacerdote primeiramente,
antes de se aproximar do altar, e depois os fiéis, acusam-se diante de Deus e
dos Santos dos pecados que cometeram e pedem a Deus misericórdia.
O Sacerdote reza o Confiteor:
S. Eu me confesso a Deus todo
poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem aventurado São Miguel
Arcanjo, ao bem aventurado São João Batista, aos Santos Apóstolos São Pedro e
São Paulo, a todos os Santos e a vós, padre, porque pequei muitas vezes, por
pensamentos, palavras e obras, (bate-se por três vezes no peito) por minha
culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Portanto rogo a bem aventurada Virgem
Maria, ao bem aventurado São Miguel Arcanjo, ao bem aventurado São João Batista,
aos santos Apóstolos São Pedro e São Paulo, a todos os santos e a vós, padre,
que rogueis a Deus Nosso Senhor por mim.
O acólito e os fiéis, estes ao menos em espírito, pedem a
Deus que aceite a confissão do Sacerdote.
R. Que Deus onipotente se
amerceie de ti, que te perdoe os pecados e te conduza à vida eterna.
S. Amém.
O acólito e os fiéis, por sua vez, fazem a sua Confissão:
R. Eu pecador me confesso a Deus
todo-poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado são
Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado são João Batista, aos santos apóstolos são
Pedro e são Paulo, a todos os Santos e a vós, Padre, porque pequei muitas
vezes, por pensamentos, palavras e obras, (bate-se por três vezes no peito) por
minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Portanto, rogo à bem-aventurada
Virgem Maria, ao bem-aventurado são Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado são João
Batista, aos santos apóstolos são Pedro e são Paulo, a todos os Santos e a vós,
Padre, que rogueis a Deus Nosso Senhor por mim.
O Sacerdote pede a Deus que aceite a confissão dos fiéis.
S. Que Deus onipotente se
compadeça de vós, que vos perdoe os pecados e vos conduza à vida eterna.
R. Amém.
O Sacerdote pronuncia sobre si mesmo e sobre os fiéis a
fórmula da absolvição:
S. Indulgência † absolvição, e
remissão dos nossos pecados, conceda-nos o Senhor onipotente e misericordioso.
R. Amém.
Orações
Inclinam-se todos para a recitação dos versículos seguintes:
S. Ó Deus, voltando-Vos para nós,
nos dareis a vida.
R. E o Vosso povo alegrar-se-á em
Vós.
S. Mostrai-nos, Senhor, a Vossa
misericórdia.
R. E dai-nos a Vossa salvação.
S. Ouvi, Senhor, a minha oração.
R. E fazei subir até Vós o meu
clamor.
S. O Senhor seja convosco.
R. E com o vosso espírito.
Ao subir ao altar, o Sacerdote pede a Deus mais uma vez que o
purifique de todos os pecados:
S. Oremos.
S. Lavai-nos, Senhor, de todo o
pecado, a fim de merecermos penetrar de coração puro no Santo dos Santos. Por
Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém
O Sacerdote beija o altar que encerra as Relíquias dos
Mártires e diz:
S. Nós vos suplicamos, Senhor,
pelos méritos de vossos santos, (beijando o centro do altar) cujas relíquias
aqui se encontram, e de todos os demais santos, vos digneis perdoar todos os
nossos pecados. Amém.
Incensação do altar
Nas Missas solenes o Sacerdote deita incenso no turíbulo e
benze-o ao mesmo tempo com as palavras seguintes: « Bendito sejas por Aquele em
honra de Quem vais ser queimado. » Depois incensa o altar.
PRIMEIRA PARTE:
ANTE-MISSA
(Missa dos Catecúmenos)
Oração e Instrução
Nós falamos a Deus e Deus nos fala.
Esta primeira parte da Missa prepara as nossas almas, pela
Oração e pela Instrução, para o Sacrifício propriamente dito.
I. ORAÇÃO
Falamos a Deus por Jesus Cristo: Introito, Kyrie, Gloria e
Oração.
Intróitus – Cântico de entrada
O Sacerdote vai para o lado da Epístola, e lê o Introito.
Canto solene de entrada, o Intróito como que enuncia o tema geral da Missa ou
solenidade do dia. Às primeiras palavras, todos se benzem, ao mesmo tempo que o
celebrante.
De pé.
1 – VER MISSA DO DIA
Kýrie, Eléison
O Kýrie é uma breve ladainha de procedência grega, uma
tríplice invocação das três Pessoas Divinas. O Sacerdote, no meio do altar,
diz, alternadamente com os assistentes:
S. Senhor, tende piedade de nós.
R. Senhor, tende piedade de nós.
S. Senhor, tende piedade de nós.
R. Cristo, tende piedade de nós.
S. Cristo, tende piedade de nós
R. Cristo, tende piedade de nós.
S. Senhor, tende piedade de nós.
R. Senhor, tende piedade de nós.
S. Senhor, tende piedade de nós.
Glória in Excélsis
O Glória in excelsis, que os gregos denominam a grande
doxologia, é um cântico de louvor entretecido de aclamações e súplicas,
dirigido à Santíssima Trindade. Abre com as palavras que os Anjos cantaram no
nascimento do Salvador.
– Omite-se nas Missas de Defuntos, em todas do Tempo do
Advento, da Septuagésima e da Quaresma e nas férias sem festa.
Glória a Deus nas alturas, e paz
na terra aos homens de boa vontade. Nós Vos louvamos, Nós Vos bendizemos, Nós
Vos adoramos e Nós Vos glorificamos. Nós Vos damos graças, por Vossa grande
glória, Senhor Deus, Rei do céu, Deus Pai onipotente. Senhor, Filho Unigênito
de Deus, Jesus Cristo. Senhor Deus, Cordeiro de Deus e Filho de Deus Pai. Vós
que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós. Vós que tirais os pecados
do mundo, ouvi a nossa prece. Vós que estais sentado à direita do Pai, tende
piedade de nós. Porque só Vós sois Santo. Só Vós sois Senhor. Só Vós sois o
Altíssimo, Jesus Cristo, Com o Espírito Santo, † na glória de Deus Pai. Amém.
GLORIA IN EXCÉLSIS DEO.
O Sacerdote, no meio do altar, volta-se para os fiéis e diz:
S. O Senhor seja convosco.
R. E com vosso espírito.
Coleta
O Sacerdote, diante do missal, recita a COLETA. Breve oração
que resume e apresenta a Deus os votos de toda a assembléia, votos estes
sugeridos pelo mistério ou solenidade do dia.
Orémus:
2 – VER MISSA DO DIA
O Sacerdote saúda a
assembléia e depois acrescenta a Deus em resumo os votos e aspirações que a
Santa Igreja nos sugere em razão da festa ou do mistério que celebramos. –
Respondamos todos com um Amém cheio de confiança. Conclusão:
S. …por todos os séculos dos
séculos.
R. Amém.
II. INSTRUÇÃO
Deus nos fala por Jesus Cristo: Epístola, Evangelho e
Homilia.
Epístola – Lectio – Lição
Sentado.
No decorrer do ano litúrgico, a Igreja vai-nos lendo os mais
belos passos dos Profetas e os princípios basilares da doutrina dos Apóstolos.
3 – VER MISSA DO DIA
– Nas Missas solenes,
a Epístola é cantada pelo Subdiácono. Nas rezadas responde-se no fim.
R. Graças a Deus.
CÂNTICOS GRADUAIS
O Gradual compõe-se geralmente de alguns versículos dum Salmo
que era outrora cantado por inteiro pelos cantores e pela assembléia. No Tempo
Pascal, o Gradual é substituído por um Aleluia. – Aleluia é, em hebreu, uma
espécie de interjeição de alegria. E de fato a melodia dos nossos Aleluias é
uma explosão de júbilo, único modo que a alma, nesses momentos de dulcificante
altura espiritual, encontra para se dirigir a Deus. Junta-se-lhe um versículo
do Salmo. – Durante a Septuagésima e a Quaresma, o Aleluia é substituído pelo
Tracto.
4 – VER MISSA DO DIA
O Evangelho do Mestre
Antes de ler ou cantar o Evangelho, o Sacerdote diz a oração
« Munda cor meum » e pede a Deus que o abençoe. – Nas Missas solenes é o
Diácono que canta o Evangelho. Recita o « Munda cor » e pede a benção ao Sacerdote.
Nas Missas de Defuntos diz-se o « Munda cor », mas omite-se a benção.
S. Senhor onipotente, purificai o
meu coração e os meus lábios, Vós que purificastes os lábios do Profeta Isaías
com um carvão em brasa. E dignai-Vos por tal modo purificar-me com a Vossa
misericórdia, que possa dignamente anunciar o Vosso Santo Evangelho. Por Jesus
Cristo Nosso Senhor. Amém.
S. Senhor, abençoai-me.
S. Que o Senhor resida no meu
coração e nos meus lábios, para que anuncie digna e convenientemente o Seu
Evangelho. Amém.
A leitura ou o canto do Evangelho, que nos recorda sempre um
episódio da vida ou um ponto de doutrina do Salvador, rodeia-se de certa
solenidade. A assembléia conserva-se de pé, por veneração e respeito para com a
palavra de Deus. Nas Missas solenes organiza-se uma pequena procissão.
Incensa-se o Livro dos Evangelhos e acompanha-se com círios acesos. – Às
primeiras palavras – Sequentia, etc. faz-se o sinal da cruz na testa, na boca e
no peito.
No lado do Evangelho o Sacerdote diz: De pé.
S. O Senhor seja convosco
R. E com vosso espírito.
S. Sequência do santo Evangelho †
segundo ….
R. Glória a Vós, Senhor.
5 – VER MISSA DO DIA
No fim, responde-se:
R. Louvor a vós, ó Cristo!
Após a leitura, o Sacerdote beija o texto sagrado, dizendo:
S. Que pelas palavras do
Evangelho nos sejam perdoados os pecados.
Segue-se a Homilia, ou explicação da Palavra de Deus.
Sentado.
Credo
De pé.
CREIO em um só Deus. Pai, todo
poderoso, criador do Céu e da Terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio
em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus. Nascido do Pai, antes
de todos os séculos. Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro. Gerado, não feito, consubstancial ao Pai, por meio de Quem foram
feitas todas as coisas. Que por causa de nós, homens, e por causa de nossa
salvação desceu dos Céus. (Todos se ajoelham) E SE ENCARNOU POR OBRA DO
ESPÍRITO SANTO, EM MARIA VIRGEM, E SE FEZ HOMEM. Também por amor de nós foi
crucificado, sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao
terceiro dia, conforme as Escrituras. Subiu aos Céus, onde está sentado à
direita do Pai. Donde virá de novo, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos
e cujo reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e
procede do Pai e do Filho. Que com o Pai e com o Filho é igualmente adorado e
glorificado: ele o que falou pelos profetas. Creio na Igreja, una, santa,
católica e apostólica. Professo um só Batismo, para a remissão dos pecados. Espero
a ressurreição dos mortos. E a vida † do século futuro. Amém.
SEGUNDA PARTE:
SACRIFÍCIO DA MISSA
OFERTÓRIO, CONSAGRAÇÃO E COMUNHÃO
Nós nos damos a Deus e Deus se dá a nós.
I. OFERTÓRIO E CONSAGRAÇÃO
Nós nos damos a Deus por Jesus Cristo.
Ofertório: Preparação para o Sacrifício
Com o Ofertório, começa a segunda parte da Missa ou
Sacrifício propriamente dito. Depois do Evangelho ou do Credo, o Sacerdote
beija o altar e volta-se ao povo com esta saudação:
S. O Senhor seja convosco
R. E com vosso espírito.
Offertórium – Cântico do Ofertório:
Preparação da matéria do sacrifício: Pão e Vinho.
Segue-se em voz baixa.
6 – VER MISSA DO DIA
O Sacerdote lê a Antífona do Ofertório, vestígio de um
cântico que se executava outrora durante a procissão das oferendas. Esta
procissão era constituída por todos os fiéis presentes, que levavam ao
Sacerdote pão, vinho e outros dons, símbolos da oblação que fazia cada um de si
mesmo. – Todas as orações do Ofertório exprimem este sentimento de oblação. Nas
Missas dialogadas a assembléia pode recitar em português estas Antífonas.
Ofertório do pão e do vinho
O Sacerdote oferece o pão e coloca-o na patena. Coloquemo-nos
também na patena, hóstias pequenas à beira da grande, ofereçamo-nos com ela ao
Senhor. Ofereçamo-nos sim, e não retiremos dela, durante o dia, nenhuma partícula
da nossa oblação.
Oferecimento do pão
Sentado.
S. Recebei, santo Pai, onipotente
e eterno Deus, esta hóstia imaculada, que eu vosso indigno servo, vos ofereço,
ó meu Deus, vivo e verdadeiro, por meus inumeráveis pecados, ofensas, e
negligências, por todos os que circundam este altar, e por todos os fiéis vivos
e falecidos, afim de que, a mim e a eles, este sacrifício aproveite para a
salvação na vida eterna. Amém.
Bênção da água e mistura com o vinho
Misturando algumas gotas d’água com o vinho, rito que
simboliza a união dos fiéis com Jesus Cristo, o Sacerdote reza:
S. Ó Deus, † que maravilhosamente
criastes em sua dignidade a natureza humana e mais prodigiosamente ainda a
restaurastes, concedei-nos, que pelo mistério desta água e deste vinho, sermos
participantes da divindade daquele que se dignou revestir-se de nossa
humanidade, Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor Nosso, que sendo Deus convosco
vive e reina em união com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Amém.
Oferecimento do Cálice
No meio do altar, o sacerdote faz o oferecimento do cálice:
S. Nós vos oferecemos Senhor, o
cálice da salvação, suplicando a vossa clemência. Que ele suba qual suave
incenso à presença de vossa divina majestade, para salvação nossa e de todo o
mundo. Amém.
Oferecimento dos fiéis
O Sacerdote, em nome de todos, pede que sejamos aceitos por
Deus como são aceitas as nossas dádivas.
S. Em espírito de humildade e
coração contrito, sejamos por vós acolhidos, Senhor. E assim se faça hoje este
nosso sacrifício em vossa presença, de modo que vos seja agradável, ó Senhor
Nosso Deus.
Invoca o Espírito Santo
O Sacerdote invoca a bênção do Espírito Santo.
S. Vinde, ó Santificador,
onipotente e eterno Deus e, abençoai † este sacrifício preparado para
glorificar o vosso santo nome.
Incensação
Nas missas solenes incensam-se as oferendas e o altar.
O Sacerdote benze o incenso, dizendo:
S. Pela intercessão do
bem-aventurado Miguel Arcanjo, que está à direita do altar do incenso, e de
todos os seus escolhidos, digne-se o Senhor abençoar este incenso e recebê-lo
em suave odor. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém.
O Sacerdote incensa as duas oferendas.
S. Suba, Senhor à Vossa presença,
este incenso que abençoastes, e desça sobre nós a Vossa misericórdia.
Em seguida, incensa o Crucifixo e todo o altar.
S. Eleve-se, Senhor, a minha
oração como incenso à Vossa presença, e elevem-se as minhas mãos como sacrifício
vespertino. Ponde, Senhor, uma guarda à minha boca e uma porta aos meus lábios.
Assim o meu coração não se inclinará para o mal, nem procurará pretextos para
poder pecar.
O Sacerdote entrega o turíbulo ao diácono, e diz esta Oração:
S. Acenda, o Senhor, em nós, o
fogo de seu amor e a chama da eterna caridade. Amém.
Lavabo – Ablução das mãos
O Sacerdote vai à direita do altar e lava as mãos, dizendo os
seguintes versículos do Salmo 26:
S. Lavo as minhas mãos entre os
inocentes, e me aproximo do vosso altar, ó Senhor. Para ouvir o cântico dos
vossos louvores, e proclamar todas as vossas maravilhas. Eu amo, Senhor, a
beleza da vossa casa, e o lugar onde reside a vossa glória. Não me deixeis, ó
Deus, perder a minha alma com os ímpios, nem a minha vida com os sanguinários. Em
suas mãos se encontram iniquidades, sua direita está cheia de dádivas. Eu
porém, tenho andado na inocência. Livrai-me, pois, e tende piedade de mim. Meus
pés estão firmes no caminho reto. Eu te bendigo, Senhor, nas assembléias dos
justos.
Glória ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os
séculos dos séculos, Amém.
Oferecimento à Santíssimo Trindade
Inclinado, ao meio do altar, o Sacerdote diz a Oração à
Santíssima Trindade:
S. Recebei, ó Trindade
Santíssima, esta oblação, que vos oferecemos em memória da Paixão, Ressurreição
e Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, e em honra da bem-aventurada e sempre
Virgem Maria, de são João Batista, dos Santos apóstolos Pedro e Paulo, e de
todos os Santos; para que, a eles sirva de honra e a nós de salvação, e eles se
dignem interceder no céu por nós que na terra celebramos sua memória. Pelo
mesmo Cristo, Senhor Nosso. Amém.
Consagração: Realização do Sacrifício
Oráte, fratres – Rogai, irmãos
O Sacerdote volta-se para os fiéis e convida-os a que orem
com ele para que Deus Se digne aceitar-lhes o sacrifício comum:
S. Orai irmãos, para que este
sacrifício, que também é vosso, seja aceito e agradável a Deus Pai Onipotente.
R. Receba, o Senhor, de vossas
mãos este sacrifício, para louvor e glória de seu nome, para nosso bem e de
toda a sua santa Igreja.
S. Amém.
Secreta – Oração sobre as Oferendas
É a Oração propriamente dita da oblação e pode ser resumida
num duplo pensamento: Senhor, que a nossa oferenda, unida ao Sacrifício de
vosso Filho, Vos seja agradável e produza frutos para nós.
7 – VER MISSA DO DIA
CANON MISSAE
INTENÇÕES GERAIS ANTES DA CONSAGRAÇÃO
Oblação do Sacrifício
O Cânon constitui a parte central da Missa. Com o Prefácio,
começa a solene oração sacerdotal da Igreja e oblação propriamente dita do
Sacrifício. Curto diálogo introdutório entre o sacerdote e a assembléia
desperta nas almas os sentimentos de ação de graças que convêm à celebração dos
santos mistérios.
Praefatio – Prefácio
De pé.
S. por todos os séculos dos
séculos.
R. Amém.
S. O Senhor seja convosco.
R. E com o vosso espírito.
S. Corações ao alto.
R. Temo-los para o Senhor
S. Demos graças ao Senhor, nosso
Deus.
R. É digno e justo.
8 – VER MISSA DO DIA
Prefácio da Santíssima Trindade
Diz-se nas festas e nas Missas votivas da Santíssima Trindade;
em todos os Domingos do ano, menos nas festas que tiverem próprio.
S. É verdadeiramente digno,
justo, racional e salutar, que sempre e em toda a parte Vos rendamos graças,
Senhor Santo, Pai onipotente e Deus eterno; Que sois, com o Vosso Filho
Unigénito e com o Espírito Santo, um só Deus e um só Senhor, não na
singularidade duma só pessoa, mas na Trindade duma só substância. Porque tudo
aquilo que nos revelastes e cremos da Vossa glória, isso mesmo sentimos, sem
diferença nem distinção, do Vosso Filho e do Espírito Santo, de maneira que,
confessando a verdadeira e eterna Divindade, adoramos a propriedade nas
Pessoas, a unidade na Essência e a igualdade na Majestade, a qual louvam os
Anjos e os Arcanjos, os Querubins e os Serafins, que não cessam de cantar
dizendo a uma só voz:
Sanctus
De joelhos.
Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus
dos Exércitos. A Terra e o Céu estão cheios da Vossa glória. Hosana no mais
alto dos Céus. Bendito O que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!
Continuação do Cânon
I. Memento da Igreja
O Sacerdote, profundamente inclinado, beija o altar e continua
a grande oração sacerdotal.
S. A vós, Pai clementíssimo, por
Jesus Cristo vosso Filho e Senhor nosso, humildemente rogamos e pedimos
aceiteis e abençoeis estes † dons, estas † dádivas, estas † santas oferendas
ilibadas.
Oração por toda a Igreja, em especial pela hierarquia:
S. Nós Vo-los oferecemos, em
primeiro lugar, pela vossa santa Igreja católica, à qual vos dignai conceder a
paz, proteger, conservar na unidade e governar, através do mundo inteiro, e
também pelo vosso servo o nosso Papa…, pelo nosso Bispo…, e por todos os
(bispos) ortodoxos, aos quais incumbe a guarda da fé católica e apostólica.
II. Memento dos vivos
S. Lembrai-vos, Senhor, de vossos
servos e servas N. e N., e de todos os que aqui estão presentes, cuja fé e
devoção conheceis, e pelos quais vos oferecemos, ou eles vos oferecem, este
sacrifício de louvor, por si e por todos os seus, pela redenção de suas almas,
pela esperança de sua salvação e de sua conservação, e consagram suas dádivas a
vós, o Deus eterno, vivo e verdadeiro.
III. Memento dos Santos
S. Unidos na mesma comunhão,
veneramos primeiramente a memória da gloriosa e sempre Virgem Maria, Mãe de
Deus e Senhor Nosso Jesus Cristo, e também de S. José, o Esposo da mesma
Virgem, e dos vossos bem-aventurados Apóstolos e Mártires: Pedro e Paulo,
André, Tiago, João e Tomé, Tiago, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Simão e Tadeu,
Lino, Cleto, Clemente, Xisto, Cornélio, Cipriano, Lourenço, Crisógono, João e
Paulo, Cosme e Damião, e a de todos os vossos santos. Por seus méritos e
preces, concedei-nos, sejamos sempre fortalecidos com o socorro de vossa
proteção. Pelo mesmo Cristo, Senhor Nosso. Amém.
ORAÇÃO PELA ACEITAÇÃO DAS OFERENDAS
Unido à Igreja Militante e à Triunfante, o Sacerdote volta a
atenção para as dádivas, e estendendo as mãos sobre elas, pede:
S. Por isso, vos rogamos, Senhor,
aceiteis favoravelmente a homenagem de servidão que nós e toda a vossa Igreja
vos prestamos, firmai os nossos dias em vossa paz, arrancai-nos da condenação
eterna, e colocai-nos entre os vossos eleitos. Por Jesus Cristo, Senhor Nosso.
Amém.
Pede o Sacerdote que as dádivas sejam aceitas por Deus,
tornando-se o Corpo e o Sangue de Jesus, único Sacrifício agradável ao Pai.
S. Nós vos pedimos, ó Deus, que
esta oferta seja por vós em tudo, aben†çoada, apro†ovada, ratifi†cada, digna e
aceitável a vossos olhos, afim de que se torne para nós o Cor†po e o San†gue de
Jesus Cristo, vosso diletíssimo Filho e Senhor Nosso.
CONSAGRAÇÃO
É esse o momento em que se realiza o Sacrifício. Sob as
espécies do pão e do vinho aparece o Cristo glorioso, nossa Vítima. E como Sumo
Sacerdote, Ele nos oferece ao Pai, em união com o seu Corpo e o seu Sangue. A
separação das espécies indica a sua morte sangrenta na Cruz.
Consagração do Pão
S. Ele, na véspera de sua paixão,
tomou o pão em suas santas e veneráveis mãos, e elevando os olhos ao céu para
vós, ó Deus, seu Pai onipotente, dando-vos graças, ben†zeu-o, partiu-o e deu-o
a seus discípulos, dizendo: Tomai e Comei Dele, Todos.
« ISTO É O MEU CORPO »
Consagração do Vinho
S. De igual modo, depois de haver
ceado, tomando também este precioso cálice em suas santas e veneráveis mãos, e
novamente dando-vos graças, ben†zeu-o e deu-o a seus discípulos, dizendo: Tomai
e Bebei Dele Todos.
« ESTE É O CÁLICE DO MEU SANGUE,
DO NOVO E ETERNO TESTAMENTO: MISTÉRIO DE FÉ: QUE SERÁ DERRAMADO POR VÓS E POR
MUITOS PARA REMISSÃO DOS PECADOS. »
Todas as vezes que isto fizerdes,
fazei-o em memória de mim.
OBLAÇÕES
O Sacerdote oferece a Deus já não mais pão e vinho, mas o
Sacrifício de Cristo. É o verdadeiro Ofertório.
1. Em nome do povo, o Sacerdote apresenta a Deus a Vítima
imaculada.
S. Por esta razão, Senhor, nós,
vossos servos, com o vosso povo santo, lembrando-nos da bem-aventurada Paixão
do mesmo Cristo, vosso Filho e Senhor Nosso, assim como de sua Ressurreição,
saindo vitorioso do sepulcro, e de sua gloriosa Ascensão aos céus, oferecemos à
vossa augusta Majestade, de vossos dons e dádivas, a Hóstia † pura, a Hóstia †
santa, a Hóstia † imaculada, o Pão † santo da vida eterna, e o Cálice da
salvação † perpétua.
2. Pede o Sacerdote a Deus que aceite o presente Sacrifício,
como aceitou os dos Justos na antiga Lei: Abel, Abraão e Melquisedeque.
S. Sobre estes dons, vos pedimos
digneis lançar um olhar favorável, e recebê-los benignamente, assim como
recebeste as ofertas do justo Abel, vosso servo, o sacrifício de Abraão, pai de
nossa fé, e o que vos ofereceu vosso sumo sacerdote Melquisedeque, Sacrifício
santo, Hóstia imaculada.
Inclinando-se profundamente, o Sacerdote pede ao Anjo de
Deus, leve a santa oblação ao altar do céu, onde o Cristo continua o seu
Sacerdócio eterno, intercedendo por nós.
S. Suplicantes vos rogamos, ó
Deus onipotente, que, pelas mãos de vosso santo Anjo, mandeis levar estas
ofertas ao vosso Altar sublime, à presença de vossa divina Majestade, para que,
todos os que, participando deste altar, recebermos o sacrossanto Cor†po, e
San†gue de vosso Filho, sejamos repletos de toda a bênção celeste e da
Graça.Pelo mesmo Jesus Cristo, Nosso Senhor. Amém.
INTENÇÕES GERAIS DEPOIS DA CONSAGRAÇÃO
Unamo-nos à Igreja Padecente. O Sacerdote interrompe as
orações da Consagração para orar especialmente pelos Defuntos. Todos os
Cristãos se acham unidos cada vez que é celebrado o Santo Sacrifício: os Santos
do céu, os fiéis da terra e as almas do purgatório.
I. Memento dos Defuntos
S. Lembrai-vos, também, Senhor,
de vossos servos e servas (NN. e NN.), que nos precederam, marcados com o sinal
da fé, e agora descansam no sono da paz. A estes, Senhor, e a todos os mais que
repousam em Jesus Cristo, nós vos pedimos, concedei o lugar do descanso, da luz
e da paz. Pelo mesmo Jesus Cristo, Nosso Senhor. Amém
II. Memento dos Assistentes
O Sacerdote ora mais especialmente por si e pelos
assistentes.
S. Também a nós, pecadores,
vossos servos, que esperamos na vossa infinita misericórdia, dignai-vos
conceder um lugar na comunidade de vossos santos Apóstolos e Mártires: João,
Estevão, Matias, Barnabé, Inácio, Alexandre, Marcelino, Pedro, Felicidade,
Perpétua, Águeda, Luzia, Inês, Cecília, Anastácia, e com todos os vossos Santos.
Unidos a eles pedimos, vos digneis receber-nos, não conforme nossos méritos mas
segundo a vossa misericórdia.Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.
Doxologia final – Conclusão do Cânon
S. Por Ele, ó Senhor, sempre
criais, santi†ficais, vivi†ficais, aben†çoais, e nos concedeis todos estes
bens. Por †Ele, com †Ele e †Nele, a Vós, Deus Pai † onipotente, na unidade do
†Espírito Santo, toda a honra e toda a glória
Todo o Cânon foi dito em voz baixa. O Sacerdote consagra em
nome de Jesus Cristo, mas o povo participa neste ato, declarando o seu
assentimento:
S. Por todos os séculos dos
séculos
R. Amém.
Pater Noster- Pai Nosso
De pé.
Os fiéis se uniram ao Sacerdote no Sacrifício eucarístico.
Agora são convidados a tomarem parte do Sacramento do Corpo e Sangue do
Salvador. Sacerdote e fiéis se preparam pela recitação do Pater Noster que, com
o pão para cada dia, pede também o Pão para a Vida eterna.
OREMOS. Instruídos com estes preceitos salutares e com esta
divina doutrina, ousamos dizer:
Pai nosso, que estais nos céus,
santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa
vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, e
perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E
não nos deixeis cair em tentação,
R. Mas livrai-nos do mal.
De joelhos.
Continuação da última súplica e fração da Hóstia
O Sacerdote diz Amém em voz baixa, e continua:
S. Livrai-nos de todos os males,
ó Pai, passados, presentes e futuros, e pela intercessão da bem-aventurada e
gloriosa sempre Virgem Maria, dos vossos bem-aventurados apóstolos, Pedro,
Paulo, André e todos os Santos, dai-nos propício a paz em nossos dias, para
que, por vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado, e preservados de
toda a perturbação. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que, sendo
Deus, convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo,
S. Por todos os séculos dos
séculos.
R. Amém
Fração da Hóstia
O rito da fração da Hóstia é também rito sacrifical:
simboliza a separação do uso profano e a entrega à posse divina. É ainda
símbolo da morte, pois o Sacrifício da Missa é também sacrifício de expiação
como o foi o sacrifício de Jesus.
O Sacerdote faz três vezes o sinal da cruz sobre o Cálice com
uma das partes da Hóstia que acaba de dividir em três e a mistura com o
Preciosíssimo Sangue.
S. A paz † do Senhor † seja
sempre con†vosco.
R. E com o vosso Espírito.
II. COMUNHÃO
Deus se dá a nós por Jesus Cristo.
Tendo Deus aceito a dádiva da Igreja, dá-lhe em troca a
dádiva divina que é Nosso Senhor Jesus Cristo, alimento de nossas almas e
penhor da união eterna.
S. Que esta união e consagração
do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo aproveite para a vida eterna
àqueles que dela participamos. Amém.
Agnus Dei
O Sacerdote inclina-se, pedindo o perdão de seus pecados.
Nas Missas de Requiem diz-se: Dona eis Requiem – dai-lhes o
descanso, e na terceira vez: Requiem sempiternam – o descanso perpétuo,
omitindo-se a Oração seguinte.
S. Cordeiro de Deus, que tirais o
pecado do mundo,
R. Tende piedade de nós.
S. Cordeiro de Deus, que tirais o
pecado do mundo,
R. Tende piedade de nós.
S. Cordeiro de Deus, que tirais o
pecado do mundo,
R. Dai-nos a paz.
Oração pela Paz
Inclinado, recita a oração seguinte, pela paz da Igreja.
S. Senhor Jesus Cristo, que
dissestes aos vossos apóstolos: “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz”:
não olheis os meus pecados, mas para a fé da vossa Igreja; dai-lhe, a paz e a
unidade, segundo a vossa misericórdia. Vós que sendo Deus, viveis e reinais, em
união com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.
Preparação para a Comunhão
Inclinado sobre o altar, o Sacerdote recita as duas orações
seguintes, como preparação imediata para a Comunhão:
S. Senhor Jesus Cristo, filho de
Deus vivo, que por vontade do Pai, cooperando com o Espírito Santo, por vossa
morte destes a vida ao mundo. Livrai-me, por este vosso sacrossanto Corpo e por
vosso Sangue, de todos os meus pecados e de todos os males. E, fazei que eu
observe sempre os vossos preceitos, e nunca me afaste de Vós, que, sendo Deus,
viveis e reinais com Deus Pai e o Espírito Santo, por todos os séculos dos
séculos. Amém.
Este vosso Corpo, Senhor Jesus
Cristo, que eu, que sou indigno, ouso receber, não seja para mim causa de juízo
e condenação, mas por vossa misericórdia, sirva de proteção e defesa à minha
alma e ao meu corpo, e de remédio aos meus males. Vós, que sendo Deus, viveis e
reinais com Deus Pai e o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Amém.
Comunhão do Sacerdote
O Sacerdote genuflecte e pegando depois na sagrada Hóstia,
diz:
S. Receberei o Pão do céu e
invocarei o nome do Senhor:
O Sacerdote bate três vezes no peito, repetindo de cada vez a
profissão de fé do centurião do Evangelho:
Senhor, eu não sou digno, de que
entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e a minha alma será salva.
Comunhão
Somente o Sacerdote que celebrou o Missal pode entregar a
Hóstia.
Faz sobre si o sinal da cruz com a sagrada Hóstia, antes de a
comungar:
S. O Corpo de Nosso Senhor Jesus
Cristo † guarde a minha alma para a vida eterna. Amém.
Tendo comungado sob a espécie do pão, o Sacerdote rende ação
de graças.
Que retribuirei ao Senhor por
tudo o que me tem concedido? Tomarei o Cálice da salvação e invocarei o nome do
Senhor. Invocarei o Senhor louvando-O, e ficarei livre de meus inimigos.
O Sacerdote, comungando o Sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo, diz:
O Sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo † guarde a minha alma para a vida eterna. Amém.
Comunhão dos fiéis
É este o momento da Comunhão dos fiéis. Em resposta ao nosso
Sacrifício, o Pai nos dá a sua mais preciosa dádiva, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Os fiéis, ou o acólito por eles, recitam o Confiteor:
Eu pecador me confesso a Deus todo-poderoso,
à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado são Miguel Arcanjo, ao
bem-aventurado são João Batista, aos santos apóstolos são Pedro e são Paulo, a
todos os Santos e a vós, Padre, porque pequei muitas vezes, por pensamentos,
palavras e obras, (bate-se por três vezes no peito) por minha culpa, minha
culpa, minha máxima culpa. Portanto, rogo à bem-aventurada Virgem Maria, ao
bem-aventurado são Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado são João Batista, aos
santos apóstolos são Pedro e são Paulo, a todos os Santos e a vós, Padre, que
rogueis a Deus Nosso Senhor por mim.
Os fieis obrigatoriamente devem receber a Hóstia de Joelhos e
na boca.
Voltando-se para os fiéis, o Sacerdote diz:
S. Que Deus onipotente se
compadeça de vós, e perdoando os vossos pecados, vos conduza à vida eterna.
R. Amém.
S. Indulgência † absolvição, e
remissão dos nossos pecados, conceda-nos o Senhor onipotente e misericordioso.
R. Amém.
O Sacerdote volta-se para o altar, genuflecte e voltando-se
pra os assistentes ergue a Hóstia, dizendo:
S. Eis o Cordeiro de Deus; eis O
que tira os pecados do mundo.
E em seguida, três vezes:
S. Senhor, eu não sou digno de
que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e a minha alma será
salva.
Ao dar a cada fiel a Sagrada Comunhão, diz:
S. O Corpo e o Sangue de Nosso
Senhor Jesus Cristo † guarde tua alma para a vida eterna. Amem.
Ação de Graças – Abluções
O Sacerdote purifica primeiro o cálice e depois os dedos, e
toma as abluções. Enquanto isso vai dizendo:
Fazei Senhor, que com o espírito
puro, conservemos o que a nossa boca recebeu. E, que desta dádiva temporal, nos
venha remédio para a eternidade. Concedei, Senhor, que vosso Corpo e vosso
Sangue que recebi, me absorvam intimamente, e fazei que, restabelecido por
estes puros e santos Sacramentos, não fique em mim mancha alguma de culpa. Vós,
que sendo Deus, viveis e reinais com Deus Pai e o Espírito Santo, por todos os
séculos dos séculos. Amém.
Limpa o cálice e deixa-o, coberto, no meio do altar.
Antífona da Comunhão
O Sacerdote passa para o lado direito do altar, e recita a
antífona da Comunhão.
9 – VER MISSA DO DIA
S. O Senhor seja convosco.
R. E com o vosso espírito.
Pós Comunhão
De pé.
Orémus:
10 – VER MISSA DO DIA
Conclusão:
S. Fazei Senhor, que com o
espírito puro conservemos o que a nossa boca recebeu. E que desta dádiva
temporal nos venha remédio para a eternidade. Concedei, Senhor, que Vosso Corpo
e Vosso Sangue que recebi me absolvam intimamente e fazei que restabelecido por
estes puros e santos Sacramentos, não fique em mim mancha alguma de culpa. Vós,
que sendo Deus, viveis e reinais com Deus Pai e o Espírito Santo por todos os
séculos dos séculos.
R. Amém.
Final da Missa
O Sacerdote volta ao meio do altar, beija-o, e, voltando-se
para os fiéis saúda-os:
S. O Senhor seja convosco
R. E com o vosso espírito.
S. Ide, a Missa acabou.
R. Demos graças a Deus.
Voltando-se para o altar, recita a seguinte oração:
S. Seja-vos agradável, ó Trindade
santa, a oferta de minha servidão, afim de que este sacrifício que, embora
indigno aos olhos de vossa Majestade, vos ofereci, seja aceito por Vós, e por
vossa misericórdia, seja propiciatório para mim e para todos aqueles por quem
ofereci. Por Cristo Jesus Nosso Senhor. Amém.
De joelhos.
Benção do Sacerdote
Beija o altar, volta-se para a assistência, e dá a bênção,
dizendo:
S. Abençoe-vos o Deus onipotente,
Pai, e Filho, † e Espírito Santo.
R. Amém.
ÚLTIMO EVANGELHO
De pé.
O Sacerdote passa para o lado esquerdo do altar e recita,
como último Evangelho, o princípio do Evangelho de São João:
S. O Senhor seja convosco.
R. E com o vosso espírito.
S. Início do santo Evangelho †
segundo São João
R. Glória a Vós, Senhor.
No princípio era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.Ele estava no princípio com Deus
Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.E a luz resplandece nas
trevas, e as trevas não a compreenderam. Houve um homem enviado de Deus, cujo
nome era João Este veio como Testemunha para dar testemunho da luz, afim de que
todos cressem por meio dele. Não era Ele a luz, mas veio para dar testemunho da
luz. Ali estava a Luz verdadeira, a que ilumina a todo o homem que vem a este
mundo Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu.
Veio para o que era seu, e os seus não O receberam. Mas, a todos quantos O
receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aos que creem no seu
Nome; Os quais não nasceram do sangue, nem do desejo da carne, nem da vontade
do homem, mas nasceram de Deus. (Ajoelha-se) E O VERBO SE FEZ CARNE e habitou entre nós,
e vimos a sua glória, glória própria do Filho Unigênito do Pai, cheio de graça
e de verdade.
R. Demos graças a Deus.
ORAÇÕES NO FIM DA MISSA
De joelhos.
De joelhos diante do altar, o Sacerdote diz com os fiéis as
seguintes preces prescritas pelo Papa Leão XIII e por Pio XI enriquecidas de
indulgências. Este último Papa mandou que se rezassem pela conversão da Rússia.
Ave Maria (três vezes)
Ave Maria, cheia de graça, o
Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do
vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e
na hora de nossa morte. Amém.
Salve Rainha
Salve Rainha, Mãe de
misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A Vós bradamos, os
degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de
lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós
volvei. E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso
ventre. Ó clemente! Ó piedosa! Ó doce sempre Virgem Maria!
S. Rogai por nós, Santa Mãe de
Deus
R. Para que sejamos dignos das
promessas de Cristo
Oremos:
Deus, nosso refúgio e fortaleza,
olhai propício para o povo que a Vós clama; e, pela intercessão da gloriosa e
imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, de S. José, seu Esposo, dos vossos
bem-aventurados Apóstolos S. Pedro e S. Paulo e de todos os Santos, ouvi
misericordioso e benigno as preces que Vos dirigimos para a conversão dos
pecadores, para a liberdade e exaltação da Santa Madre Igreja. Pelo mesmo Jesus
Cristo Senhor Nosso.
R: Amém
São Miguel Arcanjo, defendei-nos
no combate, cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do
demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos. E vós, príncipe da milícia
celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e a todos os
espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.
R: Amém
São Pio X pediu se ajuntasse três vezes a seguinte
jaculatória:
S. Sacratíssimo Coração de Jesus
R. Tende piedade de nós.
226
. 1 - Santa Tereza D´Ávila
Santa
Teresa D'Ávila, também conhecida como Santa Teresa de Jesus nasceu em Ávila, na
Espanha, em 28 de marco de 1515 e faleceu em Alba, também na Espanha, em 4 de
outubro de 1582. Foi uma freira carmelita, mística e Santa católica do século
XVI, importante por suas obras sobre a vida contemplativa e espiritual.
Pedagoga de excelência no caminho da oração e da espiritualidade é padroeira dos
professores por conta da sua maestria em lidar com as pessoas para auxiliá-las
no caminho rumo a Deus. No dia 27 de setembro de 1970 o Papa Paulo VI
reconheceu-lhe o título de Doutora da Igreja. Sua festa litúrgica é no dia 15
de outubro. Santa Teresa de Ávila é considerada um dos maiores gênios que a
humanidade já produziu. Teresa de Cepeda y Ahumada nasceu no dia 28 de março de
1515, em uma nobre família de Ávila, na Espanha, filha de Alonso Sánchez de
Cepeda e Beatriz de Ahumada. Teve educação esmerada e muito cuidada pelos pais.
Gostava de ler histórias de Santos, chegando a fugir de casa com seu irmão para
dar a vida por Cristo tentando evangelizar os mouros. Sua mãe faleceu quando
Tereza tinha 14 anos. Então, seu pai a levou para estudar no Convento das
Agostinianas de Ávila. Aos 20 anos, decidiu-se pela vida religiosa, apesar da
resistência de seu pai. Acredita-se que ela tenha contraído malária, e a doença
fez com que ela ficasse em casa por três anos. Durante esse longo período, para
suportar as dores e o sofrimento da doença, a jovem Teresa se dedicou a ler
algumas obras cristãs, como “O Terceiro Alfabeto Espiritual”, do padre espanhol
Francisco de Osuna. O livro não era muito diferente de outras obras medievais
espanholas, que falavam sobre a espiritualidade. O livro ensinava a fazer
exercícios de contemplação interior, ou seja, técnicas que eram conhecidas na
época como orações mentais. Na obra, também havia instruções para exames de
consciência, avaliações e reflexões sobre os próprios atos. Seguindo essas
práticas, a jovem noviça finalmente conseguiu se recuperar da doença. Assim,
depois de três anos que ela havia interrompido seus estudos no convento, Teresa
voltou ao carmelo para assumir o hábito.
Após 25
anos no Carmelo pede permissão ao provincial, padre Gregório Fernandez para
fundar novas casas, com uma vida mais austera e com menos irmãs, visto que onde
ela morava haviam mais de 200 freiras. Apesar da maioria ter ido contra, Santa
Teresa continuou com sua missão fundando várias casas, com o apoio de dois
frades carmelitas, o superior Antonio de Jesus de Heredia, e Juan de Yepes,
(São João da Cruz). Conseguiu depois de muita luta a autorização de Roma para
separar a ordem das carmelitas descalças, (por usarem roupas rasgadas e
sandálias ao invés de sapatos e hábitos), das carmelitas calçadas, ordem a que
pertenciam. Deixou para São João da Cruz a missão de continuar fundando novos
conventos, escrevendo também a pedido de Santa Teresa, as regras para os
mosteiros masculinos. Realizou uma grande reforma na Ordem das Carmelitas
Descalças. Fundou vários conventos, (32 mosteiros, 17 femininos e 15
masculinos), com uma rígida forma de vida, trabalho e silêncio. Santa Teresa
foi considerada muito inteligente, e deixou várias obras escritas, como o Livro
da Vida, o Caminho da Perfeição, Moradas e Fundações entre outros. Com uma
forte doutrina que dirige a alma até uma espiritualidade com Deus, no centro do
Castelo Interior, com base na espiritualidade carmelita, que são os quatro degraus
da oração: o recolhimento, a quietação, a união e o arrebatamento. Um anjo
transpassou seu coração com uma seta de fogo, fato este que é comemorado pelo
Carmelo com a festa da Transverberação do coração de Santa Teresa, no dia 27 de
agosto. Tinha o dom de predizer o futuro e de ler as consciências das pessoas.
Das obras de Santa Teresa D'Ávila, a grande doutora da Igreja, o "Caminho
de Perfeição" é que mais pode auxiliar de forma prática aqueles que querem
iniciar a vida de oração. A bibliografia de Teresa tem início com o "Livro
da Vida", um registro autobiográfico, em que a santa revela os fenômenos
místicos com que foi agraciada por Deus. Esta obra foi censurada pela
Inquisição Espanhola, que não desejava que as carmelitas tivessem acesso a tais
informações. Portanto, o "Caminho de Perfeição" era o primeiro
escrito de Teresa que as monjas liam. Tomando por base os estudos históricos e
a sua própria autobiografia, sabemos que Teresa D'Ávila nasceu em uma família
de origem judaica que, porém, fazia questão de esconder sua conversão ao
catolicismo. Seus pais eram virtuosos e sua mãe faleceu logo cedo. Ela gostava
também de meditar sobre a vida eterna, com seu irmão Rodrigo. A ideia da
eternidade entusiasmou de tal forma as duas crianças que elas decidiram fugir
de Ávila e entregar-se aos mouros para serem degolados como mártires. Chegaram,
porém, tão somente ao portão da cidade, onde foram encontrados pelo tio e
levados de volta à casa paterna. Esse episódio mostra que ela teve uma infância
acalentada por ideais religiosos. Teresa, no entanto, adquiriu de sua mãe o mau
hábito de ler livros de romance. Com isso, ficou vaidosa e acabou se envolvendo
em namoricos com um primo. Quando o pai descobriu, não titubeou, colocou-a num
convento de agostinianas, o que lhe serviu de correção. No convento, conheceu
uma monja que, instigando-a a récita do Santo Terço, lhe ensinou a rezar
novamente e fez renascer nela o ardor perdido na adolescência, a ponto de
Teresa considerar a possibilidade de entrar na vida religiosa. Todavia, a santa
tinha certa aversão à ideia de ir definitivamente para o convento e ainda
desejava casar-se. Decidiu-se pela vida religiosa quando raciocinou que seu
desejo maior era ir para o céu e que o melhor modo de isso ocorrer era se
tornando monja. O "Livro da Vida" havia sido censurado pela
Inquisição, como já foi dito, pois o Santo Ofício não queria que as monjas
tivessem conhecimento dos fenômenos místicos da Santa Madre, para não
incentivá-las. Assim, o primeiro manuscrito do "Caminho de Perfeição"
foi escrito para as primeiras doze monjas do Carmelo de São José, num estilo
muito tranquilo, bonito, familiar e desenvolto, porque ela tinha certeza de que
não sairia dali. Ela chamava o "Livro da Vida" de "o livro"
e o "Caminho de Perfeição" de "livrinho". O Carmelo de São
José "floresceu" em novas fundações. E Santa Teresa, prudente que
era, entregou o livrinho para um frei dominicano seu amigo e que também era
inquisidor. Ele censurou e melhorou o livro, de modo que Santa Teresa o reescreveu.
Embora haja duas versões do livro, a mais comum é a chamada
"oficial", pois foi revisada e reescrita pela própria santa. O livro
pode ser dividido, grosso modo, em três partes. Nos capítulos 1 e 3, a santa dá
a identidade das carmelitas, a finalidade do Carmelo São José. Depois ela fala
sobre as virtudes necessárias para viver a vida de oração e, finalmente, a vida
de oração propriamente dita, onde ela, mui livremente, comenta o Pai Nosso.
Santa Teresa não se sentia poeta, nem achava que escrevia com o intelecto ou,
para usar a palavra que ela usa, com o “entendimento”. Ela percebia que
escrevia com o sentimento, com a alma e com o corpo. Sobre isto se costuma
citar o texto de Teresa no qual ela diz que conhece uma pessoa que não sendo
poeta, podia escrever versos (coplas) com muito sentimento e expressar bem seu
penar. É claro que essa pessoa é ela, Teresa (Conferir: Libro de La Vida,
16,3). Sua inspiração poética vinha do amor que Teresa sentia por Deus. Era
embriaguez e êxtases. Transe e ímpeto. Ela tinha um dom natural para a poesia,
ou melhor, dito, para o poético. Por isso na sua poesia não mostra muita
preocupação com aspetos formais ou acadêmicos. Isto vale também para a prosa.
Seus textos são espontâneos, singelos, simples. Marcelino Menéndez y Pelayo
(1856-1912) em seu conhecido e citado artigo “De la poesía mística”, escreveu
que todos os místicos espanhóis são poetas, mesmo escrevendo em prosa. E que em
Santa Teresa esta característica é mais forte que em outros. As estrofes que
servem de cabeçalho aos poemas de Teresa, que se repetem durante o poema, são
os de melhor qualidade poética. Especialmente porque ficam em nossa memória e
os podemos repetir sempre. Por isso são também as partes mais famosas. O grande
exemplo disto é "Vivo sin vivir en mi". Doutora Teresa igualmente aos
outros místicos espanhóis escreveu parte de seu pensamento em poesia. Esta
poesia carece de beleza formal, porém está cheia de um ímpeto amoroso que
ninguém na Espanha conseguiu igualar.
Os motivos que a levam a escrever são motivos religiosos. Canções de
natal, canções para as diferentes datas do ano litúrgico,
"villancicos". Muitas vezes ela escreveu para animar suas irmãs
freiras, ou para alegrá-las.A alegria, embora sempre sob um fundo de tristeza,
era uma de suas características, e possivelmente, muitas de suas poesias, que
eram letras de canções, tinham por finalidade passar para as outras freiras
essa alegria. Lamentavelmente quase toda sua obra poética hoje está perdida.
Oito anos antes de morrer, foi lhe revelado a hora de sua morte, aumentando
mais ainda o seu amor a Deus e as orações. Santa Teresa morreu no dia 4 de
outubro de 1582, com 67 anos. Depois de uma viagem para encontrar com a Duquesa
Maria Henriques, ficou por três dias de cama, pois estava bem debilitada, e disse
a Beata Ana de São Bartolomeu: "Finalmente, minha filha, chegou a hora da
minha morte." E na hora de sua morte ela disse: "Oh, senhor, por fim
chegou a hora de nos vermos face a face."
Foi sepultada em Alba de Tormes, onde estão suas relíquias. Depois de
sua morte e até os dias de hoje, seu corpo exala um perfume de rosas, e se
conserva intacto, (incorruptível). Seu coração conservado em um relicário, em
Alba, na igreja das Carmelitas, tem uma profunda ferida, de quando foi marcado
pelo anjo. Em 1622, quarenta anos depois de sua morte, Teresa foi canonizada
por Gregório XV. Cinco anos antes, as Cortes Generales já haviam escolhido
Teresa como padroeira da Espanha ao mesmo tempo em que a Universidade de
Salamanca conferiu-lhe o diploma de Doctor ecclesiae. Este título, que
significa "doutor da Igreja", é diferente da honraria Papal de
"Doutor da Igreja", que é sempre conferido postumamente e que foi
finalmente agraciado a Teresa pelo Papa Paulo VI em 27 de dezembro de 1970, a
mesma data que Santa Catarina de Siena recebeu o título que fez das duas as
primeiras doutoras da história da Igreja Católica.
O
INFERNO, SEGUNDO SANTA TERESA D'ÁVILA
"Estando
um dia em oração, achei-me de repente, sem saber como e segundo me parece, toda
metida no Inferno. Entendi que o Senhor queria que eu visse o lugar que os
demônios lá me tinham preparado, e que eu havia merecido pelos meus pecados.
Foi de brevíssima duração, mas, embora tivesse sido já há muitos anos,
parece-me impossível esquecê-lo. A entrada (do Inferno) pareceu-me à maneira
dum beco muito comprido e estreito, semelhante a um forno muito baixo, escuro e
apertado. O chão pareceu-me de água com lodo muito sujo e de cheiro
nauseabundo, cheio de lagartixas peçonhentas. No fundo, havia uma concavidade aberta
numa parede, à maneira dum armário, onde me vi metida com muito aperto. Tudo
isso, porém, eram deleites, em comparação com o que ali vi e senti. Senti um
grande fogo na alma, que não entendo como se pode dizer e de que maneira ele é.
As dores corporais são tão insuportáveis, que eu, nesta vida, apesar de já as
ter sofrido tão intensamente, tudo isso é nada em comparação com o que ali
senti. E segundo dizem os médicos, tive dos maiores sofrimentos que neste mundo
se poderão padecer. Foi por terem-se me encolhido os nervos, ficando entrevada,
além doutros tormentos diversos e muito variados, tendo sido alguns, como tenho
dito, causados pelo Demônio. Pois tudo isso foi nada, em comparação com o que
ali [no Inferno] vi e senti, sabendo que essas penas não mais haviam de ter
fim. E no agonizar da alma: um aperto, uma sufocação, uma aflição tão sensível
e com tão desesperado e aflitivo descontentamento, que eu não sei explicar.
