“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

sábado, 1 de outubro de 2016

EVANGELHO DA FÉ


 EVANGELHO DA FÉ

Jesus diz:

“E agora? Que vos direi, ó almas, que percebeis que a fé está morrendo? Aqueles sábios do Oriente nada tinham que lhes desse a certeza da verdade. Nada tinham de sobrenatural. Tinham apenas os cálculos astronômicos e as suas reflexões, que a vida íntegra, que eles levaram, tornava perfeitas. Contudo, tiveram fé. Fé em tudo: fé na ciência, fé na consciência, fé na bondade divina.
Pela ciência, acreditaram no sinal da nova estrela, que não podia deixar de ser “aquela”, que era esperada, havia séculos, pela humanidade: o Messias. Pela consciência, tiveram fé na voz da mesma que, recebendo “vozes” celestes, lhes dizia: “É aquela estrela que assinala a chegada do Messias”. Pela bondade, tiveram fé que Deus não os teria enganado e, visto que a sua intenção era reta, Ele os teria ajudado, de todos os modos, a chegar até à meta desejada.
E eles tiveram êxito. Só eles, entre tantos estudiosos de sinais, compreenderam aquele sinal, porque só eles tinham na alma a ânsia de conhecer as palavras de Deus com um fim reto, que consistia antes de tudo em dar imediata honra e louvor a Deus.
Não procuravam sua própria utilidade. Ao contrário, eles vão de encontro a fadigas e despesas, e não pedem nenhuma compensação humana. Pedem somente que o seu Deus se lembre deles e os salve para a eternidade.
Assim como não têm nenhum pensamento de futura compensação humana, não têm, quando decidem a viagem, nenhuma preocupação humana. Se fôsseis vós, teríeis pensado em mil dificuldades: “Como poderei fazer uma viagem tão grande, através de países e povos de línguas tão diferentes? Será que vão acreditar em mim ou irão prender-me como espião? Que ajuda me darão, quando tiver que atravessar desertos, rios e montanhas? E o calor? E os ventos dos planaltos? E as febres dos pantanais? E as cheias das águas fluviais? E as comidas diferentes? E a linguagem diferente? E... e... e...”. Assim é que raciocinais. Eles não raciocinam assim. Mas dizem, com uma sincera e santa ousadia: “Tu, ó Deus, lês os nossos corações, e vês qual o fim que perseguimos. Em tuas mãos nos entregamos. Concede-nos a alegria sobre humana de adorar a tua Segunda Pessoa, que se fez Carne para a salvação do mundo”.
Basta. Eles se põem a caminho, partindo das longínquas Índias. (Jesus me diz depois que por Índias querem dizer Ásia meridional, onde agora está a Turquia, o Afeganistão e a Pérsia). Das cadeias de montanhas da Mongólia, sobre as quais voam somente águias e abutres, onde Deus fala pelo zumbido dos ventos, pelo estrondo das torrentes, escrevendo mistério sobre as páginas imensas das geleiras. Das terras onde nasce o Nilo, que vai deslizando como uma veia verde-azul, ao encontro do coração azul do Mediterrâneo, nem os picos, nem as selvas, nem os desertos, oceanos secos mais perigosos do que os marinhos, nada disso detêm a marcha deles. A estrela brilha sobre a noite deles, não lhes permitindo dormir. Quando se procura a Deus, os hábitos animais devem ceder às impaciências e às necessidades sobre humanas.
A estrela os chama, ora do Norte, ora do Oriente, ora do Sul, e, por um milagre de Deus, vai guiando os três para um certo ponto, como por um outro milagre, os reúne, depois de tantos milhares de quilômetros, naquele ponto, e, por um outro milagre ainda, lhes dá, antecipando a sabedoria pentecostal, o dom de se entenderem e de se fazerem entender, assim como é no Paraíso, onde se fala uma única língua: a de Deus.
Um único momento de aflição os assalta, e é quando a estrela desaparece, e eles, humildes, porque são realmente grandes, não pensam que isto tenha acontecido por causa da maldade de outrem, já que os corruptos de Jerusalém não mereceram ver a estrela de Deus. Mas, o que eles pensam é que eles próprios não mereçam a ajuda de Deus, pondo-se a examinarem suas consciências com tremor e com uma contrição, pronta a pedir perdão.
Mas a sua consciência os tranquiliza. Almas acostumadas à meditação, eles têm uma consciência muito sensível, aperfeiçoada por uma atenção constante, por uma introspecção aguda, que faz do seu interior um verdadeiro espelho sobre o qual refletem as menores sombras dos acontecimentos diários. Eles fizeram da voz que os adverte a própria mestra, voz que grita, não só ao menor erro, mas até a uma simples possibilidade de erro, o que é humano, como a complacência com o seu próprio eu. Por isso, quando eles se põem diante desta Mestra, diante deste Espelho tão severo e tão nítido, sabem que Ele não lhes mente, mas os encoraja, tomando novo alento.
