AS MODAS SÃO MUNDANAS
Santa Angela
de Foligno foi uma
mulher mundana, escrava da moda e suficientemente rica para satisfazer todos os
seus caprichos em perfumes, jóias, penteados, chapéus, pinturas e todo tipo de
badulaque usado pelas mulheres da sua época. Depois de passar pelo crivo da dor
– depois de casada rica, morreram simultaneamente seu marido e todos os seus
filhos – e da penitência, foi protagonista de uma impressionante conversão e
mudança tão drástica de vida, que mereceu de JESUS estas visões e revelações,
cujo resumo fizemos.
A vaidade e o desejo de agradar
os homens cederam lugar à humildade e à mortificação e ao amor de Jesus
Crucificado. Deus permitiu que o demônio a tentasse duramente na carne e ela
saiu vitoriosa da batalha. Das revelações de Jesus saiu seu livro:
“Experiências, espirituais, revelações e consolações da Bem-Aventurada Ângela
de Foligno”. Esta obra teve tal aceitação entre os teólogos que foi atribuído a
ela o honroso título de “Mestra dos Teólogos”. Ela morreu em 1309 com 61 anos,
consumida pela dor, pelos sofrimentos e penitências.
Vamos ler com atenção as palavras
de Nosso Senhor à Santa:
“Quando a morte te arrancar deste
mundo, cheio de vaidades e luxos sem razão, e chegardes a Minha Presença para
ser julgada… vendo os pecados que os homens cometeram ao olhar para o teu corpo
escassamente coberto, tu própria ficarás envergonhada”.
Que pretexto poderás então
apresentar-Me? Ai de ti mulher pelos teus escândalos! Ai de ti que perdeste o
pudor e a vergonha! Porque procedes assim? Porque me crucificas novamente com
os cravos da tua imodéstia?
Quando, de
forma irrespeitosa, Me recebes na Comunhão, quanta amargura sinto ao entrar no
teu corpo, que é motivo de tantos pecados nos homens e de mau exemplo para as
poucas mulheres que tu, com desdém e desprezo, chamas “antiquadas”,!… Asseguro-te, que muitas destas “antiquadas”
estão Comigo, enquanto muitas “modernas” sem pudor, como tu, estão “gozando” no
inferno”.
“Oh! Mulher, repara em Mim,
flagelado e coroado de espinhos! Contempla as Minhas Chagas e as Minhas
Feridas! Depois… escuta e reflete: Durante a Minha vida terrena, vivi como
manso cordeiro; fui ao Calvário, sem abrir a boca; tratei com doçura a
samaritana e ela se converteu; comovi o coração de Maria Madalena, a pecadora e
a fiz predileta e uma santa; ao cruzar as ruas da Palestina, pronunciava
palavras de Luz, de Paz e de Amor; os Meus ensinamentos eram doces como mel.
Mas um dia, ao lançar um olhar divino por todos os séculos, vendo como o mal
inundava, impetuoso e ultrajava os Meus Templos, pronunciei palavras de fogo:
“Ai do mundo por causa dos seus escândalos!... Ai de quem escandalizar! Seria
melhor que lhe atassem uma pedra de moinho ao pescoço e o arrojassem no mar”
Estreita é a
porta que conduz ao Céu e larga a que leva ao inferno; a maioria elege a última.
Estar contra as modas indecentes e não as usar é muito difícil; é necessário
muito amor para Comigo, para não se deixar arrastar por elas.
Reconhecendo, humildemente a sua
culpa, Santa Angela, começou a fazer uma pormenorizada e perfeita confissão de
todas as suas culpas, nos mínimos detalhes. Então, para cada detalhe, por
mínimo que fosse, JESUS expôs a ela a imensidão de seu sofrimento, dizendo-lhe:
“Minha filha, mesmo que estivesses
contaminada por mil doenças, mesmo que estivesses morta por mil mortes, Eu
poderia curar-te com o remédio do Meu Sangue, sendo apenas necessário que tu
quisesses lavar Nele a tua alma.”