Porque o dizer que isso é uma sensação de ver arrancada a alma, é pouco, por
assim parecer-nos que alguém põe termo à vida; mas ali é a própria alma que se
despedaça continuamente, para sempre. O fato é que eu não sei como entender
aquele fogo interior e aquele desespero, sobrepostos a tão gravíssimos
tormentos e dores. Não percebia como assim tanto sofria, mas sentia-me a ser
queimada e retalhada, ao que me parece; e digo que aqueles fogo e desespero
interior são os mais dolorosos. Estando em tão pestilencial lugar, tão
desesperada de toda a consolação, não havia como sentar-me ou deitar-me, não
havia um sítio espaçoso, porque puseram-me nesta espécie de buraco feito na
parede; porquanto estas paredes, que são espantosas à vista, apertam por si
mesmas e tudo sufocam. Não há luz, pois tudo são trevas escuríssimas. Eu não
entendo como pode ser isto, porque, não havendo luz, vê-se tudo o que à vista
pode causar horror. Não quis o Senhor que eu, então, visse mais nada de todo o
Inferno; porém, depois tive outra visão de coisas terríveis, sobre o castigo de
alguns vícios. Quanto à vista, pareceu-me ainda muito mais espantoso, mas como
não sentia o tormento, não me causara tanto horror como na visão anterior, em
que o Senhor quis que eu verdadeiramente sentisse aquelas dores e aflições no
espírito, como se o corpo também as estivesse a padecer. Não sei como foi isso,
mas bem compreendi ser grande mercê, pois o Senhor quis apenas que eu sentisse,
numa visão brevíssima, do que me tinha livrado as Suas infinitas Misericórdia e
Justiça. Porque não é nada somente ouvir falar disso, nem por eu já ter meditado
sobre esses tormentos - embora poucas vezes o fizesse, que só pelo caminho do
temor não vai bem a alma -, nem sequer por os demônios atenazarem-me com vários
suplícios que tenho padecido. Não, nada há como as penas infernais, porque se
trata doutra coisa (imensamente pior). Enfim, são tão diferentes como a pintura
o é da realidade; ou seja, o queimar-se aqui no mundo é muito pouco, em
comparação com esse fogo de lá... E assim, não me recordo que tenha sofrido
tribulações e dores, mesmo das maiores que na terra se podem padecer, que não
passem de ninharias, comparativamente; pelo que julgo que, em grande parte, nos
queixamos demasiado e sem razão. Portanto, volto a dizer que isso foi uma das
maiores mercês que o Senhor me tem concedido, o que me tem aproveitado
muitíssimo, tanto para perder o medo de todas as tribulações e provações desta
vida, como para esforçar-me a suportá-las com paciência e resignação, dando por
isso muitas graças ao Senhor, que me livrou assim, ao que agora me parece, de
penas e sofrimentos imensamente maiores, tão horríveis e perpétuos. De então
para cá, como digo, o pior deste mundo parece-me fácil e aprazível, em
comparação com o dolorosíssimo momento que no Inferno eu vi e padeci. Tendo
lido muitas vezes livros que dão algumas ideias aproximadas das penas do
Inferno, espanta-me deveras como não as temia suficientemente, preocupando-me
muito pouco com a sua verdadeira natureza e realidade. Deste modo, sinto imensa
pena das almas que se podem condenar eternamente - dos protestantes em
especial, porque já eram, pelo Batismo, membros da Igreja -, obtendo assim
grande zelo de salvar almas, de tal modo me parece certo que, para livrar uma
só alma de tão gravíssimos e eternos tormentos, padeceria muitas vidas e mortes
de boa vontade. "
226
. 2 - Aparição de Nossa Senhora da Boa Saúde - Índia
A
Basílica de Nossa Senhora da Boa Saúde, também conhecida como Santuário de Nossa
Senhora de Vailankanni, é um Santuário mariano localizado na pequena cidade de
Velankanni em Tamil Nadu, no sul da Índia. A Basílica Católica Romana de Rito
Latino é dedicada a Nossa Senhora da Boa Saúde. A devoção a Nossa Senhora da
Boa Saúde de Velankanni remonta a meados do século XVI e é atribuída a três
milagres distintos nos locais em torno da Basílica: A aparição da
Bem-aventurada Maria e do Menino Jesus a um pastor adormecido, a cura de um
vendedor de leitelho deficiente e o resgate de marinheiros portugueses de uma
tempestade marítima mortal. Esses relatos são considerados conhecimentos orais,
aparentemente sem nenhum registro escrito ou fontes comprovadas para apoiá-los.
Inicialmente, apenas uma capela simples e modesta foi construída pelos
marinheiros portugueses que desembarcaram em segurança. Mais de 500 anos
depois, o festival e a celebração de nove dias ainda são observados e atraem
quase 5 milhões de peregrinos a cada ano. O Santuário de Nossa Senhora de
Vailankanni é também conhecido como "a Lourdes do Oriente" porque é
um dos centros de peregrinação mais frequentados da Índia.
A primeira aparição mariana teria ocorrido em
maio de 1570, quando um pastor local estava entregando leite em uma casa
próxima. No caminho ele conheceu uma linda mulher segurando uma criança, que
pediu um pouco de leite para o pequeno. Depois de dar-lhe o leite, ele
continuou seu caminho e, ao fazer a entrega, descobriu que a jarra agora estava
completamente cheia de leite fresco. Um pequeno santuário foi construído
próximo ao local onde o menino encontrou a mulher, local que passou a se chamar
Matha Kulam, que significa Lago de Nossa Senhora.
A
segunda aparição mariana teria acontecido em 1597, não muito longe de Matha
Kulam. Uma bela mulher com um menino nos braços apareceu a um menino aleijado
vendendo leitelho. O menino pediu um pouco de leitelho e, depois que ele bebeu,
a mulher pediu ao menino que vendia leitelho para visitar um senhor na cidade
vizinha e pedir-lhe que construísse uma capela em sua homenagem naquele local.
O menino saiu rapidamente e percebeu que não era mais coxo. Rapidamente foi
construída uma pequena capela de palha em homenagem a Nossa Senhora da Saúde,
chamada em Tamil de "Arokia Matha".
O
terceiro incidente ocorreu quando um navio português que navegava de Macau para
o Sri Lanka foi apanhado por uma tempestade na baía de Bengala. Eles invocaram
a ajuda da Santíssima Virgem com o título de "Estrela do Mar". A
tempestade diminuiu e os 150 homens a bordo foram salvos. Era 8 de setembro,
festa da Natividade de Maria. Em ação de graças, os marinheiros reconstruíram o
Santuário de Nossa Senhora da Boa Saúde, e continuaram a aumentá-lo sempre que
suas viagens os trouxeram para a área. O Santuário, que começou como uma capela
de palha em meados do século XVI, tornou-se uma igreja paroquial em 1771,
quando os católicos na Índia estavam sob perseguição dos holandeses. Mais
tarde, em 1962, foi concedido um status especial de Basílica Menor pelo Papa
João XXIII. O Santuário de Vailankanni foi elevado à categoria de 'Basílica
Menor' e fundido com a Basílica de Santa Maria Maior em Roma em 3 de novembro
de 1962 pelo Papa João XXIII.
INÍCIO
DO CALENDÁRIO GREGORIANO
227º
- Gregório XIII - 1572 – 1585
Papa
Gregório XIII (7 de janeiro de 1502 - 10 de abril de 1585), nascido Ugo
Boncompagni, era o chefe da Igreja Católica e regente dos Estados Papais a
partir de 13 de maio de 1572 até sua morte em 1585. Ele é mais conhecido por
comissionamento e ser o homônimo do calendário gregoriano, que continua sendo o
calendário civil internacionalmente aceito até hoje. Uma vez na presidência de
São Pedro, as preocupações mundanas de Gregório XIII se tornaram secundárias e
ele se dedicou à reforma da Igreja Católica. Ele se comprometeu a colocar em
prática as recomendações do Concílio de Trento. Não permitiu exceções para os
Cardeais à regra de que os Bispos deveriam residir em suas casas e designou um
comitê para atualizar o Index Librorum Prohibitorum. Ele era o Patrono de uma
edição nova e bastante aprimorada do Corpus juris canonici. Em uma época de
considerável centralização do poder, Gregório XIII aboliu os Consistórios dos
Cardeais, substituindo-os por faculdades e nomeando tarefas específicas para
essas faculdades trabalharem. Ele era conhecido por ter uma feroz
independência; alguns confidentes notaram que ele não aceitava intervenções nem
buscava conselhos. O poder do Papado aumentou sob ele, enquanto a influência e
o poder dos Cardeais diminuíram substancialmente. Também digno de nota é o
estabelecimento das Carmelitas Descalças, uma ramificação da Ordem Carmelita,
como uma unidade ou "província" distinta na primeira pelo decreto
"Pia considere" de 22 de junho de 1580, terminando um período de
grande dificuldade e permitindo que o primeiro se torne uma ordem religiosa
significativa na Igreja Católica.
O Calendário Gregoriano
O Papa
Gregório XIII é mais conhecido por ter instituído o calendário depois de ter
sido inicialmente criado pelo médico astrônomo Luigi Giglio e com a ajuda do
padre astrônomo jesuíta Cristóvão Clávio, que fez as modificações finais. O
motivo da reforma foi que a duração média do ano no Calendário juliano era
muito longa - pois tratava todos os anos 365 dias, 6 horas de duração, enquanto
os cálculos mostraram que a duração média real de um ano é um pouco menor (365
dias, 5 horas e 49 minutos). Como resultado, a data do equinócio vernal caiu
lentamente (ao longo de 13 séculos) para 10 de março, enquanto o cálculo da
data da Páscoa ainda segue a data tradicional de 21 de março. Isso foi
verificado pelas observações de Clavius, e o novo calendário foi instituído
quando Gregório decretou, pela bula Papal Inter gravíssimas de 24 de fevereiro
de 1582, que o dia seguinte à quinta-feira, 4 de outubro de 1582, não seria
sexta-feira, 5 de outubro, mas sexta-feira, 15 de outubro de 1582. O novo
calendário substituiu devidamente o calendário juliano em uso desde 45 a.C., e
desde então entrou em uso quase universal. Por causa do envolvimento de
Gregório, o calendário juliano reformado passou a ser conhecido como calendário
gregoriano. A transição foi amargamente contestada por grande parte da
população, que temia que fosse uma tentativa dos proprietários de enganá-los
com uma semana e meia de aluguel. No entanto, os países católicos da Espanha,
Portugal, Polônia e Itália cumpriram. A França, alguns estados da República
Holandesa e vários estados católicos na Alemanha e na Suíça (ambos os países
foram divididos religiosamente) seguiram o exemplo em um ano ou dois, a Áustria
e a Hungria seguiram em 1587. No entanto, mais de um século se passou antes que
a Europa protestante aceitasse o novo calendário. A Dinamarca, os demais
estados da República Holandesa e os estados protestantes do Sacro Império
Romano-Germânico e Suíça, adotaram a reforma gregoriana em c.1700. Naquela
época, o calendário registrava as estações em 11 dias. A Grã-Bretanha e suas
colônias americanas adotaram o calendário reformado em 1752, onde quarta-feira,
2 de setembro de 1752, foi imediatamente seguida pela quinta-feira, 14 de
setembro de 1752; a eles se juntou a última manifestação protestante, a Suécia,
em 1 de março de 1753. O calendário gregoriano não foi aceito na cristandade
oriental por várias centenas de anos, somente como calendário civil.
ERRO NO CALENDÁRIO GREGORIANO
Os Evangelhos não foram escritos
visando relatos cronísticos e biográficos, mas tão somente propagar o eco da
pregação Apostólica da mensagem salvífica. Mas, as especulações de
pesquisadores e até mesmo de falsos intelectuais surgem a todo o momento a
indagar quando verdadeiramente teria nascido Jesus. Para estabelecer tão magna
data, tomou-se por base Mt 2, 16, narrando a morte dos inocentes da Judeia, a
mando de Herodes, fato que daria o nascimento de Jesus dois anos antes,
contando-se que Herodes morreu no ano de 749/750 de Roma, que compreenderia
quatro anos antes a.C., não d.C. A visitação dos magos ou sábios, estudiosos
dos astros que entenderam o sinal luminoso como “aviso” do nascimento de um grande
rei. Segundo Kleper, foi o resultado da conjugação dos planetas Júpiter e Saturno
que teria acontecido em 747 de Roma, portanto, 7.a.C.
O abade Diunysus Exiguus,
chamado “o pequeno” calculou que Jesus iniciou sua vida pública no 15o ano do
reinado de Tibério César, contando mais ou menos trinta anos de idade (Os textos
sagrados assim não o mencionam), logo fixa que Jesus nascera no ano 753 de
Roma, sendo o “ano 1” da era cristã.
Mas, consideram os historiados
que Herodes morreu no ano de 749/750 de Roma, ou seja 4 a 6 anos antes da era
cristã, quando vigorava, no Império Romano e seus domínios o Calendário
Juliano, dado em Roma no ano de 46 a.C. Calendário este que vigorou até o
Pontificado de Gregório XII que acatou as orientações do astrônomo bávaro
Chrtistoforus Clavius, publicando a bula Papal “Inter gravíssimas” editada em
24.02.1582 que foi imediatamente acatada pelo mundo católico, hoje, pelo resto
do mundo.
Acontece, todavia, que
Christoforus aceitara o cálculo de Dionísio sob o ponto de vista que Herodes
morrera em 749/750 de Roma, não objetando que equivaleria a 4, talvez 6 anos
antes do nascimento de Jesus. Foi um cálculo precipitado, deixando de lado
outros elementos fornecidos pelos Evangelhos. De fato, Herodes morreu quatro
anos antes da data tida como o nascimento de Jesus, donde se vê que Jesus
nascera, sim, em data de 6 anos antes do que é dito. Ninguém questionava tais
cálculos, cabendo a Pio XII que pontificou entre 1939 à 1958, vir a público e
afirmar que houve, sim, um erro de cálculo em Dionísio, e, assim, Jesus teria
nascido seis anos antes da data fixada pelo Calendário Gregoriano.
Quanto ao dia do nascimento de Jesus: “Amigos,
aqui, na noite do dia 25 das encênias, da Virgem nasceu Jesus Cristo, O
Emanuel, o Verbo de Deus feito carne por amor do homem: Eu que vos falo.” (Encênias é a festa das luzes realizada sempre no final de
cada ano Judaico, que corresponde ao mês de dezembro do calendário Gregoriano)
E completa: “Vinde
sobre o feno. Ouvi: Estando a Mãe já perto do tempo de dar a luz, foi, por
ordem de César Augusto, feito um edito pelo delegado Imperial Públio Sulpício
Quirino, quando era governador da Palestina Sêncio Saturnino. O edito era: que
se fizesse o recenseamento de todos os habitantes do Império. Aqueles que não
fossem escravos deviam ir para os seus lugares de origem, para se inscreverem
nos registros do Império. José, esposo da Mãe, era da estirpe de Davi, e de
Davi era a Mãe. Obedecendo por isso ao edito, deixaram Nazaré para virem até
Belém, berço da estirpe real.” (Maria Valtorta-Vol 1)
227
. 1 - Aparição de Nossa Senhora do Fetal – 1580 – Portugal – Batalha -Reguendo
do Fetal
A
história começa com uma pastorinha que apascentava o seu rebanho pelas encostas
áridas e ermas do Reguengo (Terra do Rei), num ano de grande e apertada estiagem,
quando andava num dos cabeços, onde agora se situa o Santuário de Nossa Senhora
do Fetal, cheia de fome e as suas ovelhinhas só com pele e osso, por não haver
quaisquer verduras para comerem, encheu-se de tristeza e começou a chorar. Ao
erguer do regaço o rosto magoado e com os olhos inundados de lágrimas, viu com
surpresa no meio de um tufo de fetos, uma estranha Senhora que travou com ela o
seguinte diálogo: "Porque choras tu minha menina?”
-Tenho fome.
– “Então vai pedir pão à tua mãe.”
- Já lhe pedi, mas ela não o tem.
“Vai a tua casa, vai e diz-lhe que dê pão.
Diz-lhe que foi uma mulher que te mandou, porque há pão lá em casa.”
Obedecendo a pastorinha foi a casa, tendo então
verificado que a arca se encontrava inexplicavelmente cheia de saboroso e
fresco pão, que mais parecia ter sido feito por mãos de anjos do que por mão de
hábil padeiro. Voltando ao local, onde a Senhora lhe tinha aparecido, já
satisfeita e alegre, pôde voltar a dialogar, recebendo a seguinte mensagem: "Diz
à gente do teu lugar que eu sou a Mãe de Deus e, quero que neste sítio seja
edificada uma ermida para ser louvada e venerada.”
Ao ser
espalhada a fama do acontecimento, começaram a acorrer grandes multidões, que
acharam naquele sítio, uma pequenina e Misteriosa Imagem de Nossa Senhora e,
junto dela uma fonte miraculosa, em cujas águas começaram a alcançar Graças do
Céu. Então, o povo começou a construção da ermita pedida por Maria, hoje
denominada: Santuário de Nossa Senhora do Fetal. A Festa em Honra de Nossa Senhora
do Fetal realiza-se no mês de Outubro.
227
. 2 - São Camilo de Léllis
São
Camilo de Léllis (Bucchianico, 25 de maio de 1550 — Roma, 14 de julho de 1614)
foi um religioso italiano, fundador da Ordem dos Ministros dos Enfermos
(Camilianos). É venerado como Santo da Igreja Católica e é considerado protetor
dos enfermos e dos hospitais. Pertencente de uma nobre e tradicional família,
Camilo de Léllis foi militar e pelo seu caráter, expulso da tropa. Viciado em
jogo, levava uma vida profana e decadente. Perdeu todos os seus bens. No
momento mais melancólico de sua vida, em uma situação de mendicância, Camilo
foi tocado pela graça divina, arrependendo-se de todos os seus pecados,
passando a dedicar sua vida a servir, por espírito de caridade, aos doentes
pobres em hospitais. E diante de tanta dedicação, fundou a "Companhia dos
Servidores dos Enfermos", conhecidos como Camilianos. E não é por menos
que tornou-se patrono dos enfermos e dos hospitais.
Seu sobrenome remonta à história da
igreja, época do Bispo Teodoro de Léllis. Todavia, Camilo de Léllis fez a
própria história e deixou sua fé e sua dedicação aos enfermos disseminadas por
todo o mundo. São Camilo era italiano dos Abruzos, mais precisamente da
localidade de Bucchianico. Em 1550, ano de seu nascimento, sua família
carregava no sangue virtude, coragem e brio dos que lutaram nas Cruzadas. Seu
nascimento coroou o casamento de tantos anos da senhora Camila, a mãe, que até
os 60 anos de idade não tinha conseguido dar um herdeiro ao esposo João.
Foi com
17 anos que Camilo alistou-se como voluntário no exército da República de
Veneza. Naquela época, pôde conviver com o drama dos enfermos que agonizavam
diante de várias doenças. Foi dessa época também que Camilo passou a viver com
uma dolorosa úlcera no pé, que o acompanhou até o último dia de vida. Nesse
período, também sofreu a perda do pai e sua vida enveredou-se para os prazeres
mundanos, como o da jogatina. A vida de
Camilo mudou completamente. Sofreu diante da falta de condições financeiras e
de saúde. Doente, não conseguiu local para internar-se, o que o fez partir para
Roma, pedindo auxílio no Hospital Santiago, justamente para tratar da chaga no
pé direito. Camilo não tinha dinheiro para pagar o tratamento e ofereceu-se
para trabalhos de servente e de enfermeiro. Mal cicatrizada a ferida, Camilo,
sem nenhum recurso financeiro, soube que o país recrutava voluntários para
combater os turcos do Império Otomano, em frequente conflito com Veneza. E lá
foi ele. Não parou tão cedo. Em 1573, quase restabelecido economicamente,
Camilo, mais uma vez, rendeu-se aos prazeres mundanos e atirou-se aos jogos.
Perdeu tudo, reduzido à miséria. Retornou a Nápoles e prometeu se fazer
religioso franciscano. Um ano depois, Camilo esqueceu-se do voto que fizera de
se tornar religioso franciscano e mergulhou novamente no jogo. O jogo e a
bebida tornaram-se vícios em sua vida. Ficou novamente na miséria. Partiu para
Veneza. Passou frio e fome. Não tinha onde morar, nem dormir. Em uma das
derrotas no jogo, deu como pagamento a própria camisa. Depois de muito
perambular, conseguiu abrigo no convento dos capuchinhos, momento em que
lembrou do voto de tornar-se religioso. Converteu-se realmente.
Camilo retornou ao Hospital Santiago,
desta vez como mestre da casa. Apesar de doente, tratou dos enfermos como de
si. Em 1581, com a saúde precária, decide tratar dos doentes gratuitamente. Na
época, Camilo foi levado a agir assim diante da exploração, desonestidade e
falta de escrúpulos dos médicos para com os doentes. Em 1582, Camilo teve a
primeira inspiração de instituir uma companhia de homens piedosos que
aceitassem, generosamente, a missão de socorrer os pobres enfermos, sem
preocupação de recompensa. O Papa Sisto V aprovou os regulamentos da companhia
em 18 de março de 1586. Aos 32 anos voltou aos estudos sob orientação de São
Filipe Néri, sendo ordenado Sacerdote aos 34 anos. A sua companhia rapidamente
se distinguiu pela caridade no tratamento de doentes, em 21 de setembro de
1591, o Papa Gregório XIV a reconheceu como ordem religiosa. Em 8 de dezembro
de 1591, Camilo e seus companheiros fizeram a sua profissão de fé, incluindo um
quarto voto de dedicação aos doentes, ainda que com risco de sua própria vida. Na
guerra que logo em seguida houve na Hungria, os camilianos trabalharam como
primeira unidade médica de campo, cuidando dos feridos. Não bastou a Camilo
tomar consigo apenas bons enfermeiros e alguns até médicos, os doentes careciam
também de assistência religiosa. É evidente que a alma bem cuidada dispõe
melhor o corpo para suportar os sofrimentos e sobrepor-se à doença. Vale destacar
que antes de ser Santo, Camilo não tinha qualquer ligação de fé no Senhor.
Segundo
relato de um companheiro, Camilo contemplava nos doentes, com tão sentida
emoção, a pessoa de Cristo que, muitas vezes, quando lhes dava de comer,
pensando serem outros cristos, chegava a pedir-lhes a graça e o perdão dos
pecados. Mantinha-se diante deles com tanto respeito, como se estivesse
realmente na presença do Senhor. De nada falava com mais frequência e com mais
fervor do que da Santa caridade. O seu desejo era imprimi-la no coração de
todos os homens". Muito doente, Camilo renunciou em 1607 ao cargo de
Superior Geral de sua Ordem Religiosa. Faleceu em Roma aos 14 de julho de 1614.
Sua festa é celebrada aos 14 de julho, data de sua morte. Nos primeiros dias de
julho de 1614, já no seu leito de morte, recebeu a última comunhão e deixou as
seguintes recomendações: "Observai bem as regras. Haja entre vós uma
grande união e muito amor. Amai, e muito, a nossa Ordem, e dedicai-vos ao
apostolado dos enfermos. Trabalhai com muita alegria nesta vinha do Senhor. Se
Deus me levar para o Céu, vos hei de ajudar muito de lá. As perseguições que
sofreu nossa obra vieram do ódio que o demônio tem ao ver quantas almas lhe
escaparam pelas garras. E já que Deus se serviu de mim, vilíssimo pecador para
fundar miraculosamente esta Ordem, Ele há de propagá-las para o bem de muitas
almas pelo mundo inteiro. Meus padres e queridos irmãos: eu peço misericórdia a
Deus e perdão ao padre Geral aqui presente e a todos vós, de todo mau exemplo
que eu pudesse ter dado, talvez mais pela minha ignorância, do que pela má
vontade. Enfim, eu vos concedo da parte de Deus, como vosso Pai, em nome da
Santíssima Trindade e da bem-aventurada Virgem Maria, a vós aqui presentes, aos
ausentes e aos futuros, mil bênçãos". Seu féretro foi marcado por muita
comoção e acompanhado por uma multidão. Mas um milagre era visto naquele dia:
enquanto preparavam o corpo de Camilo para o funeral, os médicos, estarrecidos,
notaram que a chaga havia desaparecido. Em 1746, durante uma festa dos Santos
Apóstolos Pedro e Paulo, o Papa Bento XIV, no dia 29 de junho, declara Santo o
nome de Camilo de Lellis. Em 1886, o Papa Leão XIII declarou São Camilo,
juntamente com São João de Deus, Celestes protetores de todos os enfermos e
hospitais do mundo católico.
228º
- Sisto V - 1585 - 1590
28 de setembro de 1586:
Domenico Fontana terminou com sucesso a reconstrução do Obelisco do Vaticano em
seu local atual na Praça de São Pedro. Aclamado como uma grande conquista
técnica de seu tempo.
Nascido
na cidade italiana de Grottammare no dia 15 de dezembro de 1521, Felice Peretti
vivenciou um momento de grandes novidades para a sociedade cristã europeia. O
século XVI ofereceu grandes renovações ao homem na forma de encarar o mundo. A
descoberta de um novo continente, os ideais da Renascença e o questionamento à
Igreja Católica, tudo isso contribuiu para o teor de uma nova era. Felice
Peretti conviveu com todos esses elementos, interagindo diretamente com eles.
Como homem religioso, foi membro dos tribunais da Inquisição, atuando com
determinação e severidade, o que o levou a ser conselheiro inquisitorial do Papa
Pio IV em Veneza. Felice Peretti construiu sua reputação de religioso ativo e
determinado, um inquisidor severo e defensor dos dogmas da Igreja. Foi um
perseguidor implacável dos malfeitores, das prostitutas, dos menores ladrões e
de outros grupos minoritários e fracos na sociedade. Seu perfil sério e
determinado o tornou o preferido para suceder o Papa Gregório XIII. Via-se em
Felice o salvador da Itália que havia sido invadida e ocupada por bandidos no Pontificado
anterior. Assim, Felice Peretti foi eleito Papa no dia 24 de abril de 1585 e
assumiu o nome de Sisto V. Não se preocupou apenas com o território italiano,
mas também com a Inglaterra, onde tentou derrubar a rainha Isabel I. A
Inglaterra abandonara a Igreja Católica desde o reinado de Henrique VIII. Este
rompeu com o Papado de Roma para se tornar o líder máximo do cristianismo em
seu país, desde então a Inglaterra se tornou Anglicana. Embora a própria filha
de Henrique VIII, Lady Mary, tenha tentado reaver o catolicismo e empreendido
uma grande perseguição aos chamados reformadores luteranos, ela não obteve
êxito. A Inglaterra continuou independente em relação ao Papado romano e isto
enfurecia muito o severo Papa Sisto V. Este tentou reunir as nações cristãs
europeias para restabelecer o catolicismo na Inglaterra, seguindo um modelo
das antigas Cruzadas, porém não foi bem sucedido. Sisto V percebeu que a
condição da Inglaterra não era um interesse direto das demais nações. Ainda
assim, Sisto V se esforçou para convencer o rei da Espanha, Felipe II, a
iniciar uma guerra contra a Inglaterra. O Papa fez de tudo para demonstrar que
havia razão para uma guerra. Felipe II recusou, inicialmente. Entretanto o rei
espanhol resolveu enviar sua Armada em 1588 em um ataque contra a Inglaterra. A
derrota espanhola foi massacrante e, por sorte, o próprio Papa Sisto V
conseguiu sobreviver. Sisto viveria só dois anos mais, seu Papado foi, desde
seu início, intolerante, severo e perseguidor de diferentes concepções religiosas
ou de práticas que ferissem os ditos dogmas católicos. Sisto V mandou construir
uma estátua em sua própria homenagem no Capitólio, pois sabia que sua reputação
de religioso severo desagradava o povo e este não lhe prestaria homenagem após
sua morte. Tão certo estava que sua estátua foi logo derrubada pelos romanos. Sisto
V permaneceu apenas cinco anos como Supremo Pontífice da Igreja Católica, mas
foi o suficiente para deixar seu nome marcado na história. Severo defensor dos
ideais católicos, faleceu no dia 27 de agosto de 1590, aos 68 anos de idade.
229º
- Urbano VII - 1590
Urbano
VII, nascido Giovanni Battista Castagna (Roma, 4 de agosto de 1521 – Roma, 27
de setembro de 1590), foi Papa da Igreja Católica de 15 de setembro de 1590 a
27 de setembro do mesmo ano. O seu Pontificado, que durou apenas doze dias, é o
mais curto da história da Igreja Católica. Em 1590, o Cardeal Castagna participou
do conclave que o elegeu Pontífice. É certo que a sua eleição para o Papado foi
amplamente apoiada pela facção espanhola, dando continuidade a uma tradição que
agora tendia a preferir representantes da nobreza curial em vez de membros de
famílias romanas poderosas para a eleição ao trono de Pedro. Foi escolhido como
sucessor de Sisto V em 15 de setembro de 1590, propondo-se desde o início como
fiel executor dos decretos tridentinos e continuador da política de restauração
inaugurada pelo seu antecessor. No dia 18 de setembro adoeceu com malária, o
que o levou à morte pouco antes da meia-noite do dia 27 de setembro do mesmo
mês da sua eleição, ainda antes de ter sido solenemente coroado. Após sua
morte, um túmulo foi criado para ele na Basílica de São Pedro, no Vaticano, com
uma oração fúnebre proferida por Pompeo Ugonio. Em 21 de setembro de 1606, seus
restos mortais foram transferidos para a igreja romana de Santa Maria sopra
Minerva, onde estava sediada a Confraternita dell'Annunziata, à qual o próprio
Urbano VII, em suas disposições testamentárias, havia deixado 30.000 escudos de
seu patrimônio pessoal.
230º
- Gregório XIV - 1590 - 1591
Papa da
Igreja Católica Romana nascido em Somma Lombardo, Varese, a norte de Milão, na
Lombardia italiana, Noccolô Sfondrati eleito Papa em 8 de dezembro, dois meses
e meio após a morte de Urbano VII, adotou o nome de Gregório, que significa: o
que vigia. Filho de um senador milanês, optou pela carreira eclesiástica e
estudou teologia nas universidades de Perúgia e Pádua e, ordenado padre foi
logo nomeado Bispo de Cremona em1560. Participou do Concílio de Trento
(1561-1563) e tornou-se Cardeal de Santa Cecília (1583) sob Gregório XIII.
Homem honesto e de natureza ascética, foi escolhido para suceder o Papa Urbano
VII, mas em sua boa fé, foi enganado por conselheiros pouco competentes.
Confirmou o direito de asilo nas embaixadas perto da Santa Sé, mas devido às
suas consequências no campo jurídico durante pelo menos dois séculos, a bula
promulgada por ele estendia o direito de asilo de forma tão ampla a ponto de
suscitar a oposição da autoridade política. Em seu curto Pontificado destinou
imensas somas à Liga Católica na França, apoiando a luta contra o rei Henrique
IV, excomungado por ter entrado em acordo com os protestantes. Veio a falecer
em Roma, apenas dez meses e oito dias após iniciar seu Papado e foi substituído
por Inocêncio IX.
231º
- Inocêncio IX - 1591
Papa
Igreja cristã Romana, nascido em Bolonha, Giovanni A. Facchinetti eleito em 3
de novembro de 1591, como sucessor de Gregório XIV, em cujo brevíssimo Pontificado
conseguiu conter uma terrível epidemia de peste e combateu a criminalidade.
Devido ao seu estado de saúde foi eleito propositalmente pelos Cardeais devido
sua velhice e por suas simpatias com a Espanha. Um forte grupo antiespanhol
havia-se formado no Sacro Colégio, que no entanto não ousava manifestar sua
atitude. Para ganhar tempo, decidiram eleger ao trono de São Pedro um velho
enfermo, enquanto se resolvia os problemas da política de seu predecessor em
relação a França. Por sua decisão o dia 12/09 passou a ser dedicado a exaltar o
doce nome de Maria para que não se duvidasse jamais que foi, sob sua
inspiração, que se conseguiu o extraordinário triunfo das armas cristãs contra
as tropas turcas que sitiavam, cruelmente, a cidade de Viena. Morreu
subitamente em 30 de dezembro de 1591, em Roma.
232º
- Clemente VIII - 1592 - 1605
O Papa
Clemente VIII (24 de fevereiro de 1536 - 3 de março de 1605), nascido Ippolito
Aldobrandini, foi Papa da Igreja Católica e governante dos Estados Papais de 2
de fevereiro de 1592 até a sua morte em 1605. Nascido em Fano, Itália para uma
importante família florentina, ele inicialmente se destacou como advogado
canônico antes de ser Cardeal-Sacerdote em 1585. Em 1592, foi eleito Papa e
recebeu o nome de Clemente. Durante seu Papado, ele efetuou a reconciliação de
Henrique IV da França à fé católica e foi fundamental na criação de uma aliança
de nações cristãs para se opor ao Império Otomano na chamada Guerra Longa. Ele
também julgou com êxito uma amarga disputa entre dominicanos e jesuítas sobre a
questão da graça eficaz e do livre arbítrio. Em 1600, presidiu um jubileu que
viu muitas peregrinações a Roma. Ele teve pouca pena de seus oponentes,
presidindo o julgamento e a execução de Giordano Bruno e implementar medidas
estritas contra residentes judeus dos Estados Papais. Ele pode ter sido o
primeiro Papa a beber café. Clemente VIII morreu aos 69 anos em 1605 e seus
restos mortais agora estão na Basílica de Santa Maria Maior. Em novembro de
1592, ele publicou a Clementine Vulgate. Foi publicado com o Bull Cum Sacrorum
(9 de novembro de 1592), que afirmava que todas as edições subsequentes devem
ser equiparadas a esta, nenhuma palavra do texto pode ser alterada nem leituras
variantes impressas na margem. Esta nova versão oficial da Vulgata, conhecida
como Clementine Vulgate" ou Vulgata Sixto-Clementine, tornou-se a Bíblia
oficial da Igreja Católica.
Durante
o jubileu de 1600, três milhões de peregrinos visitaram os lugares sagrados. O
Sínodo de Brest foi realizado 1595 na República das Duas Nações, pelo qual uma
grande parte do Ruthenian clero e as pessoas se reuniram para Roma. Clemente
VIII canonizou o Jacinto de Cracóvia (17 de abril de 1594), Juliano de Cuenca
(18 de outubro de 1594) e Raimundo de Penaforte (1601). Ele beatificou 205
indivíduos, 200 deles mártires de grupo; indivíduos notáveis que ele nomeou
como abençoado incluiu Carlos Borromeu.
Em 1595,
Clemente VIII iniciou uma aliança de potências cristãs europeias para
participar da guerra com o Império Otomano, travado principalmente na Hungria,
que ficaria conhecida como "Guerra Longa" e continuaria além da vida
de Clemente. Facilitado pelo Papa, um tratado de aliança foi assinado em Praga
pelo Imperador Rudolfo II e Sigismund Báthory da Transilvânia. Aarão, o Tirano,
da Moldávia, e Michael, o Bravo da Valáquia, juntaram-se à aliança no final
daquele ano. O próprio Clemente VIII prestou ao Imperador assistência valiosa
em homens e dinheiro. Clemente VIII foi atingido pela gota e foi forçado a
passar grande parte de sua vida posterior imobilizado na cama. De repente, ele
ficou doente em 10 de fevereiro de 1605 e sua condição deteriorou-se
rapidamente nas próximas semanas. Ele morreu em 3 de março de 1605, por volta
da meia-noite, deixando uma reputação de prudência, munificência, crueldade e
capacidade de negociar. Clemente foi enterrado na Basílica de São Pedro, e mais
tarde o Papa Paulo V (1605–21) mandou construir um mausoléu na Capela Borghese
de Santa Maria Maggiore, para onde os restos foram transferidos em 1646. Seu
reinado é especialmente distinguido pelo número e beleza de suas medalhas.
Clemente VIII fundou o Collegio Clementino para a educação dos filhos das
classes mais ricas e aumentou o número de faculdades nacionais em Roma, abrindo
o Pontifícia Universidade Escocesa para o treinamento de missionários na
Escócia.
232
. 1 - Aparição de Nossa Senhora do Bom Sucesso – Quito -Equador
A origem
da Imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi assim: Era meia-noite no Mosteiro
Real da Imaculada Conceição, de Quito, Equador, o silêncio foi rompido pelas
doze badaladas do relógio que assinalaram o início do dia 2 de fevereiro de
1594. Pouco depois entrava na capela a jovem priora, Madre Mariana de Jesus
Torres. Com o coração repleto de amarguras, vinha implorar ao Divino Redentor,
por intercessão de sua Mãe Santíssima, a solução dos problemas que dificultavam
a evangelização naquelas terras: maus exemplos dados por alguns Sacerdotes e
religiosos indignos, injustificáveis desmandos das autoridades eclesiásticas e
civis, tudo agravado por manifestações de desobediência no seu próprio
convento. Prosternada com a fronte no duro piso de pedra, orava com fervor,
quando uma doce voz interrompeu sua prece, chamando-a pelo nome:
— Mariana, minha filha!
Levantou-se logo e viu diante de si uma belíssima Senhora,
resplendente de luz, que sustinha no braço esquerdo o Menino Jesus e empunhava
na mão direita um báculo de ouro, adornado de pedras preciosas.
— Formosa Senhora, quem sois e o que desejais? – perguntou
ela, transbordante de felicidade.
— Sou Maria do Bom Sucesso, a Rainha do Céu e
da terra. Vim consolar teu coração aflito. Empunho no braço direito o báculo,
pois quero eu mesma governar este meu mosteiro, como Priora e Madre.
Durou cerca de duas horas o colóquio da
humilde freira com a celestial Visitante. Quando esta Se retirou, apenas a
bruxuleante luz da candeia iluminava a capela, mas Madre Mariana sentia-se tão
fortalecida quanto desejosa de lutar e sofrer por amor a Nosso Senhor Jesus
Cristo.
E não
lhe faltaram sofrimentos nem provações! Cinco anos depois, na madrugada de 16
de janeiro de 1599, apareceu-lhe de novo a Virgem Santíssima para
reconfortá-la. Comunicou-lhe os desígnios de Deus sobre aquele mosteiro, fez
proféticas revelações a respeito do futuro do Equador e das perseguições que
ali sofreriam as comunidades religiosas, e acrescentou:
— Por isto quer meu Filho
Santíssimo que mandes executar uma imagem minha, tal como me vês, e a disponhas
sobre a estala da priora, para daí eu governar meu mosteiro. Colocarás em minha
mão direita o báculo e as chaves da clausura, em sinal de propriedade e
autoridade; na esquerda porás o Menino Jesus: primeiro, a fim de que os mortais
entendam o quanto sou poderosa para aplacar a justiça divina e alcançar perdão
para todo pecador que a mim recorra com coração contrito; em segundo lugar,
para minhas filhas compreenderem que lhes mostro e apresento meu Filho
Santíssimo como modelo de perfeição religiosa. Venham elas a mim, eu as
conduzirei a Ele.
— Linda Senhora, vossa formosura me encanta. Oh, se me fosse
dado deixar a desditosa terra e elevar-me convosco ao Céu! Mas permita-me dizer
que nenhuma pessoa humana, mesmo a mais entendida na arte da escultura, poderá esculpir
em madeira vossa encantadora imagem, tal como me pedis. Enviai para isto o meu
Seráfico Pai, para ele executar essa obra em madeira seleta, tendo como
oficiais os Anjos do Céu, pois eu não saberei me explicar, e menos ainda
saberei informar vossa estatura.
— Nada te atemorize, minha filha
– replicou a Virgem
Santa
–, atenderei ao teu pedido. Quanto à minha altura, mede-a tu mesma com o
seráfico cordão que trazes à cintura.
— Formosa Senhora, minha Mãe querida, como me atreveria eu a
tocar vossa fronte divina, quando nem os espíritos angélicos podem fazê- lo?
Vós sois a Arca viva da Aliança entre os pobres mortais e Deus; e se Oza caiu
morto só pelo fato de ter sustentado a Arca santa para evitar que ela tombasse
ao solo (cf. II Sm 6, 6-7), quanto mais eu, pobre e débil mulher.
— Alegra-me teu humilde temor e
vejo teu ardente amor à tua Mãe do Céu. Traze e põe em minha mão direita o teu
cordão e toca em meus pés a outra extremidade.
Cheia de júbilo, amor e reverência, Madre Mariana fez o que
lhe ordenava Maria Santíssima, e esta prosseguiu:
— Aí está, minha filha, a medida
de tua Mãe do Céu. Entrega-a ao meu servo Francisco del Castillo,
explicando-lhe minhas feições e minha postura; ele trabalhará exteriormente
minha imagem, pois tem consciência delicada e observa com exatidão os mandamentos
de Deus e da Igreja; nenhum outro escultor será digno desta graça. Ajuda-o com
tuas orações e teu humilde sofrimento.
Em outra
aparição, na mesma hora das anteriores, isto é, pouco após as doze badaladas da
meia-noite, a Virgem Mãe de Deus prenunciou uma época calamitosa para a Igreja
no Equador, tempos nos quais quase não se encontraria inocência nas crianças,
nem pudor nas mulheres, e acrescentou:
— Com isto sofrerão tuas
sucessoras; elas aplacarão a ira divina, recorrendo a mim sob a invocação do
Bom Sucesso, cuja imagem te peço e ordeno que mandes executar para consolo e
sustento de meu mosteiro e dos fiéis daqueles tempos. Esta devoção será o
para-raios colocado entre a justiça divina e o mundo prevaricador. Hoje mesmo,
quando amanhecer, irás ter com o Bispo e lhe dirás que eu te pedi e mandei
fazer esculpir minha imagem para ser colocada à testa de minha comunidade, a
fim de tomar posse completa daquilo que a tantos títulos me pertence. Ele
deverá consagrá-la com o óleo sagrado e pôr-lhe o nome de Maria do Bom Sucesso
da Purificação ou Candelária.
E insistiu:
— Agora é preciso que mandes
executar com toda presteza a minha santa imagem, tal qual me vês, e te apresses
a colocá-la no local por mim indicado.
A humilde religiosa repetiu a mesma tímida objeção feita
cinco anos antes:
— Bela Senhora e querida Mãe de minha alma, a insignificante
formiguinha que tendes em vossa presença não poderá descrever a nenhum artista
vossas belas feições, vossa formosura, nem vossa estatura; não tenho palavras
para explicar, e não há na terra ninguém capaz de fazer a obra que me
solicitais.
— Nada disto te preocupe, filha
querida. A perfeição da obra corre por minha conta. Gabriel, Miguel e Rafael
tomarão a seu cargo secretamente a fabricação de minha imagem. Deverás chamar
Francisco del Castillo, que entende de arte, e dar-lhe uma sucinta descrição de
minhas feições, exatamente como me viste, pois com esta finalidade apareci
tantas vezes a ti.
— Quanto à minha estatura, traze
o cordão que te cinge e mede-me sem temor, pois a uma Mãe como eu agrada a
confiança respeitosa e humilde de suas filhas.
— Rainha do Céu e Mãe querida, eis aqui o cordão para vos
medir. Quem o sustentará em vossa formosa fronte, ornada por essa linda coroa,
com a qual vos coroou a Santíssima Trindade? Eu não me atrevo a fazê-lo, nem,
aliás, conseguiria com minha pequena altura.
— Filha querida, põe na minha mão
uma das pontas do cordão e eu o colocarei na minha fronte, enquanto tu
encostarás a outra no meu pé direito.
Nossa
Senhora tomou então uma das extremidades do cordão e a encostou em sua fronte,
deixando à enlevada monja o encargo de pôr a outra na ponta de seu pé direito.
O cordão era um pouco curto, mas esticou-se milagrosamente, como elástico, até
atingir a estatura da celestial Dama.
“Hoje mesmo, quando amanhecer,
irás ter com o Bispo”, ordenara
a Virgem Santíssima. Madre Mariana, porém, antevendo diversos obstáculos, ia
adiando o cumprimento da ordem recebida. Doze dias depois, Ela lhe apareceu de
novo, resplendente de luz como sempre, mas desta vez silenciosa e olhando-a com
amável severidade. Depois de ouvir uma maternal advertência, seguida de
explicações que desfizeram todos os seus temores, respondeu a religiosa: — Bela
Senhora, justa é vossa repreensão. Peço-Vos perdão e misericórdia, e prometo
emendar-me. Hoje mesmo falarei com o Bispo para dar início à execução de vossa
imagem. De fato, nesse mesmo dia expôs a Dom Salvador de Ribera a ordem
recebida da Rainha do Céu. Este ouviu com atenção o relato da santa priora, pôs
à prova sua objetividade, por meio de muitas perguntas capciosas, e, por fim,
deu inteira aprovação ao projeto; comprometeu-se inclusive a ajudar em tudo
quanto fosse necessário à sua pronta realização. Apressou-se então Madre
Mariana em contratar o escultor Francisco del Castillo. Disse-lhe ela: — Como o
senhor é, antes de tudo, bom católico, e também hábil escultor, quero
confiar-lhe uma obra muito especial, a ser executada com todo esmero: esculpir
uma imagem da Virgem Maria, a qual deverá ter feições celestiais, semelhantes
às de nossa Santíssima Mãe que está nos Céus em corpo e alma; dar-lhe-ei a
medida, pois a estátua precisa ter a estatura exata de nossa celestial Rainha. Francisco
del Castillo recebeu essa incumbência como uma insigne graça de Nossa Senhora e
recusou categoricamente qualquer pagamento por seus serviços. Gastou vários
dias procurando em Quito e nos arredores a melhor madeira, e logo pôs mãos à
obra. Trabalhava com tanto amor, e sentia tamanha consolação, que não conseguia
conter as lágrimas. Logo surgiram doadores para três importantes peças de
ourivesaria: as chaves de prata, a coroa e o báculo. A pedido das freiras, o
escultor fazia todo o serviço, não no seu ateliê, mas no coro alto do mosteiro.
Marcara-se
para o dia 2 de fevereiro de 1611 a solene bênção litúrgica da imagem sagrada.
Três semanas antes desse prazo, faltava apenas um “pequeno” detalhe: dar ao
rosto um colorido digno da face da Santa Virgem das Virgens. Decidiu o mestre
del Castillo fazer uma pesquisa à procura das melhores tintas; partiu com esse
objetivo, prometendo estar de volta no dia 16 de janeiro para executar a
delicada operação, de longe a mais importante de sua obra. Grande era a expectativa
das religiosas quando, no alvorecer do dia 16, dirigiam-se à capela para, como
de costume, louvar Nossa Senhora com o cântico do Pequeno Ofício. Ao se
aproximarem do coro alto, ouviram melodiosas harmonias que as deixaram cheias
de emoção. Entraram pressurosas e – oh, maravilha! –, uma luz celeste inundava
todo o recinto, no qual ressoavam arrebatadoras vozes de Anjos que cantavam o
hino Salve Sancta Parens (Salve, Santa Mãe). Transbordantes de enlevo,
contemplavam aquele celestial rosto, do qual partiam raios que iluminavam toda
a igreja. Aureolada por essa vivíssima luz, a fisionomia da Santa imagem se
mostrava majestosa, serena, doce, amável e atraente, como que convidando suas
filhas a se achegarem com confiança e dar-lhe um filial abraço de júbilo e de
boas-vindas. O semblante do Menino Jesus exprimia amor e ternura para com
aquelas suas esposas tão estimadas por Ele e por sua Mãe. Nesse dia, todas
progrediram na vida espiritual. Compreendendo melhor a própria vocação, amavam
mais o seu Divino Esposo e se empenhavam no cumprimento exato da regra e dos
deveres particulares. Na hora combinada, chegou Francisco de Castillo, feliz
por ter encontrado tintas excelentes para dar o acabamento à obra escultural.
Sem nada dizer-lhe do ocorrido, Madre Mariana e algumas outras monjas o
acompanharam ao coro alto. Impossível descrever a surpresa e a emoção do
piedoso artista.
— Madres, que vejo? Esta primorosa imagem não é obra minha!
Não sei o que sente o meu coração, mas esta é uma obra angélica. Escultor algum,
por mais hábil que seja, jamais poderá sequer imitar tanta perfeição e tão
peregrina beleza!
Isto
dizendo, caiu de joelhos aos pés da Santa imagem do Bom Sucesso e desafogou seu
coração, deixando jorrar dos olhos lágrimas em superabundância. Levantou-se em
seguida e lavrou um documento, declarando sob juramento: primeiro, que aquela
imagem do Bom Sucesso não era obra sua, mas dos Anjos, pois não era a escultura
deixada por ele seis dias antes no coro superior do mosteiro; segundo, que em
sua já longa vida de sessenta e sete anos, nunca havia visto, nem sequer na
Espanha, cor de pele igual àquela. Não contente com isto, partiu sem tardança à
procura do Bispo Dom Salvador de Ribera, ao qual fez um detalhado relato do
acontecido, reafirmando que naquela imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso nada
era obra de suas mãos: nem a escultura nem, muito menos ainda, a pintura e a
cor da pele. Ficou, assim, bem documentado que a imagem de Nossa Senhora do Bom
Sucesso foi de fato executada pelos Anjos. A Virgem do Bom Sucesso cumpriu à
risca a promessa feita a Madre Mariana: “A perfeição da obra corre por
minha conta. Gabriel, Miguel e Rafael tomarão a seu cargo secretamente a
fabricação de minha imagem”.
Profecias
sobre o trágico século XX
Quarta aparição - 20 de Janeiro de
1610
“Porque te faço saber que, do
término do século XIX até um pouco mais da metade do século XX, na hoje colônia
e então República do Equador, extravasarão as paixões e haverá uma total
corrupção de costumes por reinar Satanás nas seitas maçônicas, a qual visará
principalmente a infância, a fim de manter com isto a corrupção geral.
Ai dos meninos deste tempo!
Dificilmente receberão o Sacramento do batismo, nem o da confirmação. O Sacramento
da confissão, só enquanto permanecerem nas escolas católicas, que o Diabo porá
todo empenho em destruir, valendo-se de pessoas autorizadas. O mesmo sucederá
com a Sagrada Comunhão.
Mas, ai! Quanto sinto ao te
manifestar que haverá muitos e enormes sacrilégios, públicos e também ocultos,
de profanações à sagrada Eucaristia! Muitas vezes, nessa época, os inimigos de
Jesus Cristo, instigados pelo demônio, roubarão nas cidades as hóstias
consagradas, com o único fim de profanar as eucarísticas espécies! Meu Filho
santíssimo se verá jogado ao chão e pisado por pés imundos.
Quanto ao Sacramento do matrimônio,
que simboliza a união de Cristo com a Igreja, será atacado e profanado em toda
a extensão da palavra. A maçonaria, que então reinará imporá leis iníquas com o
objectivo de extinguir esse Sacramento, facilitando a todos o viverem mal,
propagando-se a geração de filhos malnascidos, sem a bênção da Igreja. Irá
decaindo rapidamente o espírito cristão, apagar-se-á a luz preciosa da fé até
chegar a uma quase total e geral corrupção de costumes. Acrescidos ainda os
efeitos da educação laica, isto será motivo para escassearem as vocações Sacerdotais
e religiosas. O Sagrado Sacramento da ordem Sacerdotal será ridicularizado,
oprimido e desprezado, porque neste sacramento se oprime e conspurca a Igreja
de Deus, e a Deus mesmo, representado em seus Sacerdotes.
O demônio procurará perseguir os
ministros do Senhor de todos os modos, e trabalhará com cruel e sutil astúcia
para desviá-los do espírito de sua vocação, corrompendo a muitos deles. Estes,
que assim escandalizarão o povo cristão, farão recair sobre todos os Sacerdotes
o ódio dos maus cristãos e dos inimigos da Igreja Católica Apostólica Romana.
Com este aparente triunfo de Satanás, atrairão sofrimentos enormes aos bons
pastores da Igreja, e à excelente maioria de bons Sacerdotes e ao Pastor
supremo e Vigário de Cristo na terra, que, prisioneiro no Vaticano, derramará
secretas e amargas lágrimas na presença de seu Deus e Senhor, pedindo luz, santidade
e perfeição para todo o clero do universo, do qual é rei e pai.
Ademais, nesses infelizes tempos
haverá um luxo desenfreado que, por ser laço de pecado para os demais,
conquistará inúmeras almas frívolas e as perderá. Quase não se encontrará
inocência nas crianças, nem pudor nas mulheres, e, nessa suprema necessidade da
Igreja, calar-se-á aquele a quem competia a tempo falar.”
Aparição de Nossa Senhora do bom
sucesso a 2 de Fevereiro de 1634
A
lamparina que se apaga
Pronunciadas
estas palavras, viu a lamparina que ardia diante de Jesus sacramentado,
apagar-se, ficando o altar-mor inteiramente às escuras. Madre Mariana quis
levantar-se, deixando a oração, para acender uma vela que substituísse a
lamparina. Mas não pôde: estava completamente sem sentidos.
Primeiro significado: a propagação de
heresias nos séculos XIX e XX
“A lamparina que arde diante do
altar e que viste apagar-se, possui muitos significados. O primeiro é que no
fim do século XIX, avançando por grande parte do século XX, várias heresias se
propagarão nestas terras, então, República livre. E com o domínio delas,
apagar-se-á nas almas a luz preciosa da fé, pela quase total corrupção dos
costumes. Nesse período haverá grandes calamidades físicas e morais, públicas e
privadas.
Segundo significado: O pequeno
número de almas que conservará oculto o tesouro da fé e das virtudes sofrerá um
cruel, indizível e prolongado martírio. Muitas delas descerão ao túmulo pela
violência do sofrimento e serão contadas como mártires que se sacrificaram pela
Igreja e pela Pátria.
Para a libertação da escravidão
destas heresias, aqueles a quem o amor misericordioso de meu Filho santíssimo
destinará para esta restauração, necessitarão de grande força de vontade,
constância, valor e muita confiança em Deus. Para por à prova esta fé e
confiança dos justos, haverá ocasiões em que tudo parecerá perdido e
paralisado. Será, então, o feliz princípio da restauração completa.
Terceiro significado: a sensualidade
que varrerá o mundo. O terceiro motivo pelo qual se apagou a lamparina é porque
nesses tempos estará a atmosfera saturada do espírito de impureza, que a
maneira de um mar imundo correrá pelas ruas, praças e logradouros públicos com
uma liberdade assombrosa.