“Ohl Que doce coisa é sentir que nada há em nós de contrário a Deus! Sentir que Ele olha com complacência o ânimo do filho fiel e o abençoa. Deste sentimento provém o aumento de fé e de confiança, de esperança, fortaleza e paciência. Agora é hora de tempestade. Mas ela passará, porque Deus me ama e sabe que eu o amo, e não deixará de ajudar-me ainda”. Assim é que falam os que têm aquela paz, que provém de uma consciência reta, que é a rainha de todas as suas ações.
“Eu disse que eles eram “humildes, porque verdadeiramente grandes”. Em vossa vida, ao invés, que é que acontece? Acontece que um, não porque seja grande, mas porque é mais prepotente, se faz poderoso por sua prepotência, nunca humilde, pela vossa insensata idolatria,. Há pobres coitados que, só por serem mordomos de alguém arrogante, ou porteiros de algum gabinete, funcionários de alguma repartição, servos afinal, de quem assim os fez, costumam tomar a pose de semideuses. Tem-se pena até de vê-losl...
Eles, os três sábios, eram realmente grandes. Em primeiro lugar, por virtude sobrenatural; em segundo lugar, pela ciência; e, por último, pela riqueza. Mas eles se julgam nada: pó sobre o pó da terra, se comparados com Deus Altíssimo, que cria os mundos com um sorriso, espalhando-os pelo espaço, como grãos de trigo, para alegrar os olhos dos anjos com os colares de estrelas.
Mas eles se consideram nada, diante de Deus Altíssimo, que criou o planeta, sobre o qual eles vivem, e como Escultor infinito em sua ilimitada obra fez tudo bem diversificado, colocando, aqui uma série de colinas de suave declive, com a força do seu polegar, acolá uma ossatura de picos e escarpas, iguais as vértebras da terra, neste corpo desmesurado, do qual os rios são as veias, os lagos são as pelves, os oceanos são os corações, tendo as florestas como vestes, as nuvens como véus, as geleiras de cristal como decorações, as turquesas e as esmeraldas como gemas, as opalas e os berilos de todas as águas que descem cantando, com as selvas e os ventos, formando o grande coro de louvor ao seu Senhor.
Eles se consideram nada em sua sabedoria, diante do Deus Altíssimo, do qual vem a sua sabedoria, pois foi Ele quem lhes deu olhos, ainda mais poderosos que suas duas pupilas, pelas quais eles veem as coisas: os olhos da alma, que sabem ler a palavra não escrita por mão humana nas coisas, onde esta palavra foi gravada pelo pensamento de Deus.
Eles se consideram nada em sua riqueza: um átomo, diante da riqueza do Dono do universo, que espalha metais e pedras preciosas nos astros e planetas, e abundâncias sobrenaturais, riquezas inesgotáveis, no coração de quem O ama.
“Tendo eles chegado diante de uma pobre casa, na mais insignificante das cidades de Judá, não sacodem a cabeça dizendo: “Impossível”, mas dobram as costas, os joelhos, e especialmente o coração, e adoram. Lá, atrás daquela pobre parede, está Deus. Aquele Deus que eles sempre invocaram, não ousando nunca, nem de longe, esperar que o haveriam de ver. Mas que por eles foi invocado pelo bem de toda a humanidade e pelo bem eterno “deles” mesmos. Oh! Só isto é o que eles desejavam para si. Poderem vê-lo, conhecê-lo, possuí-lo naquela vida que não tem nem auroras, nem crepúsculos!
Ele está lá, atrás daquela pobre parede. Quem sabe se o seu coração de Menino, que é também o coração de um Deus, não ouça estes três corações que, inclinados no pó da estrada, bradam: “Santo, Santo, Santo. Bendito o Senhor nosso Deus. Glória a Ele nos Céus Altíssimos, e paz aos seus servos. Glória, glória, glória e bênção”? lsto eles perguntam, tremendo de amor. Por toda a noite, e na manhã seguinte preparam com a mais viva oração, o seu espírito, para entrarem em comunhão com o Deus-Menino.
Eles não vão a este altar, que é um seio virginal, que traz em si a Hóstia Divina, como vós ides a eles com a alma cheia de solicitudes humanas. Eles se esquecem do sono e do alimento e se usam suas mais belas vestes, não é para ostentação humana, mas para prestar honra ao Rei dos reis. Nos palácios dos soberanos, os dignitários se apresentam com suas mais belas vestes. Então, não deveriam eles ir apresentar-se a este Rei com suas vestes de gala? Que festa maior podia haver para eles do que esta?
Oh! Lá em suas terras longínquas, muitas e muitas vezes precisaram se adornar para prestar honras e oferecer seus préstimos a homens como eles. Era, pois, justo que se humilhassem aos pés do Rei supremo e lá depositassem as suas púrpuras e joias, sedas e plumas preciosas. Pôr lhe aos pés, diante daqueles benditos pezinhos, as fibras da terra, as gemas da terra, as plumas da terra, os metais da terra - que são ainda obras Dele - para que também elas, essas coisas da terra, adorem o seu Criador. Seriam felizes se a Criancinha lhes ordenasse que se estendessem no chão, como se fossem um tapete vivo, aos seus passinhos de Menino, e os pisasse, Ele que deixou as estrelas por amor deles, que nada mais são do que pó.