Esses pecados do teu corpo, que
acabastes de Me confessar, uma a um, mostrando uma verdadeira dor, por teres
desagradado a DEUS com eles e os quais incorrestes com o lavar, pentear, ungir,
pintar, decorar, encaracolar teus cabelos, com o dar vistas, com o envaidecer-te,
com a procura da vanglória e com os quais aparecestes ao olhos do mundo como
uma inimiga de DEUS e merecestes, aos olhos do PAI, o mais profundo lago do
inferno, o desprezo eterno e a eterna abjeção, todos estes pecados, Minha
filha, EU mesmo os redimi com o Meu vivo sangue e com a penitência e mortal da
Minha Paixão.
De fato,
para descontar a vaidade dos penteados, das pomadas, dos perfumes com que
tornaste bem luzidias, encaracoladas e triunfantes as tuas cabeleiras, os Meus
cabelos foram arrancados, a Minha fronte foi
transpassada, a Minha cabeça foi ferida, chagada, ensopada em sangue e exposta
à chacota sob uma vil coroa de espinhos.
Também pelos
pecados do teu rosto, em que tu própria incorreste, perfumando-o, maquilando-o,
expondo-o aos olhares impuros dos homens e sentindo prazer com seus cobiçosos
louvores, Eu mesmo te dei o remédio
da Minha dor, uma vez que, em desconto destes pecados, todo o Meu rosto foi
manchado e desfigurado com sórdidos escarros e as Minhas faces deformadas e inchadas
pelas atrozes bofetadas, tiveram que passar pelo contato de um pano sujo e
humilhante.
Pelos
pecados dos teus olhos, com que tu olhaste para coisas vãs e nocivas, sentindo
tantas vezes deleite, a vista do mal alardeado ou exibido contra DEUS, senti os Meus olhos queimarem-Me, pelo
amargor das lágrimas e pelo acre do sangue que, escorrendo da Minha cabeça, me
punha diante de um obscuro e mudo véu.
Pelos
pecados dos teus ouvidos, com que ofendeste a Deus, ouvindo coisas vãs e
malignas e comprazendo-te nelas, Eu fiz a maior penitência que
se pode imaginar: ouvi as palavras mais atrozes e abjetas, as falsas acusações,
as repulsas, os insultos, as maldições, as chacotas, as blasfêmias, a iníqua
sentença de morte, pronunciada por todo um povo e, o que mais Me encheu de
angustia, o pranto chorado por Mim na terra, pela Minha mãe, por toda a Minha
abandonada dor.
Pelos
pecados da tua boca e da tua garganta, com que satisfizeste, com alimentos
saborosos e bebidas excelentes, tive Eu a boca definhada pela
fome, pelo enjôo e pelo ardor e enfastiada pelo vinagre, pela mirra e pelo fel.
Pelos
pecados da tua língua, sempre disposta para as rejeições, para as calúnias,
para as chacotas, para as maldições, para as blasfêmias, para os perjúrios e
para as palavras pecaminosas, tive Eu a Minha língua, que não
poderia falar senão em verdade, muda e imóvel perante os falsos juízes e falsos
acusadores e pelos Meus próprios carrascos, pelos que Me crucificaram.
Pelos
pecados do teu olfato, que sempre se deleitou com flores bem cheirosas e com
frescos perfumes, senti Eu o fedor abominável dos
escarros e suportei-os na Minha própria face, nos olhos e nas narinas.
Pelos
pecados que fizeste com o teu pescoço, agitando-o na ira, na soberba, na
sensualidade e empertigando-o orgulhosamente contra DEUS, tive Eu o Meu pescoço inteiriçado e curvado
para a terra, pelas punhadas e pelas cotoveladas.
Pelos
pecados dos teus ombros e das tuas costas, que tu tens, com falsa docilidade,
tantas vezes curvados sob agradáveis pesos da vaidade, da conveniência, da
indiferença, arrastei Eu fatigosamente a
pesada Cruz, de todo o Meu corpo, que se sentia já antecipadamente suspenso.