Quase não haverá almas virgens no
mundo. A delicada flor da virgindade, tímida e ameaçada de completa destruição,
luzirá longe. Refugiando-se nos claustros, encontrará terreno adequado para
crescer, desenvolver-se e viver sendo seu aroma o encanto de meu filho
santíssimo e o pára-raios da ira divina. Sem a virgindade seria preciso, para
purificar estas terras, que chovesse fogo do céu.
O invejoso e pestífero demônio
intentará, em sua maliciosa soberba, introduzir-se nestes jardins fechados dos
claustros religiosos para fazer murchar esta formosa e delicada flor. Mas eu o
enfrentarei e esmagarei sua cabeça sob meus pés. Mas, ai dor! Haverá almas
incautas que, voluntariamente, se entregarão às suas garras. E outras, voltando
para o mundo, serão instrumentos do Diabo para perder as almas.
Quarto significado: a corrupção da
inocência infantil. O quarto motivo da lamparina ter-se apagado é que a seita,
havendo-se apoderado de todas as classes sociais, possuirá tanta subtileza para
introduzir-se nos ambientes domésticos que perderá as crianças e o demônio se
gloriará de alimentar com o requintado manjar dos corações dos meninos.
Nesses tempos infaustos mal se
encontrará a inocência infantil. Desta forma perder-se-ão as vocações para o Sacerdócio,
e será uma verdadeira calamidade. Restarão as comunidades religiosas para
sustentar a Igreja e trabalhar com valoroso, desinteressado empenho na salvação
das almas. Porque nesse período a observância da regra resplandecerá nas
comunidades, haverá Santos Ministros do altar, almas ocultas e belas, nas quais
meu Filho Santíssimo e eu nos deleitaremos, considerando as excelentes flores e
frutos da santidade heroica. Contra eles a impiedade fará dura guerra,
cumulando-os de vitupérios, calúnias e vexações, para impedir-lhes o
cumprimento do ministério. Mas eles, como firmíssimas colunas, permanecerão
inabaláveis e enfrentarão a tudo com esse espírito de humildade e sacrifício
com que serão revestidos, em virtude dos méritos infinitos de meu filho Santíssimo,
que os ama como as fibras mais delicadas de seu santíssimo e terníssimo
coração.”
A
crise no clero
“No clero secular haverá, nessa
época, muito que desejar, porque os Sacerdotes se descuidarão do seu sagrado
dever. Perdendo a bússola divina, desviar-se-ão do caminho traçado por Deus
para o ministério Sacerdotal e apegar-se-ão ao dinheiro, em cuja obtenção porão
demasiado empenho.
E como esta Igreja padecerá nessa
ocasião a noite escura da falta de um prelado e pai, que vele com amor paterno,
com suavidade, fortaleza, tino e prudência, muitos Sacerdotes perderão seu
espírito, pondo em grande perigo suas almas. Em sua mão será posta a balança do
santuário.
Ora com instância, clama sem
cansar-te e chora com lágrimas amargas no segredo de teu coração, pedindo a
nosso Pai celeste que, por amor ao coração eucarístico de meu Santíssimo Filho,
pelo preciosíssimo sangue vertido com tanta generosidade e pelas profundas amarguras
e dores de sua acerba paixão e morte, ele se compadeça de seus ministros e
ponha termo quanto antes a tempos tão nefastos, enviando a esta Igreja o
prelado que deverá restaurar o espírito de seus Sacerdotes.
A esse filho meu muito querido,
amamos meu Filho Santíssimo e eu com amor de predileção, pois o dotaremos de
uma capacidade rara, de humildade de coração, de docilidade às divinas
inspirações, de fortaleza para defender os direitos da Igreja e de um coração
terno e compassivo, para que, qual outro Cristo, assista o grande e o pequeno,
sem desprezar ao mais desafortunado que lhe peça luz e conselho em suas dúvidas
e amarguras. E para que, com suavidade divina, guie as almas consagradas ao
serviço de Deus nos claustros, sem tornar-lhes pesado o jugo do Senhor, que
disse: “Meu jugo é suave e meu peso é leve”.
Em sua mão será posta a balança do
santuário para que tudo se faça com peso e medida e Deus seja glorificado.
Para evitar que venha logo este
prelado e pai, concorrerá a tibieza de todas as almas consagradas a Deus, no
estado Sacerdotal e religioso. Esta, aliás, será a causa de o maldito Satanás
apoderar-se destas terras, onde ele tudo obterá por meio de gente estrangeira e
sem fé, tão numerosa que, como uma nuvem negra, toldará o límpido céu da então
República consagrada ao Sacratíssimo Coração de meu divino Filho.
Com essa gente entrarão todos os
vícios, que atrairão, por sua vez, toda sorte de castigos, como a peste, a
fome, disputas internas e com outras nações e a apostasia, causa da perdição de
um considerável número de almas, almas tão caras a Jesus Cristo e a mim.
Para dissipar esta nuvem negra,
que impede a Igreja de gozar o claro dia da liberdade, haverá uma guerra
formidável e espantosa, na qual correrá sangue de nacionais e de estrangeiros,
de Sacerdotes seculares e regulares e também de religiosas. Esta noite será
horrorosíssima, porque, humanamente, o mal parecerá triunfante.
Será chegada, então, a minha hora
em que eu, de forma maravilhosa, destronarei o soberbo e maldito Satanás,
calcando-o debaixo dos meus pés e acorrentando-o no abismo infernal. Assim a
Igreja e a Pátria estarão, por fim, livres de sua cruel tirania.”
233º
- Leão XI - 1605
Papa
Igreja Cristã Romana nascido em Florença, Alessandro de Médice foi eleito em 10
de abril de 1605 para suceder Clemente VIII, com o apoio francês, mas morreu
depois de apenas 27 dias de pontificado. Dedicou-se ao ascetismo. Da poderosa
família Médici, de Florença, era filho de Ottaviano e de Francesca Salviati e
sobrinho-neto do Papa Leão X, foi embaixador do Grão-Duque de Toscana junto do
Papa Pio V durante 15 anos em Roma (1569-1584), Bispo de Pistóia em 1573, Arcebispo
de Florença (1574-1583) e nomeado Cardeal (1583), Arcebispo de Albano (1600) e
de Palestrina (1602). Legado Pontifício (1596-1598) junto a Henrique IV da
França, a serviço do Papa Clemente VIII, onde Maria de Médici reinava, contribuiu
para a promulgação do édito de Nantes e foi o mediador da paz de Vervins
(1598). Tinha uma profunda amizade com São Felipe Neri e, com a morte de
Clemente VIII, foi eleito com apoio dos franceses e italianos e contra a
vontade expressa do Rei Filipe III de Espanha. Morreu em 27 de abril de 1605,
em Roma.
234º
- Paulo V - 1605 - 1621
Papa
italiano da Igreja Católica Romana nascido em Roma, Camilo Borghese, eleito em
29 de maio de 1605 para suceder Leão XI graças a um acordo entre os partidos
ligados à França e à Espanha, em cujo Papado condenou as teorias de Copérnico e
vetou as obras de Galileu, mas cuidou muito do aspecto da cidade de Roma e
concluiu a Basílica Vaticana. De família aristocrática proveniente de Siena,
tornou-se um respeitado jurista e estimado diplomata. Professor de Direito, foi
nomeado Cardeal (1596) e Vigário de Roma e, após a morte repentina de Leão XI
foi eleito para sucedê-lo graças as suas qualidades de homem moderado e alheio
a partidarismos. Consagrado defendeu intransigentemente os direitos da Santa Sé
o que o levou a entrar em conflito com Veneza, que promulgara leis restritivas
para a propriedade Eclesiástica. Realizou uma grande atividade política e
diplomática para impor a autoridade do Papado, mas teve frustradas as suas
esperanças de hegemonia sobre os Estados italianos (1607). Desenvolveu uma
grande obra de evangelização no novo continente, na China, na Índia e na
Etiópia, especialmente graças aos jesuítas. Na política externa, colecionou
fracassos e sucessos. Por exemplo, não conseguiu impedir as lutas religiosas na
Boêmia e na Hungria, porém, pôde comemorar a ascensão de Fernando II,
rigidamente católico, ao trono imperial em 1619. Intelectual e cercado de
intelectuais, embora tenha favorecido a Astronomia, pesando sobre ele a
condenação das teorias científicas de Copérnico e Galileu, que, declarada pela
Inquisição, teve o consentimento do Papa. Manteve relações com Miguel Romanoff
da Rússia e adoeceu quando irrompeu na Europa a Guerra dos Trinta Anos. Em
Roma, o Papa financiou a conclusão da Basílica de São Pedro e melhorou a
Biblioteca do Vaticano. Ele restaurou o Aqua Traiana, um antigo aqueduto romano
(em homenagem a ele Acqua Paola), levando água para os rioni localizados na
margem direita do Tibre (Trastevere e Borgo) usando materiais de sua demolição
do Fórum de Nerva. Ele sempre incentivou Guido Reni. Como muitos Papas da
época, ele também era acusado de nepotismo e seu sobrinho Scipione Borghese
exercia um poder enorme em seu nome, consolidando a ascensão da família
Borghese. Paulo V também estabeleceu o Banco do Espírito Santo em 1605. Paulo V
morreu em 28 de janeiro de 1621, depois de uma série de derrames por mais de
três meses, no Palácio Quirinal.
234
. 1 - Aparição de Nossa Senhora de Siluva - Lituânia
Nossa
Senhora de Šiluva, também conhecida como Nossa Senhora dos Pinhais, é um dos
títulos com que a Virgem Maria é invocada em Šiluva, Lituânia, desde suas
aparições no ano de 1608. Um Santuário com o mesmo nome foi construído e é
dedicado a ela. O ícone que a retrata é altamente venerado pelos lituanos e é
frequentemente chamado de "o maior tesouro da Lituânia". O Papa Pio
VI concedeu uma Coroação Canônica à venerada imagem em 8 de setembro de 1786. A
cidade de Šiluva é um dos locais de peregrinação mais importantes da Lituânia,
com sua tradição ancestral da Festa da Natividade da Virgem Maria, popularmente
chamada de "Šilinės", também celebrada em 8 de setembro.
A
devoção mariana em Šiluva remonta quase ao início do cristianismo na Lituânia.
O grão-duque Jogaila foi batizado católico em 1387 quando se casou com a Rainha
da vizinha Polônia. Mais tarde, ele e seus sucessores trabalharam para difundir
a fé cristã em seu território, que até então era pagão. Eles estabeleceram a
hierarquia Eclesiástica, construíram igrejas e até ensinaram pessoalmente o
catecismo aos seus súditos.
O
estabelecimento de uma igreja em Šiluva foi iniciativa de um nobre chamado
Petras Gedgaudas que trabalhava a serviço de Vytautas, o Grande. Gedgaudas em
1457 alocou terras e outros recursos para um templo em homenagem a Nossa
Senhora. Gedgaudas construiu uma igreja dedicada à Natividade da Bem-Aventurada
Virgem Maria e aos Apóstolos São Pedro e São Bartolomeu. Enormes multidões de
fiéis, mesmo da vizinha Prússia protestante, se reuniam neste local para
celebrar a indulgente Festa da Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria. O
ícone é pintado no estilo Nossa Senhora do Caminho e é semelhante à famosa
Madonna Salus Populi Romani. Segundo a lenda, o ícone milagroso foi trazido de
Roma para Siluva em 1457 como um presente ao nobre lituano Petras Gedgaudas.
A nova
igreja ganhou fama como Santuário mariano. Em 1532, a população nas
proximidades de Šiluva tornou-se predominantemente calvinista. Nas décadas
seguintes, muitas igrejas católicas foram confiscadas e fechadas. No entanto,
enquanto a velha igreja estava aberta, as pessoas continuaram a assistir à festa
anual até que finalmente a igreja foi fechada e acabou totalmente queimada. No
século 16, um pastor luterano queixou-se de que membros de seu rebanho viajavam
para Šiluva para assistir à indulgente festa católica da Natividade de Maria.
Por volta do ano 1569, o único pároco remanescente, o Padre John Holubka,
escondeu todos os objetos de valor e documentos da igreja em uma caixa de ferro
que enterrou no terreno da igreja devastada. Os católicos posteriormente
tentaram procedimentos legais contra os calvinistas, buscando recuperar a
propriedade da igreja confiscada. O caso foi complicado pelo fato de que os
documentos de propriedade católicos se perderam.
Este
problema foi resolvido no verão de 1608, quando algumas crianças cuidando de
suas ovelhas em um campo a alguma distância de Šiluva relataram que viram uma
bela mulher segurando um bebê, apareceu no mesmo lugar onde a igreja estava.
Ela estava chorando amargamente. As crianças voltaram no dia seguinte
acompanhadas por muitos de toda a aldeia e um ministro calvinista, e eles a
viram também. Quando a notícia se espalhou, um velho cego que havia ajudado o
padre a enterrar os tesouros da igreja original lembrou-se do local. Após a
aparição, foram encontrados os documentos institucionais da Igreja Católica e,
em 1622, foi ganho o caso relativo à restituição da propriedade católica. Uma
pequena igreja de madeira, a Igreja da Natividade da Bem-Aventurada Virgem
Maria, foi construída no local da igreja original, mas revelou-se pequena
demais para os muitos peregrinos que a visitaram. Uma igreja muito maior foi
construída em 1641. O Papa Pio VI confirmou a autenticidade da aparição de
Nossa Senhora de Šiluva por um decreto Papal promulgado em 17 de agosto de
1775. A atual Basílica da Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria foi
consagrada em 1786. O edifício é um dos melhores exemplos da arquitetura
barroca tardia na Lituânia. O interior, desenhado pelo artista lituano Thomas
Podgaiskis, foi preservado sem mudanças significativas por mais de dois séculos.
Antes da Segunda Guerra Mundial, as procissões costumavam partir de todas as
cidades lituanas, fazendo peregrinação a Šiluva. O dia 13 de cada mês é
conhecido como “Dia de Maria”.
A Capela
da Aparição foi construída nos estilos Renascentista Egípcio e Gótico,
apresentando a torre mais alta da Lituânia. Foi construído sobre a rocha onde a
Mãe Santíssima estava. A própria rocha, que o peregrino faz questão de beijar,
está sob o altar da capela.
Por sua devoção a Maria, o Papa Pio XI chamou a Lituânia de
Terra Mariana (Terra de Maria). O Papa Pio VI aprovou devoções a Nossa Senhora
de Šiluva e concedeu indulgências para elas. O Papa João Paulo II orou no Santuário
na humilde aldeia lituana de Šiluva em 1993, dois anos depois que a nação báltica
recuperou a independência. Bento XVI em 2006 abençoou novas coroas de ouro para
uma imagem milagrosa de Maria e Jesus em Šiluva. Em 2008, ele enviou um legado
Papal para participar das festividades em Šiluva para marcar o quarto centenário
da aparição mariana.
Nos
Estados Unidos, a capela de Nossa Senhora de Siluva está localizada dentro da
Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição em Washington, D.C. A
comunidade lituana emigrada e refugiada nos Estados Unidos, sob a liderança do
Bispo Vincent Brizgys, organizada em 1963 para o estabelecimento desta Capela
de Siluva, que foi inaugurada em 1966. Ele exibe a arte de artistas lituanos no
exílio naquela época, devido à ocupação soviética e à repressão da Lituânia
durante e após a Segunda Guerra Mundial. Vytautus Kasuba baseou sua estátua de
Nossa Senhora de Siluva com o Menino Jesus em relatos escritos de testemunhas
de 1608. Os mosaicos de Vytautas Jonynas retratam a história religiosa e
cultural da Lituânia em dois grandes painéis de mosaico nas paredes laterais da
capela, um mostrando a imagem tradicional do Rūpintojėlis, e o segundo
representando informações sobre o Príncipe e Santo, Casimiro.
Mosaicos
e vitrais de Albinas Elskus decoram o teto dourado com quatro imagens de Nossa
Senhora das igrejas da Lituânia, o frontispício do altar com cruzes
tradicionais lituanas à beira da estrada e a decoração do fundo do altar com
aura azul e dourada sobre a estátua de Nossa Senhora de Siluva. No dia 16 de
outubro de 2016, a comunidade americano-lituana comemorou o quinquagésimo
aniversário da dedicação da Capela. Uma exposição sobre a história da capela e
sua representação das tradições culturais e religiosas da Lituânia foi
apresentada no Memorial Hall da Basílica de 1 ° de julho a 17 de outubro. Além
da capela em Washington D.C., existem vários outros locais nos Estados Unidos
dedicados a Nossa Senhora de Siluva. Isso inclui Santuários em Chicago, Illinois;
e em Putnam, Connecticut; e em East St. Louis, Illinois.
Há uma estátua de Nossa Senhora de
Siluva fora da pequena igreja missionária em Rincon, Novo México. Há um Santuário
de Nossa Senhora de Siluva na igreja paroquial de SS Peter and Paul em
Elizabeth, New Jersey. O Santuário, dedicado em 29 de junho de 1958, é
ricamente ornamentado com obras de arte e esculturas em madeira da Lituânia, e
contém uma pintura que descreve a aparição e uma relíquia da pedra original na
qual Nossa Senhora estava. Porque, inspirada pela aparição, a comunidade voltou
à prática devota da sua religião, Nossa Senhora de Šiluva é invocada como a
padroeira daqueles que perderam a fé e daqueles que rezam por eles.
235º
- Gregório XV - 1621 - 1623
O Papa
Gregório XV, nascido Alessandro Ludovisi (Bolonha, 9 de janeiro de 1554 — Roma,
8 de julho de 1623), foi eleito Papa em 9 de Fevereiro de 1621 e governou a
Igreja Católica até a sua morte. Alessandro Ludovisi nasceu em Bolonha em 9 de
janeiro de 1554 de Pompeo Ludovisi, o Conde de Samoggia (hoje Savigno na província
de Bolonha) e de Camilla Bianchini. Ele foi o terceiro de sete filhos, foi
educado no Roman College, administrado pela Companhia de Jesus em Roma, e
depois foi para a Universidade de Bolonha para se formar em direito canônico e
romano, que recebeu em 4 de junho de 1575. Seu início de carreira foi como
jurista Papal em Roma, e não há evidências de que ele tenha sido ordenado ao Sacerdócio.
Ele retornou a Roma em 1575 e serviu como referendo da Assinatura Apostólica de
1593 a 1596 e foi nomeado vice-Governador de Roma em 1597, cargo que manteve
até 1598. Também atuou como auditor da Rota Romana Sagrada de 1599 a 1612.
Em 12 de
março de 1612, o Papa Paulo V o nomeou Arcebispo de Bolonha, pelo qual presumivelmente
foi ordenado ao Sacerdócio e, em seguida, foi consagrado como Bispo em 1 de
maio daquele ano na igreja de San Andrea al Quirinale, em Roma. Em agosto de
1616, o Papa o enviou como Núncio Apostólico ao Ducado de Sabóia, para mediar
entre Carlos Emanuel I, Duque de Saboia e Filipe III da Espanha em sua disputa
sobre o Marquês Gonzaga de Montferrat. Em 19 de setembro de 1616, o Papa Paulo
V o elevou ao posto de Cardeal e o nomeou Cardeal Sacerdote na igreja titular
de Santa Maria na Traspontina. Ludovisi permaneceu em sua sede episcopal em
Bolonha até ir a Roma após a morte do Papa Paulo V para participar do conclave
em que foi escolhido como Papa e selecionou o nome pontifício de "Gregório
XV". Foi coroado em 14 de fevereiro de 1621 pelo protodiácono, Cardeal
Andrea Baroni Peretti Montalto, e assumiu a posse da Arquibasílica de São João
de Latrão em 14 de maio de 1621.
No
momento de sua eleição, principalmente pela influência do Cardeal Borghese, em
sua idade avançada (ele tinha 67 anos) e com seu fraco estado de saúde, viu
imediatamente que precisaria de um homem enérgico, no qual pudesse confiar,
para auxiliá-lo no governo da Igreja. Seu sobrinho Ludovico Ludovisi, um jovem
de 25 anos, parecia ser a pessoa certa e, sob o risco de ser acusado de
nepotismo, criou-o Cardeal no terceiro dia de seu Pontificado. No mesmo dia,
seu irmão mais novo, Orazio, foi nomeado Capitão geral da Igreja à frente do
exército Papal. O futuro revelou que Gregório XV não ficou desapontado com o
sobrinho. A Enciclopédia Católica permite que "Ludovico, é verdade, tenha
promovido os interesses de sua família de todas as maneiras possíveis, mas ele
também usou seus talentos brilhantes e sua grande influência para o bem-estar
da Igreja, e foi sinceramente dedicado ao Papa". Gregório garantiu para os
Ludovisi dois ducados, um para seu irmão Orazio, fez um Nobile Romano e Duque
de Fiano Romano, 1621, e o outro, o Ducado de Zagarolo, comprado da família
Colonna por seu sobrinho Ludovico Ludovisi em 1622. Um segundo sobrinho,
Niccolò, foi feito Príncipe reinante de Piombino e senhor da Ilha de Elba em
1634, tendo se casado com a herdeira, em 30 de março de 1632.
Gregório
XV interferiu pouco na política européia, além de ajudar Fernando II, Sacro
Imperador Romano e a Liga Católica contra os protestantes assim como Sigismundo
III Vasa, rei de a República das Duas Nações, contra o Império Otomano. Sua
Declaração contra Magos e Bruxas (Omnipotentis Dei, 20 de março de 1623) foi a
última ordenança Papal contra a bruxaria. As punições anteriores foram
reduzidas e a pena de morte foi limitada àqueles que "provaram ter entrado
em acordo com o diabo e cometido homicídio com sua assistência". Ele era
um teólogo erudito e manifestou um espírito de reforma. Como exemplo, sua bula
Papal de 15 de novembro de 1621, Aeterni Patris Filius, regulamentou as
eleições Papais, que a partir de agora seriam por escrutínio secreto; três
métodos de eleição foram permitidos: por escrutínio, compromisso e quase
inspiração. Em 6 de janeiro de 1622, ele estabeleceu a Congregação para a
Propagação da Fé, o braço missionário da Santa Sé. Seu Pontificado foi marcado
pelas canonizações de Teresa de Ávila, Francisco Xavier, Inácio de Loyola,
Filipe Néri e Isidoro, o Lavrador. Ele também beatificou Pedro de Alcântara. Foi
influente em trazer o artista bolonhesa Guercino para Roma, um marco no
desenvolvimento do estilo barroco alto. Ele se sentou para seus bustos de
retratos, um dos quais foi de Gian Lorenzo Bernini e Alessandro Algardi, cujo
busto fica na Igreja de Santa Maria, em Vallicella.
O Papa
criou onze Cardeais em quatro consistórios que o levaram a elevar seu sobrinho
Ludovico e seu primo Marcantonio Gozzadini como Cardeais; ele também elevou o
conhecido Armand Jean Richelieu como Cardeal. Gregório XV também beatificou
três indivíduos durante seu pontificado: Ambrose Sansedoni, de Siena, Alberto
Magno, e Pedro de Alcântara. Ele sofria de cálculos renais há algum tempo e
estava acamado de 16 de junho a 1 de julho de 1623, sofrendo de diarreia e um
distúrbio estomacal que lhe causava grande desconforto. Sua condição piorou em
4 de julho, quando uma febre o enfraqueceu bastante, levando a receber o
Viaticum em 5 de julho e a Extreme Unction em 6 de julho, antes de sucumbir à
doença dois dias depois. O Papa Gregório XV morreu no Palácio Quirinal em 8 de
julho de 1623. Ele foi enterrado na Igreja de Santo Inácio de Loyola, onde mais
de 80 anos depois, os jesuítas ergueram um magnífico monumento seguindo o
desejo do Cardeal Ludovico Ludovisi, que também foi homenageado.
236º
- Urbano VIII - 1623 - 1644
O Urbano
VIII (Florença, 5 de abril de 1568 – Roma, 29 de julho de 1644) foi chefe da
Igreja Católica e governante dos Estados Papais de 6 de agosto de 1623 até à
data da sua morte. Ele expandiu o território Papal por força de armas e jogos
políticos vantajosos, tendo também sido um Patrono proeminente das artes e um
reformador das missões da Igreja. Ele nasceu Maffeo Barberini em abril de 1568
de Antonio Barberini, um nobre florentino, e Camilla Barbadoro. Seu pai morreu
quando ele tinha apenas três anos de idade e sua mãe o levou para Roma, onde
ele foi encarregado de seu tio, Francesco Barberini, um protonotário
apostólico. Aos 16 anos, ele se tornou herdeiro de seu tio. Ele foi educado
pela Companhia de Jesus ("jesuítas") e recebeu um doutorado em
direito pela Universidade de Pisa em 1589. Em 1601, Barberini, através da
influência de seu tio, conseguiu garantir a nomeação do Papa Clemente VIII como
legado Papal na Corte do rei Henrique IV de França. Em 1604, o mesmo Papa o
nomeou Arcebispo de Nazaré, um escritório associado ao de Bispo das dioceses
suprimidas de Canne e Monteverde, com sua residência em Barletta. Com a morte
de seu tio, ele herdou suas riquezas, com as quais comprou um Palácio em Roma,
que transformou em uma luxuosa residência renascentista.
Mais
tarde, o Papa Paulo V também empregou Barberini em uma capacidade semelhante,
depois elevando-o, em 1606, à ordem de Cardeal-Sacerdote, com a igreja titular
de São Pedro em Montorio, e nomeando-o como legado Papal de Bolonha. Barberini
era considerado alguém que poderia ser eleito Papa, embora houvesse pessoas
como o Cardeal Ottavio Bandini que trabalhavam para evitá-lo. Apesar disso,
entre os dias 29 e 30 de julho, os Cardeais iniciaram uma intensa série de
negociações para testar os números sobre quem poderia emergir do conclave como
Papa, com o Cardeal Ludovico Ludovisi descartando as chances de Barberini
enquanto Barberini permanecesse um aliado próximo do Cardeal Scipione
Caffarelli-Borghese, cuja facção Barberini apoiava. Ludovisi conversou com os Cardeais
Farnese, Medici e Aldobrandini em 30 de julho sobre como assistir à eleição de
Barberini. Os três apoiaram sua candidatura e garantiram o apoio de outros, o
que levou à eleição de Barberini pouco mais de uma semana depois. Em 6 de
agosto de 1623, no conclave Papal após a morte do Papa Gregório XV, Barberini
foi escolhido como sucessor de Gregório XV e recebeu o nome Urbano VIII.
O Papado
de Urbano VIII cobriu 21 anos da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e foi um
evento marcante, mesmo para os padrões da época. Ele canonizou Isabel de
Portugal, André Corsini e Conrado de Placência, e emitiu as bulas Papais de
canonização para Inácio de Loyola (fundador da Companhia de Jesus, "
jesuítas ") e Francisco Xavier (também jesuíta), que foram canonizados por
seu antecessor, o Papa Gregório XV. Apesar de uma amizade e encorajamento
precoces por seus ensinamentos, Urbano VIII foi responsável por convocar o
cientista e astrônomo Galileu a Roma em 1633 para retratar seu trabalho.
Urbano
VIII se opôs ao heliocentrismo copernicano e ordenou o segundo julgamento de
Galileu após a publicação do Diálogo sobre os dois principais sistemas
mundiais, no qual o ponto de vista de Urbano é discutido pelo personagem
"Simplicio". Urbano VIII praticou nepotismo em grande escala; vários
membros de sua família foram enormemente enriquecidos por ele, de modo que
pareceu aos contemporâneos como se ele estivesse estabelecendo uma dinastia
Barberini. Ele elevou seu irmão Antonio Marcello Barberini (Antonio, o Velho) e
depois seus sobrinhos Francesco Barberini e Antonio Barberini (Antonio, o
Jovem) a Cardeal. Ele também concedeu a seu irmão, Taddeo Barberini, os títulos
Príncipe de Palestrina, Gonfalonier da Igreja, Prefeito de Roma e Comandante de
Sant'Angelo. Urbano VIII era um habilidoso escritor de versos latinos, e uma
coleção de paráfrases das Escrituras, bem como hinos originais de sua
composição, foram frequentemente reimpressos. A bula Papal de 1639, Commissum
Nobis, protegeu a existência de missões jesuítas na América do Sul, proibindo a
escravização de nativos que estavam nas reduções jesuítas. Ao mesmo tempo,
Urbano VIII revogou o monopólio jesuíta do trabalho missionário na China e no
Japão, abrindo esses países a missionários de outras ordens e sociedades
missionárias. Emitiu uma bula Papal de 1624 que tornava o uso do tabaco em
lugares sagrados punível por excomunhão. O Papa Bento XIII revogou a proibição
cem anos depois.
Urbano
VIII canonizou cinco Santos durante seu Pontificado: Stephen Harding (1623),
Isabel de Portugal e Conrado de Placência (1625), Pedro Nolasco (1628) e André
Corsini (1629). O Papa também beatificou 68 indivíduos, incluindo os Mártires
de Nagasaki (1627). Criou 74 Cardeais em oito consistórios ao longo de seu Pontificado,
incluindo seus sobrinhos Francesco e Antonio, primo Lorenzo Magalotti e o irmão
do Papa Antonio Marcello. Ele também criou Giovanni Battista Pamphili como Cardeal,
com Pamphili se tornando seu sucessor imediato, o Papa Inocêncio X. O Papa
também criou oito desses Cardeais que ele havia reservado em pectore. O
envolvimento militar de Urbano VIII visava menos a restauração do catolicismo
na Europa do que ajustar a balança de poder para favorecer sua própria
independência na Itália. Em 1626, o ducado de Urbino foi incorporado aos
domínios Papais e, em 1627, quando a linha masculina direta dos Gonzagas em
Mântua foi extinta, ele favoreceu controversamente a sucessão do duque
protestante Carlos de Nevers contra as reivindicações dos católicos. Ele também
lançou as Guerras de Castro em 1641 contra Eduardo I Farnésio, Duque de Parma e
Piacenza, a quem ele excomungou. Castro foi destruído e seu ducado incorporado
nos Estados Papais. Urbano VIII foi o último Papa a estender o território Papal.
Fortificou o Castelo franco Emilia na fronteira de Mantuan e encomendou
Vincenzo Maculani para fortificar o Castelo Sant'Angelo em Roma. Urbano VIII
também estabeleceu um arsenal no Vaticano, uma fábrica de armas em Tivoli e
fortificou o porto de Civitavecchia.
Patrono
das artes Urbano VIII e sua família apadrinharam a arte em grande escala. Ele
gastou vastas somas trazendo polímatas como Athanasius Kircher para Roma e
financiando várias obras substanciais do escultor e arquiteto Bernini, de quem
ele já havia encomendado Boy com um dragão por volta de 1617 e que foi
particularmente favorecido durante o reinado de Urbano VIII. Além de vários bustos
retratados de Urbano, encomendou Bernini para trabalhar no Palácio da família
em Roma, no Palazzo Barberini, no Colégio de Propaganda Fide, na Fontana del
Tritone na Piazza Barberini, no baldacchino e cathedra na Basílica de São Pedro
e outras estruturas importantes da cidade. Inúmeros membros da família de
Barberini também tiveram sua semelhança apanhada em pedra por Bernini, como
seus irmãos Carlo e Antonio. Urbano também reconstruiu a Igreja de Santa
Bibiana e a Igreja de San Sebastiano al Palatino, no Monte Palatino. Os
Barberini patrocinavam pintores como Nicolas Poussin e Claude Lorrain. Uma das
obras mais elogiosas em sua celebração de seu reinado é a enorme Alegoria da
Divina Providência pintada por Pietro da Cortona no teto do grande salão do
Palazzo Barberini. Uma consequência desses esforços militares e artísticos foi
um aumento maciço da dívida Papal. Urbano VIII herdou uma dívida de 16 milhões
de escudos e, em 1635, aumentou para 28 milhões. Diz-se que a morte de Urbano
VIII em 29 de julho de 1644 foi apressada por desgosto com o resultado das
Guerras de Castro. Por causa dos custos incorridos pela cidade de Roma para
financiar esta guerra, Urbano VIII tornou-se imensamente impopular com seus
súditos. Em sua morte, o busto de Urbano VIII, que ficava ao lado do Palácio
dos Conservadores no Monte Capitolino, foi rapidamente destruído por uma
multidão enfurecida, e apenas um padre de pensamento rápido salvou a escultura
do falecido Papa pertencente aos jesuítas de um semelhante destino. Após sua
morte, maquinações internacionais e domésticas fizeram com que o conclave Papal
não elegesse o Cardeal Giulio Cesare Sacchetti, que estava intimamente
associado a alguns membros da família Barberini. Em vez disso, elegeu o Cardeal
Giovanni Battista Pamphili, que adotou o nome de Inocêncio X, como seu sucessor
no conclave de 1644.
236
. 1 - São Vivente de Paulo
Vicente
de Paulo nasceu em Pouy, perto da cidade de Dax, no sul da França, aos 24 de
abril de 1581; foi batizado no mesmo dia de seu nascimento. Era o terceiro
filho do casal João de Paulo (Jean de Paul) e Bertranda de Moras (Bertrande de
Moras). Seus pais eram agricultores e muito religiosos. Todos os seis filhos
receberam o ensino religioso de sua mãe. Seus dois irmãos mais velhos ajudavam
os pais na lavoura e Vicente cuidava de ovelhas e de porcos. Desde pequeno,
demonstrava muita inteligência e grande religiosidade. Em frente à sua casa, em
um pé de carvalho, havia um buraco; ele colocou lá uma pequena imagem da
Santíssima Virgem, a quem diariamente ajoelhava e fazia uma oração. Conduzia os
animais para melhores pastagens, onde ficava a vigiá-los. Aos domingos ia à
aldeia, com seus pais, para assistir à missa e frequentar o catecismo.
O Sr. Vigário
aconselhou a seu pai para colocar o garoto Vicente em uma escola; via nele um
grande futuro, devido à sua inteligência. O pai, que era ambicioso, colocou-o
em um colégio religioso, desejando que fosse padre e se tornasse o arrimo da
família. Foi matriculado em um colégio de padres Franciscanos, na cidade de
Dax, onde ele fez os estudos básicos. Para seguir a carreira sacerdotal fez os
estudos teológicos na Universidade de Toulouse. Foi ordenado Sacerdote em 23 de
setembro de 1600. Continuou os estudos por mais 4 anos, recebendo o título de
Doutor em Teologia. Uma viúva que gostava de ouvir as suas pregações, ciente de
que ele era pobre, deixou-lhe sua herança, pequena propriedade e determinada
importância em dinheiro, que estava com um comerciante em Marselha. Ele foi
atrás do devedor; encontrando-o recebeu grande parte do dinheiro; ia regressar
de navio, por ser mais rápido e mais barato. Na viagem o barco foi aprisionado
por barcos de piratas e levado para a Tunísia. Em Túnis foi vendido como escravo,
para um pescador, depois para um químico; com a morte deste, ele passou pra um
seu sobrinho, que vendeu-o para um fazendeiro (um renegado) que antes era
católico, e que com medo da escravidão, adotara a religião muçulmana. Ele tinha
três esposas; uma era muçulmana e, ouvindo os cânticos do escravo,
sensibilizou-se, e quis saber o significado do que ele cantava. Ela, ciente da
história, censurou o marido por ter abandonado uma religião tão bonita. O
patrão de Vicente, arrependido, propôs ao escravo fugirem para a França. Esta
fuga só foi realizada 10 meses depois. Em um pequeno barco, atravessaram o Mar
Mediterrâneo e foram dar na costa francesa, em Aigues-Mortes e de lá foram para
Avinhão. Naquela cidade encontraram o Vice-Legado do Papa. Vicente voltou a
exercer o ministério de padre e o renegado abjurou publicamente e voltou para a
Igreja Católica. Padre Vicente e o renegado ficaram residindo em casa do
Vice-Legado. Tendo ele de viajar a Roma, levou os dois em sua companhia. Padre
Vicente aproveitou a estadia naquela cidade e freqüentou a Universidade,
formando-se em Direito Canônico. O renegado pediu para ser admitido em um
mosteiro e tornou-se monge.
Tendo o
Papa de mandar um documento sigiloso para o Rei da França, padre Vicente foi o
escolhido. Pelos serviços prestados, o Rei indicou-o como Capelão da Rainha.
Seu serviço era distribuir esmolas para os pobres que rodeavam o Palácio e
visitar os doentes do Hospital da Caridade, em nome da Rainha. Padre Vicente
não gostava do ambiente do Palácio e passou a morar em uma pensão, no mesmo
quarto com um juiz. Certo dia amanhecera doente; o empregado da farmácia que
foi atendê-lo, precisando de um copo, foi apanhar em um armário, e viu lá um
dinheiro, que era do juiz, e ficou com ele. Na volta, o juiz, não encontrando
seu dinheiro, quis que padre Vicente o devolvesse; como ele não sabia do
acontecido, o juiz colocou-o para fora do quarto e coluniou-o de ladrão. São
Vicente de Paulo fica conhecendo o padre Bérulle, que mais tarde foi nomeado
Cardeal e ele indicou-o para Vigário de Clichy, subúrbio de Paris. Na paróquia
pobre, a maioria dos habitantes era de horticultores. Padre Vicente se deu bem
com eles; as missas eram bem participadas e instituiu a comunhão geral nos
primeiros domingos o mês. Criou a Confraria do Rosário, para todos os dias
visitarem os doentes. Padre Vicente, atendendo ao seu diretor, padre Bérulle,
deixou a paróquia e foi ser preceptor dos filhos do general das Galeras. Foi
residir no Palácio dos Gondi, família rica e da alta nobreza. Eles tinham
grandes propriedades e padre Vicente, em companhia da senhora De Gondi,
visitava uma das propriedades; foi chamado para atender um agonizante e ouvir
sua confissão. O doente disse à senhora De Gondi, que, se não fosse a presença
do Sacerdote, iria morrer em grandes faltas e ia permanecer no fogo eterno. Padre
Vicente percebeu que o povo do campo estava abandonado e na missa dominical
concitou o povo a fazer a confissão geral. Teve que arranjar outros padres para
ajudá-lo nas confissões, tantos eram os que queriam confessar-se. Padre Vicente
esteve morando com a família Gondi cinco anos. Depois de ir para outra
paróquia, atendendo a um chamado do padre Bérulle, padre Vicente voltou para
morar em casa dos Gondi, onde ficou mais 8 anos. Com o auxílio da senhora de
Gondi, fundou a Congregação da Missão em 1625 e a Confraria da Caridade em
1617. A primeira cuida da evangelização dos camponeses e a segunda dá
assistência espiritual e corporal aos pobres. Em Follevile, fundou uma
Confraria de Caridade para homens, em 1620. A Congregação da Missão surgiu
espontaneamente. Padre Vicente conseguiu alguns colegas para pregar aos
camponeses; exigia deles a simplicidade nas pregações, para o povo entender, e
rapidamente seu grupo foi aumentando. No princípio, alugaram uma casa para sua
moradia. Com o aumento mudaram para um velho Colégio. O número aumentava. Um
cônego que dirigia um leprosário sem doentes ofereceu em doação os prédios do
leprosário para residência dos padres. A instituição demorou de 1625 até 12 de
janeiro de 1633, quando recebeu a Bula do Papa Urbano VIII, reconhecendo a
Congregação. Padre Vicente sempre se preocupou com as crianças enjeitadas e
abandonadas, com os velhos e os pobres e doentes. Durante sua vida criou
grandes obras, que até hoje estão prestando serviços à humanidade. A primeira
irmã de caridade foi uma camponesa de nome Margarida Naseau. Com colaboração de
Santa Luisa de Marilac, ele estabeleceu a Companhia das Irmãs da Caridade.
Começaram 4 camponesas, hoje são milhares. Isto se deu em 29 de novembro de
1633. Padre Vicente criou tantas obras, que em pouco tempo não é possível
enumerar. Padre Vicente tinha quase 80 anos quando faleceu, dia 27 de setembro
de 1660. Em 16 de junho de 1737, foi canonizado pelo Papa Clemente XII, e, em
12 de maio de 1885, foi declarado Patrono de todas as obras de caridade da Igreja
Católica, por Leão XIII. Seu corpo repousa na Capela da Casa-Mãe, São Lázaro,
em Paris, incorruptível.
237º
- Inocêncio X - 1644 - 1655
Papa Inocêncio X, nascido Giambattista
Pamphili, ou Pamphilj (Roma, 6 de maio de 1574 — Roma, 7 de janeiro de 1655)
foi Papa de 15 de setembro de 1644 até a data da sua morte. Nascido em Roma, da
uma família de Gubbio, na Úmbria, que havia chegado a Roma durante o
Pontificado do Papa Inocêncio IX, Pamphili foi treinado como advogado e formado
no Collegio Romano. Ele seguiu um curso honorífico convencional, seguindo seu
tio Girolamo Pamphili como auditor da Rota e, como ele, alcançando a posição de
Cardeal-Sacerdote de Santo Eusébio, em 1629. Antes de se tornar Papa, Pamphili
serviu como diplomata Papal em Nápoles, França e Espanha. Inocêncio X foi um
dos Pontífices mais politicamente espertos da época, aumentando muito o poder
temporal da Santa Sé. Os principais eventos políticos nos quais ele esteve
envolvido incluem a Guerra Civil Inglesa, conflitos com oficiais da igreja
francesa por questões de fraude financeira e hostilidades com o Ducado de Parma
relacionadas à Primeira Guerra de Castro. Em termos de eventos teológicos,
Inocêncio X emitiu uma bula Papal condenando as crenças do jansenismo. Inocêncio
X iniciou seu Papado já aos 70 anos de idade e foi coroado em uma imensa festa.
Na época, os embaixadores espanhóis e franceses rivalizavam em disputas de prestígio.
Para agradar o novo Papa, esbanjaram nas festividades. Mas quem o novo Papa
privilegiou mesmo foi o seu próprio irmão, forneceu a ele muita influência
política e religiosa. Olimpia Maidalchini, sua cunhada, se aproveitou da
situação e foi ela quem efetivamente se apropriou da liderança política e religiosa
proporcionada pelo Papa. O Supremo Pontífice era reconhecido como grande
estadista já desde antes de sua ascensão. Como Papa, Inocêncio X protestou
contra determinadas cláusulas do Tratado de Vestfália que colocou um fim na
famosa Guerra dos Trinta Anos ocorrida nos estados germânicos. Todavia, o
tratado sancionava o princípio que obrigava os súditos a adotar a mesma
religião que o Príncipe professava. As consequências disso poderiam ser catastróficas
para a Igreja Católica, o que forçou uma aguda intervenção do Papa na questão.
Todo o temor se justifica pelo crescimento do protestantismo na Europa desde
Martinho Lutero. Na Inglaterra, Henrique VIII já havia rompido com a Igreja
Católica e estabelecido uma nova doutrina. Durante o Papado de Inocêncio X quem
liderava a Inglaterra era o puritano fanático Oliver Cromwell, responsável por
decapitar o rei Carlos I e por devastar a Irlanda católica no ano de 1653. No
cenário internacional do cristianismo católico, a Bélgica e a França também
eram um problema. Crescia em popularidade a obra de Cornélio Jansen que
questionava a Igreja e apresentava modernizações do cristianismo. Inocêncio X
interveio também nesta questão declarando hereges todos os seguidores do
chamado jansenismo. Mas nem só de problemas políticos internacionais se fez o Papado
de Inocêncio X. O Supremo Pontífice de Roma foi responsável pelo embelezamento
de Roma e pela promoção de vários artistas através do mecenato. Confiou ao
pintor espanhol Diego Velázquez a confecção de seu mais famoso retrato. Por
sinal, esta obra tornou-se símbolo de uma nova geração de pintores e grande
representante de um estilo artístico altamente apurado em sua perfeição e em
seu detalhismo. Inocêncio X faleceu no dia 14 de janeiro de 1655. Seu funeral
foi bastante oposto a sua coroação como Papa. Seus próprios parentes, os mesmos
que tanto ajudou durante o Papado, não quiseram gastar com homenagens e
celebrações. Só muitos anos mais tarde, um filho de seu sobrinho que o
homenageou construindo um sepulcro na igreja de Santa Inês.
237
. 1 - Aparição de Nossa Senhora de Coromoto – Venezuela
No ano
de 1652, Nossa Senhora de Coromoto apareceu aos índios do mesmo nome. Foi
declarada Padroeira da Venezuela pelo Episcopado venezuelano no dia primeiro de
maio de 1942. O Papa Pio XII a declarou "Celeste e Principal Padroeira de
toda a República da Venezuela" no dia 7 de outubro de 1944. O Santuário
Nacional está construído no local da aparição, perto da cidade de Guanaguanare.
O Papa João Paulo II, em fevereiro de 1996, abençoou pessoalmente este
Santuário. Entre os índios que habitavam a região de Guanaguanare, havia um
grupo conhecido como "Coromotos". Quando chegaram os colonizadores
espanhóis, os Coromotos se embrenharam na selva, montanhas e vales situados a
noroeste da cidade de Guanare, nas fontes e margens dos rios Tucupido e Anos.
Os Coromotos moraram muito tempo nesses lugares distantes e sua memória foi
sendo perdida, até que chegou o momento de sua conversão, graças a poderosa
mediação da Santíssima Virgem.
Um
espanhol honrado e bom cristão, chamado Juan Sánchez, possuía as férteis terras
de Soropo, situadas a quatro ou cinco léguas de Ganare. A ele se uniram para
trabalhar a terra e tratar do gado dois colonizadores: Juan Sibrián e Bartolomé
ánchez. Descansando de uma longa viagem em certo dia, do ano de 1651, o Cacique
dos Coromotos, acompanhado de sua mulher e filhos, eis que lhes aparece uma
formosíssima Senhora de incomparável beleza, que trazia em seus braços um
preciosíssimo Menino, caminhando sobre as cristalinas águas da corrente.
Maravilhados, contemplam a majestosa Dama; esta lhes sorri amorosamente e fala
ao Cacique em sua própria língua, dizendo-lhe que ali fora procurar água para
colocar sobre a cabeça e assim poder subir aos céus. Estas palavras foram ditas
com tal unção e força que comoveram o coração do Cacique. Ele se dispôs a
cumprir os desejos de tão encantadora Senhora.
No mês
de novembro do citado ano, Juan Sánchez passava perto daquela região seguindo a
estrada denominada "Cauro", quando ia em viagem para El Tocuyo. A
certa altura, encontra o chefe dos Coromotos, que lhe conta que uma belíssima
Mulher, com uma criancinha formosa havia-lhe aparecido pedindo-lhe que fosse ao
local onde moravam os brancos para buscar água para molhar sua cabeça, antes de
ir para o céu. E acrescentou o Cacique que tanto ele como todos os de sua tribo
estavam dispostos a atender os desejos de tão excelsa senhora. Juan Sánchez,
gratamente surpreendido pelo relato do índio, disse-lhe que estava indo de
viagem para um povoado chamado El Tocuyo. A oito dias estaria de volta. Quando
retornou, Juan Sánchez juntou-se aos Coromotos. Toda tribo partiu com o
espanhol. Seguindo as indicações de Juan Sánchez, a caravana se deteve no
ângulo formado pela confluência dos rios Tucupido e Guanaguanare, num lugar que
foi chamado de Coromoto. Juan Sánchez foi imediatamente à vila do Espírito
Santo de Guanaguanare e avisou as autoridades sobre o ocorrido. Os alcaides Dom
Baltazar Rivero De Losada e Dom Salvador Serrada Centeno, que governavam a
Vila, dispuseram que os índios permanecessem em Coromoto e ofereceram-lhes Juan
Sánchez para demarcar terras para seus trabalhos e para doutriná-los nos
rudimentos da religião cristã. O abnegado espanhol cumpriu sua missão
cuidadosamente, fazendo de tudo para tornar feliz a permanência dos índios
naquela região.
Os
indígenas construíram seus ranchos, receberam as terras e, contentes, ouviam as
explicações doutrinárias que lhes dava o espanhol, ajudado por sua esposa e os
outros dois companheiros. Este trabalho apostólico foi sendo coroado de êxito.
Pouco a pouco os índios iam sendo batizados. O Cacique, a princípio, assistia
com gosto às instruções, mas começou a se desgostar e a sentir falta de seus
bosques. Não mais frequentou as reuniões promovidas por Juan, não quis mais
aprender a doutrina cristã e se recusou a ser batizado. No dia 8 de setembro de
1652, Juan Sánchez convidou os índios que trabalhavam em Soropo para assistirem
a alguns atos religiosos que haviam sido preparados. O Cacique Coromoto recusou
este convite. Ainda assim, seus companheiros honraram com humildes preces a
Virgem. Isso deixou o Cacique enraivecido que fugiu para Coromoto.
A cabana
do Cacique era a maior entre todas as choças indígenas, mas era pequena e pobre
em comparação às casas dos espanhóis. Naquela noite se encontravam na cabana
uma irmã do Cacique, chamada Isabel e seu filho, de doze anos e outras duas
índias. O Cacique Coromoto chegou muito triste e calado. Imediatamente deitou-se
na esteira. Vendo o seu estado, ninguém lhe dirigiu a palavra. Passou-se um
longo tempo de silêncio. O Cacique tentava dormir, mas dentro de sua memória
não saía aquela Senhora. Contudo, outros pensamentos turvavam seu triste e
melancólico caráter: seu orgulho humilhado pela obediência e sua desenfreada
liberdade, clamava por uma completa emancipação; certa raiva interna e
inexplicável lhe pintava o batismo e a vida dos brancos como insuportáveis. Em
poucos minutos, a Virgem Santíssima apareceu na cabana do Cacique, em meio a
invisíveis legiões de anjos que formavam seu cortejo. Dela saíam raios de luz
que inundaram a choça. Segundo o testemunho da índia Isabel a luz era tão
potente que parecia a luz do sol ao meio-dia. Mas não cansava a visão daqueles
que a contemplavam tão grande maravilha. O Cacique reconheceu a mesma bela
mulher que, meses antes, contemplara sobre as águas. O índio pensava,
provavelmente, que a Senhora viera reprovar seu comportamento. Passados alguns
segundos, o Cacique rompeu o silêncio e dirigindo-se à Senhora disse
enfurecido: Até quando irás me perseguir?" Estas palavras impensadas e
desrespeitosas mortificaram a esposa do Cacique, que o consolou: "Não
fales assim com a bela mulher. Não tenhas tanto mal em teu coração". O
Cacique, encolerizou-se e não pôde mais suportar a presença da Divina Senhora
que permanecia à porta dirigindo-lhe um olhar tão terno e carinhoso, capaz de
comover o coração mais duro. Desesperado, o Cacique saca de um arco com uma
flecha e chegando ao auge de sua loucura ameaça matá-la. Nesse instante, a
Excelsa Senhora entra na choça, sorridente e serena, aproxima-se dele que lança
o arco contra o chão. O Cacique tenta abraçar a Senhora que desaparece,
deixando a cabana iluminada apenas pela luz do fogão.
Fora de
si e mudo de terror, ele ficou alguns minutos imóvel, com os braços estendidos
e entrelaçados, na mesma posição em que estavam quando tentara agarrar a
Virgem. Ele tinha uma mão aberta e a outra fechada, que apertava o máximo. Ele
sentia que a bela mulher a havia fechado. Cheio de temor, o índio disse à sua
mulher: "Aqui a tenho!". As mulheres disseram em coro:
"Mostre-nos". O Cacique abriu a sua mão e os quatro indígenas
reconheceram ser aquela uma imagem e acreditaram que era a "Bela Mulher".
Quando o índio abriu a mão, a pequena imagem lançou raios luminosos que
causaram grande esplendor. O Cacique começou a suar frio. Com a mesma fúria de
antes, envolve a milagrosa imagem em uma folha e a esconde no teto de palha de
sua casa dizendo: "Aí tu te queimarás, para que me deixes". O
indiozinho, que interiormente desaprovava a torpe conduta do tio, prestou bem
atenção no esconderijo da imagem e resolveu avisar Juan Sánchez sobre o que
ocorrera. Escapou da casa por volta da meia-noite em direção a Soropo,
enfrentando com coragem todos os riscos. Ao chegar, todos dormiam. Ele
sentou-se à beira da porta e esperou o amanhecer. A esposa de Juan Sánchez, ao
abrir a porta de sua casa na madrugada do domingo, surpreendeu-se ao ver o
menino. Ele contou-lhe tudo que havia acontecido. A mulher chamou o marido.
Juan sorriu e não deu crédito ao relato do indiozinho, que repetiu sua história
veementemente: "Podem ir a Coromoto agora mesmo e vocês irão comprovar o
que digo".
Bartolomé
Sánchez, Juan Sibrián, Juan Sánchez e o indiozinho se puseram sem demora a
caminho de Coromoto. Quando chegaram perto do povoado os três espanhóis se
esconderam a três quadras da casa. O menino se encarregou de ir à choça do tio
apanhar a imagem. Felizmente, o Cacique e as duas mulheres estavam fora da
casa. Sem que ninguém o visse, o menino entrou na casa. Com o coração em júbilo
pegou a imagem e a levou para Juan que, ao recebê-la, sentiu profunda emoção.
Na imagem reconhecera a efígie de Maria Santíssima, a Mãe de Deus. Com muito
respeito a colocou em um relicário de prata que costumava carregar. Retornando
à sua casa em Soropo, Juan Sánchez colocou a pequena imagem, que já começava a
ser chamada de Nossa Senhora de Coromoto, em um altarzinho, alumiando-a com uma
vela de cera escura. Esta humilde luminária ardeu dia e noite, sem consumir-se
desde as doze horas da noite de domingo até à tarde de terça-feira. Este fato
foi declarado milagroso, pois o pedaço de vela deveria arder, no máximo, uma
meia hora. Terça-feira, à tarde, Juan Sánchez foi à Vila de Guanaguanare
(Guanare) onde revelou ao Padre Dom Diego Lozano, tudo quanto sabia sobre a
imagem. Mas este não lhe deu crédito, dizendo que aquela estampa deveria ser
obra de algum viajante. Juan Sánchez, sem se lastimar por isso, regressou feliz
a Soropo, pois comprara o necessário para manter uma lamparina acesa diante da
imagem, que ficou em sua casa até primeiro de fevereiro, um ano e quatro meses.
