É na
dificuldade que se provam as virtudes
Acabei de explicar como,
sendo útil ao próximo, o homem manifesta seu amor por mim. Agora vou dizer como
cada pessoa mostra possuir a paciência ao ser injuriada pelos outros; a
humildade, quando se acha diante do orgulhoso; a fé, diante do infiel; a esperança,
na presença de quem nada espera; a mansidão e a benignidade, ante o irascível.
Todas estas virtudes revelam sua existência e são exercitadas no próximo, da
mesma forma como é nele que os maus cometem seus pecados.
Vê bem. É diante da
soberba que aparece a humildade. O homem humilde vence o orgulho, pois o
orgulhoso é incapaz de prejudicar quem é humilde. Do mesmo modo o descrente -
que não me ama, nem em mim espera - não faz diminuir a fé do homem fiel ou a
esperança daqueles que a possuem no coração por meu amor. Ao contrário, até as
faz crescer e manifestar-se mediante o amor altruísta. Meu servidor, percebendo
que se trata de um descrente ou desesperado que não confia em mim, nem nele -
pois aquele que não me ama, também não acredita em mim, não confia em mim, mas
deposita a sua afeição na própria sensualidade - meu servidor não deixa de amar
verdadeiramente tal pessoa, certo de que ainda encontrará em mim a salvação.
Como vês, o servidor fiel comprova sua fé na descrença e na desesperança alheia.
Em casos semelhantes e em qualquer outro que ocorra, ele demonstra possuir a
virtude.
Assim, a virtude da
justiça não diminui diante das injustiças; evidencia-se até, pois a justiça se
revela na paciência. Também a benignidade e a mansidão são evidenciadas pela
doce paciência no tempo do ódio; e o amor caridoso, todo cheio da sede e desejo
da salvação alheia, torna-se visível diante da inveja, do desprezo e ódio. Mais
ainda! Além de provar que são virtuosas, pagando o mal com o bem, tais pessoas
frequentemente atiram brasas de amor, as quais consumirão a raiva e o rancor do
coração do irascível, levando-o a passar da ira à benevolência.
Tudo isso
acontece, graças à caridade e perfeita paciência daquele que suporta a raiva e
demais defeitos do malvado. Relativamente às virtudes da fortaleza e
perseverança, elas são comprovadas mediante os longos sofrimentos, as ofensas,
as difamações daqueles que procuram afastar o servidor fiel do caminho
verdadeiro, seja com atrativos, seja com ameaças. Quando o servidor fiel possui
a fortaleza interior, mostra-se realmente forte e perseverante, dando prova
disso no contato com os homens. Quando alguém não resiste no tempo das
contradições, é sinal de que não possuía uma virtude verdadeira.
(do Livro O Diálogo – Santa Catarina de
Sena)
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