Pelos
pecados das tuas mãos e dos teus braços, com os quais tu cometeste tantas ações
más, com os quais tocastes tantas coisas impuras e abraçastes tanta carne, as Minhas mãos, transpassadas por
cavilhas duras e aguçadas, foram pregadas a Cruz e esmagadas e apertadas pelas
grossas cabeças dos cravos, tiveram que suster o peso desamparado de todo o Meu
corpo.
Pelos
pecados do teu coração, tantas vezes agitado pela ira, pela inveja, pela
maldade, pelo amor impuro, pelas abjetas concupiscências, pelas sôfregas
ambições, o Meu Coração e o Meu
Peito, transpassados por uma agudíssima lança, derramaram abundantemente o
remédio para curar todas as paixões do coração humano, ou seja, a água para
extinguir o ardor das abjetas concupiscências e amores doentios e o Sangue,
para acalmar as iras, as maldades e os rancores.
Pelos
pecados dos teus pés, com os quais dançaste perdida e sensualmente te
balançaste, neste teu andar peneirento e impensadamente vagueaste, afastando-te
do reto caminho e da meta, Eu tive os Meus pés, não
ligados por tortuosa corda, mas transpassados e cravados no madeiro da Cruz,
com um único, rígido e quadrado cravo; e, em vez dos teus sapatinhos de bico e
perfurados, os Meus pés foram cobertos pela vermelha rede que sobre eles fazia
o sangue, descendo a riachos das Minhas feridas abertas.
Pelos
pecados de todo o teu corpo, com que tão voluntariamente te entregaste a luxos
molengões, ao sono, ao ócio, Eu fui horrivelmente flagelado,
estendido e retesado na Cruz, como uma pele, cravado no madeiro e tão
apertadamente, que senti em todo o Meu corpo a sua áspera dureza, enquanto um
verdadeiro banho de sangue vertia dos meus membros até a terra. E assim, estive
entregue a um atrocíssimo tormento, até que, morto por cruéis carnífices,
exalei o Meu Poderoso Espírito.
Pelos
pecados que tu cometeste, enfeitando-te com vestidos, modas e adornos
supérfluos, vãos, estranhos e mesmo ridículos, Eu fui colocado na Cruz nu, tal como
nasci da Virgem, estive ao vento, ao frio, ao ar que me rodeava de todas as
partes, estirado e exposto aos olhares dos homens e das mulheres, lá bem no
alto, a fim de que melhor me vissem e mais fosse escarnecido e mais sofresse as
lancetadas da vergonha.
Pelos
pecados que cometeste, adquirindo mal as tuas riquezas, estimando-as e
retendo-as mal e esbanjando-as ainda pior, Eu fui tão pobre, que não só não tive, nem
palácio, nem casa, nem simples tegúrio, onde poder nascer ou viver, mas nem
sequer quando morto, tive um túmulo onde Me pudessem colocar. E se a piedade
não tivesse movido um homem da terra a compadecer-se da Minha miséria e a
depositar os Meus despojos no seu sepulcro, os ossos do Meu Corpo teriam sido
abandonados aos cães e aves de rapina. Mas Minha pobreza foi ainda para além de
tudo isso: dei o Meu Sangue e a Minha Vida, até a última gota, até ao último
suspiro, aos desprotegidos e aos pecadores, e, tanto em vida como na morte, tão
pobre quis ser e permanecer, que não conservei para Mim, parte alguma de Mim
mesmo.
ESTAS
PALAVRAS, diz Santa Ângela, desciam ao mais íntimo de minha alma, uma a uma e
uma a uma, a enchiam de amargura, de vergonha, de dor e de espanto. Via como pelos meus vergonhosos gozos
sentidos, a Alma de JESUS havia sentido, dentro de si mesma, todas dores, todas
as angustias, todas as atrocidades e todos os martírios. Que
a soma de todas estas angustias era feita num verdadeiro grito.
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