No dia 9
de setembro, domingo, o Cacique resolveu ir aos montes com alguns índios. Mal
entrou no bosque foi mordido por uma cobra. Vendo-se mortalmente ferido e
reconhecendo no acontecimento um castigo do céu pela sua péssima conduta com
relação à Senhora, começou a se arrepender, pedindo em altos gritos que lhe
administrassem o Batismo. A casa de Juan Sánchez se transformou num pequeno
santuário. Para aí acorreu toda a população de Guanare atraída pelos milagres,
graças e favores que eram alcançados por intercessão de Nossa Senhora de
Coromoto. No dia primeiro de fevereiro de 1654 a imagem foi trasladada
solenemente para a igreja de Guanare por ordem do pároco Diego de Lozano. A
devoção popular foi crescendo espantosamente até a coroação Pontifícia em 1952.
A força histórica do fato coromotano repousa principalmente no testemunho do
povo. Uma tradição jamais interrompida. Na década dos anos 20, houve um
evidente ressurgir do movimento coromotano, mas não se pode dizer que tenha
sido o ressurgir de algo morto, pois desde sua aparição até os nossos dias, o
povo da Venezuela jamais deixou de peregrinar a Guanare para honrar sua
padroeira. Atualmente pode-se afirmar que não existe um só templo católico
venezuelano que não possua uma imagem de Nossa Senhora de Coromoto, sempre
amada e homenageada pelos fiéis.
238º
- Alexandre VII - 1655 – 1667
Papa Alexandre VII, nascido Fabio Chigi
(Siena, 13 de fevereiro de 1599 — Roma, 22 de maio de 1667), foi Papa da Igreja
Católica de 7 de abril de 1655 até sua morte. Ele começou sua carreira como um
legado vice- Papal e ocupou vários cargos diplomáticos na Santa Sé. Foi
ordenado Sacerdote em 1634 e tornou-se Bispo de Nardo em 1635. Mais tarde foi transferido
em 1652 e tornou-se Bispo de Ímola. O Papa Inocêncio X o tornou Secretário de
Estado em 1651 e, em 1652, foi nomeado Cardeal. No início de seu papado,
Alexandre, que era visto como antinepotista na época de sua eleição, viveu
simplesmente. Mais tarde no entanto, ele deu emprego a seus parentes, que eventualmente
assumiram o governo. Sua administração trabalhou para apoiar os jesuítas. No
entanto, as relações de seu governo com a França foram tensas devido a seus atritos
com diplomatas franceses. Alexandre estava interessado em arquitetura e apoiou
vários projetos urbanos em Roma, além de construir muitas escolas na Europa,
como a escola internacional Vittoria, MFG, Clef e Colégio. Ele também escreveu
poesia e apoiou artistas apadrinhados que expandiram a decoração das igrejas.
Seus escritos teológicos incluíam discussões sobre heliocentrismo e a Imaculada
Conceição. O Chigi de Sienna estava entre as mais ilustres e poderosas famílias
italianas. Na Roma dos tempos da Renascença, um ancestral de Alexandre VII era
conhecido como o “Magnífico”. O futuro pai do Papa, Flavio Chigi, sobrinho do
Papa Paulo V, embora não tão próspero quanto seus antepassados, deu a seu filho
um treinamento adequado. Este último deveu muito também à sua mãe, uma mulher
de singular poder e habilidade na formação da juventude. A juventude de Fábio
foi marcada por um mal-estar contínuo, consequente a um ataque de apoplexia na
infância. Incapaz de frequentar a escola, ele foi ensinado primeiro por sua mãe
e, mais tarde, por tutores habilidosos, e mostrou notável precocidade e amor
pela leitura. Em seu vigésimo sétimo ano, ele obteve os doutorados de
filosofia, direito e teologia na Universidade de Sienna, e em dezembro de 1626,
entrou em sua carreira Eclesiástica em Roma. Em 1627 foi nomeado pelo Vice-Legado
Urbano VIII de Ferrara, e serviu cinco anos sob os Cardeais Sacchetti e
Pallotta, cujos elogios conquistaram para ele o importante cargo de Inquisidor
de Malta, junto com a consagração episcopal. Em 1639 foi promovido à nunciatura
de Colônia; e em 1644 foi feito enviado extraordinário de Inocêncio X à
conferência de Münster, na que postou energicamente defensor dos interesses Papais
durante as negociações que conduziram, em 1648, à Paz de Vestfália. Inocêncio X
o chamou para Roma em 1651 para ser seu Secretário de Estado, e em fevereiro de
1652, fez dele Cardeal. No conclave de 1655, famoso por sua duração de oitenta
dias, e pelo choque de interesses nacionais e faccionais, o Cardeal Chigi foi
eleito por unanimidade Papa. A escolha foi considerada providencial, numa época
em que os religiosos estavam sendo forçados a perceber as consequências deploráveis,
morais e financeiras do nepotismo, era necessário um Papa que governaria sem a
ajuda de parentes. Durante um ano, as esperanças da cristandade pareciam ser
realizadas. Alexandre proibiu seus parentes de vir a Roma. Sua própria
santidade de vida, severidade da moral e aversão ao luxo tornaram mais
resplandecentes suas virtudes e talentos. Mas no consistório de 24 de abril de
1656, influenciado por aqueles que temiam a fraqueza de uma corte Papal
insustentada por laços de interesse da família, ele propôs trazer seu irmão e
sobrinhos para ajudá-lo. Com o advento deles veio uma mudança marcante no modo
de vida do Pontífice. A administração foi dada em grande parte nas mãos de seus
parentes, e abusos nepóticos vieram a pesar mais do que nunca sobre o Papado.
Os esforços dos Chigi para enriquecer a família foram considerados
indulgentemente pelo Papa; mas, sempre piedoso e devoto, ele estava longe de
ter uma participação nos excessos de seus sobrinhos amantes do luxo. Seu fardo
para ser aliviado, passou a maior parte de seu tempo em atividades literárias e
na sociedade dos eruditos; mas os amigos a quem ele favorecia eram aqueles que
poderiam ser mais confiáveis como conselheiros.
O Pontificado
de Alexandre VII foi obscurecido por contínuas dificuldades com o jovem e mal aconselhado
Luís XIV da França, cujos representantes eram uma constante fonte de
aborrecimento para o Papa. O primeiro-ministro francês, Cardeal Mazarin, não
perdoou o legado que se opôs resolutamente a ele nas conferências de Munster e
Osnabrück, ou do Secretário de Estado Papal que ficou no caminho de sua
política anti-romana. Durante o conclave, ele havia sido amargamente hostil a
Chigi, mas no final foi obrigado a aceitar sua eleição como um compromisso. No
entanto, ele impediu Luís XIV de enviar a habitual embaixada de obediência a
Alexandre VII e, enquanto ele vivia, impediu a nomeação de um embaixador
francês em Roma, enquanto os assuntos diplomáticos eram conduzidos por Cardeais
protetores, geralmente inimigos pessoais do Papa. Em 1662, o igualmente hostil
duque de Crequi tornou-se embaixador. Por seu abuso arbitrário do tradicional
direito de asilo concedido aos distritos de embaixada em Roma, ele precipitou
uma briga entre a França e o Papado, que resultou na perda temporária do Palácio
do Papa de Avinhão e sua aceitação forçada do humilhante tratado de Pisa em
1664. Encorajados por esses triunfos, os jansenistas franceses, que
reconheceram em Alexandre um velho inimigo, tornaram-se insolentemente
assertivos, afirmando que as proposições condenadas em 1653 não seriam
encontradas no “Augustinus” de Cornélio Jansen. Alexandre VII, que como
conselheiro de Inocêncio X defendeu vigorosamente a condenação, confirmou-a em
1665 pela Bula “Ad Sacram” declarando que se aplicava ao supracitado trabalho
de Jansen e ao próprio significado pretendido por ele; também enviou à França
seu famoso “formulário”, a ser assinado por todo o Clero como um meio de
detectar e extirpar o jansenismo. Seu reinado é memorável nos anais da teologia
moral para a condenação de várias proposições errôneas. O Cardeal Hergenröther
elogia sua moderação nas controvérsias dogmáticas acaloradas do período.
Durante o seu reinado ocorreu a conversão da rainha Cristina da Suécia, que,
após a sua abdicação, veio residir em Roma, onde no dia de Natal de 1655, foi
confirmada pelo Papa, em quem encontrou um generoso amigo e benfeitor. Ajudou
os venezianos a combater os turcos que haviam conquistado uma posição em Creta,
e obteve em troca a restauração dos jesuítas, exilados em Veneza desde 1606. As
relações inimigas entre Espanha e Portugal ocasionadas pela independência desta
última (1640) foi uma fonte de julgamentos graves para Alexandre, como para
outros Papas antes e depois dele. Alexandre VII fez muito para embelezar Roma.
Casas foram niveladas para dar lugar a ruas mais retas e amplas praças, o
Collegio Romano. As decorações da igreja de Sta. Maria del Popolo, igreja
titular de mais de um dos Cardeais Chigi, a Scala Régia, a Cátedra de São Pedro
na Basílica Vaticana e a grande colunata anterior ao edifício, fala tanto a
genialidade de Bernini quanto a munificência de seu patrono Papal. Ele também
foi um patrono da aprendizagem, modernizou a Universidade Romana, conhecida
como Sapienza, e enriqueceu-a com uma magnífica biblioteca. Também fez extensas
adições à Biblioteca do Vaticano. Sua tumba de Bernini é um dos mais belos
monumentos de São Pedro.
238
. 1 - Aparição de Nossa Senhora à Maria de Jesus de Ágreda.
Maria de
Jesus de Ágreda, nascida Maria Coronel y Arana (Ágreda, 2 de abril de 1602 –
Ágreda, 24 de maio de 1665), foi uma religiosa abadessa de Ágreda, cidade
situada na província espanhola de Sória, tendo nascido e falecido nessa mesma
localidade. Além de monja da Ordem da Imaculada Conceição, foi também uma
importante escritora mística, e uma relevante figura na catequização dos
indígenas na América Espanhola. Maria Coronel y Arana nome de batismo da
Venerável Madre Maria de Jesus de Ágreda, nasceu no dia 2 de abril de 1602, na
cidade de Ágreda em Sória. Sendo fruto do casamento de Francisco Coronel e
Catalina de Arana, uma família de fidalgos, que tiveram onze filhos, no qual
quatro deles sobreviveram: José, Francisco, Gerónima e María, que se tornará a
futura Venerável Maria de Jesus de Ágreda. Desde muito pequena apresentou uma
afeição pela religião e aos doze anos de idade se interessou em ingressar na
vida religiosa. Diante das tentativas de entrar para o convento de Santa Ana de
Carmelitas Descalças de Tarazona, sua família decidiu transformar sua casa em
um convento. Segundo relatos, sua mãe Catalina de Arana, após receber um pedido
divino, funda em sua casa o Convento de La Purísima Concepción, no qual toda
sua família ingressa na religião. Em 1620, aos 18 anos, acompanhada de sua mãe
e sua irmã, a monja toma seu hábito e se torna irmã Maria de Jesus, iniciando
sua vida religiosa no convento de Ágreda, ao mesmo tempo que seu pai e seus
irmãos passam a fazer parte de La Orden Primeira Franciscana do convento de San
Antonio de Nalda.
No
início de sua vida religiosa, ainda em 1620, a monja presenciou momentos de
êxtase, acompanhados de visões celestiais, que promoveram a fama de Santa
milagrosa, uma vez que a população se reunia para assistir os momentos
sobrenaturais. Em 1625, com apenas vinte três anos, a abadessa levitou diante
dos olhos de sua mãe e irmã, protagonizando uma experiência mística. Sua vida
diária era marcada por severos regimes, como perpétuo jejum, jejuava três dias
na semana, reduzido o seu sustento muitas vezes a pão e água, que segundo relatos,
a teriam provocado enfermidades, assim como penitências, como carregar uma cruz
pesada durante um certo tempo e vigílias. Aos vinte cinco anos de idade, a irmã
Maria de Jesus, por correspondência assinada e enviada pelo Papa, foi nomeada
abadessa de Ágreda. Ao longo de sua vida a abadessa se destacou pela forte
espiritualidade, marcada por penitências, fenômenos de bilocação e momentos de
êxtases, segundo relatos participou da evangelização de indígenas da América, e
se tornou uma importante escritora, que se pautava na religiosidade, e na
espiritualidade barroca do século XVI e XVII. Sua obra a Mística Cidade de
Deus, é uma biografia da Virgem Maria, que contempla a história da Virgem
Santíssima. A vida da abadessa contempla aspectos interessantes, como a
capacidade de bilocação (ato de estar em dois lugares diferentes ao mesmo
tempo), que segundo relatos, a partir desse fenômeno, a monja evangelizou os
indígenas na América espanhola, conforme relatos, os indígenas afirmavam que
tinha recebido a visita da “Dama Azul”, que os tinha instruído para o batismo e
para vida religiosa. Sua suposta bilocação foi investigada pela Inquisição.
Outro aspecto notável, é a correspondência com Felipe IV, por vinte e dois
anos, assim como o seu suposto papel como conselheira do monarca em assuntos
políticos. A Venerável Maria de Jesus faleceu no dia 24 de maio de 1665, aos 63
anos, acometida por enfermidades, como fortes dores de cabeça e dificuldades
respiratórias. Em 1673, iniciou-se o seu processo de beatificação, tendo
chegado a ser declarada Venerável pelo Papa Clemente X. Após quatrocentos anos
de sua morte, o seu corpo permanece incorrupto e encontra-se exposto na Igreja
do convento de Ágreda.
Entre os
anos de 1643 a 1665, a monja manteve uma contínua troca de correspondência como
Rei Felipe IV da Espanha, que em 1643 a caminho da Catalunha, visitou a
abadessa no convento de Ágreda, iniciando uma relação epistolar que duraria o
resto de suas vidas, tornando-se segundo relatos, uma conselheira do rei nos
assuntos políticos. Assim, como manteve correspondência com outros membros da
família real, como Isabel de Borbón, Baltasar Carlos, Mariana de Áustria, Don
Juan José, bem como, membros da elite e da nobreza. Manteve também
correspondência com Francisco de Borja, futuro Papa Clemente IX. A fecunda
relação epistolar com Felipe IV, concedeu mais de seiscentas cartas, que
constituem uma fonte histórica para o conhecimento da política espanhola do
século XVII. As cartas contemplam conteúdos importantes como, a exposição dos
pensamentos do monarca sobre a política interna e externa do reino, expõe uma
reflexão das virtudes de um Príncipe, e a concepção de governo de Estado,
assim, como as relações com seus ministros, conselheiros e mesmo com seus
súditos. O monarca relata o comportamento do reino frente às potências
europeias no tempo de paz e de guerra, bem como sua confiança na vontade
divina, que sustentava a monarquia hispânica, conforme o providencialismo. As
cartas são interrompidas com a morte da Venerável Maria de Jesus em 24 de maio
de 1665.
Retrato da Maria de Jesus na
catequização dos indígenas na América
Durante
suas bilocações, Maria de Jesus atuava no trabalho de evangelização dos índios.
Alguns biógrafos contam que depois de catequizados, ela pedia para que os
indígenas se dirigissem aos franciscanos para assim serem batizados. Um
superior da Ordem Franciscana comunicou às autoridades religiosas que uma
freira espanhola estava evangelizando os índios sem sair do convento em Ágreda,
e que ela entendia os nativos assim como eles a entendiam também. As
autoridades rapidamente quiseram especular o grandioso caso. A primeira
investigação ocorreu em abril de 1629 e vários religiosos confirmaram o batismo
de índios que antes foram perfeitamente catequizados por Maria de Jesus. Em
1630, o padre franciscano F. Alonso Benavides, viajou até a Espanha para
comunicar a Ordem Franciscana o evento que estava acontecendo. Benavides
encontrou com o P. Bernardino de Sena, general da Ordem, que o contou que já
tinha sido noticiado, por outros religiosos, dos acontecimentos. No final de
1630, ordenaram Maria de Ágreda a relatar o caso ao padre Alonso Benavides, a
abadessa confirmou firmemente que estava envolvida na catequização dos
indígenas da América por meio da bilocação. Em 1631, a Inquisição se interessou
pelo caso da freira. Portanto, em 1635, inquisidores tomaram testemunhos de
alguns religiosos sobre o assunto, o que os levou, em 1649, a interrogar Maria
de Jesus, porém, não encontraram razões suficientes para abrirem um processo
contra ela.
Sua obra: “Cidade mística de Deus”
Dentre
todas as atividades que Maria de Jesus Ágreda desempenhou ao longo de sua vida,
uma função de grande relevância foi a de escritora. Além das correspondências
com Felipe IV, que permeou longo período da vida da abadessa, Maria de Jesus
também escreveu a obra “Cidade Mística de Deus”
O
trabalho se trata de uma biografia da Virgem Maria, que segundo a freira, a
própria Nossa Senhora revelava a ela os fatos a serem escritos. A obra está
dividida em três partes na qual a primeira trata dos primeiros 15 anos de
Maria, desde seu nascimento até o nascimento de Jesus. O segundo trata toda a
vida de Cristo até sua morte e ressurreição. O terceiro é sobre o resto da vida
da Virgem até sua morte e elevação aos céus. Maria de Jesus escreveu “Cidade
mística de Deus” a primeira vez entre 1637 e 1643. Em 1655, a freira começou a
escrever a obra novamente após ter ocorrido um acidente com os escritos
anteriores, terminando em 1660. Durante sua vida o livro não foi publicado,
pois a abadessa queria evitar problemas com a Inquisição, após cinco anos de
sua morte, em 1670, a primeira edição foi publicada em Madri. O livro ocasionou
grande impacto na sociedade do século XVII e XVIII. Em 1672, acusadores a
denunciaram para Inquisição, e assim se iniciou um debate entre teólogos da
Europa, consequentemente, o trabalho teve grande popularização. “Cidade mística
de Deus” contribuiu muito para a fama e devoção de Maria de Jesus Ágreda diante
ao mundo. Entre 1670 e 1965, a obra teve mais de 220 edições. O livro foi
entregue à imprensa com a aprovação da Ordem Franciscana que também teve papel
na sua divulgação.
Duas
passagem do Livro foram muito criticadas por teólogos, até mesmo por membros da
Igreja, no que se refere na página 1228 onde Ágreda faz o seguinte comentário:
“Era tão diligente, vigilante e oficiosa a prudentíssima Maria com o governo de
sua família à Santa Igreja.” A outra passagem está na página 925 que diz:
“Dividiu (o pão) com suas sagradas mãos, e se comungou a si mesmo em primeiro
lugar.”
Na
primeira passagem criticam dizendo que o governo da Igreja não é de Maria,
entendendo os críticos que o texto estava mencionando isto, que é contrário a
doutrina da Igreja. Mas o texto não está dizendo que ela governa, mas sim que
governa sua família em prol da Igreja e não diretamente a Igreja. Aquele acento
à esquerda na letra “à”, significa “para a Igreja”, indica uma direção.
Lembremos que Maria é a Sede da Sabedoria e Esposa da Igreja, e como Esposa
eterna governa indiretamente a Igreja, com suas intervenções e pedidos no Céu,
diretamente com o Criador.
Na segunda passagem criticam dizendo
que Jesus sendo Deus não poderia comungar a si mesmo, e com isso se esquecem do
dogma referente as duas características que compõem Jesus Cristo, sendo
verdadeiramente homem e Deus. Portanto quem comungou foi o homem Jesus, e também
para mostrar aos futuros Sacerdotes nesta primeira Ceia Eucarística, que eles
devem se comungar primeiro.
Com
tristeza tivemos críticos que até proibiram a circulação deste livro, sem nem
ao menos fazerem uma reflexão sobre a vida desta Santa. O corpo incorrupto
dela, já deveria fazer calar tais doutores difíceis. A incorruptibilidade do
corpo após a morte é como se Deus estivesse dizendo: “Eis aí minha serva,
acreditem nela.”
238
. 2 - Aparição de Nossa Senhora de Laus
Nossa
Senhora de Laus (em francês: Notre-Dame du Laus) ou Refúgio dos Pecadores
denota aparições marianas ocorridas entre 1664 e 1718 em Saint-Étienne-le-Laus,
França, a Benoite Rencurel, uma jovem pastora. Foram aprovadas pela Santa Sé em
5 de maio de 2008. Situado em Dauphiné, no sul da França, no sopé dos Alpes, a
sudeste de Gap, fica o vale de Laus. Seu nome significa "lago" no
dialeto local, já que antes havia um no fundo da bacia. Em 1666, a aldeia tinha
vinte famílias espalhadas em pequenas cabanas. Os habitantes construíram uma
capela dedicada à Anunciação, Notre-Dame de Bon Rencontre (Nossa Senhora do Bom
Encontro, ou seja, a Anunciação).
Benoite
nasceu em 16 de setembro de 1647, na extrema pobreza na aldeia de St Etienne
d'Avancon. Seu pai morreu quando ela tinha apenas sete anos. Quando Benoite
tinha doze anos, ela começou a trabalhar como pastora de ovelhas. Em maio de
1664, Benoite, de dezessete anos, viu uma aparição de São Maurício, um mártir
do século III que foi muito homenageado em Laus. Era perto de uma capela
próxima, então em ruínas, dedicada a São Maurício. Ele a avisou que se ela
permanecesse naquela área, os guardas locais iriam levar seu rebanho se o
encontrassem lá. São Maurício disse à pastorinha para ir ao Vale dos Fornos,
acima de Saint-Étienne, onde ela iria ver a Mãe de Deus.
Em 16 de
maio, Benoite levou suas ovelhas para o Vale dos Fornos. Ela chegou a uma
gruta, quando Maria, segurando o menino Jesus em seus braços, apareceu a ela.
Sua oferta de compartilhar o pão duro que carregava fez a bela senhora sorrir,
mas ela saiu sem dizer uma palavra. Por um período de cerca de quatro meses, a
Senhora voltou todos os dias e Benoite a ouviu falar. Outros não conseguiram
ouvir o que Maria disse. Em 29 de agosto, a Senhora disse a Benoite que seu
nome era Maria.
A
Senhora instruiu Benoite a ir para Laus de sua própria aldeia próxima e
procurá-la lá, "onde você sentirá um perfume muito
bom". Benoite foi
até Laus e encontrou uma velha capela dedicada a Notre Dame de Bonne Rencontre
e, enquanto o cheiro do lindo perfume estava lá, a capela estava em mau estado.
“É
meu desejo que uma nova capela seja construída aqui em homenagem ao meu filho
amado. Será um lugar de conversão para numerosos pecadores e irei aparecer aqui
muitas vezes ", disse a
bela senhora. Ela disse a Benoite que o óleo da lâmpada do Santuário faria
milagres com os enfermos se eles recebessem a unção com fé em sua intercessão.
Nossa
Senhora de Laus pediu aos pecadores que fizessem penitência, uma capela de
adoração eucarística a ser construída para que Jesus pudesse converter os
pecadores, e uma casa para os padres ser construída para que pudessem
administrar os Sacramentos aos pecadores. No centro da mensagem dada a Benoite
está uma conversão de almas que visa trazer a plena reconciliação consigo mesmo,
com os outros e com Deus. Alguns dos Santos que tiveram uma devoção particular
a Nossa Senhora de Laus incluem Santo Eugênio de Mazenod (1782-1861), fundador
dos Oblatos de Maria Imaculada; e São Pedro Juliano Eymard (1811–1868),
fundador dos Padres e Servos do Santíssimo Sacramento. Quando São Pedro Juliano
tinha onze anos, fez uma peregrinação de sessenta quilômetros a pé para rezar
durante nove dias no Santuário enquanto se preparava para a primeira comunhão.
Mais tarde, ele escreveu: "Foi lá que conheci e amei Maria pela primeira
vez". Em 5 de maio de 2008, o Bispo Jean-Michel de Falco Leandri, Bispo de
Gap, anunciou o reconhecimento das aparições pela Santa Sé como Nossa Senhora
de Laus, Refúgio dos Pecadores.
239º
- Clemente IX - 1667 - 1669
Papa
Clemente IX, nascido Giulio Rospigliosi, (Pistoia, 28 de janeiro de 1600 — Roma,
9 de dezembro de 1669) foi Papa e líder mundial da Igreja Católica de 20 de
junho de 1667 até a sua morte. Nada de extraordinário ocorreu durante a curta
administração de Clemente IX além do ajuste temporário das disputas entre a
Santa Sé e os prelados da Igreja Gallican que se recusaram a participar da condenação
dos escritos de Jansen. Ele foi mediador durante a paz de Aachen em 1668, nas
guerras de sucessão entre França, Espanha, Inglaterra e Holanda. Ele era
popular com o povo de Roma, não tanto por sua erudição e aplicação nos
negócios, como por sua extrema caridade e sua afabilidade para com grandes e
pequenos. Ele aumentou a boa vontade de seus súditos comprando o monopolista
que havia garantido o "macinato", ou privilégio de vender grãos, e
como seu antecessor havia coletado o dinheiro para esse fim, Clemente IX teve o
decreto publicado em nome de Alexandre VII. Dois dias por semana, ele ocupava
um confessionário na igreja de São Pedro e ouvia qualquer um que desejasse
confessar a ele. Frequentemente visitava os hospitais e era generoso em esmola
para os pobres. Em uma época de nepotismo, ele fez pouco ou nada para avançar
ou enriquecer sua família. Em sua aversão à notoriedade, ele se recusou a
permitir que seu nome fosse colocado nos prédios erguidos durante seu reinado. Clemente
IX confirmou o culto de Margarida de Sabóia em 9 de outubro de 1669. Ele também
beatificou Rosa de Lima em 15 de abril de 1668. Em 28 de abril de 1668,
canonizou Maria Madalena de Pazzi e Pedro de Alcântara. Clemente IX morreu em
Roma, supostamente de coração partido, em 9 de dezembro de 1669. Seu sucessor, o
Papa Clemente X, construiu para ele uma tumba ornamentada na Basílica de Santa
Maria Maior.
240º
- Clemente X - 1670 - 1676
Nascido
em Roma, Elilio Altieri, eleito em 11 de maio de 1670 como sucessor de Clemente
IX, foi eleito inesperadamente aos 80 anos e celebrou o 15º Jubileu (1675).
Descendente de uma antiga e tradicional família romana, foi educado em um
colégio de Roma e doutorou-se em jurisprudência. Foi nomeado para uma
nunciatura na Polônia em 1623 e ordenou-se padre no ano seguinte. Depois de
outros cargos foi novamente nomeado núncio em Nápoli em1637 e posteriormente na
Polônia. Voltou à Roma (1654) e três anos depois foi nomeado pelo Papa
Alessandro VII, Segretario della Congregazione dei Vescovi e dei Regolari e
depois em 1669 foi nomeado Cardeal pelo Papa Clemente IX, de quem era amigo
pessoal. Eleito Papa e apesar de uma vida virtuosa, a idade avançada
dificultava sua atuação na administração da Igreja. Interveio na eleição do rei
da Polônia, obtendo a nomeação de João Sobieski, muito prestigiado por suas
convicções cristãs e por haver derrotado os turcos na batalha de Chaezim. Morreu
com 86 anos de idade em 22 de julho de1676, em Roma, e foi sucedido por
Inocêncio XI. Canonizou diversos Santos entre eles Ghaeteno de Thiene,
Francesco Borgia e Rosa de Lima, a primeira Santa da América latina.
241º
- Inocêncio XI - 1676 - 1689
O Papa
Inocêncio XI, nascido Benedetto Giulio Odescalchi (19 de maio de 1611 — Roma,
12 de agosto de 1689) foi eleito no dia 21 de setembro de 1676. Ficou conhecido
como exemplo de humildade e humanidade, e, a nível de política, pela oposição a
Luís XIV da França e pelo cognome de "Salvador da Hungria", por ter
apoiado a reconquista da Europa Central e Oriental, então ocupada pelos turcos
otomanos. Governou a Igreja Católica por 22 anos, até a sua morte em 1689. Em
1683, o exército turco cercava Viena e o Papa mobilizou os Príncipes alemães e
o Rei polaco para socorrem aquele cidade, bem como mais tarde auxiliarem a
libertação da ocupação turca da Hungria. A coligação de reinos católicos (Liga
Santa dos Balcãs) organizada pelo Papa derrotou os turcos na Batalha de Viena
em 12 de setembro de 1683, às portas de Viena. A coligação reuniu 170 000
homens, provenientes dos estados alemães, do Sacro Império, da nobreza
italiana, e de polacos guiados pelo valor do seu próprio rei, Jan III Sobieski
que triunfou, sem precedentes, sobre as forças turcas que contavam com mais de
300 000 soldados, e que vinham de incendiar e derramar sangue de civis nos
estados do mar Negro e dos Balcãs, bem como nas cidades de Buda e de Pest, na
Hungria. A França não formava parte da coligação, porque se tinha comprometido
com os turcos do Império Otomano, a sustentá-lo logisticamente, em armas e
economicamente sem lhe importar as consequências da ameaça turca para o resto
da Europa. Isso valeu a Luís XIV, o roi soleil, o epíteto de "le roi
maure" (o rei mouro). Após ganhar a batalha de Viena, a Liga Santa levou a
cabo a tomada da Hungria, na qual as cidades de Buda e de Pest foram
reconquistadas em 1686. Ao mesmo tempo, os venezianos puseram em marcha uma
expedição à Grécia, que conquistou o Peloponeso. Durante o ataque de Veneza de
1687 sobre a cidade de Atenas (ocupada pelos otomanos), os otomanos converteram
o Partenon num paiol de munições. Um morteiro veneziano atingiu o Partenon,
detonando a pólvora armazenada no seu interior destruindo-o parcialmente. A
derrota turca e o triunfo da coligação católica-ortodoxa foi devida às
incessantes exortações de Inocêncio XI para que os estados alemães e o rei da
Polônia Jan III Sobieski se apressassem a ajudar Viena. Após este rotundo
triunfo Inocêncio XI não teve nenhuma reserva para induzir os Príncipes
cristãos a que completassem a expulsão dos turcos do resto da Europa,
contribuindo financeiramente para tal. Teve a satisfação de sobreviver à
captura de Belgrado, em 6 de setembro de 1688. Constantinopla seria recuperada
pela última vez em 1697. Após uma causa difícil pela sua canonização, iniciada
em 1741 por Bento XIV, e que gerou considerável controvérsia ao longo dos anos,
foi beatificado em 7 de outubro de 1956 por Pio XII. Inocêncio XI tem sido
considerado como um dos mais importantes Papas do século XVII, conhecido pela
sua Santidade, piedade, firmeza e educação. Seu dia festivo é 12 de agosto.
242º
- Alexandre VIII - 1689 - 1691
O Papa
Alexandre VIII nascido Pietro Vito Ottoboni (Veneza, 22 de abril de 1610 —
Roma, 1 de fevereiro de 1691). Foi Papa de 6 de outubro de 1689 até o dia da
sua morte. Foi eleito Papa após intervenção do então Rei francês Luís XIV,
tendo chegado a um acordo com esse rei acerca da liberdade galicana. Alexandre
VIII ajudou sua Veneza natal, através de generosos subsídios na guerra contra
os turcos, e também enviou sete galés e 2 mil de infantaria para a campanha na
Albânia. Em 1690, ele condenou as doutrinas do chamado pecado filosófico,
ensinado nas escolas jesuítas. Ele também realizou três consistórios que viram
quatorze novos Cardeais elevados. Alexandre VIII confirmou o culto de Cunegunda
da Polônia em 11 de junho de 1690, que serviu de beatificação. Em 16 de outubro
de 1690, ele canonizou vários Santos: SS. Pascoal Bailão, Lorenzo Giustiniani,
João de Sahagún, João de Deus e João de Capistrano. Foi moderado no governo do
Estado Pontifício, diminuiu os impostos e fez concessões aos agricultores, e
foi também responsável pela ampliação da Biblioteca Vaticana. Alexandre VIII
morreu em 1 de fevereiro de 1691. Sua grandiosa tumba em São Pedro foi
encomendada por seu neto, Cardeal Pietro Ottoboni, e projetada pelo conde
Arrigo di San Martino. O baixo-relevo na base e as figuras laterais foram
esculpidas por Angelo de Rossi, enquanto a estátua de bronze do Papa foi lançada
por Giuseppe Bertosi.
243º
- Inocêncio XII - 1691 - 1700
Papa Igreja
cristã Romana nascido em Spinazzola, Bari, Antonio Pignatelli, eleito em 15 de
julho de 1691 como sucessor de Alexandre VIII, em cujo Pontificado procurou com
atos oficiais combater o nepotismo, o que lhe trouxe numerosas e perigosas
antipatias. Descendente de uma família de Príncipes napolitanos, foi nomeado
sucessivamente núncio na Toscana, na Polônia e em Viena, Bispo de Lecce (1672),
Cardeal e Bispo de Faenza (1681), Arcebispo de Nápoles (1687) e, quatro anos
depois (1691), sucedeu o Papa Alexandre VIII, após um longo conclave. Condenou
o nepotismo com a bula Romanum decet pontificem em 1692 que vetava aos futuros
pontífices a concessão de bens e cargos da Igreja aos próprios parentes,
ocupou-se do aprimoramento do Clero e resolveu a divisão existente entre o Papado
e a coroa francesa. Obteve em 1693 de Luís XIV a renúncia às proposições
galicanas da histórica Declaração dos Quatro Artigos (1682) e a retratação dos
Bispos responsáveis pelos artigos galicanos, em troca o Papa reconheceu os Bispos
do Rei. Obrigou os párocos a usarem a batina todos os dias e a fazerem os
exercícios espirituais. Inocêncio XII já estava gravemente doente em 25 de
dezembro de 1699 com gota (uma doença reumática) e, portanto, não pôde assistir
à abertura solene da Porta Santa na Basílica de São Pedro para marcar o início
do Jubileu de 1700, daí o Cardeal Emmanuel-Théodose de La Tour d'Auvergne
representou o Pontífice na celebração solene. No Domingo de Páscoa de 1700, o Pontífice
gravemente doente deu uma bênção da sua varanda às grandes multidões no
exterior do Palácio do Quirinal. Apesar de sua doença, nomeou três novos Cardeais
em junho de 1700. Morreu em 27 de setembro de 1700, em Roma.
244º
- Clemente XI - 1700 - 1721
Nascido
em Urbino, Giovanni Francesco Albani, eleito Papa em 8 de dezembro de 1700, sucedendo
Inocêncio XII, o primeiro Papa do século XVIII. Cultor e protetor das artes,
enriqueceu com antigos códices orientais a Biblioteca Vaticana, secretário dos
Breves (1687), foi nomeado Cardeal-diácono pelo Papa Alexandre VIII (1690) e
ordenado Sacerdote (1700), no mesmo ano em que tornou-se Papa. Apesar de ter
uma vida de piedade e oração, seu Pontificado foi bastante conturbado durante a
guerra de sucessão ao trono na Espanha em 1708, procurou manter uma difícil
posição de neutralidade. A guerra terminou com os tratados de Utrecht, Rastadt
e Baden (1712-1714), que conferiram à Europa uma disposição territorial
favorável para o Papado. Após uma dura luta jurisdicional com Vítor Amadeu II,
de Sabóia, que recebera o título de Rei da Sicília em decorrência da paz de
Utrecht, lançou a interdição sobre a ilha. Combateu dura e decididamente o
jansenismo, que progredira muito na França, com a bula Vineam Domini (1705) e
depois com a Unigenitus (1713), em que eram condenadas as 101 proposições do
livro do jansenista Quesnel, e que constitui um documento fundamental da
controvérsia. O jansenismo era uma doutrina pregada por Jansênio (1585-1638),
teólogo holandês e Bispo de Ypres, sobre a graça, a predestinação e a
capacidade moral do homem, e adotada na abadia de Port-Royal por várias
correntes espirituais com tendência ao rigorismo moral. Clemente XI era um Patrono
das artes e da ciência. Ele também foi um grande benfeitor da Biblioteca do
Vaticano; seu interesse pela arqueologia é creditado por salvar grande parte da
antiguidade de Roma. Ele autorizou expedições que conseguiram redescobrir
vários escritos cristãos antigos e autorizou escavações das catacumbas romanas.
Clemente XI confirmou o culto
de Ceslas Odrowaz (27 de agosto de 1712), Jakov Varingez (29 de dezembro de
1700), João de Perugia (11 de setembro de 1704), Peregrine Laziosi (11 de
setembro de 1702), Pedro de Sassoferrato (11 de setembro de 1704), Buonfiglio
Monaldi (1 de dezembro de 1717), Papa Gregório X (8 de julho de 1713) e
Humbeline de Jully (1703). Ele beatificou formalmente um número de indivíduos:
Alexis Falconieri, Bartholomew degli Amidei e Benedict Dellantella (1 de
dezembro de 1717) e John Francis Régis (24 de maio de 1716).
Canonizou
André Avelino, Catarina de Bolonha, Félix de Cantalice e Papa Pio V em 22 de
maio de 1712, Humildade em 27 de janeiro de 1720, Sancha de Portugal em 10 de
maio de 1705, Teresa de Portugal em 20 de maio de 1705, Estevão de Obazine em
1701 e Peregrino Laziosi em 1702. Clemente XI criou um total de 70 Cardeais em
15 consistórios. Notavelmente, um Cardeal de sua própria criação foi
Michelangelo dei Conti, que se tornou seu sucessor imediato, futuro Papa
Inocêncio XIII. Outra decisão importante de Clemente XI foi em relação à
controvérsia dos ritos chineses: os missionários jesuítas foram proibidos de
participar de honras pagas a Confúcio ou aos ancestrais dos Imperadores da
China, que Clemente XI identificou como "idólatras e bárbaros" e
acomodar a linguagem cristã às idéias pagãs sob o argumento de conciliar os
pagãos. Clemente XI morreu em Roma em 19 de março de 1721 às 12h45 e foi
enterrado na calçada da Basílica de São Pedro, em vez de em uma tumba
ornamentada como as de seus antecessores.
244
. 1 - Aparição de Nossa Senhora Aparecida – Portugal – Balugães
O
Santuário de Nossa Senhora Aparecida (ou Santuário da Aparecida) é um Santuário
mariano localizado em Balugães, freguesia situada no concelho de Barcelos, no
norte de Portugal. Trata-se de um local de peregrinação cristã e devoção
católica, enraizada nas aparições de Nossa Senhora ao pastor João Alves em 1702
– tratando-se, assim, das primeiras aparições marianas oficialmente
reconhecidas pela igreja católica em Portugal. Todos os anos, a 15 de agosto,
acorrem em peregrinação a este templo milhares de fiéis, principalmente das
cerca de 30 paróquias circundantes de Balugães. As origens do Santuário datam
ao ano de 1702 e às aparições de Nossa Senhora um jovem pastor chamado João
Alves. Cumprindo a vontade expressa por Nossa Senhora nas aparições, André
Alves, pai do vidente João e pedreiro de profissão, ergueu naquele local, por
volta de 1704, uma pequena ermida em homenagem à Nossa Senhora Aparecida,
contando com as esmolas oferecidas pelos populares para tal empreendimento.
Nesta
primitiva ermida, colocou-se uma pequena imagem de Nossa Senhora com cerca de
dois palmos, mandada fazer por uma devota bracarense. À medida que as aparições
ganhavam popularidade junto dos devotos da região, e com um crescente número de
peregrinos a rumar à ermida, cresceram também as esmolas. Nesta altura, uma
barcelense por nome Dona Antónia, julgando que a imagem era muito pequena,
mandou fazer no Porto outra imagem de madeira esculpida, ricamente estofada,
com quatro palmos de altura, a qual foi colocada a 1 de novembro de 1704 na
mesma ermida. Espalhando-se a fama das aparições e relatos de milagres
subsequentes atribuídos a Senhora Aparecida, estes chegaram à atenção do
Arcebispo Primaz de Braga, D. Rodrigo de Moura Teles que, examinando
pessoalmente os factos ocorridos, atestou a veracidade dos mesmos, tendo
nomeado João Alves como Ermitão da Senhora Aparecida, título que surge no
assento de óbito do mesmo, falecido a 25 de setembro de 1710, em Balugães, e
sepultado no interior da ermida.
Nesta
mesma visita, os devotos pediram a construção de um templo maior, que foi
mandado edificar pelo mesmo D. Rodrigo de Moura Teles, utilizando para tal as
esmolas dos devotos e muita pedra recolhida pelos mesmos. Em 1712, Frei
Agostinho de Santa Maria, religioso do convento de Évora e, mais tarde, do
Convento da Boa Hora em Lisboa, dá a conhecer as aparições no tomo quarto da
sua obra "Santuário Mariano". Chegando notícia das aparições à corte
do rei D. Pedro II, este mandou fazer uma coroa de prata para a imagem da
Senhora Aparecida. A construção do templo iniciou em 1707 e conclui-se em 1720.
Em 1927, o templo tornou-se a igreja paroquial de Balugães. A 9 de maio de
1962, constituiu-se a Confraria de Nossa Senhora Aparecida.
Segundo
a Igreja Católica, datam de agosto de 1702 várias aparições de Nossa Senhora a
João Alves, também conhecido como "João Mudo", um simples pastor
nascido por volta de outubro de 1682, conforme o seu registo de batismo, datado
de 7 de outubro de 1682. Na altura com dezanove anos, João Alves é descrito
como um "cândido e simples moço" que "não sabia benzer-se nem rezar
o Padre Nosso". Nas Memórias Paroquiais de 1758, o pároco de Balugães
descreve-o como tendo sido mudo, ou pouco inteligível. Segundo relatos da
época, a primeira aparição teria acontecido no topo de um penedo no monte de
Castro de Balugães "numa tarde cálida de Agosto", enquanto o jovem
João guardava o seu rebanho. No momento da aparição, João curou-se da sua mudez
e tornou-se inteligível. Nesta primeira manifestação, a Senhora pediu-lhe que
João mandasse a seu pai, André Alves, erguer naquele local uma ermida. Não acreditando
nas palavras do seu simples filho por não o julgar capaz e merecedor de tal
manifestação, André Alves não lhe deu crédito.
Desolado,
João recorre novamente à Senhor Aparecida, que o consola, garantindo que teria
sucesso nesta sua embaixada. Pouco depois, estando André Alves a trabalhar numa
obra, veio o seu filho João carregando um cântaro com água ao ombro. Ao
atravessar uma ponte muito alta, João caiu aparatosamente, porém sem se magoar.
Espantosamente, no decorrer desta queda, o dito cântaro continuou assente no
ombro de João, sem ter vertido uma única gota de água. Assistindo o seu pai e
muitos outros presentes a este estupendo acontecimento, e recordando-se do
pedido do seu filho, dirigiu-se com o mesmo ao local da aparição, tendo
experenciado um "celestial e milagroso" cheiro, exalado do penedo
sobre o qual a Senhora teria aparecido. Inspirado por tal acontecimento, André
Alves iniciou a construção de uma pequena ermida, com esmolas que se pediram
para este empreendimento. Curado do seu mutismo, João foi nomeado Ermitão de
Nossa Senhora Aparecida por Rodrigo de Moura Teles, cargo que exerceu até à sua
morte em 1710. O complexo do Santuário é composto pela capela erguida no local
das aparições e pelo templo inaugurado em 1720, que hoje serve de igreja
paroquial de Balugães, estando este situado em frente da capela. O altar-Mor da
igreja paroquial, com a Imagem da Senhora da Abadia, revestido a talha, sofreu
obras de restauro em meados da década de 1980. No monte, em plano superior ao
adro do Santuário, encontra-se a estátua de João Alves.
244.
2 - Prodígio de Nossa Senhora Aparecida – Brasil
Em 1717
três pescadores, após frustrada tentativa de apanhar peixes no rio Paraíba do
Sul perto de Guaratinguetá (SP), colheram em suas redes o corpo de uma estátua
de Maria SS. e, depois, a cabeça da mesma. A este fato se seguiu farta
pescaria, que surpreendeu os três homens. Tendo limpado e recomposto a imagem,
expuseram-na à veneração dos fiéis em casas de família. Verificaram-se, porém,
alguns portentos, que chamaram a atenção do Pe. José Alves Vilela, pároco de
Guaratinguetá. Este então decidiu construir para a Santa Mãe uma capela capaz
de satisfazer ao crescente número de devotos da Virgem.
Tal
capela foi substituída por outra maior no morro dos Coqueiros em 1745, morro
que tomou o nome de “Aparecida” (hoje cidade de Aparecida do Norte). Em 1846
foi iniciada a construção de templo mais vasto, que ainda hoje subsiste. No ano
de 1980 foi concluída monumental Basílica, alvo de peregrinações numerosas
durante o ano inteiro. Em 1930 o Brasil foi solenemente consagrado a Nossa
Senhora Aparecida pelo Cardeal D. Sebastião Leme na presença do Sr. Presidente
da República e de numerosas autoridades religiosas, civis e militares. Os
acontecimentos de fins de 1995 chamaram a atenção para Maria Santíssima tal
como é venerada em Aparecida do Norte (SP) e no Brasil inteiro na qualidade de
Padroeira do nosso país. Sabe-se que tal devoção se deve a uma pesca
surpreendente cercada de fatos extraordinárias, que suscitaram a piedade dos
fiéis da região de Guaratinguetá e, posteriormente, a da população de todo o
Brasil. Em 1930 a Virgem Santíssima foi proclamada Padroeira do Brasil sob o
título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (ou Nossa Senhora Imaculada em
sua Conceição e Aparecida nas águas do rio Paraíba do Sul). Já que versões
diversas correm sobre o desenrolar dessas aparições e os atos subsequentes,
apresentaremos, a seguir, a genuína história dos eventos registrados.
APARIÇÃO E AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES
POPULARES
Em
princípios do séc. XVIII lutas, por vezes sangrentas, agitavam os exploradores
dos veios de ouro em Minas Gerais. Em março de 1717, embarcou em Lisboa, com
destino ao Rio, Dom Pedro de Almeida e Portugal, Conde de Assumar, que vinha
substituir Dom Braz Balthasar da Silveira no governo da Capitania de São Paulo
e Minas. Chegando ao Rio em junho de 1717, o Conde de Assumar mostrou-se logo
interessado em conhecer a situação da sua capitania. Seguiu, pois, em agosto
para São Paulo, sede do governo respectivo, do qual tomou posse aos 4 de
setembro do mesmo ano. Em vista, porém, dos tumultos registrados em Minas por
motivo das minas de ouro. Dom Pedro de Almeida e Portugal resolveu dirigir-se
ao local das desordens. Partiu, portanto, de São Paulo aos 25 ou 26 de setembro
de 1717, deixando como substituto nessa cidade Manoel Bueno da Fonseca, oficial
de grande patente. Após cerca de 17 dias de viagem, isto é, aos 11 ou 12 de
outubro de 1717, chegava o Conde de Assumar, com sua comitiva, à região de
Guaratinguetá. Entre os acontecimentos faustosos que então se deram relatam os
manuscritos da época o seguinte:
A Câmara
da Vila notificou então os pescadores que apresentassem todo o peixe que pudessem
haver para o dito governador. Entre muitos, foram pescar em suas canoas
Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso e, principiando a lançar
suas redes no porto de José Corrêa leite, continuaram até o porto de Itaguassú,
grande distância, sem tirar peixe algum. E lançando neste porto João Alves a
sua rede, de rasto tirou o corpo da Senhora, sem cabeça, e, lançando mais
abaixo outra vez a rede, tirou a cabeça de mesma Senhora, não se sabendo nunca
quem ali a lançasse. E, continuando a pescaria, não tendo até então peixe
algum, dali por diante foi tão copiosa em poucos lances que, receosos de
naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, ele e os companheiros se
retiraram a suas moradas, admirados deste sucesso. Eis o que referem os documentos
mais antigos em torno do aparecimento da Virgem. A título de ilustração,
pode-se acrescentar que o porto de José Corrêa Leite, donde partiram os três
mencionados pescadores, se achava à margem esquerda do rio Paraíba no bairro
Tetequera (município de Pindamonhangaba). A imagem encontrada media 38 cm de
altura e apresentava cor bronzeada. Impressionados pelo fenômeno,
principalmente pela pesca portentosa que se seguiu à descoberta da estátua, os
três mencionados pescadores limparam com grande cuidado a imagem, e verificaram
que representava Nossa Senhora da Conceição, que o povo sem demora passou a
chamar “Senhora Aparecida”. Felipe Pedroso conservou a imagem em sua casa
durante vários anos; por fim, resolveu dá-la a seu filho Atanásio, que morava em
Itaguassú, porto onde se dera o encontro da estátua. Atanásio, movido então
pela sua fé, ergueu um pequeno oratório, onde depositou a venerável efígie; aí
começou o povo da vizinhança a reunir-se aos sábados à noite, a fim de rezar o
Santo rosário e praticar as suas devoções. Certa vez, durante uma dessas
práticas aconteceu que, embora a noite estivesse muito calma, de repente se
apagaram as velas que alumiavam a imagem da Senhora. Os fiéis, querendo
reacendê-las, verificaram com surpresa que elas por si, sem intervenção de
alguém, se reacenderam. Foi este o primeiro prodígio registrado em torno da
Senhora Aparecida. O mesmo portento se repetiu em outras ocasiões, chegando a
notícia ao conhecimento do pároco de Guaratinguetá, Pe. José Alves Vilela. O Sacerdote
decidiu então construir para a estátua uma capelinha mais ampla, capaz de
satisfazer ao crescente número dos devotos da Virgem, a qual ia multiplicando
graças a benefícios sobre os fiéis. Em breve, também essa capelinha se tornou
pequena demais. Foi preciso pensar em nova construção em lugar mais elevado que
a margem do rio. Escolhido o morro dos Coqueiros, o mais vistoso e acessível
dos que margeiam o Paraíba, começou-se ali em 1743 a edificação de novo
santuário, com a provisão do bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei João da Cruz;
aos 26 de julho de 1745, a obra terminada foi devidamente benta, dando lugar à
celebração da primeira Missa. Doravante o morro e suas cercanias tomaram o nome
de “Aparecida”, designação até hoje conservada. “Aparecida do Norte” é
designação popular, pois a cidade fica a sudeste do Estado de São Paulo. Entre
os milagres que muito provocavam o fervor do povo, conta-se o do escravo,
ocorrido por volta de 1790 e famoso nos tempos subsequentes. Segundo a versão
mais abalizada, as correntes se soltaram das mãos do escravo, quando este
implorava a proteção de Nossa Senhora Aparecida diante da respectiva imagem.
Eis como o refere o Pe. Claro Francisco de Vasconcelos pelo ano de 1838: “Um
escravo fugitivo, que estava sendo conduzido de volta à fazenda pelo seu
patrão, ao passar pela Capela, pediu para fazer oração diante da Imagem.
Enquanto o escravo estava em oração, caiu repentinamente a corrente, deixando
intato o colar que prendia seu pescoço. A corrente se encontra até hoje pendente
da parede do mesmo Santuário como testemunho e lembrança de que Maria
Santíssima tem suprema autoridade para desatar as prisões dos pecadores
arrependidos. Aquele senhor, tocado pelo milagre, ofereceu a Nossa Senhora o
preço dele e o levou para casa com uma pessoa livre, a fim de amar e estimar
aquele seu escravo como pessoa protegida pela soberana Mãe de Deus” (relato
extraído da obra de Júlio J. Brustoloni, A Mensagem da Senhora Aparecida, Ed.
Santuário, Aparecida, SP, 1994).
O
Santuário de Aparecida e a paróquia da cidade, onde situa-se a primeira Basílica,
são conduzidas e geridas pelos Sacerdotes de congregação dos Redentoristas. Foi
o Papa Pio XI que proclamou Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil. O
grande e Santo Papa Pio X foi quem autorizou e abençoou, desde o Vaticano, a
coroação da Imagem como sendo de Nossa Senhora, em 04/09/1904. Comprovando que
não foi acaso ter sido escolhido o dia 13 para a abolição da escravatura, a
coroa de Nossa Senhora foi doada pela Princesa Isabel. Anteriormente, ano da
abolição 1988, foi inaugurada a 1ª Basílica em Aparecida; (hoje, transformada
na Matriz da Paróquia). A atual Basílica, Santuário Nacional de Aparecida, foi
concluída em 1984, após 29 anos de construção. No subsolo encontramos a Sala
dos Milagres, com milhares de testemunhas e agradecimentos por graças
alcançadas.Na Basílica de Aparecida é possível receber até setenta mil pessoas.
Em todo o mundo apenas a Basílica de São Pedro, em Roma, é maior. A festa em
honra a Nossa Senhora Aparecida, feriado nacional, acontece em 12 de outubro. O
comparecimento médio anual situa-se próximo a 250.000 pessoas, apenas no dia da
festa. Durante o ano todo o total estimado fica próximo a 4 milhões de
romeiros. Dois Papas já estiveram em Aparecida: João Paulo II em junho de 1980
e Bento XVI em maio de 2007.