Humildes e generosos. Obedientes às “vozes” do Alto. Essas vozes mandam que eles levem presentes ao Rei recém-nascido. Eles levam presentes. Não dizem: “Ele é rico, e não precisa disso. Ele é Deus, e não conhecerá a morte”. Eles obedecem. São os primeiros que acodem à pobreza do Salvador. Como chegou em boa hora aquele ouro, para quem amanhã deveria sair de sua terra como fugitivo! Como foi significativa aquela mirra, para quem, dentro em breve, seria morto. Como foi piedoso aquele incenso, para quem teria que sentir o mau cheiro da luxúria humana fervendo ao redor de sua infinita pureza! Humildes, generosos, obedientes e respeitosos um para com o outro. As virtudes geram outras virtudes. Das virtudes voltadas para Deus, nascem virtudes para o próximo. Respeito que, no fim, é caridade. Combinaram com o mais velho que lhe tocaria falar por todos, recebendo o primeiro beijo do Salvador, segurando-o pela mãozinha. Os outros ainda poderão vê-lo outras vezes. Mas ele, não. Ele está velho, e o dia de sua volta para Deus está perto. Ele verá o Cristo, depois de sua terrível morte, e o acompanhará junto com os outros que serão salvos, no dia da volta do Cristo para o Céu. Mas não o verá mais nesta terra. Então, para seu viático, que lhe fique o calor daquela mãozinha, que se confiou à sua mão enrugada.
Não há nenhuma inveja nos outros. Pelo contrário, há até um aumento de veneração para com o mais velho dos sábios. Mais do que eles, mereceu na certa, e por mais tempo. O Deus-Menino sabe disso. Ainda não fala, Ele que é a Palavra do Pai, mas os Seus atos são palavras. E seja bendita a sua inocente palavra, que mostra ser o seu predileto este velho.
Mas, ó filhos, há outros dois ensinamentos nesta visão. A postura de José, que sabe ficar em “seu” lugar. Ele está presente como guarda e tutor da Pureza e da Santidade. Mas não é um usurpador dos direitos delas. É Maria, com o seu Jesus, que está recebendo homenagens e palavras. José se alegra por ela, não ficando amargurado por ser uma figura secundária. José é um justo: o Justo. É justo sempre, também nesta hora. As fumaças da festa não lhe sobem à cabeça. Ele continua humilde e justo.
Ele se sente feliz pelos presentes. Não por si mesmo. Mas porque pensa que com eles poderá fazer a vida de sua esposa e do doce Menino mais cômoda. Não existe avidez em José. Ele é um trabalhador, e continuará a trabalhar. Contanto que “Eles”, os seus dois amores, tenham o necessário, e algum conforto. Nem ele nem os magos sabem que aqueles presentes vão servir durante uma fuga e uma vida no exílio, nas quais as substâncias desaparecem como uma nuvem impelida pelo vento... mas eles vão servir também para quando voltarem à pátria, depois de terem perdido tudo o que tinham deixado, os clientes, os móveis, salvando-se somente as paredes da casa protegida por Deus, porque nela é que Ele se uniu à virgem e se fez Carne.
José é humilde, ele, que é guarda de Deus e da mãe de Deus, esposa do Altíssimo, chega até a segurar o estribo para estes vassalos de Deus. José é um pobre carpinteiro, porque a prepotência humana despojou os herdeiros de Davi de suas propriedades reais. Mas ele é sempre da estirpe de Davi e tem traços de rei. Também em relação à ele vale aquele dito: “Era humilde, porque era realmente grande”.
Ainda um último, suave e significativo ensinamento.
É Maria, que segura a mão de Jesus, que ainda não sabe abençoar, e a guia no gesto santo. É sempre Maria que segura a mão de Jesus e a guia. Ainda hoje é assim. Agora, Jesus sabe abençoar. Mas, às vezes, sua mão traspassada cai, cansada e sem poder mais confiar, pois Ele sabe que é inútil abençoar. Na verdade, vós destruís a minha bênção. Ela cai também indignada porque vós me maldizeis. Então, é Maria que tira o desprezo feito a esta mão, ao beijá-la. Oh! O beijo de minha mãe! Quem pode resistir a esse beijo? Depois, ela segura o meu pulso, com seus dedos delicados, mas que são amorosamente tão imperiosos e me força a abençoar.
Eu não posso repelir a minha mãe. Mas é preciso que vós vades à procura dela, para fazê-la vossa advogada. Ela é minha rainha, antes de ser vossa, e o seu amor por vós tem indulgências tais, que nem o meu conhece. Ela, mesmo sem palavras, mas só com as pérolas do seu pranto e com a lembrança da minha Cruz, cujo sinal ela me faz traçar no ar, defende a vossa causa, e ainda me admoesta: “Tu és o Salvador. Salva!”.
“Eis, Meus filhos, o “Evangelho da fé”, na aparição da cena dos Magos. Meditai e imitai. Para o vosso bem”.


(Excertos do Primeiro Livro: O Evangelho como me foi revelado, onde Nosso Senhor e Maria Santíssima revelam Suas Vidas a Grande Mística Maria Valtorta, das paginas 199 a 212.)

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