244. 3 - Nossa Senhora desatadora dos nós
Nossa Senhora Desatadora dos Nós
é um dos títulos que os fiéis deram à Virgem Maria com toda fé e carinho. Este
título em especial originou-se na Alemanha, por volta do ano 1700. Naquele
tempo, o pároco da capela de St. Peter, na cidade de Augsburg, encomendou um
quadro de Nossa Senhora ao pintor Johann Schmittdner. O pintor era um cristão
fervoroso e conhecedor das escrituras. Por isso, antes de pintar o quadro, ele
foi buscar inspiração nas palavras de Santo Irineu, Bispo de Lyon, que viveu no
Século III. Ele encontrou um texto chave, que diz: “Eva atou o nó da desgraça
para o gênero humano, Maria por sua obediência o desatou.”
Por causa dessas palavras
inspiradas de Santo Irineu, Johann Schmittdner concebeu um quadro onde Nossa
Senhora é representada como a Imaculada Conceição e aparece entre o céu e a
terra. Acima dela, o Espírito Santo derrama suas luzes. Em sua cabeça tem 12
estrelas, lembrando o texto de Apocalipse da Mulher vestida de Sol. Do lado
esquerdo da Virgem um anjo aparece e entrega-lhe uma fita com nós grandes e
pequenos, separados e juntos. Estes nós simbolizam o pecado original e nossos
pecados cotidianos. Esses pecados nos causam problemas, nos levam para longe de
Deus e nos impedem que a graça de Deus frutifique em nossas vidas. Do lado
direito das mãos de Maria, a fita aparece sem nós e desce lisa até às mãos de
outro anjo, mostrando que Maria está desatando os nós. Simboliza a vida nova
mergulhada em Deus e na sua misericórdia e o poder libertador das mãos de
Maria.
A pintura em madeira tem
1,1 metro de largura por 1,82 metros de altura, na parte debaixo da Virgem
Maria, há um anjo, um homem e um cachorro dirigindo-se a uma igreja. Este
simbolismo parece ser uma referência ao livro de Tobias (6,13). No Livro,
através da oração, do jejum, da ajuda do Arcanjo Rafael e do poder de Deus,
Tobias liberta Sara de uma maldição e casa-se com ela. Depois volta à casa de
seu pai com um remédio que o Anjo Rafael lhe mandara fazer e o pai fica curado.
Os pés da Virgem estão pisando numa serpente (Como diz em Genesis), sobre uma
meia lua (Ap 12, e como na pintura miraculosa vinda do Céu expressa na imagem
de Nossa Senhora de Guadalupe). E assim é a imagem de Nossa Senhora Desatadora
dos Nós, rica de mensagens, simbolismos e profundidade teológica. Com toda
certeza este quadro foi inspirado pelo Espírito Santo, visto a força
sobrenatural que ele exerce nas pessoas. Desde que o quadro foi colocado na
capela de Augsburg, Nossa Senhora é invocada como a Mãe que desata os nós do pecado
e dos problemas que nos prendem. O quadro está lá até hoje e a capela é cuidada
pelos jesuítas.
O belíssimo quadro de Nossa
Senhora rapidamente se tornou objeto de devoção e culto primeiramente em
Augsburg. Logo, notícias de graças sobre graças recebidas através da oração à
Nossa Senhora Desatadora dos Nós se espalhou pelo mundo. E onde quer que se
leve a devoção, as graças acontecem. Nossa Senhora desata os nós da vida das
pessoas, trazendo liberdade, realização e felicidade. São milhares de graças
alcançadas através desta oração poderosa. O dia de Nossa Senhora Desatadora dos
Nós é comemorada sempre em 15 de Agosto.
Oração a
Nossa Senhora Desatadora dos Nós:
Virgem Maria, Mãe do belo amor, Mãe
que jamais deixa de vir em socorro a um filho aflito, Mãe cujas mãos não param
nunca de servir seus amados filhos, pois são movidas pelo amor divino e a
imensa misericórdia que existem em teu coração, volta o teu olhar compassivo
sobre mim e vê o emaranhado de nós que há em minha vida. Tu bem conheces o meu desespero, a minha dor
e o quanto estou amarrado por causa destes nós.
Maria, Mãe que Deus encarregou de desatar os nós da vida dos seus
filhos, confio hoje a fita da minha vida em tuas mãos. Ninguém, nem mesmo o
maligno poderá tirá-la do teu precioso amparo. Em tuas mãos não há nó que não
poderá ser desfeito. Mãe poderosa, por
tua graça e teu poder intercessor junto a Teu Filho e Meu Libertador, Jesus, recebe
hoje em tuas mãos este nó.........
Peço-te que o desates para a glória de Deus, e por todo o sempre. Vós sois a minha esperança. Ó Senhora minha, sois a minha única consolação
dada por Deus, a fortaleza das minhas débeis forças, a riqueza das minhas
misérias, a liberdade, com Cristo, das minhas cadeias. Ouve minha súplica. Guarda-me, guia-me, protege-me, ó seguro
refúgio! Maria, Desatadora dos Nós, roga por mim.
Novena de
Nossa Senhora Desatadora dos nós:
Rezar todos os dias
1- Faça o sinal da cruz;
2- Faça o Ato de Contrição e reflita
sobre seus pecados: “Meu Deus, eu me arrependo, de todo o coração, de vos Ter
ofendido, porque sois tão bom e amável. Prometo, com a ajuda da vossa graça,
nunca mais pecar. Meu Jesus, misericórdia!”
3- Reze o Terço (as três primeiras
dezenas);
4- Faça a meditação de cada dia da
novena;
5- Complete as duas dezenas finais do
Terço;
6- Termine com a oração à Maria
Desatadora.
1º Dia- Santa Mãe querida, Maria
santíssima, que desata os nós que sufocam os teus filhos, estende tuas mãos de
misericórdia para mim. Entrego-Te hoje este nó [colocar a intenção] e todas as
consequências negativas que ele provoca em minha vida. Dou-te este nó, que me
atormenta e me faz infeliz e tanto me impede de unir-me mais a ti e a teu Filho
Jesus, meu Salvador. Recorro a ti, Maria Desatadora de Nós, pois confio e sei
que nunca desprezas o filho pecador que vem pedir-te auxílio. Eu creio que tu
podes desatar esse nó pois tudo te é concedido por Jesus. Eu creio que tu
queres desatar o nó porque és minha Mãe. Eu creio que tu o farás porque me amas
com eterno amor. Obrigado, Mãe querida.
2º Dia- Maria, Mãe amada, dispensadora
de todas as graças, volto a ti meu coração, hoje, reconhecendo-me pecador e
necessitado do teu auxílio. Muitas vezes, chego a perder as graças que me
concedes por causa do meu pecado de egoísmo, de orgulho, rancor e falta de
generosidade e humildade. Recorro a ti, hoje, Maria Desatadora dos Nós, a fim
de pedir para mim a teu filho Jesus um coração puro, despojado, humilde e
confiante. Viverei o dia de hoje praticando essas virtudes e ofertarei como sinal
do meu amor por ti. Entrego em tuas mãos este nó [colocar a intenção], que me
impede de refletir a glória de Deus.
3º Dia- Mãe Medianeira, Rainha do Céu,
em cujas mãos se encontram as riquezas do Rei, volta os teus olhos
misericordiosos para mim hoje. Confio nas tuas mãos santas este nó da minha
vida, e todo o rancor, o ressentimento que ele me causa. Peço-te perdão, e a
Deus Pai, pelo meu pecado. Ajuda-me, agora, a perdoar todas as pessoas que,
consciente ou inconscientemente, provocaram esse nó. Dá-me também a graça de
perdoar a mim mesmo por ter provocado esse nó. Só assim poderás desatá-lo.
Diante de ti, Mãe querida, e em nome de teu Filho Jesus, meu Salvador, a quem
tantas ofensas foram feitas, tendo sido concedido o perdão, eu perdoo agora
essas pessoas e perdoo a mim mesmo para sempre. Obrigado, Maria Desatadora dos
Nós, por desatar o nó do rancor em meu coração e o nó que agora te apresento.
Amém.
4º Dia- Santa Mãe querida, generosa
para com todos os que te procuram, tem piedade de mim. Confio em tuas mãos este
nó que rouba a paz do meu coração, que paralisa a minha alma e impede-me de
caminhar até o meu Senhor e servi-lo com a minha vida. Desata este nó da minha
vida, Mãe, e pede a Jesus pela cura da minha fé paralítica, que se deixa abater
pelas pedras do caminho. Caminhando contigo, Mãe querida, que eu veja essas
pedras como amigas, que eu não murmure mais e aprenda a dar graças sem cessar e
sorrir confiante no teu poder.
5º Dia- Mãe Desatadora dos Nós,
generosa e compassiva, venho a Ti, hoje, para renovar a entrega deste nó
[colocar a intenção] em minha vida e te pedir a sabedoria divina para agir sob
a luz do Espírito Santo neste emaranhado de problemas. Nunca ninguém te viu
irada. Ao contrário, tão repassada de doçuras eram tuas palavras, que se
reconhecia o Espírito Santo em tua boca. Tira de mim a amargura, a cólera, o
ódio que esse nó me causou. Dá-me, ó Mãe querida, da tua doçura, da tua
sabedoria, refletindo tudo em silêncio, no coração. E como estiveste em
Pentecostes, roga a Jesus para que eu receba um novo sopro do Espírito Santo
neste momento em minha vida. Espírito Santo, vem sobre mim!
6º Dia- Rainha de Misericórdia, confio
a ti este nó da minha vida e rogo-te dar-me um coração de espera enquanto o
desatas. Ensina-me a perseverar na palavra viva de Jesus, na Eucaristia, no
sacramento da confissão. Enfim, fica comigo e prepara o meu coração para
festejar com os anjos esta graça a mim já concedida. Amém. Aleluia!
7º Dia- Mãe Puríssima, venho a ti,
hoje, para suplicar que desates este nó da minha vida e me livres das ciladas
do Mal. Deus te concedeu grande poder sobre todos os demônios. Renuncio a todos
eles, hoje, a toda ligação que tive com eles e proclamo Jesus como meu único
Senhor e Salvador. Maria Desatadora dos Nós, esmaga a cabeça do maligno na
minha vida e destrói as armadilhas que eles me fizeram provocando esse nó.
Obrigado, Mãe querida. Sangue Preciosíssimo de Jesus, liberta-me!
8º Dia- Virgem Mãe de Deus, rica em
misericórdia, tem piedade de teu filho e desata este nó na minha vida. Preciso
de tua visita em minha vida, como visitaste Isabel. Traz-me Jesus, traz-me o
Espírito Santo. Ensina-me a praticar as virtudes da coragem, da alegria, da
humildade, da fé, e como Isabel, ficar cheio do Espírito Santo. Faz-me
estremecer de alegria em teu seio, Maria. Consagro-te como minha Mãe, minha
Rainha, minha amiga. Dou-te o meu coração e tudo o que me pertence (minha casa,
minha família, meus bens exteriores e interiores). Sou teu para sempre. Coloca
em mim o teu coração, para que eu possa fazer tudo o que Jesus me disser.
9 º Dia- Maria Santíssima, advogada
nossa, Desatadora dos Nós, venho hoje para agradecer-te por desatares este nó
na minha vida. Tu bem conheces os sofrimentos que ele me causa. Obrigado por
vires, Mãe, com teus longos dedos de misericórdia, secar as lágrimas dos meus
olhos, acolher-me em teus braços e me fazeres recebedor de mais uma graça
divina.
Maria Desatadora dos Nós, Mãe querida,
a ti agradeço por desatares os nós da minha vida. Cobre-me com teu manto de
amor, guarda-me na tua proteção, ilumina-me com tua paz! Amém.
Súplica à Nossa Senhora Desatadora dos Nós
Santa Maria Mãe de Deus, Tu que,
como mulher e mãe, respondeste a Deus: “Que se faça a Tua vontade”,
contagie-nos dessa força, a força da Tua Fé e de Teu Amor. Maria, eu venho a
Ti, cheia de dor, chorando meu sofrimento nos braços de uma Mãe que sempre
escuta, que tudo suporta, que tudo crê.
Creia, minha Mãe, creia em minha
dor e em minhas angústias; o que não faria uma mãe por seu filho; o que não
farias Tu, Maria, minha Mãe, para mim? Eu te peço somente para me escutares,
que minhas súplicas cheguem a Ti, e Tu as leve até o Filho Bem Amado e que
intercedas por mim. Que eu também possa dizer: “Sim, Senhor, que se faça a Tua
vontade”. Dá-me, Maria, a capacidade de aceitar os desígnios que o Senhor tem
para comigo.
Maria, guia-me, protege-me,
desata o emaranhado de meus problemas. Somente Tu liberta, somente Tu desatas,
somente Tu e Teu Filho podem me libertar da opressão com que vivo, da qual
estou consciente que somente nós, homens, somos os que tropeçamos no caminhar
do dia a dia, e somos os que nos enredamos nos laços do orgulho, da soberba, da
incompreensão, da falta de caridade e solidariedade. Por isso, recorro a Ti,
Maria, minha Mãe, para que me livres e desates os nós que me impedem de ser
feliz e estar mais juntos de Ti e de Teu Filho. Para que, com a oração
perseverante, dobremos os nossos duros corações e possamos elevar-nos a um
mundo mais generoso.
Maria, escuta minhas preces.
Amém.
245º
- Inocêncio XIII - 1721 - 1724
Inocêncio
XIII, nascido Michelangelo Conti, (Roma, 13 de maio de 1655 — Roma, 7 de março
de 1724) foi Papa entre 8 de maio de 1721 e a data da sua morte. O Papa
Inocêncio XIII era orientado para a reforma e impôs novos padrões de
frugalidade, abolindo gastos excessivos. Ele tomou medidas para finalmente
acabar com a prática do nepotismo, emitindo um decreto que proibia seus
sucessores de conceder terras, escritórios ou renda a quaisquer parentes - algo
contra o qual muitos Cardeais esperavam quando se tornassem Papa e
beneficiassem suas famílias. Em 1721, sua alta reputação de habilidade,
aprendizado, pureza e uma disposição amável garantiram sua eleição para suceder
Clemente XI como Papa Inocente XIII. Seu Pontificado foi próspero, mas
comparativamente sem intercorrências. Ele realizou dois consistórios que viram
três novos Cardeais elevados em 16 de junho de 1721 e 16 de julho de 1721. A
controvérsia dos ritos chineses que começou sob seu antecessor continuou
durante seu reinado. Inocente XIII proibiu os jesuítas de prosseguir com sua
missão na China e ordenou que nenhum novo membro fosse recebido na ordem. Essa
indicação de suas simpatias encorajou alguns Bispos franceses a se aproximarem
dele com um pedido de retirada da bula Unigenitus, pela qual o jansenismo havia
sido condenado; o pedido, no entanto, foi negado categoricamente. O Papa também
ajudou os venezianos em suas lutas e também ajudou Malta em suas lutas contra
os turcos. Inocêncio XIII, como seu antecessor, mostrou muito favor a Jaime
Francisco Eduardo Stuart, o "Velho Pretendente" ao trono britânico e
o apoiou liberalmente. O primo do Papa, Francesco Maria Conti, de Siena,
tornou-se camareiro da pequena corte de James no Palácio romano de Muti. Inocêncio
XIII beatificou três indivíduos durante seu Pontificado: João Nepomuceno (31 de
maio de 1721), Dalmazio Moner (13 de agosto de 1721) e Andrea dei Conti (11 de
dezembro de 1723). Em 1722, ele nomeou Santo Isidoro de Sevilha como Doutor da
Igreja. Inocêncio XIII adoeceu em 1724, atormentado por uma hérnia da qual não
falava com ninguém além de seu criado. Em um ponto, ele explodiu e causou
inflamação e febre. Inocêncio XIII pediu os últimos ritos, fez sua profissão de
fé e morreu em 7 de março de 1724, aos 68 anos de idade, enterrado nas grutas
da Basílica de São Pedro.
246º
- Bento XIII - 1724 - 1730
Bento
XIII, O.P. nascido Pietro Francesco Orsini (Gravina in Puglia, 2 de Fevereiro
de 1649 — Roma, 21 de Fevereiro de 1730) foi Papa de 29 de maio de 1724 até a
data da sua morte. Teve como parentes alguns Papas, por parte de pai: Papa
Estêvão III, Papa Paulo I, Papa Celestino III e Papa Nicolau III e por parte de
mãe: Papa Pio II e Papa Pio III. Foi frade dominicano. Não era um homem de
assuntos mundanos, e se esforsava para manter seu estilo de vida monástico. Tentou
acabar com o estilo de vida decadente do Sacerdócio italiano e do Cardinalato.
Ele também aboliu a loteria em Roma e nos Estados Papais, que serviu apenas
para lucrar com os estados vizinhos que mantinham a loteria pública. Homem
apaixonado por todo o ascetismo e celebrações religiosas, construiu vários
hospitais, mas, segundo o Cardeal Lambertini (mais tarde Papa Bento XIV)
"não tinha ideia de como governar". Em 1727, ele inaugurou a famosa
Escadaria Espanhola e fundou a Universidade de Camerino. Em 1728, a intervenção
de Bento estabeleceu uma controvérsia, a respeito das relíquias de Santo
Agostinho, que irrompeu em Pavia, Itália. Ele finalmente confirmou a
autenticidade dos ossos de Agostinho, que havia sido descoberta em 1695 na
Basílica San Pietro, em Ciel d'Oro. (Stone, Harold Samuel (2002). "Ossos
de Agostinho: Uma Micro-História", pp. 90-93. O governo dos Estados Papais
foi efetivamente mantido no lugar de Bento XIII pelo Cardeal Niccolò Coscia, que
fora Secretário do Papa quando ele era Arcebispo de Benevento e que cometeu uma
longa série de abusos financeiros em seu próprio benefício, causando a ruína do
Tesouro Papal. Coscia e seus associados isolaram efetivamente Bento de outros
consultores. Nas relações externas, ele lutou com João V de Portugal e os
jansenistas na França. Bento XIII beatificou Bernardino de Feltre em 1728, Pedro
Fourier em 20 de janeiro de 1730, Hyacintha de Mariscotti em 1 de setembro de
1726, Fiel de Sigmaringa em 24 de março de 1729, Vicente de Paulo em 13 de
agosto de 1729 e John del Prado em 24 de janeiro. Através do processo de Canonização
equipolenta, Bento XIII canonizou o Papa Gregório VII em 24 de maio de 1728.
Conferiu Santidade a Inês de Montepulciano em 1726, Luís de Gonzaga em 31 de
dezembro de 1726, Boris de Kiev em 1724, Francisco Solano em 27 de março de
1726, Gleb em 1724, Tiago das Marchas e Toríbio de Mongrovejo em 10 de dezembro
de 1726, João Nepomuceno em 19 de março de 1729, João da Cruz e Peregrino
Laziosi em 27 de dezembro de 1726, Margarida de Cortona em 16 de maio de 1728 e
Serapion de Argel em 14 de abril de 1728. O Papa nomeou Pedro Crisólogo como
Doutor da Igreja em 1729. Bento XIII foi subitamente atacado por uma febre
repentina, do qual morreu em 21 de fevereiro de 1730 aos 81 anos. Sua morte foi
tornada pública ao povo no dia seguinte.
247º
- Clemente XII - 1730 - 1740
Clemente
XII, nascido Lorenzo Corsini (Florença, 7 de abril de 1652 — Roma, 6 de
fevereiro de 1740) foi Papa de 12 de julho de 1730 até a data da sua morte.
Chegara aos 79 anos de idade e ficou cego aos 81, mas era robusto. Seus
primeiros movimentos como Papa Clemente XII foi restaurar as finanças Papais.
Ele exigiu a restituição dos Ministros que abusaram da confiança de seu antecessor.
O principal culpado, o Cardeal Niccolò Coscia, foi pesadamente multado e
condenado a dez anos de prisão. As finanças Papais também foram melhoradas com
o reavivamento da loteria pública, que havia sido reprimida pela severa
moralidade de Bento XIII. Logo, despejou no tesouro de Clemente XII uma quantia
anual de quase meio milhão de escudos, permitindo-lhe empreender os extensos
programas de construção dos quais ele é lembrado primordialmente, mas que ele
nunca foi capaz de ver. Um concurso para a majestosa fachada do Arquibasílica
de São João de Latrão foi vencido pelo arquiteto Alessandro Galilei. A fachada
que ele projetou é talvez mais palaciana do que eclesiástica, concluída em
1735. Clemente XII ergueu naquela Basílica antiga uma magnífica capela dedicada
a seu parente do século XIV, Santo André Corsini. Ele restaurou o Arco de
Constantino e construiu o Palácio governamental da Consulta no Quirinal. Comprou
do Cardeal Alessandro Albani por 60 mil escudos uma famosa coleção de estátuas,
inscrições etc. e a adicionou à galeria do Capitólio. Ele pavimentou as ruas de
Roma e as estradas que conduziam à cidade e ampliou o Corso. Começou o
triunfante Barroco Fontana di Trevi, um dos ornamentos notáveis de Roma. Sob
seu reinado, um porto foi construído em Ancona, com uma estrada que dava fácil
acesso ao interior. Drenou os pântanos da malária do Chiana perto do Lago
Trasimeno. Politicamente, no entanto, este não foi um Papado de sucesso entre
as potências seculares da Europa. Quando a tentativa das forças Papais de
dominar a antiga República independente de San Marinho fracassou. Ele também foi
rejeitado nas reivindicações Papais sobre os ducados de Parma e Piacenza. Em
agosto de 1730, ele autorizou Vítor Amadeu II da Sardenha a realizar um
casamento morganático com Anna Canalis di Cumiana. Victor Amadeus II
posteriormente abdicou de seu trono, causando grande agitação em Savoy.
Em assuntos eclesiásticos, ele emitiu “In
eminenti apostolatus”, o primeiro decreto Papal contra os maçons em 28 de abril
de 1738. Premeditando a seita maçônica como futura dominadora dos altos cargos
Eclesiásticos. Canonizou São Vicente de Paulo e prosseguiu com vigor contra os
jansenistas franceses. Ele fez campanha pela reunião das igrejas romana e
ortodoxa, recebeu o Patriarca da igreja copta e persuadiu o Patriarca armênio a
remover o anátema contra o Concílio de Calcedónia e o Papa Leão I (440–461).
Ele enviou Joseph Simeon Assemani ao Oriente com o duplo objetivo de continuar
sua busca por manuscritos e presidir como legado de um conselho nacional de maronitas.
Embora ele fosse cego e obrigado a se deitar, de onde dava audiências e
negócios de Estado, cercou-se de oficiais capazes, muitos deles parentes de
Corsini, mas pouco fez por sua família, exceto para comprar e ampliar a
propriedade. Palácio construído em Trastevere para o Riarii, e agora conhecido
como o Palazzo Corsini (a sede da Regia Accademia dei Lincei). Em 1754, seu
sobrinho, o Cardeal Neri Corsini, fundou ali a famosa Biblioteca Corsini. Clemente
XII criou 35 Cardeais em quinze consistórios mantidos ao longo de seu Pontificado.
O primeiro indivíduo que ele criou Cardeal foi seu sobrinho Neri Maria Corsini,
enquanto ele também elevou seu futuro sucessor, Carlo della Torre di Rezzonico
(Papa Clemente XIII), ao Cardinalado.
O Papa
nomeou cinco novos Santos durante seu reinado, sendo o mais notável Vicente de
Paulo. Ele também beatificou outros oito, incluindo seu antecessor, o Papa
Bento XI. Clemente XII morreu em 6 de fevereiro de 1740 às 09h30 devido a
complicações da gota. Seus restos mortais foram transferidos para sua tumba na
Arquibasílica de São João de Latrão em 20 de julho de 1742.
248º
- Bento XIV - 1740 - 1758
Papa
Bento XIV, nascido Prospero Lorenzo Lambertini (Bologna, 31 de março de 1675 —
Roma, 3 de maio de 1758), foi Papa de 17 de agosto de 1740 até sua morte. Foi
eleito com 50 votos entre 51 votantes do longuíssimo conclave de 1740. Talvez
um dos melhores eruditos a se sentar no Trono Papal, mas muitas vezes
esquecido, ele promoveu o aprendizado científico, as artes barrocas, o
revigoramento do tomismo e o estudo da forma humana. Firmemente comprometido em
cumprir os decretos do Concílio de Trento e os autênticos ensinamentos
católicos, Bento XIV removeu as alterações feitas anteriormente no Breviário,
procurou pacificamente reverter o crescente secularismo nos tribunais europeus,
revigorou as cerimônias com grande pompa e, ao longo de sua vida e seu reinado,
publicou numerosos tratados teológicos e Eclesiásticos. Ao governar os Estados
Papais, ele reduziu a tributação de alguns produtos, mas também aumentou os
impostos sobre outros; incentivou a agricultura e apoiou o livre comércio nos
Estados Papais. Estudioso, criou os Museus Sagrados e Profanos, agora parte do
atual Museu do Vaticano. Bento XIV, em certa medida, pode ser considerado um
polímata devido a seus numerosos estudos de literatura antiga, à publicação de
livros e documentos Eclesiásticos, ao seu interesse no estudo do corpo humano e
à sua devoção à arte e à teologia.
O papado
de Bento XIV começou em um momento de grandes dificuldades, alimentado pelo
anticlericalismo e causado principalmente pelas disputas entre governantes
católicos e o Papado sobre as demandas governamentais de nomear Bispos, em vez
de deixar a nomeação para a Igreja. Ele conseguiu superar a maioria desses
problemas - as disputas da Santa Sé com o Reino de Nápoles, Sardenha, Espanha,
Veneza e Áustria foram resolvidas. A constituição apostólica Pastoralis Romani
Pontificis, que foi a revisão de Bento XIV da anatematização tradicional de
Coena Domini, foi promulgada em 30 de março de 1741. Nela, Bento XIV excomungou
novamente todos os membros das seitas protestantes, incluindo luteranos,
calvinistas, seguidores de Zuinglio e Huguenotes. Ele ordenou que os conselhos
ecumênicos não fossem recorridos pelos oponentes das decisões Papais. Bento XIV,
no entanto, ecoando as palavras do Papa Gelásio I, proibiu universalmente a prática
de mulheres servindo o Sacerdote no altar, observando que a prática havia se
espalhado para certos ritos orientais. Bento XIV sofria de problemas renais há
anos. Sua saúde piorou em 1758 e, após uma batalha contra a gota, ele morreu em
3 de maio de 1758, aos 83 anos. Suas palavras finais para aqueles que o
cercavam no leito de morte foram: "Deixo você nas mãos de Deus". Após
seu funeral, ele foi enterrado na Basílica de São Pedro e um grande catafalco
foi erguido em sua homenagem.
248
. 1 - Santo Afonso de Ligório
Afonso
Maria de Ligório, C.Ss.R., nascido Afonso Maria Antônio João Francisco Cosme
Damião Miguel Ângelo Gaspar de Ligório, foi um Bispo católico italiano que se
destacou como escritor espiritual, filósofo escolástico e teólogo. Nascido numa
família nobre de Nápoles, Ligório teve uma brilhante carreira em direito antes
de ser ordenado padre. Depois disso, fundou uma ordem religiosa, a Congregação
do Santíssimo Redentor (chamados "redentoristas") dedicada ao
trabalho entre os pobres. Em 1762, foi nomeado Bispo de Santa Ágata dos Godos.
Afonso foi um escritor prolífico, publicando nove edições de sua "Teologia
Moral" ainda em vida, além de outras obras devocionais e ascetas, assim
com muitas cartas. Entre suas obras mais famosas estão "As Glórias de
Maria" e "O Caminho da Cruz", esta última utilizada ainda hoje
em muitas paróquias durante os serviços religiosos da Quaresma. Afonso foi canonizado
em 1839 pelo Papa Gregório XVI. Em 1871, Pio IX proclamou-o Doutor da Igreja
(Doctor Zelantissimus). Um dos autores católicos mais lidos, é também o Santo
padroeiro dos confessores.
Afonso
de Ligório nasceu em Marianella, perto de Nápoles, que na época era território
do Reino de Nápoles. Era o primogênito de sete irmãos nascidos numa família
nobre. Dois dias depois de seu nascimento foi batizado na Igreja de Nossa
Senhora a Virgem como "Afonso Maria Antônio João Cosme Damião Miguel Gaspard
de' Liguori". Aos 12 anos entra para a faculdade de direito onde se forma
com 16 anos. Terminou os estudos universitários alcançando o doutorado nos
direitos civil e canônico e começou a exercer a profissão de advogado. Porém,
pensava em deixar a profissão e escreveu, numa de suas cartas: "Amigo,
nossa profissão é muito cheia de dificuldades e perigos; levamos uma vida
infeliz e corremos o risco de morrermos infelizes. No meu caso, vou largar esta
carreira, que não me serve; pois desejo assegurar a salvação da minha
alma". Aos vinte e sete, depois de perder um importante caso—o primeiro
nos oito anos advogando—Afonso finalmente se resolveu e abandonou a carreira.
Em 1723,
depois de um longo processo vocacional, Afonso decidiu se oferecer como noviço
no Oratório de São Filipe Néri com a intenção de tornar-se padre. Seu pai
tentou o quanto pode dissuadi-lo, mas depois de dois meses (e com a permissão
de seu confessor oratoriano), os dois chegaram num acordo: ele estudaria para o
Sacerdócio como um oratoriano, mas vivendo em sua casa. Ele foi ordenado em 21
de dezembro de 1726, aos trinta anos de idade, e passou seus primeiros anos de
Sacerdócio entre os jovens mendigos e marginalizados de Nápoles. Para dar-lhes
um propósito, criou as "Capelas Noturnas", que eram gerenciadas por
eles próprios e que rapidamente tornaram-se centros de oração, pregação,
atividades comunitárias e educação. Quando morreu, havia 72 funcionando, com
mais de 10000 participantes ativos. Ajudava no sucesso da empreitada o fato de
seus sermões serem muito efetivos na conversão dos que já haviam abandonado a
crença católica.
Afonso
sofreu de escrúpulos quando adulto e sentia constantemente uma culpa até mesmo
sobre as pequenas falhas relacionadas ao pecado. Mais do que isso, Santo Afonso
via muitas vezes esses escrúpulos como uma bênção, como quando escreveu:
"Escrúpulos são úteis no início da conversão... eles limpam a alma e, ao
mesmo tempo, a tornam mais cuidadosa". Em 1729, Afonso saiu da casa de sua
família e mudou-se para o Instituto Chinês em Nápoles. Foi ali que se iniciou a
sua experiência missionária nas regiões interiores do Reino de Nápoles, onde
encontrou pessoas que eram muito mais pobres e abandonadas do que qualquer
jovem de rua de Nápoles.
Em 9 de novembro de 1732, Afonso
fundou a "Congregação do Santíssimo Redentor" depois que a irmã Maria
Celeste Crostarosa contou-lhe que lhe havia sido revelado que ele era o
escolhido de Deus para este trabalho. O objetivo da Congregação era ensinar e
pregar nas favelas das cidades maiores e em regiões empobrecidas. Além disso,
os redentoristas se dedicavam a combater o jansenismo, uma heresia que, por seu
excessivo rigor moral, impedia muitos católicos de receberem a Eucaristia. O
próprio Afonso dedicou-se de corpo e alma à nova missão e, para ajudá-lo, irmã
Maria Celeste fundou simultaneamente a ordem das irmãs redentoristas, tendo
como diretor espiritual Afonso Maria. Afonso foi consagrado Bispo de Santa
Ágata dos Godos em 1762. Ele tentou recusar a nomeação, alegando que sua idade
e saúde não permitiriam que fizesse um bom trabalho. Durante seu Episcopado,
escreveu sermões, livros e artigos para encorajar a devoção ao Santíssimo
Sacramento e à Virgem Maria. Em 1775, recebeu permissão para se aposentar e foi
viver numa comunidade redentorista em Pagani, onde morreu em 1 de agosto de
1787. Ele foi beatificado em 15 de setembro de 1816 pelo Papa Pio VII e Canonizado
em 26 de maio de 1839 pelo Papa Gregório XVI. Papa Pio XII declarou-o Santo
padroeiro dos confessores e moralistas em 26 de abril de 1950 e escreveu a
encíclica Haurietis Aquas sobre ele.
Afonso
era um artista proficiente e seus pais contrataram vários mestres para
treiná-lo na música, pintura, poesia e na literatura. E ele colocou toda sua
criatividade literária e artística a serviço da missão cristã e pedia o mesmo
de todos os que se juntavam à sua congregação. Sua biografia diz que, em seus
últimos anos, Afonso gostava de ir até o teatro local, que na época gozava de péssima
reputação. Depois de ser ordenado, sempre que ia a algum recital, Afonso tirava
os óculos e sentava-se bem no fundo, simplesmente ouvindo a música sem prestar
atenção a mais nada. Ele escreveu 111 obras sobre espiritualidade e teologia.
As 21 500 edições de suas obras, traduzidas para 72 línguas, comprovam que
Afonso é, de fato, um dos mais lidos autores católicos. A oração e seu poder, o
amor, o seu relacionamento pessoal com Cristo e sua experiência em primeira-mão
sobre as obras pastorais fizeram de Afonso um dos grandes mestres da vida
espiritual. Sua obra musical mais conhecida é um hino natalino chamado
"Quanno Nascetti Ninno", traduzido depois para o italiano pelo Papa
Pio IX como "Tu scendi dalle stelle" ("Do Céu Estrelado
Viestes").
No campo da mariologia, Afonso escreveu
"As Glórias de Maria", "Devoção Mariana", "Orações à
Mãe Divina", "Canções Espirituais", "A Verdadeira Esposa de
Cristo", "As Visitas ao Santíssimo Sacramento e à Virgem Maria"
e muitas outras. Sua doutrina, de natureza majoritariamente pastoral,
redescobriu, integrou e defendeu a mariologia de Santo Agostinho e Santo
Ambrósio (ambos Doutores da Igreja como Afonso) e de outros Padres da Igreja;
ela representava uma defesa intelectual da mariologia no século XVIII, a época
do Iluminismo, contra o frio racionalismo que combatia o entusiasmo mariano de
maneira inflamada.
A maior
contribuição de Afonso para a Igreja Católica foi no campo da teologia moral
com sua "Teologia Moral". Esta obra nasceu da experiência pastoral de
Afonso, de sua habilidade em responder às questões práticas enfrentadas pelos
fieis e de seu contato com os problemas do dia-a-dia. Ele era contra o
legalismo estéril e o rigorismo estrito. De acordo com Afonso, estes eram
caminhos contrários ao Evangelho pois "tal rigor jamais foi ensinado ou
praticado pela Igreja". Seu sistema de teologia moral se destaca pela
prudência, evitando tanto o relaxamento quanto o rigor excessivo. Geralmente é
atribuída a Afonso a posição de equiprobabilista, que evitava tanto o rigorismo
jansenista quanto o laxismo e o simples probabilismo. Um mestre da teologia
moral, Pio IX declarou-o Doutor da Igreja em 1871. Os redentoristas fundaram a
Academia Alfonsiana para o estudo avançado da teologia moral católica
inspirados por Santo Afonso. A Academia oferece licenciaturas e doutorados na
disciplina.
248
. 2 - Aparição de Nossa Senhora da Ortiga - Portugal
Nossa
Senhora da Ortiga é uma das designações atribuídas à Santíssima Virgem Maria
após a aparição que ocorreu no século XVIII a uma pastorinha muda, no lugar da
Ortiga, na freguesia de Fátima, em Portugal. De acordo com a tradição, a Virgem
Maria apareceu por volta do ano de 1758 – no lugar onde atualmente se ergue o
Santuário de Nossa Senhora da Ortiga – a uma pastorinha que andava a guardar o
seu rebanho e a quem pediu uma ovelhinha. A menina, que era muda de nascença,
sentiu a sua língua soltar-se e respondeu à Senhora que não Lhe daria a ovelha
sem a permissão do seu pai que morava no Casal de Santa Maria. Então, a menina
foi a correr para contar ao pai o pedido da Senhora, o qual se encheu de
espanto e de alegria por ver a filha conseguir falar e logo lhe ordenou que
fizesse tudo o que a Senhora pedisse. A pastorinha regressou ao local da aparição
para falar à Mãe de Deus que, em resposta, lhe pediu que fosse construída uma
capela naquele lugar e onde prometeu que haveria de conceder muitas graças.
Tendo ido o pai da menina ao local por esta indicado, encontrou uma imagem da
Virgem Maria sobre uma pedra entre urtigas (ou ortigas) e que levou consigo
para o Casal de Santa Maria, mas a imagem desapareceu dali para ser vista
novamente no local original entre as urtigas. Foi construída uma pequena capela
no local da aparição de Nossa Senhora, a qual, depois, foi ampliada dando lugar
a um Santuário.
249º
- Clemente XIII - 1758 - 1769
Papa
Igreja cristã Romana, nascido em Veneza, Carlo Rezzonico, eleito Papa em 16 de
julho de 1758 para suceder Bento XIV, demonstrou, ao contrário deste, grande
rigidez e combateu a difusão das idéias iluministas e enfrentou um período
caracterizado pelo anticlericalismo difundido nos Estados europeus. Foi
governador de Rieti e posteriormente de Fano, indicado Cardeal-diácono por Clemente
XII, foi nomeado Bispo de Pádua (1743). Seu Pontificado se caracterizou pelo
Iluminismo e, entre outras atitudes, condenou abertamente a Encyclopédie. Era
amigo dos jesuítas e procurou defendê-los das perseguições, acusados de crimes
que não haviam cometido, por Portugal, França e Espanha. Praticamente todo o
seu Pontificado foi ocupado pela questão da abolição da Companhia de Jesus,
requerida por muitos países. Os jesuítas já haviam sido expulsos de Portugal em
1758, da França (1764), da Espanha (1767), dos outros Estados regidos pela
dinastia de Bourbon, mas o Papa recusou-se a aderir ao pedido de supressão da
Ordem. Por essa posição os governantes cristãos da Europa exigiram sua
renúncia, ameaçando fundar suas próprias igrejas.
Nasceu
em Veneza e era filho do Barão Giovani Battista della Torre-Rezzonico e de Vitória
Barbarigo. No início do Pontificado, Clemente XIII escreveu cartas aos
soberanos da Europa, empenhados na guerra dos Sete Anos (1756-1763). O novo
Papa conseguiu extinguir a velha animosidade entre a sua cidade natal Florença,
e a sede do Papado, Roma. Socorreu o povo na carestia de 1764, acolhendo
quatorze mil pessoas. Obrigou os latifundiários dos Estados Pontifícios a
plantarem em suas terras. Mandou velar nos museus as obras artísticas consideradas
por alguns de realismo exagerado. Coibiu abusos de copistas inescrupulosos, que
se serviam dos Arquivos romanos. Reprovou em 1764, o livro em que João Nicolau
de Hontheim (Johann Nikolaus von Hontheim), escondido atrás do pseudônimo de
Justinus Febronius, atacava a soberania do Papa. A negação de toda a religião,
pregada sob a capa de racionalismo por Voltaire, Rousseau e outros, desencadeou
a perseguição aos batalhadores da Igreja, os Jesuítas. Em Portugal o Marquês de
Pombal implicou-os num atentado contra o rei Dom José; mandou queimar o Padre
Gabriel Malagrida (velho de 72 anos) e expulsou os demais, também do Brasil,
onde eram os únicos mestres e a base da instrução. Perseguiam-nos na França o
ministro Choiseul e a marquesa de Pompadour; na Espanha o conde de Aranda; no
reino de Nápoles o ministro Bernardo Tanucci; no ducado de Parma o chanceler
Guillaume du Tillot. Até os cavaleiros de Malta, em sua maioria portugueses,
rejeitavam os Jesuítas, apenas defendidos pelo Papa, através da bula Apostolicum
pascendi múnus. Pressionado por este enorme conflito, convocou uma congregação
Cardinalícia para discutir a questão, mas morreu misteriosa e repentinamente.
Morreu em 2 de feverei-ro de 1769, em Roma.
250º
- Clemente XIV - 1769 - 1774
Papa
Igreja cristã Romana, nascido em Sant’Arcangelo di Romagna, Forlì, hoje Rimini,
Giobanni Vincenzo Ganganelli, eleito em 4 de junho de 1769 para suceder
Clemente XIII. Estabeleceu relações com os reinos católicos e dissolveu a
Companhia de Jesus. Frade da Ordem dos menores conventuais, professor de
teologia, foi convocado pelo Papa Bento XIV, para dirigir o Colégio São
Boaventura em 1740, em Roma. Tornou-se consultor do Santo Ofício (1746) e foi
nomeado Cardeal por Clemente XIII (1759), a quem sucederia dez anos depois.
Diante do problema da Ordem dos Jesuítas, não resolvido por seu predecessor e
temendo um novo cisma na Igreja, que já perdera a Inglaterra e parte da
Alemanha, julgou conveniente para os interesses da Igreja dar seu consentimento
ao pedido feito por tantos Estados católicos e, com a bula Dominus ac Redemptor
noster, dissolveu a Companhia de Jesus (1773), satisfazendo a Espanha, Portugal
e França. Seu gesto foi severamente julgado pelo colégio Cardinalício e ainda
hoje é discutido pelos historiadores, que o consideram governado por simpatias
pelo jansenismo e fruto de pressões políticas da França e da Espanha. Pelo
menos não culpou os jesuítas de crimes ou heresias e os seguidores de Santo
Inácio de Loyola obedeceram ao Papa. Também deve-se a ele o início da secagem
dos Pauis Pontinos e a fundação do Museu Clementino que por causa do trabalho
de seu sucessor Pio VI, passou a se chamar Museu Pio-Clementino. Morreu em 22
de setembro de 1774, em Roma.
251º
- Pio VI - 1775 - 1799
Papa Pio
VI, nascido Giovanni Angelico Braschi, (Cesena, 25 de dezembro de 1717 – Valença,
29 de agosto de 1799) foi Papa de 15 de fevereiro de 1775 até a sua morte. Pio
VI convocou e iniciou o ano do jubileu de 1775. Os atos anteriores de Pio VI
deram uma promessa justa de governo reformista e abordaram o problema da
corrupção nos Estados Papais. Embora ele fosse geralmente benevolente, Pio VI
às vezes mostrava discriminação. Ele nomeou seu tio Giovanni Carlo Bandi como Bispo
de Ímola em 1752 e depois como membro da Cúria Romana, Cardeal no consistório
em 29 de maio de 1775, mas não ofereceu nenhum outro membro de sua família. Ele
repreendeu o Príncipe Potenziani, governador de Roma, por não ter lidado
adequadamente com a corrupção na cidade, nomeou um conselho de Cardeais para
remediar o estado das finanças e aliviar a pressão dos impostos, chamado a
prestar contas a Nicolò Bischi pelo gasto de fundos destinado à compra de
grãos, reduziu os desembolsos anuais ao negar pensões de muitas pessoas
proeminentes e adotou um sistema de recompensa para incentivar a agricultura.
Após sua
eleição, Pio VI ordenou a libertação de Lorenzo Ricci, Superior Geral da
Companhia de Jesus, que foi mantido prisioneiro no Castel Sant'Angelo, mas o general
morreu antes da chegada do decreto de libertação. Talvez seja devido a Pio VI,
que os jesuítas conseguiram escapar à dissolução na Rutênia Branca e na Silésia.
Em 1792, o Papa considerou o restabelecimento universal da Companhia de Jesus
como um baluarte contra as idéias da Revolução Francesa, mas isso não
aconteceu.
Além de
enfrentar a insatisfação com essa política de temporização, Pio VI encontrou
protestos práticos tendendo à limitação da autoridade Papal. João Nicolau de
Hontheim, escrevendo sob o pseudônimo de "Febronius", o principal expoente
literário alemão das ideias galicanas das igrejas católicas nacionais, foi ele
próprio induzido (não sem escândalo) a retratar publicamente suas posições; mas
foram adotados na Áustria. Lá as reformas sociais e Eclesiásticas que haviam
sido empreendidas pelo Imperador José II e seu ministro Kaunitz, como uma
maneira de influenciar as nomeações dentro da hierarquia católica, tocou a
supremacia de Roma quase que, na esperança de permanecer com eles, Pio VI
adotou o curso excepcional de visitar Viena pessoalmente. Ele deixou Roma em 27
de fevereiro de 1782 e, embora magnificamente recebido pelo Imperador, sua
missão provou ser um fiasco; alguns anos depois, ele conseguiu coibir os Arcebispos
alemães que, em 1786, no congresso de Ems, mostraram uma tendência à
independência.
No Reino
de Nápoles, as dificuldades que exigiam certas concessões em homenagem à feudal
foram levantadas pelo ministro liberal Tanucci, e surgiram desentendimentos
mais sérios com Leopoldo II, mais tarde Imperador, e Scipione de 'Ricci, Bispo
de Pistoia e Prato, sobre as questões da reforma na Toscana. A bula Papal
Auctorem fidei, emitida em 28 de agosto de 1794, é uma condenação dos atos e
tendências galicanos e jansenistas do Sínodo de Pistoia (1786). Em 17 de agosto
de 1775, o Papa Pio VI promulgou com um decreto Papal a autenticidade de Nossa
Senhora de Šiluva. Pio VI viu o desenvolvimento da Igreja Católica nos Estados
Unidos da América. Ele libertou o Clero americano da jurisdição do Vigário
Apostólico na Inglaterra e ergueu a primeira Sé Episcopal Americana, a Diocese
de Baltimore em novembro de 1789.
Pio VI
elevou 73 cardeais em 23 consistórios. Não canonizou nenhum Santo, mas
beatificou um total de 39 indivíduos, entre os quais Lourenço de Brindisi e
Amato Ronconi.O Papa também estabeleceu as finanças dos Estados Pontifícios em
bases muito mais firmes. Pio é mais lembrado em conexão com a expansão do Museu
Pio-Clementina, que foi iniciado por sugestão de seu antecessor Clemente XIV; e
com uma tentativa de drenar os pântanos pontinos, mas Pio VI conseguiu drenar
com sucesso os pântanos perto de Citta della Pieve, Perugia e Spoleto. Ele também
restaurou a Via Appia. Pio VI também aprofundou e expandiu os portos de
Terracina e Porto d'Anizo, um importante centro do comércio Pontifício. Pio foi
um grande Patrono das artes e humanidades; ele também adicionou uma nova sacristia
à Basílica de São Pedro.
No
início da Revolução Francesa, em 1789, Pio VI testemunhou a repressão da antiga
igreja galicana, bem como o confisco de bens Pontifícios e Eclesiásticos na
França. Também viu uma efígie queimada pelos parisienses no Palais Royal. Ele
viu os eventos como um sinal de oposição à ordem social ordenada por Deus e
também a considerou uma conspiração contra a igreja. O Papa condenou a
Declaração dos Direitos do Homem e a Constituição Civil do Clero e apoiou uma
liga contra a revolução. Ele emitiu dois resumos - Quod aliquantum (1791) e
Caritas (1791) - condenar as reformas Eclesiásticas propostas pela revolução. O
que os revolucionários realmente tentaram foi substituir as religiões
históricas por uma “religião de Estado”, com suas próprias pretensões
teológicas, funcionários, elites e privilégios, visando assegurar que os
cidadãos se submetessem à lei não apenas no comportamento externo, mas
inclusive na consciência e no coração. A lei é que seria “deus”. Os Estados
Gerais convocados por Luís XVI em 1789 se dividiam em três ordens: o Clero, a nobreza
e o “terceiro estado”. O Clero não era um obstáculo para a política inicial de
reformas. Os padres apoiavam as medidas propostas pelo terceiro estado para
implantar a separação de poderes, a reunião frequente dos Estados Gerais, a sua
supremacia na determinação dos impostos, o reconhecimento das liberdades
individuais etc. Mas esse apoio às reformas não era mediante ações radicais: só
um quarto dos membros do Clero queria a ruptura da ordem vigente e a revolução
democrática, enquanto a maioria dos padres defendia uma reforma paulatina e sem
ruptura traumática. Apesar dessa atitude de moderação, a tomada da Bastilha em
14 de julho em 1789 e a posterior abolição dos privilégios feudais não foram
fatos particularmente alarmantes para os Bispos e Sacerdotes, que estavam mais
preocupados com os resultados da reforma constitucional iniciada por uma nova
assembleia. A “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” promulgou a
liberdade religiosa, reservando ao Estado o poder de determinar quando as
opiniões em matéria de credo eram incompatíveis com a lei. Ou seja as leis
humanas deveriam estar acima das Leis de Deus.
Esta liberdade teórica, no entanto, teve escassa duração
real. Em 12 de julho de 1790, estabeleceu-se a chamada “Igreja constitucional”,
que, na prática, imposta por um rápido processo de fundamentalismo estatista,
se tornou o único “credo” aceito pelas autoridades. Essa “igreja” tinha
organização e funcionamento próprio, decidido pelo Estado. Os Sacerdotes
católicos foram pressionados a jurar fidelidade às novas normas estatais em
matéria de religião e a se desligarem da obediência ao seu Bispo e a Roma.
Apesar da determinação do Papa Pio VI e da rebelião dos Bispos perante a
pressão estatal (só quatro cederam à nova ordem), muitos presbíteros, em
especial no centro do país, se uniram à “igreja laica” e viraram comissários
políticos do Estado em matéria religiosa. A criação desta “igreja” foi
celebrada no Campo de Marte, com os oficiantes ataviados em vestes tricolores
francesas. O laicismo legalizado pelo Estado gera nas pessoas uma aceitação
natural de outras crenças contrárias à católica, e portanto altamente
perniciosa para as almas. Os Sacerdotes que se mantiveram católicos foram perseguidos,
impedidos de celebrar Sacramentos e de pregar e, a partir de 18 de março de
1793, se fossem presos em solo francês, deviam ser executados em menos de 24
horas. Muitos tiveram a pena de morte comutada por um destino tão pavoroso
quanto, nas infectas e tristemente célebres prisões da Guiana Francesa.
Ao mesmo tempo, foi cortada a
comunicação entre os católicos franceses e o Papa, cujas cartas e documentos
não podiam ser divulgados no país sem a aprovação prévia dos órgãos
legislativos. A Igreja católica sofreu uma das piores perseguições da história.
As crianças não podiam receber o batismo, nem a comunidade podia celebrar a
Eucaristia. Só se conseguia oficiar algum Sacramento na clandestinidade. Na
Bretanha, região que registrou o maior número de Sacerdotes contrários à nova
“igreja” cismática, os fiéis se reuniam em barcas, longe da costa, ou no
interior dos bosques. Aqueles que participavam dessas “reuniões ilegais”
corriam o risco ser condenados à morte como inimigos do Estado. Na região bretã
foram assassinados cerca de 120.000 católicos por motivos estritamente
religiosos: tratava-se de mais de 15% da população. Enquanto isso, as
autoridades revolucionárias determinavam por decreto, sob os impulsos de
Robespierre, a existência do “Ser Supremo” e a imortalidade da alma,
instaurando a celebração de “festivais do Ser Supremo” a partir de 1794. Antes
disso já tinham sido criados templos à “deusa Razão”, usando-se para tanto as
igrejas e sinagogas. Em todo momento, o povo era induzido a ligar a sua
consciência a uma série de normas políticas e morais ao gosto do poder.
O ano de
1791 marcou o fim das relações diplomáticas com a França e o núncio Papal.
Antonio Dugnani foi convocado para Roma como resultado. Uma das razões para a
brecha foi a apreensão pelos revolucionários do Comtat Venaissin, encerrando
516 anos de domínio Papal em Avignon. O rei Luís XVI da França foi executado
por guilhotina em 21 de janeiro de 1793.
Em 1796,
as tropas republicanas francesas sob o comando de Napoleão Bonaparte invadiram
a Itália e derrotaram as tropas Papais. Os franceses ocuparam Ancona e Loreto.
Pio VI processou a paz que foi concedida em Tolentino em 19 de fevereiro de
1797; mas em 28 de dezembro de 1797, em uma revolta atribuída pelas forças Papais
a alguns revolucionários italianos e franceses, o popular general de brigada
Mathurin-Léonard Duphot, que havia ido a Roma com José Bonaparte como parte da
embaixada francesa, foi morto e um novo pretexto foi fornecido para invasão. O
general Berthier marchou para Roma, entrou sem oposição em 10 de fevereiro de
1798 e, proclamando uma República Romana, exigiu do Papa a renúncia à sua
autoridade temporal. Após sua recusa, Pio foi feito prisioneiro e, em 20 de fevereiro,
foi escoltado do Vaticano a Siena e daí até a Certosa, perto de Florença. A
declaração de guerra francesa contra a Toscana levou à sua remoção (ele foi
escoltado pelo espanhol Pedro Gómez Labrador, marquês de Labrador) por Parma,
Placência, Turim e Grenoble até a cidadela de Valence, a principal cidade de
Drôme, onde morreu seis semanas após sua chegada, em 29 de agosto de 1799. O
corpo de Pio VI foi embalsamado, mas não foi enterrado até 30 de janeiro de
1800, depois que Napoleão viu vantagem política em enterrar o Papa falecido nos
esforços para trazer a Igreja Católica de volta à França. Sua comitiva insistiu
por algum tempo que seus despojos fossem enterrados em Roma, depois atrás das
linhas austríacas. Eles também impediram um Bispo constitucional de presidir o
enterro, como exigiam as leis da França, de modo que nenhum serviço funerário
era realizado. Este retorno do conflito de posse foi resolvido pela Concordata
de 1801. O corpo de Pio VI foi removido de Valence em 24 de dezembro de 1801 e
enterrado em Roma, em 19 de fevereiro de 1802, quando Pio VI recebeu um funeral
católico, com a presença do Papa Pio VII, seu sucessor. Por decreto do Papa Pio
XII, em 1949, os restos de Pio VI foram transferidos para a Capela da Madona,
abaixo de São Pedro, nas grutas do Vaticano. Seus restos mortais foram
colocados em um antigo sarcófago de mármore.
INÍCIO
DA REVOLUÇÃO FRANCESA – 1789 - 1799
251
. 1 - Aparição de Nossa Senhora de Lavang
Logo
após o decreto, grupos de católicos fugiram para as montanhas a fim de escapar
da perseguição. Muitos se estabeleceram na região de Quang Tri (zona da antiga
fronteira entre o Vietnã do Norte e o do Sul). Mas nem em seus refúgios nas
montanhas, os fiéis católicos tiveram trégua, pois lá chegavam os assassinos do
governo do Rei Canh Thinh. Além desses perigos, os católicos padeciam de frio e
fome, muitas enfermidades, como a malária, além do ataque de animais selvagens.
Apesar de tudo, os católicos resistiam e em pequenos grupos se reuniam para
rezar o Rosário. Contudo a vida não lhes era fácil. Foi em meio a essas
provações que se operou a primeira aparição de Nossa Senhora, bem neste local
isolado entre as montanhas e perto de uma árvore chamada banyan (muito
conhecida naquela região). De uma maneira diferente de outras aparições de
Nossa Senhora, em que Ela se faz ver a apenas alguns videntes, neste caso Ela
apareceu a todos os presentes. A Virgem Imaculada apresentava-se majestosa,
belamente vestida, tendo o Menino Jesus nos braços e escoltada por dois Anjos.
Chamou a atenção dos católicos o fato de Ela portar uma longa capa aos ombros. As
pessoas reconheceram a Senhora como A Nossa Bendita Mãe. A Mãe de Deus,
primeiramente, disse aos presentes que pegassem as folhas de uma árvore chamada
Lavang (súplica), as fervessem e tomassem como chá, pois assim eles ficariam
curados de suas doenças. Depois, revelou que ela prometia atender as orações
das pessoas que fossem rezar naquele local.
Isto aconteceu numa área de ervas perto da grande figueira indiana onde
rezavam os refugiados. Todos os presentes testemunharam o milagre.
Desde o
tempo em que a Senhora de Lavang apareceu pela primeira vez, aumentou o número
daqueles que iam rezar no local, mesmo com o perigo de novas perseguições; e o
povo que se refugiava aí erigiu uma pequena e simples capela em sua honra em
meio à selva e tornou-se o ponto de referência dos católicos na localidade. Depois
da primeira aparição, a bendita Mãe continuou a aparecer ao povo neste mesmo
lugar, várias vezes, ao longo de um período de quase cem anos de perseguição
religiosa. Ela aparecia animando-os a não esmorecerem, devido à atroz
perseguição pagã, que continuava mesmo nos lugares onde a França dominava. Nos
campos pertencentes àqueles que se tinham convertido ao catolicismo, os pagãos
colocavam fogo e queimavam suas casas. Os fiéis eram golpeados, humilhados e dispersos
das aldeias católicas. Entre muitos grupos de católicos vietnamitas que foram
queimados vivos por causa da sua fé, estava um grupo de 30 pessoas que foram
apanhadas quando saíam do seu esconderijo na floresta de Lavang. A seu pedido
foram levadas para a pequena capela de Lavang e forma aí imolados. Durante os
anos seguintes, o seu nome espalhou-se a outros lugares. Apesar da sua
localização isolada nas altas montanhas, grupos de pessoas continuaram a
encontrar maneira de penetrar na floresta profunda e perigosa para prestar
culto à Senhora de Lavang.
Mas com
a consolidação da colonização francesa, as perseguições cruentas diminuíram.
Assim, os católicos puderam construir uma igreja no local das aparições. Em
1886, o Bispo Gaspar mandou construir uma igreja em honra de Nossa Senhora de
Lavang. Por causa da sua difícil localização e pela falta de recursos
financeiros, levou 15 anos a completar-se a sua construção. Foi inaugurada por
D. Gaspar numa cerimônia solene em que participaram mais de 12 000 pessoas e durou
de 6 a 8 de Agosto de 1901. O Bispo proclamou a Senhora de Lavang a protetora
dos católicos vietnamitas. Em 1928 foi construída uma igreja maior para
albergar o número crescente de peregrinos. A história da Senhora de Lavang
continua a ganhar importância à medida que são validados os pedidos das pessoas
cujas orações foram atendidas. Em Abril de 1961, a Conferência do Bispos
Vietnamitas selecionou a Santa igreja de Lavang como o Centro Sagrado Mariano
Nacional. Em Agosto de 1962, o Papa João XXIII elevou a igreja de Lavang a
Basílica.
A
Destruição do Santuário: Entretanto, com o advento do regime comunista, as
perseguições anti-católicas recrudesceram. Do norte do país, cerca de 600.000
católicos tiveram que fugir para o sul. O Santuário, que se localizava no Sul,
mas próximo à fronteira, não foi poupado. No Sul do Vietnã, os católicos
resistiam heroicamente ao comunismo, mas por uma sequência de traições também o
Vietnã do Sul acabou caindo sob o jugo comunista. E em 1972 o Santuário foi
destruído pelos marxistas, durante a guerra do Vietnã. Em 19 de Junho de 1988,
o Papa João Paulo II na cerimônia de canonização dos 117 mártires vietnamitas,
pública e repetidamente reconheceu a importância e significado da Senhora de
Lavang, e expressou o desejo da reconstrução da Basílica para comemorar os 200
anos de aniversário da primeira aparição da Senhora de Lavang em Agosto de
1998.
252º
- Pio VII - 1800 - 1823
Papa Pio
VII O.S.B. (Cesena, 14 de agosto de 1742 – Vaticano, 20 de agosto de 1823),
nascido como Barnaba Niccolò Maria Luigi Chiaramonti, foi Papa de 14 de março
de 1800 até a data da sua morte. Era Monge Beneditino, tendo tomado o nome de
Dom Gregório Chiaramonti. Um dos primeiros atos de Pio VII foi nomear o Clérigo
menor Ercole Consalvi, que havia desempenhado tão habilmente o cargo de Secretário
do recente conclave, no Colégio de Cardeais e no escritório do Cardeal
Secretário de Estado. Consalvi partiu imediatamente para a França, onde
conseguiu negociar a Concordata de 1801 com o Primeiro Cônsul Napoleão. Embora
não tenha efetivado um retorno à antiga ordem cristã, o tratado forneceu certas
garantias civis à Igreja, reconhecendo "a religião católica, apostólica e
romana" como a da "maioria dos cidadãos franceses". Os
principais termos da concordata entre a França e o Papa incluem: Uma proclamação
de que "o catolicismo era a religião da grande maioria dos
franceses", mas não era a religião oficial, mantendo a liberdade
religiosa, em particular no que diz respeito aos protestantes: O Papa tinha o direito de depor Bispos; O
estado pagaria salários Clericais e o Clero prestou juramento de lealdade ao
estado; A igreja desistiu de todas as reivindicações para terras da igreja que
foram tomadas após 1790; O domingo foi restabelecido como um
"festival", a partir do domingo de Páscoa, em 18 de abril de 1802.
Como Papa,
ele seguiu uma política de cooperação com a República e o Império estabelecidos
pela França. Ele esteve presente na coroação de Napoleão I em 1804. Até
participou do Bloqueio Continental da Grã-Bretanha na França, sob as objeções
de seu Secretário de Estado Consalvi, que foi forçado a renunciar. Apesar
disso, a França ocupou e anexou os Estados Papais em 1809 e tomou Pio VII como
prisioneiro, exilando-o para Savona. Em 15 de novembro de 1809, Pio VII
consagrou a igreja em La Voglina, Valenza Po, Piemonte, com a intenção de que a
vila de La Voglina se tornasse sua base espiritual enquanto estava no exílio.
Infelizmente, sua residência teve vida curta quando Napoleão tomou conhecimento
de suas intenções de estabelecer uma base permanente e logo foi exilado na
França. Apesar disso, o Papa continuou a se referir a Napoleão como "meu
querido filho", mas acrescentou que ele era "um filho um pouco
teimoso, mas um filho ainda". Esse exílio só terminou quando Pio VII
assinou a Concordata de Fontainebleau em 1813. Um resultado desse novo tratado
foi a libertação dos Cardeais exilados, incluindo Consalvi, que, ao se
reintegrar ao séquito Papal, persuadiu Pio VII a revogar as concessões que ele
tinha feito nele. Pio VII começou as revogações em março de 1814, o que levou
as autoridades francesas a prenderem muitos dos prelados opostos. Seu
confinamento, no entanto, durou apenas uma questão de semanas, quando Napoleão abdicou
em 11 de abril daquele ano. Assim que Pio VII retornou a Roma, ele
imediatamente reviveu a Inquisição e o Índice de Livros Condenados. A prisão de
Pio VII veio de fato com um lado positivo para ele. Deu-lhe uma aura que o
reconheceu como um mártir vivo, de modo que, quando ele voltou a Roma em maio
de 1814, foi recebido com mais calor pelos italianos, como herói.
Desde o
momento de sua eleição como Papa até a queda de Napoleão em 1815, o reinado de
Pio VII foi completamente retomado no trato com a França. Ele e o Imperador
estavam continuamente em conflito, muitas vezes envolvendo os desejos do líder
militar francês de concessões às suas demandas. Pio VII queria sua própria
libertação do exílio, bem como o retorno dos Estados Papais e, mais tarde, a
libertação dos 13 "Cardeais Negros", ou seja, os Cardeais, incluindo
Consalvi, que desprezaram o casamento de Napoleão com a Princesa Marie Louise,
acreditando que seu casamento anterior ainda era válido e havia sido exilado e
empobrecido em consequência de sua posição juntamente com vários prelados,
padres, monges, freiras e outros apoiadores exilados ou presos.
Em 7 de
março de 1801, Pio VII publicou o breve "Catholicae fidei" que
aprovava a existência da Companhia de Jesus na Rússia e nomeou seu primeiro
superior geral como Franciszek Kareu. Este foi o primeiro passo na restauração
da ordem. Em 31 de julho de 1814, ele assinou a bula Papal Sollicitudo omnium
ecclesiarum, que restaurou universalmente a Companhia de Jesus. Ele nomeou
Tadeusz Brzozowski como Superior Geral da ordem.
Pio VII
aderiu à declaração do Congresso de Viena de 1815, representada pelo Cardeal
Secretário de Estado Ercole Consalvi, e pediu a supressão do tráfico de
escravos. Isso se aplicava principalmente a lugares como Espanha e Portugal,
onde a escravidão era economicamente muito importante. O Papa escreveu uma
carta ao rei Luís XVIII da França de 20 de setembro de 1814 e ao Rei João VI de
Portugal em 1823 para incentivar o fim da escravidão. Ele condenou o tráfico de
escravos e definiu a venda de pessoas como uma injustiça à dignidade da pessoa
humana. Em sua carta ao Rei de Portugal, ele escreveu: "o Papa lamenta que
esse comércio de negros, que ele acreditava ter cessado, ainda seja exercido em
algumas regiões e de maneira ainda mais cruel.” Ele implora e implora ao rei de
Portugal para implementar toda a sua autoridade e sabedoria para extirpar essa vergonha
profana e abominável. Sob o domínio napoleônico, o gueto romano judeu havia
sido abolido e os judeus eram livres para viver e se mudar para onde quisessem.
Após a restauração do domínio Papal, Pio VII restabeleceu o confinamento de
judeus no gueto, mantendo as portas fechadas à noite. Pio VII emitiu uma
encíclica "Diu satis" para defender um retorno aos valores do
Evangelho e universalizou a festa de Nossa Senhora das Dores em 15 de setembro.
Ele condenou a Maçonaria e o movimento dos Carbonari na encíclica Ecclesiam a
Jesu Christo em 1821. Pio VII afirmou que os maçons deveriam ser excomungados e
os vinculava aos Carbonari, um grupo revolucionário anticlerical na Itália.
Todos os membros dos Carbonari também foram excomungados. Pio VII era
multilíngue e sabia falar italiano, francês, inglês e latim. Era um homem de
cultura e tentou revigorar Roma com escavações arqueológicas em Ostia, que
revelavam ruínas e ícones desde os tempos antigos. Ele também teve paredes e
outros edifícios reconstruídos e restaurou o Arco de Tito. Ordenou a construção
de fontes e praças e ergueu o obelisco no Monte Pinciano. O Papa também
garantiu que Roma fosse um lugar para artistas e artistas importantes da época,
como Antonio Canova e Peter von Cornelius. Ele também enriqueceu a Biblioteca
do Vaticano com numerosos manuscritos e livros. Foi Pio VII quem adotou a
bandeira amarela e branca da Santa Sé como resposta à invasão napoleônica de
1808. Ao longo de seu Pontificado, Pio VII canonizou um total de cinco Santos.
Em 24 de maio de 1807, Pio VII canonizou Angela Merici, Benedito, o Mouro,
Colette Boylet, Francisco Caracciolo e Hyacintha Mariscotti. Beatificou um
total de 27 indivíduos, incluindo José Oriol, Berardo dei Marsi, José Maria
Tomasi e Crispim de Viterbo. Pio VII criou 99 Cardeais em dezenove consistórios,
incluindo figuras Eclesiais notáveis da época, como Ercole Consalvi, Bartolomeo
Pacca e Carlo Odescalchi. O Papa também nomeou seus dois sucessores imediatos
como Cardeais: Annibale della Genga e Francesco Saverio Castiglioni. Em 15 de agosto
de 1811 - a Festa da Assunção - está registrado que o Papa celebrou a missa e
foi dito que entrou em transe e começou a levitar de uma maneira que o atraiu
para o altar. Esse episódio em particular despertou grande espanto e admiração
entre os atendentes, que incluíam os soldados franceses que o vigiavam, incrédulos
com o que ocorrera.
Em 3 de
junho de 1816, Pio VII condenou as obras de melquita Bispo Germanos Adam. Os
escritos de Adam apoiavam o conciliarismo, a visão de que a autoridade dos
conselhos ecumênicos era maior que a do Papado. Em 1822, Pio VII completou 80
anos e sua saúde estava visivelmente em declínio. Em 6 de julho de 1823, ele
fraturou o quadril em uma queda nos aposentos Papais e ficou acamado a partir
daquele momento. Nas últimas semanas, ele frequentemente perdia a consciência e
murmurava os nomes das cidades para as quais fora transportado pelas forças
francesas. Com o Cardeal Secretário de Estado Ercole Consalvi ao seu lado, Pio
VII sucumbiu ao seu ferimento em 20 de agosto às 5 da manhã. Ele foi enterrado
brevemente nas grutas do Vaticano, mas depois foi enterrado em um monumento na
Basílica de São Pedro após seu funeral em 25 de agosto.
252
. 1 - Santa Anna Catarina Emmerich
A Beata
Anna Catarina Emmerich (Coesfeld, 8 de setembro de 1774 – Dülmen, 9 de
fevereiro de 1824) foi uma freira agostiniana, mística, visionária e
arrebatada, beatificada pelo Papa João Paulo II em 3 de outubro de 2004. Nasceu
em Flamschen, uma comunidade agrícola em Coesfeld, na diocese de Münster,
Vestfália, Alemanha, e morreu aos 49 anos em Dülmen, onde era freira. Emmerich
é notável por suas visões sobre a vida e a paixão de Jesus Cristo, cuja
reputação é revelada a ela pela Bem-aventurada Virgem Maria sob êxtase
religioso. Durante seus anos acamados, várias figuras conhecidas foram inspiradas
a visitá-la. O poeta Clemens Brentano a entrevistou longamente e escreveu dois
livros com base nas anotações de suas visões. A autenticidade dos escritos de
Brentano foi questionada e os críticos caracterizaram os livros como
"elaborações conscientes de um poeta" e "fraude
bem-intencionada" de Brentano. Esta Santa foi deliberadamente criticada,
obscurecida e negligenciada pela Maçonaria Eclesiástica, visto que em uma de
suas visões, delata as ações anti cristãs desta seita e seus membros. Emmerich
foi beatificada em 3 de outubro de 2004 pelo Papa João Paulo II. No entanto, o
Vaticano concentrou-se em sua própria piedade pessoal e não nos escritos
religiosos associados a Clemens Brentano.
Os seus pais foram os pobres
camponeses Bernard Emmerich e Anne Hiller. Em 13 de novembro de 1802, aos 28
anos, foi aceita no Convento de Agnentenberg, em Dülmen. Durante a infância,
relatos afirmam que tinha constante visões de Jesus, Maria, e de Santos, aos
quais entregava coroas de flores no dia de comemoração em nome deles. Afirma-se
também que tinha a capacidade de identificar lugares sacros e pagãos, assim
como identificar ervas medicinais que ninguém conhecia antes, mesmos traços que
foram identificados em outras personalidades que manifestaram "dons
divinos", como Santa Sibyllina de Pavia. Em relatos, descreve que as
visões eram tão comuns para ela, que acreditava que toda criança tinha a mesma
experiência, e todos simplesmente ficavam calados; por isso, também permanecia
em silêncio para que não achassem que estava se vangloriando.
Durante
toda a vida, Anna Emmerich ajudava os pobres e enfermos com tudo o que possuía,
dividindo o pouco que conseguia em sua pobreza, e por vezes não lhe restava
nada nem para o próprio sustento, tendo que ser ajudada pela mãe e amigos;
porém, mesmo assim, não deixava de dividir tudo que ganhava com os que mais
necessitavam. E quando não os encontrava, rezava para que Deus os revelasse.
Também tinha visões com almas presas no Purgatório, e por muitas vezes rezou
por essas almas e era acordada por elas no meio da noite, pedindo-lhe que
rezasse por elas. Aos 24 anos, em 1798, Anne teve uma visão na Igreja dos
Jesuítas, em Coesfeld, na qual ela vislumbrava Jesus Cristo com uma coroa de
espinhos e outra de rosas em cada mão, pedindo a ela que escolhesse,
decidindo-se Anne pela de espinhos e enterrando na própria cabeça. Desde então,
passou a receber estigmas, que ocultava de todos usando lenços envoltos na
testa.
O livro,
que escreveu os relatos da freira de 1819 até a morte, em 1824, foi publicado
por Clemens Bretano produzindo quarenta volumes, em que se encontram detalhes
das visões e meditações da própria Anna Emmerich. Em 1833, Bretano publicou a
primeira edição de A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo de acordo com
as Meditações de Anna Catarina Emmerich. Então, Betrano preparou um segundo
livro, A Vida da Abençoada Virgem Maria das Visões de Anna Caterina Emmerich,
que foi publicado postumamente, em 1852, em Munique, pois Bretano faleceu em
1842. Outro Sacerdote católico, o Padre Karl Schmoger, editou os manuscritos
restantes de Bretano e publicou os três volumes de A Vida de Nosso Senhor entre
os anos de 1858 e 1880. Nos anos seguintes, publicou uma versão ilustrada do
último livro e uma biografia de Anna Emmerich. Um dos livros, dedicado às
visões da vida Virgem Maria, contém descrições da cidade de Éfeso, que ainda
não foi completamente escavada, e relatos que ajudaram arqueólogos a localizar
a Casa da Virgem Maria. O Papa João XXIII tornou permanente a declaração de que
a casa encontrada é um Local Sagrado. Posteriormente, os Papas Paulo VI, João
Paulo II e Bento XVI visitaram o local e trataram-no como um Santuário para a
fé católica.
Ela
igualmente recebeu inúmeras visões das crises futuras na Igreja protagonizadas
pela maçonaria. Nelas, ela descreve homens de avental, destruindo a Igreja com
a colher de pedreiro. Os teólogos acreditam que, durante a vida, Anna Emmerich
recebeu mais visões divinas do que qualquer outro Santo. O livro A Dolorosa
Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo consiste em meditações da freira sobre
visões de acontecimentos descritos nos Evangelhos concernentes à paixão de
Cristo. Afirma-se que o mais chocante no relato das visões é a riqueza de detalhes
com que Anna Emmerich descreve os sofrimentos, os ferimentos, as humilhações,
as torturas, o açoitamento e a crucificação a que Jesus Cristo é submetido,
conforme relatam os Evangelhos do Novo Testamento.
Parte do
filme A Paixão de Cristo, dirigido pelo também católico Mel Gibson, foi
inspirado nessas visões de Anna Emmerich, em passagens descritas no mesmo livro
já referido, A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Anna Catarina
passou a ficar cada vez mais fraca durante o verão de 1823. Ela morreu em 9 de
fevereiro de 1824 em Dülmen e foi enterrada no cemitério nos arredores da
cidade, com um grande número de pessoas participando de seu funeral. Seu túmulo
foi reaberto duas vezes nas semanas após o funeral, devido a um boato de que
seu corpo havia sido roubado, mas o caixão e o corpo foram encontrados
intactos. Em fevereiro de 1975, os restos mortais de Emmerich foram
transferidos para a Igreja da Santa Cruz em Dülmen, onde descansam hoje.
Visão das ações
maléficas da Maçonaria Eclesiástica
“Vi a Igreja de S. Pedro. Uma
multidão de homens estava tentando derrubá-la, enquanto outros a reconstruíam
constantemente. Linhas conectavam estes homens com os outros e outros através
do mundo inteiro. Impressionei-me com a perfeita sintonia deles.”
“Os demolidores, na sua maioria
apóstatas e membros de diferentes seitas, quebravam todas as peças e
trabalhavam segundo regras e instruções. Eles vestiam aventais brancos
amarrados com fitas azuis. Neles haviam bolsos e tinham colheres de pedreiro
presos à cintura. A vestimenta dos outros era variada.”
“Havia, entre os demolidores,
homens distintos vestindo uniformes e crucifixos. Eles não punham a mão na
massa, mas marcavam sobre as paredes com a colher, indicando onde e como devem
ser derrubadas. Para o meu horror, vi entre eles, Sacerdotes Católicos. Quando
os trabalhadores não sabiam como continuar, eles procuravam alguém certo do seu
partido. Este tinha um livro grande que parecia conter todo o plano do edifício
e a maneira de destruí-lo. Marcava exatamente as partes a serem atacadas com a
colher, e logo elas vinham abaixo. Trabalhavam silenciosamente e com confiança,
porém, astutamente, furtivamente e cuidadosamente. Vi o Papa rezando, cercado
por falsos amigos que frequentemente faziam o oposto daquilo que ele
ordenava...”
‘Eu vejo o Santo Padre em grande
angústia. Ele mora em um palácio diferente do que ele tinha antes e só admite
um número limitado de amigos perto dele. Temo que o Santo Padre sofra muitas
outras provações antes de morrer. Vejo que a falsa igreja das trevas está
fazendo progresso e vejo a tremenda influência que tem sobre as pessoas.’ (10 de agosto de 1820)
‘Então eu vi que tudo que
pertencia ao protestantismo estava gradualmente ganhando supremacia, e a
religião católica caiu numa completa decadência. A maioria dos Sacerdotes era
atraída pelas sedutoras, mas falsas, doutrinas dos jovens professores, e todos
eles contribuíam para o trabalho de destruição. Naqueles dias, a Fé cairá em
níveis muito baixos, e será preservada somente em alguns lugares, em algumas
poucas casas de lavradores e em algumas poucas famílias que Deus protegeu dos
desastres e guerras.”
“Vi que muitos padres haviam se
envolvido em idéias que eram perigosas para a igreja. Eles estavam construindo
uma grande, estranha e extravagante igreja’.
“Tudo estava para ser nela
admitido, no intuito de estar unido e ter direitos iguais: evangélicos,
católicos e seitas de toda denominação. Assim deveria ser a nova igreja... Mas
Deus tinha outros planos.” (22 de abril de 1823)
“Vi a relação entre dois Papas.
Vi quão funestas seriam as consequências desta falsificação da Igreja. Vi-a
crescer, vi os heréticos de todas as condições vir à cidade (Roma). Vi aumentar
a tibieza do clero local, vi fazer-se uma grande escuridão. Então a visão
cresceu por todos lados. Vi por todo o mundo comunidades católicas oprimidas,
vexadas, presas e privadas de liberdade. Vi muitas igrejas fechadas. Vi grandes
misérias produzir-se por todas as partes. Vi guerras e sangue vertida. Vi o
povo selvagem e ignorante intervir com violência, mas isso não durou muito
tempo. Vi de novo a visão na qual a Igreja de São Pedro era minada, seguindo um
plano feito pela seita secreta, ao mesmo tempo que era deteriorada pelas
tempestades. Mas vi também chegar ajuda quando o sofrimento alcançou o seu
colmo. Vi de novo a Santíssima Virgem estender o seu manto sobre a Igreja. Vi
um Papa que era gentil, mas ao mesmo tempo muito firme. Vi uma grande
renovação, e a Igreja ascendeu muito alto”.
“Vi a Igreja terrestre, é dizer,
a sociedade dos fieis sobre a terra, o exército de Cristo no seu estado de
passo sobre a terra, completamente obscurecida e desolada”.
“Vós, Sacerdotes, que não vos
moveis! Estais dormidos e o redil arde por todos os lados! Não fazeis nada!
Como chorareis por isso um dia! Si tivésseis rezado só um Pater! Vejo tantos
traidores! Não suportam que se diga: “Isto está mal”. Tudo está bem aos seus
olhos com tal de que possam glorificar-se com o mundo!”
“Vi as carências e a decadência
do Sacerdócio, assim como as suas causas. Vi os castigos que se preparam”.
“Os servidores da Igreja são tão
lassos! Já não fazem uso da força que possuem no Sacerdócio”.
“Eles terão que dar conta de todo o amor,
todas as consolações, todas as exortações, todas as instruções referentes aos
deveres da religião, que eles não nos dão; de todas as bênçãos que não
distribuem, apesar de que a força da mão de Jesus esteja sobre ele, por tudo o
que não fazem à semelhança de Jesus”.
“... para uma infinidade de
pessoas que tinham boa vontade, o acesso às fontes da graça do Coração de Jesus
encontrava-se impedido e fechado pela supressão dos exercícios de devoção, pelo
feche e a profanação das Igrejas”.
“Tive uma visão concernente às
faltas de incontáveis pastores e à omissão de todos os seus deveres para com o
rebanho”.
“Vi muitos Bispos bons e
piedosos, mas estavam mudos e débeis, e o mau partido muitas vezes empregava a
força”.
“Tudo isto me fez conhecer que a
recitação da genealogia de Nosso Senhor diante do Santíssimo Sacramento, na
festa do Corpus Christi, leva consigo um grande e profundo mistério. Conheci,
por este meio, que, tal como entre os antepassados de Jesus Cristo, segundo a
carne, muitos não foram santos —tendo sido inclusivamente pecadores—; não
deixaram de ser, no entanto, degraus da escada de Jacob pelos quais Deus desceu
até à humanidade. Do mesmo modo, também os Bispos indignos permanecem capazes
de consagrar o Santíssimo Sacramento e de conferir o Sacerdócio com todos os
poderes que lhe estão associados”.
“Vi numa cidade uma reunião de
eclesiásticos, de laicos e de mulheres, os quais estavam sentados juntos, a
comer e a divertir-se com coisas frívolas, e por cima deles uma nuvem escura
que desembocava numa planície submergida nas trevas. No meio desta névoa vi a
Satanás sentado numa forma horrível, e à volta dele estavam tantos
acompanhantes como pessoas na reunião que tinha lugar em baixo. Todos estes
maus espíritos estavam continuamente em movimento e ocupados em empurrar esta
reunião de pessoas para o mal. Eles falam-lhes ao ouvido e atuavam sobre eles
de todas as maneiras possíveis. Estas pessoas estavam num estado de excitação
sensual muito perigosa e ocupados em conversas ociosas e provocantes. Os Eclesiásticos
eram desses que têm como principio: “É preciso viver e deixar viver. Na nossa
época não se deve estar de parte nem ser um misantropo: devemos alegrar-nos com
os que se alegram.”
“Ele [Satanás] falava
do seu direito. Como essa linguagem me surpreendia muito, foi-me explicado que
ele realmente adquiria um direito positivo quando uma pessoa batizada, que
tinha recebido por Jesus Cristo o poder de vencer-lhe, pelo contrario, se
entregava a ele pelo pecado livre o voluntario”.
“Vejo uma quantidade de Eclesiásticos
castigados por excomunhão, que não parecem inquietar-se, nem sequer sabê-lo. E,
não obstante, são excomungados quando tomam parte nessas empresas, quando
entram em associações e se aderem a opiniões sobre as quais pesa o anátema.
Vejo estes homens rodeados de uma nuvem como se fosse um muro de separação. Por
isto se vê quanto Deus tem em conta os decretos, as ordens e as defesas do
Chefe da Igreja e os mantêm em vigor inclusivamente quando os homens não se
importam com aquilo, o renegam ou se riem.”
253º
- Leão XII - 1823 - 1829
Leão XII, nascido Annibale Francesco
Clemente Melchiore Girolamo Nicola della Genga (Genga, perto de Ancona, 22 de
Agosto de 1760 — Roma, 10 de Fevereiro de 1829). Foi Papa de 28 de setembro de
1823 até a data da sua morte. Nascido numa família da nobreza que já tinha
vários Papas, era filho do Conde Fábio della Genga e da Condessa Maria Luisa
Periberti di Fabriano. Leão XII estava com problemas de saúde desde o momento de
sua eleição ao Papado. Ele era um governante profundamente conservador, que aplicou
muitas leis controversas, incluindo uma proibindo os judeus de possuir
propriedades. As finanças Papais também eram ruins, embora ele reduzisse os
impostos. Como resultado, o reinado de Leão XII foi impopular e provocou amplo
descontentamento nos Estados Papais. Em 5 de fevereiro de 1829, depois de uma
audiência privada com o novo Secretário de Estado Cardeal, Tommaso Bernetti,
ficou subitamente doente e parecia saber que seu fim estava próximo. Em 8 de
fevereiro, pediu e recebeu o Viaticum e foi ungido. Em 9 de fevereiro, ele caiu
na inconsciência e, na manhã seguinte, morreu. Foi enterrado em um monumento
dele na Basílica de São Pedro em 15 de fevereiro de 1829. Seus restos mortais
foram transferidos e enterrados diante do altar do Papa Leão I em 5 de dezembro
de 1830. Leão XII é considerado um homem de caráter nobre, apaixonado por ordem
e eficiência, mas que não possuía uma visão dos desenvolvimentos temporais de
seu tempo. Seu governo era impopular em Roma e nos Estados Papais, e por várias
medidas de seu reinado ele diminuiu muito para seus sucessores as chances de
resolver os novos problemas que enfrentariam.
254º
- Pio VIII - 1829 - 1830
Papa da
Igreja cristã Romana nascido em Cingoli, Macerata, perto de Ancona, Francesco
Saveiro Castiglioni, eleito em 5 de abril de 1829 sucessor de Leão XII, aos
sessenta e oito anos de idade. Pertencente a uma família de nobres estudou na
escola jesuíta de Osimo, e leis canônicas em Bolonha e Roma e tornou-se grande
conhecedor de numismática e literatura bíblica. Em Roma associou-se com o
mestre Devoti, e foi seu assistente na compilação de suas Instituiões (1792), e
seu Vigário geral quando o mestre foi nomeado Bispo de Anagni. Foi nomeado em
1800 Bispo de Montalto, quando foi encarcerado por Napoleão em Pavía e Mantua,
e logo depois de Cesena, por Pío VII. Foi nomeado Cardeal (1816) e Bispo de
Frascati e Gran Penitenziere (1821) e, em seguida, prefeito da Congregazione
dell’Indice. De mentalidade aberta, o seu curto Pontificado de vinte messes foi
marcado por acontecimentos notáveis. Por exemplo, foi aprovada na Inglaterra a
Lei de Emancipação Católica (1829), mediante a qual os católicos podiam ocupar
cargos públicos e postos nos parlamentos, e publicou Litteris altero abhinc (1830)
a respeito do matrimônio. Apoiou a revolução pela independência belga que levou
ao surgimento da moderna Monarquia européia da Bélgica. Tratou com o Sultão, em
favor dos armênios, iniciou o correio Vaticano e deu impulso às missões. Morreu
em Roma, e foi sucedido por Gregório XVI. No final de seu Papado a França e a
Itália mergulhavam em profunda onda de violência.
254
. 1 - Aparição de Nossa Senhora à Catherine Laboré: Nossa Senhora das Graças
A
mística francesa Catherine Laborè (Fain-lès-Moutiers, 2 de maio de 1806 –
Paris, 31 de dezembro de 1876), fundadora da devoção da Medalha Milagrosa. Pode-se
dizer, que as aparições da Medalha Milagrosa em 1830, abriram um ciclo de
grandes manifestações marianas que prosseguiu em La Salete (1846), em Lourdes
(1858), e ter culminado em Fátima em 1917. Quando Catarina tinha nove anos sua
mãe faleceu. Desolada, a menina subiu em um móvel que havia na casa, abraçou
uma imagem de Nossa Senhora e, chorando pediu à Virgem que substituísse a mãe
que acabava de perder: “Desde agora, sereis vós a minha Mãe!”
Catarina
teve um sonho a princípio misterioso por volta dos 18 anos de idade. Sonhou que
estava na Igrejinha da Fain-les Moutier, e a Missa estava sendo celebrada por
um sacerdote idoso, com um olhar que muito a impresionava. No fim da celebração
o sacerdote a chamou, mas temerosa, hesitou em se aproximar. E o velho
sacerdote lhe disse: “Minha filha, agora tu foges de mim, mas um dia me
procurarás. Deus tem seus desígnios sobre ti, nunca te esqueças disso.” Somente
algum tempo depois, viu um quadro de São Vicente de Paulo na residência das
Filhas da Caridade de Châtillon-sur-Seine, aonde fora estudar, reconheceu então
o sacerdote do sonho.
Ao completar 23 anos de idade, conseguiu
autorização paterna para ingressar na Congregação das Filhas da Caridade. Três
meses depois foi transferida para outra casa da Congregação, na Rue du Bac, em
Paris. Na semana seguinte, Catarina teve uma visão sobrenatural: “O coração de
São Vicente me apareceu três vezes de modo diferente, três dias seguidos:
claro, cor de carne, o que anunciava paz, calma, inocência e união. Depois o vi
vermelho cor de fogo, o que devia inflamar a caridade nos corações. Parecia-me
que toda a comunidade devia se renovar e se estender até os confins do mundo.
Por fim o vi vermelho negro, o que me punha a tristeza no coração, vinham-me
tristezas que eu tinha dificuldade de superar. Não sabia porque, nem como, essa
tristeza se relacionava com a mudança de governo.”
Durante
todo o tempo de seu noviciado ela tinha o privilégio de ver Nosso Senhor no
Santíssimo Sacramento. Numa destas visões em 6 de julho de 1830: “Nosso Senhor
me apareceu como um Rei, com a cruz sobre o peito no Santíssimo Sacramento. Foi
durante a Santa Missa no momento do Evangelho. Pareceu-me que a cruz
escorregava para os pés de Nosso Senhor. Pareceu-me que Nosso Senhor era
despojado de todo os seus ornamentos. Tudo caiu por terra. Foi então que tive os
mais negros e tristes pensamentos de que o Rei da Terra seria perdido e
despojado de suas vestes reais.”
Na noite
de 18 para 19 de julho de 1830, festa de São Vicente de Paula, viu seu anjo da
guarda na forma de um menino. Ela diz: “Havia-nos distribuído um pedaço do
roquete de linho de São Vivente. Eu cortei a metade e a engoli, e adormeci com
o pensamento de que São Vicente me obteria a graça de ver a Santíssima Virgem.
Afinal, às onze e meia da noite ouvi me chamarem pelo nome: “Irmã Labouré!
Irmã Labouré!”
Acordando, olhei para o lado de onde vinha a voz, que era do lado da passagem.
Corro a cortina e vejo um menino vestido de branco, de mais ou menos quatro a
conco anos, e ele me diz: “Levantai-vos logo e vinde à Capela, a
Santíssima Virgem vos espera.”
Vesti-me
depressa e me dirigi para o lado do menino, que tinha ficado de pé, sem avançar
além da cabeceira de minha cama. Ele me segui, ou melhor, eu o segui com ele
sempre a minha esquerda, levando claridade pelos lugares onde passava. Por
todos os lugares onde passávamos as luzes estavam acesas, o que me espantava
muito. Porém, muito mais surpresa fiquei quando entrei na Capela, a porta se
abriu mal o menino a tocava com a ponta do dedo. Mas a minha surpresa foi ainda
maior quando vi todas as velas e castiçais acesos, o que me fazia lembrar a
missa da meia noite.
Entretanto,
não via a Santíssima Virgem. O menino me conduzia ao presbitério, ao lado da
cadeira de braços do Sr. Diretor. Ali me pus de joelhos e o menino permaneceu
de pé todo o tempo. Por fim chegou a hora, o menino me advertiu: “Eis a
Santíssima Virgem.” Ouvi
então, um ruído, como um frufru de vestido de seda que tinha do lado da
tribuna, junto ao quadro de São José, e que pousava sobre os degraus do altar,
do lado do Evangelho, sobre uma cadeira semelhante à de Sant`Ana. Então olhando
para a Santíssima Virgem, dei um salto para unto dela, pus-me de joelhos sobre
os degraus do altar, com as mãos apoiadas sobre os joelhos da Santíssima
Virgem. Ali se passou o mais doce momento de minha vida. Não me seria possível
dizer tudo o que senti. Ela ma disse como eu devia me conduzir em relação ao
meu diretor espiritual, e várias coisas que não devo dizer; a maneira de me
conduzir em meus sofrimentos, vir lançar-me ao pé do altar (e me mostrava com a
mão esquerda o pé do altar) e ali abrir o meu coração. Ali receberia todas as
consolações de que tivesse necessidade. Então eu lhe perguntei o que
significavam todas as coisas que eu tinha visto, e Ela me explicou tudo.”
O
colóquio com Nossa Senhora prolongou-se por uma hora e meia. Noutro manuscrito
a Santa revelou parte do que ouviu da Santíssima Virgem: “Minha
filha, o bom Deus quer encarregar-vos de uma missão. Tereis muito que sofrer,
mas superareis esses sofrimentos, pensando que o fareis para a Glória do bom
Deus. Sereis contraditada. Mas tereis graça. Não temais. Dizei tudo a vosso
confessor com confiança e simplicidade. Rende confiança, não temais.”
”Os tempos serão maus. Os males
virão precipitar-se sobre a França. O trono será derrubado. O mundo inteiro
será transformado por males de toda ordem. Mas vinde ao pé deste altar. Aqui as
graças serão derramadas sobre todas as pessoas grandes ou pequenas, que as
pedirem com confiança e fervor.”
“Minha filha, eu gosto de
derramar graças sobre a comunidade em particular. Eu gosto muito dela,
felizmente. Sofro, porém, porque há grandes abusos em matéria de regularidade.
As regras não são observadas. Há grande relaxamento nas duas comunidades. Dizei-o
àquele que está encarregado de vós, ainda que ele não seja superior. Ele será
encarregado de uma maneira particular da comunidade. Ele deve fazer tudo o que
lhe for possível para repor a regra em vigor. Dizei-lhe de minha parte, que
vigie sobre as más leituras, as perdas de tempo e as visitas.”
“Conhecereis minha visita e a
proteção de Deus e a de São Vicente, sobre as duas comunidades. Tende
confiança. Não percais a coragem. Eu estarei convosco. Mas não se dará o mesmo
com outras comunidades. Haverá vítimas para o Clero de Paris, haverá vítimas:
Monsenhor, o Arcebispo morrerá.”
”Minha filha, a Cruz será
desprezada e derrubada por terra. O sangue correrá. Abrir-se-á de novo o lado
de Nosso Senhor. As ruas estarão cheias de sangue. Monsenhor o Arcebispo será
despojado de suas vestes. Minha filha o mundo todo estará na tristeza.” A estas palavras, pensei quando isso
se daria, e compreendi muito bem: quarenta anos.
A MEDALHA MILAGROSA
Quatro
meses depois, no dia 27 de novembro de 1830, outra aparição de Nossa Senhora.
Diz a Santa: “Vi a Santíssima Virgem à altura do quadro de São José. A
Santíssima Virgem, de estatura média, estava de pé, vestida de branco, com um
vestido de seda branco-aurora... com um véu branco que lhe cobria a cabeça e descia
de cada lado até em baixo. Sob o véu, vi os cabelos lisos repartidos ao meio e
por cima uma renda de mais ou menos três centímetros de altura, sem granzido,
isto é, apoiada ligeiramente sobre os cabelos. O rosto bastante descoberto, bem
descoberto mesmo, aos pés apoiados sobre uma esfera, quer dizer, uma metade de
esfera... tendo uma esfera de ouro nas mãos que representava o globo. Ela tinha
as mãos elevadas à altura do cinto de uma maneira muito natural, os olhos
elevados para o Céu... seu rosto era magnificamente belo. Eu não saberia
descrevê-lo... E depois, de repente, percebi anéis nos dedos revestidos de
pedras, mais belas umas que as outras, umas maiores e outras menores, que
despediam raios mais belos uns que os outros. Partiam das pedras maiores os
mais belos, sempre alargando para baixo, o que enchia poda a parte de baixo. Eu
não via mais os seus pés. Nesse momento em que estava a contemplá-la, a
Santísssima Virgem baixou os olhos, olhando-me. Uma voz se fez ouvir, e me
disse estas palavras: “A esfera que vedes representa o mundo inteiro,
particularmente a França, e cada pessoa em particular.”
Diz a
Santa: “Aqui eu não sei exprimir o que senti e o que vi, a beleza e o fulgor,
os raios tão belos. É o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que as
pedem, fazendo-me compreender quanto era agradável rezar à Santíssima Virgem e
quanto ela era generosa para com as pessoas que rezam a ela, que alegria ela
sente concedendo-as. Formou-se um quadro em torno da Santíssima Virgem, um
pouco oval, onde havia no alto estas palavras: “Ó Maria concebida sem pecado,
rogai por nós que recorremos a Vós.” Escritas em letras de ouro. A inscrição em
semicírculo, começava a altura da mão direita, passava por cima da cabeça e
acabava na altura da mão esquerda. Então uma voz se fez ouvir e me disse: “Fazei
cunhar uma medalha com este modelo. Todas as pessoas que a usarem receberão
grandes graças, trazendo-a ao pescoço. As graças serão abundantes para as
pessoas que a usarem com confiança.”
No mês seguinte a Virgem aparece de novo
à Santa Catarina exatamente como avia vista anteriormente, segurando o globo de
ouro, encimado por uma pequena cruz também de ouro, e dos anéis que jorravam os
mesmos raios de luz desigual. Diz a Santa: “Dizer-vos o que entendi no momento
em que a Santíssima Virgem oferecia o globo a Nosso Senhor é impossível
transmitir. Como eu estivesse ocupada em contemplar a Santíssima Virgem, uma
voz se fez ouvir no fundo de meu coração, e me disse: “Estes
raios são o símbolo das graças que a Santíssima Virgem obtém para as pessoas
que as pedem. Estas pedras das quais nada sai, são as graças que os homens se
esquecem de me pedir.”
A conversão do Judeu Afonso
Ratisbonne
Em
janeiro de 1842, uma conversão espetacular chamaria ainda mais atenções sobre a
Medalha Milagrosa. Afonso era Judeu de religião, embora não praticante. Nutria
pela Igreja Católica entranhado ódio, sobretudo pelo ressentimento que toda sua
família conservava pela conversão ao catolicismo do primogênito Teodoro. Afonso
dizia que não pretendia mudar de religião, mas que se um dia viesse a mudar,
far-se-ia protestante, jamais católico. Na cidade eterna, Ratisbonne visitou
seu amigo protestante Gustavo, o qual apresentou seu irmão Barão Teodoro de Bussières,
convertido recentemente ao catolicismo, que era amigo do Padre Teodoro
Ratisbonne. Essas duas circunstâncias o tornavam extremamente antipático aos
olhos de Afonso.
Só na
véspera de sua partida este se resolveu cumprir um dever social que lhe era
penoso: foi deixar um cartão de visitas na casa do Barão como despedida. Afonso
pretendia deixar discretamente o cartão e partir sem mais. O criado italiano do
Barão, porém, não entendeu seu francês e o fez entrar no salão, indo chamar o dono
da casa. Este foi cumprimentar o jovem judeu e logo com ele estabeleceu
relações cordiais, procurando atraí-lo para a fé católica. Pediu a Afonso que
adiasse sua partida para assistir uma cerimônia na Basílica de São Pedro. Com
relutância conseguiu convencê-lo, e ainda pediu para que Ratisbonne aceitasse
uma Medalha Milagrosa e prometesse copiar uma oração muito bonita à Nossa
Senhora: o Lembai-vos...
O judeu
não cabia em si de raiva pelo atrevimento do Barão em lhe fazer essas
propostas, mas resolveu tomar tudo com moderação. E, 18 de aneiro faleceu um
amigo íntimo do Barão de Bussières, o Conde de La Ferromays, antigo Embaixador
da França junto a Santa Sé e homem de grande virtude e piedade. Na véspera de
sua morte repentina, La Ferranays conversara com Bussières sobre Ratisbonne e
rezara cem vezes a oração Lembrai-vos, por sua conversão, a pedido de
Bussières. No dia 20 por volta do meio dia, o Barão de Bussières foi a Igreja
de Sant`Andrea delle Fratte para tratar das solenidades exéquias do falecido, a
realizar-se no dia seguinte. Acompanhava-o Ratisbonne de mau humor, fazendo
críticas violentas contra a Igreja e zombando das coisas católicas. Quando
chegaram a Igreja, o Barão pediu licença por alguns minutos na sacristia, para
tratar do assunto que o levara até ali, e Afonso se pôs a percorrer uma das
naves laterais, impedido de passar para o outro lado da Igreja, pelos
preparativos que estavam sendo feitos devido a morte do Conde. Quando, minutos
depois, o Barão retornou em busca de Afonso, não o encontrou onde o havia
deixado. Após muito procurar, foi dar com ele no outro lado da Igreja,
ajoelhado junto a um altar e soluçando. Ali já não estava um judeu, mas um
convertido que ardentemente desejava o Batismo.
Diz Ratisbonne:
“Eu estava havia pouco na Igreja, quando de repente senti-me dominado por uma
inquietação inexplicável. Levantei os olhos, todo o edifício havia desaparecido
à minha vista, uma só capela tinha, por assim dizer, concentrado toda a luz, e,
no meio desse esplendor apareceu, de pé, sobre o altar, grandiosa, brilhante,
cheia de majestade e de doçura a Virgem Maria, tal como está na minha Medalha,
uma força irresistível atraiu-me para ela. A Virgem fez-me um sinal com a mão
para que eu me ajoelhasse e pareceu-me dizer: muito bem! Ela não me disse nada,
mas eu compreendi tudo.”
O Papa
Gregório XVI quis conhecer o jovem convertido e recebeu-o paternamente. Ordenou
um inquérito minucioso e concluiu-se que se tratava de um milagre autêntico.
Ratisbonne quis entrar na Companhia de Jesus sendo ordenado sacerdote em 1847.
Depois deixou a Companhia de Jesus e foi juntar-se com seu irmão Teodoro,
fundando a Congregação dos Missionários de Nossa Senhora de Sion, dedicada a
conversão dos judeus. Os dois irmãos faleceram no ano de 1884, com fama de
excepcionais virtudes.
Lembremos
de que o corpo da Santa Catarina Labouré está incorruptível até os dias de
hoje, um aval inquestionável vindo de Deus sobre esta humilde serva do Senhor.
255º
- Gregorio XVI - 1831 - 1846
Gregório XVI,
nascido Bartolomeu Alberto Cappellari (Belluno, 18 de Setembro de 1765 – Roma,
1 de Junho de 1846). Foi Papa de 2 de fevereiro de 1831 até a data da sua
morte. Era Monge Camaldulense, com o nome de Dom Mauro Cappellari OSB Cam.
Elevado a Cardeal em 1825 e logo nomeado para redigir a concordata que
salvaguardasse os interesses dos católicos da Bélgica contra os protestantes
neerlandeses. Eleito inesperadamente Papa após um conclave de 64 dias, assistiu
a diversas invasões e revoluções nos Estados Papais. Foi um generoso Patrono
das artes. Fortemente conservador e tradicionalista, ele se opôs às reformas
democráticas e modernizadoras nos Estados Papais e em toda a Europa, vendo-as
como frentes do esquerdismo revolucionário. Contra essas tendências, Gregório
XVI procurou fortalecer a autoridade política e religiosa do Papado. A
revolução de 1830, que derrubou a Casa de Bourbon, acabara de infligir um duro
golpe ao partido monarquista católico na França. Quase o primeiro ato do novo
governo francês foi apoderar-se de Ancona, jogando assim a Itália, e particularmente
os Estados Papais, em um estado de confusão e revolta política. No curso da
luta que se seguiu, foi necessário mais de uma vez convocar tropas austríacas
para combater os republicanos de camisa vermelha envolvidos em uma campanha de
guerrilha. A administração conservadora dos Estados Papais adiou as reformas
prometidas após uma série de atentados e tentativas de assassinato.
Gregório XVI e o Cardeal
Lambruschini se opuseram a inovações tecnológicas básicas, como iluminação a
gás e ferrovias, acreditando que promoveriam o comércio e aumentariam o poder
da burguesia, levando a demandas por reformas liberais que minariam o poder
monárquico do Papa sobre Itália. De fato, Gregório XVI proibiu as ferrovias nos
Estados Papais, chamando-as de "caminho para o inferno ". As
insurreições em Viterbo em 1836, em várias partes das Legações em 1840, em
Ravenna em 1843 e em Rimini em 1845, foram seguidas de execuções por atacado e
sentenças draconianas de trabalho duro e exílio, nos Estados sob o controle das
autoridades. Gregório XVI fez grandes gastos com obras defensivas,
arquitetônicas e de engenharia, tendo um monumento ao Papa Leão XII construído por
Giuseppe Fabris em 1837. Ele também prestou apoio a estudiosos como Angelo Mai,
Giuseppe Mezzofanti e Gaetano Moroni. Essa generosidade, no entanto,
enfraqueceu significativamente as finanças dos Estados Papais. Em 1839,
Gregório XVI emitiu uma carta apostólica contra o comércio de escravos do Atlântico,
In supremo apostolatus. Gregório XVI canonizou Verônica Giuliani, uma mística
italiana da segunda ordem dos Franciscanos. Verônica Giuliani escreveu muito:
cartas, relações autobiográficas, poesias. A fonte principal para reconstruir o
seu pensamento é, no entanto, o seu Diário, iniciado em 1693: são 22 mil
páginas manuscritas, que abrangem 34 anos de vida em clausura. A escritura flui
espontânea e contínua, não existem riscos ou correções, nenhum sinal de interrupção
ou distribuição do material em capítulos ou partes de acordo com um padrão
predeterminado. Verônica não desejava compor uma obra literária; na verdade,
foi obrigada a colocar por escrito suas experiências pelo Padre Jerônimo
Bastos, religioso das Filipinas, de acordo com o Bispo diocesano Antonio
Eustachi.
Durante
seu reinado, cinco Santos foram canonizados (principalmente Afonso de Ligório),
trinta e três servos de Deus foram declarados abençoados (incluindo o
agostiniano Simão de Cássia), e muitas novas ordens religiosas foram fundadas
ou apoiadas, e a devoção dos fiéis a Maria, a mãe de Jesus aumentou tanto na
vida privada como pública. Também aprovou e abençoou a Medalha Milagrosa. Gregório
XVI morreu em 1 de junho de 1846 às 09h15 aos 80 anos. Após seu funeral, ele
foi enterrado na Basílica de São Pedro.
256º
- Pio IX - 1846 - 1878
Pio IX,
nascido Giovanni Maria Mastai-Ferretti (Senigália, 13 de maio de 1792 – Roma, 7
de fevereiro de 1878), foi Papa entre 16 de junho de 1846 e 7 de fevereiro de
1878. É o segundo Pontificado mais longo da história depois de São Pedro. Foi
beatificado em 3 de setembro de 2000, pelo Papa João Paulo II. Foi o primeiro Papa
da história a ser fotografado. Seu Papado ficou marcado pela destituição dos
chamados Estados Eclesiásticos, pois Pio IX comandava o Trono de Roma quando os
revoltosos empreendiam o Risorgimento, que levou à unificação da Itália como
Estado Nacional, comandado pelo rei Vittorio Emanuele II. Neste Pontificado fundada
a Associação das Filhas de Maria em 20/06/1847 por Santa Catarina Labouré, a
quem Nossa Senhora transmitiu a Medalha Milagrosa. Também Instituído o Dogma da
Imaculada Conceição em 1854, e o Dogma da Infalibilidade do Papa. Apesar de ser
considerado no início como um liberal, o seu Pontificado passou a ser
considerado como uma mudança no sentido do conservadorismo por seus críticos.
Pio IX iniciou uma campanha contra o que chamou de falso liberalismo. Na
encíclica Quanta Cura de 8 de dezembro de 1864, condenou dezesseis proposições
que contrariavam a visão católica na época.
Esta
encíclica foi acompanhada pelo famoso Syllabus errorum, que condenava as
ideologias do panteísmo, naturalismo, racionalismo, indiferentismo, socialismo,
comunismo, franco-maçonaria, judaísmo, Igrejas dadas como cristãs a tentar
explicar a Bíblia e vários outras formas de liberalismo religioso tidos por
incompatíveis com a religião católica. Também surgiu nesta época dois livros
altamente preocupantes: Em 1857 foi publicado um livro ocultista chamado “O
Livro dos espíritos”, de Allan Kardec. Espiritismo não é uma religião, não tem
Igreja, nem Templo, qualquer lugar pode ser usado para os contatos
extraterrenos. Se trata de uma seita necromancista na busca de informações dos
mortos, mas que na verdade é uma seita que promove as teorias mentirosas dos
demônios. A reencarnação que eles defendem tanto, surgiu justamente com
invocações nos rituais de Bruxos e Feiticeiros antigos, hoje chamados
graciosamente de Médiuns. Lembrando que Deus condena a necromancia em todos os
seus aspectos, e quem não obedece o Senhor, perde o Senhor. Em 1859 é lançado
por Charles Darwin o Livro “A evolução das espécies”, que descredencia Deus
como criador de tudo que existe. Para estes infelizes, tudo o que existe surgiu
do nada sem um Criador. Tal teoria ateísta se transformou com o tempo na maior
seita da humanidade. É de longe a que mais leva almas para o Inferno. A
cavalgada do primeiro Cavaleiro apocalíptico, da apostasia, se intensifica nesta
época.
Antes,
em 8 de janeiro de 1857, já havia feito a condenação dos escritos
filosófico-teológicos de Günther e em muitas ocasiões insistiu em que se
deveria seguir a filosofia e a teologia de São Tomás de Aquino. Durante toda
sua vida foi muito devoto da Virgem Maria. Em 1849, quando se encontrava no
exílio, em Gaeta, consultou o ponto de vista dos Bispos da Igreja a respeito da
Imaculada Conceição enviando-lhes cartas, e em 8 de dezembro de 1854, na
presença de mais de duzentos Bispos proclamou o dogma da Imaculada Conceição da
Virgem Maria como sendo um dogma de fé da Igreja através da encíclica
Ineffabilis Deus. Promoveu a devoção ao Sagrado Coração e em 23 de setembro de
1856 estendeu esta festividade a todo o mundo católico, e em 16 de junho de
1875 consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Promoveu a vida interna da
Igreja por meio de muitas normas litúrgicas e reformas monásticas e um elevado
número de beatificações e canonizações, sem precedentes para a época. Em 29 de
junho de 1869 publicou a Bula Aeterni Patris com a qual convocou o Concílio
Vaticano I, cuja cerimônia de abertura contou com a presença de setecentos Bispos
no dia 8 de dezembro de 1869. Na quarta sessão solene do concílio, em 18 de julho
de 1870, a infalibilidade Papal foi declarada um dogma de fé. Em 29 de setembro
de 1850 restabeleceu a hierarquia católica na Inglaterra erigindo a
Arquidiocese de Westminster com as sedes sufragâneas de Beverley, Birmingham,
Clifton, Hexham, Liverpool, Newport e Menevia, Northampton, Nottingham,
Plymouth, Salford, Shrewsbury e Southwark. Este ato provocou uma ampla comoção
por parte de ingleses intolerantes, fomentada pelo Premier Russel e pelo London
Times que quase resultou em perseguição aberta contra os católicos na Inglaterra.
Em 4 de março de 1853 restabeleceu a hierarquia católica na Holanda, erigindo a
Arquidiocese de Utrecht e as sedes sufragâneas de Haarlem, Bois-le-Duc,
Roermond e Breda. Foi em seu Pontificado que houve o cisma ente o Papado e o
Império do Brasil. Pio IX estabeleceu uma série de documentos condenando as
novas ideias, entre elas a Maçonaria. No Brasil havia, instituição herdada da
monarquia portuguesa, o chamado padroado. Ele determinava que qualquer
determinação da Santa Sé, no Brasil, somente seria válida com a autorização do
Imperador. Uma delas foi a proibição de casamento entre católicos e maçons. D.
Pedro II não assinou e gerou problemas na atuação dos padres brasileiros. Os Bispos
D. Vital e Macedo Costa seguiram as determinações do Papa e gerou uma crise do
País com o Vaticano. Os Bispos foram presos e condenados à prisão. O caso
somente foi resolvido quando o império mandou um diplomata a Roma.
Fim dos Estados Papais
- Estabelecimento da República Romana
O ano de
1848 foi muito agitado na Europa, tendo-se iniciado com revoltas na Sicília. A
14 de Março, a desordem pública forçou Pio IX a conceder uma constituição e um
parlamento. O Rei Carlos Alberto da Sardenha declara guerra à Áustria nove dias
depois. O levantamento popular continuou e um dos ministros que tinham sido
nomeados pelo Papa para tentar agradar aos revolucionários, o liberal moderado
Conde Pellegrino Rossi, foi assassinado em 15 de Novembro, nas escadas do
Parlamento.
O Papa
foi cercado por uma multidão no Quirinal exigindo uma República. Algumas
pessoas chegaram a disparar armas para o ar fazendo com que uma bala perdida
entrasse pela janela do gabinete do Secretário do Papa, atingido-o. Um canhão
até foi apontado na direção dos portões do palácio, e o Papa conseguiu escapar
disfarçado de pároco. O Reino de Nápoles dominava, ficando a cidade de Roma nas
mãos dos revoltosos. Só em 12 de Abril de 1850 retornaria a Roma, após
intervenção diplomática da França e da Áustria. Crê-se que Pio IX tenha regressado
afetado por esta violência e convertido para o lado conservador. Os
revolucionários ainda estavam no terreno e a manutenção dos Estados Papais,
sujeita à pressão de nacionalistas como Victor Emanuel II da Itália só se
conseguiu com a ajuda de tropas francesas e austríacas.
Unificação italiana - Papa Pio IX
deflagrou a questão romana
Em 1858,
Napoleão III e o Conde de Cavour declaram em conjunto guerra à Áustria. Na
sequência da Batalha de Magenta (4 de Julho de 1859) as forças da Áustria
retiram-se dos Estados Papais, precipitando assim a sua queda. Em Fevereiro de
1860, Victor Emanuel reclama a Umbria e a região das Marches; ao serem
recusadas, toma-as pela força. Ao derrotar o exército Papal em 18 de Setembro,
em Castelfidardo, e em 30 de Setembro em Ancona, Victor Emanuel toma todos os territórios
Papais exceto Roma. Em Setembro de 1870 cerca Roma, tornando-a capital da nova
Itália unificada. Concede a Pio a "Lei das Garantias" (15 de Maio de
1871) que dá ao Papa direitos de soberania, uma quantia anual fixa e a
extraterritorialidade dos Palácios Papais de Roma. Pio IX nunca aceitou a
oferta oficialmente, mantendo a pretensão sobre os territórios conquistados.
Embora não tenha sido preso ou impedido de viajar à sua vontade, declarava-se
prisioneiro no Vaticano. Além disso, proibiu os católicos italianos de votar
nas eleições do novo reino italiano. Essa incômoda questão de disputas entre o
Estado e a Igreja fica conhecida com o nome de Questão Romana e só termina em
1929, quando Benito Mussolini assinou com o Papa Pio XI a Concordata de São
João Latrão.
256
. 1 - São João Bosco
João
Melchior Bosco, mais conhecido como Dom Bosco (Castelnuovo Don Bosco, 16 de
agosto de 1815 — Turim, 31 de janeiro de 1888) foi um Sacerdote católico
italiano, fundador da Pia Sociedade São Francisco de Sales e proclamado Santo
em 1934. Aclamado por João Paulo II como o "Pai e Mestre da
Juventude", é o Padroeiro da capital federal do Brasil, Brasília. Seguidor
da espiritualidade e filosofia de Francisco de Sales, Dom Bosco era um
fervoroso devoto de Maria Auxiliadora.
Mais
tarde, dedicou seus trabalhos a Sales, quando fundou os Salesianos, com sede em
Turim. Juntamente com Maria Domenica Mazzarello, fundou o Instituto das Filhas
de Maria Auxiliadora, uma Congregação religiosa de freiras dedicada ao cuidado
e educação de meninas pobres. Ele ensinou São Domingos Sávio, de quem escreveu
uma biografia que ajudou o menino a ser canonizado. Em 18 de abril de 1869, um
ano após a construção da Basílica de Maria Auxiliadora em Turim, estabeleceu a
Associação de Maria Auxiliadora (ADMA), conectando-a a compromissos facilmente
cumpridos pela maioria das pessoas, com a espiritualidade e a comunidade,
missão da Congregação Salesiana. A ADMA foi fundada para promover a veneração
do Santíssimo Sacramento e Maria Auxiliadora. Em 1876, Dom Bosco fundou um
movimento de leigos, a Associação de Cooperadores Salesianos, com a mesma missão
educativa para os pobres. Em 1875, ele começou a publicar o Boletim Salesiano.
O Boletim permaneceu em publicação contínua e atualmente é publicado em 50 edições
diferentes e em 30 idiomas. Dom Bosco estabeleceu uma rede de organizações e
centros para continuar seu trabalho. Após sua beatificação em 1929, ele foi
canonizado como Santo na Igreja Católica Romana pelo Papa Pio XI em 1934. Sendo
Padroeiro dos jovens e dos estudantes, é Patrono da juventude.
Giovanni
Bosco nasceu na noite de 16 de agosto de 1815 no vilarejo nas colinas de
Becchi, Itália. Ele era o filho mais novo de Francesco Bosco (1784-1817) e
Margherita Occhiena. Ele tinha dois irmãos mais velhos, Antonio e Giuseppe
(1813-1862). Os Boscos de Becchi eram agricultores da Família Mogliana. João
Bosco nasceu em uma época de grande escassez e fome no interior do Piemonte,
após a devastação causada pelas guerras napoleônicas e pela seca em 1817. Quando
ele tinha pouco mais de dois anos, seu pai Francesco morreu, deixando o apoio
de três meninos para sua mãe, Margherita. Ela teve um forte papel na formação e
na personalidade de Bosco, e foi uma das primeiras defensoras dos ideais de seu
filho. Em 1825, quando tinha nove anos, Bosco teve o primeiro de uma série de
sonhos que desempenhariam um papel influente em sua perspectiva e trabalho.
Este primeiro sonho "deixou uma impressão profunda nele pelo resto da
vida", segundo suas próprias memórias. Aparentemente, Bosco viu uma
multidão de meninos muito pobres que brincavam e blasfemavam, e um homem que
"aparecia com roupas nobres, de porte masculino e imponente". O homem
disse-lhe: "Você terá que conquistar esses seus amigos não com
socos, mas com gentileza e bondade. Portanto, comece agora mesmo a mostrar-lhes
que o pecado é feio e a virtude bela". João Bosco, aos dez anos de idade, no oratório festivo,
começou a observar a atitude de seus colegas de classe e, em todas as lutas,
era o árbitro. Os meninos mais velhos tinham medo dele porque João Bosco conhecia
seus pontos fortes e fracos. Quando os artistas que viajavam se apresentaram em
um banquete local nas colinas próximas, João observou e estudou os truques dos
malabaristas e os segredos dos acrobatas. Em seguida, ele mostrava suas
habilidades como malabarista, mágico e acrobata, com orações antes e depois da
apresentação. O dinheiro que ele precisava para preparar todos os shows foi
retirado da venda dos pássaros que caçava e o dinheiro que sua mãe lhe deu
porque ela confiava nele. A pobreza impediu qualquer tentativa séria de
educação. Os primeiros anos de João foram gastos como pastor e ele recebeu sua
primeira instrução de um pároco. Pensa-se que suas experiências de infância o
inspiraram a se tornar um padre. Na época, ser padre era geralmente visto como
uma profissão para as classes privilegiadas, e não para os agricultores, embora
não fosse desconhecido. Alguns biógrafos retratam seu irmão mais velho Antonio
como o principal obstáculo para a ambição de Bosco estudar, quando o irmão
protestou que João era apenas "um agricultor como nós!"
Numa
manhã fria de fevereiro de 1827, João deixou sua casa e foi procurar emprego
como criado de fazenda. Aos 12 anos, ele achou a vida em casa insuportável por
causa das brigas contínuas com Antonio. Ter que enfrentar a vida sozinho em uma
idade tão jovem pode ter desenvolvido suas simpatias posteriores para ajudar
meninos abandonados. Depois de implorar sem sucesso pelo trabalho, Bosco acabou
na fazenda de vinhos de Louis Moglia. Embora Bosco pudesse estudar sozinho, ele
não pôde frequentar a escola por mais dois anos. Em 1830, ele conheceu José
Cafasso, um jovem padre que identificou algum talento natural e apoiou sua
primeira escola. Em 1835, Bosco entrou no seminário de Chieri, próximo à Igreja
da Immacolata Conceição. Em 1841, após seis anos de estudo, ele foi ordenado Sacerdote
na véspera do domingo da Trindade pelo Arcebispo Franzoni, de Turim.
Fez a
sua primeira comunhão em 1826. Em 1828 começou a estudar e aos dezesseis anos
passa a frequentar a escola de Castelnuovo D'Asti. Em 30 de outubro de 1835,
quando completou vinte anos, ingressou no Seminário de Chieri, sendo ordenado Sacerdote
em 5 de junho de 1841, pelo Bispo Luigi Fransoni. Após a ordenação,
transfere-se para Turim. Naquela época, a cidade de Turim tinha uma população
de 117 000 habitantes. Ele refletia os efeitos da industrialização e da
urbanização: numerosas famílias pobres viviam nas favelas da cidade, tendo
vindo do campo em busca de uma vida melhor. Ao visitar as prisões, Dom Bosco
ficou perturbado ao ver tantos meninos de 12 a 18 anos de idade. Ele estava determinado
a encontrar um meio de impedir que terminassem assim. Devido ao crescimento
populacional e à migração para a cidade, Bosco considerou os métodos
tradicionais do ministério paroquial ineficientes. Ele decidiu que era
necessário tentar outra forma de apostolado, e começou a encontrar os meninos
onde eles trabalhavam e se reuniam em lojas e mercados. Eles eram
pavimentadores, cortadores de pedra, pedreiros, rebocadores que vinham de
lugares distantes, recordou em suas breves memórias. O Oratório não era
simplesmente uma instituição de caridade e suas atividades não se limitavam aos
domingos. Para Dom Bosco, tornou-se sua ocupação permanente. Ele procurou
emprego para os desempregados. Alguns dos meninos não dormiam outros dormiam
embaixo de pontes ou em dormitórios públicos sombrios. Por duas vezes, ele
tentou fornecer acomodações em sua casa. A primeira vez que roubaram os
cobertores; no segundo em que esvaziaram o palheiro. Ele não desistiu. Em maio
de 1847, ele abrigou um menino de Valencia, em um dos três quartos que estava
alugando nas favelas de Valdocco, onde morava com a mãe. Ele e "Mamma
Margherita" começaram a acolher órfãos. Os meninos abrigados por Dom Bosco
eram 36 em 1852, 115 em 1854, 470 em 1860 e 600 em 1861, 800 é o máximo mais
tarde. Bosco e seu oratório se mudaram pela cidade por vários anos; ele foi
expulso de vários lugares em sucessão. Depois de apenas dois meses com sede na
igreja de St. Martin, todo o bairro expressou sua irritação com o barulho vindo
dos meninos brincando. Uma queixa formal foi apresentada contra eles no
município. Também circulavam boatos de que as reuniões conduzidas pelo padre
com seus filhos eram perigosas; sua recreação poderia ser transformada em uma
revolução contra o governo. O grupo foi despejado.
No contexto da revolução industrial
na Itália, havia grande contingente de jovens sem família nas grandes cidades.
Desde 1809, em Milão, a igreja católica mantinha um tipo de obra assistencial
para jovens denominada oratório, que se ocupava de lazer, educação e catequese.
O primeiro oratório de Turim foi fundado em 1841, pelo padre Giovanni Cochi.
Influenciado por essas iniciativas, Dom Bosco funda em 8 de dezembro de 1841 um
oratório em Turim, quando atende e ensina o jovem Bartolomeo Garelli na sacristia
da Igreja de São Francisco de Assis. Em 8 de dezembro de 1844, esse oratório
passa a denominar-se 'Oratório de São Francisco de Sales, sendo a primeira casa
Salesiana, e em 12 de abril de 1846 passou a ter sua sede definitiva numa
propriedade de Francisco Pinardi, no bairro turinense de Valdocco.
O
cenário político do Piemonte e em toda Itália era de caráter revolucionário,
com inúmeros conflitos entre o Estado em formação e a Igreja Católica, durante
todo o período do Risorgimento. Seus biógrafos registram sua amizade com
políticos como Camilo de Cavour e Humberto Ratazzi, pessoas influentes como a
Marquesa Barolo, a amizade direta com o Papa Pio IX e com o Papa Leão XIII.
Localmente, o Arcebispo de Turim que ordenou São João Bosco, Dom Luigi Fransoni
esteve tanto no exílio como preso, tendo recusado os últimos Sacramentos ao Ministro
Santa Rosa e por isso tendo sido repreendido pelo Rei Vítor Emanuel. Seu
sucessor, Dom Lorenzo Gastaldi, teve uma longa disputa com São João Bosco, que
resultou num processo canônico. A paz entre ambos só se fez mediante decisão de
Leão XIII. As relações com políticos italianos e com Papas, de forma muito
direta, teriam dado a João Bosco uma posição política que parecia, sobretudo ao
Bispo Gastaldi, ameaçar a ordem hierárquica da Igreja.
Bosco
pensava em organizar uma associação religiosa, contudo, o contexto político da
unificação da Itália, a disputa pela separação entre Estado e Igreja, não
estimulavam a criação de uma ordem religiosa nos moldes tradicionais. O
ministro Umberto Ratazzi lhe sugeriu organizar uma sociedade de cidadãos que se
dedicasse às atividades educativas realizadas pelos oratórios em moldes civis.
Bosco propõe a Sociedade de São Francisco de Sales, que seria vista como uma
associação de cidadãos aos olhos do Estado e como uma associação de religiosos
perante a Igreja. Após consultar o Papa Pio IX, Bosco recebeu de seus
companheiros padres, seminaristas e leigos a adesão à Sociedade de São
Francisco de Sales em 18 de dezembro de 1859 e em 14 de março de 1862, os
primeiros salesianos fizeram os votos religiosos de castidade, pobreza e
obediência. A partir de 1863, além dos oratórios, os salesianos passam a se
dedicar também aos colégios e escolas católicas para meninos e jovens. Com a
separação entre Estado e igreja, há forte demanda por escolas católicas,
fazendo com que esse tipo de instituição se dissemine rapidamente. As regras da
Sociedade, chamadas de Constituições, foram aprovadas pela igreja em 1874. Em
sua morte, em 1888, a Sociedade contava com 768 membros, com 26 casas fundadas
nas Américas e 38 na Europa.
Em 1861,
na cidade italiana de Mornese, Maria Domingas Mazzarello convida sua amiga
Petronilla para juntas organizarem uma oficina de costura para meninas. Em 1863
a oficina começa a acolher meninas órfãs. O seu trabalho é supervisionado pelo
Padre Domingos Pestarino, que havia se associado aos Salesianos. Com o auxílio
de Pestarino, Bosco propõe às jovens que se organizem como uma congregação religiosa,
com o nome de Filhas de Maria Auxiliadora e em 5 de agosto de 1872 as primeiras
salesianas fazem seus votos. Maria Mazzarello foi a primeira superiora da
congregação.
De
início, a proposta da Sociedade de São Francisco de Sales incluía, padres,
irmãos e leigos externos, porém essa forma de organização não foi aprovada pela
igreja católica, que queria apenas padres e irmãos, como nas demais
congregações. Sendo assim, Bosco propôs a associação leiga dos Salesianos
Cooperadores, que foi aprovada em 1876 pelo Papa Pio IX. O objetivo era o mesmo
da Sociedade de São Francisco de Sales, a saber: o trabalho educativo e
catequético junto aos meninos e aos jovens. Em sua forma de associação,
tornou-se uma sociedade mista, com homens e mulheres leigos.
Sonhos proféticos de João Bosco
Há
controvérsia se seriam sonhos, visões ou premonições. O próprio São João Bosco
parece que não sabia muito bem como lidar com esses eventos. Por fim, decidiu
dar-lhes atenção, pois muitas vezes eram sonhos de caráter premonitório, que o
avisavam sobre a morte iminente de algum aluno ou salesiano. Era seu costume
contar o sonho a seu confessor ou diretor espiritual antes de contá-lo aos
demais. Com relação aos sonhos de São João Bosco, o (beato) Papa Pio IX,
ordenou-lhe que consignasse tudo por escrito, em seu sentido literal e de forma
detalhada, para maior estímulo dos filhos da Congregação Salesiana.
A
biografia de João Bosco elenca inúmeros sonhos, desde o primeiro, ainda na
infância, quando se vê brigando com outros meninos e um homem – de acordo com
os símbolos do sonho, Jesus Cristo — se aproxima e lhe diz para educar não com
pancadas, mas com mansidão e caridade.
Bosco
morreu em 31 de janeiro de 1888. Seu funeral foi assistido por milhares de
pessoas. Logo depois, houve uma demanda popular para que ele fosse canonizado.
A Arquidiocese de Turim investigou e testemunhas foram chamadas para determinar
se Bosco era digno de ser declarado Santo. Os Salesianos, Filhas e Cooperadores
deram testemunhos de apoio. Mas muitos se lembraram das controvérsias de Bosco
na década de 1870 com o Arcebispo Gastaldi e alguns outros da hierarquia da
Igreja que o consideravam um canhão solto e um "negociante de rodas".
No processo de canonização, ouviram-se testemunhos de como ele percorreu
Gastaldi para ordenar alguns de seus homens e sobre a falta de preparação
acadêmica e decoro Eclesiástico. Desenhos políticos a partir da década de 1860
e depois o mostrou sacudindo dinheiro dos bolsos de velhinhas ou indo para a
América com o mesmo objetivo. Esses desenhos não foram esquecidos. Os opositores
de Bosco, incluindo alguns Cardeais, estavam em posição de bloquear sua
canonização. Por volta de 1925, muitos salesianos temiam que tivessem sucesso. O
Papa Pio XI conhecia Dom Bosco e impulsionou a causa. Pio XI beatificou Bosco
em 2 de junho de 1929 num domingo de Páscoa (1 de abril) de 1934, quando
recebeu o título de "Pai e Mestre da Juventude". Seu corpo permanece
incorrupto desde o dia de sua morte, exatamente igual quando morreu em 1888.
Este é um milagre do Céu, testificando seu Santo na terra.
Tendo
participado do período do Risorgimento e se relacionado com seus atores
principais, Dom Bosco acabou por participar, indiretamente, da resolução do
último aspecto que aquele movimento deixou em aberto para o século XX: a
Questão Romana. O momento da beatificação de Dom Bosco (1929) coincide com a
Concordata de São João de Latrão, celebrada entre Benito Mussolini e o Cardeal
Pietro Gasparri, com a aprovação do Papa Pio XI. A coincidência não é gratuita,
mas representa naquele momento, uma expressão de nacionalismo italiano, com
Mussolini, que estudara um ano no colégio salesiano de Faenza, elogiando Dom
Bosco e com Pio XI pondo fim ao poder temporal da Igreja, permitindo a final
unificação da Itália e considerando Mussolini um "homem da
Providência". Na canonização de Dom Bosco em (1934) o contexto será bem
outro. Descontente com os rumos do fascismo e do nazismo, Pio XI escreverá duas
encíclicas, uma em alemão e outra em italiano, condenando ambas as ideologias. O
uso político da popularidade e italianidade de Dom Bosco e dos salesianos é
recorrente na Itália. Em 2005, o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi
visitou o Instituto Salesiano Santo Ambrósio, em Milão, onde foi aluno, para
recordar que aprendera com Dom Bosco que "é preciso estar de acordo com
todos".
No fundo
da Basílica de Maria Auxiliadora em Turim, procurada por Dom Bosco, está a
pintura que representa o famoso "Sonho das duas colunas", considerado
profético sobre o futuro da Igreja. O sonho, contado pelo futuro Santo na noite
de 30 de maio de 1862, descreve uma terrível batalha no mar, desencadeada por
uma multidão de barcos contra um único navio grande, que simbolizaria a Igreja
Católica. O navio, atingido repetidamente, é liderado pelo Papa para ancorar,
seguro e vitorioso, entre duas colunas altas que emergiram do mar. Este último
representaria o primeiro, a Eucaristia, simbolizada por um grande anfitrião com
a palavra "Salus credentium", o segundo Maria, simbolizada por uma
estátua da Imaculada com a inscrição "Auxilium Christianorum". Na
noite de 13 de setembro de 1953, o abençoado Cardeal Schuster, então Arcebispo
de Milão, que estava em Turim como o Legado Papal no Congresso Eucarístico
Nacional, dedicou uma parte significativa de sua homilia a esse sonho durante o
solene fechamento Pontifício.
Para os
propósitos da beatificação, a Igreja Católica considera um milagre necessário:
no caso de Dom Bosco, ele considerou curas milagrosas de Teresa Callegari e
Provina Negro. Em Castel San Giovanni, na província de Piacenza, Teresa
Callegari, de 23 anos, em novembro de 1918, adoeceu com pneumonia de origem
gripal. Hospitalizada, ela se recuperou de uma pneumonia, mas, durante sua
convalescença, adoeceu com poliartrite infecciosa rebelde a cada tratamento. A
patologia tornou-se crônica e, em 1921, também devido a complicações, a mulher
não podia mais comer e os médicos se desesperavam em salvá-la. A conselho de um
amigo, ele iniciou uma novena a Dom Bosco, repetida em julho do mesmo ano. Em
16 de julho, oitavo dia da novena, a situação se deteriorou ainda mais e
pensou-se que a jovem estava prestes a morrer. Este último, no entanto, às 4 da
manhã do dia 17, como relatou mais tarde, teria visto Dom Bosco avançando em
direção à sua cama de hospital, ordenando que ela se levantasse: saiu da cama
sem sentir nenhum desconforto e, ao ver a imagem do padre, ela correu gritando
para os outros pacientes incrédulos No dia seguinte, os médicos, incluindo o
Dr. Miotto, verificaram a recuperação, que foi confirmada durante o processo
apostólico também pelos médicos Ghisolfi e Fermi e, posteriormente, pelos
médicos Chiays, Sympa e Stampa. O processo de beatificação durou até 1929, ano
em que, em 19 de março, a Igreja declarou milagrosa que a cura, instantânea,
completa e definitiva, não parecesse cientificamente explicável. Nesta ocasião,
a cura da irmã Provina Negro, pertencente à congregação das Filhas de Maria Auxiliadora,
também foi declarada um milagre: sua súbita recuperação de uma forma grave de
úlcera estomacal foi examinada paralelamente à de Teresa Callegari e atribuída
à intercessão de Dom Bosco.
Visão do Inferno
segundo Dom Bosco
O inferno
é um lugar destinado pela justiça divina para punir com suplícios eternos os
que morrem em pecado mortal. A primeira pena que os condenados sofrem no
inferno é a pena dos sentidos, que são atormentados por um fogo que queima
horrivelmente, sem nunca diminuir de intensidade. Fogo nos olhos, fogo na boca,
fogo em todas as partes. Cada sentido sofre a própria pena.
Os olhos: Sofrem pela fumaça e pelas trevas e são aterrados
pela vista dos demônios e dos outros condenados.
Os ouvidos: Dia e noite, só escutam contínuos uivos, prantos
e blasfêmias.
O olfato: Sofre enormemente pelo mau cheiro daquele enxofre e
pez ardente que o sufoca.
A boca: É atormentada
por sede devoradora e fome canina: "Et Famem patiéntur ut canes".
O mau rico no meio daqueles
tormentos, ergueu o olhar ao Céu e pediu, como grande graça, uma pequena gota
de água para mitigar a secura de sua língua e até essa gota de água Ihe foi
negada. Por isso, aqueles infelizes, atormentados pelo fogo, choram, gritam e
se desesperam. Oh! inferno, inferno! Como são infelizes os que caem nos teus
abismos! - E tu que dizes, meu filho? Se agora não podes conservar um dedo
sobre a pequena chama de uma vela, se não podes aguentar nem uma fagulha de
fogo na mão sem gritar, como poderás agüentar-te então entre aquelas chamas por
toda a eternidade?
A
Segunda Pena é a Pena nas potências da alma. Considera além disso, meu filho, o
remorso que experimenta a consciência dos condenados. Eles padecerão um inferno
na memória, na inteligência, na vontade.
MEMÓRIA: Recordarão continuamente ó motivo da sua perdição,
isto é, por terem querido, secundar alguma paixão. Esta lembrança é o verme que
nunca morre: Vermis eórum non móritur. Recordarão o tempo que Deus Ihes deu
para evitar a perdição, os bons exemplos dos companheiros, os propósitos feitos
e não cumpridos. Pensarão nos sermões ouvidos, nos avisos do confessor, nas
boas inspirações para deixar o pecado; vendo que já não há remédio, lançarão
gritos desesperados.
INTELIGÊNCIA: A inteligência conhecerá finalmente o grande
bem que perdeu. A alma separada do corpo, ao apresentar-se no tribunal Divino,
entrevê a beleza de Deus, conhece toda a sua bondade, chega quase a contemplar
por um instante os cantos harmoniosíssimos dos Anjos e dos Santos. Que dor
verificar que perdeu tudo isso para sempre! Quem poderá resistir a tais
tormentos?
VONTADE: A vontade nada terá do que deseja, e ao contrário
padecerá todos os males. Meu Filho, Tu que agora não te importas de perder o
teu Deus e o Paraíso conheceras tua cegueira quando vires; tantos companheiros
teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu triunfarem e gozarem no reino dos
Céus, ao passo que tu serás arrojado para longe daquela pátria feliz, do gozo
do mesmo Deus, da companhia da Santíssima Virgem e dos Santos. Eia pois, faz
penitencia, não esperes para quando não houver mais tempo: entrega-te a Deus.
Quem sabe se não é este o último chamado, e se não correspondes, quem sabe se
Deus não te abandona e não te deixa cair naqueles eternos suplícios! Oh! Meus
Jesus, livrai-me do inferno: A Poenis inférni libera me, Domine. Dom Bosco teve
outro sonho no qual era conduzido por um Anjo ao inferno. Assustado viu a
condenação de varios alunos do seu oratório. Neste sonho existe uma verdadeira
catequese sobre a condenação de uma alma.
256
. 2 - Aparição de Nossa Senhora de La Salete - França
Um
menino de nome Maximin Giraud, de onze anos, e Mélanie Calvat, de quinze,
estavam cuidando do gado. Mélanie estava acostumada e treinada nesse tipo de
trabalho desde os nove anos, mas tudo era novo para Maximin. Seu pai lhe havia
pedido que fosse fazer esse serviço como ato generoso, para cooperar com o
amigo que estava com o pastor adoentado.
Relata Mélanie:
No dia 18 de setembro de 1846, véspera da Aparição da Santíssima Virgem, eu
estava sozinha, como sempre, cuidando do gado do meu patrão; por volta de onze
horas vi um menino que se aproximava. Por um momento tive medo, pois achava que
todos deviam saber que eu evitava todo tipo de companhia. O menino se aproximou
e me disse: "Ei menina, vou contigo, sou de Corps". A estas palavras
minha malícia natural se mostrou e lhe disse: "Não quero ninguém perto de
mim. Quero ficar sozinha". Mas ele, seguindo-me, disse: "Meu patrão
me enviou aqui para que cuide do gado contigo. Venho de Corps". Afastei-me
dele, agastada, dando-lhe a entender que não queria ninguém por perto. Quando
estava a certa distância, sentei-me na grama. Normalmente, dessa forma
conversava com as florzinhas ou ao Bom Deus. Depois de um momento, atrás de mim
estava Maximin sentado e diretamente me disse: "Deixa-me ficar contigo, me
comportarei muito bem". Embora contra minha vontade e sentindo-me
incomodada por Maximin, permiti que ficasse. Ao ouvir os sinos de la Salette
para o Ângelus, disse-lhe para elevar sua alma a Deus. Ele tirou o chapéu e se
manteve em silêncio por um momento. Logo comemos e brincamos juntos. Quando
caiu a tarde descemos a montanha e prometemos voltar ao dia seguinte para levar
o gado novamente. No dia seguinte, sábado, 19 de setembro de 1846, o dia estava
muito quente e os dois jovenzinhos concordaram em comer seu almoço em um lugar
sombreado. Contrariamente a seu costume, eles se estendem sobre a relva... e
adormecem. O tempo passa! Mélanie foi a primeira a despertar: "Maximin,
Maximin, vem depressa, vamos ver nossas vacas... Não sei onde andam!". Rapidamente
sobem a ladeira. Voltando-se, têm diante de si toda a pradaria: as vacas lá
estão ruminando calmamente. Os dois pastores se tranquilizam. Mélanie começa a
descer. A meio caminho se detém imóvel e pergunta a Maximino se não vê o que
ela estava vendo:
"Maximin, olha lá, aquele clarão!".
Maximin corre gritando:
"Onde? Onde?"
Mélanie estende o dedo para o fundo do vale onde haviam
dormido. O clarão se mexia e se agitava, como dividindo-se ao meio.
"Oh, meu Deus!", exclamou Mélanie, deixando cair o
cajado.
Algo fantasticamente inconcebível a inundava nesse momento e
ela se sentiu atraída, com profundo respeito, cheia de amor e o coração batendo
mais rapidamente. Viram uma Senhora sentada em uma enorme pedra. Tinha o rosto
entre as mãos e chorava amargamente. Mélanie e Maximino estavam com medo e não
se mexiam.
A Senhora, pondo-se lentamente de pé e cruzando suavemente
seus braços, lhes chamou:
- Vinde, meus filhos, não tenhais
medo, aqui estou para vos contar uma grande novidade!
Então,
as crianças foram até a Bela Senhora. Ela não parava de chorar. "Achávamos
que era uma mamãe cujos filhos a tivessem espancado e que se teria refugiado na
montanha para chorar". A Senhora era alta e toda de luz. Vestia-se como as
mulheres da região: vestido longo, um grande avental, lenço cruzado e amarrado
as costas, touca de camponesa. Rosas coroando sua cabeça, ladeando o lenço e
ornando seu calçado. Em sua fronte a luz brilhava como um diadema. Em seus
olhos havia lágrimas que rolavam pelas faces. Sobre os ombros carregava uma
pesada corrente. Uma corrente mais leve prendia sobre o peito um crucifixo
resplandecente, com um martelo de um lado, e de outro uma torquês.
Ela
disse: -
Se meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar cair o braço de meu
Filho. É tão forte e tão pesado que não o posso mais suster. Há quanto tempo
sofro por vós! Dei-vos seis dias para trabalhar, reservei-me o sétimo, e não mo
querem conceder! É isso que torna tão pesado o braço de meu Filho. E também os
carroceiros não sabem jurar sem usar o Nome de meu Filho. São essas as duas
coisas que tornam tão pesado o braço de meu Filho. Se a colheita se estraga, e
só por vossa causa. Eu vo-lo mostrei no ano passado com as batatinhas: e vós
nem fizestes caso! Ao contrário, quando encontráveis batatinhas estragadas,
juráveis usando o Nome de meu Filho. Elas continuarão assim, e neste ano, para
o Natal, não haverá mais.
A
palavra "batatinhas" (em francês: 'pommes de terre'), deixa Mélanie
intrigada. No dialeto da região, se diz "la truffa". E a palavra
'pommes' lembra-lhe o fruto da macieira. Ela se volta então para Maximino, para
lhe pedir uma explicação. A Senhora, porém adianta-se dizendo:
- Não compreendeis, meus filhos?
Vou dizê-lo de outro modo.
Retomando pois, as últimas frases no dialeto de Corps
('patois'), língua falada correntemente por Maximino e Mélanie, a Senhora
prossegue sempre no dialeto:
- Se tiverdes trigo, não se deve
semeá-lo. Todo o que semeardes será devorado pelos insetos, e o que produzir se
transformará em pó ao ser malhado. Virá grande fome. Antes que a fome chegue,
as crianças menores de sete anos serão acometidas de trevor e morrerão entre as
mãos das pessoas que as carregarem. Os outros farão penitência pela fome. As
nozes caruncharão, as uvas apodrecerão.
De
repente, a Senhora continuou a falar, mas somente Maximin a entendia. Mélanie
percebia seus lábios se moverem, mas nada entendia. Alguns instantes depois,
Mélanie por sua vez, pode ouvir, enquanto Maximin, que nada mais entende, faz
girar o chapéu na ponta do cajado ou, com a outra, brinca com pedrinhas no
chão. "Mas nenhuma sequer tocou os pés da Bela Senhora!",
excusar-se-ia alguns dias mais tarde. "Ela me disse alguma coisa ao me
dizer:
“Tu não dirás nem isso”. Depois,
não compreendia mais nada, e durante esse tempo, eu brincava.
Assim a Bela Senhora falou em segredo a Maximin e depois a
Mélanie. E novamente, os dois em conjunto ouviram as seguintes palavras:
- Se se converterem, as pedras e
rochedos se transformarão em montões de trigo, e as batatinhas serão semeadas
nos roçados. Fazeis bem vossa oração, meus filhos?
- "Não muito, Senhora".
- Ah! Meus filhos, é preciso
fazê-la bem, à noite e de manhã, dizendo ao menos um Pai Nosso e uma Ave Maria
quando não puderdes rezar mais. Quando puderdes rezar mais, dizei mais. Durante
o verão, só algumas mulheres mais idosas vão à Missa. Os outros trabalham no
domingo, durante todo o verão. Durante o inverno, quanto não sabem o que fazer,
vão à Missa zombar da religião. Durante a Quaresma vão ao açougue como cães. Nunca
vistes trigo estragado, meus filhos?
- "Não Senhora".
- Mas tu, meu filho, tu deves
tê-lo visto uma vez, perto de Coins, com teu pai. O dono da roça disse a teu
pai que fosse ver seu trigo estragado. Ambos fostes até lá. Ele tomou duas ou
três espigas entre as mãos, esfregou-as e tudo caiu em pó. Ao voltardes, quando
estaveis a meia hora de Corps, teu pai te deu um pedaço de pão dizendo-te:
"Toma, meu filho, come pão neste ano ainda, pois não sei quem dele comerá
no ano próximo, se o trigo continuar assim".
Maximin respondeu: - "É verdade, Senhora, agora lembro.
Há pouco não lembrava mais".
E a Bela Senhora concluiu, não mais em dialeto 'patois', e
sim em francês:
- Pois bem, meus filhos,
transmitireis isso a todo o meu povo.
Então
ela seguiu até o lugar em que haviam subido para ver onde estavam as vacas.
Seus pés deslizavam, tocando apenas a ponta da grama, sem dobrá-la. Na colina,
a Bela Senhora se deteve. Mélanie e Maximin correram até ela para ver onde ia.
A Senhora se eleva rapidamente, permanecendo por uns minutos a alguns metros de
altura (3 ou 5 m). Olhou para o céu, olhou à sua direita (na direção de Roma?),
à sua esquerda (na direção da França?), olhou para os dois meninos, e se
confundiu com o globo de luz que a envolvia. Este então subiu até desaparecer
no firmamento. Um segredo importante foi dado pela Virgem a Mélanie, para revelá-lo
anos mais tarde. Maximin assegurou que a Virgem disse algo a Mélanie, que ele
não ouviu. Esse segredo, no entanto, não está incluído na aprovação dada pela
Igreja à aparição, pois foi divulgado posteriormente. O segredo somente foi
publicado em sua totalidade em uma brochura, em Lecce, no ano de 1879. Ao Papa
da época, Pio IX, o texto do segredo foi entregue em 18 de julho 1851. Esta redação
mais extensa, feita por Mélanie em 21 de novembro de 1878, considerada
definitiva pela vidente.
Diz
Maria Santíssima: - Mélanie, o que eu te vou dizer agora não será um
segredo para sempre. Tu podes publicá-lo em 1858.
Os Sacerdotes, ministros de meu
Filho, por causa da sua vida má, pelas suas irreverências e pela sua impiedade
ao celebrar os Santos mistérios, pelo amor ao dinheiro, o amor às honras e aos prazeres,
os Sacerdotes converteram-se em cloacas de impureza. Sim, os Sacerdotes
provocam a vingança e a vingança pende sobre suas cabeças. Ai dos Sacerdotes e
pessoas consagradas a Deus que pelas suas infidelidades e más vidas crucificam
meu Filho de novo! Os pecados das pessoas consagradas a Deus clamam ao Céu e
atraem vingança, e eis que a vingança está às suas portas, porque já não se
encontra ninguém para implorar misericórdia e perdão para o povo. Já não há
almas generosas, já não há ninguém digno de oferecer a Vítima sem mancha ao
Eterno, pelo mundo. Deus vai castigar de uma maneira sem precedentes. Ai dos
habitantes da Terra! Deus vai esgotar a sua cólera e ninguém poderá fugir a
tantos males juntos. Os chefes, os condutores do povo de Deus, descuraram a
oração e a penitência, e o demônio obscureceu as suas inteligências.
Tornaram-se naquelas estrelas errantes, que a antiga Serpente arrastará com a
sua cauda para os fazer perecer. Deus permitirá que a antiga Serpente ponha
divisões entre os soberanos, em todas as sociedades e em todas as famílias,
sofrerá penas físicas e morais. Deus abandonará os homens a si mesmos e enviará
castigos que se hão de suceder durante mais de trinta e cinco anos. A sociedade
está às vésperas das mais terríveis calamidades e dos mais graves
acontecimentos. Deverá esperar vir a ser governada com vara de ferro e beber o
cálice da cólera de Deus.
Que o Vigário de meu Filho, o Sumo
Pontífice Pio IX, não saia de Roma depois de 1859; mas que seja firme e
generoso, que combata com as armas da fé e do amor. Eu estarei com ele. Que
desconfie de Napoleão (Napoleão
III):
o seu coração é falso, e quando ele ser, ao mesmo tempo, Papa e Imperador, Deus
se retirará dele. Ele é aquela águia que, querendo sempre subir mais alto,
cairá sobre a espada de que se queria servir para obrigar os povos à submissão.
A Itália será castigada pela sua ambição, por querer sacudir o jugo do Senhor
dos Senhores; também ela será entregue à guerra. O sangue correrá por todos os
lados; as igrejas serão fechadas ou profanadas; os Sacerdotes e religiosos
serão perseguidos; irão fazê-los morrer, e morrer de morte cruel. Muitos abandonarão
a fé, e o número de Sacerdotes e religiosos que apostatarão da religião
verdadeira será grande; entre estes haverá até mesmo Bispos. Que o Papa se
acautele contra os fazedores de milagres, porque chegou o tempo em que se hão
de operar os mais espantosos prodígios na terra e no ar. No ano de 1864, serão
libertados do Inferno Lúcifer com um grande número de demônios; eles abolirão a
fé pouco a pouco, mesmo nas pessoas consagradas a Deus. Irão cegá-las de tal
forma que, salvo se elas forem abençoadas por uma graça especial, essas pessoas
assimilarão o espírito desses anjos maus. Muitas casas religiosas perderão
completamente a fé e muitas almas se irão perder. Os livros maus abundarão na
Terra e os espíritos das trevas espalharão, por toda a parte, um relaxamento
universal por tudo o que seja serviço de Deus; e terão um enorme poder sobre a
natureza. Haverá igrejas dedicadas ao culto desses espíritos. Certas pessoas
serão transportadas de um a outro lugar por esses maus espíritos, e até Sacerdotes,
porque eles não serão conduzidos pelo bom espírito do Evangelho, que é um
espírito de humildade, de caridade e de zelo pela glória de Deus. Em algumas
ocasiões, os mortos e os justos serão trazidos de volta à vida, isto é, esses
mortos tomarão a aparência das almas justas que viveram na Terra, para melhor
seduzir os homens. Esses ditos mortos ressuscitados não serão mais do que o
demônio sob as suas figuras, e pregarão outro evangelho, contrário ao do
verdadeiro Jesus Cristo, negando quer a existência do Céu, quer ainda a
existência das almas dos condenados. Todas essas almas aparecerão como que
unidas aos seus corpos. E serão vistos, por toda a parte, prodígios
extraordinários, porque a fé verdadeira se extinguiu e a falsa luz ilumina o
mundo. Ai dos Príncipes da Igreja que se tenham apenas dedicado a acumular
riquezas e salvaguardar a sua autoridade, e a dominar com orgulho! O Vigário do
meu Filho terá muito que sofrer, porque por um tempo a Igreja será entregue a
grandes perseguições, será o tempo das trevas. A Igreja terá uma crise medonha.
Esquecida a Santa fé de Deus, cada indivíduo quererá governar-se por si mesmo e
ser superior aos seus semelhantes. Serão abolidos os poderes civis e Eclesiásticos,
toda a ordem e justiça serão calcadas aos pés. Só se verão homicídios, ódios,
inveja, mentira e discórdia, sem amor pela pátria e pela família. O Santo Padre
sofrerá muito. Estarei com ele, até o fim, para receber o seu sacrifício. Os
malvados atentarão muitas vezes contra a sua vida, sem poder pôr fim aos seus
dias; nem ele, porém, nem o seu sucessor verão o triunfo da Igreja de Deus.
Todos os governantes civis terão o
mesmo plano, que será o de abolir e fazer desaparecer todo o princípio
religioso, para dar lugar ao materialismo, ao ateísmo, ao espiritismo e a toda
espécie de vícios. No ano de 1865, será vista a abominação nos lugares santos.
Nos conventos, as flores da Igreja estarão putrefatas, e o demônio se
converterá no rei dos corações. Que os que estão à frente das comunidades
religiosas vigiem as pessoas que irão receber, porque o demônio usará de toda a
sua malícia para introduzir nas ordens religiosas pessoas dadas ao pecado, pois
as desordens e o amor aos prazeres da carne estarão espalhados por toda a
Terra. A França, a Itália, a Espanha e a Inglaterra estarão em guerra; o sangue
correrá pelas ruas; o francês lutará contra o francês, o italiano contra o
italiano, e depois haverá uma guerra geral, que será medonha. Por um tempo,
Deus irá esquecer-se da França e da Itália, porque o Evangelho de Jesus Cristo
já não é conhecido. Os malvados desenvolverão toda a sua malícia; os homens
irão matar-se e assassinar-se, até dentro das casas. Ao primeiro golpe da sua
espada fulminante, as montanhas e a natureza inteira estremecerão de espanto,
porque as desordens e os crimes dos homens traspassam a abóbada do Céu. Paris
será queimada e Marselha engolida. Várias grandes cidades serão abaladas e
soterradas por terremotos. As pessoas acreditarão que tudo estará perdido. Não se
verá mais do que homicídios, não se ouvirá senão os ruídos das armas e
blasfêmias. Os justos sofrerão muito; as suas orações, a sua penitência e as
suas lágrimas subirão ao Céu e todo o povo de Deus pedirá perdão e
misericórdia, e implorará a minha ajuda e intercessão. Então, Jesus Cristo, por
um ato da sua Justiça e da sua Misericórdia para com os justos, mandará os seus
anjos dar morte e todos os seus inimigos. Num abrir e fechar de olhos, os
perseguidos da Igreja de Jesus Cristo e todos os homens escravos do pecado
perecerão, e a Terra ficará como um deserto. Então, será feita a paz, a
reconciliação de Deus com os homens. Jesus Cristo será servido, adorado e
glorificado. A caridade florescerá por toda a parte. Os novos reis serão o
braço direito da Santa Igreja, que será forte, humilde e piedosa, pobre, zelosa
e imitadora das virtudes de Jesus Cristo. O Evangelho será pregado por toda a
parte e os homens farão grandes progressos na fé, porque haverá unidade entre
os obreiros de Jesus Cristo e porque os homens viverão no temor de Deus. Essa
paz entre os homens não será longa - 25 anos de abundantes colheitas farão
esquecer que os pecados dos homens são a causa de todos os males que sucedem à
Terra. Um precursor do Anticristo, com um exército composto de muitas nações,
combaterá o verdadeiro Cristo, o único Salvador do mundo; derramará muito
sangue e pretenderá aniquilar o culto de Deus, para que se considere a ele como
Deus. A Terra será castigada com toda a espécie de pragas, além da peste e da
fome, que serão gerais; haverá guerras, até à última, que será feita, então,
pelos dez reis aliados do Anticristo, que terão, todos, o mesmo desígnio, e
serão os únicos a governar o mundo. Antes que isso aconteça, haverá no mundo
uma espécie de falsa paz. Não se pensará senão em divertimentos. Os malvados se
irão entregar a todo o gênero de pecados. Porém, os filhos da Santa Igreja, os
filhos da fé, os meus verdadeiros imitadores, crescerão no amor de Deus e nas
virtudes que me são mais queridas. Ditosas as almas humildes, dirigidas pelo
Espírito Santo! Eu combaterei com elas, até chegarem à plenitude dos tempos. A
natureza clama por vingança contra os homens e treme de medo à espera do que
deve acontecer à Terra, empapada de crimes. Tremei, ó Terra, e vós que fazeis
profissão de servir a Jesus Cristo e que, dentro de vós, adorai-vos a vós
mesmos. Tremei, porque Deus vos vai entregar ao seu inimigo, porque os lugares
Santos estão na corrupção; muitos conventos já não são casas de Deus, mas
pastos de Asmodeu e dos seus.
Será durante este tempo que nascerá
o Anticristo, de uma religiosa hebraica, de uma falsa virgem, que terá
comunicação com a antiga Serpente, o mestre da impureza. O seu pai será bispo.
Em seu nascimento, vomitará blasfêmias, terá dentes; numa palavra, será uma
encarnação do Diabo. Soltará gritos medonhos, fará prodígios e só se alimentará
de impurezas. Terá irmãos que, embora não sendo como ele diabos incarnados,
serão filhos do mal. Aos doze anos, chamarão atenção sobre si mesmos pelas
rudes vitórias que alcançarão. Bem depressa, irão colocar-se à frente de
grandes exércitos, assistidos por legiões do Inferno.
As estações mudarão. A Terra
somente produzirá frutos maus. Os astros perderão os seus movimentos regulares.
A Lua só refletirá uma débil luz avermelhada. A água e o fogo imprimirão ao
globo terrestre movimentos convulsivos e horríveis terremotos, que tragarão
montanhas e cidades inteiras. Roma perderá a fé e se converterá na sede do
Anticristo.
Os demônios do ar, junto com o
Anticristo, farão grandes prodígios na terra e nos ares, e os homens se irão
perverter cada vez mais. Deus cuidará dos seus fiéis servidores e dos homens de
boa vontade. O Evangelho será pregado por toda a parte e todos os povos e todas
as nações conhecerão a verdade! Eu dirijo um urgente apelo à Terra: chamo os
verdadeiros discípulos do Deus Vivo, que reina nos céus; chamo os verdadeiros
imitadores de Cristo feito homem - o único e verdadeiro Salvador dos homens;
chamo os meus filhos, os meus verdadeiros devotos, os que se deram a mim, para
que eu os conduza ao meu Divino Filho - aqueles que eu levo, por assim dizer,
nos meus braços; chamo os que viveram do meu espírito; chamo, enfim, os
Apóstolos dos Últimos Tempos, os fiéis discípulos de Jesus Cristo, que viveram
no desprezo do mundo e de si próprios, na pobreza e na humildade, no desprezo e
no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no
sofrimento, e desconhecidos do mundo. Já é hora de saírem e virem iluminar a
Terra. Ide e mostrai-vos como meus filhos queridos. Estou convosco e em vós,
desde que a vossa fé seja a luz que vos ilumine nesses dias de infortúnio. Que
o vosso zelo vos torne como que famintos da glória e da honra de Jesus Cristo.
Combatei, filhos da luz, vós, pequeno número que ainda tendes vista; porque
chegou o tempo dos tempos, o fim dos fins. A Igreja será eclipsada, o mundo
estará em aflição. Porque, eis que chegam Enoque e Elias, cheios do Espírito de
Deus; eles pregarão com a força de Deus, e os homens de boa vontade acreditarão
em Deus, e muitas almas serão consoladas. Farão grandes progressos pela virtude
do Espírito Santo e condenarão os erros diabólicos do Anticristo.
Ai dos habitantes da Terra! Virão
guerras sangrentas e fome, pestes e enfermidades; chuvas de uma terrível
saraivada de animais, que abalarão cidades, terremotos que engolirão países;
vozes serão ouvidas no ar; os homens baterão com a cabeça nos muros, pedirão a
morte e, por outro lado, a morte será o seu suplício. O sangue correrá por toda
a parte. Quem poderá vencer se Deus não diminuir o tempo da prova? Pelo sangue,
as lágrimas e as orações dos justos, Deus se deixará aplacar. Enoque e Elias
serão martirizados. Roma, pagã, desaparecerá. Cairá fogo do céu e consumirá
três cidades. Todo o universo será presa de terror e muitos se deixarão
seduzir, porque não adoraram o verdadeiro Cristo, que vivia entre eles.
Chegou o tempo; o sol está
escurecendo; só a fé sobreviverá. Eis o tempo; abre-se o abismo. Eis o rei dos
reis das trevas. Eis a Besta com os seus súditos, dizendo-se o salvador do
mundo. Irá elevar-se com soberba, pelos ares, para subir até o Céu; será
precipitado pelo sopro de São Miguel Arcanjo. Cairá, e a Terra, que há três
dias encontrava-se em contínuas evoluções, abrirá o seu seio, cheio de fogo, e
ele será precipitado, para sempre, com todos os seus, nos abismos eternos do
Inferno. Então, a água e o fogo purificarão a Terra e consumirão todas as obras
do orgulho dos homens, e tudo será renovado, Deus será servido e glorificado.
Maximin
teve seu calvário com perseguições de alguns prelados da própria Igreja, e na
miséria entregou sua alma a Deus, na sua cidade natal de Corps, em primeiro de
março de 1875, aos 39 anos de idade. Um exemplo de vida moral íntegra, uma
indomável determinação em fazer a vontade de Nossa Senhora, acima da vontade
dos homens. Seu coração foi depositado na Basílica de La Salete, e seu corpo no
pequeno cemitério de Corps. Já Mélanie, assim como Maximin, foi aconselhada
erroneamente por diversos religiosos da Igreja a silenciar-se a respeito das
profecias recebidas por Maria. Foi até ameaçada de excomunhão por um Bispo
adversário de La Salete, caluniando-a perante todos com mentiras. Faleceu em
Altamura província de Bari, Itália, sozinha num quarto, com 72 anos de idade.
Os vizinhos ouviram naquela noite um cântico angélico que ecoava em seu
apartamento.
256
. 3 - Aparições de Nossa Senhora em Lichen
Em 1850,
ao aparecer a um humilde pastor de ovelhas, Mikolay Sikatka, morador de Lichen,
a Santíssima Virgem pediu que ele divulga-se a todas as pessoas a Sua vontade: "Junto
com a meditação a respeito da Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo,
deveria ser rezado o Rosário."
Essa
aparição aconteceu quando o filho devoto rezava em frente a um quadro da Virgem
Santíssima, existente em uma capela de um bosque, na cidade polonesa. Na
Aparição seguinte nossa Mãe não só insistiu para que fosse celebrada com amor e
devoção, deixando orientações e recomendações para os padres, através de uma
mensagem. Ao manifestar-se pela terceira vez, a Mãe de Deus alertou para uma epidemia
que ocorreria em breve. Também falou de uma guerra que aniquilaria milhões de
pessoas. Imaginamos que Nossa Senhora estava profetizando a 1ª grande guerra
mundial que seria deflagrada após 64 anos.
Falou
ainda sobre o país, Polônia, e seu futuro, dizendo: “Os povos
do mundo se maravilharão quando a sua esperança da paz depender da Polônia”. Como portador de tão importantes
mensagens, o pastor Mikolay sentiu-se no dever de levar ao conhecimento das
autoridades tendo o que tinha acontecido com ele. Ninguém acreditou, e ainda
foi preso e espancado. O tempo passou, mas a Rainha do Céu e da terra não se
engana, veio então uma grande epidemia de cólera que reviveu na memória de
alguns a mensagem do humilde e simples homem do campo que tinha sido rejeitado.
Enfim todas creram que as Aparições e as mensagens tinham sido de Nossa
Senhora. Em 1897 quando foi feita a exumação do corpo de Mikolay Sikatka, uma
grande surpresa, pois seu cadáver estava perfeito, incorruptível. A Igreja
Matriz de Lichen recebeu a entronização da tela de Nossa Senhora, onde Mikolay
rezava quando das Aparições, em 1852, conduzido por aproximadamente cem mil
fiéis. O grande Cardeal Wyazinsky, polonês, quando jovem foi milagrosamente
curado, quando rezava em frente a tela da Virgem de Lichen. Depois de
construído o Santuário, já em 15 de setembro de 1967, o mesmo Cardeal,
acompanhado por mais de cinqüenta mil devotos, entronizou o agraciado quadro da
Mãe de Deus, na sua casa em Lichen.
256
. 4 - Aparição de Nossa Senhora em Lurdes – França
Lourdes
é uma pequena cidade localizada no sudoeste da França, nos montes Pireneus,
pertencente à diocese de Tarbes; um dos Santuários marianos mais frequentados. No
local das aparições passa o rio Gave; ao lado está o rochedo Massabielle. Esta
rocha forma uma reentrância oval, que é a chamada gruta Massabielle, onde Nossa
Senhora apareceu 18 vezes no ano de 1858. A vidente é Bernardete Soubirous, de
14 anos. Sua família era muito pobre. Esta jovem sofria de asma e tinha
tendência à tuberculose. Foi uma moça quase sempre doente. As datas das
aparições foram: No mês de fevereiro: Dias 11; 14; 18; 19; 20; 21; 23; 24; 25;
27; 28, no mês de março: Dias 01; 02; 03; 04; 25, no mês de abril: Dia 07, no
mês de Julho: Dia 16. (Na festa de Nossa Senhora do Carmo).
História da Aparição
1ª
Aparição - 11 de fevereiro de 1858. Quinta Feira, um dia como outros. Era
inverno; às 11 horas da manhã quando Bernadete observou que tinha acabado a
lenha. Seu pai estava ainda deitado. Não tinha trabalho. Economizava as forças
para outro dia. 0 tempo não era convidativo para sair de casa. Chuviscava e
havia nevoeiro. Logo apanhou sua capa, chamou sua irmã Antonieta Peyret
(companheira de Bernardette) e convidou Joana Abadie, uma moça robusta e forte,
para acompanhá-las.
A mãe
proibiu: "Bernadete, não". Ela pensava no frio que fazia e que
poderia trazer consequências à asma de sua filha. Mas ela insistiu
carinhosamente, dizendo-lhe que teria cuidado para não se molhar e que iria com
o capuz branco e o chale. A mãe concordou. Saem as três meninas no afã de
cumprirem a tarefa, passam pela pradaria do Paraíso, a ponte do canal que movimenta
o moinho Savy, entram na pradaria do senhor La Fitte e chegam na ponta de areia
do rio Gave. À esquerda levanta-se uma rocha íngreme com uma gruta na base. É a
chamada gruta Massabieille. Embora é chamada de gruta, na verdade ela é
constituída de uma acentuada concavidade na rocha. A água do canal que
movimenta os moinhos, banha-lhe o lado esquerdo e segue em direção ao Gave. Joana
passa para o outro lado do canal com o pequeno feixe de lenha na cabeça.
Antonieta faz o mesmo, levando a lenha na mão. Como já do outro lado as duas se
manifestaram dizendo que a água do canal estava muito gelada, Bernadette
permaneceu ali, sem saber o que fazer, com receios de pisar na água fria, por
causa da asma, lembrando-se das recomendações de sua mãe. Enquanto as duas
corriam pela praia do Gave a procura de lenha, ela depois de procurar sem
êxito, um lugar melhor para atravessar, sentou-se na margem do canal, em frente
à gruta, tirou uma das meias e preparava-se para tirar a meia do outro pé,
quando de repente, ouviu um barulho, "como se fosse um sopro de
vento". Não vê nada. Olhou para trás e observou que as folhas das árvores
não se moviam. Apareceu uma "luz suave" que iluminou profusamente
todo aquele lugar sombrio e no meio dela, surge uma senhora maravilhosa, aparentando
a idade de 16 a 18 anos, estava de pé, vestida de branco; o véu que cobria a
cabeça descia até os pés; em redor da cintura tinha uma estreita faixa azul; no
braço direito levava um terço; mantinha as mãos juntas e, nos pés, via-se duas
rosas douradas. Abre os braços num gesto de acolhimento, como quem convida à
aproximar-se. Ela fica espantada. É como se tivesse medo, "não para fugir
explica melhor, mas pela emoção do inusitado e adorável encontro".
Esfregou os olhos diversas vezes, para inteirar-se que não era um sonho e que
realmente estava diante de uma visão encantadora, que lhe sorria afetuosamente.
Então
conta, Bernadette: "Coloquei a mão no bolso e encontrei o terço. Queria
fazer o Sinal da Cruz, mas não pude levar a mão até a cabeça. A mão caiu-me. 0
espanto apossou-se de mim mais fortemente, a minha mão tremia. A visão fez o
Sinal da Cruz. Então tentei a segunda vez. E então pude. Logo que fiz o Sinal
da Cruz, a grande comoção que sentia desapareceu. Pus-me de joelhos e rezei o
terço na presença dessa linda Senhora. A visão fazia passar as contas do seu
Terço com os dedos, mas não mexia os lábios. Quando acabei o terço, Ela fez um
sinal para aproximar-me. Mas não ousei. Então desapareceu de repente". Depois
do extraordinário acontecimento, Bernadete sentiu uma imensa felicidade que
envolveu completamente a sua alma de uma deliciosa satisfação que lhe tirava
todas as forças, para qualquer iniciativa. Atravessou o canal sem dificuldades,
as águas estavam ligeiramente "aquecidas". Sentou-se numa das grandes
pedras que se encontravam na entrada da gruta e permaneceu silenciosa e
pensativa. Voltam suas companheiras com uma boa provisão de lenha e começam a
dançar e pular na entrada da gruta, para comemorar o êxito da missão. Não gostando
de vê-las assim, para distraí-las pergunta:
- "Não viram nada"?
- "E tu, que é que viste"?
Ela compreende o mistério que acabava de acontecer e sente
que terá que guardar este segredo, e por isso muda de assunto:
- "Sois umas enganadoras. Vocês disseram que a água do
canal estava fria, achei-a agradável, estava morna".
Antonieta
e Joana não a levaram a sério, porque quando atravessaram o canal, a água
estava tão gelada, que do outro lado tiveram que esfregar os pés, fazendo
massagem para aquecê-los. Bernadette sentindo necessidade de falar, de contar
aquela maravilhosa experiência, em duas palavras narra tudo a Antonieta. Mas a
irmã não acredita e pensa que Bernadette está querendo incutir-lhe medo. Pega a
lenha e também acelera o passo para casa. Mas o caso dá para pensar, porque o
acontecido é por demais singular. Antonieta apesar de ter prometido, em casa,
na primeira oportunidade, "bate com a língua nos dentes" e conta tudo
à sua mãe. Luiza fica assustada "e quer saber toda história e muito
direitinho", por isso convoca a filha. Entre o susto e o medo, ela quase
nada falou. Sua mãe a repreende por tal comportamento e o pai, que ainda estava
deitado, acrescenta que não quer os olhares dos outros caçoando de ninguém da família.
À noite, na hora das orações, chorou muito, estava bastante comovida com tudo o
que lhe havia acontecido. Sua mãe faz-lhe outras perguntas, mas ela nada
respondeu. Entretanto, no dia seguinte ela sente-se atraída a voltar à gruta. A
mãe não lhe deixa e imperiosamente ordena: "Para o trabalho". Ela
obedece. Na tarde de sábado, dia 13, decide ir confessar-se. Conta tudo ao
padre Pomian, que silenciosamente ouviu o depoimento. Depois perguntou-lhe, se
podia contar ao Abade Peyramale. Ela consentiu.
2ª Aparição - 14 de fevereiro. No
domingo dia 14, depois da Missa, as suas colegas resolvem ir a sua casa, pedir
consentimento para que ela voltasse à Massabieille pois desejavam ver também o
que ela tinha visto. A mãe não permitiu. Todavia depois de muita insistência
das meninas, mandou que conversassem com o pai, que estava tratando dos cavalos
de João Maria Cazenave. Com muito jeito conseguiram autorização para se
ausentarem somente por um tempo de 15 minutos. E como tinham receios de ser alguma
aparição maldosa, decidiram levar um frasco com água benta. Dividíram-se em dois
grupos e foram para a gruta. Ela chegando primeiro com o seu grupo, ajoelhou-se
e começou a rezar o terço, enquanto as suas companheiras ficaram de pé ao seu
lado. Na segunda dezena sua face mudou. Seus olhos brilharam fortemente e ela
falou para as colegas:
- "Hei-la! 0 terço está no braço... Ela olha para
nós".
As
companheiras não viram nada. Rapidamente Bernadette apanha o frasco com água
benta que estava nas mãos de Maria Hillo e asperge com vigor na direção do
vulto, ao mesmo tempo em que o esconjurava: - "Se vem da parte de Deus,
fique, se não, pode ir embora"
Afirmou
posteriormente: - "Quanto mais eu a regava, mais Ela sorria e gastei todo
o frasco".
A seguir
entrou em êxtase. Empalidece, não ouve mais o que as outras dizem. As amigas
assustadas observam as suas reações. Suas companheiras acabaram por ficar
preocupadas e por isso chamaram Nicolau, o moleiro do moinho de Savy, para
retirá-la dali. Mas não foi fácil, porque parecia que ela tinha uma barra de
ferro amarrada ao corpo, porque o seu peso aumentou consideravelmente; com
muito esforço transportou-a nos braços pelo caminho, enquanto ela mantinha um
sorriso nos lábios e os olhos fixos num ponto do Céu. As meninas foram para as
suas casas e as notícias chegaram até Lourdes. Segunda-feira dia 15, foi um dia
terrível porque além de sofrer críticas, suas colegas caçoaram dela. Mas houve
pessoas que se interessaram pelo caso da gruta como Madame de Millet. Decidida
a conhecer a verdade, Madame de Millet conquistou Luiza, mãe de Bernadette,
dando-lhe trabalho e convenceu-a deixar sua filha voltar à gruta, em sua
companhia.
3ª
Aparição - 18 de fevereiro de 1858. As 5 horas da manhã de quinta-feira dia 18,
Madame de Millet em companhia de Antonieta Peyret encontraram-se com
Bernadette, que ainda estava dormindo. Depois participaram da primeira Missa e
desceram para a gruta. Antonieta levou consigo caneta e tinteiro do pai, e
também papel, para a Visão escrever o seu nome. Mal começaram a rezar o terço,
a vidente murmurou:
- "Ela aí está"!
Terminado o terço, Antonieta entrega-lhe a caneta e o papel.
Inocentemente Maria Bernarda leva aqueles instrumentos em direção à Aparição e
lhe faz a solicitação combinada:
- "Quer ter a bondade de escrever o seu nome"? A
Aparição aproximou-se dela, passando por uma fenda no nicho e da conversa de
ambas, nunca se soube nada.
Mais tarde ela contou que, sorrindo, a Aparição lhe disse: “Não era
preciso escrever" e
pediu-lhe que voltasse ali: " Quer ter a amabilidade de vir aqui
durante 15 dias"?
Foi a primeira vez que ouviu a maravilhosa voz da dama, e
consentiu imediatamente em voltar à gruta para encontrá-la. Foi nesta mesma
ocasião que a visão lhe falou:
- "Não prometo tornar-te feliz neste
mundo, mas no outro".
No caminho de volta, pensativa Madame de Millet interrogou: "E
se fosse a Santíssima Virgem Maria"? As notícias espalharam-se. São
formuladas as mais diversas hipóteses sobre o que vai acontecer durante a
quinzena de Aparições. A expectativa é coletiva.
4ª
Aparição - 19 de Fevereiro. - A vidente ouviu um tumulto de vozes selvagens que
parecia saírem da terra e que foram estourar como uma grande explosão, sobre o
rio Gave. As vozes mostravam muita revolta e raiva (eram demônios). Um deles
gritou mais forte: "Bernardette, salva-te! Vai embora daqui! Vai embora
daqui!" A jovem, assustada, pediu ajuda à Aparição. A Virgem Maria logo se
virou para aquela direção, fazendo um semblante ameaçador e tudo cessou
imediatamente.
5ª
Aparição - 20 de fevereiro - A Virgem Maria ensinou como fazer bem o sinal da
Cruz. A partir deste momento, muitas testemunhas disseram que Bernadette fazia
sempre o sinal da Cruz de modo digno, respeitoso e cheio de fé! Nossa Senhora
ensinou pacientemente, palavra por palavra, uma oração só para Bernadette, que
ela devia repetir todos os dias.
6ª
Aparição - 21 de fevereiro – A vidente escreve: “A Senhora desviou durante um
instante de mim o seu olhar, que alongou por cima da minha cabeça. Quando
voltou a fixá-lo em mim, perguntei-lhe o que é que a entristecia e Ela
respondeu-me: "Reza pelos pecadores pelo mundo tão revolto."
Depois
da Aparição do domingo, dia 21, o comissário Jacomet, levou-a para um minucioso
interrogatório no qual certificou-se da simplicidade e da sinceridade da menina
e ficou sabendo de outros detalhes da Aparição, apesar de intencionalmente
querer confundi-la e forçá-la a não voltar à gruta. Ela contou assim: "A
Dama usava um vestido branco, apertado na cintura por uma fita Azul, um véu
branco na cabeça que descia até a altura do busto. 0 vestido era longo e cobria
os pés, deixando aparecer só as extremidades, com uma rosa amarela em cada pé,
da mesma cor da corrente do terço que trazia na mão direita. Olhava com
suavidade e tinha os olhos completamente azuis". 0 interrogatório terminou
quando populares conseguiram colocar o pai Francisco Soubirous na sala do
Comissário para proteger a filha.
7ª
Aparição - 23 de fevereiro.
A Vidente, caminhando de joelhos e beijando o chão, vai do
lugar onde se encontrava até à gruta. Nossa Senhora comunica-lhe um segredo que
a ninguém podia revelar.
8ª
Aparição - 24 de fevereiro.
Na quarta-feira, dia 24, a quantidade de pessoas era maior e
já ofereceu uma certa dificuldade para ela chegar ao seu local na entrada da
gruta. Haviam cerca de 300 pessoas ávidas de presenciarem algum fato novo.
Algumas eram curiosas, mas a maior parte estava postada respeitosamente, em
contrita oração, na certeza de que estavam na presença da Mãe de Deus. Terminada
a reza do terço, Bernadete avançou dois passos, arrastando-se de joelhos e
prostrando-se com a face na terra beija-a atendendo ao pedido da Aparição, num
gesto de penitência. 0 povo não entendeu. Mas depois ela explicou que a Aparição
tinha falado uma palavra nova.
A Santíssima Virgem disse estas palavras: “Reza a
Deus pelos pecadores! Penitência! Penitência! Penitência! Beija a terra em
penitência pela conversão dos pecadores!"
9ª
Aparição - 25 de fevereiro
No dia seguinte, a movimentação ao redor de Massabieille
começou cedo. Desde as duas horas da manhã as pessoas procuravam localizarem-se
nos melhoras lugares. No momento em que Maria Bernarda chegou, havia mais de
350 pessoas. Como de costume, rezou o terço em êxtase, depois entregou a
Eléonore Pérard, que estava a seu lado, a vela acesa que sempre levou nos seus
encontros com a Aparição, dando-lhe também seu capuz. A seguir, sobe de joelhos
a pequena declividade até o fundo da gruta. De trecho em trecho faz uma parada
e beija o chão. Bem em baixo do nicho, onde encontrava-se a visão, para e
conversam.
A Senhora disse-me: “Vai beber à fonte e lavar-te
nela”
A seguir arrasta-se de joelhos até o rio Gave. Lá, qualquer
coisa a detém e ela volta, agora de pé, para o interior da gruta. Abaixa-se e
arranha o chão com as mãos e depois cava, como se quisesse fazer um buraco. 0
orifício encheu-se de lama que ela recolhe e passa no rosto, tentou três vezes
pegar água, na quarta vez conseguiu.
A Senhora também disse-me: “Come daquela erva que ali
está!”
E comeu ervas de folhas cheias de amebinos que cresceram no
fundo da gruta. Terminada a Aparição, volta com o rosto todo lambuzado de
barro, causando de certa forma, consternação ao público. A todos que lhe
perguntava explicou:
- "A Dama mandou eu beber água na fonte e lavar-me nela.
Não vendo água, fui ao Gave. Mas Ela fez-me sinal com o dedo para ir debaixo da
rocha. Depois de cavar, encontrei um pouco de água como se fosse lama, tão
pouca que apenas pude tomar alguma na cova da mão. Três vezes a joguei fora, de
tal modo estava suja. Na quarta vez pude. Depois recolhi e comi um pouco de
ervas. Ela pediu-me que fizesse isto pelos pecadores". A tarde, algumas
pessoas voltaram à gruta e entre elas Elèonore Pérard. Observaram o buraco que
Bernadete cavou, estava uma poça de água lamacenta. No meio dela Eléonore
espetou um pau. Apercebeu o ruído da água que corria. Algumas pessoas tentam
bebê-la: a água jorra com mais força e vai ficando mais clara, à medida que
cavam para recolhê-la. Começam então a compreender a mensagem: "uma
fonte de água que lavará a alma suja dos pecadores, dos que se arrependem de
seus desacertos, daqueles que têm fé em Deus, produzindo o milagre da conversão
e da cura dos males". A notícia espalhou-se. Todos querem beber da água da fonte que brotou no
terreno árido do fundo da gruta. Outros a recolhem e levam para seus parentes
necessitados. Muitos comentários surgiram e as notícias de curas ouve-se por
todas as partes. Neste mesmo dia é interrogada pelo Procurador Imperial, senhor
Dutour, que a exemplo de Jacomet, tentou por todos os meios dissuadi-la a não
voltar à gruta, dizendo que aquilo era ilusão. Tudo em vão, permaneceu
tranqüila ao lado de sua mãe e até achou momentos para rir, quando o senhor
Dutour mostrando-se nervoso, com a caneta na mão não achava o buraco do
tinteiro. Em face do interrogatório, Bernadette responsavelmente antes de tomar
qualquer iniciativa foi ouvir a opinião de seus parentes sobre a proibição
imposta pelo senhor Dutour de voltar à Massabieille. Sua tia Bernarda falou: "Eu
no seu lugar ia"! Sem dizer uma palavra, apanhou seu capuz e seguiu para a
gruta. Lá encontravam-se mais de 600 pessoas. Foi rezado o terço e feito alguns
exercícios de penitência, mas "Aquerò" como ela chamava a Aparição,
não veio.
10ª
Aparição - 27 de fevereiro. Nesta visita, a Virgem Imaculada tornou a mandar
beijar o chão em penitência pelos pecadores.
11ª
Aparição - 28 de Fevereiro. A Senhora sorriu e não respondeu quando a Vidente
lhe perguntou o nome. Mais de 1.150 pessoas presenciaram diversas práticas de
penitência e a reza do terço em êxtase. É como dizia: "É por penitência,
por mim primeiro, pelos outros depois".
12ª
Aparição - 1º de março. Na Aparição manda a Bernadette rezar o terço pelas suas
contas e não pelas duma companheira, Paulina Sans, que lhe tinha pedido para
usar as suas. No dia seguinte, segunda-feira, 1º de março, a multidão foi
calculada em 1.500 criaturas e viam-se pessoas de todas as classes. Para a
curiosidade geral, desponta entre elas a batina preta do Padre Dêsirat. Ele não
é de Lourdes e não sabe da proibição imposta ao clero pelo Abade Peyramale. Sua
presença causa sensação e em poucos momentos vê-se na primeira fila, com sua
miopia compensada por óculos de grossas lentes, numa posição bem próxima da
vidente. Foi também neste mesmo dia, quando ocorreu o primeiro dos sete
milagres escolhidos pelo Bispo e considerado realmente como "Obra de
Deus".
"Catarina Latapié, proveniente de uma queda de um
carvalho, na qual subira para tirar bolotas para os porcos, teve o braço
deslocado e dois dedos da mão direita dobrados e paralisados. 0 fato aconteceu
em outubro de 1856 e o médico só conseguiu consertar o seu braço, mas os dedos
não tiveram jeito. E isto a impedia de fazer o seu trabalho, não a deixava
tricotar e nem fiar, estava sendo a sua ruína. Apesar de encontrar-se grávida
de 9 meses, saiu a pé de sua casa na noite do dia 28 de fevereiro, para
Lourdes, distante 7 quilômetros, levando os seus dois filhos mais novos. Assiste
a Aparição do dia 1º de março e faz fervorosas preces a Deus por intercessão de
Nossa Senhora, pedindo a sua cura. Terminada a aparição, sobe até o fundo da
gruta e mergulha a mão na fonte que tinha formado, cujas águas deslizavam
mansamente formando um pequeno regato que corria para o Gave. Um estremecimento
acompanhado de uma grande suavidade invadiu todo o seu ser. Ela sentiu de
repente, voltar a flexibilidade aos seus dedos. Vibrou de alegria e chorou de
satisfação. Emocionada iniciou os seus agradecimentos pela graça alcançada,
quando subitamente sente uma violenta dor nas entranhas, como prenúncio do
próximo nascimento de mais um filho. Num gesto ligeiro e contrito, ajoelha-se e
com as mãos postas suplica: "Virgem Santa, Vós que acabais de me curar,
deixai-me chegar em casa"! Levantou-se, pegou nas mãos de seus filhos e
seguiu para sua casa em Loubajac. Assim que chegou, mal teve tempo de chamar a
parteira, deu à luz um sadio garoto que recebeu o nome de João Batista e que
mais tarde tornou-se sacerdote".
13ª
Aparição - 2 de março, eram mais de 1.650 pessoas em Massabieille. Com maior
dificuldade Bernadete chegou ao "seu local".
Diz Maria: "Vai
dizer aos Sacerdotes que tragam o povo aqui em procissão e me construam uma
Capela".
Por essa razão, mais tarde em companhia das tias Bernarda e
Basília, foram encontrar-se com o Abade Peyramale, para levar-lhe a notícia. 0
Senhor Abade era um homem severo, de caráter íntegro e muito exigente na
observância do direito e da ordem. Já tinha ouvido os comentários sobre
Bernadette e as Aparições na gruta, assim como as notícias de curas e os
comentários maldosos do jornal local. Não se decidira sobre os fatos, mesmo
porque não dispunha de elementos que lhe oferecesse condições de optar.
Intimamente aceitava com simpatia a possibilidade da Aparição ser verídica, em
face dos muitos comentários favoráveis. Mas na sua posição, não podia
considerar comentários e nem indícios, era preciso haver alguma coisa sólida,
que se mostrasse de modo concreto, para que pudesse apreciar os acontecimentos.
E apesar de possuir um coração bondoso e paternal, o momento exigia que
procedesse com cautela, até com rudeza, se fosse necessário, para deixar
aparecer a verdade transparente.
- "És tu que vais à gruta"?
- "Sim, Senhor Abade".
- "E dizes que vês a Santíssima Virgem"?
- "Eu não disse que era a Santíssima Virgem".
- "Então quem é essa Senhora"?
- "Eu não sei".
- "Ah, tu não sabes! Mentirosa! E no entanto esses que
fazes correr atrás de ti dizem e o jornal imprime, que tu pretendes ver a
Santíssima Virgem. Então o que é que tu vês"?
- "Qualquer coisa que parece uma Senhora".
- "Ora essa! Uma Senhora! Uma procissão"!
Aborrecido olha para as duas tias que a acompanha e lembra-se
que elas conceberam antes de se casarem, e desabafa:
- "Que desgraça ter uma família destas que faz a
desordem na cidade! Desapareçam daqui imediatamente"!
As três saíram o mais depressa que puderam e imaginem o
tamanho do "apuro"... Disse Bernadete: - "Não me apanham mais a
vir à casa do Senhor Abade"!
Mas, logo que caminharam alguns passos, lembrou-se que não
tinha transmitido toda a mensagem ao Senhor Abade. Esquecera-se de falar da
"Capela". Quis voltar, mas as tias protestaram: - "Não contes
comigo! Tu põe-nos doentes"!
Depois de muito procurar, conseguiu que Dominiquette Cazenave
a acompanhasse. Marcaram uma entrevista para às 19 horas. Estavam lá além do
Abade Peyramale os Padres Péne, Serres e Pomian (o confessor dela). Transmite a
segunda parte do recado:
- "Vai dizer aos
Sacerdotes para construírem aqui uma Capela".
- "Uma Capela? Como para a procissão? Estás certa
disso"?
-"Sim, senhor Abade, estou certa".
- "Ainda não sabes como ela se chama"?
- "Não, Senhor Abade".
- "Pois bem, é preciso perguntar-lhe".
Depois de responder mais algumas perguntas dos outros padres,
despediu-se, e com sua acompanhante voltou para casa. No dia seguinte mais de
3.000 pessoas a aguardavam na gruta. A multidão rezava ansiosa desde muito
cedo. Mas a visão não apareceu. E como nos dias 22 e 26 de fevereiro, regressou
perturbada. Todavia, neste mesmo dia, mais à tarde, voltou à gruta e desta vez
encontrou-se com a visão. Ao regressar à cidade, foi conversar com Peyramale:
- "Senhor Abade, a Senhora sempre quer a Capela ".
- "Perguntaste-lhe o nome"?
_ "Sim, mas ela apenas sorriu".
- "Pois bem, se ela quer a Capela que diga o seu nome e
faça florir a roseira da gruta. E então nós mandaremos construir uma Capela e
não será muito pequena, será muito grande".
14ª aparição - 3 de março. A Senhora não aparece à hora
habitual, mas sim ao entardecer e deu explicação.
“Não me viste esta manhã porque
havia pessoas que desejavam examinar o que fazias enquanto eu estava presente.
Mas elas eram indignas. Tinham passado a noite na gruta, profanando-a.”
15ª
Aparição - 4 de março. No segundo mistério do primeiro terço, Bernadette começa
a ver Nossa Senhora. Acabou esse terço e rezou outros dois, refletindo ora
alegria, ora tristeza. Durante esta quinzena, Nossa Senhora comunicou à menina
três segredos e uma oração com esta ordem:
“Proíbo-te de dizer isto, seja a
quem for.”
Era aguardado com grande expectativa porque era o último da
quinzena de aparições. A polícia pediu reforço policial de d'Argelès e de Saint
Pé, cidades vizinhas de Lourdes, para ajudar na manutenção da ordem, no sentido
de evitar qualquer excesso. A estimativa era para mais de 8.000 pessoas ao
redor da gruta. Para que Bernadette, pudesse chegar ao local, fizeram uma
passarela de madeira, que lhe facilitou o acesso. Ela veio acompanhada de sua
prima Joana Véderè, que tinha 30 anos de idade e ficaram juntas perante a
Aparição. Ajoelharam e começaram a rezar o terço. Quando iniciavam a terceira
Ave Maria da segunda dezena, entrou em êxtase. A multidão com o olhar acompanhava
tudo e apreciava a beleza do Sinal da Cruz que ela fazia.
Maria Bernarda foi encontrar-se, com o Senhor Abade e dar-lhe
notícias do "encontro".
- "Que te disse a Senhora"?
- "Perguntei-lhe o nome... Ela sorriu. Pedi-lhe para
fazer florir a roseira, ela sorriu outra vez. Mas ainda quer a Capela".
- "Tu tem dinheiro para fazer essa Capela"?
- "Não, Senhor Abade".
- "Eu também não. Diz à Senhora que lhe dê".
Peyramale
estava desconsolado por não ter obtido nenhuma informação segura, sobre a
Aparição. Ela também, mas sem poder fazer nada, voltou triste para casa. No dia
18 de março é submetida a um severo interrogatório e declara: "Não penso
ter curado quem quer que seja e de resto não fiz nada para isso. Não sei se
voltarei à gruta".
Mas
independentemente das aparições continuarem ou não, a afluência era cada vez
maior. Diariamente muitas pessoas iam lá para rezar, para recolher água da
fonte ou para bebê-la. Todos acreditavam que quem esteve lá foi a Santíssima
Virgem. As velas multiplicavam-se no dia 18 eram 10; no dia 19 havia 21 velas;
já no dia 23, colocaram no nicho das aparições, uma imagem de gesso da Virgem
Maria, doada por um senhor, Felix Maransin. Do dia 4 de março quando ocorreu a
última aparição, ou seja a 15ª, até o dia 25 do mesmo mês, Bernadete procurava
levar uma vida normal, ao lado de seus familiares no "cachot". Mas
foi impossível, porque era solicitada para interrogatórios, por visitantes que
faziam filas intermináveis à porta de sua casa, querendo conversar, abraçá-la e
pedir-lhe que tocasse com as mãos em objetos que levavam. Eram pessoas que
buscavam graças e outras que vinham contar milagres alcançados pela bondade e o
carinho intercessor de Nossa Senhora. Não tinha mais sossego. Às vezes quase
perdia a paciência: - "Tragam-me todos ao mesmo tempo". Outras vezes,
cansada, precisando de repouso queria isolar-se: - "Fechem a porta à
chave"!
E jamais
aceitou e não deixou que nenhum de seus familiares aceitassem gratificações em
dinheiro ou presentes, por qualquer razão que fosse: "Isso queima-me! Por
favor, não façam isso"! Quando perguntavam-lhe se a Dama voltaria,
simplesmente dizia que não sabia. Só podia afirmar que ela queria sempre uma
Capela e que os Sacerdotes fossem em procissão à gruta.
16ª
Aparição - 25 de março. Na manhã da festa da Anunciação a Revelação:
No despertar daquele dia 25 de Março de 1858, Bernadette
sentiu-se novamente impulsionada para ir à gruta. Era uma força estranha que
nascia em seu interior, que não sabia explicar. Mas era muito cedo e seus pais
lhe aconselharam esperar o dia clarear. Às 5 horas da manhã já pôs-se a
caminho. Depois de rezar o terço em êxtase, levantou-se e caminhou em direção à
Aparição e conversaram:
“Mademoiselle, quer ter a bondade de me dizer quem és, se faz
o favor”?
Ela sorriu, não respondeu. Insiste na solicitação, a segunda
e a terceira vez, obtendo como respostas um sorriso carinhoso e modesto da visão.
Mas Bernadette tinha a necessidade de saber o nome dela, precisava levar esta
notícia ao Senhor Abade, porque caso contrário, ele não construiria a Capela. Por
isso, com mais amor e decisão insistiu uma quarta vez suplicando que ELA
dissesse o seu nome. Desta vez a Aparição não sorriu mais, ficou séria. As mãos
que estavam unidas afastaram-se estendendo sobre a terra e depois novamente
juntas à altura do peito, levantou os olhos ao Céu em sinal de profunda humildade
e obediência a Deus e disse:
“EU SOU A IMACULADA CONCEIÇÃO”.
Dito isto, desapareceu. Bernadette retornou a si e para não
se esquecer das palavras, repetiu-as várias vezes em seguida, tropeçando nas
letras que mal sabia pronunciar. Fugiu das perguntas de todos e correu para a
casa do Senhor Abade Peyramale. Lá chegando, antes mesmo de cumprimentá-lo gritou:
- “Que soy era Immaculada Councepciou” (no seu dialeto patois
de Lourdes) 'Eu sou a Imaculada Conceição'.
0 Abade ficou perplexo. Não sabia se sorria ou ocultava o seu
júbilo, procurando num último esforço, certificar-se do óbvio:
- 'Pequena orgulhosa, tu és a Imaculada Conceição'!
- 'Não, não, não eu'.
Peyramale sente que está diante de uma grande revelação: 'A Virgem
é concebida sem pecado'. O Abade explodia intimamente de satisfação e se
preocupava em saber da realidade. Pela santíssima vontade de Deus, a partir
daquele momento Nossa Senhora deixava realçar com todo brilho, a sua grandeza
notável e ilimitada, porque ela própria confirmava que teve uma Conceição
Imaculada. Por isso Peyramale se debatia: 'Uma Senhora não pode usar esse nome!
Tu enganaste sabes o que isso quer dizer'?
Maria Bernarda diz que não, abanando a cabeça.
- 'Então como podes dizê-lo, se não compreendes o que é'?
- 'Repeti todo o caminho'.
No silêncio que se seguiu, Peyramale ficou pensativo com um
suave sorriso nos lábios. Bernadete interrompe o silêncio e diz:
- 'Ela sempre quer a Capela'...
0 Abade no íntimo deve ter respondido que não só uma Capela,
mas uma monumental Basílica. A partir daquele momento a Dama estava dispensada
de fazer qualquer milagre, de fazer florir a roseira selvagem da gruta. Era Ela,
a Mãe de Deus, a Nossa Querida Mãe que veio visitar-nos com o objetivo de
revelar-nos um grande mistério divino e pedir penitência ao mundo, para que
todos rezassem pela conversão dos pecadores e tivessem uma conduta responsável
e digna. Peyramale estava emocionado. Tentava esconder sua alegria e por isso,
para salvar as aparências, falou com ela:
- 'Vai para casa, falaremos outro dia'.
Os dias passaram e o clero com muita alegria e vibração
comemorou a revelação do grande mistério. Dia 6 de abril Bernadette, sentiu-se
novamente 'pressionada' para voltar à gruta. Aquela força estranha e agradável
a impulsionava para Massabieille. Como já havia passado das 15 horas, foi
encontrar-se com o Padre Pomian no confessionário. Algumas pessoas que a
observava, se incumbiram de espalhar os boatos. A cidade ficou na expectativa
de algum acontecimento.
17ª
Aparição - 7 de abril. Nossa Senhora nada disse, mas verificou-se nesta
aparição o chamado milagre da vela.
No dia seguinte, quarta-feira da Páscoa, antes do sol nascer
já encontrava-se na gruta, acompanhada inicialmente por uma centena de pessoas
que logo aumentou para 1.000, quando iniciou a reza do terço. Nas primeiras Ave
Maria da primeira dezena, entrou em êxtase. 0 Doutor Dozous, que vinha
estudando o seu caso, surge no meio da multidão pedindo passagem, pois queria
estar ao lado dela, para presenciar suas reações fisionômicas. E abrindo
passagem entre o povo que contritamente rezava dizia:
- 'Não venho como inimigo, mas em nome da ciência. Corri e
não posso me expor às correntes de ar. Só eu posso verificar o fato religioso
que aqui se dá, deixem-me prosseguir este estudo'.
Neste dia, ela utilizava uma grande vela que se apoiava no
chão. Foi fornecida por uma pessoa que tinha alcançado uma graça. Com sua mão
tentava proteger a chama da vela, da corrente de ar. Mas no transe em que se
encontrava, não posicionou corretamente a mão esquerda em forma de concha sobre
o pavio aceso, de modo que a chama da vela passava por entre os seus dedos.
- 'Mas ela queima-se' - gritaram da multidão.
- 'Deixe estar' - pediu Dozous.
Ele não acreditava naquilo que seus olhos viam, os sorrisos
de Bernadete, os Sinais da Cruz, feitos com tanta graça, sua fisionomia séria
em vários momentos compartilhando duma tristeza da visão e a chama da vela que
passava por entre seus dedos, sem queimá-los, sem provocar dores.
Terminado o êxtase, examinou as mãos da vidente e não
encontrou o menor sinal de queimadura. Para testar a sua sensibilidade, acendeu
a vela e sem que ela percebesse, aproximou a chama de sua mão. Ela gritou e
protestou: 'Está querendo me queimar'? Dozous, homem de atitudes extremas, viu
crescer repentinamente em seu coração uma fé gigantesca. Da mesma forma que seu
caráter explosivo o levava muitas vezes a defender suas convicções abertamente
e com decisão, espalhou a novidade com disposição, convencido que estava diante
do sobrenatural na gruta de Massabieille.
0 Prefeito resolveu proibir o acesso a gruta. Mandou retirar
todos os objetos religiosos que tinham sido colocados lá. Os pais e amigos de
Bernadete, para evitar complicações, a enviaram para Cauterets, a titulo de
tratar de sua asma. Contudo a sua ausência em nada influiu no fervor das almas
piedosas, que se manifestavam claramente e todos os dias. Eram organizadas
procissões, cânticos e orações com a maior participação possível. Por outro
lado, alguns procuravam dotar a gruta de certo conforto, colocando na fonte de
água um bacia com três torneiras, para facilitar a utilização. Pedreiros,
carpinteiros e funileiros trabalhavam gratuitamente e com desprendimento,
melhorando o acesso, colocando uma tábua furada para receber as velas,
empregando os seus esforços com o objetivo de tornar a gruta um recanto
aprazível de devoção mariana. As autoridades vendo que não conseguiam nem
acabar e nem diminuir a freqüência das visitas à gruta, decidem fechá-la. No
dia 15 de junho o Prefeito mandou fazer uma barreira constituída por uma
paliçada de madeira, que isolava a área da gruta. O povo, no dia 17, destruiu a
paliçada. As barreiras são reconstruídas no dia 18 e são demolidas pelo povo na
noite do dia 27. Tornam a serem reconstruídas no dia 28 de junho, para
novamente serem demolidas na noite do dia 4 de julho. No dia 8 de Julho a
Igreja intervêm oficialmente, pela primeira vez, pedindo tranqüilidade ao povo
e respeito às autoridades. No dia 10 foram levantadas as barricadas novamente.
Bernadete mantinha-se distante e indiferente a toda esta movimentação. Nas
oportunidades que surgiam, recomendava obediência e desaconselhava que
arrebentassem a paliçada na gruta.
18ª
Aparição - 16 de julho. Como é festa de Nossa Senhora do Carmo, a Vidente assiste
à missa e comunga na igreja. Ao entardecer sente que Deus a chama para a gruta,
como das vezes anteriores, e lá chegou por um caminho que ninguém suspeitou.
Foi em companhia de sua tia Lucilia, camuflada com um capuz emprestado; mas não
pode aproximar-se devido à sebe, e aos soldados que, por malvada ordem do
governo, cercam o recinto. Junto à cerca de tábuas que isolava a gruta,
encontrava -se um grupo de pessoas, que de joelhos e silenciosamente rezavam.
Ela ajoelhou e acendeu sua vela. Duas congregadas marianas que a reconheceram,
juntaram-se a ela e à sua tia, em silêncio. Apenas começara o terço, as suas
mãos afastaram-se comovidas, numa saudação de alegria e surpresa. Nossa Senhora
estava lá. A sua face iluminou-se e suas feições adquiriram uma indescritível
formosura. A menina contempla a Senhora, de além do rio e da sebe: Terminada a
reza do terço, pelo seu rosto podia-se ver estampada a felicidade que brotava
de seu íntimo, a alegria de mais uma vez ter-se encontrado com a Mãe de Deus.
Ela não comentou nada. No caminho de regresso, apenas disse: “Não via o rio,
nem as tábuas - explicará ela mais tarde. Parecia-me que entre mim e a Senhora,
não havia mais distância que das outras vezes. Só via a Ela. Nunca a vi tão
bela” Foi o último adeus da Senhora até ao céu. Aconteceu como se fosse uma
visita de despedida, Nossa Senhora sempre bondosa, cheia de carinho e atenção,
desceu à terra mais esta vez, para o derradeiro adeus à sua amiga.
256
. 5 - Aparição de Nossa Senhora de Champion – Nossa Senhora da Boa Ajuda
Nossa
Senhora de Champion, também conhecida como Nossa Senhora da Boa Ajuda, é um dos
títulos com que a Santíssima Virgem Maria é invocada desde as aparições que
ocorreram em outubro de 1859 à Adele Brise no vilarejo de Champion, Green Bay,
nos Estados Unidos. É conhecida por ser a primeira aparição mariana aprovada
pela Igreja Católica em terras americanas. Adele Brise nasceu na Bélgica, em 30
de janeiro de 1831. Junto de seus pais, Lambert e Catherine Brise, ela imigrou
para os Estados Unidos, passando a residir em Champion, um vilarejo rural de
Green Bay, estado de Wisconsin, no ano de 1855. No início de outubro de 1859,
Adele andava pelo bosque do vilarejo para chegar a um moinho de trigo quando
avistou uma mulher envolta em grande luminosidade, parada entre duas árvores.
Estava vestida com uma túnica branca deslumbrante, com a cintura envolta em uma
faixa dourada e com uma coroa de estrelas acima de seus cabelos loiros
esvoaçantes. Assustada, a jovem Adele começou a orar até que a visão
desaparecesse. Quando retornou para sua casa, ela contou aos pais o que tinha
visto. Eles sugeriram que talvez fosse uma pobre alma em busca de orações Em 9
de outubro de 1859, domingo seguinte à primeira aparição, Adele caminhava pelo
mesmo lugar para ir à missa na comunidade de Bay Settlement, em companhia de
sua irmã e uma amiga quando, pela segunda vez, Adele avistou a mesma mulher
entre as árvores. Apenas Adele conseguia enxergá-la. Ela, então, recorreu ao
seu pároco em busca de conselhos. Ele lhe disse que se ela visse a aparição
novamente, ela deveria perguntar: "Em nome de Deus, quem é você e o que
deseja de mim?". Voltando da missa naquele mesmo dia, ela viu a aparição
pela terceira vez, e desta vez fez a pergunta que o padre lhe disse para fazer.
A aparição então respondeu: "Eu sou a Rainha do Céu, que reza pela
conversão dos pecadores, e desejo que faças o mesmo. Recebeste a Sagrada
Comunhão nesta manhã e isso é bom. Mas deves fazer mais. Faze uma confissão
geral e oferece a Comunhão pela conversão dos pecadores. Se não se converterem
e não fizerem penitência, meu Filho vai ser obrigado a castigá-los. O que fazes
aqui, parada, enquanto tuas companheiras trabalham na vinha do meu Filho?"
─ "O que mais posso fazer,
querida Senhora?", perguntou Adele.
"Reúna as crianças deste
país selvagem e mostra-lhes o que deveriam saber para salvar-se."
─ "Mas como lhes ensinarei o que eu mesma sei tão
pouco?", replicou a jovem.
─ "Ensina-lhes seu catecismo, como fazer o
sinal da cruz e como se aproximar dos Sacramentos; isso é o que eu desejo que
faças. Vai e não tenhas medo. Eu te ajudarei.”
Dizendo
isto, Maria ergueu as mãos em sinal de benção e desapareceu. A jovem começou,
então, a fazer o que Nossa Senhora pediu, passando a se dedicar na educação e
catequização das crianças do vilarejo. Ela inicialmente caminhava de casa em
casa, mas depois fundou uma pequena escola com a ajuda de doações. Outras
mulheres se juntaram a ela em seu trabalho e formaram uma comunidade de irmãs
com a espiritualidade terciária franciscana, embora Adele Brise nunca tenha
feito votos públicos como freira. Adele faleceu em 5 de julho de 1896, aos 65
anos de idade, estando sepultada próximo do Santuário.
Milagre
no Incêndio Peshtigo: No local da aparição, o pai de Adele construiu uma capela
em madeira no ano de 1861, passando a se tornar um local de peregrinação. No
entanto, na noite de 8 de outubro de 1871, uma tempestade de fogo se espalhou
ao arredor da capela, chegando a atingir casas próximas. Adele iniciou, então,
uma procissão suplicando a ajuda da Virgem Maria. O terreno em torno foi
atingido mas a capela sobreviveu ilesa, bem como as pessoas que se refugiaram
em oração em seu interior. Em 1880, uma capela de tijolos foi construída no
lugar, também uma escola e um convento religioso. Em julho de 1942, foi
inaugurada a atual igreja em estilo gótico Tudor pelo Bispo Paul Peter Rhode,
contando agora com uma capela mariana no subsolo e uma sala para rememorar as
graças alcançadas pela intercessão da Virgem Maria. No jardim, são apresentados
para os peregrinos as estações da Via Sacra e os mistérios do Rosário. O maior
encontro anual na igreja mariana de Champion acontece em 15 de agosto, data da
solenidade da Assunção da Virgem Maria aos Céus, com missa campal e procissão
nos jardins do Santuário.
A
aparição mariana em Champion, alegada por Adele Brise, começou a ser investigada
em 9 janeiro de 2009 pelo Bispo diocesano de Green Bay, Dom David Ricken, que
observou que seus predecessores endossaram implicitamente o Santuário ao
realizar serviços religiosos lá ao longo dos anos. Em 8 de dezembro de 2010, as
aparições de Champion foram reconhecidas como dignas de fé, fazendo com que se
tornasse a primeira e única aparição mariana aprovada em terras americanas. Em
15 de agosto de 2016, a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos
designou a igreja mariana de Champion como Santuário Nacional de Nossa Senhora
do Bom Socorro. Em 20 de abril de 2023, o nome do Santuário foi alterado para
Santuário Nacional de Nossa Senhora de Champion, em conformidade com um pedido
feito pelo Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Também
foi estabelecido que no local da aparição seja celebrado anualmente, em 9 de
outubro, a solenidade da aparição de Nossa Senhora em Champion.
256
. 6 - Aparição de Nossa Senhora da esperança de Pontmain
Em plena
guerra franco-prussiana, quando a pequena cidade francesa de Pontmain estava
prestes a ser invadida, uma belíssima Dama apareceu no céu. Naquela mesma
noite, a aflição se tornou esperança. Naquele 15 de janeiro de 1871, o ano
ainda estava em seu nascedouro, trazendo para a pequena cidade de Pontmain,
situada a duzentas milhas de Paris, todas as esperanças e apreensões próprias
da aurora. Nesta população de apenas quinhentos habitantes, o Pe. Guérin,
grande devoto de Maria Santíssima e pároco da matriz havia trinta e cinco anos,
procurava reunir o povo para rezar o Rosário. Os camponeses afluíam sempre com
alegria para a oração, porém, naquela tarde, a situação era diferente: o medo e
a incerteza assolavam os fiéis. Por mais que o Sacerdote tentasse animá-los com
cânticos, só se viam lágrimas em seus rostos. Qual a razão de tamanha tristeza?
A França e a Alemanha estavam em guerra. Corriam notícias de que o exército
prussiano, tendo chegado às portas de Laval, já se aproximava de Pontmain.
Naquela
trágica semana de inverno, a neve cobria toda a cidade. Crostas de gelo revestiam
as janelas e os telhados. Dois dias depois da cena que acabamos de narrar, as
crianças da família Barbedette conversavam em casa sobre a ausência do irmão
mais velho, convocado pelo exército para defender a pátria, quando o infantil
colóquio foi subitamente interrompido pelo pai. Ele os levou para o celeiro, a
fim de prepararem uma ração extra para os cavalos, que muito sofriam com as
baixas temperaturas. Por volta de cinco e quarenta e cinco da tarde, Eugène
Barbedette, de doze anos, e seu irmão Joseph, de dez, terminaram o serviço. Ao
saírem do celeiro depararam-se, para sua surpresa, com uma extraordinária
figura no céu: era uma Senhora de rosto indizivelmente amável, que permanecia
no ar, em pé, frente a eles. Estava trajada com um longo vestido azul, adornado
por estrelas douradas, e trazia na cabeça uma linda coroa de ouro. Pouco tempo
depois juntaram-se a eles duas meninas: Françoise Richer, de onze anos, e
Jeanne-Marie Lebossé, de nove. Elas também viam a esplendorosa Dama. As
exclamações cheias de entusiasmo das crianças acabaram por chamar a atenção de
quase todo o vilarejo, atraindo à propriedade da família Barbedette uma
verdadeira multidão.
Mensagem escrita por mãos invisíveis
Os
camponeses que se avolumavam junto à casa dos Barbedette desejavam presenciar
a aparição da nobre Dama. Entretanto, nem todos acreditavam no que as crianças
diziam, pois somente elas a viam. Também o Pe. Guérin acorreu ao local. Embora
nada visse, sentiu-se tomado pela graça e entoou o hino nascido dos lábios da
própria Rainha do Céu: o Magnificat. Quando todos cantavam, as crianças viram
aparecer uma flâmula abaixo dos pés de Nossa Senhora, na qual mãos invisíveis
escreviam em letras de ouro: “Rezem, meus filhos”. E, enquanto a multidão prosseguia
com o cântico, foi acrescentada mais uma misteriosa afirmação: “Deus
logo vos ouvirá”.
Em certo momento notaram uma
grande luz, que brilhava mais que o sol e, quando se pensava que a Mãe de Deus
partiria, uma derradeira frase foi desenhada a seus pés: “Meu
Filho se comoveu com vossas súplicas”. Diante da misteriosa mensagem, todos mantiveram-se em
silêncio, rezando.
Nada se
ouvia, até que uma voz se elevou da pequena multidão, entoando um hino local
que louva Maria Santíssima enquanto Virgem Mãe da Esperança. Nesse exato
instante, a majestosa Senhora ergueu suas mãos aos céus e, movimentando
delicadamente os dedos, olhou para as crianças com muita ternura. Porém, uma
sombra de tristeza se fez notar naquele suave e resplandecente semblante. No
momento em que na música se dizia “Meu doce Jesus, agora é o tempo de dar o
vosso grande perdão aos nossos corações endurecidos!”, a Virgem apontou para um
sinal que portava sobre o peito. Era uma cruz vermelha, na qual se podia ver
perfeitamente a Nosso Senhor. Acima dela, uma faixa branca trazia inscrito o
nome de Jesus, também em vermelho. Os lábios da Senhora do Céu moviam-se em
oração. Por ordem do pároco, todos permaneceram em vigília até o fim da
aparição, que se prolongou por mais três horas. Além dos dois irmãos Barbedette
e das duas meninas, relatos populares narram que mais três crianças viram Maria
Santíssima no céu de Pontmain. Eram Eugène Friteau, de seis anos, Auguste
Avice, dois anos mais novo, e a filhinha do sapateiro que, sendo ainda criança
de colo, não parava de pular nas mãos da mãe, estendendo seus bracinhos para o
ar como se quisesse ir para junto de Nossa Senhora.
Ao mesmo
tempo em que a Mãe de Deus infundia esperança nos corações dos moradores da
pequenina cidade, parecia também intervir nos lances da guerra que tanto amedrontavam
os habitantes da região. Naquela mesma noite, o comandante do exército alemão,
o general Karl Von Schmidt, recebeu uma ordem inesperada de recuar. E, dez dias
depois, França e Alemanha assinavam um tratado de paz. Acontecera o que muitos
passaram a chamar de “o grande milagre de Pontmain”. As autoridades Eclesiásticas
realizaram uma série de investigações a fim de confirmar a autenticidade do que
as crianças afirmavam ter visto. Após entrevistá-las individualmente e
submetê-las a exames médicos para provar que não sofriam de alucinação, puderam
atestar a inteira veracidade dos relatos feitos pelos videntes, que durante
todo o processo se comportaram com exímia calma e modéstia. A carta pastoral em
que Dom Casimir-Alexis-Joseph Wicart, primeiro Bispo de Laval, dá seu parecer
sobre esse fenômeno sobrenatural, ocorrido em território sob sua jurisdição,
conclui da seguinte forma: “Tendo examinado os relatos de duas comissões de
teólogos e uma de investigadores, tendo revisado os textos e os testemunhos dos
médicos, julgo que a Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, realmente apareceu no
dia 17 de janeiro de 1871”.
Constatada
a veracidade da aparição, deram-lhe o nome de Nossa Senhora da Esperança de
Pontmain. Uma igreja em sua honra foi construída no local, e em 1922 Pio XI
instituiu sua festa litúrgica, a ser celebrada a cada 17 de janeiro. A devoção
a Ela estendeu-se pela França e pelo mundo.